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Incêndio de grande porte destrói área de 50 mil metros quadrados em SP

Um incêndio de grandes proporções está devastando cerca de 50 mil metros quadrados na área rural de Pirapozinho, também conhecido como Cidade Joia da Alta Sorocabana, em São Paulo. As chamas, segundo o Corpo de Bombeiros, começaram em uma chácara, próxima à Rodovia Assis Chateaubriand (SP-425). Por causa da ventania no local, o fogo se espalhou rapidamente pela vegetação. A corporação ainda está em ação, tentando controlar as chamas.

Ainda não há informações sobre as causas do incêndio. Também não foram informados possíveis danos a propriedades ou eventuais vítimas. Conforme relato dos bombeiros, a operação é difícil em função da vegetação.

Campinas

Ontem (3), outro incêndio, também de grande extensão, chegou próximo ao Campus 1 da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas. As chamas foram extintas rapidamente pelos bombeiros no final da noite, mas causaram preocupação na comunidade acadêmica e moradores das proximidades do Parque Fazenda Santa Cândida, onde fica a universidade.

O risco de surgimento de novos focos de queimadas fez com o governo do estado prorrogasse a Operação Estiagem até 15 de outubro. A medida consiste em manter em alerta e em prontidão todas as unidades de combate ao fogo, com a adoção de todos os protocolos de contingência exigidos para crises como a atual.

PF prende suspeito de atear fogo a área de proteção ambiental do DF

Policiais federais cumpriram, nesta segunda-feira (30), mandado judicial contra um homem suspeito de atear fogo na Área de Proteção Ambiental do Planalto Central. Com autorização da 15ª Vara Federal Criminal do Distrito Federal, os agentes realizaram buscas na residência do suspeito, onde apreenderam um veículo supostamente usado na ocasião.

A identidade do alvo da ação policial não foi divulgada. Em nota, a PF informa que o homem e um outro suspeito, ainda não identificado, foram filmados parando o veículo à margem de uma rodovia e colocando fogo na vegetação, próximo ao Gama, região administrativa do Distrito Federal.

As imagens foram registradas no último dia 25 de setembro. Não chovia no Distrito Federal há mais de 150 dias. Com a vegetação seca e o calor, o fogo se espalho rapidamente, destruindo uma área superior a 380 hectares. A Polícia Federal instaurou quatro inquéritos para identificar os responsáveis pelos incêndios que consumiram parte da Área de Proteção Ambiental (APA) do Planalto Central e outras regiões.

Se condenados, os suspeitos poderão responder por crimes contra o meio ambiente, como o de causar incêndio florestal, dano à unidade de conservação, dentre outros.

Governo condena ataques no Líbano e diz para brasileiros deixarem área

O governo brasileiro condenou nesta segunda-feira (23) “nos mais fortes termos” os contínuos ataques aéreos israelenses contra áreas civis em Beirute, no Sul do Líbano e no vale do Beqaa. O Ministério das Relações Exteriores também recomendou aos brasileiros que deixem a área conflagrada. 

Israel e o grupo Hezbollah, do Líbano, têm trocado tiros através da fronteira desde o início da atual guerra em Gaza no ano passado, detonada após um ataque do Hamas, aliado do Hezbollah, mas Israel intensificou sua campanha militar na última semana. Somente hoje, os ataques causaram ao menos 492 mortes e deixaram mais de 1,6 mil feridos. 

Em nota, o Itamaraty lamentou as declarações de autoridades israelenses em favor de operações militares e da ocupação de parte do território libanês e expressou “grave preocupação” diante das exortações do governo israelense para que civis libaneses evacuem suas residências naquelas regiões.

“O Brasil renova o apelo às partes envolvidas para que cessem, imediatamente, os ataques, de forma a interromper a preocupante escalada de tensões, que ameaça conduzir a região a conflito de amplas proporções, com severo impacto negativo sobre populações civis”.

Assistência 

Segundo o Itamaraty, a embaixada do Brasil em Beirute continua prestando assistência e fornecendo as orientações devidas à comunidade brasileira, com a qual mantém contato permanente.

“O governo brasileiro acompanha com preocupação e atenção o impacto do conflito para a comunidade”. 

Em caso de necessidade, recomenda-se entrar em contato com o plantão consular do Itamaraty por meio do número +55 (61) 98260-0610 (WhatsApp).

*Com informações da Agência Reuters

MST refloresta área de assentamento na região do Vale do Rio Doce

Na data em que se comemora o Dia da Árvore, 21 de setembro, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) iniciou o plantio de 2 mil hectares para reflorestar áreas de Reserva Legal e de Preservação Permanente das famílias assentadas na região do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais.

A ação envolve as famílias de seis assentamentos da reforma agrária, localizados nos municípios mineiros de Periquito, Santa Maria do Suaçuí, Jampruca, Campanário, Resplendor e Governador Valadares. Para a restauração florestal dos assentamentos da região, será utilizada a metodologia de plantio através da muvuca de sementes nas áreas, que já se encontram com os solos preparados e adubados.

De acordo com Henrique Samsonas, do Setor de Produção e Meio Ambiente do MST, essa forma de plantio é uma alternativa que tem demonstrado bastante resultado, pois permite a antecipação do plantio, aumentando a quantidade de áreas plantadas ao longo do ano a um menor custo. “O plantio em larga escala de muvuca de sementes na Bacia do Rio Doce permitiu a criação de uma rede de sementes que tem gerado renda principalmente às famílias assentadas, aos povos indígenas e quilombolas”, avaliou.

Recuperação

A partir do rompimento da barragem de Fundão, no município mineiro de Mariana, em novembro de 2015, o Movimento Sem Terra compreendeu que, para além de denunciar a mineração predatória e degradante para o meio ambiente e para as pessoas, era tarefa das famílias dos assentamentos recuperar e preservar seus territórios.

A ação é parte do Programa Agroecológico de Recuperação da Bacia do Rio Doce, que já construiu 150 barraginhas (tecnologia para captar água da chuva para abastecer o lençol freático) e 59 biodigestores (equipamento que garante o tratamento do esgoto do banheiro nas áreas rurais).

A iniciativa visa a construção de territórios reflorestados e agroecológicos para produzir vida e alimento saudável para o povo brasileiro, e em conjunto com a ação nacional do Movimento Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, que projeta plantar 100 milhões de árvores até 2030.

Terra Indígena Kayapó tem mais de 17% de área tomada pelo fogo

Um levantamento divulgado nesta sexta-feira (20) pelo Greenpeace Brasil mostra que o mês de setembro concentrou 61,25% dos focos de calor registrados durante todo este ano nas comunidades que compõem a Terra Indígena (TI) Kayapó, que se estende pelos estados de Mato Grosso e do Pará. A porcentagem corresponde a 1.799 de um total de 2.937 focos identificados no período pelo Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Ao todo, 571.750 hectares (17,41%) do território já foram consumidos pelo fogo. É o pior índice desde 2012, quando o monitoramento foi iniciado. 

De acordo com a organização não governamental (ONG) Greenpeace Brasil, houve um pico de focos no dia 4 de setembro, véspera da Operação Xapiri Tuíre, de caráter interinstitucional, que teve como meta coibir crimes relacionados ao garimpo no território. Agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e da Polícia Federal (PF) participaram da ação, inutilizando combustível e maquinário dos invasores. As equipes se depararam com a estruturação de cinco vilas de garimpeiros.

“A operação foi concluída em 10 de setembro e, no dia seguinte, observou-se novo pico na concentração de focos de calor. Essa data é emblemática, pois um em cada cinco focos de calor na Amazônia foi identificado em terras indígenas. No total, as TIs de todo o bioma somaram 511 focos de calor, enquanto toda a Amazônia contabilizou 2.512 focos”, diz relatório da ONG. Segundo o relatório, em alguns casos, os incêndios florestais se sobrepõem ou estão perto das novas áreas de garimpo encontradas em 2024.

Em entrevista à Agência Brasil, o coordenador da Frente de Povos Indígenas do Greenpeace Brasil, Jorge Dantas, disse que já é possível bater o martelo quanto à severidade das queimadas em solo kayapó, inclusive pela velocidade e dimensão das chamas. “Já dá para dizer com clareza que a TI é o território mais impactado por incêndio florestal”, afirmou Dantas. 

A TI Kayapó lidera a lista de territórios com maior presença de garimpeiros, algo que marca a trajetória deste povo, assim como sua capacidade de organização coletiva na garantia de direitos. Ao lado desta TI, aparecem na relação as TIs Yanomami e Munduruku.

“O que a gente viu, basicamente, na semana passada, em um sobrevoo, foi que o mundo kayapó, as terras indígenas desse povo, todas estão queimando. Essa terra, em específico, está em uma situação muito dramática, mas não é a única”, destacou comenta. 

“O único levantamento que nosso time de pesquisa fez aqui, e isso tem uns 20 dias, está meio desatualizado, já dava conta de que mais de 300 terras indígenas de todo o país estavam sofrendo com as queimadas”, acrescentou. 

Como enfatiza Dantas, os povos indígenas são, comprovadamente, os que mais preservam a biodiversidade, o que os caracteriza como os guardiões dos diversos biomas. “A conservação, a proteção dos territórios indígenas não é algo benéfico só para os povos indígenas. A gente está em um momento de crise climática, em que precisa defender as florestas, a saúde dos indígenas”, argumenta.

Ele enfatizou que, pelo menos no contexto brasileiro, as terras indígenas são as que melhor cumprem essa função e exercem esse trabalho, que contribui para mitigar os efeitos da crise climática. “Então, é de interesse de todo brasileiro preocupado com o futuro deste país, deste planeta, que a gente defenda os territórios indígenas e que o governo federal acelere os processos demarcatórios.”

Polícia do Rio prende suspeito de incendiar área ambiental em Valença

O suspeito do incêndio criminoso que devastou a área de proteção ambiental (APA) da Serra da Beleza, em Valença, no sul fluminense, foi preso por policiais civis da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente, em ação conjunta com agentes da 91ª Delegacia Policial e apoio de policiais militares. A ação é parte da Operação Curupira, trabalho integrado da Polícia Civil do Rio de Janeiro para investigar e responsabilizar os envolvidos nos incêndios criminosos praticados no estado.

“Após amplo esforço de investigação e levantamento de dados de inteligência, foi possível identificar a pessoa flagrada em um vídeo amplamente divulgado, descendo de uma motocicleta e ateando fogo em região de mata. O fato ocorreu em uma área à margem da Rodovia RJ-143, na altura do Km 52. Após provocar o incêndio, o indivíduo fugiu. A ação criminosa devastou aproximadamente 2,7 mil hectares, sendo 1,5 mil hectares de matas nativas protegidas pela APA”, informou a Polícia Civil.

O acusado foi capturado no interior de uma fazenda, local ermo e de difícil acesso na zona rural de Conservatória, distrito de Valença. No momento da abordagem, ele não ofereceu resistência. A motocicleta utilizada para a prática do crime e as vestimentas e o capacete trajados pelo homem no dia do crime foram apreendidos.

O governo do Rio de Janeiro informou que mais de 20 suspeitos são investigados pela polícia por provocar incêndios florestais no estado. 

Polícia Federal investiga incêndio na área do Inpa em Manaus

A Polícia Federal (PF) vai investigar uma tentativa de incêndio criminoso no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus. No sábado (14) câmeras de segurança registraram um homem, ainda não identificado, ateando fogo nas proximidades do muro do Bosque da Ciência, espaço de visitação pública, e de laboratórios de pesquisa, na capital amazonense.

“A Direção acionou a Polícia Federal para investigar os incêndios ocorridos em áreas de vegetação pertencentes ao Inpa e em seu entorno, que fazem parte da Área de Proteção Ambiental Manaós (APA Manaós)”, informou o Inpa em nota.

O instituto informou que não houve feridos e que solicitou o apoio da Polícia Militar para intensificar as rondas ostensivas na região, para coibir atividades criminosas.

Esta não é a primeira vez que uma tentativa de incêndio criminoso é registrada no Inpa este ano. Em 4 de setembro, um incêndio começou fora das dependências do instituto e se alastrou para dentro. Em ambos os casos, os focos foram controlados com o auxílio de membros da comunidade interna e do Corpo de Bombeiros.

“A Direção do Inpa reafirma seu compromisso com a preservação do patrimônio natural e está empenhada na responsabilização dos possíveis envolvidos nos incidentes”, finaliza a nota.

 

Bombeiros do DF apagam incêndio em área de nascente do Lago Paranoá

O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) pôs fim ao incêndio ocorrido na Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) Santuário de Vida Silvestre do Riacho Fundo, localizada entre o Aeroporto Internacional Juscelino Kubistchek e o Jardim Zoológico de Brasília. No local, fica a nascente do Lago Paranoá. Nenhuma pessoa se feriu no episódio.

Brigadistas combatem incêndio em área de Cerrado próxima ao aeroporto de Brasília – Marcelo Camargo/Agência Brasil

O incêndio teve início entre as quadras 14 e 15 do Setor de Mansões Park Way às margens da Estrada Parque Dom Bosco (DF-25). Por causa da proximidade com a rodovia, o CBMDF tem como hipótese que o fogo tenha sido provocado por ação humana.

Está sem chover há mais de 120 dias no Distrito Federal, o período é de seca como em outras partes do Brasil. O incêndio ocorreu no horário de temperatura mais alta no DF – iniciou-se pouco antes do meio-dia (11h48) e foi até as 16h. Dentro do horário, a temperatura atingiu 31° Celsius e a umidade do ar foi de 24%.

O tamanho da área afetada será conhecido na segunda-feira (26) após medição de imagem de satélite. Trinta e cinco soldados combateram o fogo com uso de carros de água, bombas de água individuais, abafadores e sopradores mecânicos.

Incêndio aconteceu em horário de temperatura mais alta no DF – Marcelo Camargo/Agência Brasil

A Arie do Riacho Fundo, de 478 hectares, é considerada pelo Instituto Brasília Ambiental (Ibram) como local de refúgio de pássaros migrantes que atravessam corredor ecológico de unidades de conservação do DF.

No local, também há espécies endêmicas ameaçadas de extinção como o peixe pirá-brasília (Simpsonichthys boitonei), o rato-candango (Juscelinomys candango), além de orquídeas selvagens. O CBMDF identificou cobras-cipós (serpentes Chironius) carbonizadas pelo fogo.

Segundo o CBMDF, somente hoje mais de uma dezena de incêndios foram combatidos no Distrito Federal. A possibilidade de chuva em Brasília nos próximos 15 dias é de 5%, conforme Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Vítima crê que ninguém volta à área evacuada por Vale: “zona fantasma”

“Ninguém nunca mais voltou para a área evacuada. Até onde eu sei, a Vale adquiriu a maioria dos imóveis que existem ali. Então, é provável que ninguém nunca mais volte para essa área”, diz Fernanda Tuna. Ela é moradora de Macacos, como é popularmente conhecido o distrito de São Sebastião das Águas Claras, um dos destinos turísticos mais procurados no município de Nova Lima (MG). Em fevereiro de 2019, quase 300 pessoas foram tiradas às pressas de suas casas após ser constatado o risco de rompimento da barragem B3/B4 da Mina de Mar Azul.

Na época, havia a promessa de que o retorno aos imóveis poderia ocorrer após a conclusão das obras de eliminação da barragem. Mais de cinco anos depois, a Vale finalmente anunciou a finalização dos trabalhos em maio. Faz, portanto, três meses que a estrutura não oferece mais riscos. No entanto, Fernanda diz não ter conhecimento de ninguém que tenha interesse em voltar.

Procurada pela Agência Brasil, a Vale não nega a possibilidade do retorno das famílias à área evacuada. “A situação está sendo avaliada e orientada de maneira individualizada, levando em consideração os detalhes de cada caso, o interesse da família em retornar ou não para a moradia de origem, bem como a situação dessas edificações”, diz nota divulgada pela mineradora.

“Virou uma zona fantasma”, assegura Fernanda, que é uma das integrantes da Comissão Macacos, formada por moradores para pressionar pela participação popular nas decisões envolvendo o processo reparatório. Passados mais de cinco anos das remoções, as queixas são diversas.

A área evacuada se situa dentro da chamada mancha de inundação, que corresponde ao perímetro que seria alagado pela lama caso ocorresse um rompimento de barragem. Fernanda havia se mudado dessa localidade dez dias antes do início das remoções. Mas seu pai ainda vivia lá e, de uma hora para outra, teve que largar tudo para trás e sair de casa, sem nenhum aviso prévio.

Trabalhadores na obra do muro de contenção construído para eventual rompimento da Barragem B3/B4 em Nova Lima – Foto Tomaz Silva/Agência Brasil

Segundo estimativas da prefeitura de Nova Lima, Macacos tem cerca de 3 mil moradores. Significa que no perímetro evacuado viviam em torno de 10% da população. A situação também afetou Fernanda de outras formas. A escola onde trabalhava como professora de inglês ficou inacessível e ela ficou sem trabalho. “A maioria das rotas em Macacos atravessa a área da mancha de inundação. Então ninguém entrava e ninguém saía”, lembra.

A Vale adquiriu diversos imóveis na área evacuada e colocou placas padronizadas que alertam se tratar de propriedade privada. “Eles estão fechados. Inclusive a manutenção deles pela Vale tem sido uma questão que preocupa. Além desses imóveis na área da mancha de inundação, a mineradora comprou vários outros em diferentes locais de Macacos. E muitos deles têm piscinas. Quando tivemos um surto de dengue, houve denúncias de que essas piscinas não estavam recebendo a devida manutenção. A comunidade teve que se movimentar para pressionar a Vale”, diz Fernanda Tuna.

De acordo com ela, a movimentação da mineradora impactou o mercado imobiliário local. “Diminuiu a oferta de imóveis para as pessoas morarem. É muito mais difícil encontrar uma casa para alugar hoje em Macacos”.

Fernanda também afirma que a população não se sente segura para retornar à área evacuada porque há outras barragens no entorno de Macacos. “Pelas características topográficas, a área da mancha da B3/B4 é também a área da mancha de todas as outras estruturas existentes no entorno de Macacos. Então, duvido que alguém volte a morar ali. Qualquer problemas que tiver com qualquer outra estrutura, essa área seria atingida pela lama”, afirma.

A Vale reconhece que a mancha de inundação da B3/B4 coincide com as manchas das barragens Taquaras, Capão da Serra, B6 e B7 e 5 Mutuca. Afirma, no entanto, que todas essa outras foram construídas pelo método a jusante, considerado mais seguro. Fernanda destaca, porém, o alerta que vem sendo dado por alguns especialistas. “Com as mudanças climáticas e com os novos volumes de chuva, nunca se sabe qual a real situação de segurança dessas barragens”.

Uma das vozes que têm chamado atenção para a questão é a do engenheiro Júlio César Dutra Grillo, ex-superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Minas Gerais e atualmente integrante da organização não governamental Fórum Permanente São Francisco. Em maio, durante audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) que debateu eventos climáticos extremos, ele afirmou que os padrões de segurança das barragens existentes não dão conta da nova realidade, na qual podem ocorrer chuvas acima de 400, 500 e 600 milímetros em um dia.

“Não sabemos o que é o nosso futuro próximo. Ninguém pode colocar a mão no fogo sobre o que vai acontecer nos próximos 10 anos. Temos que lembrar que esses eventos extremos se tornaram mais intensos a partir de 2020”, disse ele, citando como exemplo os temporais de Petrópolis (RJ) em 2022 e do Rio Grande do Sul no início deste ano. Ele afirmou que há barragens de mineradoras que correm o risco de não suportar o peso de chuvas similares.

Remoções

A barragem B3/B4 é uma das 30 estruturas da Vale que precisavam ser eliminadas por determinação legal. Ela foi construída pelo método de alteamento a montante, o mesmo associado às grandes tragédias ocorridas em 2015 e em 2019. A primeira delas, com uma barragem da mineradora Samarco situada em Mariana (MG), que deixou 19 mortos e impactos em toda a Bacia do Rio Doce.

A outra envolveu uma barragem da Vale em Brumadinho, que ceifou 272 vidas e gerou danos em municípios que margeiam o Rio Paraopeba. Nas comunidades mais atingidas, a Vale também adotou o expediente de adquirir as casas dos moradores. As entidades que prestam suporte às vítimas, no entanto, alertam que a compra do imóvel não afasta a obrigação de pagar a devida indenização.

Dias após esse segundo episódio, a Agência Nacional de Mineração (ANM) e outros órgãos de controle iniciaram uma ofensiva fiscalizatória para prevenir tragédias similares. Após esse pente-fino na situação das barragens, diversas estruturas perderam suas declarações de estabilidade, o que exige a paralisação e o acionamento automático do nível 1 de emergência. Nos casos classificados como nível 2 ou 3, as mineradoras foram obrigadas a organizar a remoção de moradores. Em todo o estado de Minas Gerais, quase mil pessoas precisaram deixar suas casas.

Em Macacos, a primeira remoção aconteceu em fevereiro de 2019, apenas duas semanas antes do carnaval, afugentando os turistas. Situada a 20 quilômetros de Belo Horizonte, a comunidade é um dos destinos turísticos mais procurados da região devido à beleza natural, com cenário composto por montanhas, mananciais e cachoeiras.

Na época, a prefeitura de Nova Lima lamentou o prejuízo econômico para o município e informou que praticamente 100% das reservas nas pousadas foram canceladas, incluindo as localizadas fora do perímetro evacuado. Pouco mais de um mês depois, a barragem atingiu o nível de emergência 3, que significa risco iminente de ruptura. Após uma segunda evacuação, foi anunciado que o número de moradores removidos chegava a mais de 270.

A lei que determinou a eliminação de todas as barragens construídas pelo método a montante também foi aprovada após a tragédia em Brumadinho. De acordo com a Vale, 14 estruturas já foram descaracterizadas. O descumprimento do prazo original, no entanto, gerou uma multa. Em algumas estruturas, como a B3/B4, o processo tem sido conduzido com equipamentos não tripulados, controlados de forma remota em um centro de operações. A previsão é de que as 30 barragens estejam 100% eliminadas apenas em 2035.

Com o anúncio da conclusão da descaracterização da B3/B4, a estrutura já não oferece risco às comunidades e ao meio ambiente. A Vale, no entanto, ainda deverá realizar a revegetação da área. Segundo a mineradora, esse processo deve ser concluído no primeiro semestre de 2025. “Não dá pra dizer que foi totalmente descaracterizada porque não foi feito o reflorestamento. Quando olhamos para a paisagem, continua parecendo uma barragem”, diz Fernanda.

Acordos

No fim de 2022, um acordo reparatório foi firmado entre a mineradora, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), a Defensoria Pública de Minas Gerais (DPMG), o Ministério Público Federal (MPF) e a prefeitura de Nova Lima. A Vale se responsabilizou por um aporte de R$ 380 milhões, que financiariam um programa transferência de renda para os atingidos, a requalificação do comércio e do turismo e o fortalecimento do serviço público municipal.

Outros acordos também tinha sido firmados anteriormente, fixando alguns compromissos como a elaboração de cartilhas indicando a localização de todas as manchas de inundação das barragens do entorno e a obrigação de indenização dos danos materiais, econômicos e morais de cada atingido. A Comissão Macacos, no entanto, afirma que medidas foram descumpridas e outras cumpridas apenas parcialmente.

Trabalhadores na obra do muro de contenção construído para eventual rompimento da Barragem B3/B4 em Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte. – Foto Tomaz Silva/Agência Brasil

“O acordo de 2022 não foi executado até hoje plenamente. Exatamente por isso foi criada a Comissão Macacos, que é um coletivo que acompanha a execução das medidas. Todas elas já estão com os prazos ultrapassados. Uma parte do compromisso de reparação da Vale era a revitalização do centro de Macacos, que nunca aconteceu. Também vale dizer que a comunidade não participou da construção desse acordo que visa à reparação”, diz Fernanda.

Ela afirma que o turismo ainda não é a mesma coisa e destaca que os acordos tratam sobretudo da reparação coletiva, já que as questões individuais foram tratadas caso a caso. Não houve, por exemplo, um processo de reassentamento coletivo dos moradores da área evacuada. Cada família precisou fechar um acordo que poderia envolver a compra de outro imóvel ou a indenização pecuniária.

A Vale sustenta que o acordo de reparação tem sido cumprido. A mineradora também diz ter assinado acordos de indenização individual com 1,3 mil atingidos, levando em consideração parâmetros firmados com a Defensoria Pública de Minas Gerais. Fernanda conta que conseguiu entrar em acordo com a Vale, mas afirma que essa não é a realidade de todos. “Tem pessoas que não foram plenamente indenizadas”.

Entre outras queixas da Comissão Macacos, está a falta de reparo de imóveis que sofreram furtos e danos durante o tempo em que estiveram desocupados e a classificação de alguns atingidos como “só ilhados”: eles seria moradores de área localizada fora da mancha de inundação, mas que ficaria inacessível em eventual tragédia. Os atingidos também criticam a ausência de participação da população na construção dos termos de todos os acordos. “Quando se fala em reparação coletiva, a comunidade não tem vez e voz. A gente só recebe o documento pronto”, lamenta Fernanda.

Mesmo sem participação dos atingidos nos acordos, ela afirma que a situação seria melhor se a Vale levasse adiante os compromissos assumidos. “Um tanto de coisa não saiu do papel. Temos um empilhamento de acordos que nunca são executados. E a mineradora nunca é penalizada. Então é muito cansativo, porque ela faz um acordo, se compromete, não cumpre e não acontece nada”, acrescenta.

Projeto que permite irrigação em área de proteção recebe críticas

Organizações ligadas ao meio ambiente criticaram a aprovação, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados nesta semana, do Projeto de Lei 2.168/21, que permite a derrubada de vegetação nativa em áreas de preservação permanente (APPs) para obras de infraestrutura de irrigação e de bebedouros para animais, modificando o Código Florestal Brasileiro.

Aprovado na CCJ por 37 votos contra 13, o texto já foi aprovado pelas comissões de Meio Ambiente e de Agricultura. Agora, deve seguir para o plenário da Câmara.

“A medida simboliza um retrocesso significativo na proteção ambiental no Brasil ao facilitar o desmatamento em APPs e, assim, colocar sob ameaça à segurança hídrica, alimentar e a biodiversidade do país. Além disso, aumenta a vulnerabilidade do país a eventos climáticos extremos, cada ano mais comuns”, afirmou, em nota, o Observatório do Código Florestal, que reúne 45 entidades ligadas à questão ambiental.

A nota pública afirma que o projeto prioriza interesses econômicos privados em detrimento do interesse público “de um bem comum vital – a água”. Para o Observatório, as APPs garantem a qualidade e a quantidade das águas que abastecem cidades e comunidades rurais, além da própria sustentabilidade da produção agropecuária e de reduzir os efeitos dos eventos climáticos extremos.

“Tais evidências são exaustivamente comprovadas pelos estudos científicos e análises técnicas da sociedade civil organizada”, acrescenta a nota.

A manifestação dos ambientalistas argumenta que a aprovação do projeto ignora o desastre climático no Rio Grande do Sul (RS) – “que inclusive contou com aprovação de uma lei estadual similar à aprovada pela Câmara dos Deputados” – e a crise hídrica na região amazônica, “onde a redução do fluxo de água devido ao assoreamento dos rios tem comprometido o abastecimento de água para as populações”.

Agronegócio

A relatora do projeto na CCJ da Câmara, deputada Coronel Fernanda (PL), explicou na sessão que a medida é importante para o agronegócio, reduzindo a burocracia e facilitando a irrigação na produção de grãos e na hidratação dos animais.

“A irrigação é necessária para que o campo continue produzindo. Estamos vivendo momentos de alteração de estações e, em algumas regiões, ocorre a falta de chuva. Com esse projeto, vamos dar ao homem do campo, principalmente ao pequeno produtor, a possibilidade de guardar a água da chuva”, destacou a parlamentar.

Coronel Fernando acrescentou, em seu relatório, que o projeto expressa que as obras de infraestrutura em áreas de proteção devem respeitar os regulamentos sobre recursos hídricos. O projeto cita ainda que a mudança legislativa é importante para “garantir a segurança alimentar e segurança hídrica do Brasil”.