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Sobe para 20 os mortos por policiais militares na Baixada Santista

A Polícia Militar de São Paulo matou mais duas pessoas na Baixada Santista, litoral do estado, neste final de semana. Ao todo, foram 20 mortos na região em supostos confrontos contra a polícia desde o dia 2 de fevereiro, quando o policial militar Samuel Wesley Cosmo foi morto em Santos, durante patrulhamento. Na ocasião, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que as polícias civil e militar se mobilizaram para localizar e prender os envolvidos no crime contra Cosmo.

De acordo com a SSP, policiais militares da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) faziam ronda em Santos, no domingo (11), quando suspeitaram de um homem que andava de bicicleta. O homem foi atingido por disparos de arma de fogo, após um suposto confronto, e socorrido na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da zona noroeste, onde morreu. A Polícia Civil solicitou perícia no local e investiga o caso.

Também em Santos, um homem que teria resistido à ordem de parada dos policiais militares foi morto por volta das 17h30 do sábado (10). A SSP afirmou que os agentes averiguavam uma denúncia de transporte de armas e que o rapaz tinha passagens por tentativa de homicídio e associação criminosa. “A perícia foi acionada e todas as circunstâncias dos fatos serão apurada”, informou a SSP em nota.

No domingo, moradores de bairros da periferia da Baixada Santista denunciaram a prática de execuções, tortura e abordagens violentas por policiais militares contra a população local e egressos do sistema prisional. Os relatos foram colhidos por uma comitiva formada pela Ouvidoria da Polícia de São Paulo, Defensoria Pública, e parlamentares, como os deputados estaduais de São Paulo Eduardo Suplicy (PT) e Mônica Seixas (PSOL). 

De acordo com os relatos, os policiais falam abertamente em ameaças aos jovens usuários de drogas, aos aviõezinhos, e que a polícia vai vingar o policial morto. “A sociedade e os territórios periféricos estão muito assustados, relatando abordagens truculentas, violentas e aleatórias, busca de egressos do sistema prisional, torturas e execuções. O que a gente está vendo aqui é um estado de exceção. O Estado autorizando a sua força policial a executar pessoas sem o devido processo legal, sem mandado judicial, sem chance à ampla defesa”, denunciou a deputada Mônica Seixas à Agência Brasil, na ocasião.

A SSP informou que todos os casos estão sendo apurados e que, desde o início do ano, foram registradas seis mortes de policiais em todo o estado, sendo quatro PMs ativos e um inativo, e um policial civil em serviço. Desse total, três foram na Baixada Santista, em 26 de janeiro, um PM; um policial da Rota, em 2 de fevereiro; e outro PM no dia 7.

A terceira fase da Operação Verão, com reforço de policiais de batalhões de diversas regiões, da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) e do Comando de Operações Especiais (COE), teve início justamente na quarta-feira (7), segundo a SSP.

O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, publicou, no sábado, nas redes sociais, uma nota manifestando preocupação em relação à atuação da polícia na Baixada Santista. “O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) vem a público externar a preocupação do governo federal diante dos relatos recebidos pela Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos de que graves violações de direitos humanos têm ocorrido durante a chamada Operação Escudo”, diz o texto.

Na sexta-feira (9), a prefeitura de São Vicente, na Baixada Santista, cancelou o carnaval de rua na cidade em razão da falta de segurança.

Operação Escudo

O estado de São Paulo deu início à Operação Escudo, na Baixada Santista, após a morte do soldado Patrick Bastos Reis, pertencente à equipe da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), que foi baleado e morto em Guarujá, no dia 27 de julho do ano passado. Segundo a SSP, Reis foi atingido durante patrulhamento em uma comunidade por um disparo de calibre 9 milímetros. A operação resultou na morte de 28 pessoas em 40 dias de duração. Na época, moradores da região também chegaram a denunciar execuções e ilegalidades

Para a socióloga Giane Silvestre, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP), ouvida pela Agência Brasil, é fundamental que não se repita o que aconteceu na Operação Escudo de 2023, no litoral paulista. Segundo ela, nenhuma operação policial que resulta nessa quantidade de pessoas mortas pode ser considerada uma operação de sucesso e que operação policial de sucesso é aquela que preserva a vida das pessoas

Na avaliação da especialista, a lógica de enfrentamento deixa os policiais mais vulneráveis a esse tipo de ataque e a melhor forma de lidar com a violência contra os policiais é atuar com foco na prevenção com investigações qualificadas.

Cacique e Bafo: a rivalidade que fez história no carnaval do Rio

 

Uma rivalidade marcou durante muitos anos o carnaval do Rio. Os desfiles dos blocos de embalo Bafo da Onça e Cacique de Ramos atraíam multidões e, não raro, pequenas brigas se espalhavam nas ruas do centro da cidade. A concentração de tantos foliões foi o que levou à rivalidade entre os dois. Cada um queria ser maior que o outro. Atualmente essa disputa já não existe e os dois podem aproveitar o carnaval.

Quando o Cacique foi criado em 1961, no bairro de Ramos, na zona norte do Rio, o Bafo da Onça já existia. Foi fundado em 1956 em um botequim do bairro do Catumbi, na região central da cidade. E foi ali que Sebastião Maria, conhecido como Tião Carpinteiro, deu nome ao bloco. Antes disso, durante o carnaval, ele costumava desfilar fantasiado de onça-pintada.

Blocos de rua tradicionais, como Cacique de Ramos e Bafo da Onça desfilam pelo centro do Rio. Foto: Vladimir Platonow/Agência Brasil

“Seu Tião Maria dizia que, para ele, o carnaval começava logo depois da festa dos Santos Reis, dia 6 de janeiro, então, abria o período carnavalesco. Os amigos do Seu Tião frequentadores do mesmo botequim resolveram fundar um bloco. Ele era conhecido como Seu Tião do Bafo da Onça, porque diziam que gostava de tomar, na época do carnaval, uma cachaça mais forte e ficava com aquele bafo ”, contou à  Agência Brasil o professor de história e escritor, Luiz Antônio Simas.

“A característica deste bloco era basicamente estar ligado ao bairro, desfilava pelas ruas do Catumbi, todos vestidos de onça pintada e foi um bloco tão impactante que de certa maneira inspirou a fundação, alguns anos depois do Cacique de Ramos e o bafo começa a ser uma grande atração do carnaval do Rio de Janeiro”, completou.

Se o número grande de foliões era comum aos dois grupos, as características eram próprias. Enquanto no Cacique a fantasia de indígena, inicialmente confeccionada em napa, uma espécie de couro, cobria o corpo dos integrantes, no Bafo os figurinos eram variados, desde que respeitassem as cores do bloco: o preto e o amarelo. Como o Tião Carpinteiro, muitos usavam as fantasias e também pintavam o rosto para parecer uma onça.

“Tinha uma disputa ferrenha com o Cacique de Ramos. Ou você era Bafo ou era Cacique, e isso tinha muito a ver com a história do carnaval de rua do Rio, e muito a ver com essa mítica de disputa”, afirmou Rita Fernandes, presidente da Associação Independente de Blocos de Rua do Rio (Sebastiana) à Agência Brasil.

Outra característica das duas instituições foram diversos sambas compostos para cada um deles. Pelo Cacique um dos destaques é o Água Na Boca e pelo Bafo o OBA. O sucesso das músicas é tão grande que até hoje são cantadas inclusive por outros blocos.

Desfiles

Para satisfazer os seus foliões, como tem acontecido nos últimos anos, o Cacique de Ra,ps aproveita muito bem o carnaval e se apresenta no domingo, na segunda e na terça. Já o Bafo da Onça, em quantidade muito menor ao que já foi no passado, marca o encontro com os foliões para apenas o domingo. Parte do dinheiro para o desfile é conseguida com a venda de camisetas. A convocação dos componentes foi divulgada no perfil da instituição no Facebook e movimentou os fãs na rede social. O bloco usou no anúncio um verso do samba OBA: É o Bom ! É o Bom ! É o Bom !.

O samba foi gravado em 1962 pelo cantor e compositor Oswaldo Nunes autor de diversos sucessos do Bafo da Onça, que na época, animavam os foliões na Avenida Rio Branco, também no centro da cidade. O cantor foi a voz do bloco do início dos anos 60 até meados dos anos quando, por causa de uma briga com a diretoria da instituição, deixou a função que desempenhava com tanta alegria.

Se a quantidade de componentes é diferente entre os dois blocos, o local de apresentação é o mesmo. Antes era a Avenida Rio Branco, anteriormente chamada de Avenida Central. Agora é a Avenida Chile, as duas no centro do Rio. A escolha, no entanto, não é do Cacique e nem do Bafo, cabe a Riotur determinar o local atual onde também desfilam Blocos Afros e grupos de Frevos, além de outros blocos como Boêmios de Inhaúma e Pagodão de Madureira.

“O Bafo da Onça e o Cacique de Ramos foram as mais famosas instituições carnavalescas da cidade do Rio. Eram concorrentes tradicionalíssimos e atraíam multidões para os desfiles que em geral eram na Avenida Rio Branco. Portanto, eles foram importantíssimos e arrebatavam milhares de pessoas”, pontuou o historiador, jornalista e pesquisador de MPB, Ricardo Cravo Albin, em entrevista à Agência Brasil, destacando que os jornais davam em primeira página as matérias sobre os desfiles dos dois blocos.

Dificuldades

Atualmente, os dois se diferenciam pela condição financeira. O Cacique se mantém com shows na quadra, patrocínios e vendas de produtos como camisetas. O Bafo não consegue tantas fontes de renda e isso fica refletido nos desfiles que reúnem poucos admiradores em comparação ao que já foi no passado.

Rita Fernandes lamentou as dificuldades financeiras que levaram à redução do Bafo da Onça nos últimos dez anos. Para ela, os blocos precisam de ter fontes novas de renda para permanecerem com as suas atividades. “É lamentável que um bloco com tamanha importância para a história do carnaval e da cidade Rio , como é o caso do Bafo da Onça, não consiga sobreviver com cantores, artistas e sambistas que faziam parte do seu quadro, por falta de incentivo do poder público, que não ajuda, como é o caso também do Bola Preta que está precisando de ajuda”, apontou.

“Temos um problema no Rio e no Brasil em relação à preservação das memórias, daquilo que tem tradição, que tem raiz”, disse, acrescentando que além do poder público, o bloco conseguiu também a ajuda de marcas patrocinadoras, o que para ela, só ocorre atualmente para os blocos comerciais.

Para o professor Simas, o declínio do Bafo é decorrente do também declínio do bairro do Catumbi, que foi impactado por algumas reformas urbanas como a abertura do túnel Santa Bárbara e a criação do Viaduto 31 de março, que dividiu o Catumbi em dois. Apesar disso a instituição tem relevância no carnaval carioca. “O Bafo da Onça é um marco da história do carnaval de rua do Rio de Janeiro, desse espírito carnavalesco desses blocos de embalo”, concluiu.

Salgueiro focará na essência yanomami e não na tragédia, diz enredista

 

Há um ano, uma série de ações governamentais foi anunciada para fazer frente a uma tragédia humanitária que se arrastava há alguns anos na Terra Indígena Yanomani, no extremo norte do Brasil. A crise, relacionada com o avanço do garimpo ilegal na região, se traduzia em fome, contaminação e alarmante aumento de diferentes doenças, sobretudo a malária. Segundo dados do Ministério dos Povos Indígenas, apenas em 2022, morreram 99 crianças da etnia com menos de cinco anos, na maioria dos casos por desnutrição, pneumonia e diarreia.

Rios contaminados têm coloração e margem afetadas pela atuação de garimpo ilegal na região do Surucucu, dentro da Terra Indígena Yanomami, Oeste de Roraima Foto:  Fernando Frazão/Agência Brasil

A repercussão da tragédia gerou comoção nacional e sensibilizou lideranças do Salgueiro. A escola de samba do Rio de Janeiro levará para o desfile do carnaval deste ano o enredo Hutukara. Será a terceira agremiação a atravessar a Marquês de Sapucaí no domingo, 11 de fevereiro. Mas Igor Ricardo, enredista do Salgueiro, adverte: o foco não será a crise humanitária.

“Nós até vamos abordar a tragédia em um momento específico do desfile, mas o desfile não é sobre a tragédia. O desfile é sobre a essência do povo Yanomami. Quem é verdadeiramente o povo Yanomani? Na televisão, os yanomamis só aparecem quando veiculam notícias sobre a malária ou sobre os impactos do garimpo nas suas terras. Aquilo não é o indígena. É o resultado que a ação de garimpeiros e forasteiros gera nos indígenas. Mas o que esse povo faz? Do que se alimenta? Como trabalham?”.

A Terra Yanomani ocupa mais de 9 milhões de hectares e se estende pelos estados de Roraima e do Amazonas. É a maior reserva indígena do país. Os resultados do Censo 2022 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que mais de 27 mil indígenas vivem nessa área.

Mulheres e crianças yanomami em Surucucu, na Terra Indígena Yanomami. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A principal referência para o desenvolvimento do enredo foi o livro A Queda do Céu, assinado pelo xamã yanomani Davi Kopenawa e pelo antropólogo francês Bruce Albert. A obra foi lançada na França em 2010 e teve sua primeira edição traduzida para o português em 2015.

“O yanomami é um povo desconhecido pra gente. Quem lê o livro vai descobrir um universo fantástico. Traduzir isso para o desfile é difícil, foi complexo. O carnaval já tem muita tradição de falar sobre o povo negro, os povos de raiz africana. E com o tempo, fomos nos familiarizando. A gente tem maior conhecimento, por exemplo, sobre Oxum, sobre Ogum. Mas ainda somos muito carentes de conhecimento sobre os povos indígenas. Desenvolvendo esse enredo do Salgueiro, percebi na verdade que a gente não conhece quase nada da cultura indígena”, observa Igor.

O enredista afirma que, no Dia do Índio, celebrado anualmente em 19 de Abril, as escolas costumam organizar apresentações das crianças vestidas com cocares ou sainhas com penas. Segundo ele, essas representações ocorrem muitas vezes a partir de estereótipos. Também tem ocorrido nos últimos anos, sobretudo nas redes sociais, discussões acaloradas em torno da tradição de se usar fantasias com adereços indígenas durante o carnaval. Críticos veem desrespeito à cultura desses povos, enquanto outros consideram se tratar de uma homenagem.

Para o enredista, umas das missões do Salgueiro é mostrar que há uma diversidade entre os indígenas, destacando as especificidades. Para isso, há uma esforço em ser o mais fidedigno possível à representação yanomami. O próprio Davi Kopenawa esteve no barracão para dar o seu parecer sobre as fantasias.

“A gente está tentando ao máximo respeitar os yanomamis como eles são. É a pintura corporal específica deles, é o cocar deles, são os adereços que eles usam no braço. O Salgueiro está se preocupando muito com relação a isso. A gente está muito seguro porque a gente buscou o tempo inteiro se guiar pelo olhar do próprio yanomami. Esculturas que estarão no carro do Salgueiro foram referenciadas em imagens feitas na própria aldeia”, conta Igor.

Mulheres e crianças yanomami em Surucucu. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O desfile também irá apresentar a mitologia yanomami, as práticas culturais, as atividades cotidianas. “O Davi Kopenawa fala que para você respeitar um povo, é preciso conhecê-lo verdadeiramente. Então é um convite ao mundo para conhecer verdadeiramente o povo yanomami, que tanto tem sofrido pela ação do homem branco”.

No final do desfile, esse convite será estendido para que o público procure conhecer também as populações de outras etnias. “São povos que lutam para preservar a língua, lutam contra o desmatamento, contra o tráfico de drogas, contra o risco de despejo. Mas a gente busca mostrar cada esses povos pelas particularidades de cada um deles. Não pela tragédia, mas pela beleza única e exclusiva que eles têm”.

Igor dá um exemplo. “Os Xoklengs têm aparecido muito na mídia por conta do seu protagonismo na resistência contra a tese do Marco Temporal. Mas as notícias não destacam quem são os Xoklengs? Então, por exemplo, eles têm a tradição de fazer um manto de urtiga. Como eles estão em Santa Catarina, eles precisam no inverno de muita proteção contra o frio. E eles produzem um manto bem característico. E nós vamos representá-los no desfile com esse manto”.

Mundo Yanomami

Carnavalesco Edson Pereira (e), enredista Igor Pereira (d) e xamã yanomani Davi Kopenawa (c) Foto: Divulgação/Salgueiro

A palavra Hutukara, título do enredo, é traduzido por Igor como terra-floresta. Ele alerta, porém, para a complexidade do significado do termo. Em 2013, durante uma conferência realizada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e documentada em uma publicação da instituição, Davi Kopenawa ofereceu um explicação mais aprofundada.

“Nós, povo Yanomami, conhecemos há muitos anos, mais de quinhentos anos, o que nosso pai colocou como Hutukara. Hutukara é uma terra, o branco chama de ‘mundo’, outros falam a palavra ‘universo’. É assim que o branco fala, branco fala que o mundo é redondo. Para nós, povo indígena aqui do Brasil, outros povos indígenas, cada um chama diferente: alguns chamam Hutukara, outros chamam Tupã, outros chamam diferente, mas é uma só. É uma Hutukara só. E nós estamos aqui sentados na barriga da nossa terra mãe. A Hutukara fica junto com a pedra, terra, com a areia, o rio, o mar, o sol, a chuva e o vento. Hutukara é um corpo, um corpo que é unido, ela não pode ficar separada”, disse o xamã.

Para retratar o mundo yanomami de forma mais fidedigna, a linguagem tem sido uma aposta do Salgueiro. A sinopse do enredo faz uso de diversas palavras do idioma yanomami, muitas das quais foram levadas também para o samba-enredo Ya temi xoa! Aê, êa! Ya temi xoa! Aê, êa!.

música é assinada por oito compositores. “Tem gente que tem mais facilidade para mexer com melodia, outros mais facilidade para poesia. Mas todo mundo faz um pouquinho de cada coisa. Nossa parceria, graças a Deus, é bem servida de tanto poetas quanto de músicos”, explica um deles, Marcelo Motta.

Em sua visão, a composição soa como um manifesto. “Não podemos mais aceitar que seres humanos sejam vítimas da exploração em suas terras, ocasionando danos à sua vida e às suas famílias. A mensagem é um verdadeiro manifesto a favor dos povos originários e contra a ganância do homem branco, contra a mineração destrutiva, contra a exploração das terras que pertencem àquele povo”, diz.

De acordo com Marcelo Motta, o processo de produção do samba-enredo envolveu uma imersão no mundo yanomani. “Cada um dos compositores foi se aprofundando mais individualmente também. Eu assisti documentários, entrevistas do Davi Kopenawa nas redes sociais. E depois fizemos reuniões onde cada um trazia suas ideias.”

O resultado agradou o enredista Igor. “O yanomami não fala português na aldeia. O yanomami tem a própria língua. E o samba-enredo foi muito feliz em trazer expressões yanomamis que pouquíssimas pessoas conhecem. E pela visibilidade que o carnaval possui, vai gerar interesse nessa língua”, avalia.

Desfile

Igor destaca que esse trabalho de pesquisa foi encampado com entusiasmo por todos envolvidos na construção do desfile deste ano. Embora o livro A Queda do Céu tenha sido seu principal guia, outros conteúdos também se tornaram referência para a elaboração da sinopse do enredo.

Ele afirma já ter lido 15 obras e cinco artigos, além de ter assistido diversos vídeos. Igor precisa entregar ao corpo de jurados com a defesa do enredo e, por isso, continua lendo outros materiais para fundamentar seus argumentos.

“Hoje eu considero que consigo entender, que consigo dialogar com as pessoas sobre a cultura yanomami. Foi um processo intenso de pesquisa e de estudo porque foi tudo muito novo. E nós vamos mostrar isso. Será um passeio pelo universo yanomami, que tem uma mitologia riquíssima. O desfile começa mostrando o Omama, que é o Deus da criação”, conta.

O Salgueiro também destacará a importância da pesca e da caça como práticas cotidianas, bem como o trabalho das mulheres na roça e na colheita de frutos e principalmente da pupunha, que é característica da Amazônia. “Vamos retratar a Festa da Pupunha. Mas é importante destacar que iremos mostrar o dia a dia de uma aldeia, a maior de Terra Yanomani. Porque são mais de 200 aldeias espalhadas por todo o território”, ressalta Igor Ricardo.

A chegada do garimpo e a cobiça pelo metais preciosos serão representadas em um setor específico. A forma como os yanomamis veem essa situação, a partir da sua mitologia, também será apresentada. “Se tem o Deus da criação que é o Omama, eles acreditam no Deus da destruição que é o Yoasi”, explica o enredista.

Fatos relevantes relacionados com a história e a cultura destes povos também serão apresentados ao público. Será feita referência a artistas plásticos yanomamis que estão expondo fora do Brasil, em diferentes países da Europa e também na China e nos Estados Unidos. Haverá também menção ao livro Ana Mopö: Cogumelos Yanomanis, resultado de um trabalho de pesquisadores indígenas e não indígenas. A obra foi premiada em 2017 na 59ª edição do Prêmio Jabuti de Literatura, na categoria Gastronomia. “Isso deu muito orgulho a eles. Mas recebeu pouco destaque. Foi notícia? Foi. Mas não com tanta repercussão quanto a tragédia humanitária”, destascA Igor.

Jornalista britânico Dom Phillips e indigenista Bruno Pereira – Reuters/Ueslei Marcelino

O desfile reservará ainda espaço para homenagear o indigenista Bruno Pereira e o repórter britânico Dom Phillips, mortos no ano de 2022 em uma emboscada no Vale do Javari, no Amazonas. “Como diz o Davi Kopenawa, não é que os brancos não possam conhecer verdadeiramente os indígenas. É que a gente realmente não conhece. Mas existem alguns brancos que entenderam quem são verdadeiramente os indígenas. E o Bruno e o Dom foram dois deles. Eles conheceram profundamente os povos Matis que vivem no Vale do Javari. E o Salgueiro está fazendo agora esse movimento: é uma escola de samba não-indígena que está tentando entender quem são os indígenas”.

São Vicente cancela carnaval de rua por falta de segurança

A prefeitura de São Vicente, na Baixada Santista, cancelou o Carnaval de rua na cidade em razão da falta de segurança. A Portaria 2 de 2024, publicada em edição extra do Boletim Oficial do Município na noite desta sexta-feira (9), é assinada pelo secretário de Turismo da cidade, Paulo Bonavides, e pelo secretário executivo, Mário Santana Neto.

“Considerando a preservação e integridade dos foliões e organizadores de blocos e bandas carnavalescas; Considerando os últimos acontecimentos envolvendo a segurança pública no Município de São Vicente e na região da Baixada Santista; (…) Resolve: Adiar a realização dos eventos carnavalescos das bandas e blocos de rua na Cidade de São Vicente. Registre-se e cumpra-se”, diz o texto da portaria. 

A região da Baixada Santista é alvo de uma nova fase da Operação Escudo da polícia de São Paulo, lançada como reação à morte do policial militar da Rota Samuel Wesley Cosmo, em Santos, no último dia 2. A operação já resultou, até ontem (9), em 14 civis mortos. 

Nesta sexta-feira (9), um policial militar atirou duas vezes à queima-roupa em um homem desarmado no bairro Bitaru, na cidade de São Vicente, na Baixada Santista. A ação do policial foi gravada por moradores locais. A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que abriu uma investigação para apurar o caso. A pasta destacou que a ação não tem relação com a Operação Escudo.

Direitos Humanos

O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, publicou hoje (10) nas redes sociais uma nota manifestando preocupação em relação à atuação da polícia na Baixada Santista. “O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) vem a público externar a preocupação do governo federal diante dos relatos recebidos pela Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos de que graves violações de direitos humanos têm ocorrido durante a chamada Operação Escudo”, diz o texto.

Ameaçada de privatização, mídia pública sofre intervenção de Milei

O presidente da Argentina, Javier Milei, decretou a intervenção na mídia pública da Argentina nessa semana. O decreto exonerou a direção colegiada que dirigia as emissoras e veículos públicos de comunicação do país e, no lugar, colocou interventores nomeadores diretamente pelo governo.

Ao permitir a reformulação das estruturas das emissoras e portais públicos, a medida abre caminho para privatização dessas empresas, sendo essa uma das promessas de campanha do ultradireitista Milei. Apesar da intervenção, é necessária autorização legislativa para consolidar a venda das companhias.

O professor de comunicação da Universidade de Quilmes, na Argentina, Guillermo Mastrini, avalia que o governo, mesmo sem maioria no parlamento, tem condições de aprovar a privatização da mídia pública, desde que Milei consiga permanecer no cargo. 

“Esses meios [públicos] não são populares na Argentina. Infelizmente, a mídia pública não tem muito respaldo social. Acho que há muitas possibilidades [de privatização]. Não é meu desejo que sejam privatizados, mas eu acho que é muito provável que, se ele consegue manter-se no governo e ficar por um tempo, as mídias sejam privatizadas”, destacou.

 Professor de comunicação da Universidade de Quilmes, Guillermo Mastrini avalia que o governo tem condições de aprovar a privatização da mídia pública Foto: Guillermo Mastrini/Arquivo Pessoal

Ao justificar o decreto, o governo afirmou que ele é necessário para “otimizar a eficácia e eficiência das ações” da mídia pública argentina. Entre os poderes dos interventores, está o de “operar e manter as sociedades de modo a manter a gestão administrativa com objetivo de tornar sustentáveis ditas empresas”.

Em protesto contra a intervenção, a Federação Argentina dos Trabalhadores de Imprensa (Fatpren) afirmou que a medida é autoritária, viola a legislação do país e revela a intenção de privatizar a mídia pública. Para a Federação, o decreto coloca em risco a “pluralidade de vozes que sustentam o sistema informativo do país que hoje, sem uma agência como Telám ou sem a Rádio Nacional ou sem a TV Pública, estaria sujeito aos desejos dos meios privados e seus interesses econômicos.” 

Entre os canais de mídia pública Argentina alvos da intervenção, estão a agência de notícias Telám, o portal Educ.Ar, a Rádio y Televisión Argentina (RTA), que inclui a Rádio Nacional da Argentina e a TV Pública do país, e a empresa Contenidos Públicos, que controla diferentes emissoras.

Mídia Pública

Inspirada no modelo de comunicação pública da Europa, a mídia pública na Argentina, assim como em outros países da América Latina, surge com a promessa de oferecer à população um conteúdo que, por não ter interesse comercial envolvido, não seria oferecido pela mídia privada, explicou o professor Mastrini.

“Quando você analisa a mídia comercial, as redes privadas, é a voz de São Paulo, Rio de Janeiro e, no caso da Argentina, de Buenos Aires. Quase ninguém mais tem visibilidade na mídia. A mídia pública é uma mídia que, como não tem objetivo de lucro, tem a possibilidade de mostrar às pessoas que não formam parte dos centros econômicos”, destacou.

Outra função seria o de dar voz às minorias sociais que, por serem minorias, “elas não vão receber programação que procure atender as suas necessidades de comunicação.”

O problema, segundo Mastrini, é que na Argentina a mídia pública desenvolveu um caráter oficialista, sem autonomia em relação ao Executivo, não importando quem seja o presidente.

“O principal problema [da mídia pública argentina] é sua filiação política que não tem independência do governo. E esse é um problema que, historicamente, desacreditou as emissoras públicas e acho que é uma das razões, não a única, mas é uma das razões de sua baixa audiência”, explicou.

Ao contrário da mídia estatal, que divulga a visão do governo sobre os fatos, a mídia pública deve, em tese, ter pluralidade de fontes, inclusive com a apresentação de opiniões divergentes.

“Se a mídia fosse verdadeiramente pública, ela deveria oferecer uma informação balanceada que permita à cidadania complementar os pontos de vista das distintas posições que existem na sociedade a respeito dos conflitos políticos. Mas isso, ao menos na América Latina, não acontece”, acrescentou.

O professor de comunicação da Universidade de Quilmes, Guillermo Mastrini, avalia que parte da população é da opinião de que os meios públicos são caros e que, como acreditam que nunca vão consumir esse conteúdo, não devem se opor à privatização.

De outro lado, existe um grupo, que ele acredita ser minoritário, ao defender que é preciso preservar essa mídia com a ideia que algum dia ela venha a ser “verdadeiramente pública”. “Se você privatiza é muito difícil depois fazer de novo, criar de novo”, concluiu.

Brasil

No Brasil, o artigo 223 da Constituição Federal determina que o serviço de radiodifusão deve observar o princípio da complementaridade entre os sistemas privado, público e estatal. Em 2007, com objetivo de atender a essa determinação constitucional, foi criada a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) que, além da Agência Brasil, administra a TV Brasil e as rádios EBC, como a Rádio Nacional e a Rádio Nacional da Amazônia.

O artigo 2º da lei da EBC determina que a empresa deve observar o princípio da “autonomia em relação ao Governo Federal para definir produção, programação e distribuição de conteúdo no sistema público de radiodifusão”. Além disso, a empresa deve garantir “participação da sociedade civil no controle da aplicação dos princípios do sistema público de radiodifusão, respeitando-se a pluralidade da sociedade brasileira.

Em setembro de 2016, após a destituição da presidenta Dilma Rousseff, o presidente Michel Temer editou medida provisória (MP) acabando com o mandato do diretor-presidente da empresa e extinguindo o Conselho Curador, órgão responsável, entre outras coisas, por zelar pelo caráter público da comunicação feita pela EBC. No lugar, a MP de Temer instituiu um Comitê Editorial que, até o momento, não foi instalado.

Durante o mandato de Jair Bolsonaro, a EBC entrou no plano de privatizações do governo, chegando a ser considerada até mesmo a extinção da companhia.

Com o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a EBC saiu do plano de privatizações. Em outubro de 2023, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República criou um Grupo de Trabalho (GT) para discutir a participação social na comunicação pública.

“O anúncio de formação desse GT é um alento depois de tanto tempo de espera pela retomada da EBC de fato pública. Mas precisamos garantir a participação da sociedade nessa discussão”, disse Akemi Nitahara, representante dos trabalhadores no Conselho cassado em 2016. “É a participação social que garante que os interesses da sociedade serão levados em conta na produção dos conteúdos”, acrescentou.

Banda de Ipanema completa 60 anos e exalta Conceição Evaristo

 

A Banda de Ipanema sai neste sábado de carnaval (10) homenageando a escritora Conceição Evaristo, em uma folia muito especial. Neste carnaval, a banda chega ao seu 60° ano de atividades, somando 58 desfiles, porque ficou 2 anos sem sair durante a pandemia da covid-19.

“Nós vamos fazer também uma saudação ao povo negro, associado ao trabalho dela”, disse à Agência Brasil o presidente da agremiação, Claudio Pinheiro. 

Conceição vai participar dos desfiles, garantiu Claudio Pinheiro, lembrando que “promessa é dívida”. Ele destacou que a escritora fez um trabalho único de defesa do povo negro e denúncia do racismo existente no país.

Banda de Ipanema agita ruas de Ipanema no carnaval – Foto: Sonia Toledo/Divulgação

Neste carnaval, a banda festeja também os centenários de nascimento de grandes nomes ligados à música, entre os quais Nelson Sargento, Monsueto Menezes, Altamiro Carrilho, Billy Blanco, Paulo Vanzolini e Heleninha Costa.

Como ocorre tradicionalmente, a concentração será a partir das 15h30 na Rua Gomes Carneiro com Rua Jangadeiros, na Praça General Osório, em Ipanema. A saída, às 17h, é pela Rua Gomes Carneiro, no trecho compreendido entre a Rua Prudente de Morais e Avenida Vieira Souto. 

“É ali que a banda se forma, se constitui, onde a banda propriamente é formada e a gente segue para a grande demonstração”, ressalta Claudio Pinheiro. 

O desfile tem duração estimada entre 3 horas e 3 horas e 30 minutos.

O retorno à Praça General Osório está previsto entre 20h e 20h30. A Banda de Ipanema volta a desfilar na terça-feira (13).

Expansão

Banda de Ipanema embala foliões na zona sul da cidade – Fernando Frazão/Agência Brasil

Claudio Pinheiro esclareceu que a Banda de Ipanema nunca teve preocupação com a quantidade de seguidores. Ele destacou, entretanto, que a história da banda começou com 30 e poucos componentes apenas. Quando foi fundada, em fevereiro de 1965, havia uma relação de pouco mais de 130 nomes de amigos e amigas que foram chamados para participar do primeiro desfile. 

“Mas como já era esperado, apareceu um número sensivelmente menor para o desfile. Foram 30 e poucos apenas. Depois, foi crescendo. Isso foi no primeiro ano. No segundo ano, triplicou”, lembra.

Segundo Claudio Pinheiro, houve uma época em que a Banda de Ipanema era a manifestação carnavalesca de rua mais numerosa do Rio de Janeiro. Mas a preocupação dos fundadores nunca foi a quantidade de seguidores. “Sempre teve uma característica marcadamente regional, com os amigos de Ipanema. Reconheceu, porém, que houve uma irradiação muito rápida desse tipo de manifestação de rua organizada pela qual a Banda de Ipanema é historicamente responsável. Foi ela que recuperou o carnaval de rua no Rio de Janeiro. Começou na zona sul”.

Na década de 1960, havia os blocos Bafo da Onça e Cacique de Ramos, que costumavam sair pelo centro da cidade. Claudio Pinheiro lembra que depois da Banda de Ipanema, o sentimento legítimo de inclusão, de direito legítimo de o povo estar na rua, se espalhou primeiro pelos bairros vizinhos – Leblon, Copacabana e Leme -, depois para alguns bairros mais afastados. “Foi um processo multiplicador e de irradiação. Assim permanece até hoje, com características básicas preservadas”.

Músicas

Banda de Ipanema embala foliões na zona sul da cidade – Fernando Frazão/Agência Brasil

A Banda de Ipanema toca somente músicas brasileiras, marcadamente carnavalescas, mas não obrigatoriamente de carnaval. O que tem acontecido, no curso dos anos, é que a Banda de Ipanema carnavaliza muitas músicas de origem não carnavalesca. Com isso, um samba canção, uma suíte de Villa-Lobos, são carnavalizadas e o repertório da agremiação traz um problema sério, disse Pinheiro,“caberem 100 músicas no espaço de 3 horas de desfile”.

Neste sábado de carnaval, deverão ser tocadas músicas de Milton Nascimento, Djavan, Chico Buarque, Dona Ivone Lara, para atender pedido da homenageada Conceição Evaristo. “Vamos tentar encaixar o que for possível”. 

O presidente da banda disse que poderão ser separadas as músicas em dois espaços temporais distintos. Um ocorrerá durante o curso do desfile, quando se tocam entre 80 e 100 músicas. Outro durante a concentração, quando a banda tocará músicas com referência aos homenageados do ano.

Claudio Pinheiro faz uma recomendação aos foliões. “Não faltem!”.

Estudo mostra que árvores exclusivas da Mata Atlântica estão ameaçadas

Uma equipe de pesquisadores de instituições brasileiras e estrangeiras descobriu que 82% das espécies de árvores existentes somente na Mata Atlântica, 2.025 espécies, estão sob ameaça de extinção. 

Publicada na revista Science, a pesquisa avaliou o nível de risco em que estão 4.950 espécies presentes no bioma, sendo que dois terços estão ameaçadas. A Mata Atlântica abarca cerca de 15% do território nacional em 17 unidades federativas. 

Entre as chamadas espécies endêmicas, ou seja, próprias de determinada região ou bioma, e que não se desenvolvem em nenhum outro local, mais da metade analisada (52%) entra na classificação das que estão sob risco de extinção. Uma parcela de 19% é considerada vulnerável e outra de 11% é tida como criticamente em perigo. Somente 17% das espécies estão em situação pouco preocupante dentro da escala e 1% é classificada como quase ameaçada.

Outras 13 espécies endêmicas foram consideradas possivelmente extintas. Os especialistas também se depararam com cinco espécies que haviam sido consideradas extintas.

O levantamento teve como referência uma base de dados de mais de 3 milhões de registros de herbários e de inventários florestais de toda a Mata Atlântica. Com relação aos critérios, os que serviram de norte foram os estabelecidos pela União Internacional de Proteção da Natureza (IUCN), régua bastante rigorosa. 

O docente Renato de Lima, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), um dos coautores do trabalho, ressaltou que trata-se de um estudo bastante abrangente e completo. Um dos propósitos, segundo ele, é constituir uma “lista vermelha” das árvores ameaçadas do bioma. “Colocamos um número no problema”, resumiu. 

Lima revelou que uma pesquisa semelhante foi feita, por outros pesquisadores, com enfoque na Amazônia, abrangendo perdas de vegetação no passado e apresentando projeções futuras.

“Principalmente quanto às espécies endêmicas, foi um susto, mesmo a gente tendo feito as avaliações de maneira meio conservadora. Várias decisões metodológicas são um pouco conservadoras e a gente não considerou, como fizeram com a Amazônia, o desmatamento futuro da Mata Atlântica, áreas que provavelmente serão desmatadas no futuro, e mudanças climáticas. A gente só considerou, basicamente, perda de floresta, desmatamento”, disse em entrevista à Agência Brasil.

“A gente sabe que, junto com o desmatamento, vem muita perda de qualidade das florestas que permaneceram, que não foram desmatadas. As florestas acabam pegando fogo, tem corte de madeira ilegal, a presença de espécies invasoras, pisoteio por gado. Por isso que a gente fala que é uma análise conversadora, porque, para muitas espécies, é necessário ter qualidade para se manter ao longo do tempo”, esclareceu.

De acordo com a SOS Mata Atlântica, hoje restam apenas 24% da floresta original. Uma das medidas defendidas pela entidade como uma saída para recuperá-la é manter o foco na preservação das áreas que cercam mananciais, nascentes e margens dos rios, estas pela relação com a mata ciliar.

Exposição do Sesc RJ celebra história do samba na Marquês de Sapucaí

O Serviço Social do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Sesc RJ) instalou no Setor 9 da Marques de Sapucaí a exposição As raízes negras do samba, que celebra as tradições negras e femininas do samba, além de resgatar a história dessa manifestação cultural brasileira. Em uma espécie de túnel, o público pode apreciar imagens e informações através de diversas ferramentas tecnológicas, como painel de LED, backlights (retroiluminação), tablets, ventilador holográfico e impressora 3D.

A exposição faz parte de um conjunto de ações educativas que o Sesc RJ levará à avenida com foco no combate ao racismo, como a disponibilização de um guia antirracista com dicas e serviços e a distribuição de adesivos e adornos antirracistas. Integra ainda o projeto Consciências, agenda permanente da instituição com atividades multilinguagem que jogam luz sobre o racismo e todas as suas interseções, promovendo a cultura antirracista. Crianças participantes do Sesc +Infância, projeto de educação complementar que acontece em turno inverso escolar, e seus familiares conhecerão a instalação e assistirão os desfiles.

Meio ambiente

O público que for ao Sambódromo do Rio poderá também apreciar o trabalho do artista Davi Rezende, conhecido pela luta em defesa do meio ambiente. Por meio de um peixe de metal de cerca de 2 metros de altura, repleto de garrafas PET e luzes de LED, instalado no Setor 7, Rezende vai chamar a atenção dos foliões sobre os riscos que os resíduos sólidos levam à vida marinha.

Ainda em relação à conservação do meio ambiente, o Sesc RJ manterá na Marquês de Sapucaí, durante o carnaval, a Retorna Machine, uma máquina que recebe uma grande variedade de resíduos (alumínio, aço, plástico, PET, embalagens longa vida e vidro) e, em troca, dá recompensas por meio de um aplicativo.

Acessibilidade

Pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e seus familiares vão curtir ao vivo o maior espetáculo da Terra, no Sambódromo do Rio, levadas pelo Sesc RJ. Elas são atendidas pela organização não governamental (ONG) Anjos de Asas no Mundo Azul, de Nilópolis, e participam de projetos do Sesc Nova Iguaçu. Composto por 47 pessoas, o grupo sairá em excursão da cidade da Baixada Fluminense nesse domingo (11) rumo à Passarela do Samba, onde assistirá os desfiles em camarote exclusivo da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência do Rio (SMPcD). O Espaço Mais Acessível, como foi batizado, tem acústica e geografia adaptados especificamente para o conforto das pessoas com deficiências.

Turismo

Por meio do projeto Turismo Social, o Sesc RJ levará 920 trabalhadores do comércio de bens, serviços e turismo das regiões metropolitana e serrana para os desfiles que acontecerão no Sambódromo, incluindo o sábado das campeãs. Além de transporte de ida e volta, o grupo terá seguro viagem; serviço de bordo; kit Sesc, composto de camiseta e almofada; e ingresso para o Setor 4 da arquibancada do Sambódromo. O pacote inclui também guia de turismo. O profissional falará aos foliões sobre a importância histórica, cultural e social da maior festa popular do mundo.

Por meio do projeto Mulheres Plurais, o Sesc abordará na avenida o enfrentamento à violência contra mulheres e meninas, com a colocação de adesivos em banheiros e espelhos contendo frases de acolhimento e um QRCode informando os serviços de atendimento à mulher vítima de violência.

Pacto Global

As ações do Sesc RJ na Marquês de Sapucaí seguem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). A instituição passou a ser signatária, em 2023, do Pacto Global da ONU, que é um plano global para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima, garantindo paz e prosperidade às pessoas. O presidente do Sesc e do Sistema Fecomércio do Estado do Rio de Janeiro, Antonio Florencio de Queiroz Junior, disse que, na condição de signatário do Pacto Global da ONU, o Sesc RJ tem o compromisso de combater as desigualdades, trabalhar pela preservação do meio ambiente e pela inclusão social. Ele pretende difundir e multiplicar esse discurso, para que outras pessoas e instituições sigam no mesmo caminho.

Bola Preta sai com menos foliões, mas com a mesma tradição

As imagens aéreas da Avenida Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro, tomada por milhões de foliões no sábado de carnaval, fizeram do Cordão da Bola Preta um gigante famoso em todo o Brasil. Mas, na avaliação do presidente do bloco, Pedro Ernesto Marinho, desde que os desfiles dos megablocos foram deslocados para a Rua Primeiro de Março e Avenida Presidente Antônio Carlos, o bloco perdeu foliões. 

“Quando o bola passava pela Rio Branco, parecia que o asfalto sorria, os prédios batiam palmas”, lembra, saudoso. O bloco desfilava na Avenida Rio Branco desde 1919, “quando a avenida ainda era novinha”. Antes chamada de Avenida Central, a Avenida Rio Branco foi o grande marco urbanístico da reforma do então prefeito do Distrito Federal Pereira Passos, de 1906, que transformou o centro do Rio de Janeiro.

Bloco Cordão da Bola Preta desfila pelas ruas do centro da cidade  – Foto Tomaz Silva/Agência Brasil

Com a mudança de local, não há mais o mesmo romantismo, lamenta Marinho. “A Avenida Rio Branco era consagrada no mundo inteiro como local das grandes manifestações políticas, artísticas, manifestações carnavalescas. O novo local é meio inóspito. Não tem um bar, nenhum botequim”. E, para ele, carnaval e cerveja são irmãos siameses. “Não existe carnaval sem cerveja”.

Marinho lembra que, na Avenida Rio Branco, havia uma grande apoteose quando o desfile do Bola Preta chegava ao fim, na Cinelândia, com bares lotados. “Na Avenida Antônio Carlos, não tem o mesmo clima, o mesmo ambiente. Então, a frequência cai“. 

O último ano na Avenida Rio Branco foi em 2014, quando o Bola Preta estava em seu pico de foliões. “A partir de 2010, a gente nunca desfilava com menos de 2 milhões de pessoas. Atingimos o auge em 2013, com 2,5 milhões de pessoas. Quando fomos para a Primeiro de Março e Presidente Antônio Carlos, o bloco já não conseguiu arrastar o mesmo número de foliões. No carnaval de 2023, a gente colocou 1 milhão de foliões. Mas foi um número expressivo”, admitiu.

De qualquer modo, Marinho assegura que o bloco já mostrou a que veio. “A história do Bola Preta mostra que ele é um ícone positivo da cidade do Rio, é o tradicional, que representa a cidade e todo o seu povo. Então, para nós, se tiver um milhão de foliões, a gente vai ficar super satisfeito. Se forem 900 mil, também. O importante é não decepcionarmos os nossos foliões que, todo ano, esperam avidamente o Cordão da Bola Preta na rua. O Bola Preta é o original, é aquele que mantém a tradição do carnaval da Cidade Maravilhosa”.

História

Cordão da Bola Preta comemora 105 anos e defende meio ambiente – Foto: Arte/Miguel Bandeira e Rebecca Moure

Fundado em 1918 por Álvaro Gomes de Oliveira, o Kaveirinha, Francisco Brício Filho (Chico Brício), Eugênio Ferreira, João Torres e os três irmãos Oliveira Roxo, Jair, Joel e Arquimedes Guimarães, o tradicional Cordão da Bola Preta dá seguimento, este ano, às comemorações de seus 105 anos de existência. Foi Kaveirinha quem deu nome ao bloco ao ver passar uma linda mulher com vestido branco com bolas pretas. Daí surgiu o Cordão da Bola Preta.

O bloco abre o carnaval oficial neste sábado, na Rua 1º de Março e Avenida Antônio Carlos, no centro do Rio. A concentração será a partir das 8h, direto na Rua Primeiro de Março, com saída às 9h. O presidente do Bola Preta diz que, este ano, o objetivo é defender a preservação do meio ambiente. “Até pelo tempo de vida do Bola Preta, a gente, efetivamente, quer entrar nessa luta de defesa do meio ambiente”.

Ao longo do ano, a ideia é fazer plantio de árvores para participar do processo de neutralização de gás carbônico (CO2). Durante o desfile, serão colocados coletores descartáveis para depósito de resíduos pelos foliões. Pedro Marinho quer também promover o reaproveitamento de lonas e fios. “É algo que preocupa a gente, porque a quantidade de lonas é muito grande. A gente quer, realmente, entrar de cabeça nessa luta de defesa e preservação do meio ambiente”.

Participantes

Rio de Janeiro (RJ), 18/02/2023 – Bloco Cordão da Bola Preta desfila pelas ruas do centro da cidade no primeiro dia oficial do Carnaval 2023. Foto Tomaz Silva/Agência Brasil – Tomaz Silva/Agência Brasil

O Cordão da Bola Preta inclui, entre as Musas 2024, a Rainha do Carnaval Carioca 2022, Thai Rodrigues, além de Taissa Marins, Elaine BR e Adeline Gervásio, que renovam suas faixas. Mirian Duarte é a Musa do Centenário. A porta-estandarte é a atriz e diretora Leandra Leal, que assumiu o posto em 2009. “Ela continua na missão de carregar o símbolo maior do Bola Preta”. 

A madrinha é a cantora Maria Rita, também desde 2009, enquanto o posto de rainha foi ocupado, desde 2019, pela atriz Paola Oliveira. A cantora e atriz Emanuelle Araújo é a Musa da Banda do Cordão da Bola Preta. “Está sempre junto conosco”.

“Neguinho da Beija-Flor é o nosso padrinho; o [compositor] João Roberto Kelly é nosso embaixador; Tia Surita, da Portela, nossa embaixatriz, e Selminha Sorriso é a Musa das Musas. A gente procura valorizar sempre essa linha de frente. É importante para o dia a dia do Bola Preta”, afirmou o presidente da agremiação.

Camisa Verde e Branco abre hoje desfile do grupo especial em SP

A escola de Samba Camisa Verde e Branco abre hoje (9), às 23h15, a primeira noite de desfiles das escolas de samba do Grupo Especial de São Paulo. Serão sete escolas a se apresentar no Sambódromo do Anhembi, na zona norte da capital. 

A segunda escola a desfilar será a Barroca Zona Sul, que entrará na avenida à 0h20, seguida da Dragões da Real (01h25), Independente Tricolor (02h30), Acadêmicos do Tatuapé (03h35), Mancha Verde (04h40), e Rosas de Ouro (05h45). 

Primeira a entrar na avenida, a Camisa Verde e Branco, tradicional agremiação da Barra Funda, na zona oeste da capital, trará o samba-enredo Adenla – O Imperador nas Terras do Rei, que canta o poder e a fé dos africanos e dos negros brasileiros, e tem como personagens principais as divindades Oxóssi, Exu, Orunmilá, e Oxum.

Segunda a desfilar, a Escola de Samba Barroca Zona Sul, fundada em agosto de 1974, celebrará na avenida seus 50 anos de existência. Nós Nascemos e Crescemos no Meio de Gente Bamba, Por Isso que Nós Somos a Faculdade do Samba – 50 anos de Barroca Zona Sul será o samba-enredo da agremiação, conhecida como Faculdade do Samba, que cantará a história da escola, a influência de Cartola e da Mangueira, os desfiles na Avenida Tiradentes e sua velha guarda. 

África – Uma Constelação de Reis e Rainhas será o samba-enredo da Dragões da Real, terceira escola a entrar na avenida. A composição destaca a história não contada sobre o continente africano,  exalta seus grandes reinados e características como a coragem, a resistência, a diplomacia e a sabedoria dos negros. 

A Independente Tricolor levará para a avenida o samba-enredo Agojie, a Lâmina da Liberdade! que homenageia uma unidade de guerreiras amazonas, chamadas Agojie, que protegeu o reino africano de Daomé (atual Benim), governado pelo rei Ghezo, no início do século 19. A composição também exalta as anciãs e feiticeiras africanas.

Quinta escola a desfilar, a Acadêmicos do Tatuapé apresentará o samba-enredo Mata de São João – Uma Joia da Bahia Símbolo de Preservação! Entre Cantos e Tambores. Viva a Mata de São João!, que mostrará os atrativos da cidade baiana Mata de São João e sua relação com a cultura e religiosidade africana.

A Mancha Verde, vice-campeã do Grupo Especial em 2023, levará para o Anhembi o samba-enredo Do Nosso Solo Para o Mundo: o Campo que Preserva, o Campo que Produz, o Campo que Alimenta, composição que se inspira na cultura agrícola brasileira, canta a coragem e o trabalho dos agricultores e enaltece o verde do campo.

Rosas de Ouro, a última escola a entrar na avenida, homenageará no seu samba-enredo Ibira 70 – A Rosas de Ouro é São Paulo no Carnaval 2024 o aniversário de 70 anos do Parque do Ibirapuera, símbolo da cidade, fundado em 21 de agosto de 1954. “Espaço verde onde o tempo pra, transforma toda á energia do ar, reduto do esporte, da arte, cultura, saúde mais pura, corpo e mente sãos, é tão bonito contemplar o infinito”, diz a composição.