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Fábrica de fantasia que pegou fogo não tinha autorização dos bombeiros

A Maximus Confecções, fábrica de fantasias que pegou fogo na manhã desta quarta-feira (12), no Rio de Janeiro, não tinha autorização do Corpo de Bombeiros para funcionar. A informação é do coronel Luciano Sarmento, subcomandante-geral da corporação.

Vinte e uma pessoas foram socorridas pelos bombeiros. Ao menos 12 estão em um quadro grave de saúde. Não há mortos, nem desaparecidos.

“A edificação não possuía aprovação do Corpo de Bombeiros, não tinha a condição de segurança necessária para estar funcionando”, afirmou Sarmento.    

 “Era uma edificação que possuía muitos materiais de alta combustão, como plásticos e papéis. A edificação não possui certificado de aprovação do Corpo de Bombeiros e, por consequência, não tinha as condições de segurança para o funcionamento”, completou em entrevista a jornalistas no local do incêndio.

Segundo o coronel, o Corpo de Bombeiros despachou viaturas às 7h39 e chegou ao local em menos de cinco minutos. A área atingida pelo fogo é de cerca de 500 metros quadrados. Algumas áreas foram bastante destruídas. Os bombeiros precisaram de duas horas para controlar as chamas e iniciar o trabalho de rescaldo.

 Segundo Sarmento, 70 bombeiros de 13 quartéis e 20 viaturas atuaram no combate ao fogo e socorro das vítimas.

 A Maximus Confecções fica na rua Roberto Silva, em Ramos, bairro da zona norte carioca, e fabricava fantasias para diversas escolas de samba.

Hospitais 

De acordo com a direção do Hospital Estadual Getúlio Vargas, no bairro vizinho da Penha, dez pessoas foram levadas para a unidade, sendo nove em estado grave: três homens e seis mulheres. A décima vítima passava por avaliação ainda na manhã desta quarta-feira.

“Todos os pacientes deram entrada com queimaduras em via aérea após inalação de fumaça tóxica”, esclareceu a unidade em nota.

 A Secretaria Municipal de Saúde informou que nove vítimas foram encaminhadas para unidades da rede municipal – quatro estão no Hospital Municipal Souza Aguiar, duas no Centro de Emergência Regional da Ilha do Governador, duas no Hospital Municipal Salgado Filho e uma no Hospital do Andaraí. Três estão em estado grave (duas no Souza Aguiar e uma no Andaraí).

Relatos de vítimas

Os relatos de pessoas que estavam na fábrica de fantasias dão conta de que o fogo começou bem cedo e se alastrou rapidamente, por causa da presença de materiais infláveis como espumas e tecidos.

Por causa da proximidade do carnaval, a fábrica funcionava com turno estendido e alguns funcionários dormiam no local. Há casos de pessoas que foram acordadas com a gritaria e pedidos de socorro.

O funcionário Ricardo Santos contou que tinha acabado de chegar e estava se preparando para começar a trabalhar, quando presenciou o desespero de colegas.

 “Veio a gritaria, todo mundo gritando. Eu estava me arrumando. Não sei como começou. Só pensei em ajudar”, disse ele, que usou uma escada para ajudar a socorrer outros trabalhadores. “Coloquei a escada no pé da janela para todo mundo descer”, observou.

Marilúcia Blackman, moradora de um prédio vizinho à fábrica, disse que percebeu o incêndio ao olhar pela janela de casa e ver muita fumaça preta. “Eu tirei as pessoas dos fundos, fui chamando e ligando para o bombeiro”, relatou. “A gente não sabe o que vai acontecer, eu não sei se eu vou poder voltar para a minha casa”, lamentou.

O coronel Luciano Sarmento, do Corpo de Bombeiros, informou que imóveis vizinhos estão passando por uma avaliação de comprometimento estrutural por parte da Defesa Civil.

Além de fantasias, a Maximus também fabrica roupas para alas, diretorias das escolas, torcidas de futebol e fardas militares. A Agência Brasil busca contato com a Maximus Confecções.

A Polícia Militar mantém a área isolada, enquanto a Polícia Civil realiza a perícia e investiga as causas do incêndio. A ocorrência foi registrada na 21ª Delegacia de Polícia.

Desfiles

A fábrica produzia fantasias e vestimentas para diversas escolas de samba. A Império Serrano e Unidos da Ponte informaram que toda a produção do desfile deste ano estava na confecção. As duas agremiações são da Série Ouro, o grupo de acesso do carnaval carioca.

A Liga RJ, que representa as escolas do grupo de acesso, lamentou o incêndio, prestou solidariedade às escolas e convocou uma reunião para tratar da situação das agremiações.

*Sob supervisão

Combate a incêndios no Brasil não será afetado por decisão dos EUA

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) afirmou nesta terça-feira (11), por meio de nota, que a suspensão da ajuda financeira dos Estados Unidos (EUA) não gera impacto direto no combate aos incêndios florestais no Brasil. A manifestação ocorre após decisão do presidente, Donald Trump, que suspendeu por 90 dias, por decreto, qualquer assistência internacional, “para avaliação da eficiência programática e da coerência com a política externa dos Estados Unidos”.

Entre as ações financiadas pelo governo norte-americano no Brasil, está o Programa de Manejo Florestal e Prevenção de Incêndios, executado pelo Serviço Florestal dos Estados Unidos com o Ibama e outros órgãos brasileiros como a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Os recursos são provenientes de uma parceria entre a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).

De acordo com o Ibama, a decisão gera prejuízos técnicos “em virtude da interrupção de algumas ações que poderiam contribuir para a reestruturação das instituições brasileiras, particularmente em termos de capacitação de profissionais”, destaca a nota.

De acordo com o órgão brasileiro, as atividades e reuniões já programadas ainda estão sendo avaliadas pelas instituições envolvidas no Programa e estão sendo mantidas ou remarcadas a critério de cada órgão, sem a participação do Serviço Florestal dos Estados Unidos.

O Ibama ressalta que as ações de prevenção e de combate aos incêndios florestais no país “são executadas com recursos provenientes do orçamento da União e não dependem de recursos externos”.

Não se faz Riviera em cima de cadáveres, diz Lula sobre fala de Trump

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a ideia manifestada por Donald Trump, de retirar os palestinos da Faixa de Gaza para transformá-la em uma Riviera turística de gente rica. “Ninguém vai fazer um lugar bonito em cima de milhares de cadáveres de mulheres e de crianças”, disse Lula, ao comentar a fala do presidente norte-americano.

A afirmação foi feita nesta quinta-feira (6) durante entrevista às rádios Metrópole e Sociedade, da Bahia. Lula reiterou críticas à forma como Trump iniciou seu governo, fazendo ameaças de anexações e ocupações de outros países e territórios – entre os quais, a Faixa de Gaza.

“Ele [Trump] disse que vai tratar o povo palestino, como se o povo palestino não fosse ninguém, quando, na verdade, o que precisa fazer na Palestina é criar o Estado Palestino e dar decência àquele povo, que não pode ser tratado como se fosse lixo”, afirmou Lula, ao defender atitudes mais humanistas, fraternas, solidárias e compreensivas, para que o mundo tenha paz e as pessoas vivam com tranquilidade.

Segundo o presidente brasileiro, o que se deve fazer é “cuidar daquele povo, que merece ser cuidado como qualquer outro povo do mundo”, em vez de ocupar seus territórios e “jogá-los para qualquer lugar para fazer, de lá, uma Riviera”.

ADPF das Favelas: Barroso diz que STF não pretende criminalizar a PM

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, destacou nesta terça-feira (5) que a Corte não pretende criminalizar a Polícia Militar do Rio de Janeiro ao determinar medidas para redução da letalidade durante operações em comunidades da capital fluminense.

O STF começou a julgar definitivamente a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 635, conhecida como ADPF das Favelas. Na ação, que foi protocolada em 2019 pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), a Corte já determinou medidas para reduzir a letalidade durante operações realizadas pela Polícia Militar do Rio contra o crime organizado.

Após a suspensão do julgamento, que será retomado no próximo mês, Barroso ressaltou que a atividade policial é imprescindível.

“Nós, em nenhuma hipótese, queremos criminalizar a polícia, cuja atividade é imprescindível, inclusive para a proteção dos direitos humanos. A segurança pública é um dos componentes importantes da Constituição. Embora a criminalidade tenha causas sociais, causas na pobreza e na desigualdade, é preciso não esquecer que pobre também precisa de segurança pública. Nós temos muitas preocupações de não tornar a polícia inoperante”, afirmou.

O ministro Edson Fachin, único a votar na sessão de hoje, também reiterou que o objetivo das medidas é reduzir a letalidade policial e também proteger os policiais.

“Em uma camada mais profunda, na qual só resta o que chamamos esperança, almeja-se que conduzam à consolidação, ainda que gradualmente, de uma nova cultura organizacional com mais transparência, mais eficiência e que reverterá, ao final e ao cabo, em mais segurança pública para todos, incluindo os policiais que arriscam suas vidas todos os dias e os milhões de trabalhadores e trabalhadoras que residem nas comunidades”, completou.

Críticas

Mais cedo, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, criticou a ADPF ao dizer que houve aumento da ocupação territorial pelo crime organizado.

“Essa APDF tem um problema grave. A impressão que se tem é que, de um lado, ela serviu de desculpa para aqueles que não querem trabalhar ou não têm competência para fazer valer a autoridade e o monopólio da força do Estado em determinadas áreas do território da cidade. De outro lado, também cria uma sensação de que o Rio de Janeiro virou, sei lá, um resort para delinquentes”, disse o prefeito, em vídeo divulgado hoje em suas redes sociais.

O governador do Rio, Cláudio Castro, disse que a ADPF retira o direito da população à segurança pública.

“Ninguém aqui foge à crítica ou de um processo de melhoria e evolução. Acho positivas as situações em que a ADPF venha melhorar a atividade policial e o reforço na transparência.  Os casos complexos são esse critério de extraordinariedade, que vem de encontro à ostensividade, que é o trabalho da polícia. Quando você cria uma ideia de extraordinariedade, tiramos do povo, da comunidade, o direito de ter uma polícia ostensiva”, afirmou o governador, segundo nota divulgada pela assessoria de imprensa.

Barroso diz que não é justo criticar STF por cumprir Constituição

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, disse nesta quarta-feira (5) que considera injustas as críticas de que a Corte atua com ativismo judicial.

No início da sessão desta tarde, Barroso comentou recentes matérias jornalísticas e editoriais que acusaram os ministros do Supremo de invadir a competência de outros poderes ao decidir sobre a colocação de câmeras nas fardas de policiais, a despenalização do porte de drogas e a inconstitucionalidade do marco temporal para demarcação de terras indígenas.

Segundo Barroso, a Constituição brasileira trata de uma multiplicidade de temas e cabe aos ministros interpretá-la. “É possível não gostar da Constituição e do papel que ela reservou para o Supremo Tribunal Federal. Mas criticar o Supremo por aplicar a Constituição simplesmente não é justo”, afirmou.

Barroso também aproveitou para rebater matérias jornalísticas que contestaram os gastos do Poder Judiciário em 2024. De acordo com o presidente, o Judiciário federal está com o mesmo orçamento de 2017 e cumpre o teto de gastos.

O ministro afirmou ainda que “nada que esteja fora da legalidade tem amparo no tribunal”.

“Com algum grau de incompreensão acerca do sistema de justiça, matéria recentemente publicada contesta esses números, sem ser capaz de distinguir o Judiciário federal do Judiciário dos estados. Estes não estão sujeitos ao teto e ao arcabouço fiscal, que só vale no plano da União. No Brasil, estados têm autonomia”, completou.

Empresas não estão preparadas para receber pessoas com deficiência

Oito em cada dez trabalhadores e trabalhadoras com deficiência ou neurodivergência que estão empregados avaliam que a maioria das empresas está despreparada para recebê-los em seu quadro funcional. O dado foi obtido para constar na pesquisa “Radar da Inclusão: mapeando a empregabilidade de Pessoas com Deficiência”, do Pacto Global, iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU), da empresa Talento Incluir, do Instituto Locomotiva e da iO Diversidade.

No total 1.230 pessoas com 18 anos ou mais e que se declaram neurodivergentes ou têm alguma deficiência participaram do levantamento, feito entre 20 de outubro e 3 de novembro de 2024. Outra proporção significativa, também apurada no âmbito da pesquisa, foi a de pessoas que preferem trabalhar em modelo remoto ou híbrido, ou seja, que mescla expedientes presenciais e remotos. A parcela é de 71% nesse caso, superior à dos que já têm essa rotina atualmente, de 58%.

Ter autorização da chefia para poder trabalhar de casa pode ser fundamental para alguns trabalhadores e trabalhadoras que já disponham de mesas, cadeiras, softwares ou outros itens que auxiliem no cumprimento de suas tarefas. Isso porque muitas vezes não têm o básico no local de trabalho.

Na rede social X, um usuário cadeirante e que busca descomplicar as discussões sobre deficiência relata que já foi selecionado para uma vaga de emprego e logo depois dispensado pelo potencial empregador. A razão foi que, embora seu currículo de advogado fosse ideal para o escritório ao qual se candidatou, sua cadeira de rodas não passava entre os batentes da porta do banheiro.

A pesquisa divulgada mostra que um terço dos respondentes (33%) afirma que seu ambiente de trabalho não é devidamente adaptado a eles. Além disso, praticamente todos os participantes disseram que se apresentam, durante um processo seletivo, como pessoas com deficiência ou neurodivergência, o que pode deixar implícitas duas coisas: que uma parcela ainda não se sente confortável para se declarar como tal, talvez por medo de perder a vaga, ou não se descobriu assim, por minimizar deficiências, considerando que não precisariam ser mencionadas, ou por não ter confirmado um diagnóstico ou desconhecer condições de saúde que se encaixam nessa classificação.

Entre os diagnósticos que estão no grupo das neurodivergências estão o transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), transtorno do espectro autista (TEA), transtorno afetivo bipolar, altas habilidades, entre outros. É comum que quem tem TDAH, por exemplo, seja erroneamente tachada de pessoa sem interesse pelos estudos ou pelo trabalho, quando, na realidade, tem um modo singular de se concentrar em suas tarefas, que deve ser observado e respeitado.

O levantamento ainda destaca que, para um quarto dos respondentes, a existência de programas de inclusão e acessibilidade nas empresas é um fator determinante na tomada de decisões profissionais. Ao buscar emprego, quase metade deles (47%) escolheria ou iria preferir vagas exclusivas para pessoas com deficiência ou neurodivergência, enquanto a maioria (49%) se candidataria para qualquer vaga.

A diretora Lia Calder, da companhia 4CO, que presta serviços de consolidação de ações de diversidade e inclusão e elabora publicações sobre o assunto, diz que, apesar de o Brasil contar com uma política, desde 1991, que visa implementar medidas nas empresas com mais de 100 funcionários, não houve tantos avanços. Na prática, o que se observa é um cenário ainda distante do ideal, que não tem sido transformado nem mesmo pelas leis vigentes no país.

Segundo a especialista, algo revelador sobre a mentalidade do empresariado brasileiro em geral é o fato de que prefere ficar suscetível a denúncias do Ministério Público do Trabalho (MPT), que podem se desdobrar em processos judiciais que impõem penalidades, a fazer o que é preciso, já que é ele quem deve se adaptar aos funcionários com deficiência ou neurodivergência e não o contrário. “E onde estão as pessoas com deficiência dentro das organizações? Em geral, nos cargos de base. São pessoas que entram pela base da pirâmide hierárquica e ali se mantêm fazendo as mesmas funções por 10, 15, 20 anos. Isso mostra que não existe um comprometimento por parte das organizações em relação ao desenvolvimento profissional dessas pessoas”, comenta Lia, que também é professora na área de diversidade e inclusão.

A diretora lembra que tudo isso são barreiras e comprovações de que o Brasil não está cumprindo o que foi acordado em 2008. Naquele ano, Convenção sobre as Pessoas com Deficiência, da ONU, foi aprovada pelo Congresso Nacional e passou, em agosto de 2009, a fazer parte da Constituição Federal. Com o dispositivo, explica Lia, o que se sinalizou foi que derrubar tais obstáculos é responsabilidade compartilhada entre sociedade e organizações. 

“E elas são, muitas vezes, o que acho mais problemático, naturalizadas. Quando a gente vai a um ambiente, tem por natural que ele não seja acessível. Quando a gente está lidando com o ambiente de trabalho e não consegue se comunicar com um colega, é natural que não consiga”, diz.

“A gente tem por natural que não consiga conviver, se comunicar ou desenvolver essas pessoas com deficiência e neurodivergentes. E é essa naturalização que continua replicando e propagando essa exclusão muito triste e aterrorizante dentro do ambiente organizacional”, critica.

Dados do IBGE

Apenas muito recentemente, em 2023, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) reuniu e divulgou dados específicos sobre pessoas com deficiência. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) evidencia a discrepância entre a porcentagem de pessoas com deficiência que estão empregadas e as que não têm deficiência e também trabalham. É 26,6% contra 60,7%.

O IBGE aponta, ainda, que cerca de 55% das pessoas com deficiência que trabalham estão em situação de informalidade, ou seja, não têm carteira assinada. Seu rendimento médio é R$ 1.860, enquanto o de pessoas sem deficiência é R$ 2.690, uma diferença de 30%.

“O povo brasileiro não quer discórdia, quer emprego”, diz Hugo Motta

Em seu primeiro discurso como presidente da Câmara empossado, para um plenário lotado, o deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB) agradeceu a ampla votação, que chamou de um “consenso histórico” e pediu união nacional. “Podemos pensar diferente, mas somos todos iguais. Seja qual for a visão de mundo, o Brasil nos une e nunca pode nos separar. Somos o povo brasileiro e o Brasil é nosso único país”, disse. 

O novo presidente disse que seu compromisso será servir ao Brasil. “O povo brasileiro não quer discórdia, quer emprego. O povo brasileiro não quer luta pelo poder, quer que os poderes lutem por ele. O povo brasileiro não quer a divisão da ideologia, mas a multiplicação no seu dia a dia. Não temos tempo para errar, chega de zero a zero. O povo brasileiro quer resultado, quer emprego, quer melhora de vida, educação melhor para os seus filhos, quer segurança, um futuro melhor, um Brasil melhor”, acrescentou.

Em um aceno a setores financeiros e empresariais, Hugo Motta defendeu medidas de responsabilidade fiscal e enfatizou que “nada é pior para os mais pobres do que a inflação, a falta de estabilidade na economia”. “Não há democracia com caos social, não há estabilidade social com caos econômico”, observou.

Sobre a cobrança por transparência nas emendas parlamentares, embora não tenha citado o tema diretamente, Hugo Motta defendeu uma “radicalização da transparência nas contas que são, por definição, públicas” e falou na criação de uma plataforma integrada de todos os Poderes da República com os dados sobre recursos do orçamento.

Motta afirmou que parlamento forte é uma barreira de proteção da democracia e pediu harmonia entre os Três Poderes. “Ninguém é dono da Constituição”, pregou.

Em diferentes momentos de sua fala, citou Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Constituinte, para defender um parlamento forte. “Nenhum poder pode tudo e que todos, somente todos, podem representar, na totalidade, a democracia. Sem harmonia, a democracia pode ser irremediavelmente fraturada. Serei um guardião da independência e uma sentinela permanente da harmonia”, insistiu.

Por fim, em mais uma menção à defesa da democracia, Hugo Motta fez uma referência ao filme brasileiro Ainda estou aqui, dirigido por Walter Salles e estrelado pela Fernanda Torres, que narra a trajetória de Eunice Paiva na luta contra a ditadura, após o seu marido, Rubens Paiva, ter sido preso, torturado e executado por agentes da ditadura militar que governou o Brasil de forma autoritária entre as décadas de 1960 e 1980, perseguindo e matando opositores. “Deixo uma mensagem de otimismo: ainda estamos aqui”, encerrou Motta, arrancando aplausos do plenário.

O filme Ainda estou aqui e Fernanda Torres disputam três categorias do prêmio Oscar este ano.

Mesa diretora

O comando da Câmara dos Deputados para os próximos dois anos foi definido, em votação no plenário da Casa, realizada na tarde deste sábado. A presidência da Câmara será do deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB), o mais jovem a ocupar o cargo no período democrático.

Ele obteve o apoio de 444 dos 513 deputados federais, derrotando os concorrentes Marcel van Hattem (Novo-RS) e Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), que obtiveram 31 e 22 votos, respectivamente. Houve o registro de dois votos em branco.  

Na sequência de sua eleição, Hugo Motta, já empossado no cargo, apurou a votação para os outros seis cargos que compõem a mesa diretora da Câmara: 1º vice-presidente, 2º vice-presidente, 1º secretário, 2º secretário, 3º secretário e 4º secretário, bem como quatro suplentes.

Foi eleita a chapa única inscrita pelo bloco parlamentar de apoio ao agora novo presidente da Câmara dos Deputados, composto por 17 dos 20 partidos com assento na casa. Não houve candidaturas avulsas para nenhum desses cargos.  

Assim ficou a nova gestão da Câmara dos Deputados para o próximo biênio:

– Presidência: Hugo Motta (Republicanos-PB) – 444 votos
– 1ª vice-presidência: Altineu Côrtes (PL-RJ) – 440 votos
– 2ª vice-presidência: Elmar Nascimento (União-BA) – 427 votos
– 1ª secretaria: Carlos Veras (PT-PE) – 427 votos
– 2ª secretaria: Lula da Fonte (PP-PE) – 437 votos
– 3ª secretaria: Delegada Katarina (PSD-SE) – 445 votos
– 4ª secretaria: Sergio Souza (MDB-PR) – 432 votos

Os deputados Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP), Paulo Foletto (PSB-ES), Dr. Victor Linhalis (Podemos-ES) e Paulo Alexandre Barbosa (PSDB-SP) foram eleitores para a suplência de secretarias.

“Não estou em busca de protagonismo”, diz Alcolumbre após ser eleito

Eleito neste sábado (1º) para presidir o Senado Federal no biênio 2025-2026, o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), em seu primeiro discurso no plenário da Casa, disse não estar em busca de protagonismo. “Não é isso que me move aqui. Quero ser um catalisador desse Senado. E ajudar a construir os consensos que forem necessários para melhorar a vida da população brasileira”.

“Tenham certeza de que continuo igual. Volto a presidir o Senado Federal, mas continuo sendo um senador, como cada um dos senhores e das senhoras. Nem maior, nem melhor do que ninguém”, destacou. Alcolumbre lembrou que, há exatos seis anos, foi eleito, pela primeira vez, para presidir o Senado – à época, com 42 votos.

“Seis anos depois, com a unidade política de partidos que pensam diferente, o painel marca 73 votos à nossa candidatura. Isso representa claramente o amplo respaldo político que esse plenário está conferindo ao projeto coletivo que nós construímos juntos. Esse amplo apoio, mesmo em um contexto com várias candidaturas, demonstra que o Senado Federal está unido e sabe a direção na qual pretende caminhar”, disse.

“Essa presidência, que não é apenas do Senado, mas também do Congresso Nacional inicia, portanto, com a força somada das senadoras e dos senadores que apoiaram esse projeto e que serão parte dessa construção política e institucional, fundamental para o Estado brasileiro”.

Alcolumbre reafirmou que, durante a sua presidência, o Senado será “uma Casa de iguais, onde cada senadora e cada senador terá voz e espaço, independentemente de sua ideologia ou orientação política”. “A força da presidência do Senado vem da grandeza dessa instituição bicentenária que é o Senado Federal. E ele só se mantém grande, todos sabemos, pela soma das forças”.

“Vamos trabalhar pelo Brasil, promover a geração de emprego, o crescimento econômico, o desenvolvimento social, proteger a saúde pública, dar uma educação de qualidade aos brasileiros e também, muito importante, estarmos atentos todos os dias à questão da segurança dos brasileiros.”

“Todos aqui estamos genuinamente imbuídos da missão de contribuir para a solução dos problemas do presente e para a construção de um futuro mais próspero e mais justo para o Brasil, mas especialmente para milhões de brasileiros que esperam isso dessa Casa. Não do Senado, não da Câmara. Mas do Poder legislativo do Brasil”, concluiu.

Dengue em SP: total de casos não surpreende, mas óbitos sim, diz Saúde

O secretário-adjunto de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Rivaldo Venâncio, disse nesta sexta-feira (31) que a pasta não foi pega de surpresa com os quase 100 mil casos prováveis de dengue registrados em São Paulo nas primeiras semanas deste ano, mas sim pelo total de mortes associadas à doença no estado – 29 já confirmadas e 138 em investigação.

“É muito para 100 mil casos prováveis”, disse Rivaldo, em conversa com jornalistas. “O aumento no número de casos prováveis de dengue não surpreende tanto porque já sabíamos da circulação, desde o final do ano passado, do sorotipo 3. O que surpreende é o elevado número de óbitos suspeitos por dengue”, completou.

O secretário destacou que mortes por dengue estão “essencialmente” associadas ao que ele chamou de organização precoce da rede assistencial de saúde. “Esse é o determinante. Claro que determinados organismos, determinadas pessoas, por terem algumas condições clínicas anteriores à dengue, quando contraem a dengue, podem apresentar quadros clínicos mais graves, seja pelo dengue 3, 2 ou 1”.

“Mas é importante que tenhamos em mente, sobretudo, que, até que se prove o contrário, uma morte por dengue é uma morte evitável. Fica aqui o nosso apelo para que toda pessoa com suspeita clínica de dengue procure imediatamente uma unidade de saúde para ser submetida a uma avaliação clínica”, ressaltou Rivaldo.

O secretário diz que tem observado, em algumas localidades do Brasil, que as pessoas subestimam a gravidade da dengue. ‘Ah, isso é dengue, não é nada, é simplesmente dengue’. Quando essa pessoa fica muito grave, ela procura a unidade de saúde e, por vezes, o quadro clínico já é irreversível. Por isso o apelo para procurar rapidamente a unidade.”

Festa popular preferida do brasileiro é a junina, e não o carnaval

A festa junina é o evento mais citado entre os moradores das capitais brasileiras que disseram ter frequentado uma festa popular no período de um ano, revela o levantamento Cultura nas Capitais. A pesquisa foi feita pela JLeiva Cultura & Esporte, com patrocínio do Itaú e do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Rouanet.

O estudo sobre hábitos culturais dos brasileiros constatou que 78% dos frequentadores de eventos populares nas capitais participaram de festas juninas nos últimos 12 meses anteriores à pesquisa e que 48% foram a desfiles ou participaram de blocos de carnaval. “Em nenhuma capital, o carnaval apareceu à frente da festa junina para essa pergunta. No Recife, a diferença estava na  margem de erro – festa junina com 74% e carnaval com 71%. Nas demais capitais, a diferença superou os 10 pontos percentuais”, disse João Leiva, diretor da JLeiva Cultura & Esporte.

Em entrevista à Agência Brasil, Leiva afirmou que isso pode ser explicado pelo fato de as festas juninas serem mais descentralizadas que o carnaval, sendo realizadas inclusive em escolas e igrejas católicas e reunirem também um público mais amplo e diverso. Além disso, as festas juninas acabam se estendendo por um período maior do ano, destacou.

“Essa característica – incontáveis eventos distribuídos por quase todas as regiões – ajuda a aumentar o acesso. Por outro lado, mesmo as festas juninas de grande porte, em grandes espaços, não chegam a ter tanto alcance midiático quanto os grandes blocos e desfiles de carnaval. Ou seja: as festas juninas, somadas, têm mais gente, mas menos fama”, disse o pesquisador.

Sertanejo é o gênero favorito

Música sertaneja é a preferida em 15 das 27 capitais – Foto: reprodução

 

A mesma pesquisa apontou o sertanejo como o gênero musical favorito em 15 das 27 capitais brasileiras, tendo sido citado por mais de um terço dos entrevistados (34% do total) entre seus três ritmos prediletos, superando até mesmo a soma entre o samba (11%) e o pagode (18%). O pagode aparece na quinta posição entre os ritmos mais citados, abaixo da MPB (27%), do gospel (24%) e do rock (21%) e acima do pop (17%), do forró (16%) e do funk (11%). Já o samba é o oitavo, à frente do rap (9%).

“O gosto musical varia muito com a idade, mas o sertanejo tem uma característica interessante: em todas as faixas etárias, ele é relevante. É o mais ouvido em todos os grupos, com uma exceção. Lidera de 25 a 34 anos (35%), de 35 a 44 anos (35%), de 45 a 59 anos (36%) e de mais de 60 anos (33%). O sertanejo só não é o primeiro entre os jovens de 16 a 24 anos, faixa em que aparece em quarto lugar na preferência – atrás de funk, pop e rap”, ressaltou Leiva.

Realizada entre os dias 19 de fevereiro e 22 de maio de 2024, a pesquisa ouviu 19,5 mil pessoas com idade acima de 16 anos nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal.

Diversão fora de casa

De acordo com a pesquisa, embora os cinemas sejam a principal atividade cultural fora de casa, menos da metade dos entrevistados (48% do total) esteve em uma sala de cinema nos 12 meses anteriores à pesquisa. Outra curiosidade apontada pelo estudo é que um terço das pessoas consultadas (36%) nunca visitou um museu e dois em cada cinco (38%) jamais assistiram a uma peça teatral.

“É comum que as atividades culturais que podem ser feitas em casa, ou em quase todos os lugares, sejam as mais citadas. Afinal, um dos fatores que influenciam o acesso é a distribuição dos espaços culturais. Não por acaso, na pesquisa Cultura nas Capitais o maior acesso é a livros (62%) e jogos eletrônicos (51%), que não dependem de deslocamento”, disse Leiva.

Segundo Leiva, o consumo de atividades culturais recuou entre os anos de 2017 e 2024, com exceção dos jogos eletrônicos. A queda ocorreu na grande maioria dos grupos sociais, tendo sido maior entre os homens, indígenas e pardos. Para Leiva, uma das explicações para a queda no consumo foi a pandemia de covid-19.

“A pandemia teve vários efeitos simultâneos sobre o mercado cultural: mudança de hábito das pessoas, aceleração das práticas online, possível insegurança de ir a espaços fechados e redução na produção cultural, ainda que temporária. Parte da população que viveu confinada durante um período razoável de tempo pode ter se acostumado a ficar em casa, desenvolvendo outros hábitos domésticos, inclusive culturais, mas feitos em casa. A pandemia também incrementou o acesso a conteúdos culturais online, o que pode ter facilitado e acelerado a mudança de hábito”, explicou.

Além disso, acrescentou Leiva, a pandemia implicou a perda de renda para alguns setores sociais, o que contribuiu para a redução no acesso.

Apesar disso, a pesquisa mostra que há potencial para crescimento, já que os entrevistados que disseram não ter ido a shows musicais, festas populares, museus e espetáculos de teatro e de dança recentemente disseram que têm muito interesse em ir a esses eventos.

“[A pesquisa] Cultura nas Capitais perguntou a todos os entrevistados qual é, de 0 a 10, seu interesse em ir a cada uma das seguintes manifestações: shows de música, festas populares, museus, teatro e dança. Os entrevistados que não foram a essas atividades, mas deram nota 8, 9 ou 10 para seu interesse em ir, formam o que está sendo chamado de público potencial. Fica claro que, se essas pessoas de fato fossem, o acesso a algumas atividades dobraria”, explicou.

Perfil

Em geral, as pessoas que mais frequentam ou participam de atividades culturais no país são brancas, jovens, têm mais escolaridade e melhor condição econômica. “O acesso à cultura reproduz boa parte dos padrões de exclusão socioeconômicos do país. Os que mais vão a atividades culturais são pessoas de maior nível educacional, maior renda e os jovens e pessoas de meia idade, até os 45 anos. Em geral, essas pessoas compõem a minoria da população que vive nos bairros mais ricos de nossas cidades”, afirmou Leiva.

Homens e mulheres, quase igualmente, têm a mesma participação nesses eventos. As mulheres, no entanto, são as que demonstram mais interesse em participar de atividades culturais, porém são as que encontram mais barreiras para transformar o desejo em acesso. As donas de casa, por exemplo, representam o grupo com menos acesso a atividades culturais.

Os idosos, por sua vez, são a maior parte dos excluídos culturalmente: a maioria deles informou não ter ido a nenhuma atividade cultural em 12 meses. Além disso, eles compõem a principal faixa etária que declarou nunca ter ido a uma atividade cultural.

Segundo o estudo, isso pode ser explicado pelo fato de que as gerações mais velhas tiveram menos acesso à educação no passado e, como a educação é um fator crítico para o acesso à renda e maior diversidade de atividades culturais, eles provavelmente cresceram com menos interesse pela cultura. Leiva disse que outro fator que pode explicar isso é o fato dos idosos geralmente morarem em áreas mais distantes dos locais onde se concentra a maior oferta de equipamentos culturais.

Escolaridade e renda

Pessoas com mais escolaridade e maior renda têm mais acesso a atividades como o balé – Divulgação/Theatro Municipal do Rio de Janeiro

A escolaridade é um dos principais fatores associados à cultura. Quanto mais alta a escolaridade, maior o acesso à cultura, revelou o levantamento. Isso vale tanto para a leitura de livros quanto para videogame ou circo. A diferença é mais importante no acesso a concertos de música clássica, museus, saraus, teatro, bibliotecas e cinema. Enquanto 9% das pessoas com ensino fundamental foram ao teatro, o percentual vai a 40% para quem tem ensino superior. No caso do circo, o percentual é de 9% para quem tem ensino fundamental e de 17% entre quem tem ensino superior.

Quando se considera a classe econômica, as diferenças de acesso entre as classes A e D/E são maiores, no caso de concertos, teatro e museus, e menores no caso de festas populares, circo, leitura e jogos eletrônicos. A pesquisa mostra que 3% das pessoas das classes D/E foram a concertos, enquanto 20% dos respondentes da classe A disseram ter ido à mesma atividade. Para a leitura, o percentual é de 41% para as classes D/E e de 81% para a classe A.

Para Leiva, mais educação e melhor distribuição de renda poderiam ampliar o acesso e o interesse pela cultura no país. “Quanto maior o número de pessoas com ensino superior, maior será o acesso a praticamente todas as atividades culturais. Quanto maior a renda, maior a possibilidade de uma pessoa ir ao cinema, ao teatro, a museus. E isso também pode aumentar a frequência a atividades que a pessoa já pratica, mas com limitações”, acrescentou.

Na opinião do pesquisador, também é importante desenvolver ações voltadas aos extratos da população menos atendidos e descentralizar a distribuição dos equipamentos culturais e de lazer pelas cidades, que geralmente se concentradas em áreas mais ricas. “Oferecer oportunidades perto de onde as pessoas vivem é fundamental. A falta de uma melhor distribuição limita o acesso das pessoas”, afirmou Leiva.