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Suspeito de 15 anos de tiroteio na Times Square em Nova York é indiciado

11 de fevereiro de 2024

 

Foi confirmado no dia 10 que um adolescente preso em conexão com um tiroteio que feriu um turista na Times Square, em Manhattan, Nova York, foi indiciado sob a acusação de tentativa de homicídio.

As autoridades policiais dos EUA apresentaram duas acusações contra Jesus Alejandro Rivas-Figueroa, o menino de 15 anos que disparou uma arma na noite do dia 8, incluindo tentativa de homicídio, posse ilegal de arma e agressão.

Rivas-Figueroa foi preso em Junkers, Nova York, no dia 9, menos de 24 horas após o incidente.

A polícia disse que Rivas-Figueroa foi parado por seguranças quando tentou sair de uma loja de artigos esportivos na Times Square após roubar itens. Ele foi capturado em uma câmera de segurança.

Durante o incidente, uma cliente de 38 anos, turista brasileira, foi baleada na perna. Ele então saiu correndo e trocou tiros com os policiais. A polícia explicou que Rivas-Figueroa conseguiu escapar após entrar no metrô.

Segundo documentos apresentados ao tribunal, Rivas-Figueroa voltou para casa na manhã seguinte, dia 9, e tentou sair da região de Nova York com a mãe, mas foi preso em uma casa.

A polícia disse que ele chegou ao país vindo da Venezuela há menos de seis meses e estava morando em um abrigo para migrantes. O pedido de fiança de Rivas-Figueroa foi negado.

 

Primeiro dia dos desfiles da elite do carnaval carioca terá 6 escolas

Os desfiles do Grupo Especial, considerado a elite do carnaval carioca, terão início na noite deste domingo (11). A partir de 22h, fantasias, adereços, carros alegóricos, vão colorir a Marquês de Sapucaí e apresentar o enredo trabalhado por cada uma das escolas.

Neste primeiro dia, seis agremiações irão atravessar a avenida do samba. Nos arredores do sambódromo, na região central do Rio de Janeiro, um esquema especial para o trânsito foi planejado pela prefeitura. A expectativa é de um público de aproximadamente 100 mil pessoas.

Irão desfilar na seguinte ordem: Unidos do Porto da Pedra, Beija-Flor, Salgueiro, Grande Rio, Unidos da Tijuca e a atual campeã, Imperatriz Leopoldinense. Cada agremiação possui entre 1 hora e 1 hora e 10 minutos para atravessar a Sapucaí e há penalização para aquelas que não conseguem concluir sua apresentação no tempo disponível. De acordo com a programação, o último desfile está previsto para se iniciar entre 3h e 3h50.

A escola Unidos do Porto da Pedra, que terá a missão de abrir as apresentações do Grupo Especial, tem como enredo Lunário Perpétuo: a profética do saber popular. A agremiação do município de São Gonçalo (RJ) conta a história de um livro  que reúne orientações sobre astronomia, agricultura, saúde, uso de ervas. Escrito em 1594 pelo espanhol Jerónimo Cortés, o Lunário Perpétuo foi apontado pelo folclorista Câmara Cascudo como a publicação mais lida no Nordeste brasileiro durante 200 anos.

Em seguida, a Beija-Flor seguirá a trilha dos seus desfiles realizados nos últimos anos e voltará a explorar um tema relacionado com a cultura negra. Dessa vez, a escola de Nilópolis (RJ) irá trabalhar com o enredo Um delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila. O público irá conhecer a história de Benedito dos Santos , que ficou conhecido como Rás Gonguila. Nascido na capital alagoana, ele afirmava ser descendente direto do último imperador da Etiópia.

O Salgueiro será responsável pelo terceiro desfile da noite e o enredo Hutukara irá falar sobre o povo Yanomami.. A escola da zona norte da capital carioca deixa claro, porém, que seu foco não será a crise humanitária que ganhou as manchetes de jornais de todo o país no ano passado. Essa situação, envolvendo o garimpo ilegal, será retratada apenas em um momento específico. O objetivo será mostrar ao público a cultura, os costumes e os conhecimentos yanomamis.

A cultura indígena também será trabalhada no desfile da Grande Rio , a quarta a pisar na avenida do samba. O enredo Nosso Destino É Ser Onça vai abordar a mitologia tupinambá. A escola do município de Duque de Caixas (RJ) pretende questionar como o Brasil se identifica com os povos originários de seu território, tendo como base o livro Meu Destino É Ser Onça, do escritor Alberto Mussa.

A quinta apresentação será da Unidos da Tijuca. Suas cores azul e amarelo darão vida ao enredo O Conto de Fados. A agremiação do bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, quer convidar o público para uma viagem a Portugal, onde serão reveladas diversas lendas e histórias relacionadas com o país.

Atual campeã, a Imperatriz Leopoldinense encerrará a programação do primeiro dia. A agremiação do bairro de Ramos, na zona norte do Rio de Janeiro, será mais uma que levará para a Sapucaí um enredo baseado em um livro.

A obra ficcional O testamento da cigana Esmeralda, do poeta pernambucano de cordel Leandro Gomes de Barros, foi a escolhida. Intitulado Com a sorte virada pra lua, segundo o testamento da cigana Esmeralda, a escola pretende explorar o imaginário em torno do universo cigano (link: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-07/escolas-vao-levar-lendas-e-encantarias-ao-sambodromo-em-2024) e discutir a cultura popular.

As luzes cênicas prometem ser uma atração adicional no carnaval 2024. De acordo com a prefeitura do Rio, foi instalado um sistema de iluminação inovador no Brasil e com uma tecnologia utilizada em grandes shows mundiais. A maioria das agremiações vai assumir o controle da iluminação durante seus desfiles, de modo a ressaltar suas alas, carros e fantasias.

Os desfiles do Grupo Especial se encerram na segunda-feira (12), quando outras seis escolas irão atravessar a avenida. As apresentações novamente irão se iniciar às 22h e a ordem também já está definida: Mocidade Independente de Padre Miguel, Portela, Vila Isabel, Mangueira, Paraíso do Tuiuti e Viradouro.

Carnaval de Brasília tem tradição de irreverência e saudade

Nem aniversário. Nem Natal. Nem qualquer outra festa. Cada carnaval é o momento mais esperado, o verdadeiro ano-novo para o aposentado Cícero Ferreira Lopes, o Seu Cicinho, hoje aos 83 anos. É em fevereiro que ele tem encontro marcado com a própria felicidade. Particularmente para sair pelas ruas de Brasília e cantar marchinhas no Bloco Pacotão, agremiação criada em 1978, uma das mais antigas da capital do País.

Foi-se o tempo em que eram raros os cordões de folia. Em 2024, a estimativa é que mais de 1,7 milhão de pessoas se juntem aos 56 blocos nas ruas brasilienses na sexta maior folia do Brasil. Para Seu Cicinho, cearense de Juazeiro do Norte, é o melhor lugar do mundo. 

Fevereiro é o verdadeiro ano novo para Seu Cicinho, hoje aos 83 anos. Foto:-Cicinho/Arquivo Pessoal

Quando participou do primeiro desfile do Pacotão, o então jornalista vibrava com a irreverência do nome do bloco, que era um protesto contra o “Pacote” de decisões de abril de 1977, do presidente Ernesto Geisel, que incluía fechar o Congresso Nacional em ato arbitrário do período ditatorial. “Eu não perco nenhum carnaval. Não tenho mais o mesmo  fôlego para aguentar tudo. Mas estarei lá na terça (13), às 11h”, afirma Cicinho, considerado presidente de honra do bloco. 

O Pacotão que juntou, em 1978, um grupo de cerca de 100 pessoas, a maior parte de jornalistas e artistas da cidade, se tornou uma multidão de mais de 20 mil pessoas. “O carnaval é chave de vida. Para brincar, dançar, namorar”. O filho de Cicinho, Manuel Lopes, fica orgulhoso desse amor pela folia e faz questão de acompanhar o pai. “O carnaval é o que mantém meu pai vivo.”

Versos

Um amigo de Cicinho está também animado com o carnaval deste ano por outro motivo especial. O jornalista e compositor mineiro José Edmar Gomes foi o vencedor da marchinha deste ano do Pacotão. A música tem o título de ET Ladrão de Joias, que busca criticar os atos antidemocráticos de 8 de janeiro do ano passado e as ameaças de um golpe de Estado. 

“Brasília virou um formigueiro no dia 8 de janeiro/ Ratos, baratas e viúvas saíram dos porões da ditadura”. Esses são os primeiros versos da marchinha vencedora deste ano, marcada pela irreverência de quase cinco décadas. “Vamos fazer uma grande festa. Na letra, a gente coloca alguns temas que estão afetando o nosso dia a dia dentro de uma visão crítica.”

Contra ditadura

O vice-campeão do concurso, Wilson Silva, carioca de 60 anos, dirigente do bloco, também criticou os atos de 8 de janeiro. Ele recorda que a primeira marchinha atacava o governo ditatorial. “Geisel, você nos atolou/ O Figueiredo também vai atolar/ Esse governo já ficou gagá.” 

O presidente da Liga dos Blocos Tradicionais de Brasília, Paulo Henrique Nadiceo, afirma que considera do Bloco da Baratona o mais antigo da capital, criado em 1975. “Ele saía no Eixão Norte e no Eixão Sul. Hoje está concentrado no Parque da Cidade.” Ele afirma que a capital do País já se consolidou em brincar o carnaval na rua, fruto da mistura de influências das folias do Sudeste e Nordeste. 

“Nós temos um legado dessa cultura, dos povos que vêm para cá, dos nossos antecedentes. Brasília está entre os seis maiores carnavais do país e que atraem principalmente turistas de outras cidades do Centro-Oeste.”

Carnaval é o momento mais esperado. Foto: Cicinho/Arquivo Pessoal

Frevo

O pai dessa folia toda é o pernambucano Luiz Lima, de 85 anos de idade, que chegou a capital em 1958, dois anos antes da inauguração para trabalhar como encarregado na construção de estradas. Ele garante que foi a saudade que o pegou pelo braço. Inclusive, antes de 1975. Lima recorda as brincadeiras carnavalescas que os moradores faziam no Eixo Rodoviários, a avenida que liga as Asas Sul e Norte, mesmo em 1960. “Nós fazíamos um passeio no Eixão. Não tinha nem asfalto ainda. Aquilo ali, pra mim, foi o primeiro carnaval de Brasília.”

Ele ficava muito chateado por estar longe do frevo da terra natal. Lima recorda que foi a partir de encontro com amigos que resolveu fazer a folia de bar em bar, numa espécie de maratona. Da ideia, surgiu a brincadeira da Baratona. Como passaram a ser criticados pelo uso de bebidas alcóolicas, o pernambucano criou nos anos seguintes A Baratinha, apenas para o público infantil.

O folião ajudou a criar depois outros blocos como o Pacotão e O Galinho de Brasília. Desde então, ele não para. “De vez em quando, vou ao Recife. Mas descobri que era possível ser feliz no carnaval em Brasília”. Hoje é preocupado com a organização para dar tudo certo. “Eu me sinto como uma pessoa que está cumprindo uma missão de fazer isso. principalmente para as crianças.” 

É assim que o pernambucano-brasiliense se sente feliz e brinca pelos blocos. A saudade ganhou ritmo e brilhos nos olhos toda vez que fevereiro chega ao horizonte.

Maracatu continua em destaque no carnaval do Ceará

 

Embora não tenha a mesma fama da Bahia e de Pernambuco, o carnaval do Ceará vem crescendo a cada ano, destacando sobretudo os tradicionais maracatus. Manifestações do folclore brasileiro, esses festejos envolvem dança e música em Fortaleza e em outras regiões do estado, seguidos dos afoxés (blocos também chamados de candomblé de rua).

Um dos grupos mais antigos de maracatu, o Maracatu Rei de Paus, fundado em 1954, localizado na capital, é o homenageado do carnaval deste ano no estado.

Na última década, ganharam força os blocos de rua. Em entrevista à Agência Brasil, a secretária de Estado de Cultura (Secult/CE), Luisa Cela, afirmou que “o maracatu tem uma tradição maior”. Para ela, a força cultural desse ritmo musical, dança e ritual de sincretismo religioso e a relação com a cultura do estado fazem do maracatu uma das mais tradicionais agremiações do estado.

Em todo o Ceará, estão em atividade cerca de 60 grupos de maracatus, sendo que uma parte considerável se encontra na capital.

A secretária descreve que, a cada ano, o fluxo de turistas tem aumentado, associado também à qualidade, à força dos investimentos e das programações de carnaval, tanto em Fortaleza, como nas cidades litorâneas.

Mela-mela

Outras festas que ainda são realizadas, principalmente em cidades do interior do estado, são as tradicionais mela mela, nas quais os foliões sujam uns aos outros com amido de milho e espuma, enquanto dançam ao ritmo de axé, forró, samba e swingueira. Para isso, são usados sprays de espuma, goma, ovo, mel e outros produtos, visando “melar” os demais brincantes.

Luisa afirmou que essa tradição era mais forte antigamente, mas as festas persistem ainda em algumas cidades do interior. “Você tem Camocim, Beberibe. O mela mela nada mais é do que uma brincadeira de goma. As pessoas estão na praça e fazem ali um festejo com a goma, com confete e, obviamente, ficam todas meladas. Por isso esse nome”.

Ela garantiu que não só as crianças se divertem, “mas adultos e todo mundo que está no meio da brincadeira se divertem também. Ainda hoje acontece”.

Polos

No Ciclo Carnavalesco 2024, estão sendo apoiados pelo governo do Ceará mais de 76 projetos em todo o estado, preparando os grupos que fazem carnaval nas cidades. Luisa Cela informou que a secretaria tem uma rede de 27 equipamentos, que promovem programações carnavalescas, antes e durante o carnaval oficial.

“Um exemplo é o Baile à Fantasia do Zé, que é uma programação tradicional do Theatro José de Alencar. E temos relação com os municípios (do interior) que cada vez mais têm fortalecido essa tradição do carnaval de rua.”

Há cidades que mostram muita força no carnaval, como Aracati, que neste ano recebe Ivete Sangalo; Sobral, com Daniela Mercury. A região do Cariri apresenta também uma programação intensa, “sem esquecer o litoral, muito famoso”.

Segundo a secretária, a expectativa é que o estado esteja bem movimentado durante o carnaval, tanto com as ações que o governo realiza, como também pelas prefeituras, que se preocupam em enriquecer, a cada ano, a programação para atrair muitos turistas do próprio Ceará e de outros estados brasileiros.

Em Fortaleza, são oito polos carnavalescos por onde passarão blocos, bandas e artistas dos mais diversos gêneros durante os festejos de Momo. São eles: Passeio Público, com programação infantil; Aterrinho da Praia de Iracema; Domingos Olimpio; Mercado dos Pinhões; Largo da Mocinha, Benfica; Mercado da Aerolândia; e Parque Rachel de Queiroz.

“Esses polos recebem programações já no pré carnaval e também terão programações no carnaval, ao longo do dia, com presença mais dos blocos de rua.”

Os shows maiores serão realizados à noite, no Aterro da Praia de Iracema, incluindo nomes como Diogo Nogueira, Maria Rita. Esse espaço maior comporta mais de 20 mil pessoas.

Hoje é Dia: semana carnavalesca tem ainda rádio e mulheres na ciência

Nesta semana, o Brasil está em clima de folia. As festividades, que começaram no final de semana, vão se estender para os dias 12 e 13 (que são pontos facultativos no Brasil) e termina – pelo menos no calendário – na quarta-feira de cinzas, 14 de fevereiro (ponto facultativo até 14h). É nesse dia que, em 2024, tem início a chamada Quaresma, explicada nesta matéria da Radioagência Nacional. 

Além dos dias da festa popular, a semana também tem duas datas de celebração. Neste domingo (11) é o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, uma data estabelecida pela Assembleia das Nações Unidas em 2015. A efeméride, que tem como objetivo promover o acesso integral e igualitário das mulheres e meninas na área científica, já foi tema de conteúdos de veículos da EBC. No ano passado, o Rádio Sociedade (da Rádio MEC) fez uma edição especial sobre a data:

Também no ano passado, a Radioagência Nacional fez um conteúdo sobre o assunto:

Já 13 de fevereiro é o Dia Mundial do Rádio. A celebração, que existe desde 2011, serve para destacar a importância do veículo, e já foi tema de matérias de veículos da EBC algumas vezes. No ano passado, a Agência Brasil e a Radioagência Nacional fizeram conteúdos sobre a data. 

A história e a contribuição do rádio para a cultura, o jornalismo, a promoção da cidadania, entre outros aspectos, foram amplamente tratadas pela EBC em outra efeméride: em 2022, a primeira transmissão oficial desse meio de comunicação no Brasil fez 100 anos. Todas as reportagens especiais da Agência Brasil estão reunidas em um link

Rádio Escola 3 – Alunos de escola radiofônica. Fonte: Livro de Tombo. Figuras diversas, 1968-1975. Bragança: Tribunal de Contas da Cúria da Diocese de Bragança, s.d. – Acervo EBC

 

Cinco anos sem Boechat e Bibi Ferreira

A semana também tem a triste memória de duas perdas em sequência. Neste domingo, 11 de fevereiro, a morte do jornalista argentino radicado no Brasil Ricardo Boechat completa cinco anos. O legado dele na história (principalmente mais recente) do rádio no Brasil foi mostrado neste conteúdo da Radioagência Nacional. 

Dois dias depois, em 13 de fevereiro, a morte da atriz, diretora da teatro e cantora fluminense Abigail Izquierdo Ferreira, a Bibi Ferreira, também completa cinco anos. Recordada por sua carreira e contribuição para o cenário cultural brasileiro, teve sua trajetória contada na Agência Brasil em 2019. 

Na TV Brasil, apareceu em diversas ocasiões, em entrevistas ou especiais sobre sua obra e vida. Em 2018, o programa Recordar é TV resgatou uma conversa que Bibi teve na década de 1980 com o programa “Eu sou show”, exibido pela TV Educativa do Rio (hoje TV Brasil), época em que ela fazia sucesso no musical “Piaf” interpretando a cantora francesa. No episódio, ainda tem gente como Léa Garcia e Rogéria falando sobre Bibi Ferreira. 

Para fechar a semana, no dia 15, o nascimento do físico, astrônomo e filósofo italiano Galileu Galilei completa 460 anos. Conhecido como o pai da ciência moderna, Galilei já foi tema de matérias do História Hoje, da Radioagência Nacional, e do programa Fique Ligado (da TV Brasil) em 2019. 

Confira a lista semanal do Hoje é Dia com datas, fatos históricos e feriados:

11 a 17 de fevereiro de 2024

11

Morte do jornalista argentino radicado no Brasil Ricardo Boechat (5 anos)

Nascimento do cantor, compositor e letrista fluminense Alfredo Albuquerque (140 anos)

Nascimento do multiinstrumentista paulista José do Patrocínio Oliveira, o Zé Carioca (120 anos)

Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência – data aprovada pela Assembleia das Nações Unidas em 22 de dezembro de 2015, por meio da Resolução A/RES/70/212, para promover o acesso integral e igualitário da participação de mulheres e meninas na ciência

12

Morte do cineasta francês Jean Renoir (45 anos)

Morte do escritor argentino Julio Cortázar (40 anos)

Nascimento do compositor e instrumentista paulista Américo Jacomino, o Canhoto (135 anos) – recebeu o apelido de Canhoto em virtude de executar o dedilhado no instrumento com a mão esquerda, sem inversão do encordoamento. Ele foi um dos responsáveis pelo “enobrecimento” deste instrumento musical no Brasil

Nascimento do maestro, arranjador, compositor e instrumentista paulista Odmar Amaral Gurgel, o Gaó (115 anos) – entre 1932 e 1936, atuou nas Rádios Cruzeiro do Sul e Cosmos, em São Paulo, veio depois para o Rio de Janeiro e atuou nas Rádios Nacional e Ipanema

Morte do compositor alemão Hans von Bülow (130 anos) – virtuoso no piano, foi um dos mais famosos maestros do século XIX

Morte do filósofo prussiano Immanuel Kant (220 anos)

1º Festival Internacional de Cinema do Brasil, ocorrido na cidade de São Paulo (70 anos)

Estreia, na Rádio Nacional da Amazônia, e posteriormente na Rádio Nacional de Brasília o programa infantil Encontro com Tia Heleninha (45 anos) – pioneiro do gênero, foi sucesso de público na região Amazônica

13

Morte da cantora fluminense Abigail Izquierdo Ferreira, a Bibi Ferreira (5 anos)

Morte do magistrado e político baiano João Maurício Wanderley, o Barão de Cotegipe (135 anos) – ocupou diversos cargos públicos e foi único senador do Império a votar contra a promulgação da Lei Áurea

Dia Mundial do Rádio – é uma comemoração internacional, que foi proclamada em 3 de novembro de 2011 na 26ª sessão da UNESCO e que tem o aval da Assembleia Geral da ONU

14

Morte do político maranhense João Inácio da Cunha (190 anos) – foi o primeiro e único Visconde de Alcântara. Formado em Direito em Coimbra, foi também ministro do Supremo Tribunal de Justiça, ministro da Justiça, conselheiro de Estado e senador do Império do Brasil

Nascimento do cineasta inglês Alan Parker (80 anos) – realizou, entre outros filmes, os musicais Pink Floyd – The Wall e Evita

Nascimento do cantor e compositor pernambucano Reginaldo Rossi (80 anos) – conhecido como o “Rei do Brega”

Nascimento da esportista e jogadora de vôlei de praia fluminense Adriana Behar (55 anos) – formou juntamente com Shelda uma das dupla de vôlei de praia femininas mais vitoriosas do Brasil, com mais de mil vitórias e 114 títulos conquistados, inclusive duas medalhas olímpicas de prata

15

Nascimento do físico, astrônomo e filósofo italiano Galileu Galilei (460 anos)

Nascimento do matemático maranhense Joaquim Gomes de Souza (195 anos) – “Souzinha”, como era popularmente conhecido, foi um dos pioneiros no estudo da matemática no Brasil. Nas palavras do Professor J. Leite Lopes, trata-se do “primeiro vulto matemático do Brasil – e talvez o maior até hoje”. Seu primeiro contato com as ciências aconteceu na faculdade de Medicina, onde ingressou aos 15 anos

16

Nascimento do ex-futebolista e político baiano José Roberto Gama de Oliveira, mais conhecido como Bebeto (60 anos) – junto com Romário, foi um dos responsáveis pelo tetracampeonato da Seleção Brasileira em 1994

Nascimento do ator mexicano naturalizado brasileiro Chico Díaz (65 anos)

Nascimento do motociclista italiano Valentino Rossi (45 anos)

Nascimento da atriz maranhense Soraya Alhadef (65 anos) – personagem de grande atuação na história do Laborarte, tendo se dedicado especialmente ao canto. Participa de diversos festivais, shows e espetáculos musicais e grupos de cultura popular

Dia do Repórter

17

Falece em São Luís/MA o coronel português Joaquim Silvério dos Reis (205 anos) – um dos delatores da Inconfidência Mineira

Estreia da Ópera Madame Butterfly, de Puccini, no Teatro Scala de Milão (120 anos)

Bloco da Terreirada reúne no Rio famílias e foliões criativos

O verde da Quinta da Boa Vista ganhou a companhia de novas cores em um carnaval para todas as faixas etárias. Assim como acontece todos os sábados, o parque localizado na zona norte do Rio de Janeiro foi o destino escolhido para o passeio de diversas famílias. Mas não é um fim de semana comum: crianças, pais e avós caíram na folia com o Bloco da Terreirada.

Junto a eles, jovens com fantasias coloridas formavam uma aglomeração para acompanhar o encontro entre ritmos nordestinos e a tradição do carnaval carioca. A apresentação do Bloco da Terreirada é repleta de signos e referências da cultura popular, em especial o Reisado de Congo do Cariri.

O reencontro de Isaque com sua mãe, após um pequeno susto, comprovava a atmosfera acolhedora. Após o sumiço da criança em meio aos presentes, líderes do bloco pediram que todos se assentassem. A mobilização permitiu que ela fosse rapidamente localizada, sob aplausos coletivos.

Fantasia de Vincent Van Gogh fez sucesso na Quinta da Boa Vista. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil 

A criatividade das fantasias facilitava as brincadeiras entre desconhecidos. Um Vincent Van Gogh não cansava de tirar fotos com foliões que o abordavam sucessivamente. Vestindo uma das fantasias mais criativas, a diretora de arte visual Beatriz Moisés destacou que a atmosfera também é influenciada pelo conforto do espaço. Com uma grande nuvem na cabeça, ela teria dificuldades de se locomover em outros blocos que transitam por vias apertadas.

“Fiz bem de última hora. Estava trabalhando na montagem de um cenário e aproveitei materiais que estavam sobrando. Usei uma lanterna japonesa para montar a base de cabeça e acrilon por fora. E fiz essa chuvinha com pedrinhas. Primeiro surgiu a ideia de fazer a fantasia. Depois eu pensei em um bloco que onde eu pudesse ir com ela. Um que coubesse ela. E como eu amo o Terreirada, foi a escolha certa. Não sei dizer o porquê, mas eu amo o Terreirada. Eu venho todo ano sim, acho lindo”, explicou.

Outros dois foliões também viram no Terreirada Cearense o bloco ideal para exibiram suas fantasias originais. “A ideia era fazer algo que ligado às crianças, ligado à paz. Então a gente quis juntar bonecos, fitas, emojis. Uma mistura justamente para colocar a criança para fora nesse carnaval. Quando a gente terminou o figurino, a gente falou: ‘é a cara de uma terreirada’. A gente vai se divertir bastante”, disse o agente de viagem, Leonardo Silva.

O bloco surgiu em 2012 e, desde 2015, tem a configuração de banda, percussão e perna de pau. Anualmente, há duas grandes apresentações: uma celebração de carnaval e um arraial em junho, também na Quinta da Boa Vista. Ensaios e outros eventos menores também são realizados sem data fixa.

 Foliões na apresentação de carnaval do bloco da Terreirada Cearense, na Quinta da Boa Vista. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Segundo explicou à Agência Brasil a produtora-executiva do bloco, Juliana Costa, a banda é composta por Deya Motta, Natascha Falcão, Thalita Duarte, Vitoria Rodrigues, Beto Lemos, Gabe Pontes e Eduardo Karranka. O desfile mobilizou ainda 200 componentes, divididos igualmente entre a Ala da Percussão e a Ala dos Pernaltas.

Entre os participantes, estão alunos de oficinas de percussão e de perna de pau realizadas pelo bloco. “A gente tem parceria com dois projetos. Um é a Liga do Bem. O outro é o Ser Criança Perna de Pau, que levam as crianças para a apresentação”, informou Juliana. Cerca de 15 crianças participam da oficina, entre 8 e 14 anos de idade, além de alguns pais e mães.

A Ala de Percussão está sob responsabilidade pela maestrina Thais Bezerra, que também assina a direção musical dos enredos e apresentações do bloco. Ela comanda uma oficina dois dias por semana. Nas aulas, ela trabalha a música como ferramenta do brinquedo popular, explorando os folguedos e a diversidade rítmica da cultura brasileira. São usados instrumentos variados como zabumba, alfaia, Caixa, xequerê, ganzá, triângulo e agogô.

Já a Ala Pernalta se desdobra da oficina de perna de pau que, desde 2014, estrutura a linguagem performática das apresentações. As aulas são comandadas pela atriz, educadora e artista multilinguagem Raquel Potí, também responsável pela direção artística e cênica do bloco. A oficina acontece nos jardins do Museu de Arte Moderna (MAM), na zona sul do Rio de Janeiro, aos sábados. Conforme divulga o bloco, as aulas proporcionam aos alunos a oportunidade de “ver a si e o mundo a partir de um novo ponto de vista, potencializar potências, fortalecer comunidades, promover o desenvolvimento pessoal e coletivo, brincar e fazer arte”.

 Apresentação de carnaval do bloco da Terreirada Cearense, na Quinta da Boa Vista. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Bebida mineira

A bebida que se tornou febre no carnaval de Belo Horizonte nos últimos anos também marcou presença na Quinta da Boa Vista. Fabiano de Gonçalves Medeiros apostou na venda do xeque mate para buscar uma renda extra em meio à folia. “Está pegando bem, está fazendo sucesso aqui. Tem uma curiosidade por causa dos ingredientes. E culturalmente o mate é muito presente no Rio. As pessoas tomam na praia, nas lanchonetes”, disse.

Goiano, Fabiano é geólogo e está realizando sua pós-graduação no Rio de Janeiro. Uma das matérias do curso foi concluída em intercâmbio na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte. “Todo mundo lá é apaixonado por essa bebida. Eu fiquei lá um mês. Está fazendo um sucesso merecido. Mas é uma bebida que tem que ter cuidado. Porque o mate com guaraná e limão mascara o gosto do rum. Então você está tomando uma bebida refrescante, mas que tem mais de 8% de álcool. Na terceira ou quarta, já pode ficar balançado”, conta.

Tradicional Galinho de Brasília está de volta à Asa Sul

De volta ao início da Via L2, na Asa Sul, em Brasília, local onde sempre desfilou, o Galinho de Brasília retomou a tradição de 32 anos de existência. O bloco, que teve dificuldades em ganhar as ruas nos últimos cinco anos, voltou com dois trios elétricos e muitos foliões saudosos.

A gaúcha Nara Albernazi, que vive em Brasília há 59 anos, é frequentadora do Galinho desde quando o bloco saiu pela primeira vez. Como lembrança, a jornalista de 65 anos desfila todos os anos com um guarda-chuva de frevo que comprou na primeira participação no bloco. “Ele já foi para Recife e é um patrimônio do meu carnaval”.

Nara Albernazi desfila no Galinho desde a primeira vez que o bloco saiu às ruas de Brasília- Valter Campanato/Agência Brasil

O casal brasiliense Raquel de Queiroz e Ricardo Amoras já brincava no Galinho há muitos anos. Principalmente ele, que cresceu na quadra 202 Sul e costumava ir a pé brincar no Galinho.

“Pra mim é um dos blocos mais tradicionais de Brasília e quando parou de sair fiquei triste. Esse ano, quando soube que voltaria quis trazer minha filha, que tem 1 aninho e três meses para brincar também”, conta.

Raquel de Queiroz e Ricardo Amoras são foliões do Galinho de outros carnavais. – Valter Campanato/Agência Brasil

O presidente do bloco, Romildo de Carvalho Júnior, diz que não tinha expectativa que viesse tanta gente depois das dificuldades enfrentadas, mas o público o surpreendeu positivamente. “A gente sente uma grande felicidade em trazer essa riqueza cultural de Recife e incorporar à cultura brasiliense e à cultura brasileira no nosso carnaval. Essa é a nossa principal meta”, destaca.

Frevo

Fundado em 1992, o Galinho de Brasília é um dos guardiões da tradição dos blocos de rua na capital federal. Desfila sempre ao som do frevo, nos moldes do bloco Galo da Madrugada, que serviu de inspiração.

A diretora do bloco, Miriam Basiel, relembra que quando surgiu, o bloco, inclusive, era chamado Galinho da Madrugada, em homenagem ao grupo pernambucano. “Todos os anos nós íamos a Recife para brincar o carnaval, como bons pernambucanos que somos, mas naquele ano houve o confisco das poupanças e nós tivemos que ficar em Brasília, então resolvemos colocar um bloco na rua”, relembra.

A agremiação nunca havia passado tanto tempo longe das ruas e dos brincantes como nos últimos anos, quando, por dois anos não houve carnaval, por causa da pandemia de covid-19 e, depois disso, em 2023, a agremiação foi impedida de participar da folia por decisão judicial.

Informado às vésperas do sábado que tradicionalmente desfila, o grupo publicou nas redes sociais uma nota na qual criticava a decisão das autoridades culturais e a pressão exercida por “uma minoria”. “Na contramão da cultura brasileira, estamos sentindo-nos desprestigiado, aliás, discriminados”, informava a publicação.

Nos dois anos anteriores à pandemia, o bloco já enfrentava problemas com alguns moradores da região onde desfila, então em 2019 não saiu e em 2020 desfilou fora do seu local tradicional, perto do estádio Mané Garrincha. “Foram quase cinco anos que praticamente não fizemos carnaval. É uma alegria muito grande poder voltar”, destaca Romildo.

Galinho de Brasília volta ao carnaval brasiliense – Valter Campanato/Agência Brasil

Pintinho

Em janeiro deste ano, uma nova publicação informava o retorno do bloco às ruas, neste carnaval “O galo cantou, anunciando o retorno do bloco mais querido de Brasília”. E, mesmo sem se deslocar pelas quadras da Asa Sul, permanecendo em um pequeno trecho do Setor de Autarquias, a volta foi em grande estilo. Desde cedo, os pequenos foliões acordaram com o Galo e festejaram o frevo na versão infantil do bloco tradicional, o Pintinho de Brasília.

O tempo nublado não espantou a bancária Nilsana Rocha e a pequena Maria, de 2 anos. Residente em Vitória da Conquista, na Bahia, esse é o segundo Carnaval que ela passa em Brasília com a família. “Estamos adorando. Bloquinho de rua, organizado, sem violência”, disse Nilsana, contando que já passou muitos carnavais nas ruas de Recife.

Galinho volta às ruas de Brasília – Valter Campanato/Agência Brasil

A professora Rayssa Aguiar também levou o filho Hércules Rudá, de 3 anos. É a primeira vez que vai ao Pintinho e lamentou a proibição de deslocamento do bloco, que tradicionalmente percorria parte do setor bancário da cidade e algumas quadras comerciais da Asa Sul. Neste Carnaval, ele está concentrado no setor bancário.

“O grande pesar é a proibição de sair andando”, disse, elogiando a estrutura montada para os foliões. “Pra criança é ideal”, acrescentou.

Historiador mostra preocupação com os ataques ao carnaval

O carnaval está sob ataque! A afirmação é do historiador, escritor e professor Luiz Antonio Simas, que expressa preocupação com tentativas de descaracterização da festa popular pelas pressões do capital e do proselitismo religioso.

“O carnaval assusta porque afronta a decadência da vida em grupo, reaviva laços contrários à diluição comunitária, fortalece pertencimentos e sociabilidades e cria redes de proteção nas frestas do desencanto”, defendeu nas redes sociais nesta sexta-feira (9), véspera do início oficial do carnaval no Brasil.

Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, o escritor sustenta que a festa é um dos modos de se enfrentar a morte enquanto aniquilamento do ser e disciplinar de corpos. 

Leia

Agência Brasil: Algo que impressiona é a versatilidade do teu campo de pesquisa. Queria que falasse um pouquinho sobre a tua história. Não sei se você tem um termo para sintetizar esse interesse plural. 

Luiz Antonio Simas: Não sei se é tão diverso assim. Aparentemente, é. Venho de uma história familiar que, de certo modo, me colocou diante das coisas que eu escrevo, com as quais eu trabalho. Eu sou carioca, mas venho de uma família formada, majoritariamente, por pernambucanos e alagoanos e sou neto de uma mãe de santo, a Dona Beta. Ela se iniciou no Recife, veio para o Rio de Janeiro e tinha uma casa aberta aqui. E, além disso, a minha família acaba tendo uma relação muito íntima com o samba. Tive um tio que foi presidente de um bloco carnavalesco, teve aula em escola de samba. A família sempre esteve muito envolvida com esse tipo de coisa. Sobretudo a experiência de ter sido criado em terreiro, de certa maneira, moldou boa parte do que eu sou. E, sobretudo no Rio de Janeiro, a casa da minha avó foi cruzada por diversas referências de encantarias, umbandas que estavam por aqui. A casa da minha vó dialogava, por exemplo, com a tradição do tambor de mina maranhense, porque ela era muito amiga de uma senhora, a Dona Luzia, que era ligada a ele. Dona Mundica, que era uma espécie de avó minha, porque era praticamente irmã da minha avó, que era ligada a encantarias do Pará.

Venho de uma infância marcada por esse tipo de coisa. E era uma família muito festeira. Dá a impressão, penso nisso hoje, que era uma família que se mobilizava, o ano todo, por um calendário de festividade. Primeiro, as festividades do terreiro, que eram muito importantes. Segundo, o carnaval. Família muito carnavalesca, a ponto de, na minha vida, eu só ter passado um carnaval fora do Rio de Janeiro. O único eu passei quando era garoto. Uma família muito ligada pelas festas nordestinas. Também é um ciclo as festas de São João. Era uma família muito festeira, isso é uma características, e trouxe muito isso.

Meu trabalho posterior, como historiador, escritor, compositor de música popular, dialoga muito com essa tradição. Agora, isso que parece muito diverso. É verdade, eu sou um interessado na cultura brasileira de uma forma muito ampla, mas acho que tem duas questões importantes. A primeira delas é a seguinte: costumo dizer que tudo o que estudo é atravessado por um fio que vai costurando isso. Eu, a rigor, estudo as sociabilidades festeiras do Brasil. Se você me der para definir, sou um estudioso das sociabilidades construídas pela festa. Festas que são sagradas, festas que são profanas. Tenho desde livros sobre futebol, com ênfase muito grande em torcidas e tal, até livros sobre festividades do cristianismo popular. 

Agência Brasil: Simas, no teu curso de terreirização do mundo, em entrevistas e obras tuas, você sempre reafirma que estamos em constante luta contra a morte. O que quer dizer com isso, para quem não teve contato com a tua pesquisa?

Luiz Antonio Simas: A morte é um fenômeno que está ligado ao campo da espiritualidade. Por isso é que falo, no Corpo encantado das ruas, que o contrário à vida, nesse sentido, não é a morte, é o desencanto. E o contrário da morte não é exatamente a vida, é o encantamento. Por quê? Porque, quando eu falo dessa luta contra a morte, não é a luta contra o fenômeno fisiológico da cessação dos nossos impulsos vitais, mas é contra uma aniquilação que nos atinge em vida, é o fenômeno do desencanto. Por isso que já também escrevi que existe mortos que estão muito mais vivos do que alguns vivos.

Quando você conhece essa cultura de terreiro, o encantamento prevalece ali. A morte da qual eu falo é uma morte cotidiana, na produção do aniquilamento do ser, do desencanto, de corpos que são aniquilados, coordenados ou disciplinados dentro de uma lógica determinada pela força do capital, do relógio. Nós estamos lutando, o tempo todo, contra essas mortes que são parte da experiência cotidiana. Isso é crucial. A afirmação da vida opera nessa dimensão.

Agência Brasil: Nesse curso, você comentou o caso de uma escola de samba, não me recordo bem, Simas, em que Exu tomou conta, durante um desfile, algo assim.

Luiz Antonio Simas: Acho que foi um texto que escrevi sobre, se não me engano, uma entrada na avenida da bateria da Portela. Foi o seguinte: em 2013, a Portela fez um enredo sobre Madureira. E a bateria veio fantasiada de Zé Pelintra, porque o Mercadão de Madureira é o maior centro de artigos afroreligiosos do Rio de Janeiro e um dos maiores do Brasil. O que se conta nesse processo todo é que a bateria faz um Zé Pelintra trajado com as cores da Portela, azul e branco, quando o Zé Pelintra costuma usar o vermelho e o branco, quando ele vem para trabalhar como encantado. Dizem que teria ocorrido um fenômeno que, em um ensaio, um componente da escola teria recebido Dona Maria Padilha [uma pombagira] e Dona Maria Padilha teria dito que trazia um recado de Seu Zé Pelintra. Que a Portela só seria autorizada a desfilar com a bateria fantasiada de Seu Zé Pelintra, primeiro, se usasse as cores dele e, segundo, se Seu Zé Pelintra tivesse uma festa para ele, na entrada do desfile. E aí acontece um fenômeno muito impactante, porque a Portela estava se preparando para entrar na Sapucaí, o setor um das arquibancadas está lotado e, de repente, entram tambores. Os ogãs começam a cantar para ele. O que se conta ali é que a rainha da bateria incorpora Dona Maria Padilha e começa uma gira para Seu Zé Pelintra antes do desfile da Portela. Foi impactante porque aquilo surpreendeu as pessoas e a Marquês de Sapucaí virou uma gira de macumba. Foi um momento muito forte, porque a Portela cumpriu o que o Seu Zé Pelintra havia pedido, para que pudesse desfilar. E é o que eu digo sempre: é um terreiro. Na minha percepção, o terreiro não é um espaço de fixidez religiosa. Tento entender o terreiro como um território praticado na dimensão de encantamento do mundo. Então, a tua esquina, a praça podem virar terreiro, porque podem ser praticadas na dimensão do encanto. Ali se consolidou a terreirização da Sapucaí de uma maneira muito forte.

Agência Brasil: Simas, como você tem visto esse crescente interesse por terreiros? Como você vê as críticas ao embranquecimento de terreiros, já que têm algumas pessoas que andam revoltadas com isso?

Luiz Antonio Simas: Não sei se essa realidade é igual em tudo quanto é lugar. Acho que tem um debate ligado a terreiro em São Paulo que é completamente diferente do debate no Rio de Janeiro, onde o debate sobre a mercantilização, o mercado religioso, me parece mais acirrado do que o Rio de Janeiro. Porque o Rio de Janeiro é aquela macumba carioca, é aquela coisa de que tudo é muito encruzilhado nesse sentido. Eu escrevi não à toa um livro que se chama Umbandas, no plural, porque acho que, na verdade, você tem uma pluralidade enorme desse ecossistema de sabedorias encantadas, as mais diversas que tem.

Agora, esse apreço pela cultura de terreiro é, de certa maneira, uma reação também a um processo galopante de desencanto. Isso é muito forte. Quando a gente pensa em terreiro, em escola de samba, acho que está tudo junto, porque as culturas são brancas, operam em uma dimensão em que não há dicotomia entre o sagrado e o profano. O que existe é uma sacralização do profano e uma profanação do sagrado que se estabelece o tempo todo, isso acontece com muita frequência. De certa forma, o terreiro é um espaço de reconstrução de pertencimento coletivo de vida, e a gente está vivendo em um mundo em que essas instâncias coletivas de pertencimento estão sendo estraçalhadas. Isso acontece muito.

Há um ataque a essa ideia da vida usufruída como um bem coletivo que é muito forte. Há uma reação a isso. O que a gente está vivendo é um embate. Existe um embate entre essas questões. Agora, isso traz todos os paradoxos que você pode imaginar. A religião é muito impactada pelo avanço das redes sociais. Óbvio que existe uma disputa pelo mercado religioso, que envolve muita coisa. Mas eu não sou um especialista nesse debate. A realidade que eu vivo é uma realidade um pouco diferente da de certos locais. É mais acirrado esse debate sobre embranquecimento. E aí a gente tem que pensar no que a gente está chamando de terreiro, porque, por exemplo. É um embranquecimento de uma certa linha de umbanda? Isso não é de hoje. É um embate da história da umbanda que vem da primeira metade do século XX. Evidente que tem. São os paradoxos do Brasil.

Por outro lado, você vai a uma igreja evangélica popular e é pouco provável que você veja que uma ampla gama de fiéis seja composta de negros. Isso acontece. Acho que a gente não pode perder a dimensão de que essas culturas de terreiros são oriundas de saberes não brancos, isso é fundamental. Saberes oriundos das praias africanas que se redefinem no Brasil. Acho importantíssima também a dimensão da influência indígena das encantarias e que é interessante eu e todo mundo sairmos para estudar os encantos fora do eixo Rio-São Paulo. Se vai para o Maranhão, o Pará, algumas regiões da Paraíba, o Ceará, o sertão do Cariri, as experiências encantadas são muito intensas.

Agência Brasil: Você tem tido interesse, no âmbito da pesquisa, por algo que não estava tanto no teu radar, que tem a ver com esse momento do país, de tentativas de retomada da cultura democrática, algo que tem bastante relação com o teu trabalho? E teve algo que você ainda não viu nas escolas e que adoraria ver?

Luiz Antonio Simas: Acho que o carnaval, primeiro, é múltiplo. A gente tem dos mais diversos aqui. Eu defino o carnaval como uma festa de reconstrução de sentido coletivo de vida. Ao mesmo tempo, não tenho dúvida, porque gosto de estudar a história do carnaval e tenho estudado isso, o carnaval é muito mais marcado por confrontos do que por consensos. A disputa entre um carnaval elitista e um carnaval que é popular, toda a complexidade que envolve as escolas de samba, a dimensão do carnaval de rua. Tem uma coisa que me preocupa muito hoje, por exemplo. Acho que o carnaval de rua está sob ataque. E sob ataque múltiplo. Por quê? Porque sofre ataque de um certo discurso de ordenação pública que busca a contenção da festa. Está sob o ataque do proselitismo religioso, sobretudo pelo avanço pentecostal, que tem a tendência de demonizar festejos populares marcados pelas culturas de rua, afrobrasileiras.

Mas existe uma terceira instância de ataque que acho muito relevante. O carnaval de rua tem sido violentamente atacado pelo mercado, e isso talvez seja um perigo enorme, porque você começa a mensurar uma festa popular a partir de uma dimensão restrita à lógica da circulação de capital que pode estar acontecendo. Quando o carnaval começa a ser festivamente ordenado, muito marcado pelo impacto que têm algumas marcas, pela cultura dos megablocos, aí você tem um jogo que envolve o capital e é perigoso, porque, aparentemente, um jogo favorável ao carnaval, mas, de certa maneira, é complicado. De que forma, por exemplo, essas instâncias do mercado têm a capacidade de se apropriar das grandes celebrações da coletividade em uma dimensão perigosa, elitista, que acho conservadora, que mensura tudo pela lógica do capital? Tenho estudado bastante essas celebrações populares. Estou em um processo de concluir um livro que seria uma espécie de dicionário das culturas tradicionais do Brasil e pensar muito a festa. 

Historiador mostra preocupação com os ataques ao carnaval

O carnaval está sob ataque! A afirmação é do historiador, escritor e professor Luiz Antonio Simas, que expressa preocupação com tentativas de descaracterização da festa popular pelas pressões do capital e do proselitismo religioso.

“O carnaval assusta porque afronta a decadência da vida em grupo, reaviva laços contrários à diluição comunitária, fortalece pertencimentos e sociabilidades e cria redes de proteção nas frestas do desencanto”, defendeu nas redes sociais nesta sexta-feira (9), véspera do início oficial do carnaval no Brasil.

Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, o escritor sustenta que a festa é um dos modos de se enfrentar a morte enquanto aniquilamento do ser e disciplinar de corpos. 

Leia:

Agência Brasil: Algo que impressiona é a versatilidade do teu campo de pesquisa. Queria que falasse um pouquinho sobre a tua história. Não sei se você tem um termo para sintetizar esse interesse plural. 

Luiz Antonio Simas: Não sei se é tão diverso assim. Aparentemente, é. Venho de uma história familiar que, de certo modo, me colocou diante das coisas que eu escrevo, com as quais eu trabalho. Eu sou carioca, mas venho de uma família formada, majoritariamente, por pernambucanos e alagoanos e sou neto de uma mãe de santo, a Dona Beta. Ela se iniciou no Recife, veio para o Rio de Janeiro e tinha uma casa aberta aqui. E, além disso, a minha família acaba tendo uma relação muito íntima com o samba. Tive um tio que foi presidente de um bloco carnavalesco, teve aula em escola de samba. A família sempre esteve muito envolvida com esse tipo de coisa. Sobretudo a experiência de ter sido criado em terreiro, de certa maneira, moldou boa parte do que eu sou. E, sobretudo no Rio de Janeiro, a casa da minha avó foi cruzada por diversas referências de encantarias, umbandas que estavam por aqui. A casa da minha vó dialogava, por exemplo, com a tradição do tambor de mina maranhense, porque ela era muito amiga de uma senhora, a Dona Luzia, que era ligada a ele. Dona Mundica, que era uma espécie de avó minha, porque era praticamente irmã da minha avó, que era ligada a encantarias do Pará.

Venho de uma infância marcada por esse tipo de coisa. E era uma família muito festeira. Dá a impressão, penso nisso hoje, que era uma família que se mobilizava, o ano todo, por um calendário de festividade. Primeiro, as festividades do terreiro, que eram muito importantes. Segundo, o carnaval. Família muito carnavalesca, a ponto de, na minha vida, eu só ter passado um carnaval fora do Rio de Janeiro. O único eu passei quando era garoto. Uma família muito ligada pelas festas nordestinas. Também é um ciclo as festas de São João. Era uma família muito festeira, isso é uma características, e trouxe muito isso.

Meu trabalho posterior, como historiador, escritor, compositor de música popular, dialoga muito com essa tradição. Agora, isso que parece muito diverso. É verdade, eu sou um interessado na cultura brasileira de uma forma muito ampla, mas acho que tem duas questões importantes. A primeira delas é a seguinte: costumo dizer que tudo o que estudo é atravessado por um fio que vai costurando isso. Eu, a rigor, estudo as sociabilidades festeiras do Brasil. Se você me der para definir, sou um estudioso das sociabilidades construídas pela festa. Festas que são sagradas, festas que são profanas. Tenho desde livros sobre futebol, com ênfase muito grande em torcidas e tal, até livros sobre festividades do cristianismo popular. 

Agência Brasil: Simas, no teu curso de terreirização do mundo, em entrevistas e obras tuas, você sempre reafirma que estamos em constante luta contra a morte. O que quer dizer com isso, para quem não teve contato com a tua pesquisa?

Luiz Antonio Simas: A morte é um fenômeno que está ligado ao campo da espiritualidade. Por isso é que falo, no Corpo encantado das ruas, que o contrário à vida, nesse sentido, não é a morte, é o desencanto. E o contrário da morte não é exatamente a vida, é o encantamento. Por quê? Porque, quando eu falo dessa luta contra a morte, não é a luta contra o fenômeno fisiológico da cessação dos nossos impulsos vitais, mas é contra uma aniquilação que nos atinge em vida, é o fenômeno do desencanto. Por isso que já também escrevi que existe mortos que estão muito mais vivos do que alguns vivos.

Quando você conhece essa cultura de terreiro, o encantamento prevalece ali. A morte da qual eu falo é uma morte cotidiana, na produção do aniquilamento do ser, do desencanto, de corpos que são aniquilados, coordenados ou disciplinados dentro de uma lógica determinada pela força do capital, do relógio. Nós estamos lutando, o tempo todo, contra essas mortes que são parte da experiência cotidiana. Isso é crucial. A afirmação da vida opera nessa dimensão.

Agência Brasil: Nesse curso, você comentou o caso de uma escola de samba, não me recordo bem, Simas, em que Exu tomou conta, durante um desfile, algo assim.

Luiz Antonio Simas: Acho que foi um texto que escrevi sobre, se não me engano, uma entrada na avenida da bateria da Portela. Foi o seguinte: em 2013, a Portela fez um enredo sobre Madureira. E a bateria veio fantasiada de Zé Pelintra, porque o Mercadão de Madureira é o maior centro de artigos afroreligiosos do Rio de Janeiro e um dos maiores do Brasil. O que se conta nesse processo todo é que a bateria faz um Zé Pelintra trajado com as cores da Portela, azul e branco, quando o Zé Pelintra costuma usar o vermelho e o branco, quando ele vem para trabalhar como encantado. Dizem que teria ocorrido um fenômeno que, em um ensaio, um componente da escola teria recebido Dona Maria Padilha [uma pombagira] e Dona Maria Padilha teria dito que trazia um recado de Seu Zé Pelintra. Que a Portela só seria autorizada a desfilar com a bateria fantasiada de Seu Zé Pelintra, primeiro, se usasse as cores dele e, segundo, se Seu Zé Pelintra tivesse uma festa para ele, na entrada do desfile. E aí acontece um fenômeno muito impactante, porque a Portela estava se preparando para entrar na Sapucaí, o setor um das arquibancadas está lotado e, de repente, entram tambores. Os ogãs começam a cantar para ele. O que se conta ali é que a rainha da bateria incorpora Dona Maria Padilha e começa uma gira para Seu Zé Pelintra antes do desfile da Portela. Foi impactante porque aquilo surpreendeu as pessoas e a Marquês de Sapucaí virou uma gira de macumba. Foi um momento muito forte, porque a Portela cumpriu o que o Seu Zé Pelintra havia pedido, para que pudesse desfilar. E é o que eu digo sempre: é um terreiro. Na minha percepção, o terreiro não é um espaço de fixidez religiosa. Tento entender o terreiro como um território praticado na dimensão de encantamento do mundo. Então, a tua esquina, a praça podem virar terreiro, porque podem ser praticadas na dimensão do encanto. Ali se consolidou a terreirização da Sapucaí de uma maneira muito forte.

Agência Brasil: Simas, como você tem visto esse crescente interesse por terreiros? Como você vê as críticas ao embranquecimento de terreiros, já que têm algumas pessoas que andam revoltadas com isso?

Luiz Antonio Simas: Não sei se essa realidade é igual em tudo quanto é lugar. Acho que tem um debate ligado a terreiro em São Paulo que é completamente diferente do debate no Rio de Janeiro, onde o debate sobre a mercantilização, o mercado religioso, me parece mais acirrado do que o Rio de Janeiro. Porque o Rio de Janeiro é aquela macumba carioca, é aquela coisa de que tudo é muito encruzilhado nesse sentido. Eu escrevi não à toa um livro que se chama Umbandas, no plural, porque acho que, na verdade, você tem uma pluralidade enorme desse ecossistema de sabedorias encantadas, as mais diversas que tem.

Agora, esse apreço pela cultura de terreiro é, de certa maneira, uma reação também a um processo galopante de desencanto. Isso é muito forte. Quando a gente pensa em terreiro, em escola de samba, acho que está tudo junto, porque as culturas são brancas, operam em uma dimensão em que não há dicotomia entre o sagrado e o profano. O que existe é uma sacralização do profano e uma profanação do sagrado que se estabelece o tempo todo, isso acontece com muita frequência. De certa forma, o terreiro é um espaço de reconstrução de pertencimento coletivo de vida, e a gente está vivendo em um mundo em que essas instâncias coletivas de pertencimento estão sendo estraçalhadas. Isso acontece muito.

Há um ataque a essa ideia da vida usufruída como um bem coletivo que é muito forte. Há uma reação a isso. O que a gente está vivendo é um embate. Existe um embate entre essas questões. Agora, isso traz todos os paradoxos que você pode imaginar. A religião é muito impactada pelo avanço das redes sociais. Óbvio que existe uma disputa pelo mercado religioso, que envolve muita coisa. Mas eu não sou um especialista nesse debate. A realidade que eu vivo é uma realidade um pouco diferente da de certos locais. É mais acirrado esse debate sobre embranquecimento. E aí a gente tem que pensar no que a gente está chamando de terreiro, porque, por exemplo. É um embranquecimento de uma certa linha de umbanda? Isso não é de hoje. É um embate da história da umbanda que vem da primeira metade do século XX. Evidente que tem. São os paradoxos do Brasil.

Por outro lado, você vai a uma igreja evangélica popular e é pouco provável que você veja que uma ampla gama de fiéis seja composta de negros. Isso acontece. Acho que a gente não pode perder a dimensão de que essas culturas de terreiros são oriundas de saberes não brancos, isso é fundamental. Saberes oriundos das praias africanas que se redefinem no Brasil. Acho importantíssima também a dimensão da influência indígena das encantarias e que é interessante eu e todo mundo sairmos para estudar os encantos fora do eixo Rio-São Paulo. Se vai para o Maranhão, o Pará, algumas regiões da Paraíba, o Ceará, o sertão do Cariri, as experiências encantadas são muito intensas.

Agência Brasil: Você tem tido interesse, no âmbito da pesquisa, por algo que não estava tanto no teu radar, que tem a ver com esse momento do país, de tentativas de retomada da cultura democrática, algo que tem bastante relação com o teu trabalho? E teve algo que você ainda não viu nas escolas e que adoraria ver?

Luiz Antonio Simas: Acho que o carnaval, primeiro, é múltiplo. A gente tem dos mais diversos aqui. Eu defino o carnaval como uma festa de reconstrução de sentido coletivo de vida. Ao mesmo tempo, não tenho dúvida, porque gosto de estudar a história do carnaval e tenho estudado isso, o carnaval é muito mais marcado por confrontos do que por consensos. A disputa entre um carnaval elitista e um carnaval que é popular, toda a complexidade que envolve as escolas de samba, a dimensão do carnaval de rua. Tem uma coisa que me preocupa muito hoje, por exemplo. Acho que o carnaval de rua está sob ataque. E sob ataque múltiplo. Por quê? Porque sofre ataque de um certo discurso de ordenação pública que busca a contenção da festa. Está sob o ataque do proselitismo religioso, sobretudo pelo avanço pentecostal, que tem a tendência de demonizar festejos populares marcados pelas culturas de rua, afrobrasileiras.

Mas existe uma terceira instância de ataque que acho muito relevante. O carnaval de rua tem sido violentamente atacado pelo mercado, e isso talvez seja um perigo enorme, porque você começa a mensurar uma festa popular a partir de uma dimensão restrita à lógica da circulação de capital que pode estar acontecendo. Quando o carnaval começa a ser festivamente ordenado, muito marcado pelo impacto que têm algumas marcas, pela cultura dos megablocos, aí você tem um jogo que envolve o capital e é perigoso, porque, aparentemente, um jogo favorável ao carnaval, mas, de certa maneira, é complicado. De que forma, por exemplo, essas instâncias do mercado têm a capacidade de se apropriar das grandes celebrações da coletividade em uma dimensão perigosa, elitista, que acho conservadora, que mensura tudo pela lógica do capital? Tenho estudado bastante essas celebrações populares. Estou em um processo de concluir um livro que seria uma espécie de dicionário das culturas tradicionais do Brasil e pensar muito a festa. 

Rio: governo aplica repelente contra dengue em foliões, no Sambódromo

Equipes do governo fluminense, munidas de repelentes para espantar o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, receberam, nessa sexta-feira (9), os foliões que aproveitaram a primeira noite de desfiles das escolas de samba da Série Ouro, na Marquês de Sapucaí. A ação faz parte da campanha “Contra a Dengue Todo Dia” e objetiva aproveitar o palco do maior espetáculo da Terra para conscientizar a população sobre a necessidade de combater a proliferação do mosquito.

Até a última quinta-feira (8), foram registrados 31.133 casos prováveis de dengue em todo o estado. A Secretaria de Estado de Saúde (SES) recebeu três notificações de óbitos dos municípios, sendo um a capital do estado, um em Mangaratiba e um em Itatiaia. Em 2023, foram 51.494 casos e 30 óbitos confirmados.

Além de proteger e conscientizar o público nas arquibancadas, a campanha da SES amplifica o alcance da mensagem “10 minutos que salvam vidas”, que orienta as pessoas para combater os focos do ‘Aedes aegypti’ existentes nas residências, onde estão 80% dos criadouros das larvas do mosquito.

Apoio da população

A secretária estadual de saúde, Claudia Mello, explicou que a partir de dezembro de 2023, quando foi percebido pelo órgão um aumento atípico de casos de dengue para essa época do ano, estão sendo treinados médicos dos 92 municípios do estado e das emergências e UPAs da rede estadual para atendimento a pacientes com suspeita de doença, dando suporte aos municípios com equipamentos, insumos e montagem de salas de hidratação e, usando a tecnologia para monitoramento dos casos. “Mas é fundamental contarmos com o apoio da população no combate ao mosquito dentro de casa, porque é lá que está a maior parte dos focos do Aedes aegypt, destacou a secretária.

A aposentada Alilia Costa Gomes foi uma das primeiras foliãs no Sambódromo a aplicar o repelente nas pernas e nos braços. “Não posso pegar dengue de jeito nenhum. Faço tratamento de câncer e não tinha me lembrado de passar o repelente antes de sair. A ideia foi nota dez. Estão de parabéns”, afirmou.

Outra que aprovou a iniciativa da SES foi a chilena Valesca Vargas. Quando saiu do Chile com o marido e dois filhos para curtir o carnaval no Rio de Janeiro, Valesca não sabia do aumento de casos de dengue no estado. “Temos mesmo que nos proteger, principalmente as crianças. É muito bom que vocês façam essa distribuição. Não sei se os turistas vêm pra cá com repelente”, disse a estrangeira.

Continuidade

A ação prossegue neste sábado (10), segunda noite de apresentações das escolas de samba da Série Ouro, bem como nos desfiles do Grupo Especial, no domingo (11) e segunda-feira (12), dias em que também desfilarão pela pista uma faixa com a mensagem “10 minutos que salvam vidas” e uma ambulância “fantasiada” com a identidade visual da campanha. Além de oferecer repelente para os espectadores, a campanha do governo do estado na Sapucaí conta com vídeos educativos exibidos em nove telões espalhados pelo Sambódromo.

Plano Estadual

Em 26 de janeiro deste ano, o governador Cláudio Castro e a secretária Claudia Mello lançaram o programa Gov.RJ contra a Dengue Todo Dia!, que envolve o uso de tecnologia, qualificação e apoio aos 92 municípios do estado, totalizando investimento de R$ 3,7 milhões.

Foram comprados equipamentos e insumos que estão sendo distribuídos aos municípios com maior incidência de casos, para a montagem de até 80 salas de hidratação, que terão capacidade para atender, ao todo, até 8 mil pacientes por dia. Além disso, a SES está treinando 2 mil médicos de emergências e profissionais de saúde dos 92 municípios para garantir o diagnóstico mais preciso e o tratamento correto, como também a capacitação no atendimento às gestantes infectadas. Um total de 160 leitos de nove hospitais de referência do estado poderá ser convertido, inicialmente, para tratamento da dengue, como foi feito na pandemia da covid-19.