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Entenda o que é PMMA e os riscos do uso em procedimentos estéticos

O polimetilmetacrilato (PMMA) é um componente plástico com diversos tipos de aplicação, tanto na saúde quanto em setores produtivos, a depender da forma de processamento e desenvolvimento da matéria-prima. O PMMA pode ser encontrado, por exemplo, em lentes de contato, implantes de esôfago e cimento ortopédico. No campo estético, o PMMA pode ser usado para preenchimento cutâneo, em forma semelhante a um gel.

Relatos de complicações relacionadas ao uso do componente em procedimentos estéticos se tornaram mais frequentes no Brasil. Em 2020, uma influencer (influenciadora digital) perdeu parte da boca e do queixo após fazer preenchimento labial com PMMA. Nesta semana, outra influencer morreu após se submeter a um procedimento estético para aumentar os glúteos.

Segundo parentes, ela apresentou um quadro de infecção generalizada em razão da aplicação de PMMA.

Uso e limites de aplicação

No Brasil, o PMMA para preenchimento subcutâneo precisa ser registrado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por se tratar de um produto de uso em saúde da classe IV ou risco máximo. “Somente após a análise técnica, esses produtos são liberados para venda e uso, visando à proteção do paciente e do consumidor”, informou a agência reguladora.

O componente está autorizado para correção de lipodistrofia, um tipo de alteração no organismo que leva à concentração de gordura em algumas partes do corpo, geralmente provocada pelo uso de medicamentos antirretrovirais em pacientes com HIV/aids, e correção volumétrica facial e corporal, uma forma de tratar alterações como irregularidades e depressões no corpo fazendo o preenchimento em áreas afetadas por meio de bioplastia.

Segundo a Anvisa, a concentração de PMMA em produtos estéticos varia e há indicações claras dos locais do corpo onde as aplicações podem ser feitas, como derme profunda, tecido muscular subcutâneo ou em nível intramuscular. “A dose usada é aquela estritamente necessária para correção de defeitos tegumentares ou da pele. Portanto, depende de avaliação médica”, reforçou a agência.

Em casos de atrofia facial associada ao HIV/aids, por exemplo, um dos fabricantes de PMMA registrados no país explica que a quantidade necessária varia de 4 a 12 mililitros (ml) para cada lado do rosto. Já em sequelas de poliomielite com atrofia de musculatura da panturrilha, a dose deve ser de cerca de 120ml, implantada de uma vez ou em etapas sucessivas, com 45 dias de intervalo, dependendo da elasticidade da pele de cobertura.

A Anvisa destaca que o PMMA deve ser administrado por profissionais médicos habilitados e treinados para o uso. “Para cada paciente, o médico deve determinar as doses injetadas e o número de injeções necessárias, dependendo das características cutâneas, musculares e osteocartilaginosas de cada paciente, das áreas a serem tratadas e do tipo de indicação”, detalhou a agência.

“A Anvisa também esclarece que o produto não é contraindicado para aplicação nos glúteos para fins corretivos. Porém, não há indicação para aumento de volume, seja corporal ou facial. Cabe ao profissional médico responsável avaliar a aplicação de acordo com a correção a ser realizada e as orientações técnicas de uso do produto.”

Etiqueta de rastreabilidade

A chamada etiqueta de rastreabilidade consiste em um documento com dados como o número do registro, códigos, descrição do modelo, lote, razão social do fabricante e/ou importador. O regulamento vigente define que é obrigatório o fornecimento de, no mínimo, três etiquetas de rastreabilidade, a serem fixadas no prontuário clínico do paciente, na documentação fiscal que gera cobrança pelo serviço e no documento que deve ser entregue ao paciente.

Segundo a Anvisa, a etiqueta de rastreabilidade é um direito do paciente e deve ser solicitada sempre que o consumidor passar por procedimentos cirúrgicos como:

– implantação de um dispositivo cardíaco ou ortopédico;
– implantes de coluna ou articulações;
– stents coronarianos;
– implantes dentários;
– válvulas cardíacas;
– endopróteses vasculares;
– implantes mamários;
– preenchedores intradérmicos à base de PMMA.

A agência reguladora destaca que a etiqueta de rastreabilidade não deve ser confundida com rótulo, instruções de uso ou bula. Trata-se de um documento adicional que deve constar na própria embalagem do produto.

“Mesmo com a existência de diversos mecanismos para o controle sanitário dos dispositivos médicos, é importante compreender que podem ocorrer eventos adversos ou queixas técnicas decorrentes do seu uso. Nesses casos, as etiquetas de rastreabilidade constituem importantes instrumentos que permitem a execução de ações por parte da agência e do fabricante na busca de soluções.”

Serviço ao consumidor

Todos os produtos usados em procedimentos médicos e estéticos em comercialização no Brasil precisam ter registro na Anvisa, órgão responsável pela avaliação da segurança, eficácia e qualidade dos itens.

Em caso de dúvidas, a orientação é que o consumidor busque um dos canais de atendimento disponíveis no site da Anvisa, para esclarecer questões relacionadas a medicamentos, insumos farmacêuticos, cosméticos e alimentos, dentre outros.

Alerta

A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) elencou as principais intervenções estéticas feitas no Brasil por profissionais não médicos que causam complicações ou mesmo a morte de pacientes. O levantamento inclui aplicação de PMMA no rosto; aplicação de ácido hialurônico em rinomodelação; lipoenzimática no intuito de eliminar gordura localizada de várias partes do corpo; peeling de fenol contra rugas e flacidez e luz intensa pulsada em melanoma.

De acordo com a SBD, os procedimentos são rotineiramente realizados por dentistas, biomédicos, farmacêuticos, fisioterapeutas e enfermeiros, dentre outros profissionais que não têm “outorga legal para procedimentos invasivos”.

No mês passado, a entidade, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) apresentaram, durante o I Fórum de Defesa do Ato Médico, um dossiê com uma lista de procedimentos estéticos considerados invasivos e a serem realizados apenas por médicos. São os seguintes:  

– procedimentos estéticos invasivos que envolvem a aplicação de toxina botulínica, conhecida popularmente como botox;
– preenchedores cutâneos para harmonização facial com ácidos hialurônico e polilático;
– bioestimuladores de colágeno;
– PMMA;
– eletrocauterização e exérese de lesões como nevus, verrugas e queloides;- endolaser para tratamento de celulite;
– peelings químicos como o de fenol, usado contra rugas e flacidez.

Hoje é Dia: dia da ciência, do rock e 100 anos de Lattes são destaques

A semana entre os dias 7 e 13 de julho de 2024 começa com homenagens ao trabalho científico e termina em ritmo de rock and roll. Nesta segunda (8), comemora-se o Dia Nacional da Ciência e o Dia Nacional do Pesquisador. A data foi criada para lembrar a fundação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que remete aos idos de 1948.

Ainda no campo da ciência, a semana é marcada, em 11 de julho, pelos 100 anos do nascimento do físico paranaense César Lattes. Ele é um dos descobridores do méson pi (partícula responsável por mediar a interação entre prótons e nêutrons dentro do átomo, permitindo que permaneçam unidas), que rendeu o Prêmio Nobel ao líder de sua equipe de pesquisa, Cecil Frank Powell, em 1950. Lattes, que dá o nome à plataforma de currículos do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), teve parte de sua história contada no Ciência é Tudo, em 2020:

Se a semana começa em ciência, podemos dizer que ela termina no ritmo das guitarras distorcidas. No dia 13 de julho, celebra-se o Dia Mundial do Rock. A data surgiu em 1985, em torno do Live Aid, evento beneficente que reuniu artistas consagrados, como lembrou a reportagem da Radioagência Nacional em 2023. Na ocasião, a origem do ritmo foi contada e nomes foram homenageados.

Para os amantes do rock, a semana também tem uma lembrança. No dia 11, a morte de Tommy Ramone completa 10 anos. Baterista dos Ramones (banda icônica do punk rock), ele foi o último integrante do grupo a falecer. Joey (que morreu em 2001), Dee Dee (que morreu em 2002) e Johnny (morto em 2004) foram os outros integrantes do Ramones.

Entre ciência e rock, os outros fatos da semana

A semana tem datas marcantes para interesses e paladares variados. No dia 10 de julho, são celebrados o Dia Mundial da Saúde Ocular e o Dia Nacional da Pizza. A data da iguaria é comemorada no Brasil desde 1985. Em 2018, o História Hoje falou sobre a efeméride.

11 de julho celebra o Dia Mundial da População, criado em 1987. Neste dia, a Terra chegou a 5 bilhões de pessoas. A data nos propõe refletir sobre a maneira como cuidamos do planeta, a qualidade de vida que queremos e o papel dos métodos contraceptivos, como nos mostra reportagem da Agência Brasil de 2017.

Duas figuras da arte também são destaques na semana. No dia 12 de julho, celebramos os 120 anos de nascimento do poeta chileno Pablo Neruda, um dos mais importantes escritores da literatura mundial. Ele foi homenageado pelo Rádio Memória (quadro do Rádio Sociedade, da Rádio MEC) no ano passado.

O dia 13 de julho relembra também os 70 anos de morte da artista e ativista mexicana Frida Kahlo. Ela foi homenageada no História Hoje em 2017, que lembrou o seu legado e sua trajetória. No mesmo ano, Frida também foi tema desta reportagem do Repórter Maranhão:

Confira os principais marcos* do Hoje é Dia no período de 7 a 13 de julho de 2024:

Julho de 2024

7

Morte do treinador e ex-jogador de futebol argentino-espanhol Alfredo Di Stéfano (10 anos)

Dia Estadual das Paneleiras de Goiabeiras (Espírito Santo), em homenagem às panelas de barro capixabas, primeiro bem imaterial registrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 21 de novembro de 2002. A partir de então, o ofício das Paneleiras de Goiabeiras foi inscrito no livro de Registro dos Saberes e declarado Patrimônio Cultural do Brasil

Morte do pajador e poeta gaúcho Jaime Caetano Braun (25 anos), considerado o patrono do Movimento Pajadoril no Brasil. A pajada, ou payada em castelhano, consiste em uma forma de se fazer versos, geralmente no improviso

Primeira transmissão do programa Som Infinito, na MEC FM (39 anos)

Estreia da faixa infantil TV Brasil Animada (7 anos)

8

Morte do advogado, intelectual e político paulista Plínio de Arruda Sampaio (10 anos)

Dia Nacional da Ciência e Dia Nacional do Pesquisador

9

Nascimento do matemático alagoano Elon Lages Lima (95 anos)

Nascimento da cantora, compositora e atriz estadunidense Courtney Love (60 anos)

Revolução Constitucionalista de 1932 – Feriado estadual em SP.

Fundação de Boa Vista-RR (134 anos)

10

Nascimento da professora e política paulista Eunice Michiles (95 anos), a primeira mulher a ocupar uma vaga de senadora no Brasil após a Princesa Isabel

Morte do jornalista e escritor fluminense Paulo Henrique Amorim (5 anos)

Dia Mundial da Saúde Ocular

Dia Nacional da Pizza

Dia Estadual do Frescobol

O poema “Hino dos Bandeirantes” é instituído como letra oficial do hino do estado de São Paulo (50 anos)

11

Morte da intelectual, política, professora e antropóloga mineira Lélia Gonzalez (30 anos) – referência nos estudos e debates de gênero, raça e classe no Brasil, na América Latina e no mundo, e considerada uma das principais autoras do feminismo negro no país

Nascimento do produtor de cinema estadunidense Walter Wanger (130 anos), responsável por clássicos do cinema mundial e ex-presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pela criação das categorias de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Documentário no Oscar

Nascimento do treinador e ex-jogador de futebol paulista Emerson Leão (75 anos)

Morte do ex-baterista punk húngaro Tommy Ramone (10 anos), o último integrante da formação original da banda Ramones a falecer

Morte do advogado, jornalista, crítico de cinema, poeta, ensaísta e tradutor paulista Guilherme de Almeida (55 anos), primeiro modernista da Academia Brasileira de Letras

Morte da professora e pintora baiana Lucília Fraga (45 anos)

Morte do ator, produtor e diretor cinematográfico britânico Laurence Olivier (35 anos), vencedor de quatro Oscars, três Globos de Ouro, três Baftas, três prêmios NBR e cinco Emmys e considerado um dos maiores atores de todos os tempos, no cinema e no teatro

Nascimento do físico paranaense César Lattes (100 anos), codescobridor do méson pi, homenageado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) com a Plataforma Lattes

Nascimento do estilista italiano Giorgio Armani (90 anos)

Dia Mundial da População, data sugerida pelo Conselho de Governadores do UNDP (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) da ONU após o Dia dos 5 Bilhões, de 11 de julho de 1987, quando o planeta teria alcançado a marca de 5 bilhões de habitantes

O prefeito Pedro Ernesto assina o decreto de criação do Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro (90 anos)

12

Nascimento do poeta chileno Pablo Neruda (120 anos)

Nascimento do comediante estadunidense Joe DeRita (115 anos), membro do grupo humorístico Os Três Patetas

Nascimento do cantor e compositor paulista Chauki Maddi, o Tito Madi (95 anos)

Nascimento do artista plástico e escultor italiano Amadeo Modigliani (140 anos)

Morte do jornalista paulista Júlio de Mesquita Filho (55 anos), homenageado em 1976 como patrono da Unesp, a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

Dia de Malala, em homenagem à ativista paquistanesa Malala Yousurfzai

13

Nascimento do jornalista, escritor, folclorista, empresário e ativista cultural paulista Cornélio Pires (140 anos)

Morte da pintora e ativista mexicana Frida Kahlo (70 anos)

Nascimento do escritor nigeriano Wole Soyinka (90 anos), ganhador do prêmio Nobel de Literatura de 1986

Sanção da Lei n° 9.807, criando o Programa Federal de Proteção a Testemunhas e Vítimas Ameaçadas (25 anos)

Final da Copa do Mundo FIFA no Brasil (10 anos)

Dia Mundial do Rock

*As datas são selecionadas pela equipe de pesquisadores do Projeto Efemérides, da Gerência de Acervo da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que traz temas relacionados à cultura, história, ciência e personalidades, sempre ressaltando marcos nacionais e regionais. A Gerência de Acervo também atende aos pedidos de pesquisa do público externo. Basta enviar um e-mail para centraldepesquisas@ebc.com.br.

Festival Marco Zero apresenta dança em espaços públicos do DF

Os enormes gramados do Distrito Federal e alguns de seus locais mais icônicos, como a Torre de TV, a Rodoviária do Plano Piloto, o metrô e outros espaços públicos serão palco do Festival Marco Zero ocupa Brasília com uma semana de dança em paisagem urbana, que começou neste sábado (6) e segue até o próximo sábado (13). A série de apresentações vai percorrer o DF com artistas brasileiros e angolanos, com forte participação indígena e negra. Serão 16 intervenções artísticas e duas oficinas realizadas em diferentes espaços de Taguatinga, Ceilândia, Núcleo Bandeirante e Plano Piloto.

Segundo a organização, todas as apresentações são gratuitas e convidam o público a experimentar as diversas possibilidades do corpo que baila pela cidade nas ocupações culturais e centros comerciais. 

A abertura do festival foi no gramado da 216 norte, ao som dos maracás, dos passos de toré, das rezas e das ressonâncias sonoras entre a natureza e a cidade. A artista indígena Idiane Crudzá, do Povo Kariri – Xocó, de Alagoas, apresentou Toda Cidade Já Foi Floresta.

“A rua representa a fusão do mundo ordinário, cotidiano, corriqueiro e das manifestações extraordinárias, imponderáveis. Escolher agir nesse espaço de resistência, eminentemente feito de memórias, de fluxos e presenças distintas, é o fio condutor do Festival Marco Zero desde sua criação há quase 20 anos”, explica Marcelle Lago, dançarina, idealizadora e coordenadora do festival, que teve sua primeira edição em 2006.

Com recursos do Programa Funarte de Apoio a Ações Continuadas 2023, a edição deste ano traz para Brasília talentos como a atriz e performer mineira Idylla Silmarovi e a artista matogrossense Kiga Bóe, indígena do povo Bóe Bororo, da aldeia Meruri. Também faz parte da programação a Companhia Dual, de São Paulo, que apresenta na Torre de TV o espetáculo Duo para 2 Perdidos, uma releitura do texto teatral Dois Perdidos Numa Noite Suja, de Plínio Marcos.

De Pernambuco, o Marco Zero recebe a artista Rebeca Gondim, que apresenta Revinda na sexta-feira (12), no Mimo Bar (SQN 205). A dança de Rebeca expressa as histórias do povo preto periférico, com movimentos que lembram as brincadeiras das culturas populares,  o improviso dos mestres de cerimônia e as esquivas do frevo. Também de Pernambuco, Gabi Holanda e Plataforma Beira encenam À Beira, que leva para a dança as angústias e esperanças de quem vive às margens dos rios e mangues sufocados pelo avanço da especulação imobiliária. 

O projeto Seio Sonoro, de Brasília, é outra atração do Festival Marco Zero e tem apresentação marcada para o Metrô Galeria. Concebido por um coletivo de mulheres da dança e da música, apresenta Ser Uma, um duo com música autoral de mulheres da cidade.

O festival conta com uma apresentação internacional, do grupo Idaebteam, de Angola, que apresenta Tatu Panji Angola. A intervenção conta a história e os caminhos de três irmãos dançarinos com características muito próprias dentro da arte. Por meio da dança, Vandro Poster, Geo e Didi BB conduzem o público a um misto de emoções e trazem consigo um belo registro da cultura angolana. 

A programação do Festival Marco Zero ainda traz para a cena o coletivo Debonde (RJ), a Cia. Corpus Entre Mundos (DF), o artista Kaled Hassan (DF), o dançarino Guel Soares (DF), a atriz e performer Maria Eugênia Félix (DF) e o dançarino Iago Gabriel (DF).

Confira a programação completa da edição 2024 no site do festival.

DPU defende que tese do racismo reverso não tem aplicação jurídica

A Defensoria Pública da União (DPU) se manifestou a respeito da impossibilidade da aplicação jurídica da tese do ‘racismo reverso’ no Brasil. Em nota técnica, divulgada na terça-feira (2), o órgão aponta a necessidade de que as normas que identificam e criminalizam o racismo recebam interpretação histórica, não podendo ser entendidas e aplicadas de forma literal. A manifestação se dá no contexto do julgamento de um habeas corpus protocolado no Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ-AL) em um caso em que se apura a ocorrência de injúria racial contra um homem branco.

Elaborada pelo Grupo de Trabalho de Políticas Etnorraciais da DPU, a nota alerta para os riscos de que a tese possa se propagar como uma argumentação válida no Judiciário brasileiro. Os defensores argumentam que a Lei de Racismo (Lei nº 7.716/89) tem por objetivo proteger grupos sociais historicamente discriminados em razão de sua própria existência.

No documento, a DPU cita como passíveis de ser vítimas do racismo, por exemplo, “a população negra, os povos originários, os praticantes de religiões e religiosidades de matriz africana, os imigrantes africanos e latinos, todos eles pertencentes a grupos silenciados, perseguidos e mesmo exterminados por séculos de colonização europeia nas Américas. Não sendo passível de inclusão nesse grupo pessoas pertencentes a coletividades historicamente hegemônicas e privilegiadas”.

A nota também destaca que, na identificação das possíveis vítimas do racismo, é preciso não esquecer das práticas discriminatórias da sociedade brasileira que sempre se voltaram a grupos que sofreram e ainda sofrem o processo de marginalização e exclusão social e cultural.

“Ora, dizer que uma pessoa branca é vítima de racismo no Brasil tem como premissa a invenção de um contexto histórico e social de exclusão, silenciamento, violência e extermínio que nunca existiu para esse segmento populacional. Por evidente, nem a lei, nem os tribunais, têm a capacidade de (re)construir essa História, que, ao fim e ao cabo, sequer poderia ser tida como revisão, mas como verdadeiro negacionismo histórico”, diz a DPU no documento.

A DPU destaca que é um equívoco interpretar a legislação de forma literal, possibilitando que qualquer pessoa seja vítima de racismo. “Na interpretação desta lei, o juiz deve considerar como discriminatória qualquer atitude ou tratamento dado à pessoa ou a grupos minoritários que cause constrangimento, humilhação, vergonha, medo ou exposição indevida, e que usualmente não se dispensaria a outros grupos em razão da cor, etnia, religião ou procedência”, diz o texto.

“A potencial adoção da tese do ‘racismo reverso’ pelo Poder Judiciário nega que as práticas discriminatórias, segregacionistas e violentas da sociedade brasileira sempre tiveram como foco grupos étnico-raciais específicos, a exemplo da população negra e dos povos originários. Vai além. Cria precedente que descredibiliza e mesmo invalida a luta histórica antirracista, já que abre divergência quanto ao real significado do racismo no Brasil”, continua a nota técnica.

A manifestação pontua ainda a necessidade de que as normas que identificam e criminalizam o racismo no Brasil recebam uma interpretação histórica, sistemática e teleológica. “Não é possível utilizar uma norma criada para a proteção de grupos e pessoas específicas, porque vítimas de discriminação racial, para a salvaguarda de indivíduos ou coletividades sem qualquer histórico como sofredor do racismo”.

Entenda o caso

Em janeiro deste ano, o Ministério Público de Alagoas apresentou denúncia de injúria racial contra um homem negro, baseada na queixa-crime de um italiano que disse ter tido ofendidos a “dignidade, o decoro e a reputação em razão da sua raça europeia”. Na peça inicial, a advogada do italiano diz que “as ofensas proferidas pelo querelado [acusado] denegriram a imagem e ofenderam a honra subjetiva” de seu cliente.

A Justiça alagoana acatou a denúncia e tornou réu, por injúria racial, o homem negro que teria dito ao italiano: “essa sua cabeça europeia, branca, escravagista, não te deixa enxergar nada além de você mesmo”. 

Na ação, os desembargadores do TJ-AL utilizaram como argumento para indeferir o pedido de trancamento da ação penal de que “o crime em questão pode ser cometido contra qualquer pessoa, independentemente da sua cor, raça ou etnia, caracterizando-se por ofender a dignidade de alguém. Nessa esteira, a Lei protege integralmente, independente [sic] de sua origem étnica”.

Segundo o Instituto Negro de Alagoas (Ineg), responsável pela defesa do homem negro, este havia sido lesado pelo europeu em relação à compra de um terreno, e também tinha relação trabalhista com ele.

Ao usar a lei para punir um homem negro de suposto racismo cometido contra um homem branco, de origem europeia, a ação admite a existência do “racismo reverso”, uma verdadeira aberração jurídica, na avaliação do instituto. Diante disso, o Ineg estuda levar o caso para análise no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Para a DPU o caso mostra que até mesmo quando a lei é feita para proteger grupos minoritários, eles acabam sofrendo criminalização por força do aparato estatal. No caso, por meio de uma superficialidade hermenêutica que legitima interpretações literais, fortalecendo o constrangimento a grupos vulnerabilizados a partir da tese do “racismo reverso”.

“Diante de todo o exposto, conclui-se não ser aproveitável juridicamente a tese do “racismo reverso”, que somente pode encontrar ressonância no senso comum e em ambientes despidos de parâmetros científicos e de qualquer análise histórica e social da realidade brasileira”, afirma a nota técnica.

Brasil derruba Filipinas e vai decidir vaga olímpica contra a Letônia

O roteiro foi parecido com o dos dois primeiros jogos e o desfecho também. A seleção brasileira masculina de basquete largou atrás, mas reagiu e derrotou as Filipinas por 71 a 60 neste sábado (6), em Riga, na Letônia, pelo torneio Pré-Olímpico. Com isso, o Brasil alcança a decisão da competição diante dos donos da casa, neste domingo (7), às 13h de Brasília. Quem vencer estará classificado para os Jogos de Paris.

Assim como aconteceu diante de Montenegro e Camarões, o Brasil teve dificuldades no primeiro tempo e foi para o intervalo atrás do placar. Filipinas fez 22 a 12 no primeiro quarto e fechou a metade inicial do jogo vencendo por 33 a 27.

No entanto, na volta dos vestiários, o Brasil emendou uma larga sequência de pontos sem resposta filipina e alterou o panorama completamente. Mais uma vez, Bruno Caboclo foi o destaque, com 15 pontos e 11 rebotes. A terceira parcial terminou com o placar de 24 a 6 para o Brasil, que soube controlar qualquer ímpeto adversário nos dez minutos finais para sair com a vitória.

Mais tarde, a Letônia derrotou Camarões por 72 a 59 para garantir sua vaga na grande final.

Agora, o Brasil se vê na mesma situação que viveu há três anos, quando disputou o Torneio Pré-Olímpico em Split, na Croácia, em busca de uma vaga em Tóquio.

Curiosamente, naquela ocasião, o técnico era Aleksandar Petrovic, que em três anos saiu do comando da seleção para dar lugar a Gustavo De Conti, que deixou a equipe no começo de 2024, sendo surpreendentemente substituído pelo próprio Petrovic.

Segundo o técnico, embora as trajetórias sejam semelhantes (em 2021 o Brasil foi até a final, antes de perder para a Alemanha), não há tanta coisa em comum nas duas campanhas.

“A diferença daquela vez para esta é enorme. Lá, jogamos um basquete perfeito, com três vitórias de quase 30 pontos, contra Croácia, México e Tunísia. E não soubemos sofrer quando chegou a Alemanha na final. Agora estamos sofrendo talvez até demais, mas quem sabe sejamos recompensados”, disse o croata na entrevista coletiva pós-jogo.

O armador Georginho, que também fez parte daquele grupo, confia num final feliz desta vez.

“Jogos difíceis como o contra Camarões e o de hoje criam um time mais forte, mais unido e fazem a nossa energia subir. Mesmo confiantes, seguimos com a guarda alta. Isso é bom. Amanhã [domingo] sabemos que podemos fazer diferente. Estamos prontos para ir a Paris”, disse o jogador, que saiu de quadra com oito pontos, quatro rebotes e três assistências.

Seleção de ginástica rítmica é convocada para Jogos Olímpicos de Paris

A Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) anunciou nesta sexta-feira (5) a lista de atletas convocadas para participar da Olimpíada de Paris na ginástica rítmica. Juntando conjunto e individual, com titulares e reservas, são 11 ginastas. Depois de um ciclo em que subiu de patamar, conquistando pódios em diversos eventos internacionais, a equipe vai em busca de uma inédita medalha olímpica na França.

As titulares do conjunto brasileiro serão: Débora Medrado, Maria Eduarda Arakaki, Nicole Pircio, Sofia Madeira e Victória Borges. A equipe comandada por Camila Ferezin e Bruna Rosa terá ainda as reservas Mariana Pinto, Giovanna Silva, Gabriella Coradine e Bárbara Urquiza.

Na prova individual, a titular brasileira será Bárbara Domingos, com Maria Eduarda Alexandre como suplente. A técnica é Márcia Naves.

A equipe já viaja para a Europa neste sábado. O próximo compromisso, que serve de preparação para os jogos, será na etapa romena da Copa do Mundo da modalidade, em Cluj-Napoca, entre 12 e 14 de julho.

América derrota Operário e iguala Santos no topo da Série B: 2 a 0

Quando entraram em campo neste sábado (6), em Belo Horizonte, América-MG e Operário-PR estavam idênticos em pontuação e objetivo: se igualar ao Santos na ponta da tabela da Série B. Ao final dos 90 minutos, os donos da casa levaram a melhor por 2 a 0, com gols de Adyson e Willian Machado (contra) e agora estão junto com a equipe paulista na classificação, com 25 pontos. Pelos critérios de desempate (o Peixe tem oito vitórias contra sete do Coelho), o Alvinegro praiano aparece em primeiro.

A partida no Estádio Independência foi decidida na segunda etapa. Aos 11 minutos, após roubar a bola no campo de defesa adversário, o América saiu em velocidade pela esquerda. Brenner rolou para o meio da área e encontrou Adyson livre para finalizar de primeira e abrir o placar.

Aos 25, o Coelho chegou ao segundo gol numa jogada de insistência. Após outra jogada pela esquerda, foram duas finalizações em sequência: primeiro Pará salvou o gol de Moisés em cima da linha e, no rebote, Adyson chutou para defesa de Rafael Santos. No segundo rebote, Mateus Henrique cruzou rasteiro e o zagueiro Willian Machado acabou colocando a bola para dentro das próprias redes.

O triunfo encerrou um curto período de três jogos sem vitória do América, cujo próximo compromisso é no sábado, dia 13, diante do Sport, fora de casa. Tanto a equipe mineira quanto o Santos ainda podem ser ultrapassados na rodada, caso o Avaí derrote o Novorizontino, em casa, na segunda-feira.

Já o Operário, com 22 pontos, é o atual quarto colocado, mas até o fim da rodada pode perder até seis posições, já que várias equipes estão com pontuação próxima e ainda vão entrar em campo na rodada. O próximo jogo do Fantasma é contra o Goiás, em casa, no dia 17.

Projeto Vivência Olímpica retorna e levará 12 jovens atletas a Paris

Depois de não ocorrer na Olimpíada de Tóquio, por causa da pandemia, o projeto Vivência Olímpica, do Comitê Olímpico do Brasil (COB), está de volta para os Jogos de Paris. A entidade anunciou neste sábado (6) os 12 jovens atletas participantes que poderão desfrutar do evento de forma mais próxima.

São seis homens e seis mulheres: Ryan Kainalo, do surfe, Taiane Justino, do levantamento de peso, Lucas Fonseca, da vela, Celine Bispo, da natação, Matheus Melecchi, da maratona aquática, Pedro Oliveira, do vôlei de praia, Rebeca Lima, do boxe, Thiago Resende, do atletismo, Yuri Guimarães, da ginástica artística, Júlia Kudiess, do vôlei, Kaillany Cardoso, do judô, e Isabelle Estevez, do tiro com arco.

Esses atletas estarão na capital francesa a partir de 27 de julho, dia seguinte à cerimônia de abertura dos jogos. Além de acompanhar as competições, eles participarão de palestras com nomes importantes do esporte e vão conhecer a vila olímpica e as instalações do Time Brasil em Paris. O grupo será dividido em duas turmas. Cada uma ficará uma semana por lá: a primeira até 1º de agosto e a segunda, de 2 a 7 de agosto.

Iniciado em Londres 2012, o projeto já teve como participantes atletas que vieram a se tornar medalhistas olímpicos posteriormente, como Rebeca Andrade, da ginástica artística, Martine Grael, da vela, Isaquias Queiroz, da canoagem velocidade, e Beatriz Ferreira, do boxe.

Os atletas selecionados tiveram que atender alguns critérios de desempenho, até o momento, na carreira e são vistos como potenciais classificados aos Jogos de Los Angeles, em 2028, e Brisbane, em 2032.

Caso Americanas expõe limites da regulamentação do mercado financeiro

As notícias dos últimos dias envolvendo a Operação Disclosure, da Polícia Federal (PF), que mirou na antiga cúpula do Grupo Americanas, trouxeram à tona desafios e limites da regulamentação do mercado financeiro no país. Especialistas ouvidos pela Agência Brasil e o próprio órgão regulador estatal reconhecem fatores que impedem o melhor acompanhamento de balanços contábeis e governanças de grandes companhias.

Entre os aspectos apontados pelos entrevistados, estão a necessidade de um equilíbrio entre regulamentação estatal e do próprio mercado; conflitos de interesses que minam a autorregulação; sofisticação de fraudes empresariais, com um “time” estruturado para manipular dados; e orçamento inadequado e falta de pessoal no quadro de funcionários do órgão regulador estatal.

Os investigados pela Disclosure, entre eles o ex-CEO (diretor executivo) Miguel Gutierrez e a ex-diretora Anna Cristina Ramos Saicali são suspeitos de envolvimento no escândalo fraudulento que levou a um rombo de mais de R$ 40 bilhões na companhia.

À época em que a fraude ganhou visibilidade, as ações da companhia, um dos principais nomes do varejo nacional, despencaram mais de 90%.

Saiba mais sobre o caso Americanas e a história da empresa

CVM

A regulamentação estatal é exercida pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). É função da autarquia, ligada ao Ministério da Fazenda, fiscalizar as atividades e os serviços do mercado de valores mobiliários, bem como a veiculação de informações relativas ao mercado, às pessoas que dele participam e aos valores nele negociados, e impor penalidades aos infratores.

A Comissão de Valores Mobiliários reconhece que o orçamento da autarquia não é o ideal. Atualmente, a dotação orçamentária é de R$ 330 milhões, sendo que R$ 300 milhões são comprometidos com encargos fixos, como pagamento de funcionários ativos e aposentados. Sobram R$ 30 milhões para despesas discricionárias, como investimentos.

“A CVM entende que o cenário orçamentário ideal seria a autarquia poder utilizar os recursos oriundos da taxa de fiscalização cobrada aos regulados para o financiamento da entidade”, diz a autarquia em nota enviada à Agência Brasil.

Essa taxa gera uma arrecadação que ultrapassa R$ 1 bilhão por ano. Além disso, multas e contrapartidas cobradas dos regulados rendem em torno de R$ 1 bilhão. No entanto, explica a autarquia, os recursos vão para a conta única do Tesouro Nacional, ficando a CVM apenas com o orçamento de R$ 330 milhões.

Além da questão orçamentária, a CVM reconhece que “a principal carência está relacionada à insuficiência do quadro de pessoal autorizado em lei”.

Para tentar resolver a questão, a comissão informa que tem feito esforços junto aos órgãos centrais do Executivo “para que seja enviado ao Congresso Nacional o Anteprojeto de Lei de Fortalecimento da CVM, que inclui, entre outras iniciativas, o aumento do quadro de pessoal.

O órgão regulador enfatiza que reconhece o trabalho do governo federal em prol da autarquia no último ano e meio, com a autorização de concurso público – que não é realizado desde 2014 – e ampliação do orçamento discricionário.

Estado e mercado

O professor Luís André Azevedo, da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas São Paulo (FGV Direito/SP), explica que, além da regulação realizada pela CVM, o mercado de capitais no país tem a contraparte das próprias empresas, a chamada autorregulação.  

Sobre a CVM, ele avalia que uma das principais frentes de atuação é o combate à prática de insider trading (uso de informações privilegiadas para comprar ou vender ações a fim de obter ganhos), um dos crimes investigados no episódio Americanas.

“O Brasil sempre teve uma regulação estatal muito boa, firme. A CVM esbarra em um problema de falta de orçamento, de recursos, mas regula e fiscaliza muito bem o mercado”, considera.

Na autorregulação das corporações, explica Azevedo, os controles são realizados por departamentos específicos dentro das próprias companhias. “Autorregulação significa dizer que o Estado e a sociedade confiam que as empresas vão criar mecanismos internos para prevenir fraudes, por meio da chamada governança corporativa”, avalia.

“No caso das Americanas, ficou claro que esses controles internos eram insuficientes”, adverte.

Fraude estruturada

O professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) Gilberto Braga explica que, normalmente, fraudes contábeis são descobertas durante procedimentos aleatórios e revisão de auditorias. “Normalmente têm um caráter mais limitado.”

No caso do Grupo Americanas, ele faz a ressalva de que havia um time estruturado para esconder as irregularidades. “Os instrumentos de controle, de uma forma geral, são para processos e para pessoas, não para uma quadrilha. Então, [a fraude] fica muito mais difícil de ser identificada”, disse à Agência Brasil.

Braga lembra que as investigações em curso indicam a existência de um grupo de alto escalão, com pessoas de nível gerencial participando da “maquiagem” dos números.

O economista considera que, apesar de sistemas de detecção de fraudes terem falhado, não é possível apontar de quem é a culpa. “O sistema de governança corporativa das Americanas era muito elogiado e, no papel, era perfeito.”

“Cada órgão, seja regulador, auditor, órgãos internos de governança da companhia, como os conselhos de administração fiscal e de auditoria, atuavam dentro do que é a regra legal da companhia. É bastante provável que eles tenham sido enganados como os acionistas e o mercado.”

Sobre todo o escândalo, a atual diretoria das Americanas tem dito que “foi vítima de uma fraude de resultados pela sua antiga diretoria, que manipulou dolosamente os controles internos existentes”.

Na opinião do professor, nunca se pode dizer que não existem fraudes em grandes corporações, mas ele considera o caso das Americanas “fora da curva”, e diz que nada sugere que possam ocorrer episódios semelhantes. “Não é provável.”

Apesar de não ser algo comum, Braga destaca que o evento que mexeu com o mercado financeiro brasileiro no começo de 2023 deve ser estudado para que sirva de aprendizado e aprimoramento das práticas empresariais.

Conflito de interesses

O economista lembra que o grupo controlador das Americanas era reconhecido por ser extremamente ousado e ofensivo em relação ao atingimento de metas, cobrança de resultados e recompensa para funcionários. “É necessário que estruturas de governança sejam muito mais rígidas em empresas com esse perfil”, avalia.

Braga lembra que, durante anos, os executivos foram recompensados com bônus financeiros em ações da própria companhia, cultura que servia de incentivo para as práticas irregulares. “Era uma corrida pela performance e pelas recompensas”, define.

Ao apontar questões pertinentes à autorregulação exercida pelas companhias, Luís André Azevedo, da FGV Direito SP, joga luz na questão dos conflitos de interesses, que podem causar problemas graves.

“A empresa vai ter incentivos para criar regras que impeçam comportamentos nocivos ou vai ter incentivos para, pelo contrário, permitir comportamentos nocivos que tragam ganhos extremos em curto prazo”, questiona.

Na visão de Gilberto Braga, os executivos das Americanas seguiam com a fraude e mantinham a expectativa de reversão nos negócios. “Eles foram cada vez mais aumentando a aposta e a fraude, e não conseguiram reverter ao longo dos anos”. O professor compara a situação com a da pessoa que, seguidamente, contrai empréstimos para pagar dívidas anteriores. “Chega um momento em que não tem mais condições de reverter a situação.”

Ele assinala que os controladores do Grupo Americanas tinham a opção de renovar o mandato dos executivos responsáveis pelas fraudes, mas que não chegavam a esse ponto, porque, encobrindo números reais, era possível entregar resultados positivos. “Isso gerava uma aprovação generalizada de acionistas e controladores”. Segundo Braga, era uma diretoria que tinha boa reputação perante o mercado.

“A maioria quase absoluta das empresas mantém executivos que têm bom desempenho. Em tese, não haveria nenhum indício para sugerir a troca da diretoria.”

Auditorias

A autorregulação do mercado conta também com auditorias independentes. A PricewaterhouseCoopers (PwC) e a KPMG, duas empresas que fizeram a auditoria de contas das Americanas entre 2017 e 2022, negam ter cometido falhas.

Em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Americanas na Câmara dos Deputados, em agosto de 2023, o sócio da PwC Fábio Cajazeira Mendes classificou as fraudes como “de difícil detecção”.

“Em se confirmando a falsificação de documentos, a omissão deliberada no registro de operações, a prestação intencional de falsas representações aos auditores e o conluio de pessoas de diversas áreas da companhia, estará caracterizada uma fraude de gestão de difícil detecção, baseada em má conduta flagrante e intencional por parte da administração, incluindo [as áreas] comercial, financeira, tesouraria e contábil, com participação de, pelo menos, sete diretores executivos e dezenas de pessoas”, declarou aos deputados.

A sócia da KPMG, Carla Bellangero, contou que chegou a emitir cartas extraordinárias de controle externo em 2019, mas o contrato com a Americanas foi encerrado meses depois. “Os riscos estavam divulgados e eram de conhecimento da diretoria, do Conselho Fiscal, do Comitê de Auditoria e da maioria do Conselho de Administração. As auditorias nada têm a ganhar com as fraudes, ao contrário, são vítimas dessa situação”, disse.

Movimento pendular

Luís André Azevedo explicou que o Brasil e o mundo vivenciam movimentos pendulares, ora mais regulamentação do estado, ora menos. Ele acredita que a eclosão do caso Americanas pode ser um “divisor de águas” que fortalecerá a regulamentação estatal.

Como exemplo, ele lembra a profunda crise do subprime (crédito imobiliário duvidoso) iniciada nos Estados Unidos em 2007 e 2008, que se espalhou pelo mundo. À época, havia pouca intervenção regulatória do governo americano, explica o professor. “Depois veio uma reforma que recrudesceu a regulação”, acrescenta.

No Brasil, com o episódio Americanas, Azevedo enxerga “uma crise de governança”. “Olhando para a frente, a gente pode esperar um movimento de aumento de normas, aumento da fiscalização do Estado, um pouco mais desse poder de polícia regulatória”, emenda o especialista.

Equilíbrio da regulação

Na visão de Azevedo, apesar do escândalo recente da rede varejista, desde a década de 90, o Brasil atravessa um período de crescente regulação estatal e, agora, pode estar se aproximando de um “incremento” desses mecanismos.

O professor defende que a ideia de que o mercado regula por si só é uma falácia, pois existem as chamadas “falhas de mercado”. Há necessidade de participação do Estado. No entanto, Azevedo afirma que as políticas regulatórias precisam ser feitas de forma que não sejam um custo adicional à atividade empresarial.

“A gente tem que ter cuidado para não jogar fora a água suja com o bebê dentro. A estratégia regulatória tem que ser um pouco mais desenvolvimentista, no sentido de permitir inovação, desenvolvimento e crescimento, sem criar um ônus exacerbado para as companhias. Uma regulação cuidadosa”, descreve.

Para Azevedo, a busca de um “nível ótimo” de regulamentação vai permitir o desenvolvimento do mercado de capitais do país, que considera “muito pequeno para o tamanho do país. Deveria ser algo muito mais desenvolvido, e muita regulação pode sufocar esse crescimento”.

O mercado de capitais brasileiro é acessado não só por grandes instituições, como bancos, mas também por pequenos investidores individuais. Muitas vezes associado como uma seara meramente especulativa, o mercado de capitais, ou seja, negociação de ativos financeiros, como ações de empresas, é uma fonte de capital para empresas, que podem utilizar os recursos para investimentos, favorecendo a criação de emprego e renda.

CVM

O professor Azevedo chama ainda a atenção para uma das limitações do radar da CVM: a comissão depende de informações prestadas pelas empresas para poder realizar a fiscalização e tomar decisões. Não é que a CVM não imponha regras de transparência, que existem, embora a gente sempre vá depender da informação oriunda do núcleo duro da companhia.

Esse método de atuação integra o princípio do full and fair disclosure (divulgação completa e justa, na tradução livre). Segundo a CVM, a atuação com base no regime informacional é assim no Brasil e nos principais países.

A comissão detalha que o trabalho de supervisão e fiscalização tem base em dois pilares: “espontâneo, por meio do Plano de Supervisão Baseada em Risco (SBR), elaborado pelas áreas técnicas; e por demanda, no qual há a fundamental participação do investidor, denunciando potenciais indícios de irregularidades por ele observadas”. Ou seja, mesmo que não seja provocada por terceiros, a CVM pode iniciar investigações.

Sobre o caso Americanas, a autarquia diz que “não comenta casos específicos”. No entanto, no site da comissão estão relacionados mais de 20 processos administrativos que foram abertos para apurar irregularidades.

A página registra que “caso venham a ser formalmente caracterizadas infrações, cada um dos eventuais responsáveis será devidamente responsabilizado com a aplicação e o rigor da lei”.

Alerta para investidores

Entre os serviços realizados pela CVM está o alerta aos investidores sobre a saúde financeira e transparência das companhias. Na última quarta-feira (3), a comissão divulgou que o Grupo Americanas está considerado inadimplente junto ao órgão, porque deixou de enviar, há mais de três meses, pelo menos um desses formulários: de Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFP), de Informações Trimestrais (ITR) ou de Referência (FRE).

“No documento, a Superintendência de Relações com Empresas (SEP) alerta os investidores e o público em geral sobre a importância de considerar essas informações em suas relações com as companhias citadas ou em suas decisões de investimento”, diz o comunicado.

A Agência Brasil pediu comentários ao Grupo Americanas sobre a inclusão na lista de inadimplentes, mas não recebeu retorno até a conclusão desta reportagem.

Novo Mercado

Outra iniciativa de autorregulação do mercado de capitais é o selo Novo Mercado da B3, empresa que opera a bolsa de valores de São Paulo. Lançada em 2000, a listagem reúne companhias que têm, na definição da B3, “padrão de governança corporativa altamente diferenciado”.

Em teoria, a Novo Mercado identifica as companhias mais transparentes e com melhores governanças entre as cerca de 450 listadas na B3, o que passa a ser um atrativo na hora em que investidores escolhem empresas para investir.

O Grupo Americanas era listado no Novo Mercado até 8 de novembro de 2023, quando foi suspenso pela B3. Além da retirada, 22 integrantes da diretoria, do conselho de administração e do comitê de auditoria do grupo foram multados.

Entre as determinações do Novo Mercado não cumpridas, estão a falta de efetiva observância da política de gerenciamento de riscos. A exclusão foi realizada após o pedido de recuperação judicial da companhia e não impossibilita a compra e venda de ações.

O que se espera do mercado de capitais, diz Azevedo, é que as companhias tenham incentivos para que se interessem em divulgar informações adequadas, porque seriam recompensadas, ou seja, teriam o reconhecimento de empresas transparentes. “Mas o que vemos é que as companhias acabam ocultando informações. Então, voltamos àquele problema: como é que o regulador vai agir se ele não tem a informação?.”

UFSC celebra 30 anos de seminário internacional de gênero

Realizado desde 1994 pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o seminário internacional Fazendo Gênero (FG) chega neste ano à sua 13ª edição. O evento busca promover um ambiente para discutir a questão de gênero, com a participação de pesquisadoras, artistas e ativistas de vários países.

Cerca de 6 mil pessoas já se inscreveram para participar do encontro, que será realizado no campus da UFSC, em Florianópolis, de 29 de julho a 2 de agosto. Neste ano, o evento volta a ser realizado de forma presencial, já que a 12ª edição foi online, devido à pandemia de covid-19. A última edição presencial, a 11ª, havia sido realizada em 2017.

“O Fazendo Gênero é um evento que se realiza há 30 anos na UFSC, voltado a pauta de gêneros, diversidade, mulheres, questões étnico-raciais, populações LGBTQIA+, inclusão, uma série de temáticas que normalmente estão fora da agenda dos eventos acadêmicos”, afirma a pesquisadora do Instituto dos Estudos de Gênero (IEG/UFSC) Vera Gasparetto, da comissão organizadora do FG 13.

Nos cinco dias do seminário, estão previstas mais de 300 conferências, simpósios, minicursos, oficinas e mesas-redondas, além de atividades artístico-culturais e de uma feira feminista e solidária. A 13ª edição terá foco especial na discussão do anticolonialismo, antifascismo e justiça climática, já que o tema deste ano é “Fazendo Gênero 13 contra o Fim do Mundo”.

Também estão previstos os lançamentos de mais de 100 livros na programação do evento. “Não faltarão temáticas muito importantes para as questões da inclusão, da igualdade de gênero e da construção de um novo mundo possível e necessário, diante de tantas questões que o mundo atual apresenta”, explica Vera.

O evento é uma parceria com a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC).