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Cinco municípios paulistas estão com foco de incêndio ativo

Cinco cidades do interior paulista estão com focos de incêndio ativos neste sábado (31), informou a Defesa Civil do estado de São Paulo. Segundo o órgão, os focos de fogo foram verificados nas cidades de Morro Agudo e Pedregulho, ambos na região de Franca; em Altinópolis e Franca, na área de Ribeirão Preto; e em Fernandópolis, na região de São José do Rio Preto.

Neste momento, agentes de Defesa Civil, bombeiros, brigadistas voluntários e equipes de grupos privados estão atuando em todos estes locais para o combate às chamas.

Na semana passada, dezenas de cidades do interior paulista sofreram com focos de incêndio e intensas fumaças. Dois funcionários de uma usina em Urupês morreram tentando combater um desses incêndios. Por causa disso, o governo de São Paulo criou um gabinete de crise para gerenciar ações de monitoramento e de controle da situação e iniciou neste final de semana uma operação especial para combater as queimadas no interior paulista.

As queimadas provocaram muitos prejuízos no estado, como o fechamento temporário de rodovias e perdas de 5 milhões de toneladas de cana e 60 mil hectares de produção, segundo estimativas da associação patronal Novacana.

Até ontem (30), a Polícia Civil havia detido dez pessoas por suspeita de terem participado de incêndios criminosos no estado. Um desses detidos foi um homem de 39 anos, que ateou fogo em uma plantação de cana-de-açúcar na cidade de Pindorama, na região de São José do Rio Preto. Ele foi preso na última quinta-feira (29). Segundo testemunhas, esse homem teria usado um isqueiro para atear fogo em vários pontos da plantação. Ele foi preso em flagrante, portando uma bicicleta, isqueiro, caixa de fósforo, um maço de cigarros e dinheiro.

Além dele, foram detidas duas pessoas em Franca, duas em Batatais, duas em São José do Rio Preto, um em Jales, um em Guaraci e outro em Salto. Outros dois homens foram autuados na cidade de Porto Ferreira por acender uma fogueira para limpeza da vegetação. Todos esses casos estão sendo investigados, mas a polícia informa que não há ligação entre eles.

Alerta

O Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da Defesa Civil do Estado de São Paulo emitiu um alerta na última quinta-feira (29) para o risco elevado de incêndios em quase todo o estado para os próximos dias, quando haverá aumento nas temperaturas e baixa umidade do ar, o que aumenta o risco de queimadas.

O Mapa de Risco de Incêndio, que emite previsões para os próximos dias, aponta que as regiões mais críticas com relação às altas temperaturas são Andradina, Araçatuba, Bauru e Jaú, com máximas podendo chegar a 35ºC. Há risco também de baixa umidade relativa do ar, que deve atingir níveis críticos ficando abaixo dos 20%.

Por causa desse alerta, os órgãos estaduais recomendam atenção redobrada para a população, alertando para que não se coloque fogo em áreas de vegetação seca, não jogue bitucas de cigarro em beiras de rodovias, não realize a limpeza da área rural utilizando técnicas com fogo, não queime lixo e não solte balão.

Goalball brasileiro encerra participação na primeira fase em Paris

Neste sábado (31), as duas seleções brasileiras de goalball concluíram seu calendário na primeira fase da modalidade nos Jogos Paralímpicos de Paris. Enquanto a equipe masculina empatou com o Irã por 7 a 7 e terminou invicta, as mulheres perderam para a China por 3 a 1 e fecharam sem vitórias, em último lugar na chave. Como todas as oito equipes avançam de fase no goalball, tanto no masculino quanto no feminino, o Brasil segue vivo em ambos os naipes.

As brasileiras saíram atrás da China, perdendo o primeiro tempo por 1 a 0. O Brasil conseguiu um empate com gol de Moniza, porém não resistiu ao adversário e sofreu outros dois. Na chave C, a seleção feminina fechou com um empate e duas derrotas, em quarto e último lugar. Na próxima fase, vai encarar o primeiro colocado do grupo D, que tem Japão, Canadá, Coréia do Sul e França. As quartas de final acontecem na terça-feira, dia 3.

Já entre os homens o Brasil deixou escapar a certeza de terminar em primeiro no grupo A. A seleção derrotava o Irã por 7 a 4 com gols de André Dantas (4), Emerson, Leomon e Parazinho, faltando pouco mais de um minuto para o fim da partida, porém sofreu três gols em sequência, o último deles quando restavam menos de três segundos. Uma vitória e, consequentemente, a manutenção dos 100% de aproveitamento, garantiriam a liderança. No entanto, na última rodada, o Irã, que joga contra os Estados Unidos neste domingo e tem uma vitória e um empate, ainda pode ultrapassar o Brasil no saldo de gols. No momento, os brasileiros têm uma pequena vantagem (oito contra quatro).

A incerteza sobre a posição final na chave não altera muito o panorama para as quartas de final, que serão realizadas na segunda-feira, dia 2. O Brasil enfrentará o terceiro ou o quarto colocado do grupo B, que obrigatoriamente será o Japão ou o Egito. Estas seleções se enfrentam no domingo para definir quem fica em cada colocação.

A seleção masculina é a atual tricampeã do mundo, além de detentora do título paralímpico, conquistado em Tóquio. A equipe também tem uma prata, conquistada em Londres 2012 e um bronze, no Rio, em 2016.

Fliparacatu premia alunos em concurso de redação e desenho

Quantas histórias cabem nos muros invisíveis? Alunos da rede pública e privada de Paracatu foram instigados a dar respostas à essa pergunta. Após visitar a mostra Muros Invisíveis: Professores Negros, eles foram convidados a desenvolver uma fanfic, ou seja, inventar histórias a partir de outras já existentes. A ideia era revelar talentos, além de promover o gosto pela leitura e pela escrita.

A premiação ocorreu nesta manhã de sábado (31), dentro da programação do Festival Literário Internacional de Paracatu, e celebrou os vencedores das categorias de desenho e redação. Foram 18 vencedores, nas seis categorias do concurso.

Bárbara Kamyllia Tenório, de 17 anos, ficou com o primeiro lugar na categoria de estudantes de 15 a 18 anos. Ela está no terceiro ano do ensino médio e estuda na Escola Estadual Neusa Pimentel Barbosa. Sua redação recebeu o título “Uma imprescindível mulher”.

“Eu fiquei muito surpresa com o primeiro lugar. Eu sabia que eu tava no pódio, mas não imaginava que seria logo o primeiro. Eu escrevi sobre uma professora negra e sobre quebrar muros, quebrar barreiras. Porque ser negro no Brasil é muito difícil, por causa do nosso histórico, e ter forças para quebrar os muros, como a gente viu na exposição, é muito bonito”, fala.

 A professora de português, redação e literatura Kélia Nunes Rabelo, acompanhou o processo da Bárbara e disse que foi muito difícil selecionar o texto, tamanha qualidade dos textos produzidos.

“Nós visitamos a exposição, fizemos uma aula ao ar livre e ficamos surpreendidos com a qualidade dos nossos alunos. Desde o início, estávamos confiantes no primeiro lugar, porque a redação da Bárbara ficou muito boa, original, criativa e acho que cumpriu com o propósito do concurso”.

Com o título “A heroína da educação”, Andressa Gabrielly, da Escola Estadual Altina de Paula Guimarães, conquistou o terceiro lugar da categoria de 12 a 14 anos. Ela gosta de ler, escrever e já participou de outros concursos de redação. “Eu usei a professora Laisa como personagem principal e o super poder dela é do conhecimento e da educação. Os professores podem não ter o poder da invisibilidade, ou de voar, mas passam todo o conhecimento que eles têm”.

A diretora da escola da Andressa, Sueli Batista Gomes, acredita que o apoio da escola, da professora e da família foram fundamentais. Para ela, o que fica do Fliparacatu, é “imensurável na cultura, conhecimento, arte que é levada às crianças e adolescentes”.

A segunda edição do Prêmio de Redação teve 44 desenhos inscritos e 47 redações. Cerca de 32 mil alunos forem envolvidos. Os primeiros lugares receberam premiações em dinheiro de R$ 300, R$ 500 e R$ 1 mil. A comissão julgadora foi composta pelo jornalista Cláudio Oliveira, a historiadora Helen Ulhoa Pimentel e os professores José Ivan Lopes e Vinícius Paz de Araújo.

Muros invisíveis

Com curadoria das líderes quilombola, Rose Bispo e Kassius Kennedy, a mostra homenageia 21 professores negros da rede pública de Paracatu. A exposição é realizada pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais, através da promotora de Paracatu, Mariana Leão.

Selma Bispo dos Anjos Silva, uma das escolhidas, afirma que foi indescritível participar e conta que foi maravilhosos contar a sua história, o racismo sofrido. Para ela, é um projeto que vai mudar a história de Paracatu e do povo negro.

“Ser convidada foi uma surpresa. Porque, geralmente não se homenageia professores, e ainda mais professores negros, com uma história comum e, para a maioria, uma história sem importância. Senti que seria uma forma de nos mostrar para a sociedade e que a gente pode tudo. E também homenagear os nossos antepassados. A sensação que a gente tinha, na inauguração, é que tinha várias e várias gerações ali conosco”.

Selma dá aulas para o ensino infantil e fundamental na escola municipal Maria de Trindade Rodrigues, na zona Rural de Paracatu. A escola do Jean Carlos dos Reis Silva, de 11 anos, vencedor da categoria PCD com um desenho onde ele retratou alunos de mãos dadas, com a professora. Jean disse que está “muito feliz” com o prêmio e que pretende continuar desenhando.  

 Premiação ocorreu nesta manhã de sábado (31), com 18 vencedores premiados nas seis categorias do concurso.  Foto – Festival Literário Internacional de Paracatu/Divulgação

Para Selma, ter a história recontada pelos alunos foi muito especial. Em uma delas, foi retratada como como uma princesa; em outra, foi comparada a Carolina Maria de Jesus. Por fim, ela lembra ainda que uma das alunas, de cinco anos, viu a foto na mostra e perguntou: tia, a senhora é negra? E Selma respondeu, “sim, somos, você também é negra? Ela olhou pra mim e disse: uai, eu sou da cor da senhora, então eu sou, né?”.

Conceição Evaristo, que começou a carreira como professora infantil no Rio de Janeiro, disse que concursos como este são “o momento alto dos eventos de literatura”.

Conceição ressaltou a importância de homenagear professores negros como um resgate histórico. E, em especial, as professoras negras.

“Talvez as primeiras professoras foram as mulheres negras, dentro da casa grande. Elas cuidavam da prole da casa grande. Exerciam papel de educadora, inclusive da língua falada no Brasil”, disse a escritora.

Ao encerrar a premiação, Ailton Krenak, homenageado do Festival, deu um carinhoso conselho às crianças.

“Mantenham seus coraçõezinhos nos lugares onde sempre estiveram: seguros. A beleza de vocês é o que dá sentido ao mundo. Os desenhos, os textos, isso é o sentido da literatura, do desenho, da arte. Bem-vindos a esse mundo incrível, cheio de muros invisíveis, que vocês vão ajudar a desmontar”, afirmou Krenak.

*Repórter viajou a convite da organização do festival

ONU prepara vacinação em Gaza enquanto Israel continua bombardeios

Ataques israelenses mataram pelo menos 48 pessoas na Faixa de Gaza neste sábado, disseram autoridades de saúde palestinas, enquanto confrontos aconteciam nas áreas central e sul do enclave antes do início planejado de uma campanha de vacinação contra a poliomielite.

As Nações Unidas devem começar a vacinar cerca de 640 mil crianças no território contra a poliomielite, contando com pausas diárias de oito horas nos combates entre as forças israelenses e os militantes do Hamas em áreas específicas do enclave.

Yousef Abu Al-Reesh, vice-ministro da Saúde de Gaza, disse que as equipes de vacinação tentariam chegar ao maior número possível de áreas para garantir ampla cobertura, mas ele disse que somente um cessar-fogo abrangente poderia garantir que um número suficiente de crianças fosse alcançado.

“Se a comunidade internacional realmente quer que esta campanha tenha sucesso, ela deve pedir um cessar-fogo, sabendo que este vírus não para e pode chegar a qualquer lugar”, disse ele a repórteres no Hospital Nasser, na cidade de Khan Younis, no sul do país.

Neste sábado, médicos administraram vacinas em algumas crianças nas enfermarias do Hospital Nasser, em um movimento simbólico antes do início oficial da campanha.

A campanha ocorre após a confirmação, na semana passada, de que um bebê ficou parcialmente paralisado pelo vírus da poliomielite tipo 2, o primeiro caso desse tipo no território em 25 anos.

Autoridades da OMS dizem que pelo menos 90% das crianças precisam ser vacinadas duas vezes, com quatro semanas de intervalo entre as doses, para que a campanha tenha sucesso, mas ela enfrenta enormes desafios em Gaza, que foi amplamente destruída por quase 11 meses de guerra.

No sábado, enquanto mais de 2.000 profissionais médicos e comunitários se preparavam para o início da campanha, médicos em Nuseirat, um dos oito campos de refugiados históricos da Faixa de Gaza, disseram que ataques israelenses separados mataram pelo menos 19 pessoas, incluindo nove membros da mesma família.

Mais de 30 outras pessoas foram mortas em uma série de ataques em outras áreas de Gaza, disseram médicos.

Moradores e fontes militantes disseram que combatentes do Hamas, da Jihad Islâmica e de outros grupos lutaram contra forças israelenses no bairro de Zeitoun, ao norte de Gaza, onde tanques operam há dias, e em Rafah, perto da fronteira com o Egito.

O exército israelense disse em uma declaração que continuou a operar no centro e no sul da Faixa de Gaza. Também afirmou que as tropas mataram militantes e desmantelaram a infraestrutura militar na Cidade de Gaza, enquanto localizavam armas e matavam atiradores em Tel Al-Sultan, no oeste de Rafah.

Em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, famílias retornaram para suas áreas depois que o exército encerrou uma ofensiva de 22 dias que, segundo ele, tinha como objetivo impedir que o Hamas se reagrupasse. Imagens mostraram grandes áreas arrasadas, e prédios e infraestrutura foram destruídos.

Médicos disseram que recuperaram pelo menos nove corpos na área onde o exército operava.

O episódio mais recente no conflito israelense-palestino de décadas foi desencadeado em 7 de outubro do ano passado, quando combatentes do Hamas atacaram Israel, matando 1.200 pessoas e fazendo cerca de 250 reféns, de acordo com contagens israelenses.

O ataque subsequente de Israel ao enclave governado pelo Hamas matou mais de 40.600 palestinos, de acordo com o ministério da saúde local. Quase toda a população de Gaza de 2,3 milhões foi deslocada e o enclave tem uma crise de fome. Israel enfrenta alegações de genocídio no Tribunal Mundial que nega.

Carol Santiago é ouro nos 100m costas e faz história para o Brasil

A primeira medalha de Carol Santiago em Paris foi cheia de história. Neste sábado (31), a nadadora pernambucana conquistou o ouro na prova dos 100 metros costas classe S12, para atletas com baixa visão e chegou a quatro ouros em Jogos Paralímpicos na carreira.

O resultado a coloca ao lado de Ádria Santos, velocista que marcou época pelo Brasil e, até então, estava isolada como a mulher brasileira com mais primeiros lugares em Paralimpíadas. Ádria – que segue como a atleta feminina com mais medalhas do país – somou 13 pódios pelo Brasil e Carol agora tem seis.

“Estou muito feliz, a prova foi incrível, a gente testou algumas coisas de manhã (na eliminatória) e tudo o que o meu técnico pediu para eu fazer eu vim aqui e fiz. E deu certo. Foi a melhor natação da minha vida. Estou muito satisfeita”, disse a atleta, em êxtase, em entrevista ao CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro) na saída da piscina.

Na final dos 100 costas, prova da qual é atual campeã mundial, Carol largou na frente e não foi incomodada em nenhum momento do percurso. Ela fechou com 1min08s23, melhor marca pessoal e recorde das Américas. Em segundo lugar, ficou a ucraniana Anna Stetsenko (1min09s43), enquanto a espanhola Maria Delgado Nadal conquistou o bronze (1min11s33).

Com o resultado, a pernambucana de 39 anos, que tardou em entrar para o movimento paralímpico e estreou em Jogos Paralímpicos apenas em Tóquio, tem seis pódios em oito provas disputadas na história dos Jogos. São quatro ouros, uma prata e um bronze, conquistado justamente nos 100 metros costas, há três anos.

Em Paris, Carol Santiago ainda corre atrás de mais quatro medalhas. O próximo compromisso é na segunda-feira (2), nos 50 metros livre classe S13, junto com atletas com deficiência visual menos severa. Depois, ela ainda nada os 200 metros medley, também na S13, além 100 livre e dos 100 peito, ambos na S12.

“Minha literatura convoca todo mundo”, afirma Conceição Evaristo

Conceição Evaristo se emociona escrevendo. Chora, precisa levantar e retomar o fôlego ao fim de uma cena particularmente dolorosa. Edifica os personagens como quem cria filhos. Também se demora em um texto. Às vezes mais de década. É que toda palavra que sai de suas mãos tem que ser bem trabalhada. O texto flui, mas flui de maneira cuidadosa.

“Eu acho que esse isso também faz parte do prazer da criação. Para mim, é prazeroso, é muito bom quando você acaba de escrever um texto e sente que aquele texto é um texto feliz. Mesmo quando estamos falando de coisas duras”, afirma a escritora.

Conceição é um dos nomes mais queridos da segunda edição do Festival Literário Internacional de Paracatu. Ano passado foi a homenageada, junto com o escritor moçambicano Mia Couto. Nesta conversa, ela falou com a Agência Brasil sobre seu processo criativo, preço do livro no Brasil, os autores que têm lido e as modas que ainda pretende inventar.

 escritora, Conceição Evaristo, Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Agência Brasil: Como é a emoção de estar em uma feira? 
Conceição Evaristo: Pra mim, desmistifica essa fala, que é muito comum, que o brasileiro não gosta de ler, que as pessoas não leem. Eu fico sempre pensando que não é oferecido às pessoas a oportunidade da leitura. Quem tem a oportunidade da leitura, de ir se formando como leitor, gosta de ler, sim. Falta estímulo. E tem uma questão que eu acho mais séria ainda: livro no Brasil é caro. Por exemplo, este livro aqui está a R$49. Eu comprei agora para de presente para criança. Um texto ilustrado, colorido, sai caro. Então, talvez se tivesse mais ou se tivesse políticas de publicação, políticas voltadas para a publicação. Eu acho que, talvez o que impede a leitura no Brasil, é que livro sempre foi muito caro.

Agência Brasil: Na mesa com Itamar Vieira Júnior, a senhora falou sobre afeto e que as mulheres negras têm falado muito sobre afeto. Como o afeto aparece na sua literatura?
Conceição Evaristo: Ontem quando o Itamar tava dizendo da construção das personagens dele, que as personagens acabam ecoando alguma experiência que ele tem, eu também acho que as minhas personagens acabam ecoando alguma experiência. Isso não significa que cada personagem sou eu, mas, na construção de determinadas personagens minhas, é como se eu tivesse, realmente, construindo ou edificado filho. Tem um texto meu que eu começo falando de parentes, para dizer que cada personagem é um parente. E aí, quando você se cumplicia com o personagem vem do afeto. Quando eu tava escrevendo Ponciá Vicêncio, tem uma cena, depois do marido ter espancado ela diversas vezes, já tá naquela fase de compreensão dela. Então, ele vem com uma canequinha de café e oferece café para ela. Quando ele chega perto, ela se recua e abaixa o corpo esperando as pancadas. E ele então chega com a canequinha debaixo do nariz dela, quando ela sempre cheira, que ela percebe que é um ato de afeto que ele tá levando para ela. Eu escrevi aquela cena chorando. Várias vezes tive de levantar para tomar fôlego.

Agência Brasil: Conceição nunca foi vítima de violência doméstica e acredita que os homens podem mudar.
Conceição Evaristo: Nesse romance, Ponciá Vicêncio, há um momento que o marido de Ponciá se transforma. Há um momento em que ele olha para essa mulher que ele batia, porque não tinha paciência nenhuma com ela, porque ela ficava vários momentos fora de si, e ele percebe a solidão dessa mulher. Aí ele percebe a própria solidão. Ele muda. Então, eu acredito que possa haver uma mudança, sim. Pode vir com a própria consciência, o sujeito se descobrir. Como também eu acho que pode vir até de uma punição mesmo. Talvez esses homens que cometem violência contra mulher se eles recebessem uma punição, mas uma punição não é também… um processo educativo, de conscientização, talvez eles possam perceber.  Em um outro lugar, a gente não tá falando de mesma coisa, mas eu acredito que haja pessoas brancas que um dia vão perceber quão racistas elas são e podem ter esse processo de esforço, de aprendizagem, de compreensão e mudar. E ser, inclusive nossos aliados na luta contra o racismo, né? Eu acho que esse processo também pode acontecer com o homem.

Agência Brasil: Sobre as mudanças do mundo, Conceição acredita que há um esgotamento, um cansaço. E que não há espaço para brutalidade e guerras.
Conceição Evaristo: Eu acho que é um cansaço na humanidade. Há um esgotamento das pessoas. Por exemplo, a Europa perdeu o rumo. Hoje não é mais novidade. Hoje não, há muito tempo a Europa não é mais novidade hoje não, tá? Talvez por isso eles se voltem com tanto a ênfase ou se voltou com tanta ênfase com as populações tradicionais, com as populações africanas, as populações indígenas. E, individualmente, até mesmo em termos de grupos sociais, eu acho que há um esgotamento. Eu acho que isso também é muito por força do capitalismo. O que que as pessoas querem? O que as pessoas procuram? Em que nós depositamos a nossa vida? Outro dia me impressionou muito. Eu passei perto de dois jovens e eles estavam discutindo aposentadoria. Aí um dizia que vai se aposentar com 65 anos. Ora, com 65 anos, se você não tiver é uma vida saudável, você vai estar muito doente. E aí você não tem mais nem como aproveitar a vida, né? Ao mesmo tempo que se olha muito para o futuro, também tem uma ânsia muito grande nesse presente, né?

Agência Brasil: A senhora já falou em outros lugares, que a literatura negra não é apenas para lazer, mas também para incomodar, fazer pensar. A senhora acredita que a literatura ainda é este lugar?
Conceição Evaristo: Acredito. E acho que aqui cabe uma outra questão. Há uma tendência em dizer que a arte é universal, né? Então a literatura ela é universal, ela não guardaria determinadas especificidades, né? E quando essa literatura guarda agora determinadas especificidades ela é chamada de literatura militante, literatura panfletária. Mas o que que eu percebo? Tem várias obras da literatura brasileira, obras belíssimas que eu gosto imensamente, mas ela me incomoda, na medida que o sujeito negro não cabe ali naquela obra. E quando ele aparece, aparece estereotipado. Então, ela é uma literatura é que eu gosto muito, mas que ela não me convoca. Pelo contrário, ela me expulsa, nesse processo de ficcionalização.

Ora, quando eu escrevo livro e, como eu sempre digo, toda a minha literatura é contaminada pela minha experiência de mulher negra na sociedade brasileira. Então, quando eu escrevo um livro e esse livro convoca mulheres, homens, pretos, brancos, brasileiros, estrangeiros, e tem um público leitor fora do âmbito nacional, então, a gente faz uma literatura Universal. A partir de minha experiência como mulher negra, a partir da minha subjetividade, eu consigo criar um texto que convoca todo mundo. Então, esta sim, sem modéstia nenhuma, esta sim, é literatura universal.

Agência Brasil: O que a senhora tem lido ultimamente?
Conceição Evaristo: Eu tenho livro esses escritores de países africanos de língua portuguesa; tenho lido as obras de Carolina Maria de Jesus, para além do Quarto de Despejo. Paulina Chiziane, que é justamente essa escritora de Moçambique, né? Acabei de reler Eu , Tituba: bruxa negra de Salem, de Maryse Condé. Eu releio livros porque às vezes e minha primeira leitura é para trabalho. Então, eu gosto de fazer uma leitura despretensiosa, que é mais gostosa.

Agência Brasil: Conceição diz que está sem tempo para ler e que tem escritos parados há mais de dez anos. Agora, ela prepara um livro com poesias eróticas. E fala do cuidado com esse texto.
Conceição Evaristo: É uma coletânea de poemas, que já deve nascer como uma tradução para o inglês. Devo fazer esse livro com muito cuidado, com muito cuidado. Por que? Porque eu gosto muito dessa linguagem que insinua, dessa linguagem que a pessoa que lê depois tem que ter um tempo de maturação: será que foi isso mesmo que eu li? Gosto muito disso. E também porque falar de sexo, falar de sexualidade, ou falar de amor, de gozo, nessa relação passional, é muito difícil. E também para as mulheres negras talvez seja mais difícil ainda, né? Por causa dessa objetificação do corpo negro. Tanto do corpo do homem, como do corpo da mulher. As pessoas negras são vistas como com potencial sexual. Eu não posso fazer um livro de poemas eróticos e trabalhar em cima dos mesmos estereótipos do corpo negro, né?

Agência Brasil: Conceição está lendo Carolina Maria de Jesus para além do Quarto de despejo, obra pela qual a autora é mais conhecida. E fala sobre os olhares para as mulheres negras.
Conceição Evaristo: Hoje mesmo eu tava pensando, né? O olhar sobre nós, mulheres negras, é um olhar muito, muito cruel. Carolina Maria de Jesus tinha um comportamento que era, muitas vezes, considerada como louca, sem educação, ainda mais que ela vinha de uma favela. Carolina é uma pessoa muito intensa. Tão intensa quanto Clarice Lispector. As pessoas se referem à intensidade de Clarice Lispector de uma outra forma, né? Tem uma tendência de compreensão com as atitudes de Clarice, com o modo de Clarice ser.

Eu nunca vi alguém falando que Clarice era sem educação, que era louca. Carolina era pessoa extremamente também angustiada. Ela enfrentava esse processo de solidão que o ser humano enfrenta, com mais ou menos intensidade. Carolina era assim. Aurora, a mulher que tomava banho no rio (personagem do livro Canção para ninar menino grande), simboliza um desejo e uma realização de liberdade que todos nós temos. Então, esse é o exercício, de agarrar a personagem naquilo que tem escondido na personagem e na gente e que as pessoas não veem nas pessoas negras. Todo mundo lê Carolina pensando que ela tá falando só da fome física. A angústia de Carolina ultrapassava o fato dela não ter dinheiro para comprar o pão pros filhos.

*A repórter viajou a convite da organização da Fliparacatu

Aneel muda bandeira tarifária para vermelha patamar 2 em setembro

A bandeira tarifária de energia elétrica em setembro será vermelha patamar 2. De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a previsão de escassez de chuvas e o clima seco com temperaturas altas motivaram o acionamento de usinas térmicas, aumentando os custos da operação do sistema elétrico.

Esta é a primeira vez em pouco mais de três anos que a bandeira vermelha patamar 2 é acionada, a última foi em agosto de 2021. Uma sequência de bandeiras verdes foi iniciada em abril de 2022 e interrompida apenas em julho de 2024 com bandeira amarela, seguida de bandeira verde em agosto.

O anúncio da Aneel, nessa sexta-feira (30), sinaliza maiores custos para a geração de energia elétrica, com um acréscimo de R$ 7,877 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.

Com a previsão de chuvas abaixo da média no próximo mês, o volume de água nos reservatórios das hidrelétricas do país também deve ficar cerca de 50% abaixo da média. “Esse cenário de escassez de chuvas, somado ao mês com temperaturas superiores à média histórica em todo o país, faz com que as termelétricas, com energia mais cara que hidrelétricas, passem a operar mais”, explicou a Aneel.

Criadas em 2015 pela Aneel, as bandeiras tarifárias refletem os custos variáveis da geração de energia elétrica. Divididas em níveis, as bandeiras indicam quanto está custando para o SIN gerar a energia usada nas casas, em estabelecimentos comerciais e nas indústrias, considerando fatores como a disponibilidade de recursos hídricos, o avanço das fontes renováveis, bem como o acionamento de fontes de geração mais caras como as termelétricas.

As cores verde, amarela ou vermelha (nos patamares 1 e 2) indicam se a energia custará mais ou menos em função das condições de geração, sendo a bandeira vermelha a que tem um custo maior, e a verde, sem custo extra.

Segundo a Aneel, as bandeiras permitem ao consumidor um papel mais ativo na definição de sua conta de energia. “Ao saber do valor adicional antes do início do mês, ele pode adaptar seu consumo para ajudar a reduzir o valor da conta”, avalia a agência.

“Com o acionamento da bandeira vermelha patamar 2, a vigilância quanto ao uso responsável da energia elétrica é fundamental. A orientação é para utilizar a energia de forma consciente e evitar desperdícios que prejudicam o meio ambiente e afetam a sustentabilidade do setor elétrico como um todo. A economia de energia é essencial para a preservação dos recursos naturais”, acrescentou.

Avião com governador do Pará faz pouso de emergência em Tucuruí

Um avião que transportava o governador do Pará, Helder Barbalho, precisou fazer um pouso de emergência em Tucuruí (PA) na manhã deste sábado (31). A aeronave decolou de Cametá (PA) e levava também um dos filhos do governador, Helder Filho. O destino do voo era a própria cidade de Tucuruí.

“Tivemos um incidente, um pouso forçado, mas, graças a Deus, ninguém se machucou. Nós estamos bem. Quero agradecer todas as orações, a todos aqueles que enviaram mensagens e agradecer, acima de tudo, a Deus, que pode preservar todos os passageiros e nos permitir poder estar aqui”, disse o governador, em vídeo postado nas redes sociais.

PF prende dois homens que entregariam seis fuzis ao tráfico na Maré

Agentes da Polícia Federal prenderam em flagrante dois homens responsáveis pela retirada ilegal de seis fuzis calibre 5.56 em uma transportadora, no bairro de Bonsucesso, zona norte do Rio de Janeiro.

A ação teve início na sexta-feira (30) após o trabalho de inteligência e troca de informações de policiais federais do Grupo de Investigações Sensíveis (Gise/RJ) e da Delegacia de Repressão a Drogas (DRE), da Polícia Civil do Rio. Os homens, de 26 e 41 anos de idade, foram presos logo após retirarem a encomenda, a qual continha os fuzis que seriam levados para o Complexo de Favelas da Maré, na zona norte do Rio.

Os presos responderão pelo crime de comércio ilegal de armas de fogo, cuja pena pode chegar a oito anos de prisão, além de multa. Eles foram conduzidos à Superintendência Regional da PF no Rio de Janeiro e, após a formalização das prisões, foram encaminhados ao sistema prisional do estado, onde permanecerão à disposição da Justiça.

Rede Global de Acadêmicos da Liberdade é lançada em São Paulo

“A maioria das vezes quem escrevia as cartas era eu.” Da comunidade de Realengo, no Rio de Janeiro, Cristiano Silva de Oliveira trabalhava em uma empresa pública e foi acusado de cometer um crime de ordem econômica e sentenciado a 14 anos e 8 meses. Entrou no sistema prisional com 33 anos e ensino médio e hoje, já fora dele, tem o ensino superior completo e mantém o EuSouEu, que tem duas frentes: uma de facilitação da comunicação entre presos e familiares e outra de educação.

 Casa de prisão Provisória em Aparecida de Goiânia. Foto: Luiz Silveira/Agência CNJ

Sua evolução, contudo, não tem o dedo de agentes de segurança nem resulta da chamada ressocialização ou da indulgência de outra figura semelhante. Pelo contrário, Oliveira terminou a graduação porque contestou contra o sistema, e fez isso coletivamente. É essa a meta, de reduzir a distância entre os presos e o canudo de diploma universitário, que a Rede Global de Acadêmicos da Liberdade será lançada neste sábado (31), na capital paulista.

A iniciativa é da organização Incarceration Nations Network, que conta com o apoio do projeto Nova Rota, criado em 2019 por ex-alunos da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Pioneira no Brasil, a iniciativa oferece bolsas de estudo, mentoria e apoio multidisciplinar a pessoas egressas do sistema prisional. Atualmente, 22 alunos estão matriculados em cursos de graduação de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Com a prisão, Oliveira começou a refletir mais criticamente sobre as condições do sistema carcerário do país, o terceiro maior do mundo, com mais de 642 mil pessoas no segundo semestre de 2023, das quais 615 mil eram do gênero masculino.

Ainda de acordo com os dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública, no período, apenas 8.381 detentos tinham ensino superior incompleto e 4.851 ensino superior completo. Uma parcela pequena, de 434 presos, tinha ido além da graduação.

Na época em que Oliveira ficou detido, seu encarceramento se dividiu em dois momentos: primeiro, em uma cela da Polícia Civil. Segundo, quando foi transferido para uma unidade prisional que ficava a cargo da Secretaria de Administração Penitenciária. Na carceragem da Polícia Civil, havia uma superlotação que chegava a ser de três vezes a capacidade de detentos. “Era algo bárbaro, traumático, que chega a dar arrepio quando essa imagem vem à minha mente. Uma situação muito caótica”, conta o líder comunitário.

“Ainda não existia audiência de custódia quando eu fui preso. Então, fiquei aguardando uma sentença por oito meses, em uma carceragem. E as audiências eram super demoradas, não saía nenhum veredito ali e aí ficava nesse ir e voltar. Quando saiu a sentença, saiu de 14 anos e 8 meses para um crime de baixa potencialidade [baixo potencial ofensivo]. Mas, já que se tratava de um crime de patrimônio, em que você fere as instituições financeiras, a pena foi elevada ao máximo”, acrescenta, observando que é equiparável à pena imposta a alguém que comete homicídio, questão discutida entre especialistas do abolicionismo penal.

Conforme ressalta Oliveira, “o direito está diretamente ligado à proteção do patrimônio”. “Não sou pesquisador da cadeia, mas sou essa pessoa que vivenciou a cadeia e conseguiu observar as diferenças, as discrepâncias de artigos [do Código Penal]”, pontua.

Oliveira acabou cumprindo 5 anos e 8 meses e recebeu a extinção de punibilidade no final de 2021. Assim, experimentou o que é o regime fechado e o semiaberto e a condicional. Durante um ano, teve o benefício extramuro, em que ia trabalhar de dia e voltava à noite para dormir na unidade.

O líder do EuSouEu lembra que viu uma bandeira quando foi transferido de unidade, que dizia “Ressocializar para o futuro conquistar”. “Aquela frase foi um divisor de águas para mim, para eu querer entender como essas engrenagens do aprisionamento funcionam. Por que ‘ressocializar’, se nem a socialização foi disponibilizada a uma população vulnerabilizada, que tem histórico de escravidão? Como é que é isso?”, indaga.

Ainda aprisionado, obtinha livros com a ajuda de familiares que levavam para que ele lesse, sendo que não necessariamente chegavam até o destino, já que dependia da boa vontade dos agentes que estivessem no plantão. “É muito subjetivo. Tem as resoluções do sistema, mas quem define o que vai entrar ou não é o plantão do dia”, explica.

Oliveira define sua trajetória na crítica ao sistema como uma observação de “todo esse método de reprimir, de fazer esses corpos permanecerem nesse sistema, em um ciclo viciante”. “Antes eu via o sistema como algo extremamente necessário, algo que tinha que ser brutal mesmo, punitivo mesmo, dentro dessa perspectiva da ordem, da classe social, ser severo mesmo, para que houvesse uma recuperação”, reconhece, destacando que também repensou sobre o que fazem os programas de TV sensacionalistas.

Nova Rota

A advogada Katherine Martins, que coordena o Nova Rota há quatro anos, também assume que mudou de opinião, deixando para trás a visão punitivista que tinha ao pisar em uma prisão pela primeira vez. De classe média alta, compreendeu que se trata de um espaço que perpetua desigualdades que prejudicam, sobretudo, os jovens, negros e pobres.

“Educação não é para remissão, para conseguir emprego. Educação é para si mesmo, se formar, se potencializar e modificar a si e o que está ao redor”, afirma a coordenadora.

A cada semestre, há cerca de 200 inscritos disputando duas ou três vagas que o Nota Rota disponibiliza para ajudar com os planos de cursar graduação, o que prova que há grande interesse dos egressos em construir uma nova vida. “São muitas iniciativas voltadas à empregabilidade, mas poucos para a educação”, pondera, adicionando que o modelo foi sendo alterado para atender melhor às demandas, como oferecer alimento aos participantes, internet, acompanhamento psicológico, mentoria, vale-transporte, vale-alimentação, bolsas para a alfabetização, cursos técnicos, supletivo.

“Quando você sai, estudar não é o mais importante? Não, comer é o mais importante”, justifica.

A egressa Patrícia Rodrigues do Nascimento desempenhou uma função essencial na hora de identificar e conseguir atender as necessidades dos participantes do projeto, quebrando vergonha e outros sentimentos que impediam a coordenação de chegar. Ela se tornou a pessoa que nota quem está constrangido e não quer dizer que está passando fome em casa ou que tem dificuldade de mexer no computador.

“Patrícia é bolsista. Fez toda a diferença no acompanhamento do projeto ela ter ingressado”, afirma Katherine.

Katherine ainda menciona o rumo de outro bolsista, Eder Henrique Dourado, outra “Fernanda Montenegro da prisão” (referência ao filme Central do Brasil, em que a atriz interpreta a personagem de uma ex-professora, Dora, que escrevia cartas para pessoas analfabetas na Estação Central do Brasil, no Rio), porque, como Oliveira, escrevia as cartas de colegas de cela que não sabiam ler e escrever. Ele entrou no projeto durante a pandemia e conseguiu fazer supletivo e, em seguida, engenharia da computação. “Ele fala: ‘Meus filhos vão ser a primeira geração que não passou por cárcere.”

Kaio Nunes, analista de projetos da ONG Ação pela Paz, parceira do Nova Rota, ressalta que a maioria dos detentos não reincide na criminalidade, algo comprovado estatisticamente e que se deve abandonar o discurso que enfatiza a minoria que retorna a esse contexto. Ele cita, ainda, outras histórias parecidas com a de Cristiano da Silva Oliveira, como a de um egresso que permaneceu quase oito anos em regime fechado e, quando saiu, começou a fomentar e organizar uma organização social, com o apoio da família.

“A gente sabe que o mundo de fora não está preparado, pensando em família, amigos, o meio social onde vai ela vai estar inserida, e isso se reflete também nas empresas, que acabam replicando esse olhar que toda a sociedade tem. A pessoa tem, infelizmente, um carimbo nas costas de que egressa”, diz ele, que atua na área de pessoas egressas do sistema prisional. 

Segundo Nunes, é importante também que as pessoas tenham em mente que têm simetrias com os egressos. “Eles também são pais de família, responsáveis pelos seus e que trabalham dentro da unidade para pagar algo para sua família.”