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Semana de Ciência e Tecnologia da UFRJ debate mudanças climáticas

A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) iniciou nesta quarta-feira (16) as atividades da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) 2024. Idealizada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), a semana debate este ano os desafios e riscos diante das mudanças climáticas, conversando com o tema nacional Biomas do Brasil — Diversidade, saberes e tecnologias sociais — estabelecido pela pasta. A programação é gratuita e conta com oficinas, visitas guiadas e apresentações culturais.

Com duração até a terça-feira (29), o evento está distribuído entre os campi Cidade Universitária, na Ilha do Fundão, Professor Geraldo Cidade, em Duque de Caxias, e Centro Multidisciplinar UFRJ-Macaé, em Macaé. Por meio de uma parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a universidade também realiza a SNCT nos Territórios no Colégio Estadual Clóvis Monteiro, em Manguinhos, e na Escola Genival Pereira de Albuquerque, na Maré. Para a assessora da Superintendência de Integração e Articulação da Extensão na Pró-Reitoria de Extensão da UFRJ, Renata Soares, a SNCT é uma forma de acesso à universidade e aos conhecimentos populares para os estudantes que participam da programação.

“O evento é idealizado pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações, e temos participado exatamente com o objetivo de fazer essa difusão científica do que é produzido na universidade, em diálogo com a educação básica”, diz Renata. “Fazemos uma chamada interna na universidade para os grupos de pesquisa, extensão e laboratórios apresentarem suas produções, além de uma divulgação para as escolas públicas e privadas do ensino infantil à educação para jovens e adultos se inscreverem para vir participar das atividades”. 

Cidade Universitária

No campus da Cidade Universitária, o evento vai até sexta-feira (18). São esperados mais de 3 mil estudantes no Centro de Tecnologia, que sedia as atividades. Ao longo do evento, nos diferentes campi, são aguardados cerca de 8 mil alunos dos ensinos infantil, fundamental, médio e da educação para jovens e adultos (EJA) e mais de 160 escolas públicas e privadas de todo o estado. 

Em entrevista à Agência Brasil, Renata destacou a relevância da programação ao trazer alunos da educação básica para conhecer a universidade e reforçou o papel da divulgação científica e do diálogo com os alunos. “A importância é exatamente o papel da extensão universitária, que proporciona o diálogo que permite aos estudantes da educação básica conhecer a universidade e dá estudantes universitários oportunidade de ter essa experiência em sua formação.” Renata enfatizou a divulgação científica e a possibilidade de diálogo com essas pessoas, que também podem contribuir. A partir do momento em que as oficinas conversam com esse público da educação básica, ele reflete sobre o que a universidade está produzindo e se reinventam, disse.  

Clara Tavares sempre quis estar na universidade – Tomaz Silva/Agência Brasil

“O evento faz toda a diferença. Sempre tive o desejo de estar na universidade, mas sei, e agora como estagiária em uma escola pública, que muitas vezes os jovens não se vêm dentro desse espaço. Acho que eles estarem ocupando esse ambiente de alguma forma também incentiva o desejo de estar na universidade, que é muito importante”, diz a estudante de pedagogia Clara Tavares Pereira. 

Nesta edição da Semana de Ciência e Tecnologia, Clara participa da programação como extensionista do Projeto Integrado da UFRJ para a Educação de Jovens e Adultos. “É a primeira vez que participo, então não conhecia ainda o evento, mas está sendo incrível poder compartilhar um pouco do nosso trabalho e também criar coisas novas para apresentar aos visitantes. Criamos jogos para fazer com os alunos, que são de várias faixas etárias. Estamos atendendo desde crianças pequenas até adultos e está sendo uma experiência riquíssima aprender com eles também.”

Pensar o futuro

Um grupo de alunos vestindo uniformes da rede pública municipal da cidade do Rio de Janeiro se concentra em torno de alguns animais empalhados trazidos ao Centro de Tecnologia da Ilha do Fundão. As 20 diferentes espécies fazem parte do projeto O Clube de Jovens Cientistas do Museu Nacional: Ciência na Quinta, que procura mostrar como as ações antrópicas e as mudanças climáticas afetam diretamente os biomas do litoral fluminense. 

“Todas as espécies que temos aqui são do Rio de Janeiro. Mostramos um pouco como essas mudanças afetam a área terrestre e marítima”, diz a aluna de Ciências Biológicas Melissa Marte. Para Melissa, estabelecer esse diálogo sobre mudanças climáticas com os alunos da educação básica é importante para a popularização da ciência. “É importante trabalhar com a conscientização da população, e creio que, quanto mais cedo fizermos isso, melhor. Afinal, estamos preservando para as próximas gerações, mas elas também precisam ter ciência do que está acontecendo e de como podemos melhorar o meio ambiente e conservar aquilo que ainda temos”.

Animais empalhados atraem estudantes – Tomaz Silva/Agência Brasil

O impacto no meio ambiente também é assunto da pesquisa do professor do Departamento de Construção Civil da UFRJ Luís Otávio Cocita Araújo. Cercado por alunos curiosos com as peças de madeira à vista, ele afirma que este é um material que revolucionará a construção civil. “Toda construção civil até hoje usa uma base mineral, seja para o cimento ou para o aço, mas a madeira você planta, colhe e pode usar para fazer edificações. Então, busco levar os alunos de engenharia a ter essa consciência. Para despertar essa consciência neles, trazemos os estudantes para as bancadas, para que possam preparar esses elementos eles próprios”, explica à Agência Brasil.

Segundo o professor, pensar em uma engenharia tendo como base materiais sustentáveis, como a madeira, é uma forma de promover um futuro sustentável. “Se a gente pensar que tem muita coisa para construir ainda e pensar na demanda que temos para fazer prédios, casas, hospitais, creches, escolas, aeroportos, os recursos usados até aqui não são renováveis. Então, uma hora vão acabar, por isso, é importante garantir que as gerações futuras tenham acesso a esses espaços também.”

Outro ponto importante, de acordo com Araújo, é que a árvore sequestra gás carbônico (CO2) da atmosfera enquanto cresce, o que permite reduzir as emissões de carbono. “Quando cortamos a madeira e usamos na construção civil, dentro dela existe CO2 armazenado. Esse é um tremendo benefício: é um sistema construtivo que usa material renovável e que consegue diminuir as emissões de gás carbônico, dando uma boa resposta para a sociedade e para o meio ambiente.”

*Estagiária sob supervisão de Vinícius Lisboa

Rio e UFRJ fazem acordo de combate aos efeitos das mudanças climáticas

O governo do Rio de Janeiro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) firmaram nesta terça-feira (15) um acordo para a execução do Programa Rio Clima II, que vai desenvolver ações de combate aos impactos das mudanças climáticas. A duração do projeto, que terá aporte de R$ 4 milhões, é de dois anos.

Conforme o governo estadual, a atualização do Plano Estadual de Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas é uma das medidas previstas na parceria, como também “a criação do Portal de Gestão de Riscos e Vulnerabilidades Climáticas, e a realização de estudos focados em compensação de carbono nas áreas de agricultura, florestas e uso da terra”. O programa inclui ainda a criação de um sistema de certificação de créditos florestais para o Estado do Rio de Janeiro.

Para o governador Cláudio Castro, que assinou o acordo pela administração fluminense, a parceria com a UFRJ vai possibilitar a melhoria da comunicação, da transparência, do planejamento e da identificação das vulnerabilidades sociais e ambientais do estado.

“A questão ambiental e a adaptação às mudanças climáticas são prioridades inadiáveis. Estamos agindo com urgência para reduzir os impactos, assegurando mais segurança para a população fluminense”, disse em texto divulgado pelo governo do estado.

Na intenção de fortalecer os instrumentos de gestão destinados ao desenvolvimento sustentável, o Programa Rio Clima II, que é uma continuidade do Rio Clima I, vai buscar, nesta etapa, a identificação das vulnerabilidades sociais e ambientais do estado. “A parceria com o Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais da UFRJ permitirá a realização de estudos e projetos voltados à descarbonização, adaptação e resiliência climática”, informou o governo do Rio.

O secretário de Estado do Ambiente e Sustentabilidade, Bernardo Rossi, destacou que os efeitos das mudanças climáticas têm sido cada vez mais devastadores para as economias, modos de vida, saúde, ecossistemas e infraestrutura. “A colaboração entre o Poder Executivo e a academia, com seus pesquisadores especializados, é fundamental para otimizar os processos de adaptação climática”, observou no texto.

Saúde lança guia sobre mudanças climáticas para profissionais de saúde

O Ministério da Saúde lançou um guia de bolso sobre mudanças climáticas e os efeitos na saúde humana, voltado para profissionais como médicos e enfermeiros. O material, segundo a pasta, foi montado a partir de uma publicação da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), com linguagem e necessidades adaptadas ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Em nota, o ministério informou que a proposta do documento é facilitar o atendimento de profissionais da saúde, incluindo agentes comunitários de saúde e outros, permitindo o acesso rápido a informações relacionadas a mudanças climáticas e à saúde humana, de forma que as orientações aos pacientes sejam feitas com maior segurança.

“As mudanças climáticas são uma realidade recente para a população e, para os profissionais, não é diferente. Por isso, o documento é fundamental para uma pronta resposta às necessidades dos brasileiros”, destacou a pasta, ao citar que as mudanças climáticas afetam não apenas a saúde das pessoas, mas também a estrutura dos serviços de saúde.

Ondas de calor, inundações e secas extremas, segundo o ministério, trazem preocupação adicional tanto para quem organiza os serviços de saúde como para quem presta assistência aos pacientes. O guia será entregue a trabalhadores do SUS e também está disponível no portal do ministério.

Entenda

Com mais de 130 páginas, o guia traz informativos sobre alterações em tratamentos cardiovasculares, respiratórios, renais, oftalmológicos, cutâneos, gastrointestinais e neurológicos, além de recomendações sobre o impacto de efeitos climáticos na saúde mental e materno-infantil.

O material também aborda zoonoses (doenças infecciosas transmitidas entre animais e pessoas) e doenças de transmissão vetorial, como dengue, malária, doença de Chagas, leishmaniose, febre amarela, febre do Oroupouche, mayaro, filarioses e febre do Oeste do Nilo. O documento traz orientações específicas para pacientes e para comunidades em geral.

Marina Silva defende constrangimento ético contra mudanças climáticas

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, defendeu, nesta segunda-feira (30), que governos e empresas sejam constrangidos eticamente para que o mundo avance no enfrentamento das mudanças climáticas. Segundo a ministra, é preciso tratar a crise ambiental global com senso de urgência e medidas disruptivas.

“Vamos fazer um balanço geral ético, para verificar quais são as propostas, as ideias e as práticas que sejam éticas para manter saudável o sistema climático. E vamos fazer isso mobilizando diferentes regiões, com artistas, pessoas da academia, lideranças políticas da área de proteção ao meio ambiente e enfrentamento da mudança do clima, juventude, mulheres, povos tradicionais, empresários. [Será] um processo que cria um constrangimento ético a governos e empresas para que se possa fazer a transição justa e adequada do enfrentamento da mudança do clima.”

A ministra participou de um seminário que discutiu formas de financiar a conservação da natureza, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.

“Como a gente pode pensar na proteção do capital natural, estabelecendo mecanismos para que se tenha um lastro de natureza que possibilite a manutenção dos serviços ecossistêmicos que mantêm a proteção da vida na Terra? É preciso que [essa discussão] ganhe força. Do mesmo jeito que tivemos os acordos de Basileia em 2008, é preciso ter um acordo para poder estabelecer um coeficiente do nosso patrimônio natural, que precisa ser preservado”, disse Marina.

De acordo com a ministra, a cúpula do G20, marcada para novembro no Rio de Janeiro, sob a presidência do Brasil, será uma grande oportunidade para dialogar com o mundo, em busca de finanças sustentáveis e na direção da taxação de super-ricos, para viabilizar recursos e fazer, mais que adaptação e mitigação, a transformação do modelo insustentável que leva a esse agravamento da mudança do clima. “Estamos buscando cada vez mais liderar pelo exemplo”.

O G20, ou Grupo dos 20, é formado pelos ministros de Finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo, mais a União Africana e a União Europeia.

Crianças e adolescentes sofrem com mudanças climáticas, alerta Unicef

Com apenas duas semanas para as eleições municipais – e em meio a calor e fumaça –, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alerta em novo levantamento divulgado nesta segunda-feira (23) para a importância de novos prefeitos e prefeitas investirem em medidas voltadas à resiliência climática e à garantia dos direitos de crianças e adolescentes. No Brasil, 33 milhões de menores enfrentam pelo menos o dobro de dias quentes a cada ano, em comparação a seus avós.

Utilizando como base uma comparação entre as médias dos anos 1970 e de 2020-2024, a análise mostra a velocidade e a escala com que os dias extremamente quentes estão aumentando. Esses dias são aqueles em que se registram temperaturas acima de 35ºCelsius (ºC). No Brasil, a média de dias extremamente quentes passou de 4,9 ao ano na década de 1970 para 26,6 na década de 2020. A análise aponta, também, para o aumento das ondas de calor. Nesse caso, trata-se de períodos de 3 dias ou mais em que a temperatura máxima está mais de 10% maior do que a média local.

As crianças e os adolescentes são os que sentem, por mais tempo e com maior intensidade, impactos de ondas de calor, enchentes, secas, fumaças e outros eventos climáticos extremos. O estresse térmico no corpo, causado pela exposição ao calor extremo, ameaça a saúde e o bem-estar de crianças e mulheres grávidas. Níveis excessivos de estresse térmico, também, contribuem para a desnutrição infantil e doenças não transmissíveis que tornam as crianças mais vulneráveis a infecções que se espalham em altas temperaturas, como malária e dengue.

“Os perigos relacionados ao clima para a saúde infantil são multiplicados pela maneira como afetam a segurança alimentar e hídrica, a exposição à contaminação do ar, do solo, e da água, e a infraestrutura, pois interrompem os serviços para crianças, incluindo educação, e impulsionam deslocamentos. Além disso, esses impactos são mais graves a depender das vulnerabilidades e desigualdades enfrentadas pelas crianças, de acordo com sua situação socioeconômica, gênero, raça, estado de saúde e local em que vive”, explica Danilo Moura, Especialista em Mudanças Climáticas do Unicef no Brasil.

Diante desse cenário, o órgão pede que candidatos e candidatas às prefeituras se comprometam a preparar as cidades para enfrentar e lidar com as mudanças climáticas, com foco especial nas necessidades e vulnerabilidades de meninas e meninos.

“Isso inclui implementar ações para enfrentar as mudanças climáticas e adaptar serviços públicos, infraestrutura e comunidades para resistirem a seus efeitos, inclusive a eventos climáticos extremos, priorizando as necessidades e vulnerabilidades específicas de meninas e meninos. Uma ação importante é incorporar o Protocolo Nacional para Proteção Integral de Crianças e Adolescentes em Situação de Desastres aos planos do município”, aponta Danilo.

O tema é uma das cinco prioridades propostas pelo Unicef na agenda Cidade de Direitos – Cinco prioridades para crianças e adolescentes nas Eleições 2024, voltada a candidatos e candidatas de todo o país.

Mudanças climáticas e eventos extremos impactam vacinação no Brasil

Karen Carvalho é enfermeira diplomada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul, com especialização em saúde coletiva, estratégia de saúde da família e vigilância em saúde. Em maio deste ano, ela atuou junto a outros profissionais da área nas enchentes que assolaram seu estado. A tarefa de Karen em meio aos caos não era fácil: vacinar pessoas que tiveram contato com a água e que se aglomeravam em abrigos, sucetíveis a doenças como hepatite A, influenza e covid-19.

“Tivemos que ir aos abrigos várias vezes. Não foi só uma vez não. Foram várias idas. Até que as pessoas topassem nos receber. Até que tivéssemos um vínculo com aquela população que estava ali”, contou. Dentre os desafios, segundo ela, estava a ausência de documentação para o registro das doses aplicadas. “Aquelas pessoas saíram de casa sem nada. Sem cartão do Sistema Único de Saúde (SUS), sem carteira de vacina das crianças”.

Outra dificuldade enfrentada pela enfermeira e por outros profissionais de saúde que atuaram nas enchentes do Rio Grande do Sul foi a hesitação vacinal. “As pessoas da região estavam tão fragilizadas com tudo o que estava acontecendo que convencê-las sobre a vacinação não foi fácil. Vacinar parecia ser o que menos importava pra elas naquele momento”, lembra.

“Em meio a tudo isso, ficamos sem locomoção. Os profissionais de saúde não conseguiam chegar aos locais onde havia demanda pra eles. Usamos o serviço do Exército pra levar vacina onde precisava, pra buscar vacina onde precisava. Só aquele caminhão passava, porque é muito alto e a água não tapava. Havia pessoas isoladas de um lado da cidade e nós ficamos presos do outro lado.”

Karen também precisou aplicar doses antirrábicas de forma preventiva em voluntários que resgatavam animais das águas e nos que cuidavam desses mesmos animais em abrigos, já que o risco de mordidas, arranhões e outros acidentes era constante. “Acabamos vacinando por pré-exposição quem participava de resgates e forças de segurança, como a Força Nacional do SUS, homens do corpo de bombeiros e do Exército”.

Plano de contingência

Micheline Silveira é dentista por formação, mas abraçou a enfermagem em 2016. “Me apaixonei pela profissão e não larguei mais”. Ela estava no centro de Porto Alegre quando as águas começaram a subir. Como a empresa de imunização para a qual trabalhava tinha um plano de contingência para situações extremas, Micheline pode contar com equipamentos adequados, como câmaras frias de emergência e unidades móveis para backup, além de colegas capacitados para atuar naquele momento.

“Sempre achamos que, se alguma coisa acontecesse, a gente daria conta dela muito bem. E conseguimos, de fato. Mas a gente nunca imaginou que passaríamos por algo tão surreal como o que aconteceu no nosso estado”, contou. “A gente tinha câmara fria, gerador. Mas quanto tempo tudo aquilo ia durar? Descemos com a caixa de isopor pra colocar as vacinas na unidade móvel. Levamos pra São Leopoldo, onde havia maior disponibilidade de armazenamento. E só conseguimos voltar pra Porto Alegre 43 dias depois.”

Microplanejamento 

A enfermeira Cleia Soares Martins também pode sentir, este ano, os impactos das mudanças climáticas e de eventos extremos nos serviços de vacinação. Responsável técnica pela Central de Distribuição de Imunobilógicos do Amazonas, ela enfrenta um cenário de calor e estiagem sem precedentes, quando o que era esperado para o período era o chamado inverno amazônico e muita chuva. “A Amazônia vem passando pela pior seca das últimas décadas. Com os incêndios, tem dias que a gente acorda e não consegue ver o outro lado do rio”.

Segundo Cleia, quando se trabalha com imunização no Amazonas, além de dominar a técnica relacionada a vacinas, é preciso conhecer toda a hidrografia do estado no intuito de alcançar comunidades de difícil acesso, como quilombolas e ribeirinhos. “Nossas estradas são os rios, mas o que acontece quando eles secam?” Ela lembra que, até o fim de agosto, nove municípios da região tinham decretado situação de emergência. Na semana passada, o número já havia subido para 13.

“No ano passado, nossa situação já não foi fácil. A previsão era de estiagem ainda mais severa este ano. Por isso, começamos a nos planejar em dezembro. Por meio de microplanejamento, fizemos o possível para que, ainda no primeiro semestre, antecipássemos todas as ações de vacinação, priorizando áreas de difícil acesso”, disse, ao citar parcerias com os governos do Acre e de Rondônia.

“Mas o que a gente faz hoje ainda não é suficiente. A gente precisa de mais. Precisamos investir em tecnologia e inovação, pra ter um suporte melhor, seja na seca, seja na cheia”, avaliou. “Pra que, juntos, a gente possa superar esses desafios e garantir a plenitude do serviço de vacinação para todo e qualquer cidadão no local onde ele reside.”

*A repórter viajou a convite da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Mudanças climáticas podem aumentar preços de alimentos ainda em 2024

A resiliência dos produtores de alimentos vai ter um grande desafio, caso as variações súbitas de clima, com sequência de períodos de calor e frio intensos e o impacto da seca, que facilita disseminação de fogo, continuem a afetar o país. É o que adianta o economista Thiago de Oliveira, da Companhia de Entrepostos e Armazéns e São Paulo (Ceagesp), ao alertar que os eventos climáticos podem afetar os preços do varejo ainda em 2024.

De acordo com Oliveira, a pressão sobre os preços aos consumidores afeta mais os cítricos, como laranjas e limões, que têm clima seco e instável como condições que podem impactar a produtividade e afetar o tempo de colheita. Essas condições podem favorecer o avanço do Cancro Cítrico ou Greening, doença bacteriana transmitida pelo inseto Psilídeo. A doença tem presença em todas as regiões produtoras do estado de São Paulo e causou a erradicação de mais de 2 milhões de pés este ano. 

“Se não houver uma melhora considerável na umidade, haverá um aumento de custo considerável. Estamos falando do meio de outubro, com impacto primeiro nos preços do atacado e pouco depois nas redes de varejo, já chegando ao consumidor”, explica o economista.

No estado, as hortaliças, tanto folhas como legumes, podem ter impacto em dezembro. Esses produtos tiveram boa oferta nas últimas semanas, pois o clima seco favorece a maturação e colheita, mas é ruim para os ciclos de plantio e crescimento das plantas. Esses produtos, assim como os cítricos, têm uma tendência de aumento de consumo nos meses de calor. 

Oliveira destacou que o último ano foi marcado pela inconstância, com o que chamou de flutuação de sazonalidade. Em resumo, tanto o frio quanto o calor não vieram quando eram esperados ou com as frequências esperadas, dificultando o planejamento do produtor rural. “O pequeno produtor perde mais, pois diferente do grande, não tem mais de uma cultura na propriedade. Quando o módulo de produção é pequeno, não há capital de giro nem condições de investimento. Isso ainda não se reflete em endividamento, isso porque os produtores estão arriscando menos e deixam de buscar capital para plantar áreas maiores”, diz Oliveira.

Perspectiva

Os valores de comercialização de frutas e verduras têm vindo de um histórico de queda recente, tanto de acordo com o controle da Ceagesp quanto o do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que registrou recuo nos últimos dois meses nos custos de produtos da cesta básica, com destaque para tomate e batata. 

Os dados com os quais o Ceagesp trabalha apontam tendência positiva, com chuvas suficientes para garantir boa produção. Oliveira ressalta que isso pode mudar e depende, também, se serão distribuídas em todas as áreas de produção e ao longo do período, o que não ocorreu nas últimas semanas.

Fogo

Desde agosto, o estado tem passado por grandes queimadas, favorecidas pelo tempo seco. Até esta segunda-feira (16), cinco municípios paulistas ainda tinham incêndios ativos. Apesar de pouco intensas, a nebulosidade e as chuvas que atingem o estado desde o domingo (15), aliadas a uma ação coordenada com 20 aeronaves, conteve a maior parte dos focos de incêndio, que diminuíram 88% em uma semana, segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências da Defesa Civil do estado de SP (CGE) divulgou em nota no começo dessa tarde. O órgão informou que três municípios permanecem com focos de incêndio ativos, Itirapuã e Rifaina, na região de Franca e Bananal, na região da Serra da Bocaína.

Em todas as regiões a perspectiva é favorável ao controle e extinção dos focos, mas a Defesa Civil segue com recomendação de cuidados para evitar novas queimadas e manterá as equipes de prontidão, monitorando as áreas que foram atingidas, principalmente na região norte do estado, que não recebeu chuvas.

Mudanças climáticas agravam insegurança alimentar, diz pesquisadora

A relação direta entre a fome e as mudanças climáticas foi debatida por pesquisadores que se reuniram na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) nesta semana, no 6º Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, que termina nesta sexta-feira (13). Coordenadora do evento e professora do Instituto de Nutrição Josué de Castro, da UERJ, Rosana Salles da Costa explica que a insegurança hídrica, por exemplo, pode ser uma consequência das mudanças climáticas que também reduz o acesso à alimentação saudável.

“A segurança alimentar se relaciona a diversas questões. Podemos colocar como uma delas as mudanças climáticas com, por exemplo, o prejuízo no acesso à água em quantidade e qualidade”, explicou à Agência Brasil. “Estamos debatendo no país a questão da segurança hídrica, que, com as mudanças climáticas e as queimadas que estão acontecendo, acaba prejudicando várias áreas de plantio de alimentos produzidos para o consumo nacional”.

A professora ressalta também ser importante observar o aumento do preço dos alimentos, resultado de uma sequência de acontecimentos que dificultam o acesso à alimentação. “Uma vez que você prejudica o plantio e o cultivo de alimentos destinados ao consumo da nossa população, infelizmente, o preço também é afetado. A partir daí, temos que pensar em políticas públicas e em como reverter os efeitos das mudanças climáticas, porque elas estão presentes e temos que pensar agora em como vamos enfrentar as dificuldades relacionadas à segurança alimentar, articulando com os Governos Federal, Estaduais e Municipais medidas de redução da fome e promoção da alimentação saudável.”

Realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), o encontro trouxe como tema “Pesquisa e políticas públicas em soberania e segurança alimentar e nutricional no enfrentamento das desigualdades, da fome e das mudanças climáticas”, reunindo pesquisadores nacionais e internacionais, alunos de graduação e de pós-graduação para debaterem as influências das mudanças climáticas no acesso à alimentação adequada pela população.

Segurança alimentar

Rosana Salles da Costa esclarece que segurança alimentar se relaciona ao acesso à alimentação adequada para todas as pessoas de uma família, refletindo o direito humano à alimentação adequada. Por outro lado, a insegurança alimentar se faz presente quando uma das questões relacionadas à alimentação, seja em quantidade ou qualidade, não é garantida. No Brasil, a insegurança alimentar é avaliada a partir da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA). “Os níveis de insegurança alimentar são três: insegurança alimentar leve, moderada e grave. A insegurança alimentar grave reflete a fome na nossa população, ou seja, famílias que passam o dia todo sem comer ou que fazem uma única refeição ao dia”.

No país, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, referentes ao último trimestre de 2023, 10,8% dos lares comandados por mulheres convivem com a insegurança alimentar moderada ou grave. Considerando os lares chefiados por homens, essa porcentagem passa para 7,8%, revelando uma diferença de três pontos percentuais. Com relação à cor ou raça, 74,6% dos domicílios que enfrentam a insegurança alimentar grave são chefiados por pessoas pretas e pardas.

“Infelizmente, temos o grupo classicamente mais afetado que são os lares chefiados por mulheres, especialmente as mulheres negras”, analisa a professora. “Esse também é um tema de debate de alguns dos painéis e de vários trabalhos do 6º EPISSAN. O encontro não debate apenas resultados, mas também é muito propositivo. Os pesquisadores presentes analisam e fazem propostas de políticas que, principalmente para os lares chefiadas por mulheres negras, são urgentes”, complementa.

Encontro

Além dos debates realizados, foram apresentados durante o evento dados preliminares sobre pesquisas conduzidas no país pela Rede Penssan e com apoio do App VIGISAN, aplicativo desenvolvido pela própria instituição para auxiliar na abordagem aos pesquisados que compõem, muitas vezes, grupos sociais vulnerabilizados. No encontro, também foi apresentada a plataforma FomeS, elaborada com financiamento do Ministério da Saúde (MS) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A ferramenta agrega dados nacionais sobre mudança climática, insegurança alimentar, insegurança hídrica, saúde e estado nutricional de crianças.

O encontro contou com patrocínio do Ministério da Saúde (MS), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

*Estagiária sob supervisão de Vinícius Lisboa

Produção de cana pode cair 20% com mudanças climáticas, diz estudo

Um estudo do Laboratório Nacional de Biorrenováveis do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) projeta que as mudanças climáticas poderão provocar queda na produção brasileira de cana-de-açúcar de até 20% nos próximos dez anos. 

A diminuição, de acordo com a pesquisa, causaria um efeito drástico similar no mercado de etanol combustível e no setor de biocombustíveis do Brasil. O país é líder mundial na produção e consumo de biocombustíveis. 

Segundo o levantamento, a redução na quantidade e frequência de chuvas é apontada como o principal fator prejudicial ao desenvolvimento da cana-de-açúcar, superando até mesmo a elevação das temperaturas.

“A projeção foi possível graças a técnicas de modelagem agroclimática. Os pesquisadores analisaram dados climáticos históricos e fizeram simulações considerando variáveis para estimar o que pode acontecer, nos próximos anos, com a cultura de cana na região Centro-Sul do Brasil”, destacou o CNPEM, em nota.

Dados climáticos

A região estudada abrange os estados de São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que produzem atualmente 90% da cana-de-açúcar do país. A pesquisa utilizou dados climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e adotou o modelo Crop Assessment Tool, desenvolvido pelo CNPEM, para descobrir como as mudanças climáticas podem afetar a produtividade da cana-de-açúcar. 

“A queda na produção já começou a ser sentida e pode se agravar, caso não sejam adotadas ações para mitigar os impactos ambientais. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima redução de 3,8% na safra de 2024/2025, em consequência dos baixos índices pluviométricos e das altas temperaturas na região Centro-Sul”, ressalta a pesquisa.

O principal participante do estudo, o engenheiro agrícola Gabriel Petrielli, alerta que a diminuição da produção da cana poderá causar uma forte queda nas receitas no setor.

“O recuo na produtividade da cana-de-açúcar pode levar a uma redução da receita de CBIOs da ordem de US$ 1,9 milhão para cada bilhão de litros de etanol produzido, resultando em uma perda de receita no setor da ordem de US$ 60 milhões anualmente”, destaca.

Bill Clinton convida Lula para evento sobre mudanças climáticas em NY

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi convidado pelo ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton para um evento evento organizado pela Fundação Clinton sobre mudança do clima, que ocorrerá nos dias 23 e 24 de setembro, à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York. O convite ocorreu durante ligação telefônica entre os líderes, na tarde desta quinta-feira (22). A conversa durou cerca de 35 minutos, informou o Palácio no Planalto.

Na ligação, Lula estava acompanhado do assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, e pela secretária-geral do Ministério das Relações Exteriores, Maria Laura da Rocha. O presidente reiterou a Clinton o compromisso do governo com a transição energética e com a proteção das florestas, afirmando que pretende apresentar resultados ambiciosos para as COP 29, em Baku, no Azerbaijão, no fim deste ano, e a COP 30, em Belém, no ano que vem. A COP é a Conferência Anual das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.