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Mostra de Cinema Negro Zózimo Bulbul comemora 17 anos

O Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul está completando 17 anos de fundação, com programação variada em três espaços culturais ao mesmo tempo, a partir desta sexta-feira (18). A mostra será realizada no Cine Odeon, no Museu do Amanhã e Museu de Arte do Rio (MAR), três pontos da região central da cidade, até o dia 25 deste mês.

O tema deste ano é “Fortalecendo pontes” e tem a finalidade de unir cineastas, pensadores e público de diferentes partes do mundo, numa reunião para compartilhar, questionar e reinventar histórias. O ator baiano Antônio Pitanga, um dos grandes nomes do Cinema Novo, será o homenageado desta edição, com a exibição do filme  Malês.

Uma das grandes novidades da programação é a apresentação de filmes sobre povos indígenas, com destaque para o filósofo indígena, Ailton Krenak, compartilhando as perspectivas sobre a ancestralidade e as lutas em comum.

Além disso, o cineasta Joel Zito Araújo lançará a série Cadernos Negros com o minicurso Cinema Africano Contemporâneo. O objetivo da formação é auxiliar a criar bases artísticas, estéticas e narrativas para futuros projetos de cinema. Ele sintetiza duas décadas de pesquisas, viagens, encontros, afetos e memórias do cineasta Joel Zito Araújo sobre o cinema africano.

O processo de trabalho será baseado na exibição de cenas de filmes e entrevistas com grandes realizadores africanos da contemporaneidade. O projeto conta com o apoio da Fundação Ford e do Centro Afrocarioca de Cinema. Toda a programação é gratuita.

O Encontro de Cinema Negro Zozimo Bulbul, recebe, nesta edição, mais de 400 filmes inscritos e 128 obras de cineastas brasileiros, africanos, caribenhos e de outras diásporas selecionadas para exibição. Durante o encontro também serão oferecidas 15 atividades de formação. 

“Nossa curadoria coletiva reuniu profissionais de diversas áreas da cultura e foi movida por temas como memória, ancestralidade, família, amores diversos e questões LGBTQIAPN+, buscando expandir horizontes e aprofundar as narrativas que entrelaçam o passado, o presente e o futuro”, explica Biza Vianna, diretora-presidente do Centro AfroCarioca de Cinema.

O Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul é realizado pelo Centro AfroCarioca de Cinema e este ano reforça  parcerias importantes com o continente africano, como a Federação Pan-Africana de Cineastas (FEPACI) e a Aliança Pan-Africana de Roteiristas e Diretores (APASER). Biza reforça o compromisso com a história e o trabalho de Zózimo em prol do cinema negro.

“Nosso compromisso com o legado de Zózimo Bulbul permanece firme em cada detalhe deste encontro. Suas contribuições para a valorização das produções negras e sua visão de aproximação com a África continuam a iluminar nossos caminhos. Com isso, fortalecemos parcerias fundamentais”, afirmou.

A 17ª edição do Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul também reservou um espaço para receber convidados de honra, como Cheick Oumar Sissoko, uma das figuras mais icônicas e respeitadas do cinema africano contemporâneo. Cineasta maliano, Sissoko é internacionalmente reconhecido por sua habilidade única de mesclar a narrativa visual com as questões políticas, sociais e culturais que marcam profundamente o continente africano.

A curadoria tem a direção de Laza e contará também com nomes expressivos do cinema negro, como Macario, responsável pela coordenação de curadoria. Além dele, Vania Lima fará a curadoria internacional e Dani Ornellas, Antonio Molina, Leila Xavier e Glenda Nicácio são os responsáveis pela curadoria nacional.

O diretor de comunicação, Vitor José, sobrinho de Zózimo Bulbul e um dos gestores dos projetos do Centro AfroCarioca de Cinema, celebra também a expressiva marca de mais de mil filmes exibidos nas 16 edições do encontro e lembra que Zózimo foi um visionário ao dar corpo para o evento, trazendo para o centro das discussões questões cruciais como o racismo e a importância das contribuições históricas da comunidade negra na construção do Brasil.

“Hoje, a sua memória e o seu legado continuam guiando os nossos passos, inspirando as gerações futuras a continuarem na luta pela justiça e pelo reconhecimento. Ao longo de 16 anos de sucesso, o Encontro de Cinema Negro iluminou nossas telas com mais de mil filmes do Brasil, da África, do Caribe e de outros cantos da Diáspora. Nada menos do que 700 sessões permitiram que mais de 200 diretores africanos, 40 dos Caribes, 50 de outras diásporas e 500 diretores brasileiros compartilhassem sua visão do mundo”, disse Vitor.

Lugar de resistência da cultura afro-brasileira, fundado em 2007 por Zózimo Bulbul, o Centro AfroCarioca de Cinema é pioneiro como espaço de pensamento e construção dos novos rumos do cinema e, mais especificamente, do cinema negro no país. Uma de suas grandes realizações é o Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul: Brasil, África, Caribe e outras diásporas que, nas suas 17 edições, já apresentou mais de 1.500 obras de cineastas brasileiros, africanos e caribenhos.

Com exibição de 415 filmes, mostra de cinema começa nesta quinta em SP

O maior e mais tradicional festival de cinema do Brasil, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, começa nesta quinta-feira (17) na capital paulista. Em sua 48ª edição, a mostra apresentará 415 filmes de 82 países que poderão ser vistos em 29 salas de cinemas, espaços culturais e centros educacionais unificados (CEUs) espalhados pela cidade. A programação ainda contará com algumas exibições gratuitas e ao ar livre.

A grande novidade deste ano é a criação da Mostrinha, que dedica parte de sua programação a obras infantojuvenis. A Mostrinha apresentará 22 títulos, como os filmes Corações Jovens, premiado no Festival de Berlim, e Vivendo em Excesso e O Grande Natal dos Animais, que estiveram no Festival de Annecy, na França.

A 1ª edição da Mostrinha homenageará as três décadas do programa Castelo Rá-Tim-Bum, da TV Cultura, e os 25 anos do filme baseado na série de Cao Hamburger. Também haverá uma homenagem especial a Ziraldo, cartunista e escritor que morreu no início deste ano, com a exibição dos filmes O Menino Maluquinho, um dos personagens mais queridos do autor.

A abertura da Mostrinha será amanhã (17), às 14h45, na Sala São Paulo, com a exibição gratuita da animação Arca de Noé. Os demais ingressos para a Mostrinha custarão R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada).

A abertura da 48ª Mostra Internacional  de Cinema ocorre nesta quarta-feira (16), na Sala São Paulo, com o filme Maria Callas, de Pablo Larraín, protagonizado por Angelina Jolie.

Programação

Entre os filmes que estarão na Mostra de São Paulo neste ano está Anora, de Sean Baker, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes. Além dele também serão exibidos Dahomey, vencedor do Urso de Ouro do Festival de Berlim; Memórias de um Caracol, vencedor do prêmio de melhor filme de animação no Festival de Annecy; e Ainda Estou Aqui, vencedor do prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza e indicado pelo Brasil para concorrer à indicação ao Oscar do próximo ano.

Além dos premiados, o festival também trará um olhar para o conflito atual no Oriente Médio, apresentando filmes como Contos de Gaza, do palestino Mahmoud Nabil Ahmed; Israel Palestina na TV Sueca 1958-1989, do sueco Göran Olsson; A Lista, da iraniana Hana Makhmalbaf; e o libanês Linha Verde, de Sylvie Ballyot. O filme recente Por que a Guerra?, do diretor israelense Amos Gitai, e que retrata uma correspondência trocada entre Albert Einstein e Sigmund Freud sobre como evitar a guerra, terá duas exibições durante o evento.

Homenagens

Entre os homenageados do festival está o cineasta indiano Satyajit Ray (1921-1992), que terá uma retrospectiva com sete filmes que produziu entre os anos de 1955 e 1966. Aliás, os filmes produzidos na Índia são um dos focos da mostra neste ano, com a exibição de 30 longas-metragens que oferecem uma visão abrangente da cinematografia do país, líder mundial na produção de filmes.

Outro que ganhará uma homenagem especial é o ator Marcello Mastroianni (1924-1996). Para celebrar os 100 anos de nascimento do ator italiano serão exibidos seis filmes em que ele atua.

Em memória aos 50 anos da Revolução dos Cravos, o festival vai exibir uma cópia restaurada do filme Capitães de Abril (2000), de Maria de Medeiros. A exibição será seguida de uma conversa com a diretora.

Além dos filmes, a mostra também realizará, pelo quarto ano consecutivo, o Encontro de Ideias Audiovisuais. Gratuito, ele acontece entre os dias 24 e 26 de outubro na Cinemateca Brasileira apresentando debates, exibições e lançamentos de livros. Também serão promovidas três masterclasses gratuitas que abordarão a evolução do cinema indiano, os primórdios do audiovisual e as adaptações literárias para as telas.

Itinerância

Entre os dias 31 de outubro e 6 de novembro, a mostra terá ainda uma passagem por Belém (PA), onde será exibido o filme Retrato de um Certo Oriente, de Marcelo Gomes. A sessão, no Cine Líbero Luxardo, contará com a participação do diretor.

Além disso, entre os dias 15 de novembro e 15 de dezembro, o Sesc levará o festival para dez cidades paulistas.

Mais informações e toda a programação da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo podem ser obtidas no site do festival.

Reposição de estoque do Aquífero Guarani é insuficiente, mostra estudo

Uma pesquisa conduzida pelo Instituto de Geociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro percebeu que a reposição de águas do Aquífero Guarani está abaixo do necessário para garantir a manutenção da quantidade disponível no reservatório, que se estende por áreas do Sul e Sudeste do país, além de Paraguai, Uruguai e Argentina. O reservatório atende 90 milhões de pessoas, sendo responsável pela manutenção do nível de rios e lagos em algumas áreas do interior paulista durante o período de seca. 

Em entrevista à Agência Brasil, o pesquisador Didier Gastmans, do Centro de Estudos Ambientais da Unesp Rio Claro, explicou que a pesquisa buscou entender a importância da chuva na entrada de águas novas no aquífero, nas áreas de afloramento (superfície), e que foi possível confirmar esse papel. Ele acompanha o tema desde 2002, em seu doutorado, e todas as pesquisas desde então apontam que os efeitos de superexploração do reservatório são constantes, contínuos e tem piorado com a mudança de distribuição das chuvas na área de afloramento, que alimenta o aquífero. O problema causa preocupação em áreas de grande produção agrícola e população, como Ribeirão Preto, no norte paulista, onde os primeiros efeitos são sentidos desde a década de 1990. “Agora começou a aumentar muito o número de poços e isso começa a dar sinais em diversas regiões do interior”, disse Gastmans.

O geólogo afirmou que os indícios de superexploração estão claros no monitoramento dos poços e do nível dos reservatórios, atingindo aqueles próximos das regiões de afloramento, que têm níveis de dois a três metros mais baixos, em média, mas também os grandes poços de exploração para indústria e agronegócio, nos quais o rebaixamento atinge médias de 60 a 70 metros em dez anos. Nessa dinâmica “a água tem uma determinada profundidade no poço e vai baixando, o que demanda poços mais profundos e bombas mais potentes. Na porção oeste (do estado de São Paulo) a gente fala de grandes produtores e sistemas para abastecimento público. Pequenos produtores já sentem esse impacto em algumas regiões próximas da área de afloramento”, esclareceu.

Esse rebaixamento dos níveis chega, em determinados pontos, a até 100 metros, considerável até para as dimensões do Aquífero, que tem níveis com 450 metros de espessura do reservatório, chegando a até 1 quilômetro de profundidade. A maior parte do consumo do Guarani é para o abastecimento urbano, e ao menos 80% dela se concentram no estado de São Paulo.

Um dos fatores que preocupa no curto prazo é que a chuva nas regiões de superfície, a partir das quais há recarga no aquífero, são muito concentradas, situação na qual apenas uma pequena parcela de chuva infiltra para o subsolo e ocorre um escoamento maior e infiltra menos. Também há impacto do aumento da evaporação nas áreas de superfície, causado pelo aumento da média de temperatura nas regiões.

Gastmans criticou a falta de um conjunto claro de ações por parte dos órgãos públicos, afirmando que a primeira ação necessária é conhecer os usuários. “É necessária a implantação de um sistema de monitoramento em tempo quase real, para conhecer e dimensionar os atendimentos e as políticas de curto e médio prazo”. O segundo é consorciar água subterrânea e água superficial, para usar de maneira integrada de acordo com a disponibilidade sazonal. “Também se faz necessário pensar no planejamento futuro: sempre se fala em desenvolvimento, mas os gestores parecem ignorar que não existe desenvolvimento plenamente sustentável, pois todo desenvolvimento tem um impacto e essas pessoas precisam começar a se antecipar aos problemas”. O pesquisador da Unesp defendeu ainda a necessidade de pensar no uso de águas de melhor qualidade para abastecimento público e de águas de menor qualidade para outros usos, como irrigação de áreas extensas do setor sucroalcooleiro e de cítricos e uso industrial.

Procurada pela reportagem,  a Agência de Águas do Estado de São Paulo (SP Águas) informou que monitora todos os estudos relacionados à recarga do Aquífero Guarani e dos demais corpos d’água do estado. Segundo o órgão “a gestão do aquífero é realizada de maneira integrada com outros recursos hídricos, visando garantir o equilíbrio entre as demandas de uso e a preservação ambiental”. A maior parte da captação de água no estado de São Paulo se concentra em fontes superficiais (rios e lagos), sendo a captação em poços profundos, que acessam o Aquífero Guarani, a menor parcela do total dos recursos hídricos. “Toda captação de água no estado está sujeita à outorga, concedida somente após criteriosa análise técnica”.

Origem das águas

A pesquisa conduzida pela Unesp, com o apoio da Fapesp, agência paulista de amparo à pesquisa, usou o monitoramento de isótopos estáveis de hidrogênio e oxigênio como marcadores para identificar a origem das águas que compõem o reservatório, o que permitiu perceber as áreas de superfície que colaboram para a manutenção dos níveis do Aquífero Guarani. Também usaram um processo de datação com isótopos dos gases criptônio e hélio para datar a água de alguns poços, o que permitiu detectar idades variando de 2.600 anos, em Pederneiras, até 127 mil anos em Bebedouro, 230 mil anos em Ribeirão Preto e 720 mil anos no Paraná.

A pesquisa How much rainwater contributes to a spring discharge in the Guarani Aquifer System: insights from stable isotopes and a mass balance model pode ser acessada aqui.

Pesquisa mostra capitais na contramão de meta para redução de emissões

Em meio ao processo eleitoral municipal, a ausência de respostas para uma pergunta incomoda pesquisadores e ativistas ambientais: o que os candidatos propõem para enfrentar a crise climática e reduzir a emissão de gases de efeito estufa? A cobrança por medidas que enfrentem a questão ganha ainda mais peso em meio às intensas queimadas que vêm atingindo diferentes localidades do país e chegaram a gerar nuvens de fumaça em cidades como São Paulo e Belo Horizonte.

O biólogo Conrado Galdino, professor e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), destaca que o enfrentamento a esses incêndios é atribuição principalmente de órgãos ligados aos governos estaduais e ao governo federal. Ainda assim, ele afirma que os municípios podem adotar algumas iniciativas e argumenta que a simples piora da qualidade do ar deveria motivar os candidatos a prefeito a discutir medidas pertinentes.

“Traz muito preocupação essa grande quantidade de emissão decorrente dessas queimadas. Só aumenta a urgência da redução das emissões. Eu acho que isso precisava ser mais enfatizado, ou melhor, priorizado nas propostas dos candidatos”, diz Conrado Galdino.

Dados de um levantamento desenvolvido pela organização não governamental Instituto Cidades Sustentáveis (ICS) revela o tamanho do desafio: considerando a meta fixada pela Agenda 2030, seria preciso cortar mais da metade do volume de emissões líquidas em cinco das dez capitais mais populosas do país. Nas demais, a redução seria de pelo menos 30%.

 

A Agenda 2030 foi estabelecida pelos 193 Estados-Membros da ONU na Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável ocorrida em 2015. Ela fixou 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), e cada um deles se desdobra em um conjunto de metas. Uma delas diz respeito às emissões líquidas de gás carbono: chegar a 0,83 tonelada por habitante.

O levantamento do ICS foi realizado com base no Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG). Ele é mantido pelo Observatório do Clima, uma rede de entidades ambientalistas da sociedade civil brasileira. Os dados mais recentes têm como referência o ano de 2022. O ICS buscou reunir algumas informações justamente com o objetivo de cobrar propostas dos candidatos para temas considerados urgentes.

Entre as dez cidades mais populosas, Manaus lidera o ranking com 3,06 toneladas por habitante, seguida do Rio de Janeiro (2,03) e de Belo Horizonte (1,82). O melhor desempenho é o de Salvador (1,19). Para Galdino, apesar de o controle das emissões de gases depender em grande parte do Legislativo e do Executivo federal, a prefeitura tem como dar contribuições importantes, e seu papel não deve ser menosprezado. “O município pode fazer muita coisa”, afirma.

 

Ônibus movido a hidrogênio desenvolvido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ/Divulgação

De acordo com Marco Antonio Milazzo, professor do curso de arquitetura e urbanismo na unidade da faculdade Ibmec localizada no Rio de Janeiro, existem três frentes em que a atuação das prefeituras pode trazer resultados importantes: transporte, consumo de energia e gestão do lixo.

“O município pode regulamentar o transporte e investir em modais que emitam menos gases de efeito estufa. Por exemplo, criar mais faixas de ciclovias e mais linhas de transporte público. É fundamental adotar medidas que contribuam para a redução do uso de transporte individual”, explica Marco Antonio Milazzo.

O professor destaca algumas experiências que já estão sendo adotadas em algumas cidades, como a eletrificação do transporte público. Ainda que a energia elétrica também esteja associada à emissão de gases, o volume seria muito inferior quando comparado com o diesel. Milazzo destaca também que já existem veículos movidos a hidrogênio, mencionando inclusive pesquisas desenvolvidas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Outra iniciativa bem avaliada por ele é a implantação da tarifa zero no transporte público, adotadas em algumas cidades do país. “Você não paga. O transporte é gratuito. É um incentivo para que as pessoas usem o ônibus em vez de usar seu automóvel.”

Milazzo explica também que a destinação incorreta do lixo está associada a uma alta emissão de gás de efeito estufa, razão pela qual as prefeituras devem eliminar os lixões e investir mais nos aterros sanitários. Em outra frente, ele considera que a administração municipal deve trabalhar pela diminuição no consumo de eletricidade, o que contribui indiretamente para a queda na emissão de gases de efeito estufa.

“Qualquer medida que a prefeitura possa adotar para economizar energia elétrica tem um efeito positivo. Pode também investir em energia solar e em energia eólica como alternativa inclusive para a iluminação pública. Da mesma forma, a economia de combustíveis é fundamental. A prefeitura pode adotar medidas para reduzir o consumo de gasolina e diesel na administração municipal”, acrescenta.

O professor cita ainda uma quarta frente, que considera mais complicada: controlar o crescimento urbano. A expansão desregulada, segundo explica, agrava os problemas ligados ao transporte e ao lixo.

Contramão

Belo Horizonte é um exemplo emblemático do atual cenário. Na contramão da meta da Agenda 2030, a capital mineira vem registrando um aumento no volume de emissões líquidas. Uma tendência de queda chegou a se iniciar no ano de 2017, mas foi interrompida em 2020. Após dois anos de alta, as emissões de gás carbônico atingiram 1,82 tonelada por habitante em 2022, ano dos últimos dados incluídos no SEEG. É o pico registrado no levantamento, que reúne informações desde 2015.

 

O biólogo Conrado Galdino, que acompanha de perto a cidade, avalia que o transporte figura como principal “vilão” das emissões. Ele também destaca o impacto relevante dos resíduos e menciona uma peculiaridade da capital mineira: um grande volume de emissões se associa à produção mineral. “Nesse caso, depende muito mais da atuação em âmbito federal. Mas o município pode pensar, por exemplo, em oferecer benefícios para as indústrias menos poluidoras ou avaliar políticas tributárias.”

Nos últimos anos, a mobilização da população de Belo Horizonte em defesa da preservação da Serra do Curral, considerado cartão-postal da cidade, gerou cobranças para que o município atuasse para coibir devastações decorrentes da mineração. Como um dos resultados dessa pressão, a prefeitura chegou recentemente a um acordo com a Empresa de Mineração Pau Branco (Embrapa) para o fechamento das atividades da Mina Granja Corumi e doação do terreno ao município, para que seja anexado ao Parque das Mangabeiras, após a recuperação da área.

 

Parque das Mangabeiras, na capital mineira – Prefeitura de Belo Horizonte/Divulgação

Segundo Galdino, os avanços em questão ambiental dependem do comportamento da população. Por essa razão, ele acredita que as medidas mais importantes que os municípios podem promover são voltadas para o processo educativo.

“A gente precisa de uma sociedade sensibilizada para as mudanças ou para a necessidade de mudanças. Não adianta ter uma política de papel, e a sociedade não levá-la em consideração no cotidiano. Sem sombra de dúvidas, é preciso um forte investimento em educação para gerar essa sociedade mais inclinada a aceitar as mudanças, inclusive algumas mudanças que vão na direção oposta à sensação de bem-estar que a gente tem hoje dentro do sistema em que vivemos”, observa Conrado Galdino.

Sensibilidade

Para o biólogo, a partir do momento em que a população se mostrar mais sensível à temática ambiental, os políticos terão mais dificuldade de ignorá-la. Além disso, aqueles que são favoráveis a medidas mais contundentes ficarão em posição mais confortável para adotá-las.

Galdino cita o exemplo do transporte e menciona algumas ações que seriam benéficas como estimular a transição da motorização privada para a motorização pública coletiva, reorganizar de forma inteligente estações e pontos de ônibus, além eletrificar a frota de transporte público, medida que já vem sendo experimentada em Belo Horizonte.

 

Ônibus elétrico em circulação em Belo Horizonte – Prefeitura de Belo Horizonte/Divulgação

“São medidas que mexem com o modelo que está posto, onde você tem diversas empresas de transporte estabelecidas e um sistema de remuneração da prefeitura. Sem uma população sensibilizada, o tomador de decisão hesita em tocar nisso.”

O professor vê situação similar envolvendo os resíduos sólidos. Ele cita discussões sobre a regulamentação da economia circular, adoção de embalagens mais sustentáveis e remodelagem da taxa de coleta de resíduos sólidos.

“Mais uma vez a gente se volta para a questão da educação. A população precisa ser capaz de adotar um consumo crítico, de fazer opções alinhadas com o desenvolvimento sustentável e, consequentemente, estimular uma redução na produção de resíduos. Enfim, é necessária uma consciência de que se trata de sobrevivência, do bem-estar humano na Terra. Quando a gente fala de emissão atmosférica, o que está na ponta do problema é a nossa condição existencial”, alerta.

Em capitais menos populosas, o cenário não tem se revelado muito diferente. Com indicadores bastante similares aos de Belo Horizonte, Vitória registrou em 2022 um volume líquido de 1,83 tonelada por habitante. A capital capixaba também experimentou um crescimento significativo a partir de 2020.

 

No ano passado, a proliferação de material particulado liberado por indústrias causou grande incômodo em moradores de alguns bairros e foi respondida com mobilizações de entidades da sociedade civil que cobraram uma solução em âmbito legislativo. Conhecido como pó preto, sua presença é também um indicativo de um alto volume de emissão de gases de efeito estufa. Aprovada na Câmara Municipal após as manifestações populares, a Lei 10.011/2023 fixou novas normas e diretrizes para a proteção da qualidade do ar atmosférico.

Cidade verde

Segundo Galdino, o tema das emissões de gases de efeito estufa geralmente só é abordado por candidatos a prefeito relacionado à infraestrutura verde da cidade. Fala-se em ações de arborização e de requalificação das praças. Embora sejam medidas que gerem conforto local por criar áreas de sombra e dar aos moradores uma melhor sensação climática, elas proporcionam apenas uma ínfima captura de carbono.

Esse aspecto também é pontuado por Marco Antonio Milazzo. Ele avalia que são medidas importantes, mas com pouco impacto se tomadas de forma isolada. “As capitais inclusive já nem têm muita área disponível para criar novas praças. Até por isso, o mais importante é preservar o que já temos no interior das cidades.”

Milazzo lembra que há capitais com grandes parques e áreas verdes. A fiscalização, além de impedir o desmatamento, deve estar voltada para coibir o crescimento de construções irregulares que desmatam essas áreas, o que ocorre por exemplo com a expansão das favelas nas encostas e nos morros.

 

Área de encosta em comunidade do Rio de Janeiro – Tomaz Silva/Agência Brasil

O professor, no entanto, aponta que propostas realmente eficazes para a redução das emissões não têm ganhado destaque no debate eleitoral municipal.

“No Rio de Janeiro, que eu tenho acompanhado mais de perto, os candidatos dão prioridade para outros assuntos, principalmente para a segurança pública. Alguns vereadores até dão mais atenção a esta pauta, o que não deixa de ser importante já que são temas que podem ser endereçados através de leis aprovadas pela Câmara Municipal. Mas infelizmente é comum que, depois de eleito, o discurso voltado para a temática ambiental fique em segundo plano.”

Panorama Covid-19 mostra queda do número de casos no Rio de Janeiro

A nova edição do Panorama Covid-19, divulgada nesta terça-feira (1º), apresenta diminuição de seis do total de sete indicadores da doença, após nove semanas com tendência de alta.

De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde, o único indicador que manteve a tendência de alta foi a taxa de positividade do teste rápido de antígeno em amostras coletadas em unidades de saúde da rede pública. Aumentou de 8% na Semana Epidemiológica (SE) 34 para 11% na SE 38, uma variação de 39%. Já os testes rápidos da Dasa (amostras coletadas em laboratórios da rede privada) tiveram redução de 39%: de 18% na semana 34 para 11% na 38.

A redução das taxas de positividade, registradas pelos testes RT-PCR, também foi acentuada. Nas amostras coletadas pelo Laboratório Central de Saúde Pública Noel Nutels (Lacen), na rede pública, houve variação negativa de 41%, caindo de 12% na SE 34 para 7% na SE 38. Nos laboratórios da rede particular Dasa, a redução foi de 32%, caindo de 13% para 9%.

Os atendimentos nas unidades de pronto atendimento 24h (UPAs) do estado do Rio também mostraram a tendência de redução, com diminuição de 7% para adultos e crianças. O boletim registra  uma tendência geral de estabilização dos atendimentos com sintomatologia de síndrome gripal compatível com a Covid-19, com leves variações aleatórias.

Caminhos da Reportagem mostra sucesso de brasileiros na Paralimpíada

Um feito histórico. Foi assim que o Brasil terminou sua participação nos Jogos Paralímpicos deste ano em Paris. Pela primeira vez, o país ficou entre os cinco maiores ganhadores de medalhas na competição, atrás apenas de China, Estados Unidos, Reino Unido e Holanda. Foram 25 medalhas de ouro. Os brasileiros subiram ao pódio 89 vezes.

O Brasil, que ganhou a primeira medalha paralímpica em 1976, em Toronto, soma agora 462 medalhas – 134 de uros, 158 de prata e 170 de bronze. 

Paris marcou também a estreia no pódio de algumas modalidades. Foi o caso do triatlo. O atleta Ronan Cordeiro fez história com sua medalha de prata. “Nós mostramos que os sul-americanos têm muita garra e muita força. E foi só o início.”

Nadadora Carol Santiago trouxe cinco medalhas – Tânia Rêgo/Agência Brasil

 

Em outros esportes, como a natação, o Brasil se consolidou ainda mais como potência paralímpica. Carol Santiago abocanhou mais cinco medalhas em Paris. Agora a atleta soma dez medalhas e é a brasileira com o maior número de medalhas de ouro da história. “Eu digo que, antes do movimento paralímpico, eu era uma pessoa incompleta. É uma grande oportunidade de você crescer não só como atleta, mas também como pessoa, como ser humano”, disse a nadadora, ainda emocionada.

Outro nome da natação que subiu ao pódio três vezes em Paris foi Gabriel Araújo. Aos 22 ano,s ele acumula seis medalhas paralímpicas. O Gabrielzinho, conhecido como o “Pelé das piscinas”, também caiu nas graças da torcida e virou sensação. “Tinha muita gente no estádio, então isso é muito bom. E eu consegui de alguma forma me aproximar deles, estreitar essa relação, esse carinho. E, com essa aproximação, dar retorno de todas as energias positivas que são sempre bem-vindas e estão aí para somar.”

E Paris também foi palco de conquistas no halterofilismo. Uma das atletas da modalidade cruzou um longo caminho, que ligou Itu, no interior de São Paulo, à França. Mariana D’Andrea prometeu e cumpriu: bicampeã paralímpica. E a medalha tinha uma dedicatória especial, o pai, Carmine D’Andrea, que morreu em 2023. Antes de partir para Paris, ela cravou: “Prometi que iria trazer a medalha enquanto meu pai estava vivo. Ele sempre estava me apoiando, assistindo. Meu maior torcedor, meu maior incentivador, minha inspiração maior era ele. Sem sombra de dúvida, eu tenho que voltar com essa medalha.”

Quase 100% da delegação brasileira paralímpica em Paris – 280 atletas – recebe hoje Bolsa Atleta. O programa foi criado por decreto em 2004 e entrou em vigor em 2005. Para Mizael Conrado, atual presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro e ex-jogador de futebol de cegos, o incentivo foi fundamental para o resultado em Paris. “Hoje o Bolsa Atleta é muito significativo, é muito importante, um dos principais instrumentos para o desenvolvimento do esporte no Brasil, porque garante ao atleta a condição de poder se dedicar exclusivamente ao esporte.”

A equipe da TV Brasil acompanhou esses e outros atletas durante toda sua preparação para os Jogos Paralímpicos. Um ciclo que começou anos antes, como foi o caso de Verônica Hipólito, bronze nos 100 metros. “Estava há oito anos fora dos Jogos. Tive não sei quantos tumores no cérebro. Tu achas que eu ia deixar de vir? Aqui estou e consegui conquistar essa medalha, que é de bronze, mas ninguém comemorou tanto quanto eu aquele pódio”.

O repórter Lincoln Chaves acompanhou por anos esses atletas. E cruzou o Oceano Atlântico para ver de perto o triunfo paralímpico brasileiro em Paris. 

A história do paradesporto brasileiro e de Verônica, Carol, Gabriel, Ronan e outros atletas paralímpicos vai ser contada no episódio do Caminhos da Reportagem Brasil paralímpico, potência em movimento, que vai ao ar nesta segunda-feira (30), às 23h30, na TV Brasil. 

Obras de Rebolo que retratam o bairro do Morumbi estão em mostra em SP

“No começo dos anos 1940, o Morumbi era pouco habitado. Havia chácaras e algumas granjas. Não se considerava um lugar para morar, as ruas eram de terra, nada era asfaltado, não havia luz elétrica, água era de poço. Morar no Morumbi era morar no campo”. Esse foi o retrato que Lisbeth Rebolo, professora emérita do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina da Universidade de São Paulo (Prolam-USP) e professora titular de história da arte na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), traçou sobre o bairro paulistano daquela época.

A descrição feita por Lisbeth é uma lembrança de como era o bairro na época em que seu pai, o grande artista brasileiro Francisco Rebolo (1902-1980), vivia nele. “Luz elétrica só no fim do decênio 1940 e o asfalto na avenida Morumbi só veio a existir no início dos anos 1950. No Morumbi, tudo era silêncio e era possível ouvir o canto dos pássaros de manhã. Muito verde, cheirinho de mato, burburinho das árvores quando havia vento”, disse em entrevista à Agência Brasil.

São Paulo-20/09/2024 Obras de Rebolo e que retratam o bairro do Morumbi serão apresentadas em mostra em SP. Fotos Mauricio Froldi – Mauricio Froldi

Esse Morumbi mais rural e bucólico – bem diferente do atual bairro nobre e residencial – foi diversas vezes inspiração para as pinturas de seu pai. E são esses registros de Rebolo sobre o bairro que serão objeto da nova exposição Rebolo e o Morumbi: Conectados pela Natureza, que entra em cartaz neste domingo (22) na Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, situada exatamente nessa região de São Paulo.

Como um dos primeiros moradores do bairro, o artista foi responsável pela produção de pinturas que se baseavam em diferentes referentes paisagísticos. Rebolo testemunhou um período de profundas transformações na cidade de São Paulo, que deixava de ser província para se tornar metrópole. 

O galerista Marcelo Guarnieri, um dos curadores da mostra, explica que o nome da exposição, Conectados pela Natureza, vem do fato de que Rebolo foi um dos primeiros moradores do Morumbi, em uma época que a região era totalmente tomada pela natureza, o que possibilitava o exercício da paisagem sem a necessidade de sair para muito longe de casa. 

“O bairro do Morumbi é retratado como algo idílico, com matas, lagos e uma vida quase que rural no meio da metrópole. Rebolo explora todas as nuances de verdes e de outras cores que a natureza proporciona”, acrescentou o curador.

O artista

Rebolo foi considerado um dos mais importantes paisagistas da pintura brasileira. Somando uma produção que ultrapassa 3 mil pinturas, além de centenas de desenhos, gravuras e retratos, a obra de Rebolo segue hoje uma referência, marcando presença nos principais museus brasileiros, no acervo de órgãos culturais e em coleções particulares de todo o país.

“Rebolo trata do tema ambiental, de preservação e respeito ao meio ambiente muitas décadas antes deste tema se tornar um emergência global”, ressaltou Sergio Rebollo, administrador, publicitário, neto do artista e presidente do Instituto Rebolo.

Em suas obras, contou o neto, o artista manifestava profundo respeito à figura humana, retratando-a sob o ponto de vista da equidade. “A mulher, o migrante e o imigrante, o operário, o agricultor, o PCD, todos estão presentes e são protagonistas em sua obra”, descreveu. 

“Sua obra nos traz personagens do trabalho cotidiano, como o trabalhador arando a terra, o lenhador, o operário. Com frequência, seus personagens estão imersos na paisagem. Nos anos 1930 e 1940, a perspectiva da arte social era muito forte no Brasil e também internacionalmente. Os artistas estão em diálogo com o seu tempo”, contou.

São Paulo-20/09/2024 Obras de Rebolo e que retratam o bairro do Morumbi serão apresentadas em mostra em SP. Fotos Mauricio Froldi – Mauricio Froldi

A mostra

Em parceria com o Instituto Rebolo e a Galeria Marcelo Guarnieri, a mostra apresentará 35 pinturas do artista que traçam um período entre os anos 1940 até 1980, quando o artista faleceu, deixando uma paisagem inacabada, que também faz parte da exposição. Além das pinturas, a exposição trará fotografias de arquivo, publicações e objetos que fizeram parte do ateliê do pintor.

A exposição integra as comemorações dos 50 anos da Fundação Maria Luisa e Oscar Americano e ficará aberta ao público até o dia 14 de novembro. “É uma mostra muito significativa de um dos mestres da pintura de paisagem do Brasil”, disse Eduardo Monteiro, diretor cultural da Fundação.

Monteiro faz um paralelo entre a história de Oscar Americano, o bairro e o pintor. “Esse ano a fundação comemora 50 anos de existência e o bairro do Morumbi faz parte da história do Oscar Americano. Como engenheiro especializado em engenharia pesada, Oscar Americano começou a comprar áreas no bairro na década de 40 e foi o responsável pelo planejamento e urbanização de toda a região do Morumbi. Inclusive, na década de 50, ele se mudou para o bairro com a família, na casa onde hoje funciona a fundação. Paralelamente, Rebolo começou a frequentar o bairro no final da década de 30 e, na década de 40, ele também foi um dos primeiros moradores da região, onde encontrava uma inspiração para sua pintura de paisagens”.

Mais informações sobre a mostra podem ser obtidas no site da Fundação Maria Luisa e Oscar Americano. A entrada é gratuita às terças-feiras.

São Paulo-20/09/2024 Obras de Rebolo e que retratam o bairro do Morumbi serão apresentadas em mostra em SP. Fotos Mauricio Froldi – Mauricio Froldi

 

Zoo de SP mostra arara-azul-de-lear ao público pela primeira vez

O Zoológico de São Paulo instalou pela primeira vez em sua área de visitação um grupo de 6 araras-azuis-de-lear, espécie ameaçada de extinção. Escolas públicas, estaduais e municipais do estado de São Paulo já podem solicitar de agendamento para visitas gratuitas. Cada escola pode marcar um passeio para até 250 alunos por dia. 

A arara-azul-de-lear faz parte da Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção. Atualmente existem 2.200 exemplares na natureza, segundo o último censo do ICMBIO. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil – Paulo Pinto/Agência Brasil

A instituição é a primeira do país a reproduzir a espécie em cativeiro a partir de um casal matriz resgatado do tráfico de animais. A arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari), que faz parte da Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção, conta atualmente com 2.200 exemplares na natureza, segundo o último censo do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO).

A ave é natural do interior da Bahia, uma região de caatinga com presença de paredões de arenito. Atualmente, as principais ameaças da espécie são o desmatamento de seus territórios, o tráfico de animais, o adensamento das cidades e os incêndios florestais.

Viveiro

As aves foram transferidas para um viveiro construído especialmete para elas. No local, há seis araras-azuis-de-lear: Felipe, Luca, Antonio e Benjamin, Amora e Romeu, que são filhos de Maria Clara e Francisco, pais também de Teobaldo, primeiro indivíduo nascido em um zoológico na América Latina, em 2015.

Até o momento, 19 filhotes nasceram na instituição e cinco deles foram encaminhados para o programa de soltura, na Bahia, seu habitat de origem, por meio de parceria com o Instituto Arara-azul-de-lear, parte da rede nacional de conservação da espécie.

Uma das preocupações da instituição é o caráter educativo da iniciativa.

“O local possui placas com orientações sobre conservação, além da presença de educadores ambientais que dialogam com os visitantes sobre a importância da preservação ambiental. A área também é um importante polo educativo para os estudantes que visitam o local. Vale lembrar que o Zoo São Paulo recebe gratuitamente, três vezes por semana, alunos de escolas públicas das redes municipal e estadual”, informou Cláudio Hermes Maas, diretor técnico do Zoológico de São Paulo, em entrevista à Agência Brasil.

Zoológico de São Paulo, conseguiu reproduzir em cativeiro a espécie em extinção da Arara Azul de Lear. Foto – Paulo Pinto/Agência Brasil

Embora as espécies não dividam o viveiro com outras, o espaço escolhido está instalado nas alamedas que compõe o bosque, junto com outras espécies de aves. Algumas, como a Jacutinga, também estão entre as espécies ameaçadas que recebem atenção especial nos programas de preservação.

Segundo Massa, o zoológico pretende aumentar o número de aves de espécies ameaçadas, estabelecendo um circuito educativo sobre animais em risco de extinção.

Como conhecer

A solicitação de agendamento para visitas gratuitas de escolas pode ser feita pelo email agendamentos.escolas@zoologico.com.br – com o nome completo do estasbelecimento e o número de alunos que farão o passeio. No site do zoológico, pode ser encontrad o passo a passo para a solicitação, assim como o calendário anual. Cada escola pode marcar um passeio com até 250 alunos por dia. 

Os ingressos particulares custam a partir de R$ 39,90. A instituição é aberta todos os dias da semana. Outras gratuidades, descontos e horários estão disponíveis no site.

Monitoramento mostra que 99% dos incêndios são por ação humana

Apenas uma parte ínfima dos incêndios florestais que se proliferam pelo país é iniciada por causas naturais. A constatação é da doutora em geociências Renata Libonati, coordenadora do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

“De todos os incêndios que acontecem no Brasil, cerca de 1% é originado por raio. Todos os outros 99% são de ação humana”, afirma.

A pesquisadora é responsável pelo sistema Alarmes, um monitoramento diário por meio de imagens de satélite e emissão de alertas sobre presença de fogo na vegetação. Ao relacionar os dados com a proibição vigente de colocar fogo em vegetação, ela afirma que “todos esses incêndios, mesmo que não tenham sido intencionais, são de alguma forma criminosos”, disse em entrevista à Agência Brasil. 

Com base em dados que ficam disponíveis a cada 24h, a professora constata que “a situação é muito crítica” nos três biomas analisados, sendo a pior já registrada na Amazônia. Em relação ao Cerrado e o Pantanal, ela ressalta que a presença das chamas está “muito próxima do máximo histórico”.

Renata Libonati associa o fogo que consome vegetação em diversas regiões brasileiras a atividades econômicas. “A ocorrência dos incêndios no Brasil está intimamente relacionada ao uso da terra”.

Com o olhar de quem acompanha cada vez mais eventos climáticos extremos, a pesquisadora percebe um ultimato: “Nosso estilo de vida atual é incompatível com o bem-estar da nossa sociedade no futuro”.

Acompanhe os principais trechos da entrevista:

Agência Brasil: A partir do monitoramento realizado pelo sistema Alarmes, é possível traçar um retrato de como está a situação no país? 
Renata Libonati: O sistema Alarmes monitora atualmente os três principais biomas do Brasil: Amazônia, Cerrado e o Pantanal. Principais no sentido dos que mais queimam. No Pantanal, do início do ano até 18 de setembro, já teve cerca de 12,8% da sua área queimada. Fazendo um comparativo com 2020, o pior ano já registrado, 2020 queimou no ano todo cerca de 30% do bioma.

A média anual que o Pantanal queima é em torno de 8%. Então, 2020 foi muito acima e 2024 também ultrapassou a média de porcentagem diária atingida. Isso representa cerca de 1,9 milhão de hectares queimados em 2024 [para efeito de comparação, o estado do Sergipe tem quase 2,2 milhão de hectares]. Esse acumulado está abaixo do que queimou em 2020 no mesmo período, mas até o início de setembro, o acumulado era maior que o mesmo período de 2020.    

A Amazônia já teve cerca de 10 milhões de hectares queimados [o que equivale a mais que o estado de Santa Catarina]. Como a Amazônia é muito grande, isso representa em torno de 2,5% da sua área queimada. A situação é muito crítica. Esse é o pior ano já registrado desde que a gente tem medição aqui no nosso sistema, em 2012.

O Cerrado já queimou cerca de 11 milhões de hectares, o que corresponde a quase 6% da sua área. Esse valor está ligeiramente abaixo do ano que mais queimou, que foi em 2012.

De uma forma geral, a situação é muito crítica nos três biomas. A Amazônia no máximo histórico; e nos outros biomas, muito próxima do máximo histórico.

Agência Brasil: Com os dados coletados, notam-se indícios de ações criminosas e/ou coordenadas?
Renata Libonati: O monitoramento por satélite não permite fazer distinção de que tipo de ignição originou determinado incêndio. O que posso dizer é que existem duas formas de iniciarmos um incêndio. A primeira é a forma humana, seja intencional ou criminosa. A segunda é a causa natural, que seriam os raios.

Percebemos um padrão que, de todos os incêndios que acontecem no Brasil, cerca de 1% é originado por raio. Todos os outros 99% são originados de ação humana. Desde maio até agora, não teve nenhuma ocorrência no Pantanal de incêndio começado por raio. Isso monitorado por satélite e com dados de descargas atmosféricas.

Isso nos indica que é fogo humano. Sabendo que existe decreto que tem proibido o uso do fogo em todas essas regiões devido à crise climática que a gente está vivendo esse ano, todos esses incêndios, mesmo que não tenham sido intencionais, são de alguma forma criminosos. Exceto quando é acidental.

Agência Brasil: São ligações com atividades econômicas, mais notadamente a agropecuária?
Renata Libonati: Existem vários fatores que estão relacionados a esses inícios de incêndio. Por exemplo, o desmatamento, um fator que fica muito ligado ao início de incêndio, porque, em geral, utiliza-se o fogo em algumas situações de desmatamento.

A ocorrência dos incêndios no Brasil está intimamente relacionada ao uso da terra, às atividades econômicas, principalmente, ligadas ao desmatamento para abrir áreas de pastagem e agricultura e, quando já está consolidado, muitas vezes se utiliza o fogo por várias razões, e isso causa os grandes incêndios que estamos observando.

Agência Brasil: O fogo, que já foi um grande aliado da humanidade, está cada vez mais se tornando um inimigo? 
Renata Libonati: É muito importante não esquecer que o fogo nem sempre é ruim. Regiões como o Cerrado e parte do Pantanal, que são constituídas basicamente de regiões savânicas, são o que chamamos de dependentes do fogo. Precisam da ocorrência anual do fogo para manter a sua biodiversidade e padrão ecossistêmico. O que ocorre é justamente isso que você comentou, a ação humana alterou completamente o regime de fogo natural dessas regiões para um regime atual que é muito mais agressivo, no sentido que os incêndios são mais intensos, mais extensos e mais duradouros. Isso tem um efeito muito ruim mesmo em regiões que são dependentes do fogo.

É diferente da Amazônia e de qualquer floresta tropical, que a gente chama de ecossistemas sensíveis ao fogo. Quando ocorre, é altamente prejudicial. É sempre bom fazer essa distinção entre o Cerrado, Pantanal e Amazônia, porque as relações que cada ecossistema tem com o fogo são diferentes, e o uso do fogo precisa ou não ser tratado de forma diferente de acordo com o ecossistema.

Rio de Janeiro (RJ), 19/07/2024 – Sistema de alarme de queimadas. Foto: Lasa/Reprodução – Lasa/Reprodução

Agência Brasil: Como o sistema Alarmes faz o monitoramento?
Renata Libonati: O sistema Alarmes foi lançado em 2020. Até aquela época, o monitoramento de área queimada por satélite era feito com atraso que podia chegar a três meses para a gente ter estimativas de quanto e de onde queimou. O sistema Alarmes veio para trazer uma informação que era muito requerida pelos órgãos de combate e prevenção, que era informação da área queimada de alguma forma rápida, em tempo quase real, para fazer as ações de planejamento do combate.

Nós utilizamos imagens de satélite da Nasa [agência espacial americana], aprendizado de máquina profundo [um método de inteligência artificial] e informações de focos de calor. Isso nos permitiu criar esses alertas rápidos. Enquanto antes nós precisávamos esperar de um a três meses para ter essas localizações do que queimou, nós temos essa informação no dia seguinte que queimou. Ele é atualizado diariamente com novas informações e vem sendo aprimorado através da colaboração com entidades públicas, privadas e até da sociedade. Nos ajudam a validar os nossos alertas e a qualidade dos nossos dados, por exemplo, através do sistema Fogoteca.

Brigadistas que estão combatendo tiram fotografias georreferenciadas e inserem isso no sistema como uma forma de saber que os nossos alertas estão corretos no tempo e no espaço. A Fogoteca vem crescendo desde então, nos auxiliando a melhorar essas estimativas com informação de campo, que é muito importante para validar e verificar a acurácia do monitoramento que fazemos por satélite.

Agência Brasil: Houve uma atualização esta semana no Alarmes, para aumentar a precisão.
Renata Libonati: Essa diferença de dar a área queimada com atraso de três meses ou de um dia vai fazer com que você tenha uma melhor precisão quando tem mais tempo para trabalhar aquelas imagens do que quando você tem que fazer uma coisa muito rápida, quando perde um pouco a precisão. É aquele cobertor curto, quando eu tenho um processamento rápido, eu perco qualidade, mas ganho agilidade. Quando eu tenho um processamento lento, eu perco em agilidade, mas ganho em qualidade.

Os nossos alertas, por terem essa capacidade de identificar rapidamente o que que aconteceu, têm uma qualidade mais restrita que um dado mais lento. O que fizemos para atualizar isso foi juntar os dados mais lentos com os mais rápidos, de forma a diminuir essas imprecisões: efeitos de borda e omissões em casos específicos

Agência Brasil: O sistema Alarmes é uma ferramenta. Para conter a proliferação de incêndios no país são necessárias ações da sociedade e governos. Como especialista no assunto, sugere caminhos? 
Renata Libonati: A gestão do incêndio não passa apenas pelo combate. Muito pelo contrário, o pilar precisa ser a prevenção. Passa, por exemplo, por uma gestão da vegetação antes da época de fogo, fazer aceiros [terreno sem vegetação que serve como barreira para impedir a propagação do fogo], diminuir material combustível seco, muitas vezes através de queimas prescritas, quando se usa o que chamamos de “fogo frio”, antes da época de fogo, quando a área ainda está úmida. Fragmentar a paisagem para quando chegar a época de fogo, ele não ter para onde ir porque você já tirou aquela biomassa dali, contendo o incêndio.

Essas técnicas de prevenção também englobam maior conscientização e educação ambiental sobre o uso do fogo. Maior fiscalização. Ações que precisam ser feitas de forma continuada ao longo de vários anos.

Diante das condições climáticas que estamos vivenciando nas últimas décadas e, principalmente, nos últimos anos, observamos que esses eventos extremos, como grandes secas e ondas de calor estão cada vez mais frequentes, duradouros e persistentes e essas são as condições que levam a grandes incêndios. Então qualquer ignição vai se propagar de uma forma muito rápida, muito intensa, e o combate é muito difícil.

Mesmo que tenhamos um empenho muito grande, como está acontecendo este ano por parte dos governos federal e estaduais empenhados no combate, mesmo assim essas condições climáticas são muito desfavoráveis ao combate. É muito difícil combater, por isso que é preciso sempre priorizar a prevenção. O Brasil deu um primeiro passo para isso, que foi a lei do Manejo Integrado do Fogo, aprovada o final de julho, sancionada pelo presidente da República.

Essa lei vai permitir uma mudança de paradigma na forma em que o Brasil realiza a sua gestão de incêndios, permitindo um pilar muito forte na prevenção do que propriamente no combate. Já demos um primeiro passo.

Agência Brasil: Pode se dizer que mudanças climáticas são uma ameaça não para o planeta, e, sim, para a vida humana? 
Renata Libonati: O que estamos vivenciando hoje é um resultado do que a humanidade vem fazendo ao longo de várias décadas. Realmente é preciso fazer uma mudança na forma que a gente utiliza o planeta porque o nosso estilo de vida atual é incompatível com o bem-estar da nossa sociedade no futuro.

Se continuarmos a emitir gases do efeito estufa na mesma faixa que estamos hoje, vamos ter, os modelos climáticos indicam, nos 2050 até 2100, ocorrências muito mais frequentes de ondas de calor, de secas, enchentes como a que a gente viu no Rio Grande do Sul. Isso vai impactar diretamente a vida humana. É importante chamar atenção que sempre as pessoas que vivem em maior vulnerabilidade são aquelas que vão ser as mais impactadas.

Agência Brasil: Voltando ao sistema Alarmes, é uma mostra de que a academia está centrada para as necessidades atuais da sociedade?
Renata Libonati: Essa ideia de que a universidade vive fechada nas suas quatro paredes já não procede. As universidades públicas, há algumas décadas, mudaram a forma de fazer ciência, passando por uma ciência que visa auxiliar na solução dos problemas que a nossa sociedade tem hoje. O Alarmes é, de fato, um bom exemplo de que todo o conhecimento gerado na academia pode ser utilizado na forma de trazer um benefício para a solução desses problemas. No caso, a gestão dos incêndios, que vai levar também a uma melhoria da qualidade do ar.

No caso do Alarmes, o desenvolvimento foi possível por conta de uma aproximação do Prevfogo [Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais] do Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis], que financiou um edital no CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico]. Foi um edital inédito e eles trouxeram os principais problemas que eles tinham. Um desses problemas era o monitoramento mais rápido da área queimada. Então é muito importante que haja investimentos públicos na universidade para que a gente possa ter condições de desenvolver e melhorar cada vez mais a inovação que podemos ter.

Nós tivemos também muitos investimentos de ONGs [organizações não governamentais], como Greenpeace, Wetlands Internacional, WWF, CEPF, Terra Brasilis. Uma série de ONGs preocupadas com a questão ambiental e que fomentaram algumas melhorias no sistema.

Estudo mostra que mancha de polução no Tietê aumentou 29%

Ás vésperas do Dia do Rio Tietê, celebrado no próximo domingo (22), programa de monitoramento da Fundação SOS Mata Atlântica revelou que houve uma piora na poluição do rio em 2024. De acordo com o programa Observando os Rios, a água está imprópria para uso em 207 dos 576 quilômetros (km) analisados. Isso representou um crescimento de 29% em relação ao ano anterior, quando a mancha de água imprópria para usos cobria 160 quilômetros. Dos 207 km de mancha, 131 km estavam com qualidade ruim e 76 km, péssima.

Este é o quarto ano seguido em que a área poluída cresce. “A mancha é um termo que demos como sendo essa porção do rio que está sem oxigênio, que está concentrando tantos poluentes que as bactérias aeróbicas deixam de trabalhar e, as anaeróbicas, entram em funcionamento, fazendo com que o rio tenha aspecto escuro, mau cheiro e baixa diversidade biológica, sem peixes, aves ou moluscos”, explica Cesar Pegoraro, educador e mobilizador da Causa Água Limpa. “O rio está sempre nos mostrando o que a sociedade está fazendo com ele. Nesse sentido, a mancha está mostrando para a gente que tem políticas públicas que precisam ganhar força. Cidadãos e cidadãs precisam se engajar mais com a questão do saneamento básico, cuidar mais da rua e da poluição difusa”

Rio Tietê atravessa praticamente todo o estado de São Paulo, de leste a oeste – Rovena Rosa/Agencia Brasil

Segundo Gustavo Veronesi, coordenador da Causa Água Limpa da SOS Mata Atlântica, uma das explicações para o aumento da mancha de poluição no Tietê são as emergências climáticas. “O principal fator desse aumento da mancha de poluição se deve às emergências climáticas. Na região metropolitana tem chovido bem menos então o esgoto, que ainda cai no rio, tem menos água para diluir, devido a esse processo de seca”, explicou à Agência Brasil.

Além dos fatores climáticos, o especialista aponta a falta de saneamento básico como outra causa do aumento da área poluída. “Muita gente ainda não tem o acesso básico ao serviço de tratamento e coleta de esgoto. Então, muito esgoto ainda cai no rio”, alerta Veronesi.

Histórico

Maior rio do estado de São Paulo, com 1.136 quilômetros da nascente à foz, o Tietê corta o estado de leste a oeste, banhando 62 municípios paulistas. Entre esses municípios, a capital São Paulo.

A data em celebração ao rio surgiu em 1992, durante a ECO-92, realizada no Rio de Janeiro. Durante o evento, um abaixo-assinado com mais de 1,2 milhão de assinaturas foi entregue ao então governador de São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho, exigindo a despoluição do rio.

A partir daí, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) iniciou o Projeto Tietê para despoluição do rio e, a SOS Mata Atlântica criou um programa de monitoramento da qualidade de água, chamado Observando o Tietê, que se transformou no Observando os Rios.

“Ter uma data em celebração ao rio é uma forma de resistência”, destacou Cesar Pegoraro, “Essa é uma forma de mostrar que esse rio está vivo, que esse rio é uma água necessária e útil para a vida da nossa cidade e que ele é um espaço de lazer, de contemplação e de esportes”, acrescentou.

Desde quando passou a ser monitorada, essa extensão da mancha de poluição teve variações, alternando momentos de redução e de aumento. Desde 2021, no entanto, ela cresceu 143,5%, passando de 85 para 207 quilômetros. “A mancha de poluição é uma forma didática que a SOS Mata Atlântica encontrou para mostrar para a sociedade como está a evolução do projeto de despoluição do Tietê. Essa mancha vinha numa decrescente contínua até a época da crise hídrica, em 2014, quando, por redirecionamento dos investimentos para captação de água para a população, o tratamento do esgoto ficou para segundo plano. Isso estava se recuperando mas, com a pandemia, voltou a crescer”, explicou Veronesi.

Quando essa mancha de poluição cresce, isso significa que o rio não tem possibilidade de uso para lazer, turismo, pesca ou para irrigação. “Para mudar essa situação, a gente precisa da continuidade do projeto de despoluição do Tietê, uma celeridade nas obras de coleta e tratamento de esgoto, mas também usar soluções baseadas na natureza.

Em lugares mais distantes, em comunidades isoladas ou rurais, é muito possível se pensar em soluções baseadas na natureza que podem ser um biodigestor, um ciclo de bananeiras, uma ilha ou um jardim filtrante”, exemplificou o coordenador. “Também colocamos como muito importante o estabelecimento de um parque linear que ligue o Rio Pinheiros ao Rio Tietê, fazendo um grande corredor ligando a Represa de Guarapiranga até o Parque Ecológico do Tietê”, acrescentou.

Boa qualidade

A qualidade da água do Rio Tietê foi monitorada num total de 576 quilômetros, desde a nascente, em Salesópolis, até Barra Bonita, na hidrovia Tietê-Paraná. Nesse trecho, foi encontrada água de boa qualidade ao longo de 60 quilômetros, entre a nascente e a cidade de Mogi das Cruzes, e também em outra faixa de 59 quilômetros, que se estende da região do Reservatório de Barra Bonita, entre São Manoel e a foz do Rio Piracicaba. Nenhum trecho do rio, no entanto, foi qualificado como ótimo.

Houve também uma faixa de 250 quilômetros de extensão em que a condição da água estava regular, observada em três segmentos ao longo do médio Tietê.

Integra Tietê

Em março do ano passado, o governo de São Paulo lançou o Programa IntegraTietê para promover a revitalização do principal rio paulista. Segundo o governo, o programa prevê uma série de medidas de curto, médio e longo prazo. A previsão atual é que, até 2026, sejam investidos R$ 15,3 bilhões, totalizando, até 2029, mais de R$ 23,5 bilhões, na expansão e melhorias do sistema de saneamento básico, desassoreamento, gestão de pôlderes, melhorias no monitoramento da qualidade da água e recuperação de fauna e flora, entre outras medidas.

Apesar de programas como esse, a SOS Mata Atlântica afirma que a qualidade da água continua a ser comprometida por condições locais, como poluição por esgoto, gestão de reservatórios e operação de barragens, clima ou resultante de atividades agropecuárias.

Por isso, Veronesi reforça que é necessário ter planos integrados para despoluir o rio e que considerem os impactos das mudanças climáticas, do saneamento ambiental nas cidades e do uso da terra nas áreas rurais. “Poluir um rio é rápido, mas a recuperação é lenta e exige um estado de atenção constante, com melhorias contínuas nas estruturas de saneamento e na educação ambiental para evitar sua degradação”.

Embora seja um processo lento, Veronesi aponta que a despoluição é possível. “Todos os rios podem ser despoluídos sim. Mas isso depende de um esforço de toda a sociedade, começando pelo poder público, mas também unindo empresários, agricultores, comerciantes e cidadãos”, destacou.