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Universidade Federal tem 800 alunos indígenas no MS

Sônia Pavão não precisa se deslocar até a cidade nem ligar para uma drogaria quando precisa de algum medicamento. Basta dar alguns passos e chegar até a mata no entorno de sua casa para colher o remédio do qual precisa. “Essa é a minha farmácia”, explica ela, enquanto mostra as espécies de plantas do cerrado e os seus usos medicinais tradicionais.

São anos de conhecimento acumulado, aprendido com as mestras de seu povo, os guaranis (nhandevas e kaiowás) do Mato Grosso do Sul. Sua casa e seu “quintal medicinal” ficam na reserva indígena Tapyi Kora, oficialmente conhecida como Limão Verde, onde a farmácia é usada para curar os mais diversos males, do corpo e do espírito.

Ela não teve uma infância fácil, ficando órfã aos 4 anos de idade, depois que seus pais foram assassinados. Mas a fatalidade não impediu a obstinação de Sônia de aprender e concluir as diversas etapas da educação formal e se graduar com uma licenciatura em ciências da natureza, pela Faculdade Intercultural Indígena (Faind) da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).

E foi na própria Faind/UFGD, que Sônia decidiu aliar seus conhecimentos tradicionais com a pesquisa acadêmica. O resultado foi um mestrado em que ela dissertou sobre os conhecimentos tradicionais Guarani e Kaiowá, como fontes de autonomia, sustentabilidade e resistência.

“Essa experiência, essa prática, que estava isolada em nossas comunidades, agora ela está saindo, ela está dentro da universidade”, conta Sônia, à sombra de uma das dezenas de árvores plantadas em seu jardim.

Um passeio pelo campus principal da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) é suficiente para perceber que essa não é uma instituição de ensino superior qualquer. O primeiro sinal de que há algo diferente é uma imensa construção feita inteiramente de troncos de madeira e sapê.

Faixas e placas escritas em uma língua incompreensível para a maioria dos brasileiros é outro sinal. Talvez, se você prestar atenção nas conversas entre os alunos, notará que esse mesmo idioma está sendo usado no diálogo.

Você terá certeza de que a UFGD é uma instituição singular quando ler a sigla Faind, na entrada de um dos blocos. Trata-se da Faculdade Intercultural Indígena, uma unidade voltada especialmente para o ensino e a pesquisa de assuntos relacionados aos povos originários brasileiros.

Ali o corpo discente é formado majoritariamente pelas etnias indígenas do Mato Grosso do Sul, que somam mais de 116 mil pessoas, pouco mais de 4% da população total do estado. A língua incompreensível para a maioria dos brasileiros é o guarani, falada pelas etnias kaiowá e nhandeva, que junto com os terenas, são os povos que tradicionalmente habitam a região de Dourados. A imensa construção de sapê é uma Oga Pysy, uma tradicional Casa de Reza guarani.

Um dos cursos da Faind chama-se teko arandu, assim no idioma guarani mesmo, que pode ser traduzido como “viver com sabedoria”, que é uma licenciatura intercultural voltada para a formação de professores indígenas.

A graduação teko arandu, que completa 18 anos neste ano, foi a gênese da criação da Faind, que também oferece uma licenciatura em “educação do campo” e um programa de pós-graduação em “educação e territorialidades”. Neste semestre, já está fazendo processo seletivo para um novo curso de graduação: “pedagogia intercultural indígena”.

Mas os indígenas não ficam restritos aos cursos da Faind. Eles se espalham por cursos e programas de pós-graduação de outras unidades da UFGD e já somam 800 alunos, ou seja, cerca de 15% dos quase 6 mil matriculados na universidade federal. A própria Sônia cursa um doutorado no programa de pós-graduação em geografia.

Troca de conhecimentos

Para o reitor da UFGD, Jones Goettert, a presença de alunos e pesquisadores indígenas é enriquecedora para a universidade e faz com que a própria academia reflita sobre a relação da ciência com outros conhecimentos.

“O conhecimento guarani, kaiowá e terena é um conhecimento que se aproxima mas também se distancia do nosso. Precisamos fazer com que esses conhecimentos desmontem os nossos. E essa desmontagem se dá a partir de aprendermos conceitos, temas e palavras para fazer com que a nossa ciência seja partícipe desses outros conceitos”, afirma Goettert.

A Faind, por exemplo, já busca adaptar seu calendário acadêmico e suas instalações à realidade dos seus estudantes. Os cursos da unidade são oferecidos na modalidade da “pedagogia da alternância”, em que parte do tempo os alunos, muitos provenientes de aldeias distantes da universidade, assistem aulas no campus da UFGD e em outra parte são os professores que se deslocam até os territórios dos estudantes.

Nos períodos em que estão no campus, os estudantes que moram longe podem se hospedar em um alojamento da universidade e inclusive levar sua família para estar com eles, algo que é importante para as mães guaranis, que precisam estar acompanhadas de suas crianças.

Enquanto as mães assistem às aulas, as crianças passam seu tempo em uma brinquedoteca, sob a supervisão de uma funcionária que também é indígena. Além disso, as etnias têm o direito de convidar “rezadores” (comumente conhecidos com pajés) para administrar rituais religiosos na Oga Pysy instalada dentro do campus.

“A universidade se torna uma segunda casa de reza para nós. Hoje temos muitos detentores do conhecimento guarani kaiowá dentro da universidade e os professores [da universidade] têm acesso ao nosso conhecimento”, ressalta Sônia.

Viagem

Neste ano, três alunos indígenas de doutorado da UFGD foram selecionados para um projeto de intercâmbio de seis meses na França. Estudantes indígenas de 11 universidades brasileiras se candidataram para as bolsas do programa Guatá, realizado pela embaixada francesa no Brasil, e a UFGD teve três dos oito selecionados.

A universidade de Dourados foi a instituição com maior número de aprovados no programa, sendo seguida pela Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ambas com dois alunos, e pela Universidade de Brasília (UnB), com um.

“Isso propicia que esses estudantes indígenas consigam ter experiências fora do Brasil que dificilmente eles teriam de outra maneira. Além disso, estar no exterior atribui visibilidade ao estudante indígena e ele leva consigo também a historicidade coletiva daquele povo. Então é uma oportunidade de aumentar a visibilidade [do povo] e, com isso, legitimar a existência de línguas, práticas culturais e claro, também, a sua reivindicação por território”, explica o professor Matheus de Carvalho Hernandez, coordenador do Escritório de Assuntos Internacionais da UFGD.

 

*A equipe da Agência Brasil viajou a convite Embaixada da França no Brasil.

Gabrielzinho bate recorde em eliminatória da natação na Paralimpíada

Na manhã deste domingo (1º) em Paris, o nadador Gabriel Araújo, o Gabrielzinho, mostrou que não está mesmo para brincadeira nestes Jogos Paralímpicos. Já vencedor de dois ouros nas piscinas parisienses, ele nadou a eliminatória dos 150 metros medley com atletas das classes S1, S2 e S3 (variados graus de comprometimento físico-motor) e, mesmo ainda não valendo medalha, registrou o novo recorde mundial da classe S2, com o tempo de 3min15s06. Ele baixou a própria marca anterior em quase nove segundos (3min23s83).

“O recorde era a ideia, mas com esse tempo jamais, foi bastante forte. Vamos ver o que acontece a tarde”, disse Gabrielzinho, em referência à final, programada para as 14h20 (horário de Brasília). A declaração foi dada ao Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).

Vale lembrar que nesta prova o brasileiro, que geralmente compete pela S2, enfrenta atletas da S3, com limitações menos severas que as dele. Por este motivo, mesmo batendo um recorde da própria classe, Gabriel passou com a quarta melhor marca no geral nas eliminatórias.

Neste domingo, o Brasil estará em mais cinco finais. Na agenda, o primeiro a cair na água para buscar uma medalha é Phelipe Rodrigues. O nadador – maior medalhista paralímpico do país em atividade – tenta seu décimo pódio na carreira a partir das 12h44, na final dos 100 metros livre classe S10, para atletas com comprometimento físico e motor mais leve. Phelipe, que tem duas pratas e um bronze nesta prova em Paralimpíadas passadas, passou com o terceiro melhor tempo nas classificatórias (53s29).

Às 14h10, Lídia Cruz e Patrícia Pereira nadam a final dos 150 metros medley na classe SM4, para atletas com deficiência física moderada. Lídia fez o quarto melhor tempo das eliminatórias e Patrícia, o sexto.

Às 14h47, Roberto Rodriguez faz a final dos 100 metros peito SB5, para atletas com nível de comprometimento físico e motor um pouco menor que os da S4. Às 14h55, Laila Suzigan disputa a mesma prova entre as mulheres.

Fechando a programação do domingo, às 15h19, o Brasil estará representado no revezamento 4×100 metros livre da classe S14, para atletas com deficiência intelectual. Os adversários serão Hong Kong, Grã-Bretanha, Austrália e Japão. Em Tóquio, o Brasil levou o bronze nesta prova.

Kaiowá que aprendeu a ler com quase 40 anos fará intercâmbio na França

“Já sei falar meu nome: Anastaciô”, responde o senhor de 64 anos, bem-humorado, transformando seu nome em uma palavra oxítona, característica do idioma francês, ao ser questionado sobre como vai se comunicar na França, país onde fará um intercâmbio acadêmico durante seis meses.

Anastácio Peralta é um kaiowá, uma das etnias que compõem o povo guarani. Uma liderança indígena que cresceu falando a língua de seu povo e que, apesar de também saber português, só aprendeu a ler e escrever depois de iniciar um projeto de educação de jovens e adultos, aos 37 anos de idade.

O indígena kaiowá Anastácio Peralta, 64 anos, é doutorando na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) – Tânia Rêgo/Agência Brasil

Nas três últimas décadas, passou de iletrado a estudante de doutorado na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). “Nasci em uma aldeia em Caarapó [MS], em 2 de maio de 1960, e fui criado em fazenda. Trabalhei uns 20 anos em fazenda, na roça, fazendo derrubada de mato”, conta.

Na década de 1990, Anastácio se mudou para Dourados e passou a trabalhar carregando produtos pesados, até machucar a coluna. “Aí eu fui estudar. Já tinha 37 anos, mas não sabia ler nem escrever. Eu também conheci alguns colegas estudiosos, antropólogos, que me incentivaram a estudar.”

Os estudos iniciais levaram Anastácio a trabalhar, junto com outras lideranças, na criação de um curso de formação de normal, em nível médio, para professores indígenas, chamado Ara Vera. Posteriormente, o projeto evoluiu para um curso de licenciatura indígena, na UFGD, o Teko Arandu.

Área rural ocupada por indígenas nos arredores da reserva indígena de Dourados (MS) – Tânia Rêgo/Agência Brasil

Os cursos abriram os caminhos para o kaiowá, que fez o seu mestrado na universidade federal e apresentou a dissertação Tecnologias Espirituais: Roça, Reza e Sustentabilidade entre os Kaiowá e Guarani. Depois, emendou o ingresso no programa de doutorado, para aprofundar seus estudos no tema.

“Hoje a gente vive de cesta básica. E como a gente vivia no passado? Então, no doutorado, continuo pesquisando sobre a roça. Por que a gente vivia de roça no passado e hoje a gente vive de cesta básica? Eu falo [na pesquisa] de tecnologias espirituais, de ferramentas tradicionais, como o sarakwá [instrumento usado para abrir buracos na terra para o plantio de sementes], do jeito de colher, do jeito de plantar. Nós, kaiowá, temos toda uma ciência”, conta Anastácio.

Para os guarani, explica o acadêmico, cuida-se da roça como se cuida de qualquer outro ser vivo. “Para nós, a terra é mãe. E a mãe tem que ser cuidada. Agora está ficando mais difícil porque a terra também está doente, está com febre. Então minha pesquisa está em busca da cura da terra.”

Neste ano, Anastácio foi selecionado para participar do programa Guatá, um projeto do governo francês, em parceria com universidades brasileiras, que oferece uma bolsa de intercâmbio em instituições de ensino superior francês para doutorandos indígenas brasileiros.

Anastácio Peralta (à esquerda) é um dos oito doutorandos indígenas que farão intercâmbio na França – Tânia Rêgo/Agência Brasil

Ele parte em setembro deste ano para um intercâmbio de seis meses na Universidade Paris 8, em Saint Denis, na França. “Guatá é andar [na língua guarani]. E eu gosto de andar. Quero aproveitar para ter outros conhecimentos. Essa troca de experiência é muito boa. Também é bom conhecer outros lugares além do Brasil”, afirma Anastácio, que já visitou o Parlamento Europeu, como liderança indígena, em 2010.

“Essa troca de experiência talvez vá me provocar a entender mais o meu povo. Como é a ciência de fora? E como a minha ciência pode ajudar essa outra ciência? Isso é uma troca de conhecimento. No que eu posso ajudar o planeta? E o que eu posso trazer de lá para ajudar o meu povo.”

*A equipe da Agência Brasil viajou a convite Embaixada da França no Brasil.

Ucrânia lança ataque em massa com drones contra a Rússia

Kiev lançou um dos maiores ataques de drones contra a Rússia desde o início da guerra em larga escala, tendo como alvo usinas de energia e uma refinaria de petróleo durante a noite, enquanto as forças de Moscou fizeram novos avanços em direção a uma cidade importante no leste da Ucrânia, disseram autoridades neste domingo (1).

A Ucrânia também relatou bombardeios russos em áreas próximas à fronteira compartilhada. Um ataque com mísseis a um comboio de grãos matou um motorista de caminhão, enquanto outro, na segunda maior cidade da Ucrânia, Kharkiv, no nordeste, feriu pelo menos 28, disse.

Os combates acontecem em um momento crítico no conflito de dois anos e meio, com a Rússia pressionando uma ofensiva no leste da Ucrânia enquanto tenta expulsar as forças ucranianas que atravessaram sua fronteira ocidental em uma incursão surpresa em 6 de agosto.

Na semana passada, a Rússia atacou a Ucrânia com seus ataques aéreos mais pesados da guerra, atingindo instalações de energia, parte de uma campanha de bombardeios de drones e mísseis que mataram milhares de civis e soldados desde o início do conflito em fevereiro de 2022.

A Ucrânia, com uma indústria nacional de drones em rápida expansão, intensificou seus próprios ataques à infraestrutura energética, militar e de transporte da Rússia.

O país também está pressionando os Estados Unidos e outros aliados por permissão para usar armas mais poderosas fornecidas pelo Ocidente para infligir maiores danos dentro da Rússia e prejudicar a capacidade de Moscou de atacar a Ucrânia.

Autoridades russas disseram que unidades de defesa aérea destruíram 158 drones lançados pela Ucrânia durante a noite, e que destroços causaram incêndios na Refinaria de Petróleo de Moscou e na Usina Elétrica de Konakovo, na região vizinha de Tver.

As restrições temporárias impostas aos aeroportos de Vnukovo, Domodedovo e Zhukovsky, em Moscou, durante a noite foram suspensas na manhã deste domingo, de acordo com o órgão regulador da aviação Rosaviatsia.

A Reuters não conseguiu verificar de forma independente os relatos de ataques de drones contra a Rússia ou do campo de batalha na Ucrânia, e Kiev ainda não comentou. A Rússia raramente divulga a extensão total dos danos infligidos pelos ataques aéreos da Ucrânia.

RÚSSIA AVANÇA EM DONETSK

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, disse que somente na semana passada a Rússia usou 160 mísseis, 780 bombas aéreas guiadas e 400 drones de ataque contra cidades e tropas em toda a Ucrânia, e ele novamente pediu permissão para usar armas fornecidas pelo Ocidente para atacar profundamente a Rússia.

“Para dar total defesa e proteger nossas cidades dessa agressão, mais apoio é necessário para uma resposta ucraniana justa”, disse ele no Telegram neste domingo.

Zelenskiy pediu “uma decisão sobre ataques de longo alcance em locais de lançamento de mísseis da Rússia, destruição da logística militar russa, abate conjunto de mísseis e drones”.

Altos funcionários ucranianos estiveram em Washington na semana passada para levar adiante sua demanda. Os aliados de Kiev estão cautelosos sobre como o presidente russo, Vladimir Putin, responderia caso suas armas fossem usadas contra alvos bem dentro do território russo.

Os apelos ocorrem no momento em que a Rússia acelera seus avanços em direção à cidade de Pokrovsk, no leste da Ucrânia, que é um centro militar vital e uma ligação de transporte para cidades mais ao norte.

A Ucrânia esperava que sua incursão surpresa na região russa de Kursk, lançada no mês passado, forçaria a Rússia a redistribuir tropas e aliviar a pressão sobre as forças sitiadas no leste, mas até agora isso não parece ter surtido o efeito desejado.

O ministério da defesa da Rússia disse neste domingo que suas forças capturaram mais dois assentamentos na região de Donetsk, incluindo Ptyche, a apenas 21 km a sudeste de Pokrovsk, e estavam “continuando a avançar profundamente nas defesas inimigas”. As forças russas também capturaram o assentamento de Vyimka, disse.

O principal comandante da Ucrânia, Oleksandr Syrskyi, disse que a situação era “difícil” em torno da principal linha de ataque da Rússia no leste da Ucrânia, mas que todas as decisões necessárias estavam sendo tomadas.

Em Kharkiv, o prefeito Ihor Terekhov disse que 28 pessoas ficaram feridas em um ataque aéreo russo. O governador regional Oleh Syniehubov disse que entre elas estavam uma criança de seis anos e dois médicos.

(Reportagem adicional de Lucy Papachristou e Mark Trevelyan)

*É proibida a reprodução deste conteúdo.

Oito doutorandos indígenas farão intercâmbio na França

Guatá ou gwata, na língua guarani, tem, entre outros sentidos, o de viajar, de se movimentar. Tradicionalmente, entre os indígenas brasileiros, a viagem era feita a pé, por isso o termo guatá também pode ser traduzido como andar, caminhar. Nas décadas mais recentes, com novos meios de transporte, o sentido foi ampliado para incluir viagens de avião.

E isso permitiu que cada indígena possa guatá para mais longe, cruzando, inclusive, um oceano. Em setembro, oito doutorandos indígenas brasileiros viajarão para a França, para um intercâmbio que durará de seis a dez meses, em universidades daquele país: dois guarani (nhãndeva e kaiowá), dois terenas, além de integrantes dos povos pipipã, xokleng, tupinambá de Olivença e trumai.

A estudante guarani nhãndeva Maristela Aquino (foto de destaque), de 44 anos, vive na região de Dourados (MS), é falante de guarani e português, mas já se arrisca na língua com a qual terá que conviver pelos próximos meses, quando participará do intercâmbio na Universidade Paris 8. “Je m’appelle Maristela… Ça va? [Me chamo Maristela. Como vai?]”, faz questão de dizer, ao se encontrar com uma comitiva francesa.

“Eu falo português, guarani e hablo [falo] um pouco de espanhol. A gente está fazendo um cursinho de francês há uns três meses, desde que fui aprovada, mas não é fácil. Mas a gente vai conseguir aprender. A gente já está pegando coisas, como se apresentar, pedir alimentos. A gente vai conseguir, tem que se dedicar, tentar escrever, tentar falar”, conta a estudante.

Estudante guarani kaiowá Maristela Aquino, de 44 anos, participante do projeto Guatá – Tânia Rêgo/Agência Brasil

Maristela nasceu e cresceu nas aldeias guarani da parte meridional de Mato Grosso do Sul. Estudou, deu aulas nas escolas indígenas quando ainda nem tinha entrado na faculdade e finalmente se formou em pedagogia, com muito esforço.

“O que me amparava era ser conhecedora da cultura, do povo, da luta, e eu estava amparada por um documento indígena que é o referencial curricular nacional para as escolas indígenas. A partir daí, comecei a estudar mais e dar a devida importância aos estudos. Mas sempre com muito desafios, porque eu não nasci no berço da intelectualidade, dos estudos”, diz Maristela, que teve que trabalhar cozinhando e limpando a casa de um fazendeiro, enquanto estudava.

A conclusão da graduação não foi o suficiente para ela, que decidiu emendar um mestrado na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), na área de antropologia, explorando os conhecimentos guarani a fim de propor alternativas de agroecologia para combater a insegurança alimentar nas aldeias onde vivem esses povos.

“Eu nunca aceitei a precariedade do território, sem água, sem roça, sem plantas nativas. As crianças, com fome o tempo todo, iam para a escola para ter um prato de comida”, afirma Maristela, destacando as dificuldades na vida dos indígenas que vivem em áreas que, muitas vezes, passaram por uma degradação prévia, fruto de uma ocupação colonial destrutiva.

Ao concluir o mestrado, Maristela passou a trabalhar em um projeto para garantir a segurança alimentar e nutricional das comunidades guarani de Mato Grosso do Sul, por meio do uso de sementes crioulas (desenvolvidas por comunidades tradicionais e pequenos agricultores). E esse trabalho levou a estudante a seguir adiante no caminho acadêmico, com um doutorado na mesma universidade.

“Em dois territórios onde vivi, Passo Piraju e Guyraroka, fiz um trabalho com as mulheres, com produção agroecológica, sem venenos. Essa luta contra os agrotóxicos é muito forte. Literalmente a gente está consumindo veneno e as famílias guarani são mais afetadas. Isso fere seus direitos de soberania alimentar e nutricional.”

Maristela é uma das selecionadas para participar, neste ano, do programa de bolsas Guatá, realizado pela Embaixada da França no Brasil. A experiência permitirá que ela aprofunde seus estudos na Europa, troque experiências com estudantes e pesquisadores daquele continente e faça uma imersão em uma cultura bem diferente da sua.

“Quero estudar um pouco mais e também dar um pouco de visibilidade do que acontece aqui no território de Mato Grosso do Sul. E quero voltar fortalecida para continuar a luta, porque a luta é grande e ela que me faz viver minha vida”, destaca a estudante guarani.

O doutorando Idjahure Kadiwel, contemplado pelo projeto Guatá, na casa da avó, Margarida Terena – Tânia Rêgo/Agência Brasil

O doutorando Idjahure Kadiwel, de 34 anos, tem uma trajetória um pouco diferente da de Maristela. Filho do ator Mac Suara Kadiwel, um dos pioneiros indígenas no cinema brasileiro, nasceu no Rio de Janeiro. Aos 18 anos, decidiu retomar o contato com suas origens terena e kadiwéu e viajou para Mato Grosso do Sul, a fim de conhecer sua família.

“Quando conheci minha avó [Margarida Terena, hoje com 93 anos], ela cantou para mim. Um canto improvisado, movido pela emoção de conhecer seu neto”, lembra Idjahure, que, em sua tese de doutorado, pela Universidade de São Paulo (USP), pensa em escrever sobre esse canto terena, associando-o a uma tradição semelhante de outro povo aruak, os baniwa, do norte da Amazônia, a que pertence sua companheira. “Os povos terena e baniwa são da mesma família linguística, então têm uma ancestralidade, uma história comum.”

Guatá para lugares distantes não é novo para Idjahure. No meio de seu curso de graduação, decidiu fazer um intercâmbio de cinco meses na França. Foi uma adaptação difícil para um jovem de 22 anos, que teve que enfrentar diferenças linguísticas e climáticas. “Era frio, estranho. Eu não conhecia nada.”

Isso não impediu que ele viajasse outras vezes. Recentemente, esteve com a namorada e o pai dela na Europa, participando de conferências e eventos culturais na Inglaterra, Alemanha e em Portugal. “Fiquei com vontade de ser, pelo menos por algum período, professor no exterior”, conta Idjahure.

O acadêmico espera aproveitar a viagem para avançar em sua tese, escrever artigos em francês e também contribuir para que os pesquisadores europeus tenham uma compreensão melhor da realidade dos povos indígenas no Brasil.

“Há um florescimento da produção intelectual, cultural e acadêmica indígena no Brasil. Tem muita coisa nova acontecendo por aqui, inclusive com antropólogos indígenas. Acho que a tradição francesa [na antropologia] não se conecta muito com o que está acontecendo aqui hoje. Quem sabe eu possa compartilhar um pouco disso?”, diz o estudante, que também está enveredando pelo meio musical e recentemente gravou um disco.

O programa Guatá começou no ano passado, enviando quatro alunos indígenas para o intercâmbio na França. Cinco universidades participaram em 2023. Neste ano, 11 universidades brasileiras participaram do processo seletivo, e oito alunos foram selecionados.

A adida para Ciência e Tecnologia do Consulado da França em São Paulo, Nadège Mézié, fala sobre o projeto Guatá – Tânia Rêgo/Agência Brasil

A adida para Ciência e Tecnologia do Consulado da França em São Paulo, Nadège Mézié, explica que o programa funciona como um doutorado sanduíche, sem a obrigatoriedade de cursar disciplinas nas universidades francesas.

“Tem a inscrição em uma universidade ou em um laboratório, mas não dá créditos nem tem um trabalho de finalização. Ou seja, eles chegam lá e têm uma certa liberdade para escolher seminários e aulas. Mas também poderão conhecer museus, outros espaços acadêmicos, participar de colóquios na Alemanha, na Europa toda. É muito mais amplo do que ficar sentado numa sala de aula. Então eles voltam e terminam o doutorado aqui, no Brasil.”

Os indígenas contarão com a ajuda de um professor supervisor, falante de português ou espanhol, que fará o acompanhamento dos estudantes durante a estada na França. Além de contar com a passagem aérea, eles recebem uma bolsa de 1.700 euros por mês enquanto estiverem no programa.

Em relação à língua francesa, o programa sugere que as universidades brasileiras providenciem um curso de francês básico enquanto eles ainda estão no Brasil. Quando chegarem à França, poderão frequentar as aulas do idioma oferecidas pelas universidades daquele país.

“Vimos no ano passado que eles adquirem a língua na rua, com amigos e participando das aulas, aos poucos. No ano passado, por exemplo, dois estudantes não quiseram entrar [no curso de francês] e aprenderam na rua. Mas teve uma outra que seguiu até o fim [no curso de francês] e fez a prova para saber o nível de proficiência”, explica Nadège.

Professores da Universidade Paris 8 visitam a Reserva indígena de Douradas – Tânia Rêgo/Agência Brasil

A professora da Universidade Paris 8 Delphine Leroy será a supervisora de Maristela e mais dois doutorandos indígenas provenientes da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).

“É importante receber esses estudantes indígenas. Há o reconhecimento e valorização de outros tipos de saberes. Não apenas o saber acadêmico europeu consolidado, mas de outros tipos de saber que são ignorados”, afirma Delphine. “Programas de mobilidade [intercâmbio] servem como uma efervescência de ideias”, completa a professora.

O grande ganho para a Paris 8, por exemplo, é levar esse conhecimento, de outros povos para os alunos da universidade, que, por seu perfil socioeconômico, não costumam viajar para outros países.

“Trazer estudantes de fora é uma forma de dar uma sacudida nesses estudantes [franceses], de mostrar para eles que é importante viajar. A gente quer incomodar nossos estudantes, sacudi-los. Eles estão um pouco parados”, acrescenta Christiane Gilon, outra professora da Paris 8.

*A equipe da Agência Brasil viajou a convite Embaixada da França no Brasil.

ONU inicia vacinação contra poliomielite em crianças de Gaza

As Nações Unidas, em colaboração com as autoridades de saúde palestinas, começaram a vacinar 640.000 crianças na Faixa de Gaza neste domingo (1), com Israel e o Hamas concordando com breves pausas em sua guerra de 11 meses para permitir que a campanha prossiga.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou no mês passado que um bebê ficou parcialmente paralisado pelo vírus da poliomielite tipo 2, o primeiro caso desse tipo no território em 25 anos.

A campanha começou neste domingo em áreas do centro de Gaza e se moverá para outras áreas nos próximos dias. Os combates serão interrompidos por pelo menos oito horas em três dias consecutivos.

A OMS disse que as pausas provavelmente precisarão se estender para um quarto dia e que a primeira rodada de vacinações levará pouco menos de duas semanas.

Crianças, escoltadas por membros de suas famílias, lotaram uma clínica administrada pela ONU na cidade central de Gaza, Deir Al-Balah, onde cerca de um milhão de pessoas estavam abrigadas, de acordo com autoridades palestinas. Equipes médicas marcaram as crianças que receberam as gotas com uma caneta em seus dedos.

“Vim à clínica da UNRWA [Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina] hoje para vacinar minhas filhas contra a pólio e, se Deus quiser, não veremos mais nenhuma doença além das doenças que já estamos enfrentando. Espero que voltemos para nossas casas sãs e salvas”, disse Afnan Al-Muqayyad.

A poliomielite era apenas uma das muitas preocupações de Al-Muqayyad.

“Doenças de pele são comuns, não há detergentes, os detergentes são muito caros e não podemos pagar por eles. Além disso, a comida é muito cara, tudo é caro, e o peso das crianças está caindo, elas estavam bem antes, mas agora estão ficando muito magras. Espero que Deus corrija as coisas”, disse ela.

Campanha complexa

Juliette Touma, diretora de comunicações da UNRWA, disse que a campanha de vacinação foi enorme e “uma das mais complexas do mundo”.

“Hoje é o momento de teste para as partes em conflito respeitarem essas pausas de área para permitir que as equipes da UNRWA e outros profissionais médicos alcancem as crianças com essas duas gotas muito preciosas. É uma corrida contra o tempo”, disse Touma à Reuters.

Israel e o Hamas, que até agora não conseguiram fechar um acordo que encerrasse a guerra, disseram que cooperariam para permitir que a campanha tivesse sucesso.

Autoridades da OMS dizem que pelo menos 90% das crianças precisam ser vacinadas duas vezes, com quatro semanas de intervalo entre as doses, para que a campanha tenha sucesso, mas ela enfrenta enormes desafios em Gaza, que foi amplamente destruída pela guerra.

Crianças palestinas são vacinadas contra a poliomielite, em um centro de saúde das Nações Unidas em Deir Al-Balah, no centro da Faixa de Gaza. REUTERS/Ramadan Abed

“As crianças continuam expostas, ela (a doença) não conhece fronteiras, postos de controle ou linhas de combate. Toda criança deve ser vacinada em Gaza e Israel para conter os riscos de disseminação dessa doença cruel”, disse Touma.

Enquanto isso, as forças israelenses continuaram a lutar contra militantes liderados pelo Hamas em várias áreas do enclave palestino. Moradores disseram que tropas do exército israelense explodiram várias casas em Rafah, perto da fronteira com o Egito, enquanto tanques continuaram a operar no subúrbio de Zeitoun, no norte da Cidade de Gaza.

No domingo, Israel recuperou os corpos de seis reféns de um túnel no sul de Gaza, onde eles foram aparentemente mortos pouco antes de as tropas israelenses chegarem até eles, disseram os militares.

A guerra foi desencadeada depois que militantes do Hamas invadiram o sul de Israel em 7 de outubro, matando 1.200 pessoas e fazendo mais de 250 reféns, segundo dados israelenses.

Desde então, pelo menos 40.691 palestinos foram mortos e 94.060 ficaram feridos em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do enclave.

*É proibida a reprodução deste conteúdo.

CCBB abre exposição de Antonio Roseno, que transformava lixo em arte

O Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro (CCBB RJ) recebe a partir de quarta-feira (4) a exposição A.R.L. Vida e Obra, do pintor e fotógrafo do Rio Grande do Norte Antônio Roseno de Lima, que transformava lixo em arte. A mostra, que já passou por São Paulo, Belo Horizonte e Distrito Federal, ficará no Rio de Janeiro até 28 de outubro. Com classificação livre, a exposição poderá ser visitada de quarta-feira a segunda-feira, das 9h às 20h. 

O artista saiu de sua cidade natal Alexandria (RN), onde nasceu, em 1926, e foi para o estado de São Paulo, deixando para trás a mulher Cosma e cinco filhos, com objetivo de ter uma vida melhor. Passou a morar em uma comunidade na cidade de Campinas, onde conheceu a segunda mulher, Soledade, que ficou com ele por 40 anos. Ali, o artista desenvolveu e criou a própria arte. Ele morreu em 1998. Sua arte era considerada como arte bruta, termo francês criado por Jean Dubuffet, para designar a arte produzida livre da influência de estilos oficiais e imposições do mercado da arte que, muitas vezes, utiliza materiais e técnicas inéditas e improváveis.

Início

Em Campinas, Roseno fez um curso de fotografia e começou a trabalhar a partir das fotografias que tirava em preto e branco, disse a produtora da exposição, Amanda Grispin. “Ele passou a fazer intervenções nas fotografias, a colorir e, depois, passou para as telas. Ele não tinha formação acadêmica nenhuma em artes, não tinha técnica nenhuma, mas começou, de livre e espontânea vontade, a expressar coisas do cotidiano a partir da arte. Tudo virava suporte da pintura: resto de lata de tinta, restos de cadeira. Tudo que ele pegava no lixo transformava em tela para poder pintar”.

Em 1988, segundo Amanda Grispin, o artista plástico Geraldo Porto o encontrou em uma feira de antiguidades no Centro de Convivência Cultural de Campinas, vendendo objetos e as telas. “Naquele momento, Geraldo Porto teve a certeza de estar “diante de um artista raro”, disse a produtora.

Amanda Grispin disse que o que chamou a atenção do artista plástico Geraldo Porto foi o fato de que Roseno usava suporte completo. Na frente estava a pintura e atrás uma série de informações que o artista julgava importante, como datas de fundação de eventos ou lugares, santinhos, notas de dinheiro, além de palavras soltas ou abreviadas. 

“Ele era semianalfabeto e morador da periferia. O que ele conseguia escrever era cópia. Ele dava para as pessoas obras e balas em troca dessa escrita”, disse Amanda Grispin.

Roseno assinava A.R.L. por conta da dificuldade em escrever. Como pagamento por algumas telas, ele recebeu enciclopédias, de onde tirava datas de fundação de estados, por exemplo. “Tudo era importante para ele expressar no quadro, na parte de trás do suporte”, explica Amanda. 

Dentre as mais de 90 obras que o público poderá conhecer no segundo andar do CCBB RJ, com curadoria de Geraldo Porto, está a série Presidentes. “Para ele, personalidades notáveis de diversos setores eram presidentes. Ele tirava das enciclopédias vários nomes de pessoas que não foram presidentes, de fato, do Brasil, mas que, para ele, representavam alguma coisa de notável. Um dos destaques foi Alberto Santos Dumont, o Pai da Aviação, por quem o artista tinha grande veneração. E também por voar. O sonho dele era voar”. 

Daí, a frase famosa de Roseno que estampa a exposição “Eu queria ser um passarinho para conhecer o mundo inteiro”.

Vida e Obra

A exposição é dividida na vida e obra do artista. Na primeira parte, são exibidas as primeiras fotos. Na parte que inclui a série Presidentes, pinturas de bêbados, mulheres e santas, recortes da cidade que ele também desenhava, e flores, frutos e animais.  

Haverá à disposição do público três reproduções em 3D, visando facilitar a acessibilidade para pessoas com deficiência visual. Para garantir o acesso a um número maior de visitantes, a mostra traz QR Codes nas fichas de identificação de todos os seus quadros, possibilitando a audiodescrição de cada um deles. Há também duas instalações com projeções. Uma delas mostra imagens do artista, de sua vida e dos eventos que fotograva na cidade, como casamentos e formaturas. Na outra instalação, há obras de Roseno em movimento.

Amanda Grispin ressalta como interessante na exposição as frases que Roseno reproduzia nos quadros. Ele sempre escrevia na parte de trás do quadro “Este desenho foi fundado em 1961”, data que considerava como o início de sua carreira artística como pintor e fotógrafo e coincidia com o curso de fotografia que fez com um pintor espanhol, em São Paulo. Colocava também bilhetinhos atrás dos quadros. Escritos com as mais diversas letras, esses bilhetes avisavam sobre os materiais, processo de criação, execução, conservação da pintura e aconselhavam: “Quem pegar esse desenho guarda com carinho. Pode lavar. Só não pode arranhar. Fica para filhos e netos. Tendo zelo, dura meio século.” Amanda afirmou que “vários dos quadros dele têm essas frases interessantes”.

A produtora-executiva recordou que na década de 1990, quando Geraldo Porto começou a levar Roseno para exposições em galerias de arte, saíram na mídia notícias de que o artista tinha algum distúrbio mental. “Ele ficou muito chateado e passou a colocar também atrás dos quadros que era um homem muito inteligente”. 

Geraldo Porto fez a curadoria da primeira exposição de Roseno na Galeria de Arte Contemporânea Casa Triângulo, em São Paulo, em 1991. Logo depois, uma televisão alemã fez matéria sobre Roseno que foi veiculada em toda a Europa, durante a Documenta de Kassel, uma das maiores e importantes exposições da arte contemporânea e da arte moderna internacional, que ocorre a cada 5 anos na cidade de Kassel, na Alemanha. O artista morreu em 1998, quando boa parte de suas obras já estava em coleções no Brasil e no exterior.

Outra parte, que ficara com a família de Roseno, em Campinas, acabou descartada pelos próprios familiares, que pediram que o caminhão da prefeitura jogasse os quadros fora.

Mega-Sena acumula para R$ 30 milhões

O prêmio da Mega-Sena acumulou para R$ 30 milhões depois de nenhum apostador ter acertado as seis dezenas do Concurso 2.769, sorteadas no sábado (31) em São Paulo. O próximo sorteio será no dia 3 de setembro, terça-feira.

Os números sorteados foram 10-16-35-46-49-60.

A quina teve 25 ganhadores que receberão, cada um, R$ 99.848,97. As 2.725 apostas ganhadoras da quadra terão o prêmio individual de R$ 1.308,63.

A aposta mínima da Mega-Sena custa R$ 5 e pode ser feita nas lotéricas de todo o país ou pela internet, no site da Caixa, até as 19h (horário de Brasília) do dia do sorteio.

Rock in Rio quer reduzir 14 toneladas de resíduos no festival em 2024

A estimativa do Rock in Rio para a edição de 2024 é reduzir 14 toneladas de resíduos durante os sete dias de festival agora no mês de setembro. A vice-presidente executiva da Rock World, empresa que criou, organiza e produz o evento, Roberta Medina, disse que grande parte da meta será alcançada com a operação inédita de copos reutilizáveis com as marcas de bebidas patrocinadoras do evento. Celebrando seus 40 anos, o Rock in Rio terá shows nos dias 13, 14, 15, 19, 20, 21 e 22 de setembro de 2024.

“Nosso objetivo sempre foi reduzir a quantidade de resíduos gerada aqui dentro. Com o copo reutilizável, você compra a sua primeira bebida com um copo, a partir daí a bebida custa menos e você vai consumir quantas vezes quiser”, afirmou em coletiva na Cidade do Rock, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Ela destaca ainda que, somado a isso, haverá bebedouros de água espalhados por toda a área da Cidade do Rock, e, com o copo reutilizável, o público poderá se abastecer de graça. Será permitida ainda a entrada de garrafas de plástico transparentes de 500 ml que também poderão ser reabastecidas.

“Isso também demonstra uma evolução no comportamento do público. Hoje, com o ponto de atenção na sustentabilidade, a gente já mostra que ninguém vai pegar a garrafinha e jogar no colega da frente. Acho que aqui a gente avançou e com esta iniciativa a gente espera reduzir 14 toneladas. O nosso objetivo este ano é saltar dos 81% de resíduos corretamente enviados para reciclagem, que foi o que a gente alcançou em 2022, para mais de 90%”, disse.

Roberta citou a previsão da Fundação Getulio Vargas (FGV) de que o impacto do Rock in Rio na economia da cidade é de R$ 2,9 bilhões e acrescentou que o festival, ao longo dos anos, busca aumentar seu impacto mais por meio do projeto Por um Mundo Melhor, lançado em 2001. Desde lá, junto com parceiros, houve investimentos de R$ 118 milhões em projetos socioambientais, 200 instituições receberam apoio e mais de 1 milhão de pessoas foram beneficiadas.

Em relação à acessibilidade, o festival conta neste ano com pré-cadastro de pessoas com necessidades especiais, aumento das plataformas elevadas, espaço sensorial com terapeutas ocupacionais, kits sensoriais, equipe especializada para atendimentos, mochilas vibratórias e audiodescrição. Haverá ainda sessões de esclarecimento e encontros sobre diversidade com colaboradores, e ações de acolhimento e inclusão com time especializado em combate à violência de gênero, suporte para cães-guia, banheiros PCD. O pré-cadastro pode ser feito na página exclusiva de acessibilidade no site do Rock in Rio, que é atualizada constantemente.

Já no que diz respeito à mobilidade, os organizadores incentivam o uso do transporte público, que também é uma forma reduzir emissões geradas pelo evento. Além de ida e volta com esquema especial da concessionária MetrôRio, será oferecido o Serviço BRT Expresso Rock in Rio,que vai utilizar a faixa exclusiva do BRT, em viagens diretas e expressas para o Terminal Centro Olímpico. “O Rio de Janeiro tem essa facilidade porque não dá para vir ao Rock in Rio sem ser de transporte público, por exemplo em Portugal é um grande desafio porque lá o volume de emissões está no transporte público”, exemplificou.

Tebet defende modernizar políticas públicas para alcançar déficit zero

A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, afirmou, neste sábado (31), que será necessária uma “modernização das políticas públicas” para que o governo alcance o déficit fiscal zero em 2026. Entre as medidas, ela citou a avaliação de coberturas e integração de programas sociais, modernização das vinculações de benefícios e análise da efetividade dos subsídios e gastos tributários.

O governo federal terá que fazer um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias para cumprir a meta de déficit zero em 2025. Para isso, a equipe econômica está fazendo uma revisão de gastos com programas sociais. Segundo Tebet, é pente-fino em fraudes, erros e desperdícios [].

“Saímos de uma pandemia onde as regras das políticas públicas ficaram muito frouxas”, disse. “E, com isso, [em 2023 e 2024], nós conseguimos cortar, sem tirar direito de ninguém que precisa, quase R$ 12 bilhões do Bolsa Família. Para o ano que vem, o presidente Lula nos deu um cheque a menos, ‘vocês têm autorização para cortar 25,9 bi para que tenhamos meta zero’. O que eu posso atestar é que isso é suficiente para zeramos o déficit fiscal o ano que vem, mas não será suficiente para 2026”, ressaltou ao falar durante o evento Expert XP, em São Paulo.

De acordo com a ministra, o Congresso Nacional e o Poder Executivo precisarão rever gastos públicos em questões mais estruturantes. A estratégia do Ministério do Planejamento e Orçamento é definir essa nova revisão para o segundo semestre no ano que vem, visando o Orçamento de 2026.

“Temos muitas políticas públicas que estão mirando o mesmo objetivo e, às vezes, até temos sombras de penumbras, temos vácuos, alguns espaços que não estão sendo cobertos. Isso, que é a integração das políticas públicas está no nosso cardápio. Da mesma forma, a gente está falando de modernização das vinculações”, afirmou a ministra.

Tebet não detalhou o que seria essa “modernização das vinculações”, mas, em declaração recente, descartou a desvinculação de aposentadorias do salário mínimo e citou outros benefícios como o BPC e o abono salarial.

Além disso, hoje, a ministra afirmou que é preciso avaliar os gastos sobre a ótica das receitas: “a questão dos subsídios e gastos creditícios, financeiros, mas especialmente dos gastos tributários”. “Hoje, eles consomem quase 6% do PIB brasileiro”.

Subsídios tributários

Os subsídios tributários são caracterizados pela renúncia de receitas, os financeiros pela execução de despesas e os creditícios pela aplicação de recursos da União em programas ou fundos. O volume de renúncias fiscais e de benefícios financeiros concedidos pelo governo federal atingiram R$ 646 bilhões em 2023, o que preocupa o presidente Lula..

“Ninguém vai tirar subsídios que está dando certo”, destacou. “Mas temos que analisar, naquela quase uma centena de subsídios, aquilo que efetivamente ainda está atendendo o interesse público, gerando emprego e renda e movimento a economia”, acrescentou Tebet.