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Judoca Luiz Onmura, medalhista olímpico em 1984, morre aos 64 anos

Referência no judô brasileiro, Luiz Onmura morreu neste sábado (2) aos 64 anos, em Santos (SP), onde morava. Ele lutava contra um câncer (carcinoma espinocelular na língua), diagnosticado em 2022. Conhecido pelo apelido de Samurais, em razão de sua força física e técnica apurada, Onmura foi o primeiro judoca nascido no país a subir ao pódio olímpico nos Jogos de Los Angeles de 1984, na categoria até 71 quilos, quebrando jejum de 12 anos.

“Luiz Onmura representou com orgulho as cores do Brasil e os valores do judô e do olimpismo, demonstrando humildade e lutando bravamente pela vida. Toda a comunidade esportiva lamenta esta perda e presta solidariedade à família e aos amigos”, disse Paulo Wanderley Teixeira, presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), em nota de pesar da entidade.

Luiz Onmura foi o primeiro brasileiro nascido no país a conquistar uma medalha olímpica no judô, nos Jogos de Los Angeles (1984) – Reprodução Instagram/Luiz Onmura

Paulistano, Onmura disputou os Jogos de Moscou (1980) aos 20 anos, na categoria até 65 kg (meio-leve), mas foi quatro anos depois, já na categoria até 71 kg (leve) que ele entrou para a história do esporte nacional, ao conquistar o bronze nos Jogos de Los Angeles, encerrando um hiato de 12 anos, desde a primeira medalha do país (também bronze), conquistada por Chiaki Ishii, nos Jogos de Munique (1972). A última participação olímpica foi nos Jogos de Seul (1988). Após o bronze de Onmura, o judô brasileiro emplacou 40 anos de pódios consecutivos em Jogos Olímpicos, totalizando 28 medalhas

“A CBJ [Confederação Brasileira de Judô] lamenta profundamente a perda de um de seus maiores judocas, o primeiro medalhista olímpico nascido no Brasil. Mas, ficaremos para sempre com a lembrança das suas conquistas, que deram muitas alegrias à família do judô e ao povo brasileiro. Seu legado será eterno”, lamentou Silvio Acácio Borges, presidente da entidade. 

Na coleção de conquistas de Onmura, também está a medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos de San Juan (Porto Rico) em 1979, e outras duas pratas nas edições seguintes: Caracas (Venezuela) em 1983 e Indianápolis (Estados Unidos), em 1987. O judoca também foi bicampeão Campeonato Pan-Americano (1980 e 1988) e campeão sul-americano (1979).

“Onmura foi uma inspiração e um exemplo para todas as gerações seguintes de judocas. A conquista dele inaugurou uma série de 40 anos ininterruptos de pódios olímpicos para o Brasil e deixou um legado também de conduta fora dos tatames. Hoje a comunidade do judô está de luto”, afirmou campeão olímpico no judô Rogério Sampaio, atual diretor-geral do COB.

O Flamengo, um dos grandes clubes representados por Onmura, também prestou homenagem ao medalhista olímpico. em nota de pesar. Esportes.

O Clube de Regatas do Flamengo lamenta profundamente o falecimento de Luiz Onmura, ex-atleta de Judô, que vestiu o Manto nos anos 80. Muita força aos familiares e amigos neste momento de tristeza.

“Sou privilegiada por ter feito parte de uma geração tão vitoriosa. Bebi d’água da…

— Time Flamengo (@TimeFlamengo) November 2, 2024

Após deixar os tatames como atleta, Onmura trabalhou na Polícia Civil de São Paulo, como instrutor de tiro e defesa pessoal até se aposentar. Nos Jogos Rio 2016, Onmura conduziu a tocha olímpica pelas ruas da cidade. Ele deixa a esposa Stefania Ribeiro Onmura, e as filhas Giulia Onmura e Yumi Ribeiro Onmura. 

Bombeiros encerram trabalhos três dias após incêndio na região do Brás

Três dias de um incêndio de grandes proporções atingir um shopping no Brás, o Corpo de Bombeiros anunciou na manhã deste sábado (2) ter encerrado, com sucesso, os trabalhos de rescaldo. Segundo comunicado da corporação, o local agora está seguro e sob a responsabilidade do proprietário.

O Shopping 25 Brás, localizado na Rua Barão de Ladário, na região central da capital paulista, pegou fogo na manhã da última quarta-feira (30). Ao menos 24 viaturas e 76 agentes trabalharam no combate às chamas.

A Defesa Civil estimou que ao menos 200 pequenas lojas do shopping foram atingidas, e o telhado do edifício colapsou. A estimativa dos comerciantes é de que os prejuízos cheguem a mais de R$ 25 milhões.

Após ter feito uma vistoria no local ontem (1°), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, anunciou que vai disponibilizar R$ 100 milhões em crédito emergencial para auxiliar os lojistas na recuperação dos prejuízos.

Segundo o governo paulista, os lojistas poderão solicitar acesso ao crédito a partir da semana que vem.

A região do Brás é muito conhecida por seu comércio popular. De acordo com o governo estadual, a região reúne cerca de 6 mil lojas de comércio popular.

TV Brasil transmite quatro duelos da 35ª rodada do Brasileirão Série B

A TV Brasil exibe quatro jogos da 35ª rodada do Campeonato Brasileiro da Série B. A competição está próxima da reta final com a definição dos clubes classificados para a elite do futebol nacional em 2025 e os times rebaixados para a Série C.

A jornada esportiva da emissora pública acompanha as partidas Chapecoense (SC) x Novorizontino (SP), neste sábado (2), às 17h; Ceará (CE) x Avaí (SC), neste domingo (3), às 18h30; Ponte Preta (SP) x Paysandu (PA), nesta segunda (4), às 21h; e Brusque (SC) x Botafogo (SP), nesta terça (5), no mesmo horário.

A cobertura da TV Brasil para essas disputas começa antes do apito inicial com um pré-jogo. Durante esse período, a equipe do canal traz informações atualizadas sobre a tabela, revela novidades sobre os clubes e comenta a escalação dos times.

Partidas da 35ª rodada

No sábado (2), o confronto Chapecoense x Novorizontino tem narração de Luciana Zogaib na telinha da TV Brasil. A bancada de comentários é conduzida por Rodrigo Ricardo e Carlos Molinari. Direto da Arena Condá, em Chapecó, Santa Catarina, o repórter Igor Santos traz as informações do gramado. A transmissão começa às 16h45 e a bola rola às 17h.

Com 40 pontos, a equipe mandante está na 13ª posição e busca se afastar da zona de rebaixamento. A Chapecoense tem 10 vitórias, 10 empates e 14 derrotas. Já o Novorizontino é o vice-líder da Série B do Brasileirão com 60 pontos. Um triunfo aproxima o time paulista do acesso à elite do futebol nacional. O clube soma 17 resultados positivos, nove empates e somente oito jogos perdidos.

No domingo (3), a jornada esportiva vai ao ar a partir das 18h na TV Brasil com a cobertura do confronto Ceará x Avaí. A voz de André Marques traduz as emoções, enquanto as análises táticas e comentários são de Brenda Balbi e Rodrigo Ricardo. A disputa começa às 18h30 no Castelão, em Fortaleza, capital cearense.

O time da casa está em quinto na tabela e precisa da vitória para manter as chances de conquistar uma vaga no G4 da competição. O Ceará tem 54 pontos, cinco a menos que o Mirassol, que ocupa a quarta posição no campeonato. A equipe venceu 16 partidas, empatou seis e foi derrotada em 12.

O Avaí está com desempenho mediano, em 11º, com 46 pontos, sem grandes expectativas na competição. O clube não tem mais chances de subir para a Série A e remotas possibilidades de descenso para a Série C. A campanha é de 12 vitórias, 10 empates e 12 derrotas.

A TV Brasil acompanha a partida Ponte Preta (SP) x Paysandu (PA) disputada no estádio Moisés Lucarelli, em Campinas, às 21h de segunda (4). O aquecimento da transmissão entra no ar às 20h45. Luciana Zogaib narra o jogo que tem os comentários de Rodrigo Ricardo. Direto do estádio, o repórter Lincoln Chaves acompanha os lances e traz as notícias.

Na primeira posição acima da zona de rebaixamento, no 16º lugar, com 38 pontos, a Ponte Preta tem que vencer para aumentar a vantagem para os adversários abaixo na tabela. A equipe ganhou dez duelos, empatou oito e foi superada em 16. O Paysandu tem um retrospecto um pouco melhor, mas que ainda inspira cuidados. O time paraense soma 40 pontos, com nove vitórias, 13 empates e 12 derrotas.

O destaque esportivo da programação de terça (5) na TV Brasil é o embate Brusque (SC) x Botafogo (SP). Os rivais se enfrentam por uma melhor colocação na parte de baixo da tabela da Série B do Brasileirão. A disputa inicia às 21h, mas o canal público entra em campo às 20h45. Rodrigo Campos narra e Rodrigo Ricardo comenta o jogo que ocorre no estádio Augusto Bauer, em Brusque, Santa Catarina.

Penúltimo lugar no campeonato, o time da casa está com apenas 33 pontos e só a vitória interessa ao Brusque na luta pela permanência na Série B. A equipe só ganhou sete partidas, empatou 12 e perdeu 15. Já o Botafogo faz uma campanha irregular, com muitos altos e baixos na competição. Atualmente, o clube paulista está em 15º com 39 pontos e tem nove vitórias, 12 empates e 13 derrotas.

Saiba como assistir aos jogos da Série B na TV Brasil

A transmissão da Série B faz parte da estratégia da TV Brasil de ampliar a presença do esporte na sua programação. A emissora já acompanhou a decisão da Série D, o Campeonato Brasileiro Feminino da Série A1, a final do Brasileirão Feminino Sub-17, as fases decisivas das Séries A2 e A3 do futebol feminino e as disputas da Liga de Basquete Feminino (LBF).

Por meio da Rede Nacional de Comunicação Pública (RNCP), que reúne mais de 126 emissoras afiliadas da TV Brasil, os torcedores de todo o país poderão assistir às partidas e acompanhar seus times na disputa pelo título. Saiba como sintonizar a TV Brasil na sua cidade.

Transmissão da Série B

Neste ano, 20 clubes disputam o campeonato que vai até novembro e vale vaga na Série A e na Copa do Brasil. Dos 380 jogos da competição, a TV Brasil exibe 114 partidas.

Disputam a competição os seguintes clubes: Amazonas (AM), América (MG), Avaí (SC), Botafogo (SP), Brusque (SC), Ceará (CE), Chapecoense (SC), Coritiba (PR), CRB (AL), Goiás (GO), Guarani (SP), Ituano (SP), Mirassol (SP), Novorizontino (SP), Operário (PR), Paysandu (PA), Ponte Preta (SP), Santos (SP), Sport (PE) e Vila Nova (GO).

Em 2024, a Série B será disputada no sistema de pontos corridos, em turno e returno, com 19 jogos de ida e 19 jogos de volta. Os quatro primeiros conquistam uma vaga na Série A em 2025 e os quatro últimos são rebaixados para a Série C.

Ao vivo e on demand

Acompanhe a programação da TV Brasil pelo canal aberto, TV por assinatura e parabólica. 

Seus programas favoritos estão no TV Brasil Play, pelo site ou por aplicativo no smartphone. O app pode ser baixado gratuitamente e está disponível para Android e iOS. Assista também pela WebTV.

Serviço

Brasileirão Série B 2024 na TV Brasil

Chapecoense (SC) x Novorizontino (SP) – sábado, dia 2/11, a partir das 16h45, na TV Brasil

Ceará (CE) x Avaí (SC) – domingo, dia 3/11, a partir das 18h, na TV Brasil 

Ponte Preta (SP) x Paysandu (PA) – segunda-feira, dia 4/11, a partir das 20h45, na TV Brasil

Brusque (SC) x Botafogo (SP) – terça-feira, dia 5/11, a partir das 20h45, na TV Brasil

Enem 2024: como saber o local de provas deste domingo

No último dia antes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2024, os candidatos devem conhecer o local onde farão as provas nos domingos 3 e 10 de novembro.

A informação está disponível no cartão de confirmação de inscrição, que pode ser acessado na Página do Participante do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) com login e senha do site Gov.br.

Além do local de prova (com nome da instituição de ensino e número da sala de aplicação), o documento traz outras informações: número de inscrição, data, horário e além de registrar que o inscrito terá direito a atendimento especializado ou tratamento pelo nome social, quando for o caso.

Acesso ao cartão 

Para obter o cartão de confirmação de inscrição, o candidato deve acessar a Página do Participante e entrar com sua senha do Gov.br. À esquerda da tela, clicar em “Local de Prova” e, no ícone em azul apresentado pelo assistente virtual (Local de Prova). O sistema abrirá o cartão de confirmação de inscrição. 

Para imprimir, basta descer a tela até o fim da página e clicar no botão “Imprimir”.

Ao acessar a Página do Participante por um celular, o candidato deve verificar se o Cartão de Confirmação foi aberto em outra aba do navegador.

Recomendações

O Inep recomenda levar o cartão de confirmação de inscrição impresso nos dois dias do exame, apesar de não ser obrigatório.

Neste sábado (2), especialistas aconselham planejar o deslocamento e, caso não conheça a instituição de ensino onde fará a prova, indicada no cartão de confirmação, o candidato deve percorrer o trajeto para evitar erros de endereço e, ainda, calcular o tempo necessário para chegar à localidade, com prazo suficiente para ocorrência de possíveis imprevistos.

Se for usar o transporte público, o participante deve verificar as linhas que passam próximas ao lugar e se haverá alguma modificação promovida pelo governo local, como linhas especiais, horário estendido ou passe livre, como solicitado pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes).

Dia da prova

Neste domingo (3), o candidato deve ir ao local de provas com antecedência, considerando possíveis incidentes, como engarrafamentos, atrasos no transporte público, acidentes de trânsito ou condições meteorológicas adversas. O ideal é chegar ao local da prova com uma hora de antecedência.

Nos dois domingos de realização do exame, os portões de acesso aos locais de provas serão abertos ao meio-dia e fechados às 13h (horário de Brasília). Após o fechamento dos portões, o inscrito atrasado será impedido de passar pelo portão e, consequentemente, será eliminado desta edição do Enem.

As demais recomendações são de levar os materiais obrigatórios e não portar itens proibidos:

Ao entrar na sala de aplicação das provas, o candidato deve desativar os alarmes do celular, desligá-lo e guardar o aparelho, bem como relógio analógico, no envelope porta-objetos fornecido pelos fiscais de sala.

Também é aconselhado vestir roupas e sapatos confortáveis para não ter incômodos no longo período em que ficará sentado. O candidato ainda pode levar um agasalho, em caso de sentir frio em salas com ar condicionado.

Em relação a apresentação obrigatória de um documento de identificação oficial com foto e válidos, o candidato deve observar as listas de quais documentos são ou não aceitos pela organização da prova.

 

Primeiro dia de Enem

Neste domingo (3), a aplicação das provas terá início às 13h30 e término às 19h, na aplicação regular. Mais de 4,3 milhões de inscritos confirmados vão testar os conhecimentos em 45 questões de múltipla escolha de linguagens (língua portuguesa, literatura, língua estrangeira, artes, educação física e tecnologias da informação e comunicação) e outras 45 questões de ciências humanas (história, geografia, filosofia e sociologia), além da prova de redação, que deve ter entre sete e 30 linhas.

Para mais informações, acesse o edital do Enem 2024 com as regras válidas.

Familiares homenageiam entes queridos em Dia de Finados

Brasília (DF), 02/11/2024 – Maria de Jesus, 70, visitou o túmulo do filho no cemitério Campo da Esperança. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A aposentada Maria de Jesus, de 70 anos, lançava um olhar de afeto e serenidade para o túmulo do filho, Sebastião Evangelista, enquanto um funcionário do cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul, em Brasília, limpava a lápide e plantava muda de grama nova.

“Eu sempre venho nessa data, só durante os anos de pandemia que não vim, mas tem que cuidar. Eu sei que ele sente. A vida continua, e ele tá seguindo a vida espiritual dele em outro plano”, contou à reportagem da Agência Brasil na manhã deste sábado (2). Seu filho, o terceiro de seis, faleceu com apenas 27 anos, em 2006. Acompanhada da filha, ela repete esse  ritual há quase 18 anos. “É uma homenagem do amor e da saudade, e de saber que ele está vivo em nossa memória”.

Feriado nacional observado anualmente em 2 de novembro, o Dia de Finados segue uma secular tradição católica de homenagem aos mortos. A data atrai milhões de pessoas aos cemitérios de todo o país. No Distrito Federal, a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus-DF), responsável por coordenar a concessão dos cemitérios do DF, estima que mais de 600 mil pessoas passarão pelas seis unidades cemiteriais públicas neste sábado. 

Para acolher os familiares que vêm visitar seus entes queridos, o governo distrital mobilizou um grande contingente de policiais e servidores públicos. Tendas para atendimentos com psicólogos, orientações sobre serviços funerários e atendimento de ouvidoria estão sendo oferecidos à população, além da disponibilização de vans para circulação entre diferentes pontos. Os cemitérios do DF seguirão com os portões abertos das 7h às 18h, em horário estendido. Além da Asa Sul, o DF conta com cemitérios nas regiões administrativas de Taguatinga, Gama, Sobradinho, Planaltina e Brazlândia.

O movimento no Campo da Esperança, o maior cemitério da capital federal, era intenso pela manhã, com muitos fluxo de carros e milhares de pessoas. Idalina Amorim Oliveira, 73 anos, visitava os túmulos do cunhado e da irmã, falecida há apenas um ano. “O processo de luto é muito gradativo, mas cada vez que eu venho aqui, me recordo do amor que nunca vai acabar”, relata.

Para a subsecretária de Assuntos Fundiários da Sejus-DF, Gilce Santanna, o movimento de visitação ocorre apenas no dia 2 de novembro, mas um dia antes e depois. “Ontem estava muito cheio e amanhã o movimento deve continuar”.

Grupos de acolhimento espiritual e missas realizadas pela Arquidiocese de Brasília também ocorrem ao longo do dia.

 

“Escolas sem paredes” buscam garantir educação em Gaza

Em meio a escombros, em tendas improvisadas nas ruas, equipes de professores tentam juntar crianças e adolescentes em Gaza para tentar garantir não apenas o direito à educação, mas também para oferecer apoio psicossocial e, diante de tantas mortes, tentar lembrá-los da própria humanidade. Este é o trabalho do Centro de Criatividade para Professores, organização palestina sem fins lucrativos.

O diretor geral da organização, Refaat Sabbah, esteve em Fortaleza, na Reunião Global de Educação e conversou com a reportagem da Agência Brasil: “educação não é apenas ensinar o estudante a ler e escrever, é também ensiná-lo sobre a vida, em meio a crise”. 

“É também ensiná-los a lidar com problemas sociais porque, no mundo, as pessoas se tornam egoístas e, às vezes, perdem a solidariedade. Eu posso te afirmar, não há educação sem uma clara e sólida definição do que é ser um ser humano.”

Desde o início da guerra na faixa de Gaza, Israel matou mais de 43 mil palestinos, sendo que quase 19 mil são crianças, de acordo com a Federação Palestina no Brasil. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), até meados de outubro, 1,9 milhão de pessoas, correspondente a 91% da população de Gaza, precisou se deslocar dentro do próprio território.

“Às vezes eu penso que estou em um pesadelo. Que não é realidade. De manhã, eu acordo e penso: isso é mesmo verdade? O que está acontecendo?”, diz Sabbah.

Segundo ele, o Centro de Criatividade para Professores atendeu a mais de 200 mil crianças e cerca de 100 mil famílias. “Ajudamos eles a tentar entender e a lidar como os sentimentos que estão tendo. Mães que não sabem como lidar com as crianças que perderam os pais na guerra e as crianças que não sabem lidar com as mortes”, diz.

O Centro se inspira nos ideais do pensador e educador brasileiro Paulo Freire. O próprio Sabbah cita o conceito de escola sem muros, que é uma unidade integrada com a comunidade e também de que não existe educação neutra.

Em Gaza, é impossível se fechar em escolas, ignorando a realidade ao redor. Até mesmo porque muitas dessas instituições não existem mais. Segundo o relatório de Monitoramento Global da Educação (GEM) 2024 da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), 61% das escolas em Gaza foram atingidas diretamente.

“Começamos a fazer escolas abertas, escolas sem paredes, porque Israel destruiu tudo. A ideia é fazer escolas não importa onde, nos escombros, em tendas, nas ruas. Apenas começar com as crianças que estão com medo.”

E explica: “através da educação, é possível ajudar estudantes, professores, crianças a entender o problema e a ideologia. O que está acontecendo? Por que os Estados Unidos estão fazendo isso? Por que Israel está fazendo isso? Por que estão matando as pessoas sem nenhuma misericórdia? Por que estão destruindo as casas, a história e o futuro das crianças?”.

Sabbah também é membro do Comitê Diretor de Alto Nível para garantia do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 4 da ONU, voltado para a educação, e presidente da Campanha Global pela Educação, movimento da sociedade civil voltado para garantia do direito à educação em todo o mundo. 

Participar de encontros internacionais, como o que ocorreu Fortaleza, é também um momento para falar sobre o genocídio que está ocorrendo em Gaza e buscar apoio.

“Nós ficamos chocados com o silêncio da maioria dos países, embora, oficialmente, eu sei que as pessoas, em geral, apoiam os direitos dos palestinos e são contra o genocídio. Eu vim direto da Palestina para cá porque eu acredito que esse espaço pode ajudar, que podemos falar.”

*A repórter viajou a convite do Ministério da Educação

Série de Joel Zito sobre cinema africano estreia na TV Brasil

No mês da Consciência Negra, a TV Brasil apresenta uma programação especial com produções temáticas para debater temas como cultura negra, ancestralidade e combate ao preconceito por meio do audiovisual. A emissora pública destaca conteúdos desenvolvidos através do edital Prodav TVs Públicas.

A partir do dia 2 de novembro, o canal exibe duas atrações documentais independentes em sequência, aos sábados, na faixa das 23h, ambas com cinco edições. O seriado Voz da Pele aborda o racismo na sociedade brasileira. Logo depois, às 23h30, a novidade é a estreia da série Encontros com o Cinema Africano, obra criada, dirigida e apresentada pelo cineasta Joel Zito Araújo.

A produção Voz da Pele traz depoimentos de importantes pensadores negros da atualidade como Muniz Sodré, Rosane Borges, Flavio Gomes, Katiúscia Ribeiro, Rosana Paulino, Ana Flavia Magalhães, Renato Noguera, Alexya Salvador, Veronica Oliveira, Mônica Lima e Paco Gomes.

Cinema Africano

Novo conteúdo da programação do canal público, a série documental de Joel Zito Araújo busca refletir sobre estéticas e narrativas da sétima arte. A atração inédita revela a cena do cinema africano contemporâneo e traça um panorama sobre sua trajetória para o público brasileiro.

O seriado constrói essa narrativa ao acompanhar as viagens e as visitas feitas pelo cineasta a grandes diretores em diferentes países do continente. A produção exibida com exclusividade pela TV Brasil traz um papo do anfitrião com personalidades que fizeram história na sétima arte, ultrapassaram as fronteiras da África e conquistaram repercussão internacional. O primeiro convidado é o cineasta mauritano Abderrahmane Sissako.

As conversas de Joel Zito com diretores de vários países do continente são intercaladas com cenas dos filmes desses entrevistados. A série Encontros com o Cinema Africano também mostra trechos de outros longas mencionados que estão no contexto dos diálogos.

“Entendo essa série como um veículo de aproximação da riqueza e da diversidade do cinema africano, um grande ausente em nossas telas de cinema e TV, e na formação da grande maioria dos cineastas brasileiros e brasileiras”, explica Joel Zito.

A produção dedica dois programas para cineastas do continente que se tornaram grandes referências mundiais na direção, o etíope Haile Gerima e o mauritano Abderrahmane Sissako. Em três edições, a série contempla a lusofonia ao mergulhar no cinema de países que falam a língua portuguesa: Angola, Moçambique e Cabo Verde.

“Creio que o cinema, em seus diferentes gêneros, como as séries, é uma porta de entrada para conhecer a alma de um povo, de um país e até de um continente. Encontros com o Cinema Africano também busca cumprir esse papel: aumentar o nosso conhecimento sobre a África através de sua história cinematográfica”, define o responsável pelo seriado.

Referência no cinema negro, Joel Zito fomenta o debate e a relação entre culturas. A obra que ganha primeira janela na TV Brasil busca, também, de forma indireta, mostrar os vínculos da sétima arte brasileira com o cinema realizado pelos africanos do continente e da diáspora.

Brasília (DF) 01/11/2024 Estreia da série documental Encontros com o Cinema Africano, obra criada, dirigida e apresentada pelo cineasta Joel Zito Araújo. Foto TV Brasil – Foto TV Brasil

Joel Zito

Diretor, roteirista e produtor, conhecido por tematizar o negro na sociedade brasileira, a obra de Joel Zito Araújo inclui o livro e filme A Negação do Brasil (2000), ganhador do Festival É Tudo Verdade no ano seguinte.

O cineasta fez os longas ficcionais Filhas do Vento (2005), ganhador do Festival de Tiradentes e de 8 Kikitos no Festival de Gramado, e O Pai da Rita (2022). Também realizou os docs Cinderelas, Lobos e um Príncipe Encantado (2009), Raça (2013) e Meu Amigo Fela (2019), com diversos reconhecimentos internacionais.

Os últimos trabalhos de Joel Zito foram as séries documentais PCC – Poder Secreto (2022), para a HBOMAX, e A Ética do Silêncio (2023), para o Canal Curta. Ele também conquistou outros prêmios como o de Roteirista Homenageado de 2022 pela Associação Brasileira de Autores Roteiristas e o troféu Eduardo Abelin, no Festival de Gramado.

Primeiro episódio

Considerado o cineasta mais influente da África contemporânea, Abderrahmane Sissako conversa com Joel Zito no programa de estreia da série Encontros com o Cinema Africano. O diretor bate um papo com o amigo sobre suas obras e a respeito de sua forma de pensar a sétima arte.

Natural da Mauritânia, Abderrahmane Sissako migrou para o Mali em 1962. O cineasta foi presidente do júri do Festival de Cannes em 2015. Desde 1991, dirigiu 14 filmes e recebeu 37 grandes prêmios em sua carreira. Uma de suas produções mais recentes, o drama “Timbuktu” (2014), ganhou sete césares e concorreu ao Óscar de melhor filme estrangeiro em 2015.

Conteúdo independente

Os seriados documentais Voz da Pele e Encontros com o Cinema Africano são apresentados pela TV Brasil todo sábado a partir das 23h, em sequência, com horário alternativo durante a madrugada, a partir das 4h. As produções são conteúdos audiovisuais selecionados pela linha de fomento do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), através do Prodav TVs Públicas.

A TV Brasil é um dos canais que mais exibe conteúdo independente nacional. Além de ser uma grande apoiadora da produção de atrações dessa natureza no mercado audiovisual do país, a emissora estimula novos realizadores.

Prodav

O Prodav é uma parceria entre a Agência Nacional do Cinema (Ancine), o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) para incentivar a produção regional e independente.

A proposta é ofertar esse conteúdo para as emissoras públicas de televisão. A EBC distribui o material ao disponibilizar as obras para todos os canais de televisão do campo público que aderirem ao projeto.

Preço de enterros triplica após concessão de cemitérios em SP

A concessão da gestão dos cemitérios municipais à iniciativa privada, repassada às administradoras em março do ano passado, elevou os preços dos enterros e cremações na cidade de São Paulo. Levantamento do Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep) mostrou que os valores de pacotes para realização do funeral mais que triplicaram em cemitérios da cidade após a concessão.

Quatro empresas assumiram a administração do serviço funerário na capital paulista. Ao todo, são 22 cemitérios públicos e um crematório. Os contratos preveem que as concessionárias são responsáveis pela operação dos serviços, gestão, manutenção, exploração, revitalização e expansão das unidades. A vigência do contrato de concessão é de 25 anos.

“A principal questão é o valor do serviço que aumentou muito. Essa é a principal denúncia que existe, os preços são exorbitantes. E é facilmente comprovado pela tabela que eles próprios [empresas] divulgam”, disse o secretário de assuntos jurídicos do Sindsep, João Batista Gomes. Ele avalia que a alta nos preços está diretamente ligada à concessão das unidades. O levantamento contempla as duas empresas que disponibilizam os valores no site, cujas concessões abrangem 11 cemitérios.

Ele relatou que a privatização prejudicou também o encaminhamento de denúncias, já que todos os servidores municipais foram deslocados e substituídos por funcionários das empresas. “Esses trabalhadores até tem sindicato, mas é muito frágil a relação [de trabalho] deles. Então o pessoal tem medo de denunciar”, disse Gomes.

O vereador Hélio Rodrigues afirma que, desde o início da concessão, recebeu inúmeras denúncias sobre os cemitérios e as cobranças indevidas realizadas pelas concessionárias. Ele reiterou a relação entre a privatização e o encarecimento do serviço. “Sem dúvida, esses reajustes são consequência da concessão. Também existem muitos relatos de cobranças de valores diferentes do que consta nas tabelas oficiais e falta de transparência em relação aos valores praticados”, relatou.

“Também tivemos muitas denúncias dos trabalhadores, como é o caso dos jardineiros e empreiteiros autônomos que prestam serviços nos cemitérios e estão regulamentados por uma portaria do município, mas sofrem assédio frequente das concessionárias que dificultam seu acesso aos locais, abordagem a famílias e a realização de seus trabalhos. Nosso mandato conseguiu a renovação da autorização de trabalho até dezembro de 2024”, acrescentou.

Os encaminhamentos do parlamentar incluem ofício para a Secretaria Nacional dos Direitos do Consumidor noticiando a cobrança indevida de diversos serviços, como a tanatopraxia (um tipo de limpeza do corpo) em duplicidade, e representações ao Tribunal de Contas do Município (TCM) sobre auditoria nos cemitérios.

O TCM reconheceu a falta de informações divulgadas pelas empresas acerca da gratuidade e dos preços dos funerais aos munícipes. O tribunal reconheceu também o descumprimento de uma comunicação visível e de fácil acesso aos munícipes informando que não são obrigados a contratar o serviço de jardinagem e manutenção dos jazigos diretamente com a concessionária, e que eles têm a livre escolha de contratação de profissionais autônomos.

Até janeiro deste ano, as concessionárias atuaram com acompanhamento do Serviço Funerário do Município de São Paulo, como parte da fase de implementação. A Agência Reguladora de Serviços Públicos do Município de São Paulo (SP Regula) é responsável pela fiscalização e gestão contratual das concessões.

Prefeitura

A prefeitura de São Paulo informou, em nota, que a qualidade dos serviços e o cumprimento de todas as cláusulas contratuais da concessão são monitoradas periodicamente pela SP Regula. “É fundamental que os munícipes formalizem as reclamações ou sugestões por meio da Ouvidoria Geral do Município, do site da SP Regula ou pelos canais de atendimento SP156. Todos os casos são rigorosamente apurados”, diz a nota.

“O funeral social (pacote mais barato comercializado hoje) custa R$ 566,04, ou seja, 25% mais barato do que o pacote ‘Jasmim’, que era o mais barato antes da concessão (R$ 754,73). Os demais pacotes mantiveram os preços de 2019, com apenas a correção prevista no primeiro ano de contrato”, acrescentou a prefeitura.

A nota diz ainda que “desde o início da concessão, houve avanços na qualidade dos serviços, com a implementação de padrões mínimos para urnas funerárias e cinerárias, definição do tempo de velório e monitoramento do corpo”.

Celso Vitor Souza, de 61 anos, disse que a concessionária do cemitério Vila Nova Cachoeirinha não presta informações que esclareçam sobre as antigas concessões de uso de jazigo, feitas antes da concessão dos cemitérios à iniciativa privada. Este é o caso de sua família, que está sendo cobrada em R$ 20 mil para renovação da concessão de uso. No local, foram enterrados os pais e irmão de Celso.

“Em julho deste ano, a família foi realizar a exumação [do meu irmão] e foram impedidos. Os agentes funerários alegaram que a concessão venceu e era necessário o pagamento de R$ 20 mil. Procurei a Defensoria Pública, que exigiu as informações por escrito. Só então foi permitida a exumação. No entanto, até o momento continuo sem saber quais são os meus direitos com relação ao túmulo da família”, relatou Celso.

Finados: “saudade é pior que pobreza”, diz idosa em situação de rua

Uma lona preta desgastada, apoiada por madeiras fincadas na terra, em área de calçada, cobre a vida da aposentada baiana Luzia Cavalcante, de 67 anos. “Mas estar na rua não é a minha maior dor. Pior que a pobreza é a saudade”, lamenta. 

Com a vassoura na mão, a mulher nascida em Campo Alegre de Lourdes (BA) buscava afastar a poeira jogada pelos carros que passam acelerados por uma via expressa na Asa Norte, em Brasília. 

“Eu varro a rua na frente de casa para passar o tempo. Todos os anos, preparo minha cabeça para o Dia de Finados (2), o meu pior dia da vida”. É quando ela vai visitar os túmulos do marido Raimundo, falecido com câncer de esôfago, há 28 anos, e do filho João, assassinado aos 18 anos, em 2019. 

Foi pela memória do filho que Luzia passou três dias buscando doação e empréstimo para juntar R$ 3 mil e conseguir sepultar o corpo do rapaz em um cemitério de Planaltina (DF). Teve dificuldades de pedir ajuda porque não sabe escrever sobre a dor e a necessidade que estava passando. 

“Penso neles a toda hora. Tem gente que nos vê vivendo na rua e pensa que a gente é acostumado a viver na dor. Eu nunca me acostumei a viver sem eles”, lamentou.

Até a morte do rapaz, eles viviam em uma casa “humilde” na cidade de Vianópolis (GO). 

Brasília (DF) 01/11/2024 Luzia Cavalcante perdeu o marido e o filho. Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

Luto

Mas a dor e “outros motivos” levaram parte da família a viver em uma barraca na rua. Levantamento do Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPE-DF), divulgado no ano passado, mostra que o número de pessoas em situação de rua nessa unidade federativa é de 2.938. 

A morte de familiares é citada como um dos principais motivos que levam pessoas para essa condição. Em todo o Brasil, segundo o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, são 236,4 mil.

A correria de Luzia envolve tentar cuidar dos outros nove filhos que ficaram, incluindo a caçula que sofre de anemia profunda e não anda. A barraca onde vivem foi instalada próxima ao hospital público na Asa Norte em que a jovem de 18 anos faz tratamento. 

“Amanhã é dia de ir ao cemitério. Segunda é para ir ao hospital”. Atualmente, ela sobrevive com o Benefício de Prestação Continuada (BPC), do governo federal, e tenta, nos dias que volta a Goiás, cultivar a roça na casa de amigos. Ela queria cuidar mais dos túmulos em que os amores da vida dela estão enterrados.

Invisibilidade

Luzia não sabia, mas, no Distrito Federal, onde ela vive, há a possibilidade de que pessoas em vulnerabilidade recorram ao sepultamento social. A secretaria de Desenvolvimento Social garante que divulga o serviço para o público-alvo. São exigidos para o benefício documentos oficiais, como o comprovante de renda, que não pode ultrapassar 50% do salário mínimo na casa da pessoa.

Conforme explica a professora de serviço social Larissa Matos, do Centro Universitário de Brasília (Ceub), pessoas em situação de rua, mesmo vivendo em áreas urbanas, à vista da multidão da metrópole, estão invisibilizadas, inclusive pelas políticas públicas e pela sociedade. Assim, também invisibilizadas também na situação de luto. 

“A fragilidade em que vivem pode aprofundar ainda mais os sentimentos da perda e as lembranças de um outro momento de vida”, diz a pesquisadora.

Saudade diária

Outra baiana na capital do Brasil, que define a vida como uma “saudade diária”, é Maria dos Santos, de 60 anos. Ela, que mudou de Xique-Xique (BA) para a capital do país quando era adolescente, diz que a perda dos pais de forma precoce fez também com que perdesse a casa e o rumo da vida. 

Maria também vive sob uma lona, ao lado de uma obra na capital.

“Quando eles eram vivos, tínhamos uma roça. Eles estão enterrados em Goiás. Não tenho como ir lá ver. Não tenho dinheiro para viajar. Até queria, mas não dá”, lamenta. 

Por falar em saudades, o pernambucano Sebastião de Lima, de 59 anos, que vive sob uma lona na Asa Sul, diz que sonha todos os dias com a mãe, que morreu há três décadas. “O corpo dela está enterrado lá em Olinda (PE). Não tenho como visitar. Mas eu queria. Era ela a pessoa que me dava carinho na vida. Tudo piorou depois”.  Não seguiu na escola e só podia trabalhar para sobreviver.  

Ele hoje trabalha com reciclagem, mas tem dificuldades de recolher materiais com as mãos. O homem sofreu um acidente há 20 anos enquanto consertava uma cerca. No ano seguinte, sofreu com a morte de um irmão e um sobrinho de 14 anos de idade. 

“Eles foram enterrados em cova rasa, mas é em um lugar longe daqui. Fico só no meu barraco chorando e rezando por eles no dia dos mortos”.

Brasília (DF) 01/11/2024 – O pernambucano Sebastião Lima lembra a mãe, que morreu há três décadas. Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

 

Na reta final do Enem, alunos participam de aulões e tentam relaxar

A dois dias da aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2024, candidatos e professores de várias partes do país participam de aulões coletivos de revisão do conteúdo nesta sexta-feira (1º).

Mais de 4,3 milhões de inscritos confirmados vão testar os conhecimentos em 45 questões de múltipla escolha de linguagens (língua portuguesa, literatura, língua estrangeira, artes, educação física e tecnologias da informação e comunicação) no próximo domingo (3) e outras 45 questões de ciências humanas (história, geografia, filosofia e sociologia), além da prova de redação, que deve ter entre sete e 30 linhas.

Em Brasília, o Colégio Sigma reuniu, nesta tarde, mais de 400 estudantes e professores na quadra esportiva da instituição. O professor de geografia Flávio Bueno, que subiu no palco montado para o aulão, destacou que a preparação do último dia de estudo é direcionada às questões com mais chances de cair no Enem.

“Agora é a hora de fazer o ajuste fino e mostrar que todo o trabalho que esses alunos tiveram durante todo esse período foi bacana. E nós, professores, estamos aqui para evidenciar o que foi feito de bom, deixar o que não foi legal para trás e fazer tudo para pisar no acelerador rumo à vitória.”

Brasília (DF) 1º/11/2024 – Aulão preparativo antes das provas do Enem 2024. Foto: José Cruz/Agência Brasil

Na reta final, a aula coletiva de quatro horas serviu para esclarecer dúvidas, dar dicas de estudo, resolver questões de provas de edições anteriores do Enem, em um simulado ao vivo, e, ainda, repassar instruções sobre o exame, como horário de fechamento dos portões nos cerca de 10 mil locais de provas, e duração das provas, que no primeiro dia terá 5 horas e 30 minutos.

Descontração

Fora das quatro paredes das salas de aula, os docentes prepararam aulas dinâmicas, com gincanas, interação pessoal e estratégias para otimizar o desempenho, mas promover também momentos de distração dos candidatos. Houve momentos de cantoria coletiva, dança, uso de fantasia de Cosplay e Halloween (dia das bruxas), celebrado nesta semana.

Brasília (DF) 01/11/2024 – Professor Tiago Diana dá dicas aos alunos antes do Enem 2024. Foto: José Cruz/Agência Brasil

O professor de história e sociologia, Tiago Diana, conversou com os alunos do chamado terceirão (terceiro ano do ensino médio) para desacelerar após meses de estudo de grande volume de conteúdo.

“Tem muitas dicas importantes que são faladas aqui. Hoje, por esse momento ser simbólico e marcante, eles vão lembrar na hora da prova”, disse Tiago Diana.

E justamente para aliviar tensões e revisitar lições que o estudante Vitor Rocha Menezes, de 17 anos, decidiu participar da grande aula. Vitor quer cursar física no ensino superior e, apesar de se sentir confiante com a preparação realizada nos três anos do ensino médio, somada ao apoio dos familiares e professores, tem uma inquietação.

“Nesta reta final, a gente fica muito ansioso pelo o que vai acontecer na hora da prova, qual vai ser o tema da redação e nem dorme direito. A gente pode se frustrar e, por isso, é importante relaxar”.

Historiadora há dez anos, Keilla Vila Flor é professora de uma matéria intitulada projetos de vida, que aborda o empreendedorismo, a convivência social e a formação cidadã. Keilla é defensora dos aulões motivadores como estratégia para reduzir a ansiedade dos estudantes. “É importante para aliviar a pressão que sentem durante todo o ensino médio. Aqui, eles podem ver que outras pessoas estão na mesma condição e, juntos, também podem se acalmar, descontrair, ficarem bem tranquilos para brilharem na prova.”

Quem embarcou na coreografia ao som de axé, foi a jovem Giulia Costa Nascimento, 18 anos, que já se vê como aluna do curso de Psicologia na Universidade de Brasília (UnB). “Estou calma porque eu sei que eu estudei suficientemente para isso durante três anos. Não tenho que ficar com ansiedade, pois sei que eu vou fazer bem, o que eu nasci para fazer e o que eu quero fazer”, diz, decidida.

Treineiros

A estudante Cecília Guerra Macedo, de 16 anos, vai encarar os dias de provas do Enem, na condição de treineira, pela primeira vez. A aluna do segundo ano do ensino médio acredita que, desta forma, vai conhecer melhor a dinâmica da prova para quando tiver que prestar o exame para valer poderá ser mais tranquilo.

Brasília (DF) 01/11/2024  – Aula Cecília Guerra Macedo fará Enem como treineira. Foto: José Cruz/Agência Brasil

“O ambiente do Enem é muito novo, tem muita gente diferente junta. Então, para quem chega pela primeira vez, parece que a pressão é muito maior. No ano que vem, estarei mais preparada para aquilo e acredito que a pressão estará mais leve.”

Quem está na mesma condição é o jovem Thiago Araújo da Silva, 17 anos. A edição deste ano é a estreia dele no Enem. “Quero treinar para o Enem para buscar a melhor nota possível agora e para, no ano que vem, quando for o Enem oficial, eu conseguir passar de primeira”.

Último dia

Após o aulão no penúltimo dia antes do primeiro dia de provas do Enem, os professores foram unânimes: os estudantes devem evitar revisar os conteúdos no sábado e descansar.

A professora de língua portuguesa, literatura e redação, Cléa Maduro, destaca que é “importante ter momentos de descontração para esses alunos que passam por uma pressão muito grande”. “O principal é fazê-los perceber que têm sentimentos parecidos [de insegurança] e que estejam alegres, sem ficar construindo aquele monstro que é o medo da prova do Enem”.

E mesmo vendo um filme ou ouvindo uma música, a professora enxerga a oportunidade de o candidato aumentar seu repertório sociocultural. “Sempre falo aos estudantes o que forem fazer, que seja de forma tranquila. Procurem ouvir uma música, assistir a um documentário, um videozinho, um filminho que componha o repertório deles.”

Além de atividades relaxantes, o dia antes do Enem deve ser de preparação física e emocional para a prova: dormir bem; manter uma alimentação saudável e fazer refeições leves e nutritivas. É muito importante organizar o vestuário e o material que será levado ao local de prova, incluindo documentos de identificação, caneta preta de material transparente, lanche e água, sem esquecer de conferir o local de prova na página do estudante, por meio do login e senha do site Gov.br.  

Enem 2024

A edição deste ano tem 4.325.960 de inscritos, dos quais 1,6 milhão é concluinte do ensino médio. Os dados são autodeclaratórios.

Entre os inscritos, a maior parte é de participantes que já terminaram o ensino médio (1,8 milhão). Além disso, outras 841.546 (19,4%) inscrições são de estudantes do primeiro ou segundo ano e 24.723 (0,6%), de pessoas que não cursam nem completaram o ensino médio, mas farão o Enem como treineiros.

Brasília (DF) 1º/11/2024 Aulão na reta final do Enem. Foto: José Cruz/Agência Brasil

As mulheres são maioria entre os inscritos – equivalem a 60,59%, enquanto os homens representam 39,41%. Com relação à declaração de raça e/ou cor dos candidatos, a maioria se reconhece na cor parda (1.860.766), seguida da branca (1.788.622) e preta (533.861). Outros 62.288 se consideram da cor amarela e 29.891 se declararam indígenas.

O estado com o maior número de inscrições é São Paulo, com 645.849, seguido de Minas Gerais (393.007) e Bahia (376.352).

* Colaboração de Ana Carolina Alli, estagiária sob supervisão de Marcelo Brandão