Skip to content

Atletas mães veem “mudança cultural” na Olimpíada de Paris

Embora a maternidade já tenha sido vista como incompatível com uma carreira no esporte de alto rendimento, mães que também são atletas olímpicas têm mostrado que os velhos estereótipos estão enfraquecendo no judô à esgrima, passando pelo basquete e outras modalidades.

Com a mudança dos ventos para quem viaja para a Olimpíada com crianças, a ex-velocista norte-americana Allyson Felix fez uma parceria com a marca Pampers para estabelecer a primeira creche para filhos de atletas.

Felix, maior medalhista do atletismo na história dos Jogos Olímpicos, com 11 pódios, disse à Reuters que as instalações podem nivelar as chances entre os atletas com muitos recursos à disposição e aqueles sem acesso a tal condição.

“Estamos falando sobre (atletas de) países que podem ser muito pequenos e sem recursos. Sabemos o quão caro é”, disse Felix, que retomou sua carreira competitiva após ser mãe pela primeira vez em 2018.

Ela afirmou que houve avanços desde que revelou, há cinco anos, que romperia com a patrocinadora Nike, depois de a empresa ter cortado seu pagamento quando ela engravidou.

“Houve uma mudança cultural”, afirmou. A creche reflete a crescente necessidade de recursos para os Jogos, com atletas desafiando os velhos estereótipos sobre mães esportistas.

Isso está muito evidente na cidade de Lille, onde a jogadora de basquete norte-americana Breanna Stewart afirmou que havia mais crianças do que nunca na sua delegação: “Falando em nome das mães, especialmente aquelas que estão aqui na Olimpíada, queremos ser grandes em ambas as funções”, disse Stewart, que disputa sua terceira edição dos Jogos. “Só queremos continuar mudando os padrões, mudando a narrativa.”

A filha da jogadora, Ruby, nasceu por meio de barriga de aluguel, menos de 48 horas após o time dos EUA ganhar o ouro nos Jogos de Tóquio. A atleta e sua esposa, a ex-jogadora espanhola Marta Xargay, tiveram mais um filho, Theo, no ano passado.

Torcedores em Paris aprovaram a presença de mães competindo em alto nível: “As carreiras não precisam acabar quando você tem um bebê, e isso é lindo”, afirmou a francesa Auriane Sanchez, de 21 anos, que assistiu à compatriota Clarisse Agbegnenou conquistar o bronze no judô, na terça-feira.

A judoca, que deu à luz sua filha em 2022, liderou uma campanha para que o Comitê Olímpico Francês providenciasse quartos de hotel para atletas que estejam amamentando.

“É incrível voltar assim depois da gravidez. Uma pequena menina que eu ainda estou amamentando. É doido. Posso ficar orgulhosa de mim mesma. Colocarei a medalha no pescoço da minha filha”, disse.

A judoca brasileira Natasha Ferreira, que adotou seu filho há sete anos, quando tinha 18, afirmou ter aprovado a ajuda que recebeu em Paris.

“Os atletas já precisam ser muito disciplinados e, quando você tem um filho, você tem que ser ainda mais disciplinada para poder ter tempo de qualidade”, disse. “Foi muito bom ter meu filho comigo na Olimpíada.”

“Guerra cultural” via redes sociais estimula violência política

Os disparos contra o ex-presidente Donald Trump, nos Estados Unidos (EUA), reacenderam o debate sobre o aumento da violência política em algumas sociedades nos últimos anos, como a brasileira e a norte-americana.

Para especialistas consultados pela Agência Brasil, os discursos de ódio e a chamada “guerra cultural”, potencializada pelas redes sociais, alimentam essa violência política que tem características distintas da vivida durante a Guerra Fria, quando os EUA e a antiga União Soviética (URSS) disputavam influências no planeta, resultando nas ditaduras pela América Latina.

O pós-doutor do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP) sociólogo Pablo Almada destaca que a “guerra cultural” é uma estratégia usada não apenas para demarcar um posicionamento político, mas também criar espaços de batalha nas redes sociais.  

“A guerra cultural tem uma lógica bastante binária e excludente. Pensa-se em binarismos que são insuperáveis. É aquela ideia de nós, os nativos, contra os imigrantes. Nós, os locais, contra o globalismo, entre outras dicotomias. Isso cria um problema, que é muito grave, que é uma polarização que ultrapassa a esfera da política”, explicou.

Segundo o especialista, a “guerra cultural” é a disputa política no campo ideológico que disputa valores, crenças e normas culturais, sendo utilizada por grupos conservadores e de direita para manipular a opinião pública com retórica incendiária.

Almada avalia que essa lógica da “guerra cultural” ganhou força a partir dos anos 2010, especialmente com a eleição de Donald Trump, em 2016, quando o político republicano convocou o estrategista Steve Bannon para ser seu marqueteiro político.   

Violência legitimada 

O professor da Universidade de Denver, dos Estados Unidos, e pesquisador do Washington Brazil Office (WBO) Rafael R. Ioris, avalia que a violência política tem crescido nos últimos anos impulsionada pelos discursos de ódio que pregam a intolerância e legitimam o uso da força para resolver questões políticas.

“Tem diferença entre os contextos nacionais, mas o que essa nova violência política tem em comum é essa visão autoritária e homogênea da sociedade que prega que as diferenças têm que ser eliminadas e que isso tem que ser resolvido pela força, se necessário. Então isso faz parte de uma dinâmica mais ampla”, avalia.

Para Ioris, imaginou-se no final do século 20 que a violência política poderia ser superada em algumas sociedades. Porém, o que se viu nos últimos anos foi o crescimento dessa violência no Brasil, na Europa, e em outros países da América Latina.

“É uma retomada desse discurso da violência, das forças mais oligárquicas, mais conservadoras, defendendo que não se deve admitir que a esquerda dê certo na América Latina, por exemplo. Há uma nova manifestação de ações violentas dentro da política. Isso é preocupante, até mesmo chocante, porque a gente imaginava que tinha superado isso”, destacou.

Redes sociais

Os dois especialistas destacaram o papel das redes sociais e da desinformação no crescimento da violência política atual. Para eles, a internet potencializou a disseminação de discursos de ódio que, antes da internet, não circulavam de forma tão ampla.  

“Uma das características dessa nova forma de violência política é que ela perpassa os discursos construídos nas redes sociais. A desinformação amplifica essas visões equivocadas que se tem sobre o outro. Não é simplesmente uma notícia falsa, é a construção de discursos e narrativas a partir de memes e virais que circulam amplamente nas redes sociais”, explica o pesquisador da USP Pablo Almada.

Para o especialista da WBO Rafael Ioris, as redes sociais são centrais para o estímulo à violência política. “A ferramenta das redes sociais não é o mal em si, mas como ela serviu como instrumento para dar muita voz para esse discurso anti-sistêmico. Isso foi fundamental”, acrescentou.

Democracia

O crescimento da violência política é um sintoma de uma crise nas ditas democracias liberais do mundo que, ao não conseguirem resolver os problemas dos povos, abrem espaço para atores que propõem uma ruptura da própria democracia, segundo avalia o professor da Universidade de Denver Rafael Ioris. 

Para ele, há uma insatisfação crescente das pessoas nas sociedades modernas que, apesar de produzirem muitas riquezas, não são capazes de distribuí-las, concentrando os recursos no 1% mais rico.

“As pessoas não se sentem muito representadas pelos partidos que existem. Sentem que as eleições não dão conta das suas demandas. Com isso, um setor da população passa a defender a ruptura, ou seja, explodir tudo, romper com essa democracia”, acredita.

Para o sociólogo Pablo Almada, as instituições e práticas democráticas são alvos da “guerra cultural” e desinformação que circula nas redes, citando como exemplo os ataques aos resultados eleitorais no Brasil e nos Estados Unidos.  

“Os discursos da desinformação tencionam a democracia, deslegitimando as figuras que estão no poder público, os políticos. E, quando se deslegitima, acaba também associando às instituições às quais fazem parte. Por exemplo, a campanha de desinformação aqui no Brasil em relação ao Supremo Tribunal Federal (STF)”, pontuou.

Juventude

O pós-doutor do Núcleo de Estudos da Violência da USP Pablo Almada acrescenta ainda que a desinformação disseminada pelas redes sociais tem apelo especial na juventude, que é o público que mais consome internet.

“Para os jovens, a rede social funciona como um espaço para obter informações. Muitos não lêem outros meios, como portais de notícias. Eles acessam suas mídias sociais com as notícias que lhes interessam. Isso também faz com que eles estejam mais vulneráveis a essa desinformação”, ponderou.

Para o pesquisador da WBO Rafael Ioris, é difícil dizer se a juventude, em sua maioria, aderiu aos discursos mais radicalizados. “Nessa eleição na França, muitos jovens insatisfeitos, com subemprego, também acabaram apoiando um pouco essa visão de explodir o sistema. Então, talvez sim, mas eu não sei se é uma coisa que dá para generalizar”, afirmou.

Caixa Cultural abre no Rio mostra internacional de fotojornalismo

A Caixa Cultural do Rio de Janeiro recebe, nesta quarta-feira (3), a exposição World Press Photo 2024, principal prêmio de fotojornalismo mundial. A mostra, que vai até 25 de agosto, reúne as 129  fotografias vencedoras do 67º concurso anual e apresenta trabalhos com temáticas diversas, entre as quais, as guerras em Gaza e na Ucrânia, migrações, famílias, doenças, como demência, e meio ambiente estão. Este ano, o júri tomou a decisão excepcional de incluir duas menções especiais na seleção. Quatro fotógrafos brasileiros estão entre os expositores.

Os trabalhos expostos foram selecionadas entre 61.062 inscrições de 3.851 fotógrafos de 130 países. São 24 projetos vencedores e seis menções honrosas, num total de 33 fotógrafos de 25 países: Argentina, Austrália, Azerbaijão, Brasil, Canadá, China, República Democrática do Congo, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Irã, Japão, Myanmar, Palestina, Peru, Filipinas, África do Sul, Espanha, Tunísia, Turquia, Ucrânia, Reino Unido, Estados Unidos e Venezuela.

Entre os destaques da World Press Photo 2024, está a foto do ano Uma Mulher Palestina Abraça o Corpo de Sua Sobrinha, do palestino Mohammed Salem, da Agência Reuters, que representa a perda de uma criança, a luta do povo palestino e as 33 mil pessoas mortas na região, além de  simbolizar o custo do conflito e fazer uma declaração sobre a futilidade de todas as guerras. Na reportagem do ano do World Press Photo, a série Valim-babena, da sul-africana Lee-Ann Olwage para GEO, na qual fotógrafa aborda a demência, um problema de saúde universal, através da lente da família e do cuidado. A seleção de imagens feita por Lee-Ann lembra aos espectadores o amor e a proximidade necessários em tempos de guerra e agressões em todo o mundo.

“A exposição World Press Photo traz o melhor do fotojornalismo global. Somos um prêmio baseado na Holanda, que traz as melhores imagens da imprensa e da fotografia documental. O destaque este ano é o de uma mulher palestina abraçando sua sobrinha. É uma imagem muito impactante”, diz o curador da mostra, Raphael Dias e Silva.

O projeto vencedor da categoria de longo prazo, Os Dois Muros, do venezuelano Alejandro Cegarra, do The New York Times/Bloomberg, traz imagens que são ao mesmo tempo implacáveis e respeitosas, e transmitem as emoções íntimas presentes em diversas jornadas de migração em todo o planeta. E o prêmio de formato aberto, A Guerra É Pessoal, da fotógrafa ucraniana Julia Kochetova, traz imagens emotivas sobre a contínua invasão russa à Ucrânia. A obra traz um fio de simbolismo visual, forte uso de sequências de cores e colaborações com um ilustrador e DJ ucranianos. O uso envolvente de áudio e ilustração – especialmente no diário poético e nas gravações de áudio – destaca-se, conferindo qualidade cinematográfica ao trabalho.

Ao todo, a World Press Photo 2024 será exibida em mais de 60 cidades em todo o mundo.  A mostra já passou por Amsterdã, Londres, Sydney e Cidade do México. Além do Rio de Janeiro e de São Paulo, Berlim, Roma, Hong Kong estão entre as cidades que ainda receberão a exibição.

Brasileiros

À Deriva, dos brasileiros Felipe Dana e Renata Brito – Felipe Dana/Divulgação

Quatro brasileiros que se destacaram no concurso estão na World Press Photo 2024. Com Seca na Amazônia, premiada na categoria Individual da América do Sul, Lalo de Almeida retrata a realidade de Porto Praia, lar dos povos indígenas Ticuna, Kokama e Mayoruna, que não têm acesso rodoviário e normalmente só é alcançável por via fluvial. A estiagem fez com que os moradores tivessem que caminhar quilômetros ao longo do leito seco do rio para chegar às suas casas. Essa fotografia captura a gravidade da crise ambiental global e da seca na Amazônia.

Agraciada com menção honrosa por Insurreição, Gabriela Biló, fotógrafa radicada em Brasília, lança luz sobre os acontecimentos de 8 de janeiro de 2023.

Os brasileiros Felipe Dana e Renata Brito foram premiados na categoria formato com À Deriva. No ensaio, eles contam a história de um barco vindo da Mauritânia, cheio de homens mortos, que foi encontrado na costa da ilha caribenha de Tobago. Quem eram esses homens e por que estavam do outro lado do Oceano Atlântico? Os jornalistas procuraram respostas, descobrindo uma história sobre migrantes da África Ocidental que buscam oportunidades na Europa por meio de uma rota atlântica cada vez mais popular, mas traiçoeira.

Concurso

 Desde 1955, o Concurso Anual World Press Photo celebra os exemplos mais informativos e inspiradores do fotojornalismo e da narrativa visual de todo o mundo.

Os trabalhos inscritos foram avaliados de acordo com quatro categorias – individual, reportagem, projetos de longo prazo e formato aberto, que são projetos baseados em fotos que utilizam uma variedade de mídias e técnicas de narrativa.

 A exposição no Brasil é patrocinada pela Caixa e pelo governo federal, e tem o apoio do jornal O Globo e do Consulado Geral do Reino dos Países Baixos.

Festival de Parintins, no Amazonas, aquece produção cultural

No centro de Parintins, no Amazonas, a calmaria de outros períodos do ano dá lugar a uma intensa movimentação. Vendedores locais e também provenientes de outras cidades, alguns com estruturas fixas e trabalhando como ambulantes, fazem dali um agitado centro comercial. É possível comprar desde diferentes tipos comidas e bebidas até dispositivos eletrônicos. Mas o que salta aos olhos é a criativa produção cultural local que envolve artesanato, telas, adereços e roupas.

O artesão Mateus Pereira relata que, nessa época, o Festival de Parintins é fundamental para impulsionar todo esse trabalho. Ele destaca a importância de inovar todos os anos para agradar aos torcedores de cada um dos dois protagonistas: o Boi Caprichoso e o Boi Garantido. “Não pode repetir porque o cliente que vem, volta no ano seguinte. E ele não vai comprar uma peça que viu no ano anterior”, diz.

Observando técnicas que já eram empregadas por sua mãe, Mateus trilhou um caminho de artesão autodidata a partir dos seus 12 anos de idade. Embora nascido em Manaus, mudou-se ainda criança para Parintins e ali desenvolveu um trabalho que ganhou visibilidade, com destaque para peças em madeira. Ele, no entanto, tem uma vasta produção que envolve telas, esculturas e arte com material reciclável.

“Tudo que eu tenho na minha vida eu consegui através da arte. Eu procuro fazer aquilo que mais vende em cada temporada. Mas busco sempre oferecer uma produção diferenciada, dando uma perfeição às minhas peças, finalizando com um bom acabamento e usando boa matéria-prima. Tudo isso agrega valor e a gente ganha mais respaldo com os clientes. Com isso, tenho obras que foram vendidas para fora do país. Tem obra na Alemanha, Polônia, Itália, França,  Espanha, Canadá, Estados Unidos, México, Argentina e na Colômbia”.

O impulso que o festival dá ao artesanato local é inegável. Mateus conta que há muitos produtores que trabalham apenas na época do evento. Mas, mesmo aqueles que produzem o ano inteiro, como ele, conseguem efetuar um maior volume de vendas quando o Boi Garantido e o Boi Caprichoso atraem milhares de turistas para a cidade.

Apresentação do Boi Garantido na segunda noite do 57º Festival Folclórico de Parintins, no Bumbódromo. foto – Fernando Frazão/Agência Brasil

“Eu trabalho 365 dias por ano. Eu não tenho outro meio para me sustentar. Então, depois do festival, eu mudo a temática e faço peças mais voltadas para o religioso devido à festa de Nossa Senhora do Carmo. Depois chegam os navios de cruzeiro. E eles trazem visitantes que não estão interessados em boi. Se você tentar vender boi, você passa fome porque eles querem arara, tucano, onça, todo tipo de animal da fauna e da flora amazônica. Mas o festival é sempre a época que mais vende. Eu fiz uns bois que movimentam a cabeça e todos foram vendidos rapidamente”, conta.

Cidade dividida

O Festival de Parintins, em sua 57ª edição, divide a cidade entre o vermelho do Boi Garantido e o azul do Boi Caprichoso. Considerado patrimônio cultural do país pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ele está ligado à tradição cultural do Boi-Bumbá, na qual é narrada uma lenda onde ocorre a ressurreição do boi. As apresentações no Bumbódromo começaram na noite de sexta-feira (28) e terminaram no domingo (30). Ao longo dos três dias, 10 jurados avaliaram 21 quesitos. O anúncio do campeão ocorrerá nesta segunda-feira (1º).

Revelando-se torcedor do Boi Caprichoso, Mateus enaltece a importância da disputa sadia e mostra sua produção que atende a todos os gostos. Ele cita um projeto que desenvolveu em 2022 com recursos da Lei Aldir Blanc, criada para apoiar o setor cultural em meio à pandemia de covid-19. “Eu fiz personagens e itens do festival. Tinha uma sinhazinha e uma cunhã-poranga de cada boi. Fiz uma exposição aqui. E com a visibilidade e a repercussão, um museólogo de São Paulo entrou em contato comigo e comprou todas as peças”, lembra.

Para Mateus, o impulso dado pelo festival fomenta uma grande cadeia de produção. “A gente estrutura uma rede de colaboradores muito grande. Tem o rapaz que tira a matéria-prima lá no interior: a raiz, os galhos, as frutas, as sementes. Há pessoas que fazem o transporta desse material de lá para cá”, detalha.

O artesanato está espalhado por Parintins, mas há alguns pontos de maior concentração. A Central de Artesanato Soarte é um deles. Ali, uma grande variedade de produções com a temática do festival chama a atenção. Se algumas peças são assinadas pelos próprios artesões que administram suas barracas, outras chegam prontas para os vendedores.  É o caso de muitos bois de pano e de pelúcia e de adereços de cabeça, com penas e detalhes vermelhos ou azuis. As múltiplas origens dos produtos indicam como o festival fomenta uma complexa cadeia de produção.

A expectativa do governo amazonense é de que o evento movimente R$ 160 milhões. A prefeitura de Parintins estima 120 mil visitantes, mais do que o número de habitantes da cidade. Segundo o Censo Demográfico 2022, a população local é de 96,3 mil pessoas.

Os benefícios econômicos no estado vão além da cidade de Parintins, beneficiando setores como o de transporte, tendo em vista que boa dos turistas são de Manaus e de outras cidades do próprio Amazonas. Na capital, o impulso dado pelo festival também beneficia profissionais envolvidos com a arte e a cultura.

É o caso do designer gráfico Weucles Santos. Natural de Itacoatiara (AM) e morador de Manaus, ele integra o Movimento Amigos do Garantido (MAG) e é responsável por produzir materiais artísticos de divulgação. Sem ter tido nenhuma influência da família, que não acompanha o festival, ele se apaixonou pelo boi vermelho e branco. Para estar presente no evento, encarou uma viagem de 16 horas de barco saindo da capital.

Weucles manifesta a satisfação de trabalhar com algo que desperta sua paixão. “Nós somos a vitrine em Manaus. Fazemos os eventos e lançamos a campanha para o festival. É muito legal participar do processo, se envolver e saber o que vai acontecer é muito legal”,  opina.

Características próprias

Os figurinos e os demais elementos cênicos das apresentações também envolvem amplo conjunto de profissionais, alguns dos quais trabalham no carnaval carioca. Não é por acaso que os dois eventos populares foram evoluindo ao longo do tempo e adotando alegorias cada vez mais grandiosas. Agostinho Rodrigues, coordenador de figurinos do Boi Garantido, destaca, porém, que há diferenças e que o Festival de Parintins tem suas características próprias.

“A gente nunca trouxe o carnaval para cá. Mas fomos lá estudar sobre materiais melhores que a gente pode aproveitar. Hoje, a parte de figurino do nosso boi foi toda construída dentro do próprio galpão. Até nossas penas foram feitas aqui dentro. A gente importava, comprava muito material de fora, do eixo Rio-São Paulo”, pondera.

Ele conta que, alinhado com mensagem transmitida pelo festival, a sustentabilidade é uma diretriz da produção. “Se você observar as penas, parece que é de verdade, das aves. Mas é tudo plotado, feito na cidade. Nós queremos um festival que não agrida a natureza. E a natureza nos dá muito material sem que seja necessário agredi-la. A gente trabalha por exemplo com palha seca e com folha de castanheira seca”.

Agostinho Rodrigues conta que os envolvidos no trabalho são, assim como o artesão Mateus Pereira, autodidatas. “Tudo começou como uma brincadeira lá atrás. A gente saía na rua com o Boi Garantido, mas nunca imaginava que ia ganhar essa evolução toda. E hoje a gente já tem 35 anos nessa estrada trabalhando com o Boi Garantido. Desde lá no início quando ainda não era o fenômeno atual. O nosso boi evoluiu através da nossa cultura. Os nossos artistas já vêm de berço. Aqui não tem ninguém que fez faculdade de arte. A gente aprendeu a fazer arte sem fazer faculdade”, observa.

Ele destaca a importância da renovação. “Lá atrás, eu aprendi muita coisa. Então, tudo é uma questão de adquirir conhecimento e passar para as pessoas. Chega um momento que é preciso ter um grupo preparado para assumir no nosso lugar e preservar a cultura. E é vivenciando a produção que os jovens adquirem um conhecimento diferenciado”.

O processo de produção envolve diversas etapas. A comissão de arte do Boi Garantido começa a pensar a apresentação em setembro do ano anterior, fornecendo os subsídios para a criação dos figurinos.

“Na entrada do ano, a gente já está com todo o projeto pronto para tirar do papel. São 22 artistas só no setor tribal. Na alegoria, há mais 15 artistas. A gente termina com umas 120 pessoas. Inclui as costureiras e o pessoal que prepara as penas. Inclui também os soldadores que são muito importantes. Eles fazem o trabalho inicial, a estrutura. E, em cima dela, a gente vai dando forma”, afirma Agostinho.

Curral do Boi Caprichoso, a sede onde são produzidas as fantasias e os ensaios, em Parintins. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Ele se vangloria de tudo ser feito de forma artesanal, sem recursos eletrônicos ou hidráulicos. “É tudo manual com corda e cabo de aço. São as mãos das pessoas que movimentam as alegorias. Às vezes há 50 pessoas movimentando uma única alegoria. É o que eu sempre digo: esse festival é uma vitrine. Ele está vendendo a nossa imagem, mostrando o conhecimento do artista parintinense. E esse artista é muito bem valorizado. Há pessoas que hoje estão fazendo muito trabalho fora daqui. E é por conta do festival”.

Produção musical

Os organizadores estimam que 10 mil pessoas sejam envolvidas de alguma forma na realização das apresentações. Cada boi escolhe anualmente um tema para conduzir a apresentação. Serve também de norte para a produção das fantasias e alegorias. Neste ano, a encenação do Caprichoso se dá sob o mote “Cultura – O Triunfo do Povo”. Já a apresentação do Garantido aborda os “Segredos do Coração”.

É também com base nesses temas que são lançados álbuns com cerca de 20 novas toadas usadas para guiar o espetáculo. Os bois também podem executar músicas dos anos anteriores. As composições ficam também disponíveis nas plataformas digitais. As duas mais reproduzidas registradas pelo Spotify até esse domingo (30) eram Málúù Dúdú, do Caprichoso, com 609 mil reproduções e Perreché da Puraca, do Garantido, com 528 mil.

Esses trabalhos muitas vezes estruturam toda uma carreira artística. É o caso do compositor Tadeu Garcia que, em um vídeo divulgado pelo festival, lembrou sua dedicação de décadas ao Boi Garantido e fala sobre o desafio de escrever uma letra que intensifique as emoções durante as apresentações. “O Garantido desperta em cada um de nós uma hipersensibilidade, que vai muito além de algo que possa ser explicado. A gente faz a toada para que cada um dos torcedores sinta como se a toada fosse sua”, observa.

Além de fomentar a produção de toadas dos álbuns oficiais de cada boi, o festival busca estimular outros gêneros da cena musical local. Na quinta-feira (27), ocorreu a Festa dos Visitantes, momento em que artistas da cidade se uniram a nomes nacionais como Belo e Thiaguinho numa espécie de boas-vindas aos turistas.

Ao ser anunciada como uma das atrações do evento, a cantora Márcia Novo celebrou a realização de um sonho. “Todo o ano que vinha curtir a festa, pensava: um dia vou cantar aí! E agora que esse dia chegou. Te prepara que vou espucar a malhadeira! Esse ano estou comemorando 20 anos de carreira e preparei um grande baile de beirada de rio recheado de Beiradão, Brega, Boi Bumbá”, escreveu ela em suas redes sociais.

Do artesanato à música: Festival de Parintins aquece produção cultural

No centro de Parintins, no Amazonas, a calmaria de outros períodos do ano dá lugar a uma intensa movimentação. Vendedores locais e também provenientes de outras cidades, alguns com estruturas fixas e trabalhando como ambulantes, fazem dali um agitado centro comercial. É possível comprar desde diferentes tipos comidas e bebidas até dispositivos eletrônicos. Mas o que salta aos olhos é a criativa produção cultural local que envolve artesanato, telas, adereços e roupas.

O artesão Mateus Pereira relata que, nessa época, o Festival de Parintins é fundamental para impulsionar todo esse trabalho. Ele destaca a importância de inovar todos os anos para agradar aos torcedores de cada um dos dois protagonistas: o Boi Caprichoso e o Boi Garantido. “Não pode repetir porque o cliente que vem, volta no ano seguinte. E ele não vai comprar uma peça que viu no ano anterior”, diz.

Observando técnicas que já eram empregadas por sua mãe, Mateus trilhou um caminho de artesão autodidata a partir dos seus 12 anos de idade. Embora nascido em Manaus, mudou-se ainda criança para Parintins e ali desenvolveu um trabalho que ganhou visibilidade, com destaque para peças em madeira. Ele, no entanto, tem uma vasta produção que envolve telas, esculturas e arte com material reciclável.

“Tudo que eu tenho na minha vida eu consegui através da arte. Eu procuro fazer aquilo que mais vende em cada temporada. Mas busco sempre oferecer uma produção diferenciada, dando uma perfeição às minhas peças, finalizando com um bom acabamento e usando boa matéria-prima. Tudo isso agrega valor e a gente ganha mais respaldo com os clientes. Com isso, tenho obras que foram vendidas para fora do país. Tem obra na Alemanha, Polônia, Itália, França,  Espanha, Canadá, Estados Unidos, México, Argentina e na Colômbia”.

O impulso que o festival dá ao artesanato local é inegável. Mateus conta que há muitos produtores que trabalham apenas na época do evento. Mas, mesmo aqueles que produzem o ano inteiro, como ele, conseguem efetuar um maior volume de vendas quando o Boi Garantido e o Boi Caprichoso atraem milhares de turistas para a cidade.

“Eu trabalho 365 dias por ano. Eu não tenho outro meio para me sustentar. Então, depois do festival, eu mudo a temática e faço peças mais voltadas para o religioso devido à festa de Nossa Senhora do Carmo. Depois chegam os navios de cruzeiro. E eles trazem visitantes que não estão interessados em boi. Se você tentar vender boi, você passa fome porque eles querem arara, tucano, onça, todo tipo de animal da fauna e da flora amazônica. Mas o festival é sempre a época que mais vende. Eu fiz uns bois que movimentam a cabeça e todos foram vendidos rapidamente”, conta.

O artesão Mateus Pereira, fã do Boi Caprichoso, trabalha com comércio de peças regionais e de artesanato alusivo ao Festival Folclórico de Parintins. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Cidade dividida

O Festival de Parintins, em sua 57ª edição, divide a cidade entre o vermelho do Boi Garantido e o azul do Boi Caprichoso. Considerado patrimônio cultural do país pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ele está ligado à tradição cultural do Boi-Bumbá, na qual é narrada uma lenda onde ocorre a ressurreição do boi. As apresentações no Bumbódromo começaram na noite de sexta-feira (28) e terminaram no domingo (30). Ao longo dos três dias, 10 jurados avaliaram 21 quesitos. O anúncio do campeão ocorrerá nesta segunda-feira (1º).

Revelando-se torcedor do Boi Caprichoso, Mateus enaltece a importância da disputa sadia e mostra sua produção que atende a todos os gostos. Ele cita um projeto que desenvolveu em 2022 com recursos da Lei Aldir Blanc, criada para apoiar o setor cultural em meio à pandemia de covid-19. “Eu fiz personagens e itens do festival. Tinha uma sinhazinha e uma cunhã-poranga de cada boi. Fiz uma exposição aqui. E com a visibilidade e a repercussão, um museólogo de São Paulo entrou em contato comigo e comprou todas as peças”, lembra.

Para Mateus, o impulso dado pelo festival fomenta uma grande cadeia de produção. “A gente estrutura uma rede de colaboradores muito grande. Tem o rapaz que tira a matéria-prima lá no interior: a raiz, os galhos, as frutas, as sementes. Há pessoas que fazem o transporta desse material de lá para cá”, detalha.

O artesanato está espalhado por Parintins, mas há alguns pontos de maior concentração. A Central de Artesanato Soarte é um deles. Ali, uma grande variedade de produções com a temática do festival chama a atenção. Se algumas peças são assinadas pelos próprios artesões que administram suas barracas, outras chegam prontas para os vendedores.  É o caso de muitos bois de pano e de pelúcia e de adereços de cabeça, com penas e detalhes vermelhos ou azuis. As múltiplas origens dos produtos indicam como o festival fomenta uma complexa cadeia de produção.

Parintins (AM), 29/06/2024 – Comércio de artesanato no Festival Folclórico de Parintins.. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A expectativa do governo amazonense é de que o evento movimente R$ 160 milhões. A prefeitura de Parintins estima 120 mil visitantes, mais do que o número de habitantes da cidade. Segundo o Censo Demográfico 2022, a população local é de 96,3 mil pessoas.

Os benefícios econômicos no estado vão além da cidade de Parintins, beneficiando setores como o de transporte, tendo em vista que boa dos turistas são de Manaus e de outras cidades do próprio Amazonas. Na capital, o impulso dado pelo festival também beneficia profissionais envolvidos com a arte e a cultura.

É o caso do designer gráfico Weucles Santos. Natural de Itacoatiara (AM) e morador de Manaus, ele integra o Movimento Amigos do Garantido (MAG) e é responsável por produzir materiais artísticos de divulgação. Sem ter tido nenhuma influência da família, que não acompanha o festival, ele se apaixonou pelo boi vermelho e branco. Para estar presente no evento, encarou uma viagem de 16 horas de barco saindo da capital.

Weucles manifesta a satisfação de trabalhar com algo que desperta sua paixão. “Nós somos a vitrine em Manaus. Fazemos os eventos e lançamos a campanha para o festival. É muito legal participar do processo, se envolver e saber o que vai acontecer é muito legal”,  opina.

O designer gráfico Weucles Santos, do Movimento Garantido, dorme em rede no barco em que navegou até Parintis para torcer pelo Boi Garantido no 57º Festival Folclórico de Parintins. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil 

Características próprias

Os figurinos e os demais elementos cênicos das apresentações também envolvem amplo conjunto de profissionais, alguns dos quais trabalham no carnaval carioca. Não é por acaso que os dois eventos populares foram evoluindo ao longo do tempo e adotando alegorias cada vez mais grandiosas. Agostinho Rodrigues, coordenador de figurinos do Boi Garantido, destaca, porém, que há diferenças e que o Festival de Parintins tem suas características próprias.

“A gente nunca trouxe o carnaval para cá. Mas fomos lá estudar sobre materiais melhores que a gente pode aproveitar. Hoje, a parte de figurino do nosso boi foi toda construída dentro do próprio galpão. Até nossas penas foram feitas aqui dentro. A gente importava, comprava muito material de fora, do eixo Rio-São Paulo”, pondera.

Ele conta que, alinhado com mensagem transmitida pelo festival, a sustentabilidade é uma diretriz da produção. “Se você observar as penas, parece que é de verdade, das aves. Mas é tudo plotado, feito na cidade. Nós queremos um festival que não agrida a natureza. E a natureza nos dá muito material sem que seja necessário agredi-la. A gente trabalha por exemplo com palha seca e com folha de castanheira seca”.

Agostinho Rodrigues conta que os envolvidos no trabalho são, assim como o artesão Mateus Pereira, autodidatas. “Tudo começou como uma brincadeira lá atrás. A gente saía na rua com o Boi Garantido, mas nunca imaginava que ia ganhar essa evolução toda. E hoje a gente já tem 35 anos nessa estrada trabalhando com o Boi Garantido. Desde lá no início quando ainda não era o fenômeno atual. O nosso boi evoluiu através da nossa cultura. Os nossos artistas já vêm de berço. Aqui não tem ninguém que fez faculdade de arte. A gente aprendeu a fazer arte sem fazer faculdade”, observa.

Ele destaca a importância da renovação. “Lá atrás, eu aprendi muita coisa. Então, tudo é uma questão de adquirir conhecimento e passar para as pessoas. Chega um momento que é preciso ter um grupo preparado para assumir no nosso lugar e preservar a cultura. E é vivenciando a produção que os jovens adquirem um conhecimento diferenciado”.

O processo de produção envolve diversas etapas. A comissão de arte do Boi Garantido começa a pensar a apresentação em setembro do ano anterior, fornecendo os subsídios para a criação dos figurinos.

“Na entrada do ano, a gente já está com todo o projeto pronto para tirar do papel. São 22 artistas só no setor tribal. Na alegoria, há mais 15 artistas. A gente termina com umas 120 pessoas. Inclui as costureiras e o pessoal que prepara as penas. Inclui também os soldadores que são muito importantes. Eles fazem o trabalho inicial, a estrutura. E, em cima dela, a gente vai dando forma”, afirma Agostinho.

Ele se vangloria de tudo ser feito de forma artesanal, sem recursos eletrônicos ou hidráulicos. “É tudo manual com corda e cabo de aço. São as mãos das pessoas que movimentam as alegorias. Às vezes há 50 pessoas movimentando uma única alegoria. É o que eu sempre digo: esse festival é uma vitrine. Ele está vendendo a nossa imagem, mostrando o conhecimento do artista parintinense. E esse artista é muito bem valorizado. Há pessoas que hoje estão fazendo muito trabalho fora daqui. E é por conta do festival”.

O coordenador de Fantasias do Boi Garantido, Agostinho Rodrigues, no Curral, em Parintins. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Produção musical

Os organizadores estimam que 10 mil pessoas sejam envolvidas de alguma forma na realização das apresentações. Cada boi escolhe anualmente um tema para conduzir a apresentação. Serve também de norte para a produção das fantasias e alegorias. Neste ano, a encenação do Caprichoso se dá sob o mote “Cultura – O Triunfo do Povo”. Já a apresentação do Garantido aborda os “Segredos do Coração”.

É também com base nesses temas que são lançados álbuns com cerca de 20 novas toadas usadas para guiar o espetáculo. Os bois também podem executar músicas dos anos anteriores. As composições ficam também disponíveis nas plataformas digitais. As duas mais reproduzidas registradas pelo Spotify até esse domingo (30) eram Málúù Dúdú, do Caprichoso, com 609 mil reproduções e Perreché da Puraca, do Garantido, com 528 mil.

Esses trabalhos muitas vezes estruturam toda uma carreira artística. É o caso do compositor Tadeu Garcia que, em um vídeo divulgado pelo festival, lembrou sua dedicação de décadas ao Boi Garantido e fala sobre o desafio de escrever uma letra que intensifique as emoções durante as apresentações. “O Garantido desperta em cada um de nós uma hipersensibilidade, que vai muito além de algo que possa ser explicado. A gente faz a toada para que cada um dos torcedores sinta como se a toada fosse sua”, observa.

Além de fomentar a produção de toadas dos álbuns oficiais de cada boi, o festival busca estimular outros gêneros da cena musical local. Na quinta-feira (27), ocorreu a Festa dos Visitantes, momento em que artistas da cidade se uniram a nomes nacionais como Belo e Thiaguinho numa espécie de boas-vindas aos turistas.

Ao ser anunciada como uma das atrações do evento, a cantora Márcia Novo celebrou a realização de um sonho. “Todo o ano que vinha curtir a festa, pensava: um dia vou cantar aí! E agora que esse dia chegou. Te prepara que vou espucar a malhadeira! Esse ano estou comemorando 20 anos de carreira e preparei um grande baile de beirada de rio recheado de Beiradão, Brega, Boi Bumbá”, escreveu ela em suas redes sociais.

Comércio de artesanato no Festival Folclórico de Parintins.. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil 

Do artesanato à música: Festival de Parintins aquece produção cultural

No centro de Parintins, no Amazonas, a calmaria de outros períodos do ano dá lugar a uma intensa movimentação. Vendedores locais e também provenientes de outras cidades, alguns com estruturas fixas e trabalhando como ambulantes, fazem dali um agitado centro comercial. É possível comprar desde diferentes tipos comidas e bebidas até dispositivos eletrônicos. Mas o que salta aos olhos é a criativa produção cultural local que envolve artesanato, telas, adereços e roupas.

O artesão Mateus Pereira relata que, nessa época, o Festival de Parintins é fundamental para impulsionar todo esse trabalho. Ele destaca a importância de inovar todos os anos para agradar aos torcedores de cada um dos dois protagonistas: o Boi Caprichoso e o Boi Garantido. “Não pode repetir porque o cliente que vem, volta no ano seguinte. E ele não vai comprar uma peça que viu no ano anterior”, diz.

Observando técnicas que já eram empregadas por sua mãe, Mateus trilhou um caminho de artesão autodidata a partir dos seus 12 anos de idade. Embora nascido em Manaus, mudou-se ainda criança para Parintins e ali desenvolveu um trabalho que ganhou visibilidade, com destaque para peças em madeira. Ele, no entanto, tem uma vasta produção que envolve telas, esculturas e arte com material reciclável.

“Tudo que eu tenho na minha vida eu consegui através da arte. Eu procuro fazer aquilo que mais vende em cada temporada. Mas busco sempre oferecer uma produção diferenciada, dando uma perfeição às minhas peças, finalizando com um bom acabamento e usando boa matéria-prima. Tudo isso agrega valor e a gente ganha mais respaldo com os clientes. Com isso, tenho obras que foram vendidas para fora do país. Tem obra na Alemanha, Polônia, Itália, França,  Espanha, Canadá, Estados Unidos, México, Argentina e na Colômbia”.

O impulso que o festival dá ao artesanato local é inegável. Mateus conta que há muitos produtores que trabalham apenas na época do evento. Mas, mesmo aqueles que produzem o ano inteiro, como ele, conseguem efetuar um maior volume de vendas quando o Boi Garantido e o Boi Caprichoso atraem milhares de turistas para a cidade.

“Eu trabalho 365 dias por ano. Eu não tenho outro meio para me sustentar. Então, depois do festival, eu mudo a temática e faço peças mais voltadas para o religioso devido à festa de Nossa Senhora do Carmo. Depois chegam os navios de cruzeiro. E eles trazem visitantes que não estão interessados em boi. Se você tentar vender boi, você passa fome porque eles querem arara, tucano, onça, todo tipo de animal da fauna e da flora amazônica. Mas o festival é sempre a época que mais vende. Eu fiz uns bois que movimentam a cabeça e todos foram vendidos rapidamente”, conta.

O artesão Mateus Pereira, fã do Boi Caprichoso, trabalha com comércio de peças regionais e de artesanato alusivo ao Festival Folclórico de Parintins. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Cidade dividida

O Festival de Parintins, em sua 57ª edição, divide a cidade entre o vermelho do Boi Garantido e o azul do Boi Caprichoso. Considerado patrimônio cultural do país pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ele está ligado à tradição cultural do Boi-Bumbá, na qual é narrada uma lenda onde ocorre a ressurreição do boi. As apresentações no Bumbódromo começaram na noite de sexta-feira (28) e terminaram no domingo (30). Ao longo dos três dias, 10 jurados avaliaram 21 quesitos. O anúncio do campeão ocorrerá nesta segunda-feira (1º).

Revelando-se torcedor do Boi Caprichoso, Mateus enaltece a importância da disputa sadia e mostra sua produção que atende a todos os gostos. Ele cita um projeto que desenvolveu em 2022 com recursos da Lei Aldir Blanc, criada para apoiar o setor cultural em meio à pandemia de covid-19. “Eu fiz personagens e itens do festival. Tinha uma sinhazinha e uma cunhã-poranga de cada boi. Fiz uma exposição aqui. E com a visibilidade e a repercussão, um museólogo de São Paulo entrou em contato comigo e comprou todas as peças”, lembra.

Para Mateus, o impulso dado pelo festival fomenta uma grande cadeia de produção. “A gente estrutura uma rede de colaboradores muito grande. Tem o rapaz que tira a matéria-prima lá no interior: a raiz, os galhos, as frutas, as sementes. Há pessoas que fazem o transporta desse material de lá para cá”, detalha.

O artesanato está espalhado por Parintins, mas há alguns pontos de maior concentração. A Central de Artesanato Soarte é um deles. Ali, uma grande variedade de produções com a temática do festival chama a atenção. Se algumas peças são assinadas pelos próprios artesões que administram suas barracas, outras chegam prontas para os vendedores.  É o caso de muitos bois de pano e de pelúcia e de adereços de cabeça, com penas e detalhes vermelhos ou azuis. As múltiplas origens dos produtos indicam como o festival fomenta uma complexa cadeia de produção.

Parintins (AM), 29/06/2024 – Comércio de artesanato no Festival Folclórico de Parintins.. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A expectativa do governo amazonense é de que o evento movimente R$ 160 milhões. A prefeitura de Parintins estima 120 mil visitantes, mais do que o número de habitantes da cidade. Segundo o Censo Demográfico 2022, a população local é de 96,3 mil pessoas.

Os benefícios econômicos no estado vão além da cidade de Parintins, beneficiando setores como o de transporte, tendo em vista que boa dos turistas são de Manaus e de outras cidades do próprio Amazonas. Na capital, o impulso dado pelo festival também beneficia profissionais envolvidos com a arte e a cultura.

É o caso do designer gráfico Weucles Santos. Natural de Itacoatiara (AM) e morador de Manaus, ele integra o Movimento Amigos do Garantido (MAG) e é responsável por produzir materiais artísticos de divulgação. Sem ter tido nenhuma influência da família, que não acompanha o festival, ele se apaixonou pelo boi vermelho e branco. Para estar presente no evento, encarou uma viagem de 16 horas de barco saindo da capital.

Weucles manifesta a satisfação de trabalhar com algo que desperta sua paixão. “Nós somos a vitrine em Manaus. Fazemos os eventos e lançamos a campanha para o festival. É muito legal participar do processo, se envolver e saber o que vai acontecer é muito legal”,  opina.

O designer gráfico Weucles Santos, do Movimento Garantido, dorme em rede no barco em que navegou até Parintis para torcer pelo Boi Garantido no 57º Festival Folclórico de Parintins. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil 

Características próprias

Os figurinos e os demais elementos cênicos das apresentações também envolvem amplo conjunto de profissionais, alguns dos quais trabalham no carnaval carioca. Não é por acaso que os dois eventos populares foram evoluindo ao longo do tempo e adotando alegorias cada vez mais grandiosas. Agostinho Rodrigues, coordenador de figurinos do Boi Garantido, destaca, porém, que há diferenças e que o Festival de Parintins tem suas características próprias.

“A gente nunca trouxe o carnaval para cá. Mas fomos lá estudar sobre materiais melhores que a gente pode aproveitar. Hoje, a parte de figurino do nosso boi foi toda construída dentro do próprio galpão. Até nossas penas foram feitas aqui dentro. A gente importava, comprava muito material de fora, do eixo Rio-São Paulo”, pondera.

Ele conta que, alinhado com mensagem transmitida pelo festival, a sustentabilidade é uma diretriz da produção. “Se você observar as penas, parece que é de verdade, das aves. Mas é tudo plotado, feito na cidade. Nós queremos um festival que não agrida a natureza. E a natureza nos dá muito material sem que seja necessário agredi-la. A gente trabalha por exemplo com palha seca e com folha de castanheira seca”.

Agostinho Rodrigues conta que os envolvidos no trabalho são, assim como o artesão Mateus Pereira, autodidatas. “Tudo começou como uma brincadeira lá atrás. A gente saía na rua com o Boi Garantido, mas nunca imaginava que ia ganhar essa evolução toda. E hoje a gente já tem 35 anos nessa estrada trabalhando com o Boi Garantido. Desde lá no início quando ainda não era o fenômeno atual. O nosso boi evoluiu através da nossa cultura. Os nossos artistas já vêm de berço. Aqui não tem ninguém que fez faculdade de arte. A gente aprendeu a fazer arte sem fazer faculdade”, observa.

Ele destaca a importância da renovação. “Lá atrás, eu aprendi muita coisa. Então, tudo é uma questão de adquirir conhecimento e passar para as pessoas. Chega um momento que é preciso ter um grupo preparado para assumir no nosso lugar e preservar a cultura. E é vivenciando a produção que os jovens adquirem um conhecimento diferenciado”.

O processo de produção envolve diversas etapas. A comissão de arte do Boi Garantido começa a pensar a apresentação em setembro do ano anterior, fornecendo os subsídios para a criação dos figurinos.

“Na entrada do ano, a gente já está com todo o projeto pronto para tirar do papel. São 22 artistas só no setor tribal. Na alegoria, há mais 15 artistas. A gente termina com umas 120 pessoas. Inclui as costureiras e o pessoal que prepara as penas. Inclui também os soldadores que são muito importantes. Eles fazem o trabalho inicial, a estrutura. E, em cima dela, a gente vai dando forma”, afirma Agostinho.

Ele se vangloria de tudo ser feito de forma artesanal, sem recursos eletrônicos ou hidráulicos. “É tudo manual com corda e cabo de aço. São as mãos das pessoas que movimentam as alegorias. Às vezes há 50 pessoas movimentando uma única alegoria. É o que eu sempre digo: esse festival é uma vitrine. Ele está vendendo a nossa imagem, mostrando o conhecimento do artista parintinense. E esse artista é muito bem valorizado. Há pessoas que hoje estão fazendo muito trabalho fora daqui. E é por conta do festival”.

O coordenador de Fantasias do Boi Garantido, Agostinho Rodrigues, no Curral, em Parintins. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Produção musical

Os organizadores estimam que 10 mil pessoas sejam envolvidas de alguma forma na realização das apresentações. Cada boi escolhe anualmente um tema para conduzir a apresentação. Serve também de norte para a produção das fantasias e alegorias. Neste ano, a encenação do Caprichoso se dá sob o mote “Cultura – O Triunfo do Povo”. Já a apresentação do Garantido aborda os “Segredos do Coração”.

É também com base nesses temas que são lançados álbuns com cerca de 20 novas toadas usadas para guiar o espetáculo. Os bois também podem executar músicas dos anos anteriores. As composições ficam também disponíveis nas plataformas digitais. As duas mais reproduzidas registradas pelo Spotify até esse domingo (30) eram Málúù Dúdú, do Caprichoso, com 609 mil reproduções e Perreché da Puraca, do Garantido, com 528 mil.

Esses trabalhos muitas vezes estruturam toda uma carreira artística. É o caso do compositor Tadeu Garcia que, em um vídeo divulgado pelo festival, lembrou sua dedicação de décadas ao Boi Garantido e fala sobre o desafio de escrever uma letra que intensifique as emoções durante as apresentações. “O Garantido desperta em cada um de nós uma hipersensibilidade, que vai muito além de algo que possa ser explicado. A gente faz a toada para que cada um dos torcedores sinta como se a toada fosse sua”, observa.

Além de fomentar a produção de toadas dos álbuns oficiais de cada boi, o festival busca estimular outros gêneros da cena musical local. Na quinta-feira (27), ocorreu a Festa dos Visitantes, momento em que artistas da cidade se uniram a nomes nacionais como Belo e Thiaguinho numa espécie de boas-vindas aos turistas.

Ao ser anunciada como uma das atrações do evento, a cantora Márcia Novo celebrou a realização de um sonho. “Todo o ano que vinha curtir a festa, pensava: um dia vou cantar aí! E agora que esse dia chegou. Te prepara que vou espucar a malhadeira! Esse ano estou comemorando 20 anos de carreira e preparei um grande baile de beirada de rio recheado de Beiradão, Brega, Boi Bumbá”, escreveu ela em suas redes sociais.

Comércio de artesanato no Festival Folclórico de Parintins.. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil 

Casa Amarela: ocupação cultural no centro de SP deve ser despejada

Um casarão ocupado por coletivos culturais desde 2014 no centro da capital paulista deve passar por uma reintegração de posse na próxima segunda-feira (10). Conhecida como Casa Amarela, o imóvel faz parte de um conjunto de três casarões, na Rua da Consolação, tombados pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo.

Coletivo Casa Amarela Quilombo Afroguarany tem desenvolvido ao longo dos anos diversas atividades artísticas e culturais no espaço, como aulas de capoeira, ioga e apresentações de grupos de cultura popular. Em carta aberta divulgada nas redes sociais, a associação que ocupa o espaço diz que a ocupação “tem sido um farol de esperança e cultura, democratizando um espaço que estava abandonado há mais de uma década. Abrigamos manifestações artísticas diversas, com um foco especial na cultura afrobrasileira e indígena”, diz o comunicado.

O imóvel pertencia ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e foi repassado à prefeitura de São Paulo em 2017. Naquele mesmo ano, a municipalidade entrou com uma ação pedindo a reintegração de posse do imóvel. No último dia 19 de junho, o juiz José Eduardo Rocha, da 14ª Vara de Fazenda Pública, atendeu ao pedido da prefeitura.

Inicialmente, a desocupação estava marcada para a última segunda-feira (24), porém, após negociação, o despejo foi adiado em uma semana.

Na tarde desta quarta-feira (26), os ocupantes preparavam a retirada dos objetos e mobiliário do local.

A prefeitura, informou por nota, que a Secretaria Municipal de Cultura está desenvolvendo um projeto de restauro do casarão com Departamento de Patrimônio Histórico.

Concurso Comida di Buteco se torna patrimônio cultural do Rio

O concurso Comida di Buteco, que está em sua 24ª edição nacional com o lema Somos Todos Buteco, se tornou patrimônio cultural  gastronômico e imaterial do estado do Rio de Janeiro. Isso graças à Lei 10.396/24, de autoria da deputada estadual Verônica Lima, que foi sancionada pelo governo do estado e publicada em Diário Oficial nesta terça-feira (4).

 “O concurso cumpre um papel importantíssimo de fortalecimento e garantia de visibilidade para a gastronomia local e a cultura popular dos territórios participantes,” disse a parlamentar.

 O Comida di Buteco nasceu em 2000 com o objetivo de resgatar os botecos autênticos. O concurso surgiu em Belo Horizonte e, em 2008, iniciou a expansão para outras cidades brasileiras, como Rio de Janeiro, Goiânia e Salvador. O concurso chegou a 25 cidades com mil botecos participantes.

Este ano, o campeão do Comida di Buteco na cidade do Rio de Janeiro foi o Bar Peixaria Divina Providência, de Irajá, na zona norte.

Virada Cultural atrai 4,5 milhões de pessoas, diz prefeitura de SP

A Virada Cultural da capital paulista atraiu um público recorde de 4,5 milhões de pessoas e teve um impacto econômico estimado em R$ 100 milhões, segundo dados da prefeitura de São Paulo.

Realizada neste fim de semana, a Virada Cultural mudou nos últimos anos, com redução do número de palcos, de atrações e a duração: de um evento com 35 palcos e 1,2 mil atrações em 2019, para 12 arenas, com 22 palcos e 600 atrações culturais em 2024. Além disso, apenas os dois palcos instalados no Vale do Anhangabaú, na região central da capital, tiveram duração de 24 horas. Antes da atual administração municipal, o evento propunha que todos os palcos tivessem programação ininterrupta, inclusive durante a madrugada. 

Para a prefeitura, no entanto, a Virada Cultural deste ano foi um sucesso, conseguindo inclusive arrecadar 10 toneladas de donativos para as vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. Em solidariedade à população aos gaúchos, neste ano a prefeitura transformou a Virada Cultural na Virada da Solidariedade, instalando tendas de coleta em todas as 12 arenas de shows, em cada acesso de entrada. A contribuição foi voluntária.

Os itens foram recolhidos no fim do evento e levados para o Banco de Alimentos da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania. A logística de distribuição, informou a prefeitura, ainda está sendo acertada com os municípios mais atingidos do Rio Grande do Sul.

Na edição deste ano, a Virada Cultural promoveu shows musicais de Joelma, Léo Santana, Pabllo Vittar, Gloria Groove, Maria Rita, Lenine e Raça Negra, entre outros.

Virada Cultural acontece neste final de semana em São Paulo

Um dos maiores e mais tradicionais eventos culturais de São Paulo, a Virada Cultural, acontece neste final de semana na capital paulista. Chamada neste ano por Virada Cultural da Solidariedade – porque vai arrecadar doações para ajudar o Rio Grande do Sul –, o evento gratuito espera atrair 4 milhões de pessoas para a sua programação, espalhada por diversas regiões da cidade.

A Virada Cultural da Solidariedade começa neste sábado (18) e segue até domingo (19), com arenas musicais em 12 regiões da cidade. No total, informou a Prefeitura de São Paulo, serão 22 palcos com grandes nomes da música como Pabllo Vittar, Gloria Groove, Claudia Leitte, Joelma, Leo Santana, Kevin O Chris, É o Tchan, Leonardo, Michel Teló, Raça Negra, Fundo de Quintal, Xamã, Elba Ramalho, Lenine, Geraldo Azevedo e Julian Marley, entre outros. O lema escolhido este ano é Unidos pela Solidariedade: a Virada Cultural de um só país.

Conhecida por ser um evento que leva as pessoas para o centro da capital, a Virada Cultural mudou nos últimos anos, descentralizando a sua programação. Dos 27 palcos na região central que haviam em 2019, neste ano haverá apenas dois, instalados na região do Vale do Anhangabaú. De acordo com a prefeitura, a ideia é estimular a economia nas periferias. Outra mudança é que apenas uma arena, a do Anhangabaú, terá programação durante 24 horas. As demais interrompem a programação durante a madrugada.

Além das arenas, a programação também ocorre em diversas unidades do Sesc e em espaços culturais municipais. No Centro Cultural da Juventude, por exemplo, haverá uma apresentação da banda Ratos de Porão. Já no Centro Cultural do Grajaú haverá um show de Jorge Aragão.

A programação também envolve outras manifestações culturais como teatro, dança e cinema. No Cinesesc, por exemplo, acontece a Virada Vampiresca, com exibições de filmes como Entrevista com Vampiro; M, o Vampiro de Dusseldorf com trilha ao vivo de Boss in Drama; Nosferatu – O Vampiro da Noite; e Deixa Ela Entrar.

Nas unidades do Sesc, a retirada antecipada de ingressos é necessária para as ações que ocorrem em espaços fechados ou delimitados. Os ingressos devem ser retirados de maneira online, pelo site do Sesc São Paulo ou pelo app Credencial Sesc SP, a partir das 12h deste  sábado. A retirada presencial poderá ser feita nas bilheterias das unidades do Sesc a partir das 16h, também deste sábado. Para as exibições do CineSesc, a retirada de ingressos é somente presencial, a partir das 16h, na bilheteria da unidade. 

Mais informações podem ser obtidas em no site do Sesc.

Segurança

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que, para garantir a realização da Virada Cultural, foi montado um mega esquema de segurança, que inclui o uso de ferramentas de tecnologia para monitorar as redes sociais e prevenir a prática de crimes previamente combinados. Para isso, uma equipe do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) estará empenhada em vigiar os fóruns e grupos abertos de discussões nas redes sociais para identificar previamente grupos que possam praticar intolerância racial, religiosa, sexual, entre outras. Os policiais à paisana também estarão misturados no meio do público em diversos pontos.

A secretaria informou que também haverá reforço no efetivo, principalmente no entorno dos palcos.

Drones, câmeras e outras ferramentas de inteligência policial também serão utilizados durante a festa.

Transporte

Para aproveitar o evento, os ônibus municipais funcionarão gratuitamente a partir da meia-noite deste sábado para domingo. As estações Anhangabaú (linha vermelha) e São Bento (linha azul) do Metrô também vão funcionar para embarque e desembarque por 24 horas. As demais estações do Metrô das linhas 1,2, 3 e 5 vão permanecer abertas de madrugada somente para desembarque. Na linha 4 amarela, o embarque de madrugada será apenas pela estação Vila Sônia, e as demais estarão abertas para desembarque e transferência.

Doações

Para ajudar as vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul, a prefeitura instalou tendas de coleta em cada acesso de entrada das 12 arenas musicais para receber água, alimentos não perecíveis, produtos de higiene e de limpeza. A contribuição é voluntária.

A programação completa do evento pode ser consultada no site do evento.