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Sobe para 20 os mortos por policiais militares na Baixada Santista

A Polícia Militar de São Paulo matou mais duas pessoas na Baixada Santista, litoral do estado, neste final de semana. Ao todo, foram 20 mortos na região em supostos confrontos contra a polícia desde o dia 2 de fevereiro, quando o policial militar Samuel Wesley Cosmo foi morto em Santos, durante patrulhamento. Na ocasião, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que as polícias civil e militar se mobilizaram para localizar e prender os envolvidos no crime contra Cosmo.

De acordo com a SSP, policiais militares da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) faziam ronda em Santos, no domingo (11), quando suspeitaram de um homem que andava de bicicleta. O homem foi atingido por disparos de arma de fogo, após um suposto confronto, e socorrido na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da zona noroeste, onde morreu. A Polícia Civil solicitou perícia no local e investiga o caso.

Também em Santos, um homem que teria resistido à ordem de parada dos policiais militares foi morto por volta das 17h30 do sábado (10). A SSP afirmou que os agentes averiguavam uma denúncia de transporte de armas e que o rapaz tinha passagens por tentativa de homicídio e associação criminosa. “A perícia foi acionada e todas as circunstâncias dos fatos serão apurada”, informou a SSP em nota.

No domingo, moradores de bairros da periferia da Baixada Santista denunciaram a prática de execuções, tortura e abordagens violentas por policiais militares contra a população local e egressos do sistema prisional. Os relatos foram colhidos por uma comitiva formada pela Ouvidoria da Polícia de São Paulo, Defensoria Pública, e parlamentares, como os deputados estaduais de São Paulo Eduardo Suplicy (PT) e Mônica Seixas (PSOL). 

De acordo com os relatos, os policiais falam abertamente em ameaças aos jovens usuários de drogas, aos aviõezinhos, e que a polícia vai vingar o policial morto. “A sociedade e os territórios periféricos estão muito assustados, relatando abordagens truculentas, violentas e aleatórias, busca de egressos do sistema prisional, torturas e execuções. O que a gente está vendo aqui é um estado de exceção. O Estado autorizando a sua força policial a executar pessoas sem o devido processo legal, sem mandado judicial, sem chance à ampla defesa”, denunciou a deputada Mônica Seixas à Agência Brasil, na ocasião.

A SSP informou que todos os casos estão sendo apurados e que, desde o início do ano, foram registradas seis mortes de policiais em todo o estado, sendo quatro PMs ativos e um inativo, e um policial civil em serviço. Desse total, três foram na Baixada Santista, em 26 de janeiro, um PM; um policial da Rota, em 2 de fevereiro; e outro PM no dia 7.

A terceira fase da Operação Verão, com reforço de policiais de batalhões de diversas regiões, da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) e do Comando de Operações Especiais (COE), teve início justamente na quarta-feira (7), segundo a SSP.

O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, publicou, no sábado, nas redes sociais, uma nota manifestando preocupação em relação à atuação da polícia na Baixada Santista. “O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) vem a público externar a preocupação do governo federal diante dos relatos recebidos pela Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos de que graves violações de direitos humanos têm ocorrido durante a chamada Operação Escudo”, diz o texto.

Na sexta-feira (9), a prefeitura de São Vicente, na Baixada Santista, cancelou o carnaval de rua na cidade em razão da falta de segurança.

Operação Escudo

O estado de São Paulo deu início à Operação Escudo, na Baixada Santista, após a morte do soldado Patrick Bastos Reis, pertencente à equipe da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), que foi baleado e morto em Guarujá, no dia 27 de julho do ano passado. Segundo a SSP, Reis foi atingido durante patrulhamento em uma comunidade por um disparo de calibre 9 milímetros. A operação resultou na morte de 28 pessoas em 40 dias de duração. Na época, moradores da região também chegaram a denunciar execuções e ilegalidades

Para a socióloga Giane Silvestre, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP), ouvida pela Agência Brasil, é fundamental que não se repita o que aconteceu na Operação Escudo de 2023, no litoral paulista. Segundo ela, nenhuma operação policial que resulta nessa quantidade de pessoas mortas pode ser considerada uma operação de sucesso e que operação policial de sucesso é aquela que preserva a vida das pessoas

Na avaliação da especialista, a lógica de enfrentamento deixa os policiais mais vulneráveis a esse tipo de ataque e a melhor forma de lidar com a violência contra os policiais é atuar com foco na prevenção com investigações qualificadas.

Cacique e Bafo: a rivalidade que fez história no carnaval do Rio

 

Uma rivalidade marcou durante muitos anos o carnaval do Rio. Os desfiles dos blocos de embalo Bafo da Onça e Cacique de Ramos atraíam multidões e, não raro, pequenas brigas se espalhavam nas ruas do centro da cidade. A concentração de tantos foliões foi o que levou à rivalidade entre os dois. Cada um queria ser maior que o outro. Atualmente essa disputa já não existe e os dois podem aproveitar o carnaval.

Quando o Cacique foi criado em 1961, no bairro de Ramos, na zona norte do Rio, o Bafo da Onça já existia. Foi fundado em 1956 em um botequim do bairro do Catumbi, na região central da cidade. E foi ali que Sebastião Maria, conhecido como Tião Carpinteiro, deu nome ao bloco. Antes disso, durante o carnaval, ele costumava desfilar fantasiado de onça-pintada.

Blocos de rua tradicionais, como Cacique de Ramos e Bafo da Onça desfilam pelo centro do Rio. Foto: Vladimir Platonow/Agência Brasil

“Seu Tião Maria dizia que, para ele, o carnaval começava logo depois da festa dos Santos Reis, dia 6 de janeiro, então, abria o período carnavalesco. Os amigos do Seu Tião frequentadores do mesmo botequim resolveram fundar um bloco. Ele era conhecido como Seu Tião do Bafo da Onça, porque diziam que gostava de tomar, na época do carnaval, uma cachaça mais forte e ficava com aquele bafo ”, contou à  Agência Brasil o professor de história e escritor, Luiz Antônio Simas.

“A característica deste bloco era basicamente estar ligado ao bairro, desfilava pelas ruas do Catumbi, todos vestidos de onça pintada e foi um bloco tão impactante que de certa maneira inspirou a fundação, alguns anos depois do Cacique de Ramos e o bafo começa a ser uma grande atração do carnaval do Rio de Janeiro”, completou.

Se o número grande de foliões era comum aos dois grupos, as características eram próprias. Enquanto no Cacique a fantasia de indígena, inicialmente confeccionada em napa, uma espécie de couro, cobria o corpo dos integrantes, no Bafo os figurinos eram variados, desde que respeitassem as cores do bloco: o preto e o amarelo. Como o Tião Carpinteiro, muitos usavam as fantasias e também pintavam o rosto para parecer uma onça.

“Tinha uma disputa ferrenha com o Cacique de Ramos. Ou você era Bafo ou era Cacique, e isso tinha muito a ver com a história do carnaval de rua do Rio, e muito a ver com essa mítica de disputa”, afirmou Rita Fernandes, presidente da Associação Independente de Blocos de Rua do Rio (Sebastiana) à Agência Brasil.

Outra característica das duas instituições foram diversos sambas compostos para cada um deles. Pelo Cacique um dos destaques é o Água Na Boca e pelo Bafo o OBA. O sucesso das músicas é tão grande que até hoje são cantadas inclusive por outros blocos.

Desfiles

Para satisfazer os seus foliões, como tem acontecido nos últimos anos, o Cacique de Ra,ps aproveita muito bem o carnaval e se apresenta no domingo, na segunda e na terça. Já o Bafo da Onça, em quantidade muito menor ao que já foi no passado, marca o encontro com os foliões para apenas o domingo. Parte do dinheiro para o desfile é conseguida com a venda de camisetas. A convocação dos componentes foi divulgada no perfil da instituição no Facebook e movimentou os fãs na rede social. O bloco usou no anúncio um verso do samba OBA: É o Bom ! É o Bom ! É o Bom !.

O samba foi gravado em 1962 pelo cantor e compositor Oswaldo Nunes autor de diversos sucessos do Bafo da Onça, que na época, animavam os foliões na Avenida Rio Branco, também no centro da cidade. O cantor foi a voz do bloco do início dos anos 60 até meados dos anos quando, por causa de uma briga com a diretoria da instituição, deixou a função que desempenhava com tanta alegria.

Se a quantidade de componentes é diferente entre os dois blocos, o local de apresentação é o mesmo. Antes era a Avenida Rio Branco, anteriormente chamada de Avenida Central. Agora é a Avenida Chile, as duas no centro do Rio. A escolha, no entanto, não é do Cacique e nem do Bafo, cabe a Riotur determinar o local atual onde também desfilam Blocos Afros e grupos de Frevos, além de outros blocos como Boêmios de Inhaúma e Pagodão de Madureira.

“O Bafo da Onça e o Cacique de Ramos foram as mais famosas instituições carnavalescas da cidade do Rio. Eram concorrentes tradicionalíssimos e atraíam multidões para os desfiles que em geral eram na Avenida Rio Branco. Portanto, eles foram importantíssimos e arrebatavam milhares de pessoas”, pontuou o historiador, jornalista e pesquisador de MPB, Ricardo Cravo Albin, em entrevista à Agência Brasil, destacando que os jornais davam em primeira página as matérias sobre os desfiles dos dois blocos.

Dificuldades

Atualmente, os dois se diferenciam pela condição financeira. O Cacique se mantém com shows na quadra, patrocínios e vendas de produtos como camisetas. O Bafo não consegue tantas fontes de renda e isso fica refletido nos desfiles que reúnem poucos admiradores em comparação ao que já foi no passado.

Rita Fernandes lamentou as dificuldades financeiras que levaram à redução do Bafo da Onça nos últimos dez anos. Para ela, os blocos precisam de ter fontes novas de renda para permanecerem com as suas atividades. “É lamentável que um bloco com tamanha importância para a história do carnaval e da cidade Rio , como é o caso do Bafo da Onça, não consiga sobreviver com cantores, artistas e sambistas que faziam parte do seu quadro, por falta de incentivo do poder público, que não ajuda, como é o caso também do Bola Preta que está precisando de ajuda”, apontou.

“Temos um problema no Rio e no Brasil em relação à preservação das memórias, daquilo que tem tradição, que tem raiz”, disse, acrescentando que além do poder público, o bloco conseguiu também a ajuda de marcas patrocinadoras, o que para ela, só ocorre atualmente para os blocos comerciais.

Para o professor Simas, o declínio do Bafo é decorrente do também declínio do bairro do Catumbi, que foi impactado por algumas reformas urbanas como a abertura do túnel Santa Bárbara e a criação do Viaduto 31 de março, que dividiu o Catumbi em dois. Apesar disso a instituição tem relevância no carnaval carioca. “O Bafo da Onça é um marco da história do carnaval de rua do Rio de Janeiro, desse espírito carnavalesco desses blocos de embalo”, concluiu.

Carnaval de Brasília tem tradição de irreverência e saudade

Nem aniversário. Nem Natal. Nem qualquer outra festa. Cada carnaval é o momento mais esperado, o verdadeiro ano-novo para o aposentado Cícero Ferreira Lopes, o Seu Cicinho, hoje aos 83 anos. É em fevereiro que ele tem encontro marcado com a própria felicidade. Particularmente para sair pelas ruas de Brasília e cantar marchinhas no Bloco Pacotão, agremiação criada em 1978, uma das mais antigas da capital do País.

Foi-se o tempo em que eram raros os cordões de folia. Em 2024, a estimativa é que mais de 1,7 milhão de pessoas se juntem aos 56 blocos nas ruas brasilienses na sexta maior folia do Brasil. Para Seu Cicinho, cearense de Juazeiro do Norte, é o melhor lugar do mundo. 

Fevereiro é o verdadeiro ano novo para Seu Cicinho, hoje aos 83 anos. Foto:-Cicinho/Arquivo Pessoal

Quando participou do primeiro desfile do Pacotão, o então jornalista vibrava com a irreverência do nome do bloco, que era um protesto contra o “Pacote” de decisões de abril de 1977, do presidente Ernesto Geisel, que incluía fechar o Congresso Nacional em ato arbitrário do período ditatorial. “Eu não perco nenhum carnaval. Não tenho mais o mesmo  fôlego para aguentar tudo. Mas estarei lá na terça (13), às 11h”, afirma Cicinho, considerado presidente de honra do bloco. 

O Pacotão que juntou, em 1978, um grupo de cerca de 100 pessoas, a maior parte de jornalistas e artistas da cidade, se tornou uma multidão de mais de 20 mil pessoas. “O carnaval é chave de vida. Para brincar, dançar, namorar”. O filho de Cicinho, Manuel Lopes, fica orgulhoso desse amor pela folia e faz questão de acompanhar o pai. “O carnaval é o que mantém meu pai vivo.”

Versos

Um amigo de Cicinho está também animado com o carnaval deste ano por outro motivo especial. O jornalista e compositor mineiro José Edmar Gomes foi o vencedor da marchinha deste ano do Pacotão. A música tem o título de ET Ladrão de Joias, que busca criticar os atos antidemocráticos de 8 de janeiro do ano passado e as ameaças de um golpe de Estado. 

“Brasília virou um formigueiro no dia 8 de janeiro/ Ratos, baratas e viúvas saíram dos porões da ditadura”. Esses são os primeiros versos da marchinha vencedora deste ano, marcada pela irreverência de quase cinco décadas. “Vamos fazer uma grande festa. Na letra, a gente coloca alguns temas que estão afetando o nosso dia a dia dentro de uma visão crítica.”

Contra ditadura

O vice-campeão do concurso, Wilson Silva, carioca de 60 anos, dirigente do bloco, também criticou os atos de 8 de janeiro. Ele recorda que a primeira marchinha atacava o governo ditatorial. “Geisel, você nos atolou/ O Figueiredo também vai atolar/ Esse governo já ficou gagá.” 

O presidente da Liga dos Blocos Tradicionais de Brasília, Paulo Henrique Nadiceo, afirma que considera do Bloco da Baratona o mais antigo da capital, criado em 1975. “Ele saía no Eixão Norte e no Eixão Sul. Hoje está concentrado no Parque da Cidade.” Ele afirma que a capital do País já se consolidou em brincar o carnaval na rua, fruto da mistura de influências das folias do Sudeste e Nordeste. 

“Nós temos um legado dessa cultura, dos povos que vêm para cá, dos nossos antecedentes. Brasília está entre os seis maiores carnavais do país e que atraem principalmente turistas de outras cidades do Centro-Oeste.”

Carnaval é o momento mais esperado. Foto: Cicinho/Arquivo Pessoal

Frevo

O pai dessa folia toda é o pernambucano Luiz Lima, de 85 anos de idade, que chegou a capital em 1958, dois anos antes da inauguração para trabalhar como encarregado na construção de estradas. Ele garante que foi a saudade que o pegou pelo braço. Inclusive, antes de 1975. Lima recorda as brincadeiras carnavalescas que os moradores faziam no Eixo Rodoviários, a avenida que liga as Asas Sul e Norte, mesmo em 1960. “Nós fazíamos um passeio no Eixão. Não tinha nem asfalto ainda. Aquilo ali, pra mim, foi o primeiro carnaval de Brasília.”

Ele ficava muito chateado por estar longe do frevo da terra natal. Lima recorda que foi a partir de encontro com amigos que resolveu fazer a folia de bar em bar, numa espécie de maratona. Da ideia, surgiu a brincadeira da Baratona. Como passaram a ser criticados pelo uso de bebidas alcóolicas, o pernambucano criou nos anos seguintes A Baratinha, apenas para o público infantil.

O folião ajudou a criar depois outros blocos como o Pacotão e O Galinho de Brasília. Desde então, ele não para. “De vez em quando, vou ao Recife. Mas descobri que era possível ser feliz no carnaval em Brasília”. Hoje é preocupado com a organização para dar tudo certo. “Eu me sinto como uma pessoa que está cumprindo uma missão de fazer isso. principalmente para as crianças.” 

É assim que o pernambucano-brasiliense se sente feliz e brinca pelos blocos. A saudade ganhou ritmo e brilhos nos olhos toda vez que fevereiro chega ao horizonte.

Polícia Militar recolhe pistolas de água no carnaval em Salvador

 

Este carnaval de 2024 é o primeiro após a proibição do uso das pistolas de água ou objetos que disparem líquido nos blocos de rua, em Salvador. Desde as festas que antecedem a folia, a Polícia Militar do estado já atua na orientação e recolhimento dos objetos em todo o circuito entre a Barra e Ondina.

Segundo a Polícia Militar, entre os mais de 1,1 mil objetos recolhidos entre a quinta-feira (8) e esta sexta (9), por serem proibidos para o acesso às festas carnavalescas, havia algumas pistolas d’água, que foram retiradas após orientação do folião sobre a proibição.

A retirada do objeto das festas de carnaval na Bahia foi motivada pelo uso indevido que alguns brincantes faziam para importunar sexualmente mulheres ou, até mesmo, agredir outros participantes dos blocos com disparos de urina, no lugar de água.

Dia 29 de janeiro, o governador do estado da Bahia, Jerônimo Rodrigues, regulamentou, por meio de um decreto, a Lei 14.584 aprovada pela Assembleia Legislativa do estado em junho de 2023,  da deputada estadual Olívia Santana (PCdoB). A época da aprovação, a parlamentar destacou em seu discurso a importância da iniciativa no enfrentamento ao assédio sexual e objetificação dos corpos femininos. “A luta em defesa das mulheres foi vitoriosa, foi uma luta por nossa integridade física. É a reafirmação do direito da mulher ir e vir sem ser ofendida.”

De acordo com as normas, estão proibidos “todo artefato, artesanal ou não, que acionado por mecanismo manual ou automatizado, dispare água ou outros líquidos”. O decreto também estabelece que todas os objetos recolhidos deverão ser doados às “cooperativas de reciclagem, preferencialmente lideradas por mulheres”.

Perfurantes

Entres os objetos recolhidos, a Polícia Militar da Bahia alerta para o grande volume de perfurocortantes. São facas, garfos, chaves de fenda, tesouras e estiletes recolhidos nas 42 barreiras montadas nos acessos ao circuito de carnaval.

“São objetos que seriam utilizados para crimes contra a vida e contra o patrimônio, como roubos e furtos. Seguiremos vigilantes e impedindo que entrem com esses itens na nossa festa”, reforçou o secretário de Segurança Pública, Marcelo Werner.

Alice Pereira compartilha em quadrinhos “pequenas felicidades trans”

 

Em um livro, por meio de quadrinhos, Alice Pereira conta a história da própria transição de gênero. Com ilustrações e texto, ela compartilha as maiores dificuldades e medos e também as alegrias de se tornar quem é verdadeiramente. “Senti medo toda a minha vida, enquanto me reprimia. Depois que me libertei, parei de sentir medo. E não vai ser agora que vou voltar. Vamos seguir resistindo, vivendo nossas vidas e contando nossas histórias”, diz um trecho do livro Pequenas Felicidades Trans.

Alice Pereira é ilustradora, quadrinista e atualmente trabalha também com animação. Os quadrinhos estão na sua vida desde cedo. “Eu sempre gostei, acho que aprendi a ler com quadrinho. Só que eu nunca achei que eu tinha capacidade para fazer um. Você cria muito aquele mito de as pessoas terem o dom para fazer as coisas. E isso não é verdade. A gente aprende a fazer as coisas. A gente aprende a dirigir, a gente aprende a tocar instrumentos. A gente aprende a desenhar também”, diz.

Foi pelos quadrinhos que ela compartilhou o que estava vivendo e sentindo durante a transição. Além de sentir a necessidade de ver mais histórias de pessoas trans escritas por pessoas trans, ela queria uma forma de responder às pessoas, que lhe faziam as mesmas perguntas. “Eu comecei a explicar isso por meio dos quadrinhos.”

Alice Pereira é ilustradora, quadrinista e trabalha também com animação – Joédson Alves/Agência Brasil

Alice compartilha os maiores medos: a solidão, o julgamento das pessoas, ser expulsa de casa, ser agredida na rua. Mas também traz o que ela chama de pequenas felicidades trans, como “sair a primeira vez na rua é um marco. Você acha que nunca vai ter coragem, mas quando consegue, é uma libertação muito grande”, diz no livro.

Ela também compartilha o que gostou e o que não gostou de ouvir até então, por exemplo, não gostou quando questionavam se ela tinha certeza que era trans. Ela insere no livro uma seção apenas de comentários e perguntas desagradáveis para não serem feitas a pessoas trans e um glossário com alguns termos LGBTQIA+.

“Eu conheço pessoas que são trans e trabalham com quadrinhos, mas, de todas que eu conheço, eu não sei citar uma que esteja no mainstream [corrente dominante ou convencional] . Elas são todas alternativas. A gente tem muita dificuldade de furar a nossa bolha. A gente acaba ficando restrita porque não está nas principais editoras, não está sendo mostrada. A gente depende muito de feiras ou de redes sociais”, diz.

Além do livro em que compartilha a própria história, Alice escreveu outros quadrinhos, como A Travessia, uma ficção científica na qual um astronauta solitário busca planetas com recursos naturais quando, próximo a um buraco negro, encontra uma misteriosa viajante que muda sua vida. Para ela, é fundamental que pessoas trans tenham espaço nas artes não apenas para tratarem da própria história, mas dos mais diversos temas.

“Eu não preciso escrever uma história que tenha a ver com a minha vivência trans, eu preciso escrever histórias e que essas histórias sejam lidas, que cheguem ao público”, defende. “Essa diversidade é importante até para tornar uma diversidade em termos de temas, de temáticas e de pontos de vista”, acrescenta.

Alice defende que haja incentivos, sobretudo públicos, para a produção artística de pessoas trans. Além de gerar empregos, uma vez que o produzir filmes, ou livros, por exemplo, demanda mão de obra de diversos setores, a divulgação para a sociedade faz com que as pessoas trans sejam mais conhecidas e consequentemente mais aceitas.

“Eu acho que precisa de, talvez, alguma coisa mais vinda do poder público para aumentar essa diversidade em todos os meios, porque também é a melhor forma de diminuir o preconceito, diminuir a violência. Quanto mais a gente está incluída, mais as pessoas veem a gente de uma forma normal, né? Com mais empatia”, diz.

Para marcar a visibilidade trans, cuja data é 29 de janeiro, a Agência Brasil publica histórias de cinco artistas trans na série Transformando a Arte, que segue até o dia 31 de janeiro.

Milei enfrenta a primeira greve nacional em resposta às suas medidas económicas

25 de janeiro de 2023

 

Centenas de manifestantes reuniram-se na manhã desta quarta-feira em frente ao Parlamento argentino e outros pontos de Buenos Aires, respondendo ao apelo das centrais sindicais para protestarem contra as reformas económicas propostas pelo presidente Javier Milei, que tomou posse há pouco mais de um ano. mês.

Um dos representantes do sindicato dos camionistas, disse à Voz da América que como organização aderiram à greve para “defender os direitos porque estão em jogo os direitos dos trabalhadores” – assim como do próprio “país” – devido para a reforma trabalhista. “Há muitas entidades que estão envolvidas na privatização”, disse, antes de concluir que o sistema beneficia as grandes empresas.

Por sua vez, Nayla García, manifestante argentina, afirmou que participam porque são “totalmente contra as medidas” do presidente Milei e disse que, na realidade, a sua reforma do Estado é uma “forma de vender a nossa pátria, a nossa riqueza e nosso povo.”

Até as primeiras horas da tarde, a greve não foi sentida com muita força nas ruas da capital, onde em vários bairros o comércio funcionava normalmente. Após as palavras dos dirigentes sindicais, os manifestantes começaram a perder a concentração. Segundo o Ministério da Segurança, cerca de 40 mil pessoas participaram do protesto.

Durante o dia de protesto, os aeroportos de Buenos Aires permaneceram abertos. Aerolíneas Argentinas informou o cancelamento de 267 voos e o reagendamento de outros 26 devido à adesão de diferentes sindicatos aeronáuticos à greve, que afeta mais de 17.000 passageiros.

A greve de 12 horas, que já afectava alguns dos principais serviços do país, como transportes, bancos, hospitais e repartições públicas, deveria ter o seu maior comparecimento no período da tarde, segundo o seu principal organizador, a Confederação Geral do Trabalhista (CGT).

Milei, economista de perfil ultraliberal, conquistou a presidência da Argentina ao prometer mudanças ousadas na gestão económica do país, sobrecarregado por uma crise económica constante que mergulhou quase metade da sua população na pobreza.

Em entrevista a uma mídia local esta semana, Milei atacou os organizadores da greve e disse que eles faziam parte de um setor que “quer permanecer no atraso, no passado e na decadência” e se opõe a um modelo que “nos coloca no caminho para ser desenvolvido.”

Os protestos têm como alvo um decreto presidencial, conhecido como “Lei Omnibus”, que contempla a revogação ou modificação de mais de 300 regulamentos para desregulamentar a economia argentina, fortemente intervencionados pelo Estado, e que permite mudanças profundas em matéria laboral. Com este plano, o governo de Milei procura reduzir a despesa pública e reduzir o défice fiscal, que atribui em grande parte à inflação de 211% anualmente.

 

Tiro de arma de filho de fazendeiro matou indígena, conclui perícia

Peritos baianos atestaram que o projétil que atingiu e matou uma indígena pataxó hã-hã-hãe no sul da Bahia, no domingo (21), partiu da arma apreendida com um dos dois homens presos em flagrante depois que moradores da região atacaram os indígenas que, desde sábado (20), ocupam uma fazenda em Potiraguá, a cerca de 200 quilômetros de Porto Seguro.

Segundo o diretor regional da Polícia Civil, delegado Roberto Júnior, o laudo de microcomparação balística foi entregue à Polícia Civil nesta terça-feira (23) e anexado ao inquérito que a corporação instaurou para apurar o caso, mas que, por uma questão de competência de atribuições, será encaminhado à Polícia Federal (PF), órgão federal ao qual cabe reprimir e prevenir os crimes cometidos contra comunidades indígenas.

“Ao realizarmos a vistoria nas armas de fogo apreendidas, ficou evidente que as armas tinham sido disparadas. Imediatamente, requisitamos perícias de local de crime, bem como a microcomparação balística do projétil extraído do corpo da vítima, para que fosse confrontada com as duas armas apreendidas”, explicou o delegado, em uma mensagem de áudio.

“Esse exame pericial deu positivo, como imaginávamos. Já tínhamos indícios suficientes de autoria, tanto que os dois conduzidos foram autuados em flagrante. Esse laudo pericial foi recebido ontem [terça-feira] e acostado ao inquérito policial, comprovando que o projétil extraído do corpo da vítima foi disparado da arma do jovem apresentado pela Polícia Militar e autuado em flagrante pela Polícia Civil”, acrescentou o delegado, destacando que a Polícia Civil acredita ter esclarecido o homicídio de Maria de Fátima Muniz, conhecida como Nega Pataxó.

Conforme inicialmente apurado, cerca de 200 pessoas, a maioria fazendeiros da região, se mobilizaram após uma convocação para que ruralistas e comerciantes retomassem, por meio da força, e sem decisão judicial, a posse da Fazenda Inhuma, ocupada por indígenas no sábado. De acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), ainda era madrugada quando os agressores – membros de um grupo autointitulado Invasão Zero – cercaram a área ocupada, surpreendendo suas vítimas.

No confronto resultante do ataque, o irmão de Maria de Fátima, o cacique Nailton Muniz Pataxó também foi atingido por um disparo de arma de fogo e teve que ser submetido a uma cirurgia no Hospital Cristo Redentor, em Itapetinga (BA), a cerca de 80 quilômetros da área onde o ataque ocorreu. 

Outros indígenas foram feridos, incluindo uma mulher, espancada, que teve um dos braços quebrados. Um não indígena foi flechado em um dos braços.

A Polícia Militar deteve dois homens que participavam do ataque contra os indígenas. Segundo a Secretaria estadual da Segurança Pública, os dois suspeitos faziam parte do grupo Invasão Zero e portavam dois revólveres, carregadores e munições. Os nomes não foram divulgados, mas de acordo com notícias publicadas por vários órgãos de imprensa da Bahia, um deles é um policial militar reformado, que está detido no Batalhão da Polícia Militar de Itabuna. O outro é filho de um fazendeiro da região e, segundo o delegado Roberto Júnior, era ele quem portava a arma de onde saiu o projétil que matou Maria de Fátima.

“Com isso, podemos afirmar, seguramente, que a Polícia Civil elucidou o homicídio da indígena Maria, conhecida como Nega Pataxó”, disse o delegado.

Brumadinho tem mais de 23 mil acordos de indenização fechados

Mais de 23 mil atingidos pelo rompimento da barragem da Vale na Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, em Minas Gerais, fecharam acordos de indenização com a mineradora. Os dados são das instituições de Justiça e foram apresentados na última sexta-feira (19), quando o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) organizou uma prestação pública de contas. No evento, foi feito um balanço dos três anos de implementação do acordo de reparação.

Nesta quinta-feira (25), a tragédia completará cinco anos. O rompimento da barragem causou 270 mortes e gerou grande devastação ambiental, além de destruir comunidades. Familiares dos mortos contabilizam 272 vítimas, levando em conta que duas mulheres estavam grávidas. Um acordo para a reparação foi firmado dois anos depois, em 4 de fevereiro de 2021. Ele trata dos danos coletivos. Foram previstos investimentos socioeconômicos, ações de recuperação socioambiental, ações voltadas para garantir a segurança hídrica, melhorias dos serviços públicos e obras de mobilidade urbana, entre outras.

As partes optaram por manter as discussões das indenizações individuais em paralelo nas negociações judiciais e extrajudiciais que estavam em curso. Em parte dessas tratativas, os atingidos foram acompanhados pela Defensoria Pública de Minas Gerais. Em abril de 2019, a instituição assinou com a Vale um termo de compromisso definindo os procedimentos que viabilizaram as negociações individuais.

De acordo com a Defensoria Pública, por meio do termo de compromisso, foram gerados até dezembro 20.806 acordos que movimentaram R$ 1,3 bilhão. A esses números, se somam as indenizações trabalhistas. Isso porque mais de 90% dos funcionários que morreram estavam trabalhando no complexo minerário e eram empregados da Vale ou das empresas terceirizadas que prestavam serviço na Mina Córrego do Feijão.

Em julho de 2019, a mineradora e o Ministério Público do Trabalho (MPT) assinaram um acordo para o pagamento das indenizações aos familiares dos trabalhadores que morreram e aos empregados sobreviventes. Desde então, foram selados 2.509 acordos que movimentaram R$ 1,2 bilhão.

Em nota, a mineradora afirma que, desde 2019, mais de 15,4 mil pessoas fecharam acordos de indenização. “A Vale reafirma seu profundo respeito às famílias impactadas pelo rompimento da barragem e segue comprometida com a reparação de Brumadinho, priorizando as pessoas, as comunidades impactadas e o meio ambiente”, acrescenta o texto.

A divergência entre os números apresentados pela Vale e os divulgados pela Defensoria Pública e pelo MPT pode se dar porque alguns atingidos têm direito a mais de um acordo, como, por exemplo, no caso daqueles que perderam parentes e sofreram outros impactos. Mas também há divergência nas cifras envolvidas. A Vale alega ter destinado ao todo R$ 3,5 bilhões em indenizações.

Sem negociação

Para a Associação dos Familiares das Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem em Brumadinho (Avabrum), esse processo indenizatório foi atropelado. A entidade considera que não houve negociação. Era aceitar a oferta ou recusar.

“Até teve uma escuta, mas não havia espaço para argumentos. E foi tudo muito em cima do acontecido. A gente ainda estava com 197 pessoas não encontradas, em meio ao caos, e as reuniões sobre as indenizações já tinham começado”, diz a engenheira civil Josiane Melo, que integra a diretoria da Avabrum, e faz duras críticas ao acordo. Ela perdeu sua irmã Eliane Melo, que estava grávida de cinco meses.

Rompimento da barragem da Vale na Mina Córrego do Feijão matou 272 pessoas – Arquivo/REUTERS/Washington Alves/Direitos Reservados

Josiane se recorda que havia um temor relacionado com um artigo da reforma trabalhista. Aprovada em 2017 por meio da Lei Federal 13.467 e sancionada pelo então presidente Michel Temer, ela definia que o pagamento máximo para indenização por danos morais em caso de acidente de trabalho deveria ser de 50 vezes o valor do salário do empregado.

Dessa forma, os parentes de uma vítima que tivesse um salário de R$ 3 mil, por exemplo, não poderiam receber juntos mais do que R$ 150 mil. Apenas no ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou ilegal essa limitação. Assim, na época, como os valores definidos entre Vale e MPT era superiores aos previstos na lei, havia pouca esperança em conseguir melhores condições.

“Falavam muito dessa questão do limite. Usou-se dessa possibilidade”, diz Josiane. A engenheira civil avalia que as famílias ficaram acuadas. Ela, no entanto, não gosta de falar do tema. “A vida não tem reparação. Não há valor que compre uma vida. A vida não volta atrás, então pra gente nós somos os mais miseráveis. Nós perdemos aquilo que a gente tinha de mais especial que é o convívio com os nossos entes familiares, a construção dos nossos sonhos e da nossa família”, acrescenta.

Houve, porém, atingidos que preferiram buscar a indenização de forma individual, recorrendo a advogados particulares. Isso ocorreu tanto na Justiça do Trabalho como na Justiça comum. Em alguns casos, porém, a expectativa de obter cifras mais elevadas acabou sendo frustrada já que os juízes utilizaram como referência os termos firmados pela Vale com o MPT e com a Defensoria Pública. Ou seja, percorreram um outro caminho, mais demorado, para obter resultados semelhantes.

Mas houve exceções. Em setembro de 2019, por exemplo, a mineradora foi condenada pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) a pagar R$ 11,8 milhões de indenização por danos morais a quatro familiares que perderam entes queridos na tragédia. As vítimas estavam hospedadas na Pousada Nova Estância, que foi soterrada pela lama de rejeitos.

Uma das críticas da Avabrum envolve a discrepância entre os recursos destinados às indenizações e aqueles anualmente aprovados para distribuição de lucros e dividendos. Somente no último ano, a Vale pagou cerca de R$ 28,9 bilhões em proventos aos seus acionistas.

Liquidação coletiva

Em março do ano passado, uma decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) chegou a estabelecer um novo ingrediente para o processo indenizatório. O juiz Murilo Silvio de Abreu acolheu pedido do MPMG e concordou com a possibilidade de liquidação coletiva. Dessa forma, os atingidos, caso quisessem, poderiam pleitear suas indenizações de forma conjunta. No momento, porém, a decisão está revogada.

Essa era uma demanda antiga de algumas entidades que representam as vítimas. Elas avaliam que, na negociação individual, o atingido se encontra numa posição mais vulnerável diante da mineradora.

A decisão foi tomada pelo juiz Murilo Silvio na mesma ação em que a Vale foi condenada em 2019, de forma genérica, a reparar todos os danos da tragédia, incluindo aí os individuais, sejam eles patrimoniais (como danos materiais e lucros cessantes) e extrapatrimoniais (como danos morais e estéticos).

Com a etapa de liquidação coletiva instaurada, se iniciaria a fase de definição de parâmetros para identificar as pessoas que têm direito à indenização, bem como os valores dessas indenizações. Para tanto, os atingidos poderiam contar com os levantamentos das assessorias técnicas que eles escolheram para auxiliá-los. Algumas delas já possuem uma matriz de danos, por meio do qual podem calcular em um processo coletivo as indenizações de cada um.

Também havia sido fixado pelo juiz a inversão do ônus da prova. Ou seja, se o atingido alegar que sofreu um dano não reconhecido pela Vale, caberá à mineradora provar que o dano não ocorreu. A decisão nomeava ainda como perita a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Caberia a ela prestar auxílio ao juízo na hora de arbitrar os valores indenizatórios.

Em setembro, porém, Murilo reconheceu que tomou a decisão sem intimar a Vale para se manifestar e se retratou. Ele abriu prazo de 10 dias para que a mineradora apresentasse seu posicionamento. A decisão anterior foi revogada. A Vale argumentou que a fase de liquidação não pode ser iniciada porque há estudos periciais ainda em curso, os quais serão suficientes para identificar todos os danos individuais e valorá-los. Também defendeu a liquidação de forma individual como meio mais adequado.

Transferência de renda

No mês seguinte ao rompimento da barragem, a Justiça mineira determinou que a Vale iniciasse o pagamento de um auxílio emergencial mensal aos atingidos. O valor fixado era de um salário mínimo por adulto, a metade dessa quantia por adolescente e um quarto para cada criança. Inicialmente, faziam jus ao benefício todos os moradores de Brumadinho, sem distinção. Nos demais municípios atingidos, o auxílio foi concedido a pessoas que residem até um quilômetro de distância da calha do Rio Paraopeba.

Ainda no fim de 2019, ocorreu uma alteração. O critério para acesso ao benefício foi mantido, mas o valor foi reduzido pela metade para quem não residisse em comunidades diretamente afetadas pelo rejeito.

A redução dos valores aumentou a insatisfação das comunidades atingidas que já faziam outras críticas relacionadas com a implementação do auxílio: se queixavam do critério geográfico e também do poder de decisão que se encontrava nas mãos da Vale. Era a mineradora que avaliava se cada atingido tinha ou não direito ao repasse.

O acordo firmado em 2021 buscou atender algumas reivindicações. Foi criado um programa de transferência de renda sob gestão da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em substituição ao auxílio emergencial mensal. Além disso, foram reservados R$ 4,4 bilhões dos R$ 37,68 bilhões a serem aportados pela Vale conforme firmado no acordo.

Pedidos negados

A FGV teria autonomia inclusive para reavaliar todos os pedidos anteriormente negados pela mineradora. Tantos os auxílios mensais que haviam sido pagos pela Vale, como os repasses feitos através do programa instituído pelo acordo não se confundem com as indenizações individuais. O primeiro busca assegurar as condições de vida e o segundo é uma reparação pelos danos causados.

O programa teve início em novembro de 2021. Embora tenha sido estruturado para durar quatro anos se encerrando em outubro de 2025, ele deverá ser implementado por mais tempo. De acordo com a FGV, os R$ 4,4 bilhões destinados ao programa foram empregados em um fundo e os rendimentos já proporcionaram um acréscimo patrimonial significativo. Dessa forma, ele poderá prosseguir pelo menos até abril de 2026.

Atualmente, o repasse médio é de R$ 648 por pessoa. Alguns atingidos recebem valores diferenciados, como aqueles que são familiares dos mortos e os que viviam ou ainda vivem na chamada zona quente, onde estão os bairros mais impactados. Segundo dados da FGV, há 132.094 beneficiados, cerca de 17 mil a mais na comparação com os dados de seis meses atrás.

Tribunal Superior da Espanha decide que deportação em massa de menores para Marrocos em 2021 era ilegal

23 de janeiro de 2024

 

O Supremo Tribunal espanhol decidiu na segunda-feira que a deportação em massa de menores em 2021 do enclave espanhol de Ceuta para Marrocos era ilegal.

Centenas de menores não acompanhados faziam parte de um grupo de cerca de 12 mil pessoas que tentou entrar em Ceuta vindo de Marrocos em maio de 2021, escalando uma cerca fronteiriça ou nadando ao seu redor.

A passagem em massa da fronteira ocorreu no meio de uma disputa diplomática entre Madrid e Rabat em relação ao Sahara Ocidental.

Após a passagem da fronteira, cerca de 700 menores foram deportados para Marrocos, apesar da lei espanhola que exige que o governo tome medidas administrativas para cada menor que deporta, incluindo a recolha de informações sobre as suas circunstâncias e a realização de uma audiência, se considerado necessário.

Os advogados do governo citaram um acordo de 2007 entre Espanha e Marrocos que delineia o processo de regresso assistido ao Marrocos no caso de “circunstâncias excepcionais”, mas o Supremo Tribunal rejeitou esta defesa, decidindo que não substitui a lei espanhola.

O tribunal decidiu que a deportação violou a “integridade física e moral” dos migrantes e violou a Convenção Europeia dos Direitos Humanos. Citou o Artigo 4 do Protocolo Nº 4 da Convenção Europeia dos Direitos Humanos, que diz que “é proibida a expulsão coletiva de estrangeiros”.

O Ministério do Interior espanhol defendeu a deportação de jovens em 2021 e negou que isso violasse o direito internacional.

Acredita-se que muitos dos que cruzaram a fronteira em 2021 eram migrantes subsaarianos que procuravam uma vida melhor na Europa.

Mais de 6.600 migrantes morreram enquanto tentavam chegar a Espanha de barco no ano passado vindos da África Ocidental, segundo o grupo espanhol Caminando Fronteras, que trabalha para defender os direitos dos migrantes.

 

Ministro das Relações Exteriores da Rússia diz que apoio do Ocidente prolonga conflito na Ucrânia

Sergey Lavrov

23 de janeiro de 2024

 

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, participou na segunda-feira de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a Ucrânia, em Nova York.

Na reunião, solicitada pela Rússia, Lavrov centrou-se no apoio armamentista dos EUA e da Europa à Ucrânia, dizendo que a ajuda estava a prolongar o conflito.

Mais de 40 embaixadores juntaram-se ao enviado da Ucrânia na leitura de uma declaração pública antes da reunião. A declaração condenava as ações da Rússia e faziam acusações contra o Irã e Coreia do Norte.

“As ações da Federação Russa minam a credibilidade das resoluções do Conselho de Segurança, minam o regime global de não proliferação, exacerbam as tensões regionais e colocam-nos a todos em perigo”, leu o embaixador ucraniano na ONU, Sergiy Kyslytsya, em nome do grupo.

Questionado por um repórter se a Ucrânia pode vencer o conflito, Kyslytsya disse: “A Ucrânia vencerá esta guerra. Mas não só a Ucrânia, mas todo o mundo democrático.”

O próximo mês marca dois anos desde a invasão de regiões da Ucrânia pela Rússia.