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EUA enviam remessa de segurança para o Equador

23 de janeiro de 2024

 

O governo dos Estados Unidos começou esta semana a enviar a assistência de segurança recentemente acordada com o Equador, segundo autoridades de ambas as nações.

“Ontem à noite um avião pousou em território equatoriano. É um avião que traz a cooperação internacional dos Estados Unidos”, relatou o almirante Jaime Vela, chefe do comando conjunto das Forças Armadas.

Embora Vela não tenha entrado em detalhes sobre o conteúdo da remessa, a Casa Branca detalhou parte da primeira remessa em comunicado na noite anterior.

“Esta semana, os Estados Unidos estão a facilitar a entrega de mais de 20.000 coletes à prova de bala e mais de um milhão de dólares em equipamentos críticos de segurança e resposta a emergências, incluindo ambulâncias e veículos de apoio logístico de defesa”, enumerou a administração do presidente Joe Biden.

A ajuda em geral também inclui o aumento iminente de pessoal do FBI em solo equatoriano “para apoiar a Polícia Nacional e a Procuradoria-Geral do Equador”, segundo os próprios.

A cooperação internacional ocorre em meio a importantes operações conjuntas entre as Forças Armadas e a Polícia Nacional. O mais importante, foi a apreensão de 21 toneladas e meia de cloridrato de cocaína numa fazenda localizada na província costeira de Los Ríos, uma das mais atingidas pela violência criminosa.

O presidente Daniel Noboa também anunciou o relaxamento do toque de recolher, após diversos ataques criminosos no país.

 

Lula oferece ajuda nas áreas de inteligência e segurança ao Equador

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ofereceu ajuda ao Equador para o enfrentamento a organizações criminosas. Em conversa telefônica com o presidente daquele país, Daniel Noboa, Lula disse que a ajuda pode abranger as áreas de inteligência e segurança.

O Planalto divulgou nota detalhando a conversa entre os dois presidentes nesta terça-feira (23). “O presidente ouviu de Noboa análise sobre o enfrentamento ao narcotráfico e ao crime organizado naquele país. Lula se solidarizou com o presidente Noboa e indicou a disposição do Brasil em ajudar o Equador, inclusive por meio de ações de cooperação em inteligência e segurança”, informou a Presidência.

Na conversa, Lula disse que a luta contra o crime organizado é também um desafio do Brasil, nos vários níveis de governo, agravado pela porosidade e extensão das fronteiras terrestres e marítima do país.

Os dois presidentes concordaram que os países sul-americanos devem estar “unidos no combate ao crime organizado, que atinge a todos”, e que “o fortalecimento da integração regional é condição fundamental para a superação do problema”, e que um combate efetivo ao narcotráfico passa necessariamente por uma coordenação entre países consumidores de drogas.

Lula acrescentou que o Brasil ocupa atualmente a Secretaria Geral da Ameripol, organização regional que reúne trinta países e se dedica à cooperação e ao intercâmbio de informações policiais; e que entre as atribuições dessa secretaria estão ações de coordenação geral.

Crise

O Equador tem sofrido uma explosão de violência que resultou no assassinato do promotor César Suárez, que investigava uma organização criminosa transnacional que atuava na província de Guayas.

Em agosto, Fernando Cillavicencio, então candidato à presidência do Equador, foi assassinado com três tiros na cabeça, após participar de um comício em Quito.

Além disso, o país testemunhou, ao vivo, a invasão de uma emissora de TV – a TC Televisión em Guauaquil – por homens armados. Nos presídios do país, mais de 200 funcionários e agentes foram feitos reféns, em meio à fuga de dezenas de presidiários.

Governo do Equador sugere aumentar impostos para conter crimes

Daniel Noboa

13 de janeiro de 2024

 

O governo equatoriano Daniel Noboa enviou ao Legislativo uma proposta de lei econômica de emergência num esforço de procura de receitas para sustentar financeiramente o conflito contra criminosos. A proposta aumenta o imposto IVA de 12 para 15%, o que gerou polêmica.

Esta proposta deve ser analisada e aprovada ou negada pelos legisladores. Se não houver resposta dentro de 30 dias, ela entrará automaticamente em vigor.

A medida não se aplicaria a produtos alimentares básicos, medicamentos, serviços públicos, custos de transporte, saúde ou educação, entre outros, afirmou o governo em comunicado.

“A atual crise de segurança no Equador sublinha a urgência de aumentar a possível arrecadação de impostos para o Estado”, disse Noboa num documento partilhado pela Assembleia. “O aumento do IVA dará ao Estado uma fonte constante de receitas”.

A medida poderá arrecadar cerca de US$ 1,3 bilhão por ano e entrar em vigor em março se for aprovada pelos legisladores.

Os fundos seriam utilizados para financiar armas e equipamentos para as forças de segurança e melhorias no sistema prisional, segundo o documento.

Os legisladores – numa rara demonstração de unidade – já aprovaram duas propostas urgentes do governo Noboa, outra lei fiscal destinada a aumentar o emprego entre jovens e uma lei destinada a atrair investimentos no sector elétrico.

Mas os deputados do partido de esquerda Revolução Cidadã, que faz parte da coligação de Noboa, disseram que não apoiarão a medida do IVA, mas proporão outras alternativas, como um imposto mais elevado sobre as saídas de capitais para o exterior ou impostos únicos sobre grande capital.

O Partido Social Cristão, também parte da coligação de Noboa, disse que não apoiaria o projeto de lei, o que poderia levar o presidente a procurar apoio de outros partidos.

O Equador fechou 2023 com um déficit fiscal de mais de US$ 5,7 bilhões, segundo o governo.

“Maiores gastos públicos em segurança e a provável perda de receitas devido ao crescimento mais lento colocarão pressão sobre o equilíbrio orçamental do governo. Isso tornará ainda mais difícil a tarefa de consertar as tensas finanças públicas do país”, afirmou a Capital Economics numa nota.

 

Equador intensifica controles e fiscalizações nas ruas devido à violência

13 de janeiro de 2024

 

Patrulhas militares inspecionaram aleatoriamente centenas de passageiros nesta sexta-feira em um setor movimentado do centro da capital equatoriana e centro de transporte público, enquanto a polícia instalou postos de controle móveis nas ruas.

Tudo faz parte das medidas de emergência com as quais o presidente Daniel Noboa procura conter a escalada de violência dos últimos dias e que não cessa, principalmente nas prisões.

Sabendo que as medidas para enfrentar a insegurança poderão ter um custo a longo prazo, Noboa já considera um plano urgente para financiá-las através de um aumento de impostos, o que gerou imediatamente polêmica.

Militares e policiais prestam especial atenção em suas buscas aos cidadãos que carregavam mochilas ou malas nos transportes públicos do centro de Quito, onde na véspera um alerta de bomba provocou a mobilização da polícia que, após um operação que incluiu o uso de cães treinados e um robô, conseguiu descartar a ameaça.

“Espero que as verificações sejam feitas a todas as pessoas se for para ser verificada por questões de segurança, que seja a todos e não a uma parte específica da população, que tem sido o problema que tem ocorrido ultimamente nas revisões”, disse a cidadã Daniela Chacón à AP na noite de quinta-feira, durante uma inspeção em Quito.

A situação de violência no Equador agravou-se dramaticamente após o misterioso desaparecimento numa prisão de Adolfo Macías, vulgo “Fito”, chefe do grupo criminoso mais perigoso do país, Los Choneros, que mantém uma relação com o cartel de drogas mexicano Sinaloa, segundo as autoridades, e a subsequente fuga de outra prisão de Fabricio Colón Pico, líder criminoso regional de outra organização criminosa, Los Lobos.

Noboa, que assumiu o poder no final de novembro, primeiro decretou o estado de emergência no início da semana e depois declarou que o país entrava um conflito armado interno.

 

PF oferece apoio ao Equador para rastrear facções criminosas

Representantes de forças policiais de 16 países latino-americanos se reuniram nesta sexta-feira (12), por meio de videoconferência, para discutir saídas para a onda de violência que assola o Equador. O encontro extraordinário da Comunidade de Polícias das Américas, a Ameripol, foi convocado pelo diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, que também é secretário-executivo da entidade internacional que reúne corporações policiais do continente.

A crise de segurança pública no Equador, que já dura alguns anos, é resultado da atuação de facções criminosas do narcotráfico. Cerca de 13 pessoas morreram nos últimos dias, em meio a motins, sequestros e confrontos.  

Os participantes da reunião aprovaram o encaminhamento de propostas que incluem o intercâmbio de informações de inteligência para o enfretamento do crime organizado, a disponibilização de equipamentos de inteligência, o apoio na identificação dos presos do sistema penitenciário equatoriano e a oferta de cursos de descapitalização do crime organizado. Este último tema é uma das especialidades da PF brasileira. Todos os países encaminharão as propostas de cooperação policial à secretaria-executiva da Ameripol, que formalizará o envio ao Equador até este sábado (13).

As forças policiais que participaram da reunião da Ameripol são: Gendarmeria Argentina; Polícia Federal do Brasil; Polícia Nacional do Equador; Polícia Boliviana; CICPC/Venezuela; Polícia Nacional do Uruguai; Polícia Nacional da Colômbia; Polícia Nacional do Peru; Carabineros de Chile; Polícia de Investigações (PDI) do Chile; Polícia Nacional do Haiti; Polícia Nacional da República Dominicana; Polícia Nacional de Honduras; Força Publica da Costa Rica; Policia Federal da Argentina; Polícia Nacional do Paraguai; Polícia Nacional de Belize e Polícia Nacional da Guatemala.

Escritório no Equador

Um dos temas discutidos, com a participação da ministra do Interior do Equador, Monica Palencia, foi a criação de uma adidância da PF brasileira no país andino. A ideia, como isso, é que a PF trabalhe em uma cooperação estreita com as forças policiais do país.

Além do diretor-geral Andrei Rodrigues, da PF, participaram da reunião o vice-presidente da Interpol para as Américas, Valdecy Urquiza; além de Fábio Mertens, coordenador-geral de cooperação policial. Também estiveram presentes representantes do Ministério das Relações Exteriores e da Assessoria Especial da Presidência da República.

O Tratado de Constituição da Comunidade de Polícias da América (Ameripol) é recente. Foi assinado em novembro do ano passado, em Brasília. A entidade, cuja sede fica em Bogotá (Colômbia), serve como mecanismo de cooperação e troca de informações entre as polícias e forças de segurança dos países das Américas.

Equador: 329 detidos e cinco mortos após fuga e ataques criminosos

11 de janeiro de 2024

 

Na quarta-feira, as forças armadas do Equador divulgaram que 329 indivíduos foram presos e cinco mortos em respostas aos ataques criminosos no país.

O almirante Jaime Vela informou em uma coletiva de imprensa que durante operações 41 reféns foram libertados e 28 fugitivos foram recapturados. Os detidos são membros dos grupos Tiguerones, Lobos e Choneros.

Isso acontece enquanto o Equador tenta retomar a normalidade, um dia após o governo declarar “conflito armado interno” contra criminosos fugitivos.

Em uma entrevista à rádio privada Canela, o presidente Daniel Noboa afirmou que seu governo está comprometido em “lutar pela paz e contra os grupos terroristas”, que, segundo ele, têm mais de 20 mil membros.

Na quarta-feira, um juiz emitiu uma ordem de prisão preventiva para onze pessoas que invadiram o canal TC Televisión. Dois menores de 15 e 17 anos estavam entre os criminosos. Militares e policiais continuam vigiando a infraestrutura do governo e alguns meios de comunicação de Quito e Guayaquil.

 

Presidente Noboa apresenta novos projetos de prisões no Equador

Daniel Noboa

11 de janeiro de 2024

 

O presidente do Equador, Daniel Noboa, apresentou esta quinta-feira os projetos para a construção das novas prisões de alta segurança, no âmbito da onda de violência que assola o país e como uma das medidas para controlar o “conflito interno” que está sendo vivido.

“É o início de uma limpeza urgente do sistema prisional equatoriano, controlado pelas máfias há décadas”, disse o presidente.

Os presídios, que serão construídos nas províncias de Pastaza e Santa Elena, contarão com inibição de sinal de celular e satélite, sistemas eletrônicos com tecnologia de ponta, controle de acesso digital e analógico, segurança perimetral tripla, autogeração elétrica, sistema de tratamento de águas, uma construção blindada.

Além disso, terão capacidade para guardar 736 presos.

“Este é mais um passo para poder controlar o terrorismo e o crime organizado, o que exige leis mais duras, juízes honestos e a possibilidade de extraditar os mais perigosos”, acrescentou o presidente Noboa.

Agradeceu também aos membros das forças armadas e à comunidade internacional pelo seu apoio no enfrentamento do conflito interno contra o terrorismo.

 

Países sul-americanos condenam ação de crime organizado no Equador

Em meio à onda da violência que assola o Equador, causada por organizações do tráfico de drogas, países sul-americanos se manifestaram nesta quarta-feira (10) em solidariedade ao governo e à população equatorianos. Uma das manifestações foi emitida por 11 países que fazem parte do Consenso de Brasília, articulação regional criada no ano passado a partir de um encontro promovido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na capital federal. O grupo é formado por Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Guiana, Suriname, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela, além do próprio Equador.

“O Consenso de Brasília unirá esforços para combater de forma coordenada este flagelo que atinge toda a região, sob os princípios do Direito Internacional e das legislações internas de cada país sul-americano. Esperamos uma rápida restauração da segurança e da ordem pública no quadro do Estado de direito e das atuais instituições no Equador, com apego e respeito pela democracia e pelos direitos humanos. Os países membros do Consenso de Brasília reiteram a sua solidariedade às autoridades e ao povo equatoriano neste momento difícil e particularmente às vítimas destes atos de violência”, diz a nota.

O Mercosul, bloco regional formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, também expressou, por meio de nota, solidariedade ao povo e ao governo do Equador, com “respaldo irrestrito à institucionalidade democrática desse país, no marco do respeito aos direitos humanos”.

Brasileiro sequestrado

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil, por meio da Embaixada em Quito, capital equatoriana, informou que vem acompanhando a situação no país e as medidas tomadas pelas autoridades locais para libertar um brasileiro sequestrado por organizações criminosas, além de prestar assistência aos seus familiares. A identidade do brasileiro sequestrado não foi divulgada. Pela manhã, o presidente Lula se reuniu, no Palácio do Planalto, com o chanceler Mauro Vieira para trocar informações sobre a situação no Equador.

Entenda as origens da atual crise de segurança do Equador

O Equador voltou ao noticiário mundial devido a mais uma onda de violência protagonizada pelo narcotráfico. Ao menos desde 2021, o país é sacudido por rebeliões, motins e enfrentamentos entre facções do crime organizado e das forças de segurança. Para entender as origens dessa crise na segurança pública do país sul-americano, a Agência Brasil entrevistou dois especialistas em América Latina.   

Os professores ouvidos concordam que a violência no Equador tem origem na pobreza da população, que oferece abundante mão de obra para o tráfico, na demanda de drogas dos Estados Unidos e da Europa, principais centros consumidores do planeta, e nas mudanças na dinâmica do tráfico internacional de drogas, em especial, relacionadas ao papel da Colômbia, vizinha do Equador.  

Nildo Ouriques aponta a pobreza como um dos motivos da crise no Equador – Arquivo pessoal

O presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), professor Nildo Ouriques, destaca o papel que as políticas sobre drogas na Europa e nos Estados Unidos desempenham nos países da América Latina, que são afetados pelo baixo valor dos seus principais produtos de exportação.  

“O consumo de cocaína na Europa e nos Estados Unidos é gigantesco e não há política lá que possa minimizar isso. Isso coloca uma demanda sobre os países latino-americanos que estão submetidos à deterioração dos termos de troca e o único produto que não cai no mercado mundial é a cocaína. O petróleo cai, a banana cai, o cacau cai, tudo cai, menos a coca”, destacou.  

Nildo Ouriques acrescenta que a piora do mercado de trabalho, tanto no Equador quanto nos demais países latino-americanos, facilitou o trabalho do tráfico internacional. “Nunca antes no desenvolvimento capitalista da América Latina a situação do trabalho foi tão aviltada, de tal maneira que o convite para o crime é gigantesco. É um exército industrial de reserva inesgotável e que leva toda a juventude”, destacou.  

Papel da Colômbia 

Para Roberto Menezes, crise causada pelo narcotráfico ameaça a soberania do Estado  – Roberto Menezes/Arquivo Pessoal

A crise de segurança causada pelo narcotráfico ameaça a soberania do Estado equatoriano, segundo o professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (Unb), Roberto Goulart Menezes, coordenador do Núcleo de Estudos Latino-americanos.  

O especialista considera que o desmantelamento dos cartéis de Medellin e Cali, na Colômbia, ao longo dos anos 1990, gerou uma ramificação do narcotráfico para outros países da América Latina. “Esse combate ao crime organizado e aos cartéis na Colômbia fez o tráfico ramificar seus negócios e parte dos seus negócios foi para o Equador”, afirmou. 

O professor Nildo Ouriques acrescentou que o acordo de paz firmado na Colômbia com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em 2016, contribuiu para a situação atual do Equador.  

“A criminalidade no Equador tem íntima relação com a Colômbia. Quem regulava as fronteiras com o narco eram as Farc. As Farc regulavam áreas inteiras e administrava isso com mão duríssima. Quando as Farc saíram, os cartéis do México e os equatoriais se associaram livremente”, comentou.  

Dolarização e neoliberalismo  

Para Ouriques, a dolarização da economia equatoriana, realizada no ano 2000, facilita o trabalho do tráfico de drogas. “O narco cria empresas de fachada e empresas reais onde eles mandam esse dinheiro para fora aos bilhões. A economia dolarizada com uma conta de capitais aberta cria a capacidade de botar o dinheiro para fora do país com facilidade”, explicou. 

Para Goulart Menezes, a dolarização não tem tanta importância assim porque, apesar de facilitar a lavagem de dinheiro, o narcotráfico sempre arruma formas de lavar o dinheiro e evadi-lo para além das fronteiras nacionais.  

“Não vejo essa relação tão direta [entre dolarização da economia e avanço do narcotráfico]. Por outro lado, as políticas neoliberais que levaram a dolarização no ano de 2000 seguem muito fortes no Equador e debilitaram as estruturas estatais de forma geral”, ponderou.  

A principal organização indígena do Equador, a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), culpou as políticas neoliberais adotadas no país como a raiz da atual crise de segurança.  

Atuação de Noboa  

A resposta do presidente equatoriano, Daniel Noboa, ao decretar estado de emergência e dar amplos poderes para as Forças Armadas combater o crime é vista como pouco eficiente pelos especialistas. Para Roberto Goulart Menezes, Noboa está pensando na sua sucessão, uma vez que ele tem um mandato tampão de apenas 18 meses.  

“Esse tipo de medida tende a se esgotar muito rapidamente porque é emergencial e a situação mais a fundo do Equador tem a ver com o empobrecimento do país, tem a ver com essa ramificação do crime organizado. Essa estratégia já está fadada ao fracasso, que é a estratégia de guerra às drogas”, afirmou.  

Menezes avalia que a estratégia de Noboa parece repetir a atuação do presidente de El Salvador, Nayib Bukele, acusado de violar direitos humanos com a justificativa de combater o crime organizado, o que tem lhe rendido altos índices de popularidade. 

“Ele tem carta branca para cometer todo tipo de arbitrariedade em nome do estado de exceção pra combater o crime organizado. Esse tipo de estratégia não é novo, mas o fato é que pode aumentar o banho de sangue e o próprio governo dele pode ser tragado diante do aumento da insegurança”, finalizou.  

Por outro lado, Nildo Ouriques destaca que a capacidade do narcotráfico de corromper as Forças Armadas é imensa. “Essa ideia de colocar Forças Armadas para combater o narcotráfico surgiu em primeiro lugar no México. O narco corrompe todo mundo. Tem um poder do dinheiro gigantesco. O narco chega com uma grana que é infinita”, ponderou.  

Países declaram apoio ao Equador diante de atos de violência

10 de janeiro de 2024

 

O Peru anunciou na terça-feira que declarará estado de emergência na fronteira comum com o Equador para que os militares possam ajudar a polícia, após uma série de atos violentos no país vizinho, incluindo o ataque por um grupo de homens armados encapuzados a um canal de televisão durante sua transmissão ao vivo e a fuga de dois líderes criminosos ligados ao tráfico de drogas.

Também dos Estados Unidos, Bolívia, Venezuela e Espanha enviaram mensagens de preocupação e apoio ao país sul-americano, que está imerso na violência e na insegurança há pelo menos três anos e que fechou o ano de 2023 com um recorde de 7.600 homicídios.

O primeiro-ministro peruano, Alberto Otárola, disse aos jornalistas que a presidente Dina Boluarte ordenou a viagem até à fronteira com o Equador dos ministros da Defesa e do Interior, bem como o envio de polícias para ajudar a melhorar o controle do trânsito pelos postos fronteiriços.

Ambos os países têm uma fronteira comum total de 1.529 quilômetros, a maior parte dela em áreas inacessíveis da Amazônia.

Otárola lembrou que desde setembro existe estado de emergência para combater a criminalidade em áreas das regiões de Tumbes e Piura, ambas na fronteira com o Equador. Mas acrescentou que novas regiões serão acrescentadas.

“Quando for declarado o estado de emergência, as forças armadas são obrigadas a vir apoiar a polícia nacional e sim, haverá tropas do exército”, disse Otárola.

Nas áreas onde anteriormente foram implementadas medidas anticrime, os eventos sociais foram proibidos da meia-noite às 4h. A livre circulação, a liberdade de reunião e a inviolabilidade do domicílio também foram suspensas.

E da Bolívia, o presidente Luis Arce publicou uma mensagem ao governo equatoriano que atravessa uma situação crítica de segurança e luta contra o crime.

Da mesma forma, insistiu que “é urgente trabalhar na regionalização do combate ao narcotráfico e outras atividades ilícitas, bem como na criação de organizações supranacionais como a Aliança Latino-Americana Antinarcóticos”, proposta que, segundo o que indicou, a Bolívia já levantou em diversas reuniões internacionais.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, também rejeitou a violência “desencadeada por gangues criminosas equatorianas” e expressou a sua solidariedade ao povo e ao governo do Equador na luta contra o “flagelo do crime organizado”.

“Confio na pronta restauração da ordem e na ação oportuna da justiça contra os autores intelectuais e materiais destes atos terroristas inaceitáveis”, escreveu Maduro na rede social X na noite de terça-feira.

Por sua vez, a embaixada espanhola no país condenou a violência e mostrou a sua solidariedade para com as vítimas.

“Apoiamos as instituições democráticas do Equador para restaurar a normalidade na vida do irmão povo equatoriano”, indicou.