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Uruguai celebra carnaval em fevereiro com as murgas; saiba o que são

O mês de fevereiro é também tempo de carnaval no Uruguai. Uma das manifestações artísticas com maior destaque é a murga, que se diferencia pela crítica social afiada por meio de fantasias e maquiagens surpreendentes. 

As murgas são consideradas a personificação da essência artística dos uruguaios. A cada ano, desfilam com temáticas irreverentes que abraçam foliões vestidos com roupas e maquiagens vibrantes, sem as quais é impossível sentir plenamente a sua expressão. 

“O show da murga, claro, como qualquer show cênico, tem muitas camadas e muitos níveis de símbolos, de códigos. O traje, neste caso, tem um peso importante, porque praticamente é mais que a cenografia. Acho que os trajes funcionam como uma espécie de cenário no espetáculo murga. Então, dá um quadro estético para esse texto, que é a parte da comunicação, é fundamental”, explica a costureira Lúcia Silva, que há mais de uma década faz trajes para a fantasia.

A construção de um show murguero leva muito meses. Durante esse tempo, são discutidos os conceitos artísticos em todas as suas dimensões, as letras, as fantasias e a maquiagem. 

“Começa sempre pela ideia do que queremos dizer ou do significado. Então a forma e o meio seguem de maneiras muito diferentes. Ás vezes, é feito de uma forma mais luminosa, de outro forma, unificando os códigos estéticos. A partir daí, é construído em equipe, porque é muito coletivo, a fantasia, o cenário”, diz a maquiadora Paloma González.

Tudo deve atuar de forma coordenada para que a linha do espetáculo seja coerente e poderosa. 

“Ao trabalhar com o cliente que desenha, estamos desenvolvendo as linhas do show, para onde vai a narrativa desse show e que tipo de caminho serão construídas as fantasias e de como essas roupas mostrarão ao longo de 45 minutos, que é quanto tempo dura a canção da murga”, explica o diretor da murga Doña Bastarda, Pablo “Pinocho” Routin.

O espetáculo é apresentado todo mês de fevereiro. 

Derramamento de óleo atinge ilha caribenha de Tobago

11 de fevereiro de 2024

 

Equipes de emergência na ilha caribenha de Tobago estão lutando para limpar o derramamento de óleo de um navio abandonado.

Foi lançado um enorme esforço de limpeza, mas as autoridades dizem que poderão ser forçadas a declarar uma emergência nacional, uma vez que 15 quilômetros da costa de Tobago foram afetados. Um recife foi danificado pelo derramamento contínuo.

As autoridades estão preocupadas que o óleo possa contaminar os peixes e o abastecimento de alimentos da ilha.

As autoridades receberam relatórios sobre o navio naufragado na quarta-feira, mas não receberam nenhum pedido de socorro da tripulação.

Os mergulhadores foram até o barco e não avistaram nenhum sinal de vida. O barco foi aparentemente abandonado e afundado, disseram as autoridades.

As autoridades dizem acreditar que o navio transportava madeira e areia. Eles também não conseguiram localizar informações de registro da embarcação, identificada como Gulfstream.

 

ONU nega conhecimento de túnel em sede na Faixa de Gaza

11 de fevereiro de 2024

 

Após Israel afirmar que descobriu um túnel no prédio da ONU na Faixa de Gaza, o Ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, pediu a renúncia do Comissário Geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, em uma postagem na plataforma de mídia social X.

Num comunicado, a UNRWA disse que deixou a sede em 12 de outubro, cinco dias após o ataque do Hamas a Israel, e que, portanto, “não foi capaz de confirmar ou comentar” a descoberta.

“A UNRWA não tem experiência militar e de segurança ou capacidade para realizar inspeções militares do que está ou poderia estar sob suas instalações”, afirmou o comunicado.

A agência de ajuda da ONU enfrenta acusações israelenses de que alguns dos seus funcionários trabalhavam para o grupo armado Hamas. A agência lançou a sua própria investigação interna sobre as alegações.

Os palestinos acusaram Israel de falsificar informações para difamar a UNRWA, que emprega 13 mil pessoas na Faixa de Gaza e tem sido uma tábua de salvação para pessoas dependentes de ajuda durante anos. A agência humanitária gere escolas, clínicas de cuidados de saúde primários e outros serviços sociais, e distribui ajuda.

O Hamas também negou inúmeras alegações de longa data de que opera dentro e abaixo de instalações civis, como escolas e hospitais.

Os militares israelitas não permitiram que os jornalistas tirassem fotografias da inteligência militar, tais como mapas ou determinados equipamentos no comboio de veículos blindados em que viajavam. Também solicitou aprovação antes de transmitir fotografias e vídeos realizados durante a viagem.

 

Polícia prende homem com 452 cartões no Sambódromo em SP

A polícia de São Paulo prendeu um homem de 38 anos de idade que aplicava o golpe da maquininha e estava em posse de 452 cartões bancários no Sambódromo do Anhembi, na capital paulista. O homem tentou fugir no momento em que foi abordado pelos policiais, na noite deste sábado (10).

Por volta das 23h, os policiais avistaram dois homens em atitude suspeita em meio aos populares no Sambódromo. De acordo com a SSP, assim que os suspeitos perceberam a aproximação dos agentes, correram em direção à multidão, mas os investigadores conseguiram abordar um deles, que tentou se desfazer de uma bolsa que carregava. No interior havia 452 cartões bancários de diferentes instituições, além de uma máquina de cartão. 

“Entre os cartões apreendidos, os policiais localizaram dois que tinham boletim de ocorrência anterior, um por roubo em junho do ano passado, e o outro por furto, em setembro. O restante do material foi apreendido e encaminhado à perícia para dar prosseguimento à pesquisa”, informou a SSP, em nota.

O golpe da maquininha ocorre quando as vítimas dão o cartão bancário ao criminoso para efetuar uma compra, e digitam a senha no equipamento. O aparelho, com um software malicioso, memoriza a senha. O falso comerciante, então, devolve à vítima um cartão trocado e fica com o original. Dessa forma, o criminoso obtém o cartão e a senha.

A polícia prendeu também sete pessoas que estavam praticando crimes nos blocos de rua, na tarde de sábado (10). Em um dos casos, os policiais identificaram uma mulher que estava escondendo celulares furtados em uma bolsa. Foram localizados 22 aparelhos com a suspeita. 

Ao todo, os agentes conseguiram recuperar 55 aparelhos furtados, até o início da noite deste sábado. As ocorrências foram registradas nas delegacias das regiões onde os blocos estavam concentrados. 

Aplicativo

O governo federal, em parceria com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), apresentou em dezembro o aplicativo Celular Seguro para impedir o acesso dos criminosos a aplicativos financeiros e dados pessoais em caso de roubo ou furto de celulares.

O aplicativo e o site Celular Seguro permitem bloquear o aparelho, a linha telefônica e os aplicativos bancários em poucos cliques.

Após baixar o aplicativo ou acessar o site, é preciso fazer o login por meio da conta Gov.br. O usuário deverá cadastrar seu aparelho informando o número, marca e modelo. Pode ser registrado mais de um dispositivo, mas a linha deve estar cadastrada no CPF do usuário.

O sistema permite o cadastro de uma ou mais pessoas de confiança, que poderão auxiliar criando ocorrências em nome do usuário. Em caso de perda ou roubo, o usuário ou a pessoa de confiança poderá registrar uma ocorrência por meio do site ou do aplicativo.

Paris 2024: Brasil se classifica nos revezamentos 4×100 metros livre

As equipes de revezamento 4×100 metros estilo livre do Brasil garantiram a classificação para a próxima edição dos Jogos Olímpicos, que serão disputados em Paris (França) em 2024, na manhã deste domingo (11) no Mundial de Esportes Aquáticos que está sendo disputado em Doha (Catar).

ALERTA DE VAGA OLÍMPICA! 🚨

A natação brasileira garantiu mais duas vagas nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Após o primeiro dia da modalidade no Mundial em Doha, os dois naipes do revezamento 4x100m livre estão confirmados na disputa por medalhas. Parabéns! 🏊‍♀️💚💛 pic.twitter.com/qXtNemF4Jj

— Time Brasil (@timebrasil) February 11, 2024

Segundo o regulamento da World Aquatics (Federação Internacional de Natação), as equipes que conquistarem medalhas no Mundial de Fukuoka (Japão) e as que garantirem um dos 13 melhores tempos nos Mundiais de Fukuoka e de Doha se classificarão para os Jogos de Paris.

Após a realização das finais das provas na manhã deste domingo, os dois times brasileiros garantiram um dos 13 melhores tempos e “carimbaram o passaporte” para Paris 2024. A equipe feminina encerrou a disputa em Doha na 6ª colocação com a marca de 3min40s56. Antes, em Fukuoka, Ana Vieira, Maria Fernanda Costa, Stephanie Balduccini e Aline Rodrigues, haviam alcançado o tempo de 3min38s99, nas eliminatórias, o que foi suficiente para a classificação.

“Tentamos vir melhor. Estamos felizes de chegar à final e conseguimos garantir o Brasil em Paris”, declarou Ana Carolina Vieira.

Já o time masculino não chegou nem a nadar em Doha, mas garantiu a vaga pelo desempenho de Fukuoka, quando Guilherme Caribé, Marcelo Chierighini, Felipe Souza e Victor Alcará fizeram o tempo de 3min13s82.

Bastidores do Carnaval: os trabalhadores que constroem a folia no Rio

 

Quando chega o momento de desfilar na Sapucaí, um item é fundamental para os integrantes de uma escola de samba: os calçados. Ninguém quer chegar ao fim da avenida, depois de mais de uma hora de apresentação, com bolhas e dores nos pés. Além do conforto, é levada em consideração a beleza da peça, principalmente para estrelas que atraem mais olhares, como passistas, musas e destaques.

Pedro Alberto produz sapatos há 60 anos – Reprodução TV Brasil

Nesse ponto é que entra em cena o sapateiro Pedro Alberto, que há 60 anos produz sandálias para diferentes agremiações do carnaval carioca. Salto, palmilha, plataforma. Tudo é feito por ele, que se orgulha de construir um material sólido e seguro, reforçado para evitar qualquer tipo de problema no Sambódromo. Certa ocasião, a sandália de uma rainha de bateria quebrou no meio do desfile e tentaram acusar Pedro. Prontamente, várias pessoas se colocaram em defesa do sapateiro e avisaram que o produto quebrado não tinha sido feito por ele.

Uma reputação construída há décadas, desde que era pequeno e aprendeu o ofício na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais, onde Pedro nasceu e vivia com a família.

“Eu tinha 7 anos. Levava almoço para o meu pai e conheci uma senhora no ponto do ônibus. Aí, ela pediu para eu levar almoço para o marido dela na fábrica de sapatos. Comecei a ganhar meu dinheirinho, fui olhando aquele negócio na fábrica e gostando”, lembra Pedro Alberto. “Quando eu tinha 9 anos e meu irmão, 11, um senhor começou a ensinar para a gente. Mais ou menos com 10 anos, eu já montava uma traseira de sapato, e o meu irmão montava a frente do sapato”.

Quando perdeu o pai, Pedro Alberto decidiu ir para o Rio de Janeiro em busca de mais oportunidades de trabalho, para ajudar a família. Tinha 15 anos na época. Com a ajuda de amigos, produziu calçados para integrantes do bloco Cacique de Ramos e depois passou a Portela. Foi na escola que se tornou mais conhecido e virou um dos principais sapateiros. Apesar do sufoco, acumulou experiência, clientes e um nome de prestígio. Gosta de reforçar que produziu as sandálias das três últimas rainhas do carnaval que foram campeãs.

Chegou a montar uma fábrica, que fazia entre 2 e 3 mil pares em um mês. Hoje, o trabalho é diferente. Um negócio menor, com seis pessoas na equipe, mas com clientela especial e produção personalizada.

“Na Beija-Flor, por exemplo, eu tenho 20 e poucos anos de trabalho. Faço até hoje os sapatos e botas dos mestres-sala e porta-bandeiras. Dificilmente, vou sair das escolas de samba. A Imperatriz foi a última campeã. A sandália da rainha de bateria foi feita aqui, também dos mestres-sala e porta-bandeiras. A presidente mandou fazer muito sapato aqui. Foi muito bacana, fomos campeões junto com eles. É muito bom isso, porque nosso amor vai crescendo cada vez mais.”

Entre cortes e costuras

Edmilson Lima finaliza uma de suas criaçõe – Reprodução TV Brasil

Para que tudo aconteça com sucesso na Sapucaí, milhares de trabalhadores ficam nos bastidores preparando a festa. Algumas dessas histórias são contadas na série Trabalhadores do Carnaval, produzida pela TV Brasil.

Além do sapateiro Pedro Alberto, existem outros profissionais que garantem a confecção das fantasias. É o caso de figurinistas como Edmilson Lima, que há 43 anos cria trajes e acessórios que se destacam na avenida. Para que isso acontecesse, ele precisou de coragem para abandonar o antigo emprego e se dedicar ao que sempre gostou de fazer.

“Com 18 ou 19 anos, eu trabalhava em uma empresa de aço. Não tinha nada a ver comigo, me sentia prisioneiro, sufocado ali. Venho de uma família de costureiros e já tinha o dom para isso. Um dia, recebi convite para um trabalho com figurino de carnaval. Lá, vi uma cabeça de fantasia que poderia ser mudada e transformada. No outro dia, uma pessoa responsável viu o que fiz e ficou encantada”, conta Edmilson.

O figurinista ressalta que o trabalho exige estudos constantes, principalmente com ampliação dos conhecimentos em história. Edmilson cita como exemplo o processo de construção de trajes indígenas e egípcios, em que precisou pesquisar detalhes culturais, estéticos e sociais do passado. E também há a preocupação de atualizar os saberes a cada ano, uma vez que carnavalescos e artistas precisam estar sempre inovando para sua escola se destacar na Sapucaí.

“Os carnavalescos expressam uma vontade. Aí, você sugere a escolha de materiais diferentes. Se a roupa é futurista, tem que procurar algo que que dê um brilho mais high-tech [alta tecnologia]. Se está muito complexo para fazer, procuramos um material mais lúdico, uma coisa mais maluca que ninguém nunca usou. Tipo vamos jogar em cima uma luz escondida para dar um efeito diferente”, explica Edmilson. “É uma profissão que eu consegui abraçar de um jeito que me preenchesse e me desse muita satisfação.”

Estruturas

Nildo constrói estruturas que sustentam sambistas – Reprodução TV Brasil

A criatividade e o trabalho pesado estão presentes nos calçados, nas fantasias, mas também nos carros alegóricos que cruzam a Sapucaí. Nildo Paris é ferreiro e participa do processo de construção das estruturas e engenharias que sustentam os sambistas e a decoração nos veículos. O processo todo leva em média sete meses e envolve profissionais de diferentes áreas na linha de montagem.

A partir de um chassi de caminhão ou de ônibus, surgem os carros alegóricos. Trabalhada a estrutura mecânica, é feita a adaptação do chassi, para que consiga aguentar o peso das alegorias. E são os ferreiros que vão fazer o alongamento do chassi.

“Todo ano tem novidade. Não é só com a engenharia manual, mas fazendo a junção da engenharia manual com o motor e a parte robótica. É uma junção de ideias. O carnavalesco passa o projeto, a gente troca uma ideia, vê o que é melhor para a escola, o resultado do trabalho, da peça que ele quer. Até chegar no resultado positivo.”

Ao lado de Nildo, em média, 60 ferreiros que trabalham na produção das estruturas. É um grupo que acumula a experiência de participar de duas grandes festas do país: o carnaval carioca e o Festival de Parintins, município no interior do Amazonas. Enquanto, no Norte do país, são dois concorrentes, o Boi Garantido e o Boi Caprichoso, no Rio de Janeiro, 12 escolas entram na disputa. Destas, quatro vão desfilar neste ano com peças e material construídos pelo grupo de ferreiros.

Dessa forma, os ferreiros podem se sentir parte importante do intercâmbio tecnológico e cultural entre o Norte e o Sul do país. O trabalho deles se conecta com toda uma engrenagem coletiva que dá vida a duas das principais festas do país.

 “A mesma técnica afinada que usamos em Parintins, aplicamos aqui no Rio também. O acabamento, a parte de estrutura, a engenharia. Há um intercâmbio cultural e de engenharia entre as cidades de Parintins e do Rio de Janeiro”, diz Nildo. “O conhecimento vem dos dois lados. A gente traz do Amazonas e depois leva do Rio. É uma troca de artes, que dá um resultado maravilhoso na Avenida”, enfatiza.

Carnaval de Brasília tem tradição de irreverência e saudade

Nem aniversário. Nem Natal. Nem qualquer outra festa. Cada carnaval é o momento mais esperado, o verdadeiro ano-novo para o aposentado Cícero Ferreira Lopes, o Seu Cicinho, hoje aos 83 anos. É em fevereiro que ele tem encontro marcado com a própria felicidade. Particularmente para sair pelas ruas de Brasília e cantar marchinhas no Bloco Pacotão, agremiação criada em 1978, uma das mais antigas da capital do País.

Foi-se o tempo em que eram raros os cordões de folia. Em 2024, a estimativa é que mais de 1,7 milhão de pessoas se juntem aos 56 blocos nas ruas brasilienses na sexta maior folia do Brasil. Para Seu Cicinho, cearense de Juazeiro do Norte, é o melhor lugar do mundo. 

Fevereiro é o verdadeiro ano novo para Seu Cicinho, hoje aos 83 anos. Foto:-Cicinho/Arquivo Pessoal

Quando participou do primeiro desfile do Pacotão, o então jornalista vibrava com a irreverência do nome do bloco, que era um protesto contra o “Pacote” de decisões de abril de 1977, do presidente Ernesto Geisel, que incluía fechar o Congresso Nacional em ato arbitrário do período ditatorial. “Eu não perco nenhum carnaval. Não tenho mais o mesmo  fôlego para aguentar tudo. Mas estarei lá na terça (13), às 11h”, afirma Cicinho, considerado presidente de honra do bloco. 

O Pacotão que juntou, em 1978, um grupo de cerca de 100 pessoas, a maior parte de jornalistas e artistas da cidade, se tornou uma multidão de mais de 20 mil pessoas. “O carnaval é chave de vida. Para brincar, dançar, namorar”. O filho de Cicinho, Manuel Lopes, fica orgulhoso desse amor pela folia e faz questão de acompanhar o pai. “O carnaval é o que mantém meu pai vivo.”

Versos

Um amigo de Cicinho está também animado com o carnaval deste ano por outro motivo especial. O jornalista e compositor mineiro José Edmar Gomes foi o vencedor da marchinha deste ano do Pacotão. A música tem o título de ET Ladrão de Joias, que busca criticar os atos antidemocráticos de 8 de janeiro do ano passado e as ameaças de um golpe de Estado. 

“Brasília virou um formigueiro no dia 8 de janeiro/ Ratos, baratas e viúvas saíram dos porões da ditadura”. Esses são os primeiros versos da marchinha vencedora deste ano, marcada pela irreverência de quase cinco décadas. “Vamos fazer uma grande festa. Na letra, a gente coloca alguns temas que estão afetando o nosso dia a dia dentro de uma visão crítica.”

Contra ditadura

O vice-campeão do concurso, Wilson Silva, carioca de 60 anos, dirigente do bloco, também criticou os atos de 8 de janeiro. Ele recorda que a primeira marchinha atacava o governo ditatorial. “Geisel, você nos atolou/ O Figueiredo também vai atolar/ Esse governo já ficou gagá.” 

O presidente da Liga dos Blocos Tradicionais de Brasília, Paulo Henrique Nadiceo, afirma que considera do Bloco da Baratona o mais antigo da capital, criado em 1975. “Ele saía no Eixão Norte e no Eixão Sul. Hoje está concentrado no Parque da Cidade.” Ele afirma que a capital do País já se consolidou em brincar o carnaval na rua, fruto da mistura de influências das folias do Sudeste e Nordeste. 

“Nós temos um legado dessa cultura, dos povos que vêm para cá, dos nossos antecedentes. Brasília está entre os seis maiores carnavais do país e que atraem principalmente turistas de outras cidades do Centro-Oeste.”

Carnaval é o momento mais esperado. Foto: Cicinho/Arquivo Pessoal

Frevo

O pai dessa folia toda é o pernambucano Luiz Lima, de 85 anos de idade, que chegou a capital em 1958, dois anos antes da inauguração para trabalhar como encarregado na construção de estradas. Ele garante que foi a saudade que o pegou pelo braço. Inclusive, antes de 1975. Lima recorda as brincadeiras carnavalescas que os moradores faziam no Eixo Rodoviários, a avenida que liga as Asas Sul e Norte, mesmo em 1960. “Nós fazíamos um passeio no Eixão. Não tinha nem asfalto ainda. Aquilo ali, pra mim, foi o primeiro carnaval de Brasília.”

Ele ficava muito chateado por estar longe do frevo da terra natal. Lima recorda que foi a partir de encontro com amigos que resolveu fazer a folia de bar em bar, numa espécie de maratona. Da ideia, surgiu a brincadeira da Baratona. Como passaram a ser criticados pelo uso de bebidas alcóolicas, o pernambucano criou nos anos seguintes A Baratinha, apenas para o público infantil.

O folião ajudou a criar depois outros blocos como o Pacotão e O Galinho de Brasília. Desde então, ele não para. “De vez em quando, vou ao Recife. Mas descobri que era possível ser feliz no carnaval em Brasília”. Hoje é preocupado com a organização para dar tudo certo. “Eu me sinto como uma pessoa que está cumprindo uma missão de fazer isso. principalmente para as crianças.” 

É assim que o pernambucano-brasiliense se sente feliz e brinca pelos blocos. A saudade ganhou ritmo e brilhos nos olhos toda vez que fevereiro chega ao horizonte.

Intérpretes de Libras tornam desfiles na Sapucaí acessíveis

Há 4 anos o intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) Daniel Thorn trabalha no carnaval carioca nos desfiles das escolas de samba no Sambódromo da Marquês de Sapucaí. O trabalho de tornar os sambas enredos acessíveis a pessoas surdas ou com deficiência auditiva começa muito antes do carnaval e exige muito estudo.

“Eu leio os sambas enredos, estudo o que se passa, quais as informações e quais as metáforas que a escola de samba utiliza”, explica Thorn, acrescentando “a partir disso, eu começo a testar e analisar as formas de fazer essa tradução para que, no dia do desfile, eu possa passar isso para os surdos, para que eles possam consumir e experienciar toda a alegria e a folia que o carnaval tem”.

Nesse processo ele estuda manifestações culturais, consulta bastante dicionários de Libras para saber quais sinais pode ou não utilizar em determinados contextos. Ele conta ainda com uma consultoria de surdos para auxiliar no processo de tradução. A recompensa no dia, segundo ele, é a emoção do público. Ele disse que muitos copiam os gestos, acompanhando os sambas-enredos.

“É uma emoção tremenda ver os surdos, na hora que a gente está interpretando, se olharem, se emocionarem e, às vezes, copiarem a forma como eu estou sinalizando, como se fosse um ritmo da música, como se fosse cantando a música, mas não através da voz, mas do corpo, das mãos”, revela.

Thorn trabalhará este ano no Setor 13 do Sambódromo, reservado a pessoas com deficiência e acompanhantes. Além de oferecer serviço de interpretação de Libras, o setor contará com um espaço para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida, e serviço de audiodescrição para pessoas com deficiência visual. Ao todo, foram distribuídos pela prefeitura 3 mil ingressos para pessoas com deficiência e acompanhantes acompanharem os desfiles das escolas de samba. 

A audiodescritora Adriana Malta também trabalhará nos desfiles. “A gente tem uma equipe que se aprimora durante todo o ano, fazendo com que tudo que é novidade, tudo que é atualidade em relação à acessibilidade seja de ponta na nossa mente e no nosso modo de entregar o nosso serviço. A gente busca entender as necessidades, ter uma escuta ativa e fazer com que as pessoas com deficiência sigam todo um trajeto com mobilidade exclusiva e íntegra para curtir o carnaval como todos devemos curtir”, explica.

Malta descreve o trabalho como uma forma de fazer as pessoas enxergarem pela voz. Para isso, o preparo também é longo. Ela tem acesso, com antecedência, do material dos desfiles para estudá-los, verificar as alegorias, os carros, tudo que vai passar pela avenida. Isso é necessário para que ela possa escolher as palavras exatas para que o público tenha acesso da forma mais precisa possível ao que está ocorrendo no desfile de cada escola de samba.

“Quando a gente fala de carnaval, a gente está falando de algo que é preparado durante um ano inteiro”, diz Malta. “A gente já tem um apresentador. Mas se o meu público for não enxergante ou for cego? Se ele for um surdo ou parcialmente surdo, ou tiver baixa visão? Então, a gente precisa ter equidade na hora de entregar esse material apresentado. Fazer com que a especificidade da necessidade daquele público seja atendida em conformidade com aquilo que se espera”, ressalta.

Esse acesso está garantido em lei, na Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/2015), que garante às pessoas com deficiência o direito de acessar espaços que ofereçam serviços ou eventos culturais e esportivos, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.

*Com informações de Carolina Pessoa, da Radioagência Nacional

Médicos alertam sobre riscos para a saúde ocular durante o carnaval

 

O Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) recomenda aos foliões cuidados e atenção especiais aos olhos durante o carnaval para evitar prejuízos à visão, protegendo os olhos contra queimaduras químicas, por exemplo, além de traumas e infecções.

Segundo a médica Elisabeth Guimarães, que faz parte da Comissão Científica do CBO, durante as festas carnavalescas, muitas pessoas excedem no consumo de drogas e álcool, acabam perdendo um pouco a consciência e se expondo a riscos que vão desde traumas oculares até o envolvimento em brigas que podem resultar em traumas faciais e evoluir para danos oculares. Todo cuidado é pouco, disse a especialista, em entrevista à Agência Brasil.

Nos blocos carnavalescos, as pessoas se expõem muito ao sol forte do verão, destacou a médica, aconselhando o uso de viseiras, bonés e chapéus para proteger os olhos. “Todos são muito bem-vindos. Hoje em dia, a indústria os fabrica com tecidos que já vêm com proteção UV”. Além disso, os óculos escuros são indispensáveis. “Mesmo que não combinem com a fantasia, a pessoa deve usar”, para ter proteção garantida dos olhos.

Outra questão importante são os filtros solares que as pessoas passam no corpo e no rosto. Deve-se dar preferência àqueles produtos que são formulados para quem pratica esportes, porque a pessoa sua, mas o produto não vai escorrer, nem entrar no olho. Pode ser usado também o protetor facial em bastão que não derrete no olho.

Maquiagem

Elisabeth recomendou que os foliões evitem contato principalmente com sprays de espuma, que podem ser extremamente irritantes para os olhos. Se houver contato desse produto com o olho, a orientação dos oftalmologistas é que a pessoa lave abundamente o local com água potável ou água mineral. Se a pessoa tiver condições e houver uma farmácia disponível, compre soro fisiológico novo, porque o soro fisiológico aberto se contamina com muita facilidade devido ao calor ambiente.”

Deve-se lavar o olho até tirar todo o resíduo. Se a dor persistir e o olho continuar vermelho, a pessoa deve procurar imediatamente um pronto-socorro, de preferência oftalmológico, para que haja um exame adequado, disse a especialista.

Quanto à maquiagem, que no carnaval costuma ser mais elaborada, com uso de muita sombra, cílios postiços e glitter, a recomendação é que ter cuidado com a cola que, em quantidade errada, pode escorrer para os olhos e queimar a córnea. Também não se pode esquecer de remover completa e adequadamente a maquiagem.

A atenção deve ser redobrada com os cílios que estão na moda, que são feitos de LED e grudam na pálpebra. “Aquilo tem alguns inconvenientes. Por ser um negócio que fica piscando, as pessoas têm curiosidade de por o dedo e isso pode levar micro-organismos para o olho, principalmente no meio de uma folia. Há risco de disseminação der conjuntivite, porque é muita gente junta, é multidão, é mão suja”, ressaltou a médica. Deve-se evitar levar a mão à face, principalmente nos olhos, para não pegar vírus e bactérias gratuitamente. Elisabeth Guimarães destacou que muitos desses cílios são importados, alguns têm procedência duvidosa e podem trazer problemas.

Como o carnaval é época de brilho, a maioria dos foliões gosta de caprichar no uso do glitter. Quando ele tem partículas grandes, se cai no olho, é de mais fácil identificação. Segundo a médica, o problema é o glitter pequeno, semelhante à areia. “Aquilo se desloca mais facilmente para dentro do olho. Se isso acontecer, a orientação é a mesma da espuma: lavar abundantemente. Se perceber que tem ainda coisa grudada no olho, não tente remover porque, às vezes, a tentativa e a emoção podem causar uma lesão na córnea, e isso é caso de pronto-socorro”.

A pessoa pode usar colírios lubrificantes oculares para tentar que a própria quantidade da lágrima seja capaz de expulsar aquele resíduo. “Mas nem sempre isso é possível”, alertou.

Lentes de contato

Sobre as lentes de contato, se forem gelatinosas, podem grudar no olho e desidratar, se o uso for excessivo, disse a médica. “Não se deve dormir com essas lentes, porque o risco de infecção aumenta. E se juntou lente de contato mais maquiagem, essa é uma combinação explosiva na hora de dormir.” Elisabeth aconselha àqueles que usam lentes de contato gelatinosas, a trocá-las pelas descartáveis, de uso diário, durante o carnaval. Tira-se da embalagem para usar e, do olho, vai para o lixo. “É mais saudável para o olho. Isso evita que se reutilize lentes contaminadas ou sujas de resíduos de maquiagem que não saíram com produtos de limpeza.”

Outra dica é pôr as lentes antes de fazer a maquiagem e tirá-las antes de removê-la. Isso evita a contaminação das lentes. “O problema é que algum tipo de resíduo de maquiagem pode ficar na lente e gerar problemas tanto alérgicos quanto infecciosos e irritativos para o olho.” Elisabeth chamou a atenção para outro cuidado: lentes de contato jamais podem ser compartilhadas.

De acordo com a especialista, a lente de contato está em contato íntimo com a córnea, com a lágrima da pessoa, e se torna um dispositivo médico que se contamina a partir do momento em que entra em contato com a lágrima. Sobre as lentes de contato coloridas, que são compartilhadas entre jovens como acessório de fantasia, ela advertiu: “esse tipo de comportamento pode trazer problemas muito sérios, se as lentes forem usadas indevidamente. O mesmo acontece com a maquiagem. Cada um deve ter a sua”, afirmou a especialista.

Outros cuidados

De acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, é preciso evitam abrir os olhos ao mergulhar no mar, em rios ou em piscinas clorificadas e, de preferência, não usar lentes de contato ao cair na água, porque há risco de contaminação por Acanthamoeba, uma infecção ocular rara, mas que pode ser grave e causar danos permanentes à visão. Elisabeth Guimarães disse que este é um bicho difícil de diagnosticar e de tratar e que, às vezes, o prognóstico nem sempre é feliz. “Se não se puder evitar estar em um ambiente desses, a opção deve ser por lentes de descarte diário. Olhos não foram feitos para ter contato com água.”

Quanto a pomadas modeladoras de cabelo, a orientação é dar preferência às autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pois muitas são mais baratos e fáceis de encontrar, mas podem conter substâncias causadoras de irritação e até de queimadura química nos olhos.

O CBO destaca ainda a importância da hidratação e de uma alimentação saudável para a saúde ocular. Manter-se bem hidratado é essencial para garantir o adequado funcionamento do sistema lacrimal e prevenir sintomas de olho seco.

Segundo a instituição, se o desconforto ocular permanecer mesmo após a adoção de medidas como lavagem dos olhos, três sinais podem alertar para a presença de problemas: vermelhidão, dor intensa ou visão embaçada. Em qualquer desses casos, o melhor é procurar assistência médica para que o problema não se agrave. A vermelhidão persistente pode indicar irritações ou infecções, e a dor intensa ser sintoma de lesões ou condições graves. Alterações repentinas, como visão embaçada ou perda visual, demandam atenção imediata, alertou o CBO.

Que Merda é Essa! vai às ruas neste domingo para pregar a paz

O Grêmio Recreativo Esportivo Cultural Bloco Carnavalesco “Que Merda é Essa?!” teve o nome inspirado em antigo bloco de Olinda (PE), e estreou no carnaval do Rio de Janeiro em 1995, caracterizando-se por uma mordaz crítica política. O tema é sempre vinculado a um fato negativo em evidência no momento no Brasil ou no exterior.

Neste ano, o tema escolhido pela agremiação é Paz no Mundo. A arte é de Alecrim, artista que já acompanha o bloco há anos. “Colocamos um palestino e um israelense tomando cerveja, já fantasiados para o carnaval e desejando paz e amor”, disse à Agência Brasil o presidente do bloco, Floriano Torres. “Nosso foco vai ser em cima disso”.

Os componentes do bloco desfilam neste domingo (11). Pela manhã, sai o bloquinho infantil “Que Caquinha é Essa?!”. A concentração do bloco adulto está prevista para as 13h, no bar Paz e Amor, situado na Rua Garcia D’Ávila com Nascimento Silva, em Ipanema, “para a turma bater papo, tomar cerveja”. Às 14h, o bloco sai em direção à praia, seguindo até o Jardim de Alah, na divisa entre Ipanema e Leblon, na zona sul da cidade.

Irreverência

A cada ano, a tônica do bloco é a irreverência, abordando sempre “a merda do momento”. Floriano revelou que a turma fica aguardando os últimos meses do ano para eleger o tema político que é “merda fresca. E essa está fedorenta”, afirmou Torres. Ele defendeu a necessidade de harmonia no mundo, observando que no planeta não pode haver distinção de povos e raças. “Não existe diferença de ninguém. A coisa está muito feia, mas vamos pra frente, harmonizando a paz”.

Atualmente, existem blocos Que Merda é Essa?! em todo o país, informou Floriano Torres. “Existe até uma sede do bloco de Cabo Frio com o mesmo nome, que eu visitei no ano passado. Mas ainda é um bloco muito pequeno. Eu já encontrei uns cinco presidentes do Que Merca é Essa?!”.

Os responsáveis pelos blocos chegaram, inclusive, a discutir a possibilidade de realização de um congresso da Nação Quemerdense. “Só que os políticos não vão gostar de um congresso desse tipo. Nós já pensamos nisso. Esse é o espírito crítico do bloco”, disse Torres.

Ministros

Um dos integrantes famosos do Que Merda é Essa?! foi o economista e ex-ministro do Planejamento dos governos de Emílio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel, na ditadura militar, João Paulo dos Reis Velloso. Floriano Torres lembrou que Reis Velloso era presença assídua no bloco.

Na última vez que participou da folia, já bem doente, o ex-ministro e primeiro presidente do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) chegou à  concentração com a esposa, uma enfermeira e alguns familiares, e todos quiseram subir no caminhão de som.

“Quando o vi subir com mais dez pessoas no caminhão de som, disse que não dava para ficar todo mundo. Aí falaram que ele era o ministro e podia”. Apesar de gostar de Velloso, porque “ele era quemerdense”, Floriano falou: “Ele é ministro mas, aqui, eu sou presidente”. E deu ordem para só Velloso, a esposa e a enfermeira subirem. “O resto tem que descer porque aqui não é palanque”, disse. O ex-ministro do Planejamento morreu em casa, de causas naturais, em 19 de fevereiro de 2019, aos 87 anos.

Outro que vestiu a camisa do bloco foi Guido Mantega, ministro do Planejamento, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ministro da Fazenda nos dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Mantega usou a camiseta do “Que Merda é Essa?!”. É um bloco de ministros, senadores”, definiu Torres, sorrindo.