Skip to content

Basquete masculino na Olimpíada tem Brasil de volta e show de craques

Neste sábado (27) será dada a partida em um dos torneios mais badalados entre as muitas atrações no cardápio esportivo dos Jogos Olímpicos de Paris. A programação do basquete masculino tem quatro jogos hoje, começando com o duelo entre Austrália e Espanha, às 6h (horário de Brasília). O cronograma também reserva a estreia do Brasil, às 12h15, diante da seleção da casa, a França. A primeira fase, composta por 12 equipes divididas em três chaves com quatro seleções cada, será toda disputada na cidade de Lille. Já os mata-matas (jogos eliminatórios) serão em Paris. Em 2024, o torneio chega com diversas atrações, principalmente para os fãs brasileiros.

ANOTA, FAVORITA, COMPARTILHA! Pega o nosso calendário pra primeira fase das Olimpíadas de Paris! 🏀

FALTA POUCO! VAMOOOOOOOOOOOOS! 🇧🇷 pic.twitter.com/DSxdEqpz29

— Basquete Brasil – CBB (@basquetebrasil) July 24, 2024

Um bom termômetro do naipe dos atletas que estarão no torneio é que três foram porta-bandeira de seus países na cerimônia de abertura dos Jogos: LeBron James (Estados Unidos), Giannis Antetokounmpo (Grécia) e Dennis Schröder (Alemanha). Outra forma de se perceber o talento à disposição é que 12 dos últimos 15 prêmios de MVP (sigla em inglês para Jogador Mais Valioso) da NBA, a liga norte-americana de basquete, a mais forte do mundo, foram conquistados por jogadores que estarão presentes em Lille: LeBron venceu três destes; Antetokounmpo outros dois. Nikola Jokic, da Sérvia, com mais três e os americanos Stephen Curry (dois), Kevin Durant e Joel Embiid (ambos com um) são os outros vencedores neste recorte.

As duas últimas campeãs do mundo, Alemanha e Espanha, estão presentes. O Canadá, medalhista de bronze no último Mundial e repleto de atletas da NBA no plantel, também. Assim como a Austrália, bronze em Tóquio. 

 LeBron James, hoje aos 39 anos, volta a uma Olimpíada depois de 12 anos. Ele integra a seleção norte-americana que tem ainda Stephen Curry , Kevin Durant, Anthony Edwards, Jayson Tatum e Devin Booker.- Reuters/Brian Snyder/Direitos Reservados

Mas não há como negar que todos os olhos estarão na seleção dos Estados Unidos, que volta a levar às quadras o que tem de melhor. São quatro ouros nas últimas quatro Olimpíadas, mas as duas últimas campanhas encontraram percalços, com elencos desfalcados. Desta vez, a federação do país fez um trabalho para convencer os atletas de mais renome a defenderem a seleção norte-americana. LeBron James, hoje aos 39 anos, volta a uma Olimpíada depois de 12 anos. Stephen Curry, aos 36 anos, jogará a competição pela primeira vez na carreira. O veterano Kevin Durant chega para tentar o quarto ouro consecutivo de sua carreira. O resto do elenco é composto por jogadores estabelecidos como estrelas mais jovens na NBA, como Anthony Edwards, Jayson Tatum e Devin Booker.

Junto a tantos pesos-pesados, aparece o Brasil. Depois de ficar de fora de Tóquio e disputar os Jogos do Rio como país-sede, a seleção voltou a conquistar na quadra uma vaga olímpica depois de doze anos. O gostinho da vitória na final do Pré-Olímpico contra a anfitriã Letônia, há pouco menos de três semanas, permanece na boca dos jogadores brasileiros, que chegam à França sem pressão por resultados. O ala-armador Vitor Benite, um dos três atletas (junto com Marcelinho Huertas e Raulzinho) que têm participação olímpica no currículo, oferece uma perspectiva diferente da simples presença do Brasil entre as 12 seleções.

“O torcedor brasileiro está muito acostumado a ganhar, mas pouco acostumado a curtir o esporte. No basquete, estar nas Olimpíadas por si só já é algo muito grande para o país. Basta olhar para a Europa: a Itália, a Croácia e a Eslovênia do Luka Doncic [astro do Dallas Mavericks, da NBA] ficaram de fora. É lógico que temos muita ambição de ir bem, uma medalha seria um sonho mas ter chegado lá mostra que o que vem sendo feito está funcionando. Quem apoia e quer ajudar no crescimento do basquete do Brasil tem que utilizar isso, independente do que acontecer daqui para frente”, diz o atleta de 34 anos.

O ala-armador Vitor Benite (foto) é um dos dos três atletas da seleção – junto com Marcelinho Huertas e Raulzinho – com experiência de Olimpíadas anteriores – Reprodução Instagram/Vitor Benite

Seleção brasileira chega com energia renovada

Se apenas três atletas brasileiros têm experiência em Olimpíadas, nove vão estrear. E pegaram um grande desafio logo na primeira vez. O Brasil está no grupo B. A França, dona da casa que tem a jovem estrela Victor Wembanyama no elenco, é a adversária na estreia. Depois, a Alemanha. Por último, o Japão. Os dois mais bem colocados de cada chave avançam às quartas, assim como os dois melhores terceiros colocados no geral. 

“Como vai ser a primeira para muitos aqui, todo mundo está ansioso. Até por termos no nosso grupo o atual campeão do mundo e a seleção da casa, toda aquela atenção com o Wembanyama. Mas jogar essas competições super importantes é realizar sonhos para mim e me faz crescer como jogador”, revela o armador Georginho.

No Pré-Olímpico da Letônia, o técnico do Brasil, o croata Aleksandar Petrovic, que comandou a seleção de 2017 a 2021 e retornou em abril deste ano, encontrou algumas respostas sobre como montar a equipe. Ele está otimista.

“Esta seleção tem uma defesa ferrenha. Foi ela que nos salvou no Pré-Olímpico. Agora estamos encontrando um ritmo mais fluido no ataque. Penso que vamos praticar um ótimo basquete na Olimpíada. Temos no mínimo duas ou três opções de como jogar contra a França. Chegamos preparados e temos chances de ir às quartas”, acredita o treinador.

Uma das respostas encontradas em Riga foi Bruno Caboclo. O atleta de 28 anos, que tem 2,06m de altura e 2,31m de envergadura, se encontrou como pivô de uma formação mais baixa e flexível. Ele foi eleito o melhor jogador do torneio.

“Acho que posso dizer que estou na minha melhor fase. Uma versão diferente. Mais protagonista. Isso aconteceu porque antes exploravam mais o meu lado defensivo mas começaram a ver também o meu potencial ofensivo e usar mais isso. Estou vindo de três anos muito bons e pretendo continuar neste ritmo”, expõe Caboclo.

O técnico Petrovic conversa com o jogador Gui Santos (esquerda) e Didi durante treino da seleção brasileira em Paris Wander Roberto/COB/Direitos Reservados

No caminho até a vaga, também chamou a atenção como Petrovic rodou o elenco. Jogadores que começaram com poucos minutos ou vindo do banco tiveram mais chances nos últimos jogos e vice-versa. A sensação no grupo é de que todos podem ser úteis.

“Na seleção não é só um jogador que vai dar show sempre. Se um estiver mal, outro vai compensar. Essa é a nossa identidade, todos estão aqui por todos. No Pré-Olímpico, eu estava sendo titular mas na final não comecei. Mas acabou sendo um dos jogos em que eu mais tive minutos. Independente de quem começa ou termina a partida, o importante é lá em cima no placar estar o Brasil sempre na frente”, pontua o ala Gui Santos.

* Igor Santos é comentarista de basquete no programa Stadium, da TV Brasil

G20: declaração menciona taxação de fortunas e Haddad prevê pressão

A pressão pela taxação dos super-ricos deverá aumentar diante dos crescentes desafios colocados para mitigar as mudanças climáticas. A aposta é do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ele celebrou a inclusão do tema nas declarações aprovadas por consenso durante a 3ª Reunião de Ministros de Finanças e Presidentes de Bancos Centrais do G20, encerrada nesta sexta-feira (26), no Rio de Janeiro.

“As demandas por financiamento e por novas fontes de financiamento para a transição ecológica e o combate à pobreza têm crescido no mundo. Eu penso que a pressão e a mobilização social em torno dessa agenda também irá crescer”, afirmou.

O ministro já havia informado anteriormente que tinha alcançado um entendimento para que os textos das declarações incluíssem o reconhecimento de que é necessário aprofundar discussões sobre a taxação dos super-ricos. Em novo pronunciamento, pouco antes da divulgação dos dois documentos pactuados – Comunicado da Trilha de Finanças do G20 e a Declaração Ministerial sobre Cooperação em Tributação -, ele classificou como uma vitória as menções explícitas ao tema.

“É importante que todos os contribuintes, incluindo indivíduos com patrimônio líquido extremamente elevado, contribuam com a sua parte justa nos impostos. A elisão fiscal agressiva ou a evasão fiscal de indivíduos com patrimônio líquido muito elevado podem minar a justiça dos sistemas fiscais, o que é acompanhado por uma eficácia reduzida da tributação progressiva”, diz o Comunicado da Trilha de Finanças do G20.

Mais adiante, o documento firma um compromisso. “Com pleno respeito pela soberania fiscal, procuraremos envolver-nos de forma cooperativa para garantir que os indivíduos com um patrimônio líquido extremamente elevado sejam efetivamente tributados. A cooperação poderia envolver o intercâmbio de melhores práticas, o incentivo a debates em torno dos princípios fiscais e a criação de mecanismos antielisão fiscal, incluindo a abordagem de práticas fiscais potencialmente prejudiciais. Esperamos continuar a discutir estas questões no G20 e noutros fóruns relevantes”.

A taxação dos super-ricos é uma pauta prioritária para o Brasil, que atualmente preside o G20. Segundo Haddad, o conteúdo dos textos aprovados em consenso superou as expectativas iniciais e é uma vitória importante do país e da comunidade internacional. “Agora o tema consta em um documento oficial das 20 nações mais ricas do mundo. Isso não é pouca coisa”.

De acordo com o ministro da Fazenda, com as duas declarações aprovadas, a taxação dos super-ricos deixa de ser uma pauta do Brasil e passa a ser uma pauta do G20, incluído na agenda internacional. Ele também disse que o governo brasileiro continuará insistindo no tema, inclusive no diálogo com a África do Sul, que assumirá a presidência do grupo no fim do ano.

“Tive reuniões com a OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico], o Brasil mantém reuniões com a ONU [Organização das Nações Unidas], que tem o seu grupo de trabalho sobre tributação justa. E penso que nós também temos que agregar o conhecimento acadêmico para tentar colocar sobre a mesa as formas possíveis de implementação dessa medida”, acrescentou, citando economistas que são referências internacionais no tema.

Haddad mencionou ainda outros assuntos que são destacados nos documentos como o combate à fome, à pobreza e às desigualdades; ampliação do financiamento da mudança do clima; eficácia dos bancos multilaterais de desenvolvimento; alívio à dívida dos países mais pobres; e reformas na governança global. 

Há menções também às metas fixadas na Agenda 2030, que fixou 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) assumidos pelos 193 estados-membros da ONU na Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável ocorrida em 2015.

“À medida que os desafios relacionados com as alterações climáticas aceleram em todo o mundo, os custos financeiros da construção da resiliência climática em cada país aumentam. Reiteramos a importância de uma combinação de políticas que consistam em mecanismos fiscais, de mercado e regulatórios, incluindo, conforme apropriado, o uso de mecanismos de precificação e não precificação de carbono e incentivos à neutralidade de carbono e ao zero líquido. A necessidade de mobilizar recursos adicionais, privados e públicos, nacionais e internacionais, para ajudar a resolver os estrangulamentos na implementação da Agenda 2030 é amplamente reconhecida”, diz o Comunicado da Trilha de Finanças do G20.

Na Declaração Ministerial sobre Cooperação em Tributação, foi dada ênfase ao consenso alcançado em torno da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, cujas bases foram apresentadas nesta semana em evento conduzido pelo presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. A proposta busca reunir e fomentar a disseminação de políticas públicas de sucesso ao redor do mundo, além de aprimorá-las com base em conhecimentos e novas tecnologias.

Um terceiro documento, focado em temas geopolíticos, foi divulgado pelo Brasil também ao fim da 3ª Reunião de Ministros de Finanças e Presidentes de Bancos Centrais. O deslocamento dessas questões para uma declaração à parte foi uma estratégia adotada pela presidência brasileira no G20 para destravar o diálogo.

“No contexto da 3ª Reunião dos Ministros das Finanças e Governadores dos Bancos Centrais do G20, alguns membros e outros participantes expressaram as suas opiniões sobre a Rússia e a Ucrânia e sobre a situação em Gaza. Alguns membros e outros participantes consideraram que estas questões têm impacto sobre a economia global e deveriam ser tratadas no G20, enquanto outros não acreditam que o G20 é um fórum para discutir estas questões. A presidência brasileira do G20 conduzirá a discussão sobre essas questões nos próximos meses, em preparação para a Cúpula de Líderes do Rio de Janeiro”, diz a declaração.

As 19 maiores economias do mundo, bem como a União Europeia e mais recentemente a União Africana, têm assento no G20. O grupo se consolidou como foro global de diálogo e coordenação sobre temas econômicos, sociais, de desenvolvimento e de cooperação internacional. 

Em dezembro do ano passado, o Brasil sucedeu a Índia na presidência. É a primeira vez que o país assume essa posição no atual formato do G20, estabelecido em 2008. No fim do ano, o Rio de Janeiro sediará a Cúpula do G20, e a presidência do grupo será transferida para a África do Sul.

Pilar Três

Haddad tem chamado a pauta de taxação dos super-ricos de Pilar Três. É uma provocação do ministro para estimular o debate. No âmbito da OCDE, existem há alguns anos discussões em torno dos chamados Pilar Um e Pilar Dois, que envolvem a tributação sobre as empresas multinacionais. O consenso em torno deles também tem sido um desafio.

O Brasil defende que os países coordenem a adoção de um imposto mínimo sobre os super-ricos. No entanto, há resistências. A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, por exemplo, tem dito que os indivíduos de alta renda devem pagar um valor justo, mas que não vê necessidade de um pacto global, cabendo a cada governo tratar da questão internamente.

Haddad pondera que “não há impedimento para que os países individualmente tomem providências domésticas do ponto de vista da sua soberania tributária. A Espanha e a Itália, por exemplo, se anteciparam ao Pilar Um e já aprovaram leis nacionais que disciplinam a tributação das multinacionais que atuam nesses dois países. O Brasil também está estudando essa matéria. Se nós não pudermos assinar uma convenção internacional rapidamente, os países vão tomar decisões isoladamente. Mas a melhor solução é sempre alcançar o consenso porque ela é mais eficiente”.

O ministro brasileiro também tem avaliado que, sem uma coordenação global, os países acabam se envolvendo em uma guerra fiscal. “Esses assuntos que demandam a construção de consensos são sempre muito delicados”, avalia.

Fabiana Murer aposta em medalhas para o atletismo brasileiro em Paris

Fabiana Murer sabe bem o que é representar o Brasil em uma Olimpíada. Atleta do salto com vara, ela foi campeã mundial e panamericana e disputou três Olimpíadas. Na tarde desta sexta-feira (26) ela passou pela fanfest do Parque Villa-Lobos, em São Paulo, para conversar e tirar fotos com o público. E fez suas apostas sobre o atletismo em Paris.

“A gente está indo com uma delegação bem grande para Paris, mas sempre é muito difícil. Buscar medalha é sempre muito competitivo, mas nós temos sim, duas grandes chances de medalha”, falou ela hoje, em entrevista à Agência Brasil.

Sua primeira aposta é sobre os 400 metros com barreiras masculino, com Alison dos Santos, mais conhecido como Piu. “Ele tem muitas chances de medalha de ouro, mas vai ser uma prova disputadíssima, mas acho que medalha ele vai ter”, comentou.

Sua outra expectativa positiva é sobre Caio Bonfim, da marcha atlética 20 km. “Ele foi medalhista no Mundial do ano passado e vem super bem, fez todo o treinamento direitinho”.

Uma terceira medalha, disse ela, pode ser conquistada no revezamento misto da marcha atlética, com Caio Bonfim e Viviane Lyra. “A Viviane Lyra competiu bem no ano passado, no Mundial e, o Caio, nem se fala. Ele está super bem. Então, juntando os dois numa prova, pode sair medalha também”, comentou.

Além da boa expectativa sobre o desempenho dos atletas brasileiros, Murer disse esperar muitos recordes sendo batidos nas provas de atletismo em Paris. “Vejo que virão muitos recordes, não só olímpicos, mas eu acho que vai sair recorde mundial. Nas competições disputadas esse ano, já teve muitos recordes mundiais sendo batidos como nos 400 metros com barreiras feminino. A Sydney McLaughlin-Levrone, americana, bateu recorde nos trials americanos. E ela vem muito forte, mas também tem uma holandesa, a Femke Bol, que também correu sua melhor marca esse ano. E o Armand Duplantis, do salto com vara masculino, já bateu recorde do mundo esse ano, saltando 6,24 metros, e eu tenho certeza que ele vai pro recorde esse ano também na Olimpíada”, comentou.

Em entrevista à Agência Brasil, Murer ainda recordou a sensação de estar em uma Olimpíada. “É sempre emocionante. Estar numa Olimpíada ou assistir dá aquela saudade, aquela vontade de estar na vila de novo, de sentir aquele frio na barriga e toda a expectativa da competição. Mas agora eu estou aqui só na torcida”, falou. “A Olimpíada é muito especial, é o sonho do atleta. Foi meu sonho quando eu entrei no esporte. E eu fui para três Olimpíadas. Então agora é curtir cada momento e torcer por nossos atletas”.

Abertura da Olimpíada divide opinião do público na fanfest de SP

A transmissão da abertura da Olimpíada de Paris atraiu muita gente para a fanfest do Parque Villa-Lobos na tarde desta sexta-feira (26), na capital paulista. Sentadas em bancos, gramados, sobre cangas ou em arquibancadas, as pessoas presentes à fanfest vibraram muito quando os sete mega-telões mostraram os atletas brasileiros navegando pelo rio Sena.

Pela primeira vez na história, a abertura da Olimpíada foi realizada fora de um estádio. Em Paris, as apresentações musicais e artísticas ocorreram nas ruas, edifícios e até nos telhados da capital francesa, às margens do Rio Sena. Também de forma inovadora, as comitivas de atletas e delegações desfilaram em barcos.

Todo esse ineditismo dividiu opiniões tanto nas redes sociais como também na fanfest. A maioria das pessoas entrevistadas pela reportagem da Agência Brasil aprovou a inovação trazida pela França. Mas houve quem tenha achado tudo “muito estranho”.

“Achei essa abertura diferente, as músicas meio chatas no início. Essa coisa dos barcos foi interessante, mas não está muito empolgante. Está meio cansativa”, disse Alessandra Caetano Soares, servidora pública do Rio Grande do Sul.

Ela considerou interessante que a abertura tenha sido feita fora do estádio. Mas ainda assim, achou estranho o formato escolhido por Paris. “É legal ser feito ao ar livre porque daí tem participação popular muito maior. Mas ela foi diferente, estranha. A gente estranha quando as coisas mudam, né?”, disse ela.

Já a médica Amanda Félix Santos também achou o formato diferente, mas aprovou o evento. “É um evento bem diferente. Antes costumava ser em estádios, mas eu estou achando legal. Para quem está assistindo de fora, fica bem bacana. Imagino que para quem estava lá, deve ser um pouco mais monótono mesmo, mas para quem está assistindo de fora está bem bacana”, falou ela.

O engenheiro de computação e ex-atleta Eliel Alencar gostou da abertura, principalmente pela diversidade. “Vim aqui na fanfest prestigiar [a abertura] também como ex-atleta. Essa é uma celebração de todos os esportes e da união das pessoas não somente por meio do esporte. E essa Olimpíada, em especial, traz cultura, diversidade e representatividade. Eu acho que a cultura francesa mostra para nós que uma Olimpíada – e toda sua infraestrutura – pode ser feita em qualquer lugar. Seja com toda uma estrutura técnica de filmagem ou em um ambiente aberto, com a natureza participando, que é a demonstração do que está acontecendo. A chuva [que caiu hoje sobre Paris] não empata nada, ela vem abrilhantar ainda mais [o evento]”, falou ele.

O contador Anderson Rodrigues, que sempre gostou muito das Olimpíadas, também aprovou o novo formato. “É bem diferente. Há mais de 100 anos que é feito tradicionalmente dentro de um estádio, um estádio olímpico, mas agora a França quebrou esse protocolo e está fazendo no Rio Sena. Estou gostando bastante, é bem diferente do que a gente está acostumado da forma tradicional. Vai ficar marcado na história, com certeza”, disse ele.

Rodrigues aprovou também a escolha dos dois porta-bandeiras do Brasil: Isaquias Queiroz (canoagem) e Raquel Kocchann (rugby de sete). “Achei bem bacana incentivar a vida, com a Raquel [que enfrentou um câncer]. E o Isaquias Queiroz também, isso está enaltecendo todos os feitos que ele já fez”, comentou.

Expectativa

Se a abertura dividiu o público da fanfest, não houve divisão quanto à expectativa de conquista de medalhas pelos atletas brasileiros. Nesse caso, houve unanimidade: todos esperam um bom desempenho em Paris.

“Eu acho que no skate a Raíssa [Leal] vai mandar bem. Na ginástica artística também. Eu gosto muito da natação, mas eu não tenho acompanhado como é que está o pessoal. E, infelizmente, o futebol [masculino] ficou de fora”, falou Alessandra Caetano Soares.

A médica Amanda Félix Santos aposta em uma medalha para a ginasta Rebeca Andrade. “Acho que ela vai arrasar”, disse. Ela também espera por um bom desempenho das meninas da ginástica rítmica. “Parece que elas estão bem fortes”, comentou.

Já o ex-atleta Eliel Alencar espera por um bom desempenho na natação. “O Brasil vai com tudo na natação, que eu sou muito fã. Sou ex-atleta de natação, então sou suspeito. Bora Brasil!”, falou.

Anderson Rodrigues, por sua vez, traçou um panorama sobre os atletas que ele acha mais provável conseguirem medalhas em Paris. “As minhas expectativas são as melhores. Os esportes que eu mais gosto de acompanhar são o vôlei. Então eu estou na expectativa do vôlei feminino ser tricampeão olímpico. No masculino, eles não estão tão em alta, mas espero que eles cheguem à final. Gosto do tênis de mesa também e estou na expectativa do Hugo Calderano chegar na semifinal para beliscar uma medalhinha. No judô, gosto bastante, da Mayra [Aguiar], do Daniel [Cargnin] e do Baby [Rafael Silva]. Estou na expectativa aí de bastante medalha. E tem também a Rebeca Andrade. Espero que ela consiga ser bicampeã olímpica no salto. E tem a Raíssa [skate], que vai ter um páreo duro contra as três japonesas, mas ela vai conseguir o ouro, com certeza”.

Rosa Magalhães foi velada e homenageada por amigos e escolas de samba

Representantes de escolas de samba, intelectuais, personalidades, admiradores e, principalmente, amigos de Rosa Magalhães estavam juntos para se despedir daquela que é tida como a maior carnavalesca do Rio de Janeiro. Cada um lembrava da convivência com ela com muito carinho. As escolas de samba prestaram homenagens, deixando sobre Rosa, cada uma, uma bandeira da agremiação.

“Ela buscava que a vida dela fosse uma vida divertida. Mesmo no carnaval, ela não gostava de temas tristes. Ela gostava sempre de uma coisa engraçada. E eu acho que ela buscava isso tudo na vida, sempre estar se divertindo. Sempre buscando uma coisa leve, colorida”, diz o carnavalesco da escola de samba São Clemente, Mauro Leite, que por décadas foi assistentes de Rosa e amigo.

Rosa sempre cuidou e se preocupou com os amigos. Leite conta que conversou com ela nesta quinta-feira (25). Ela ligou apenas para perguntar como tinha sido a reunião que ele teve com o presidente da São Clemente.

“Ela me ligou e perguntou: E aí, como é que foi a conversa? Eu falei: Ah, foi tudo bem. Aí ela falou assim: Era isso que eu queria saber. Foi a última coisa que ela me disse”, conta Leite. Ele lembra da amiga com muito carinho. Eles estavam trabalhando em um projeto juntos. Esta semana ele foi várias vezes à casa dela.

Ele conta também que Rosa não vinha se sentindo bem e que não gostava muito de médicos. Morreu no Rio de Janeiro, na noite dessa quinta-feira (25), aos 77 anos. O velório foi aberto ao público no Palácio da Cidade, sede da prefeitura do Rio, na tarde desta sexta-feira (26). O corpo foi sepultado no cemitério São João Batista.

Velório da carnavalesca Rosa Magalhães, no Palácio da Cidade – Tânia Rêgo/Agência Brasil

Homenagens

Amigos e admiradores despedem-se da carnavalesca Rosa Magalhães, no Palácio da Cidade – Tânia Rêgo/Agência Brasil

Rosa tinha mais de 50 anos dedicado à arte. O título de 1982 com o Império Serrano fez o enredo Bum Bum Paticumbum Prugurundum figurar entre um dos mais famosos do carnaval carioca.

Na Imperatriz Leopoldinense, a amante do carnaval conseguiu fazer a escola atingir a supremacia por anos seguidos. Conquistou o bicampeonato de 1994 e 1995 e o tricampeonato de 1999, 2000 e 2001. O último campeonato conquistado pela carnavalesca foi em 2013, comandando o carnaval da Unidos de Vila Isabel. Ela nunca parou de trabalhar, seja na avenida ou em outros projetos. O último desfile da carreira foi em 2023, na Paraíso do Tuiuti.

“Ela é a referência. Acho que, para mim, a Rosa é a régua. Ela é a régua com a justa medida do que é ser bom na contação de história, na produção de fantasia, na farra carnavalesca que pode alegrar, que pode ensinar, que pode denunciar”, diz o carnavalesco da Imperatriz Leopoldinense, Leandro Vieira. “A Rosa é o gabarito, é o gabarito da história da Imperatriz vitoriosa. E acho que é por isso que a gente fica… está todo mundo aqui meio que embargado, assim, com a voz, porque a gente perdeu um pouco o gabarito”, emociona-se.

Para o jornalista e escritor Fábio Fabato, que era amigo da carnavalesca,  Rosa foi “simplesmente a melhor, porque ela foi aquela pessoa que pensou causos que os livros didáticos não contam. Ela foi descobrir histórias que nos entregaram um sentido identitário de Brasil. Então, assim, se a gente pode definir quem foi a Rosa Magalhães, uma descobridora dos Brasis que às vezes não nos contam”.

Fabato enfatiza que não apenas uma carnavalesca, era uma artista brasileira, comparável a grandes artistas com Tarsila do Amaral.

“Vai deixar muita saudade. Uma artista grandiosa. Não é apenas uma carnavalesca, uma cenógrafa. Uma artista brasileira, a meu ver, no patamar de uma Tarsila, de um Portinari, exatamente porque foi a maior, na maior festa popular”.

O carnavalesco da Beija-flor, João Vitor Araújo, que assinou com Rosa o desfile da Paraíso do Tuiuti, o último da carreira dela, disse que a última vez que falou com ela foi justamente no dia do amigo, dia 20 de julho, quando marcaram, como sempre faziam, de tomar um café, no sábado (27).

“Eu levei quase 40 anos para conhecer Rosa Magalhães e trabalhamos juntos e convivemos. Depois disso, foi como se estivéssemos juntos há 40 anos. De tão intenso e tão forte que foi nossa amizade. Hoje eu estou devastado, a cultura está devastada, o Brasil perde a maior artista popular de todos os tempos. Eu tenho certeza que a Rosa Magalhães foi a maior artista popular de todos os tempos”, diz.  

Integrante da União da Ilha despede-se da carnavalesca Rosa Magalhães – Tânia Rêgo/Agência Brasil

Autoridades

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestou homenagens a Rosa Magalhães, em publicação no X. “Maior campeã do Sambódromo, Rosa Magalhães contou histórias do Brasil de forma genuinamente nossa, no Carnaval do Rio de Janeiro, patrimônio da nossa cultura. Deixa um legado de arte, beleza e muitas lições a que marcaram e fizeram história nas escolas de samba. Meus sentimentos aos familiares, amigos e admiradores desta artista única”. 

O governador do Estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, divulgou uma nota de pesar na qual diz que o mundo do samba “perdeu uma das maiores personalidades do Carnaval carioca”. O governador relembra os títulos conquistados e a dedicação ao carnaval e afirma que Rosa Magalhães é e sempre será “referência para todos os amantes do samba, com seus enredos marcados por suntuosidade, cores e muita alegria. Manifesto meus sentimentos aos familiares, amigos e a todos os companheiros de carnaval. O Rio sempre será grato por todas as histórias contadas”.

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, também publicou homenagem no X: “Perdemos uma das mentes mais brilhantes da nossa maior manifestação cultural. A história de Rosa Magalhães se confunde com a do próprio carnaval. De um jeito único, ela encantou a todos nós com sua capacidade de materializar sonhos na avenida, de contar histórias de um jeito único e emocionar quem assistia”.

Paris abre Olimpíada com inédita cerimônia a céu aberto

A terceira Olimpíada a ser sediada em Paris começou com uma ousadia. Pela primeira vez na história, uma cerimônia de abertura dos jogos foi realizada fora de um estádio. Misturando trechos pré-gravados com apresentações ao vivo, a festa aconteceu ao longo de um trecho de 6 quilômetros do Rio Sena, no coração da capital francesa. A chuva foi presença constante e, embora forte em alguns momentos, não atrapalhou o espetáculo a céu aberto.

As delegações com os atletas dos países participantes dos jogos desfilaram em embarcações pelo Sena. Conforme a tradição olímpica, a delegação da Grécia foi a primeira, seguida pela delegação dos atletas refugiados olímpicos. Os anfitriões franceses fecharam o desfile das nações. A maioria dos países dividiam uma mesma embarcação. Outras, ocupavam um barco inteiro. Foi o caso dos brasileiros, liderados pelos porta-bandeiras Raquel Kochhan, capitã da seleção feminina de rugby sevens, e Isaquias Queiroz, campeão olímpico da canoagem velocidade.

Em meio ao desfile dos barcos, atrações musicais e espetáculos de dança foram acontecendo às margens do Rio Sena, tendo como pano de fundo prédios históricos de Paris. Coube à cantora norte-americana Lady Gaga apresentar o primeiro número musical da noite, homenageando os famosos cabarés de Paris. 

Atletas acendem a tocha olímpica – Reuters/Ueslei Marcelino/Proibida reprodução

Enquanto isso, a cerimônia exibia um misterioso condutor da tocha olímpica percorrendo vários lugares icônicos da capital francesa. Dos subterrâneos da cidade, até locais como a Catedral de Notre Drame, o Museu do Louvre e o Museu D’Orsay. O percurso do condutor serviu como base para que a cerimônia fizesse referências à história e às artes da França, passando pela pintura, literatura, teatro e cinema. Fatos históricos também foram lembrados, como a Revolução Francesa, com a representação da rainha Maria Antonieta após ter sido decapitada na guilhotina.

A Marselhesa, hino da França, foi interpretada pela mezzo soprano Axelle Sain-Cirel, posicionada no alto do Grand Palais. Um trecho da cerimônia homenageou as mulheres francesas. Dez estátuas com importantes figuras históricas do país emergiram do Rio Sena. Entre elas estava a da filósofa Alice Milliat, que lutou pelo direito das mulheres participarem das Olimpíadas no início do século 20. Esta é a edição de Jogos Olímpicos com a maior participação feminina na história. 

A Ponte Debilly virou uma grande passarela, com um desfile de expoentes da moda. O local também foi palco para uma celebração da diversidade de corpos, da música e da dança.

Olimpíadas 2024 – por Reuters/Brian Inganga/Proibida reprodução

Autoridades e jornalistas foram alocados em um espaço na Praça do Trocadero, próximo à Torre Eiffel, perto do ponto final do desfile dos barcos com as delegações. 

Em discurso, o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, exaltou o espírito de solidariedade dos Jogos Olímpicos e clamou pela união da humanidade na diversidade. O presidente da França, Emmanuel Macron, declarou abertos a 33ª edição dos Jogos Olímpicos.

No trecho final da cerimônia, a Torre Eiffel se tornou a grande estrela do espetáculo. Ao invés dos tradicionais fogos de artifício, um show de luzes e lasers potentes, sincronizados com a trilha sonora, fez brilhar o monumento mais famoso da França. 

A tocha olímpica ressurgiu no palco montado e foi entregue pelo condutor misterioso a Zinedine Zidane, ex-jogador campeão mundial de futebol. Depois passou pelas mãos de estrelas internacionais do esporte, começando pelo tenista espanhol Rafael Nadal. Depois, já em uma lancha no Rio Sena, se juntaram a ele a ex-tenista norte-americana Serena Willians; a ex-ginasta romena Nadia Comaneci e o ex-velocista norte-americano Carl Lewis.

De volta à terra firme, o revezamento da tocha contou com vários atletas, tendo o Museu do Louvre como cenário até o Jardin des Tuileries, ou Jardins das Tulherias. Lá o judoca Teddy Riner, tricampeão olímpico do judô, e a ex-atleta Marie- José Pérec, tricampeã olímpica no atletismo, acenderam juntos a pira olímpica, alocada em um gigantesco balão, que pairou no céu de Paris. 

Abertura das Olimpíadas 2024 – Reuters/Adnan Abidi/Proibida reprodução

A cerimônia foi encerrada com uma emocionante apresentação da cantora canadense Celine Dion. Ela era uma das atrações mais aguardadas do evento e cantou L’Hymne à L’Amour, clássico de Edith Piaf, em um dos andares da Torre Eiffel.

As competições em Paris começaram na quarta-feira (24), mas neste sábado (27), serão distribuídas as primeiras medalhas da Olimpíada. 

Os jogos na capital francesa seguem até 11 de agosto.

Jornalistas negras contam como enfrentaram racismo na carreira

Jornalistas profissionais negras que hoje estão em posição de destaque na mídia contaram nesta sexta-feira (26) como é enfrentar o racismo da sociedade para ocupar espaços onde são minoritárias.

A apresentadora Luciana Barreto, que já atuou nos canais Futura, GNT, BandNews e na TV Bandeirantes, e atualmente é âncora do Repórter Brasil, jornal da TV Brasil, contou como foi enfrentar a pobreza e o preconceito para se firmar na carreira.

Apresentadora da TV Brasil, Luciana Barreto. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

“Eu vivi várias situações e várias barreiras para chegar até aqui. Como chegar numa maquiagem de uma emissora e não ter maquiagem para pele preta. Para conseguir vaga de apresentadora, eu ouvi de uma amiga minha, que também estava concorrendo comigo, branca, dizendo quando eu passei: ‘Nossa, que legal que agora eles querem apresentadora negra”, relatou.

Luciana contou sua experiência no debate “Mulheres Negras na Mídia: Inovação e Impacto na Comunicação Pública” no Festival Latinidades 2024, que ocorre em Brasília. De acordo com a jornalista, foi na televisão que ela entendeu o problema com sua autoestima.

“Na televisão eu fui entender o quanto nossos sonhos são podados e violados. O quanto as crianças da década de 70, 80 e 90 sofreram profundamente com a sua autoestima, quanto elas foram impedidas de sonhar por conta da televisão brasileira”, completou, lembrando da falta de pessoas negras nas emissoras.

Também participou do encontro a jornalista Joyce Ribeiro, que hoje apresenta o Jornal da Tarde na TV Cultura e já trabalhou nos principais telejornais do SBT e da TV Record. Joyce foi ainda a primeira mulher negra a apresentar um debate presidencial, em 2018.

Jornalista Joyce Ribeiro (esquerda). Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

“Essa caminhada não foi recheada de facilidades. Muito pelo contrário. Ouvi falas muito duras, muito difíceis ao longo da carreira. Uma vez uma colega me deu uma sugestão, porque era muito minha amiga, dizendo que eu precisava pedir para sair [do trabalho] porque a gente trilhou um caminho grande para estar aqui e, para me preservar, eu tinha que pedir para sair, entre tantas outras coisas”, relembrou.

A jornalista colombiana Mabel Lorena Lara também contou sua experiência na televisão do país caribenho, destacando que alisava o cabelo e tentava esconder a própria personalidade na tentativa de ser aceita em um meio majoritariamente branco.

“Depois de muito tempo e de prêmios e reconhecimentos e de sair na televisão eu disse: ‘Essa mulher que vocês estão premiando como a melhor nas notícias, além disso, tem cabelo encaracolado’”, contou.

Jornalista colombiana Mabel Lorena Lara. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Lana acrescentou que decidiu soltar o cabelo depois que uma garota a questionou em Cartagena, na Colômbia. “Uma garota com seu cabelo natural perguntou: ‘Se você é a negra das notícias por que não se parece conosco?’”, completou. 

Mabel Lorena Lara foi premiada, em 2016, como líder inspiradora pelas Nações Unidas e pelo governo da Suécia. Ela foi ainda negociadora no processo de paz com guerrilhas colombianas.

“Essas experiências de racismo e machismo são amplificadas quando estamos na televisão. As pessoas têm um olhar muito específico em relação a gente, ao nosso corpo, ao nosso cabelo e a nossa bunda”, acrescentou.

O início

As três profissionais tiveram em comum a insegurança no começo da carreira. As três imaginavam que a mídia não era um espaço para elas. Segundo Luciana Barreto, a comunicação entrou em sua vida porque ela percebeu que o meio era uma ferramenta poderosa de transformação.

“Nós éramos muito periféricos e era um bairro até sem asfalto, sem saneamento básico nessa época, quando eu decidi fazer comunicação. Eu via que o jornalismo era uma ferramenta poderosa, mas era uma ferramenta utilizada para poucos”, explicou.

Segundo a apresentadora da TV Cultura, Joyce Ribeiro, o universo da comunicação lhe atraia muito, mas pensava que era algo distante de sua realidade.

“Não fazia parte do que eu achava que poderia sonhar. Isso já me colocava um certo receio em seguir essa carreira. A gente se arrisca em todas as profissões, mas no universo da comunicação, que sempre teve tão fechada à nossa presença, não me via”, contou.

Para a colombiana Mabel Lorena Lara, foi preciso construir uma autoestima e entender que a mídia é um local onde as mulheres negras também merecem estar.

“Em vários momentos eu pensei que não era um lugar para mim. No meu país, por décadas, as mulheres afros representam a servidão, um pouco de exotismo, a utilização dos corpos das mulheres como atraentes e pouco se falava nos meios de comunicação”, destacou.

Negras na mídia

Além do debate sobre a participação de mulheres negras na mídia, o Festival Latinidades 2024 criou o Prêmio Jacira da Silva, em homenagem a jornalista que foi a primeira negra a assumir a presidência do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, entre 1995 e 1998, e fundou a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira/DF).

Na categoria Jornalistas Negras, a gerente da Agência Brasil, Juliana Cézar Nunes, recebeu o prêmio ao lado de nomes como Maju Coutinho, da Rede Globo, e Basília Rodrigues, da CNN. 

Na categoria Mídias Negras, foram premiadas a Revista Afirmativa, a agência de notícias Alma Preta, o Instituto Cultne, o Mundo Negro e o Africanize, veículos de comunicação que priorizam e dão visibilidade às pautas ligadas à população negra brasileira.

Nova plataforma brasileira permite rastrear a reutilização de plástico

A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) lançaram nesta sexta-feira (26), na capital paulista, a plataforma Recircula Brasil, que permite rastrear e registrar a reutilização de plásticos. Segundo a ABDI, essa é a primeira ferramenta brasileira a certificar efetivamente a circularidade dos materiais.

A agência tambem adianta que o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima tem um decreto e edição para tratar da circularidade do plástico e estabelecer que empresas comprovem o uso de conteúdo reciclado.

Para rastrear o caminho dos plásticos reciclados, a plataforma utilizará notas fiscais eletrônicas. O monitoramento ocorrerá desde a compra dos materiais até a venda dos produtos finais. A partir dessas informações, o sistema conseguirá atestar a origem dos materiais e confirmar que o produto contém plástico reciclado.

“A plataforma não só promove a reciclagem, mas também posiciona o Brasil como um líder global na implementação de soluções inovadoras contra a poluição plástica”, destaca o presidente da ABDI, Ricardo Cappelli. 

De acordo com Cappelli, a iniciativa poderá ser utilizada não somente pelo setor de plásticos, mas para todos os setores produtivos que trabalham com reciclagem. “A plataforma tem o potencial de transformar outros setores industriais, como o do alumínio e o automotivo. Nosso objetivo é tornar o Recircula Brasil um instrumento de política pública, assegurando a transparência e a rastreabilidade na cadeia produtiva,” acrescentou.

A plataforma, que em teste foi reconhecida como modelo de excelência no combate à poluição plástica pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, também fornecerá informações detalhadas sobre o novo uso dos resíduos reciclados, possibilitando que recicladores de plásticos comprovem suas operações de maneira mais eficaz.

“Ao produzir reaproveitando o que se tem, sem precisar usar novos recursos que tendem a se esgotar na natureza, estamos protegendo o meio ambiente, reduzindo a poluição e evitando falsificações de resultados ambientais. A circularidade do plástico no Brasil passa a ser real e com transparência de dados”, ressalta a diretora de Sustentabilidade da ABDI, Perpétua Almeida.

O mercado plástico brasileiro é de aproximadamente 7 milhões de toneladas por ano. Desse montante, são reciclados cerca de 1,1 milhão de toneladas por ano.

Governo assina acordo para construção do Memorial da Luta pela Justiça

O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania firmou, nesta sexta-feira (26), acordo de cooperação técnica para a implantação do Memorial da Luta pela Justiça em São Paulo. O museu será instalado no prédio da antiga sede da Auditoria Militar, onde ocorreram julgamentos de crimes políticos durante a ditadura no Brasil, tornando o local um símbolo da repressão. O objetivo é que o memorial ajude a conscientizar presentes e futuras gerações para que crimes e injustiças do passado não se repitam.

Localizado na Rua Brigadeiro Luiz Antônio, o prédio será transformado em um equipamento sociocultural inédito, dedicado a projetos de pesquisa, educação e cultura. O memorial abrigará exposições, acervos, programas de visitação e debates, entre outras iniciativas, com o objetivo de resgatar, registrar e preservar a história das violações de direitos humanos no Brasil. As obras começam em meados de setembro, e a expectativa é a de que o prédio seja entregue em até dois anos.

A construção do memorial será feita por meio de parceria com a Secretaria de Relações Institucionais da Presidência, a Ordem dos Advogados do Brasil – Seção de São Paulo (OAB-SP) e o Núcleo Memória, organização dedicada à preservação da memória política no país. Diversos atores sociais contribuíram com o projeto, como profissionais do direito, ex-presos políticos, museólogos, arquitetos, historiadores e jornalistas.

O ministro Silvio Almeida e a presidente da OAB de São Paulo, Patricia Vanzolini, assinam acordo para construção do memorial – Rovena Rosa/Agência Brasil

 

O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, destacou que o trabalho das políticas de memória é trazer à tona e mostrar o significado do que o passado representou e como repercute no presente e no futuro. Segundo o ministro, o Brasil precisa muito desse trabalho, a exemplo de outros países, que também passaram por processos traumáticos.

“Isso não é pouca coisa. Pegar um espaço onde as pessoas eram julgadas, condenadas e onde houve prática de tortura, onde a tortura foi mais do que normalizada e transformar em um espaço de reflexão é muito importante. O Brasil é um país que não lida com seus traumas e as políticas de memórias são fundamentais para que possamos lidar com isso”, disse.

O ministro informou que outra iniciativa para estabelecer políticas de memória será a transformação da Casa da Morte em Petrópolis, no Rio de Janeiro, em museu. Segundo Silvio Almeida, também será criada no ministério uma comissão para acompanhar as recomendações da Comissão Nacional da Verdade, colegiado que investiga violações de direitos humanos ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988. “E, até o fim do ano, nós vamos estabelecer também o Centro de Memória e Documentação de Direitos Humanos, que é para preservar a memória do ministério”, acrescentou.

UnB concede diploma post mortem a Honestino Guimarães

Em uma cerimônia emocionante, a Universidade de Brasília (UnB) concedeu nesta sexta-feira (26) o diploma de geólogo ao estudante Honestino Guimarães, desaparecido político perseguido durante a ditadura militar e cujo corpo nunca foi encontrado. Liderança estudantil, Honestino foi preso em 1965 e viveu na clandestinidade nos anos seguintes. Ele foi sequestrado em 1973 e nunca mais foi visto. A confirmação pública de sua morte ocorreu em 1996. 

O reconhecimento, concedido na modalidade port mortem, ocorreu no auditório da Associação dos Docentes da UnB e contou com a presença de professores, estudantes, familiares de Honestino e autoridades locais e nacionais. 

Na cerimônia, foi anunciada a decisão do Conselho Universitário da UnB que anulou a decisão de desligar Honestino da instituição de ensino. Ele havia sido expulso em 1968, antes de concluir a graduação.

A reitora da universidade e presidente do Conselho Universitário, Márcia Abrahão, anunciou a concessão do título e explicou que, para que esse momento ocorresse, foi feito todo um trabalho de pesquisa aos arquivos da Universidade de Brasília e do histórico escolar de Honestino Guimarães. 

“Nós analisamos academicamente a proposta. Então este diploma é um diploma de geólogo mesmo. Além do diploma em si, este ato mostra o compromisso desta universidade com a democracia, não só na ditadura militar”, afirmou a reitora. “A UnB é território de resistência. Continuaremos sendo território de resistência. A UnB pede desculpas à família de Honestino Guimarães”, acrescentou Márcia Abrahão.

Participaram do evento integrantes do Diretório Central dos Estudantes da UnB – cujo nome homenageia a liderança -, representantes do governo federal, dentre eles a presidente da Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, Eneá Almeida, que é professora da universidade. Em mais de um momento, os familiares de Honestino Guimarães foram aplaudidos efusivamente pela plateia que compareceu ao ato.

Presente no palco, Sebastião Lopes Neto, primo de Honestino, fez um histórico sobre a origem humilde, vindo do interior de Goiás, e a militância política do estudante, atuando em movimentos comunistas e de luta pela democracia, como dirigente e militante. 

O ex-reitor da universidade José Geraldo de Souza Júnior foi encarregado de proferir o discurso de apresentação do outorgado. “A decisão fez justiça a um dos nomes mais importantes do Brasil na luta contra a ditadura militar e na luta da democracia, dos direitos estudantis e da autonomia universitária”, declarou José Geraldo, professor titular de Direito, que comandou a UnB entre 2008 e 2012.

“A concessão do diploma não é só uma celebração. É um ato de justiça, de reparação”, disse, em referência às análises que foram feitas do processo acadêmico. Segundo o orador, o ato passa “uma inequívoca mensagem à sociedade, para deixar explícito o compromisso da UnB com a justiça, a democracia e a história, a despeito dos que insistem em contestar os fatos de um período sombrio no nosso país, um negacionismo que precisa ser combatido com todas forças, sobretudo em respeito a cada vítima direta ou indireta da ditadura”. 

“A universidade é um espaço plural, de democracia, de dúvida, contraditório, pesquisa, estudo, extensão, de construção e de defesa da democracia. E é por isso que ela foi tão atacada, e a UnB, na década de 1960, foi violentamente atacada. E recentemente, de novo, a universidade pública brasileira também foi atacada”, afirmou Alexandre Brasil, secretário de Educação Superior do Ministério da Educação.