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Exposição gratuita na Av. Paulista celebra a magia do Maracatu Rural

Aos 13 anos, José Luiz da Silva começou a brincar o maracatu. Hoje, aos 65, ele é o Mestre Luiz Caboclo do Estrela de Ouro de Aliança, difundindo os saberes e histórias dessa tradição cultural nordestina.

Nesta semana, Mestre Luiz Caboclo chegou a São Paulo para promover não só a cultura do maracatu, mas a nova exposição dedicada ao tema que está em cartaz no Centro Cultural Fiesp, na Avenida Paulista: Maracatu Rural – A Magia dos Canaviais. A exposição, gratuita, poderá ser visitada a partir de desta quarta-feira (3) até o dia 9 de junho, de terça a domingo, das 10h às 20h. A curadoria é de Afonso Oliveira, que tem uma vivência de mais de 30 anos nesta manifestação cultural.

Jose Luiz da Silva com a indumentária do Maracatu Rural –  Paulo Pinto/Agência Brasil

O Maracatu Estrela de Ouro de Aliança, do qual o Mestre Luiz Caboclo faz parte, foi fundado em janeiro de 1966 no Sítio Chã de Camará, município de Aliança, na Zona da Mata Norte pernambucana. Seu idealizador foi Severino Lourenço da Silva, o Mestre Batista. Um dos principais símbolos carnavalescos da cultura popular de Pernambuco, o Maracatu Estrela de Ouro de Aliança é um dos representantes do chamado Maracatu Rural.

Em Pernambuco, há os Maracatus de Baque Virado (Maracatu Nação) e os Maracatus de Baque Solto (Maracatu Rural). Cada um tem sua característica própria. O Maracatu Nação, por exemplo, remonta às festas organizadas por grupos de escravos que celebravam nos pátios das igrejas a coroação do Rei do Congo. O ritmo foi depois inserido aos festejos carnavalescos.

Já na Zona da Mata, o maracatu tomou outra feição e recebeu o nome de Maracatu Rural, tema da nova exposição da Fiesp. Lá, os caboclos de lança fazem um desfile que lembra batalha. Há duas trincheiras, cada uma obedece ao comando de um caboclo de frente, que conduz as manobras ordenadas pelo mestre. Eles correm de um lado para o outro, sacudindo as lanças, executando manobras chamadas de “caídas”. A apresentação também tem um ritmo mais rápido dos chocalhos, além do uso de cuíca e instrumentos de sopro (trombone e trompete). O canto é de responsabilidade do mestre de apito ou poeta e contra-mestre.

Centro Cultural FIESP abre a exposição Maracatu Rural – A Magia dos Canaviais, que traz à capital paulista a produção artística de trabalhadores da Zona da Mata de Pernambuco – Paulo Pinto/Agência Brasil

Considerado uma das manifestações mais fortes do carnaval, existem atualmente cerca de 110 grupos de Maracatu Rural, principalmente nos municípios de Nazaré da Mata, Aliança, Tracunhaém, Goiana, Condado, Itaquitinga, Lagoa de Itaenga, Araçoiaba e Carpina.

Os primeiros grupos de Maracatu Rural surgiram no início do século 20, com influências indígenas e afro-brasileiras e produzida pelos trabalhadores da monocultura do açúcar. “A maioria dos integrantes do maracatu são cortadores de cana. Ele nasceu no setor canavieiro, na zona da mata”, explicou Ângelo Filizola, produtor-executivo da exposição.

“Para a gente lá, quando eu comecei a brincar, em 1971, era a diversão que tinha na Zona da Mata. A Zona da Mata é a Zona da Cana. Até 1971, ainda tinha escravidão na Zona da Mata. E então começou a levantar maracatu nas zonas da mata, que hoje é o lugar que mais tem maracatu rural”, conta Mestre Luiz Caboclo, em entrevista à Agência Brasil.

A principal diferença entre esses maracatus é que no Rural não existe a Corte Real e seu principal destaque é a presença do caboclo de lança, que se encarrega de abrir espaço na multidão com saltos e piruetas, manejando as lanças. Os caboclos de lança usam um galho de arruda atrás da orelha e um cravo ou rosa branca na boca para manter o corpo fechado, se proteger. Usam fantasia pesada, de mais de 30 quilos, que consiste principalmente em uma camisa de manga comprida de cor viva com uma armação de madeira por cima. Eles também usam um lenço amarrado na cabeça e sobre ele um chapéu de palha. Por cima, uma cabeleira colorida.

“Eu saio vestido com uma fantasia bonita. Eu sou o mestre caboclo do Estrela de Ouro. Sou eu quem puxo a nação. Sou o mestre caboclo da dança. Eu montei um estilo de dança na frente de Estrela de Ouro”, conta Mestre Caboclo. “O Maracatu não pode terminar do jeito que começou. Então você tem que mudar uma estratégia na frente do maracatu pra ele não se acabar do jeito que começou. Fica sempre uma história”.

Tem a arte

“Quem segura o porta-estandarte. Tem a arte, tem a arte”. A letra da música Maracatu Atômico, escrita por Jorge Mautner e Nelson Jacobina e conhecida pela voz de Chico Science & Nação Zumbi, resume a nova exposição, diz o curador. “Essa frase é, para mim, emblemática de valorização da cultura popular. Essa frase quer dizer tudo”.

Afonso Oliveira é o curador da exposição – Paulo Pinto/Agência Brasil

É esta frase que abre a exposição e guiará o público a uma cenografia composta por documentos, vídeos, fotografias, objetos, textos, indumentárias e peças de artesanato. Tudo isso para contar a história dessa tradição cultural nordestina, que é considerada Patrimônio Cultural Brasileiro. Entre os objetos está uma medalha da Ordem do Mérito Cultural, que foi concedida pelo Ministério da Cultura, e uma Mesa de Jurema Sagrada, ritual religioso de origem indígena e cultuado por aqueles que fazem o Maracatu Rural.

Além de contar a história do maracatu, a exposição também apresenta o universo do trabalho, da religião e das influências que o Maracatu Rural exerceu sobre artistas contemporâneos como Chico Science, Gilberto Gil, Jorge Mautner e Siba.

Outra curiosidade da mostra é o destaque feito pelo curador à figura das mulheres. “As mulheres, como em toda a arte no Brasil, sempre foram discriminadas e escondidas. E no Maracatu Rural também. Mas a gente tem uma história interessante sobre as mulheres no Maracatu Rural. Elas criaram uma associação chamada Amunam, Associação das Mulheres de Nazaré da Mata, formada por mulheres agricultoras. E elas resolveram criar um maracatu rural, chamado Maracatu de Baque Solto Feminino Coração Nazareno, que esse ano completa 20 anos”, explicou Oliveira. “Esse Maracatu Coração Nazareno é o símbolo da luta da mulher da cana-de-açúcar”, destacou.

Todos esses elementos, disse o curador, ajudam a contar a história dessa tradição pernambucana, que é também uma história de resistência. “A exposição Maracatu Rural representa a luta de um povo contra o racismo que permeia toda a sociedade brasileira”, falou.

Exposição traz diversos elementos do maracatu- Paulo Pinto/Agência Brasil

“Aqui dentro do maracatu rural está toda a formação brasileira. Os povos originários tinham uma proposta de sociedade, mas eles foram dizimados ou impuseram a eles uma outra forma de viver, uma forma capitalista, uma forma autoritária, uma forma escravocrata. Depois, trouxeram de África os povos que foram escravizados e construíram essa loucura que é o Brasil, um país tão rico e diversificado culturalmente, mas tão cruel para quem não está no sistema”, disse o curador.

“Mas hoje o mundo está descobrindo que existem outras formas de viver, existem outras formas de cura, existem outras formas de trabalhar, existem outras formas de viver. E quando se traz uma exposição como essa para a Avenida Paulista, para São Paulo, local para onde muitas dessas pessoas deixaram o maracatu e passaram a viver, isso é de uma representatividade gigantesca”.

Mais informações sobre a exposição podem ser encontradas no site do Centro Cultural Fiesp.

Fábrica em Pernambuco vai abastecer SUS com remédio para hemofilia

A nova unidade fabril da Hemobrás em Goiana (PE) irá produzir um medicamento para o tratamento da hemofilia do tipo A, doença que atinge atualmente cerca de 12 milhões de pessoas no país. A capacidade produtiva será de 1,2 bilhão de unidades do medicamento fator VIII recombinante (Hemo-8r) por ano.

A fábrica será inaugurada nesta quinta-feira (3), com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Complexo Industrial da Hemobrás. Segundo a ministra da Saúde, Nísia Trindade, a previsão é que o medicamento produzido pela Hemobrás chegue ao Sistema Único de Saúde (SUS) a partir de setembro.

“A produção terá um impacto enorme na vida das pessoas com hemofilia, que sofrem muito em função de traumatismos, hemorragias e que agora vão ter a garantia de uma autonomia dessa produção a partir desse trabalho da Hemobrás”, explicou a ministra em coletiva de imprensa nesta quarta-feira (3).

O Hemo-8r é fundamental para o tratamento da hemofilia A, com a ampliação da profilaxia, que é a maneira mais eficaz para prevenir os sangramentos espontâneos e sequelas nas pessoas portadoras da coagulopatia.

Antes do início da oferta da produção nacional do medicamento, haverá um processo de qualificação, que prevê várias fases. “A produção nacional  não será disponibilizada para o SUS imediatamente, pois ainda deverá cumprir várias etapas de qualificação, até que a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] nos dê a certificação e a gente possa colocar de fato no mercado a produção nacional”, explicou a diretora-presidente da Hemobrás, Ana Paula Menezes.

Economia

O Hemo-8r já é fornecido para o SUS pela Hemobrás por meio de uma Parceria para o Desenvolvimento Produtivo (PDP). A expectativa é que, com a produção totalmente nacional, haja redução de 30% no preço do remédio, e consequentemente o aumento da oferta do medicamento no país.

“Do ponto de vista econômico, a nova fábrica representa uma autonomia frente a medicamentos essenciais, o domínio de uma tecnologia, a  capacidade de expansão até para novas tecnologias, além da redução de custos. Quem detém essa tecnologia tem uma vantagem muito grande do ponto de vista não só de mercado mas de uma competência científica que vai poder também alimentar outros produtos”, disse a ministra Nísia Trindade.

Estudo da Fiocruz acompanhará pacientes com covid longa em BH

O Instituto René Rachou, unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) situada em Belo Horizonte, deu início nesta terça-feira (2) a um estudo sobre a covid longa, que se configura quando os sintomas da covid-19 persistem após a fase aguda da infecção. Em alguns pacientes, os efeitos da doença são sentidos por diversos meses e até por mais de um ano.

De acordo com os pesquisadores, existem situações nas quais as sequelas afetam a qualidade de vida e não se resolvem espontaneamente, demandando tratamento. São mencionados casos envolvendo perda de cabelo, cansaço, fraqueza, perda de memória, dificuldade de concentração, trombose, diabetes, alteração da pressão arterial, dentre outras manifestações.

O estudo, conduzido em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte e com o Ministério da Saúde, foi batizado de Monitoramento Fiocruz Vita. O objetivo é caracterizar o perfil imunológico e hematológico dos pacientes com covid longa, verificando mudanças no sistema imune, no sangue e em diferentes órgãos e tecidos. Os pesquisadores pretendem avaliar as possíveis relações entre a doença e as alterações detectadas.

Moradores de Belo Horizonte maiores de 18 anos, que tenham covid longa, podem se voluntariar para participar do estudo respondendo a um formulário on-line, o que leva aproximadamente cinco minutos. Crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos também poderão fazer parte da pesquisa. Nesse caso, o cadastro deve ser realizado pelo responsável legal.

Após o preenchimento do formulário, é preciso aguardar o contato da equipe da Fiocruz, que informará sobre as próximas etapas. Os participantes do estudo serão atendidos por uma equipe clínica que vai avaliar a condição de saúde. Caso se confirme o diagnóstico de covid longa e se constate a necessidade de tratamento, o paciente será direcionado para o acompanhamento de uma equipe multiprofissional no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

Os pesquisadores irão monitorar esse processo e, ao longo de 18 meses, realizarão cinco encontros presenciais com os participantes. Eles avaliam que há avanços no entendimento da covid longa, mas que estudos como esse são importantes para ampliar e aprofundar o conhecimento.

PF e AGU firmam parceria com TSE para combater fake news nas eleições

A Polícia Federal (PF) e a Advocacia-Geral da União (AGU) fazem parte, a partir desta quarta-feira (3), do Centro Integrado de Enfrentamento à Desinformação e Defesa da Democracia (Ciedde). Criado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o grupo tem o objetivo de combater a divulgação de conteúdos falsos e as chamadas deepfakes, em especial durante os períodos eleitorais.

Segundo o TSE, o Ciedde promoverá, durante o período eleitoral, cooperações entre Justiça Eleitoral, órgãos públicos e entidades privadas, inclusive com a participação das plataformas de redes sociais e de serviços de mensagens instantâneas privadas.

A utilização irregular da inteligência artificial (IA), tecnologia que permite, por exemplo, a criação de vídeos falsos utilizando voz e imagem de personalidades públicas (deepfakes), é também uma preocupação do grupo para as eleições municipais de 2024.

Para lidar com esse problema, o Ciedde contará, em tempo real, com uma rede de comunicação envolvendo os 27 tribunais regionais eleitorais (TREs). Também caberá ao centro integrado desenvolver campanhas publicitárias de educação contra desinformação, discursos de ódio e antidemocráticos e em defesa da democracia e da Justiça Eleitoral.

Expertise e braço jurídico

Durante a cerimônia de assinatura do convênio que incluiu as duas entidades no grupo, o presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, disse que, no caso da PF, a corporação poderá contribuir significativamente por meio da expertise que tem na área cibernética, “tanto na prevenção quanto na rápida repressão, quando houver necessidade.”

“A AGU será o braço jurídico do Ciedde, para fazer cumprir as resoluções e as determinações do TSE, quando não houver esse cumprimento imediato. Teremos um contato; um link direto com a AGU”, disse Moraes. “Se comunicadas, as plataformas que não retirarem imediatamente [a notícia falsa ou a deepfake] terão, além das sanções administrativas, ações pecuniárias”, acrescentou.

O ministro disse, ainda, que as redes sociais não podem ser instrumentalizadas e capturadas “para realizar uma verdadeira lavagem cerebral do mal nos eleitores e nas eleições”, e que o Ciedde será um órgão eminentemente preventivo, de forma a evitar que haja necessidade da repressão.

“Quando acionado, atuará para descobrir aqueles que estão tentando manipular a vontade do eleitor. Vamos combater este que é o mal do século 21:  a desinformação e a utilização da inteligência artificial para criar deepfakes e atrapalhar a vida dos eleitores”, completou.

AGU

Também presente no evento, o advogado-geral da União, Jorge Messias, disse que democracia é princípio continente, sem o qual não existe Estado de Direito. “Hoje não se pode falar de democracia sem falar em combate à desinformação”, afirmou.

“A desinformação – o que eu tenho chamado de desordem informacional – é uma forma de corrupção do processo eleitoral. Esta é uma forma de corrupção do processo democrático porque tira do eleitor as condições necessárias para exercer com liberdade o seu direito ao voto, que é um direito sagrado previsto na nossa Constituição”, acrescentou.

Segundo Messias, percebe-se no Brasil e no mundo a ascensão de ferramentas desinformativas. “Mas nós sabemos exatamente quem opera esta máquina que é não apenas de desinformação, mas também de ódio programado para dividir as famílias e a sociedade brasileira, com interesses eleitorais.”

“Sabemos que isso não é algo desinteressado nem ingênuo. Trata-se de uma ação monetizada, profissional e extremamente sofisticada. Para combater esta iniciativa, o Estado brasileiro também precisa se profissionalizar e ter estruturas de inteligência integradas e bem equipadas. Este é o nosso propósito”, complementou.

Comissão reconhece Clarice Herzog como anistiada política

“Nenhum Estado tem direito de abusar de seu poder e investir contra seus próprios cidadãos”. Com estas palavras, a presidenta da Comissão de Anistia, a advogada Enéa de Stutz e Almeida, proferiu, nesta quarta-feira (3), um pedido de desculpas do Estado brasileiro à jornalista e publicitária Clarice Herzog, vítima da perseguição estatal durante o regime militar (1964-1985).

A concessão da declaração de anistiada política à viúva do jornalista Vladimir Herzog, torturado e morto em outubro de 1975, nas dependências do Departamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), do Exército, em São Paulo, foi aprovada por unanimidade. O julgamento do requerimento de anistia ocorreu em conjunto com um seminário que a Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados realizou para lembrar os 60 anos do golpe civil-militar de 1964.

Além de declarar Clarice anistiada política e pedir desculpas em nome do Estado brasileiro pela perseguição estatal que a jornalista e publicitária sofreu por anos, por contestar a versão oficial de que seu marido havia se enforcado em uma sala do Doi-Codi enquanto aguardava para prestar depoimento, a Comissão de Anistia aprovou o pagamento de uma indenização equivalente a 390 salários mínimos (cerca de R$ 550 mil), mas, com o teto legal, a viúva receberá R$ 100 mil. 

“A partir da análise conjunta da narrativa, do material probatório [reunido no processo] e do contexto histórico, são incontestes os atos de exceção mencionados e a inequívoca motivação política dos mesmos”, afirmou a relatora do processo, a conselheira Vanda Oliveira, ao proferir seu voto. “Fica claro que a requerente [Clarice] sofreu prejuízos decorrentes da atuação da ditadura militar instalada no Brasil em 1964, devido à privação da convivência familiar com seu marido, morto por motivação exclusivamente política”.

Segundo as informações apresentadas pelos representantes legais de Clarice, após assumir a direção de jornalismo da TV Cultura, Vladimir Herzog passou a ser “hostilizado por integrar o Partido Comunista”. Na manhã de 25 de outubro, ele se apresentou voluntariamente no DOI-Codi a fim de prestar esclarecimentos sobre sua atuação política e profissional. Horas mais tarde, Clarice recebeu a informação de que o marido tinha se matado.

“Desde então, ela tem travado uma luta contínua e permanente para esclarecer as circunstâncias e os responsáveis pela morte de Vlado. Viúva aos 34 anos de idade, Clarice foi a primeira [pessoa] a romper o silêncio e dizer “mataram o Vlado”, conduzindo os dias seguintes à morte com intervenções que davam cada vez mais visibilidade ao que tinha acontecido”, pontuou a conselheira Vanda Oliveira.

“Dali para frente, Clarice travou muitas lutas. A primeira contra a mentira forjada pelo Exército de que Vlado havia cometido suicídio. ‘Mataram Vlado’: uma frase que, não podendo ser escrita pelos jornalistas, passou a correr de boca em boca como uma senha contra a farsa montada pelos militares. Clarice não recuou diante de ameaças anônimas que recebeu por telefone. Nem com a constante vigilância policial montada diante de sua casa”, acrescentou a relatora, lembrando que, já em 1978, em pleno regime de exceção, Clarice recorreu à Justiça contra o Estado brasileiro e, em um fato histórico, obteve uma sentença do juiz Márcio José de Moraes condenando o Estado pela morte de Vladimir e obrigando-o a indenizar a família do jornalista. Em 2013, 38 anos após o crime, Clarice conseguiu a retificação do atestado de óbito, fazendo constar que seu marido foi mais uma vítima da violência do Estado brasileiro.

“A longa resistência de Clarice é uma luz que ilumina os erros que o país tem cometido diante da sua própria história. Ao ser tão determinada, ela ajudou o Brasil, um país que se acostumou ao esquecimento e à impunidade”, afirmou a relatora, lembrando que outras pessoas, como os jornalistas Rodolfo Konder e George Benigno Duque Estrada, que estavam nas dependências do Doi-Codi no mesmo dia, e o rabino Henry Sobel, que se recusou a enterrar Vlado no espaço do cemitério israelita destinado aos suicidas, entre outras, também passaram a questionar abertamente a versão oficial.

“Minha mãe nunca quis nenhuma reparação financeira”, destacou o engenheiro Ivo Herzog, filho de Vlado e Clarice e autor do requerimento de reparação à mãe, que, aos 82 anos e com Alzheimer, precisa de cuidados especiais. “Minha mãe não queria que se pagasse pela morte do meu pai. Tomei a decisão de entrar com este processo porque agora ela precisa”, disse Ivo ao lembrar um episódio com o escritor Marcelo Rubens Paiva, cujo pai, o ex-deputado federal Rubens Paiva, também foi morto pelo regime.

Ivo Herzog, filho de Clarice Herzog chora durante seu discurso na Comissão de Anistia- Lula Marques/ Agência Brasil

“O Marcelo Rubens Paiva me disse: “Teu pai, meu pai, eles não foram heróis. Foram vítimas. As verdadeiras heroínas foram as companheiras deles. As mães, irmãs e tantas outras que dedicaram suas vidas, com coragem, à busca pela verdade e justiça. Agradeço esta homenagem da Comissão de Anistia a Clarice Herzog, uma destas heroínas. Tenho muito orgulho de ser filho dela. E acho que todos devemos nos sentir muito privilegiados em termos tido Clarice e tantas outras heroínas ao nosso redor, lutando pela democracia neste país”.

Produção da indústria recua 0,3% em fevereiro, revela IBGE

A produção da indústria brasileira caiu 0,3% em fevereiro. É o segundo mês seguido de baixa. Em janeiro, o desempenho tinha sido de -1,5%. Os dados fazem parte da Pesquisa Industrial Mensal, divulgada nesta quarta-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Rio de Janeiro.

Apesar das duas quedas seguidas, no acumulado de 12 meses a indústria nacional apresenta evolução de 1%. Em janeiro de 2024, esse acumulado anual era de 0,4%.

O nível atual da produção industrial brasileira encontra-se 1,1% abaixo do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020, e 17,7% inferior ao ponto máximo da série, alcançado em maio de 2011.

Atividades

Comparando fevereiro com janeiro deste ano, dez dos 25 ramos industriais pesquisados mostraram redução na produção. As influências negativas mais importantes foram nos itens produtos químicos (-3,5%), indústrias extrativas (-0,9%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-6,0%).

Já entre as atividades que apontaram avanço, veículos automotores, reboques e carrocerias (6,5%) e celulose, papel e produtos de papel (5,8%) exerceram os principais impactos positivos.

No recorte das grandes categorias econômicas, o setor de bens intermediários recuou 1,2%, tendo sido a única taxa negativa dos quatro grupos pesquisados.

Entre os crescimentos, há destaque para o segmento de bens de consumo duráveis, que avançou 3,6% e apontou o crescimento mais acentuado nesse mês, após também avançar em janeiro (1,5%) e dezembro de 2023 (6,6%). Bens de capital (1,8%) e bens de consumo semi e não duráveis (0,4%) também registraram resultados positivos.

Na comparação de fevereiro de 2024 com fevereiro de 2023, houve uma alta de 5%. Nesse tipo de confrontação – mês com o mesmo período do ano anterior – essa foi a sétima alta seguida e a mais expressiva desde junho de 2021 (quando o resultado foi de 12,1%, em um soluço de recuperação parcial dos efeitos da pandemia de covid-19).

“O resultado de fevereiro teve perfil disseminado de taxas positivas e foi o mais elevado desde junho de 2021 (12,1%), sendo influenciado não só pela baixa base de comparação, mas também pelo efeito calendário, já que fevereiro de 2024 teve 19 dias úteis, um a mais que fevereiro de 2023”, explica o gerente da pesquisa, André Macedo.

Mostra no CCBB-Rio exibe 24 filmes do ator norte-americano Al Pacino

Começa nesta quarta-feira (3), no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (CCBB-RJ), a mostra inédita Pacino, que leva ao público 24 filmes mais marcantes da carreira do ator Al Pacino, que completará 84 anos no próximo dia 25.

Os ingressos para as sessões regulares no cinema do CCBB-RJ custam R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia entrada) e podem ser adquiridos a partir das 9h do dia da sessão, na bilheteria física ou pela internet. A mostra ficará em cartaz até 6 de maio, e a programação pode ser conferida aqui.

Além dos filmes, haverá um debate no dia 11 de abril (às 18h) com o curador da mostra Paulo Santos Lima, com a atriz Karine Teles e com o professor e diretor de cinema Pedro Henrique Ferreira.

Al Pacino interpreta Sonny Wortzik em Um dia de cão, de 1975 – Divulgação CCBB-RJ

No dia seguinte (12), terá início um curso de três aulas que se estenderá até o domingo (14), das 12h às 14h, com Paulo Santos Lima. O curso abordará a história da atuação no cinema e, em especial, o método moderno de atuação nos Estados Unidos, onde se formou Al Pacino. As inscrições para o curso devem ser feitas pelo e-mail cursopacinorj@fumacafilmes.com.br.

A mostra terá também uma sessão com recursos de acessibilidade (legendagem descritiva, audiodescrição e LIBRAS) do filme Um Dia de Cão (1975), de Sidney Lumet, no dia 19 de abril, às 15h30. O debate, o curso e a sessão inclusiva são gratuitos.

Continuidade

Falando à Agência Brasil, o curador Paulo Santos Lima explicou que, de certo modo, a mostra Pacino é uma continuação da mostra De Niro, realizada em 2019. “Daí, como se fosse uma continuação, a ideia de trazer Al Pacino que assim também é uma forma de voltar aos filmes, à história do cinema e, também, a essa referência enorme que é o Al Pacino”.

Serão exibidos filmes protagonizados pelo ator entre 1971 e 2019. “pegando um arco longo que também dá para a gente ver as mudanças que Al Pacino, ao longo da carreira dele, foi tendo, como atuação”.

Pacino interpreta Frank Serpico, no filme Serpico (1973) – Divulgação CCBB-RJ

Segundo Santos Lima, a trilogia O Poderoso Chefão, que está na mostra, foi responsável por inserir o ator em um certo imaginário coletivo. “Em qualquer lugar do mundo, alguém olha a imagem de Michael Corleone e remete a Al Pacino ou Al Pacino a Michael Corleone e ao Poderoso Chefão. Em Scarface isso também é bem marcante”, destacou o curador.

Paulo Santos Lima também destacou o período que considera ser o mais rico de Pacino, os anos da década de 1970, com Um Dia de Cão e Serpico, por exemplo, e 1990, com Perfume de Mulher, que deu a Pacino seu único Oscar.

O filme Advogado do Diabo também compõe a mostra Al Pacino – Divulgação CCBB-RJ

O curador observou que enquanto Robert de Niro se caracteriza por transformações extremas do corpo, Al Pacino é marcado pelo semblante, gestual e por uma atuação que mescla contenção e explosão.

Na avaliação de Santos Lima, a característica mais marcante de Al Pacino é no seu modo de atuar, influenciado pelo método do Actors Studio, como quase todos os de sua geração, a chamada Nova Hollywood, que tem um registro mais realista na atuação.

“Acho que Al Pacino é o grande ator a trazer no corpo, na expressão, uma certa condição de mundo. Ele, às vezes, parece extremamente abatido. Tem vários papéis dramáticos e, quando é comédia, é mais leve. Está ali Al Pacino sempre com uma respiração, uma lida com o estado das coisas. Isso é muito marcante no olhar e no trabalho dele, no geral”.

Homenagem

Essa é a maior mostra já realizada em homenagem a Al Pacino, com obras que vão desde o início de sua carreira no cinema, como Os Viciados (1971), seu primeiro trabalho como protagonista, passando pela trilogia de O Poderoso Chefão (1972, 1974, 1990), até filmes mais recentes como Era uma Vez em… Hollywood (2019).

Al Pacino é Don Corleone na trilogia Poderoso Chefão – Divulgação CCBB-RJ

O estilo de Al Pacino apresenta modulações desde o início da sua carreira, indo do naturalismo do cinema mais realista dos anos 1970 – em filmes como Serpico (1973), pelo qual ganhou seu primeiro prêmio Globo de Ouro e indicação ao Oscar de Melhor Ator, e Um Dia de Cão (1975), ambos de Sidney Lumet –; a algo mais expressivo nos anos 1980, como Scarface, de Brian De Palma, e, a partir dos anos 1990, a marca Al Pacino, que ia de uma atuação quase exagerada em Perfume de Mulher (1992), de Martin Brest, premiado com o Oscar e o Globo de Ouro de Melhor Ator, e Advogado do Diabo (1997), de Taylor Hackford, à precisão de obras-primas como O Pagamento Final (1993), de Brian De Palma, e Fogo contra Fogo (1995), de Michael Mann.

A mostra Al Pacino tem patrocínio do Banco do Brasil, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Do Rio de Janeiro, ela seguirá para o CCBB Brasília, de 2 de julho a 4 de agosto e, simultaneamente, no CCBB São Paulo, de 6 de julho a 18 de agosto.

Libertadores 2024: Fluminense estreia diante do Allianza Lima

Atual campeão da Libertadores, o Fluminense inicia a caminha para buscar o bicampeonato da competição continental diante do Allianza Lima (Peru), a partir das 21h30 (horário de Brasília) desta quarta-feira (3) no estádio Alejandro Villanueva, em Lima. A Rádio Nacional transmite o confronto ao vivo.

O Campeão da América está em Lima novamente! Pra começar muito bem a @LibertadoresBR de novo! 🇭🇺🇭🇺🇭🇺 pic.twitter.com/8IXh4WvPFG

— Fluminense F.C. (@FluminenseFC) April 2, 2024

Cabeça de chave do Grupo A do torneio, a equipe das Laranjeiras estreia fora de casa. Para esta partida o técnico Fernando Diniz tem vários problemas, pois não poderá contar com os suspensos John Kennedy (atacante) e Diogo Barbosa (lateral) e os lesionados Paulo Henrique Ganso (meio-campista), Germán Cano (atacante), Manoel (zagueiro), Marlon (zagueiro), Keno (atacante) e Gabriel Pires (meio-campista).

Apesar dos desfalques, o lateral Samuel Xavier, em entrevista coletiva, expressou confiança em uma boa atuação na estreia da Libertadores: “É ruim perder atletas por lesão, mas isso faz parte do futebol. Acreditamos muito em nosso elenco”.

Com tantos desfalques, o técnico Fernando Diniz terá que adotar uma formação alternativa, na qual há a possibilidade de abrir mão da presença de um centroavante de ofício: Fábio; Samuel Xavier, Felipe Melo, Thiago Santos e Marcelo; André, Martinelli e Renato Augusto; Jhon Arias, Douglas Costa e Lelê (Marquinhos).

😍 A mais desejada!

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— CONMEBOL Libertadores (@LibertadoresBR) March 19, 2024

O Fluminense terá como adversário o atual 6º colocado do Campeonato Abertura do Campeonato Colombiano, que chega motivado após vitória de 3 a 0 sobre o Club Deportivo los Chankas na última quinta-feira (28).

Transmissão da Rádio Nacional

A Rádio Nacional transmite Allianza Lima e Fluminense com a narração de André Luiz Mendes, comentários de Waldir Luiz, reportagem de Rodrigo Ricardo e plantão de Bruno Mendes. Você acompanha o Show de Bola Nacional aqui:

Mega-Sena acumula e prêmio principal vai a R$ 13 milhões

As seis dezenas do concurso 2.707 da Mega-Sena foram sorteadas na noite dessa terça-feira (2), no Espaço da Sorte, em São Paulo. Veja as dezenas sorteadas: 07 – 09 – 11 – 39 – 54 – 57.

O prêmio principal acumulou e vai a R$ 13 milhões. O sorteio do concurso 2.708 será realizado nesta quinta-feira (4).

A quina teve 43 apostas ganhadoras, cada uma vai pagar R$ 47.089,69. Já a quadra registrou 3.349 apostas vencedoras; os acertadores vão receber individualmente o prêmio de R$ 863,73.

As apostas para o próximo sorteio podem ser feitas até as 19h (horário de Brasília) de amanhã, nas casas lotéricas credenciadas pela Caixa, em todo o país ou pela internet. O jogo simples, com seis números marcados, custa R$ 5.

Mostra em São Paulo percorre trajetória da fotógrafa Claudia Andujar

Começa nesta quarta-feira (3), no Itaú Cultural de São Paulo, uma exposição sobre as experimentações e a trajetória da artista e fotógrafa Claudia Andujar. As imagens remontam à carreira da fotógrafa no fotojornalismo da revista Realidade, passando pelo fortalecimento da fotografia como arte, além do trabalho de registro e denúncia de violação de direitos feito junto aos indígenas yanomami.

O curador da mostra Claudia Andujar – cosmovisão, Eder Chiodetto, define a artista como filha “legítima” da geração de 1968.

Mostra gratuita começa nesta quarta-feira, 3 de abril – Claudia Andujar/divulgação

“É uma geração que vai mudar bastante o comportamento. E claro que tudo isso impactou muito o campo da arte. É um momento em que os artistas estão tentando deslocar a arte de novo – como tinha acontecido no surrealismo – nessa virada dos anos 60 para os anos 70, com a pop art, etc. Ela é filha legítima desse movimento.”

As séries de fotografias expostas revelam como Claudia tensiona a linguagem fotográfica, forçando os limites da fotografia tradicional para fazer uma representação mais legítima daquilo que ela almejava.

“Essa exposição é para surpreender, traz uma Cláudia que poucas pessoas conhecem. Eu mostro todo esse trajeto das experimentações dela ao longo da carreira, ela manipulando a fotografia de todo jeito possível, ou seja, expandindo o repertório narrativo da fotografia.”

As 135 obras estão divididas em 11 séries, expostas em dois andares do espaço Itaú Cultural. Entre as experimentações, Claudia utilizava filmes fotográficos infravermelhos, cromos riscados, filtros monocromáticos, imagens refotografadas com distorções e mutações de luzes e cores, justaposições e duplas exposições.

Ao longo da carreira, Claudia revisita seu acervo e trabalha as imagens de acordo com as intenções de determinado momento ou projeto. “É uma artista que nunca vai pensar a fotografia que sai da câmera como algo pronto. Em geral, depois que fotografa, ela vai fazer outras etapas de processamento, até chegar onde ela precisa.”

Logo no início da mostra, o público vai conhecer duas séries de fotografias que apresentam uma parte menos conhecida da sua produção, em trabalho para a revista Realidade. Uma delas é um conjunto de fotografias feitas para reportagem sobre homossexualidade, na década de 60, que acabou censurada na época.

“Essa daqui era para uma matéria que saiu com o título ‘homossexualismo’, ainda pensando como patologia. É 1967 isso, sob ditadura militar. E aí a reportagem sai só com o texto e as fotos são vetadas pela censura”, lembrou o curador.

Entre as imagens, estão duas mãos entrelaçadas, pessoas desfocadas e o uso da sombra em que se revela mais as silhuetas do que as identidades, além de uma cantora se apresentando.

“Dentro do viés da exposição, mesmo dentro de uma reportagem, que seria um documental tradicional, um fotojornalismo, ela já tem um jogo de cintura enorme para usar os desfoques, ela usa muito bem a sombra, os ângulos.”

Chiodetto relata que, no final do ano passado, essas mesmas fotografias foram expostas no museu de etnografia em Budapeste, na Hungria, que está sob o comando de um governo de extrema-direita.

“Essas fotos estavam num espaço lá. O ministro da Cultura da Hungria mandou parar a exposição, vetar, colocar isso tudo em uma sala fechada, proibir a entrada de menores de 18 anos e demitiu o diretor do museu por causa disso. Imagina, quase 60 anos depois, umas fotos dessas que você está vendo [aqui]”, contou.

Curadoria da mostra Claudia Andujar – cosmovisão é de Eder Chiodetto – Claudia Andujar/divulgação

Também extrapolando a linguagem tradicional, a segunda série foi feita a pedido da revista Realidade para representar pesadelos. “E é maravilhoso, ela fotografa o gato dela, uma escultura que ela tinha, uma boneca. Tudo isso aqui dentro do apartamento dela. Só que ela vai fazer fusão de imagem, uso de sombra, aqui é uma técnica que ‘frita’ a gelatina do negativo e se cria esse ruído [na imagem], para chegar na representação do pesadelo, que é algo não visível”, conta o curador.

Yanomami

Ainda na revista, ela faz os primeiros registros dos yanomami, na década de 1970, uma época em que a etnia estava sendo submetida a um contato externo mais intenso no contexto dos projetos de desenvolvimento do período da ditadura militar.

“Ela começa a perceber a inteligência dos yanomami no trato com a natureza e a espiritualidade deles, que é muito elevada, ela percebe a sofisticação desse povo.”

“Nessa viagem, ela tem o primeiro contato com os yanomami, que vai mudar a vida dela por completo de novo”, conta Chiodetto, acrescentando que a artista “faz uma relação análoga com o que aconteceu com os judeus: um grupo hegemônico atacando um grupo minoritário”.

Nascida na Suíça em 1931, de família judia, ela e a mãe fugiram do nazismo na Europa após verem grande parte da família ser levada para campos de concentração e assassinada.

Claudia faz os primeiros registros dos yanomami na década de 1970 – Claudia Andujar/divulgação

Claudia ficou muito próxima dos yanomami e, em 1976, ela se desloca até a aldeia. Ela atravessa de São Paulo até Roraima em 13 dias, em viagem com um fusca preto. A mostra apresenta uma série de retratos de indígenas, com as cores representando o verde da mata e o azul do céu, aponta o curador.

Outro conjunto de fotografias, já em outro ponto da mostra, ilustra o sofrimento dos yanomami diante das invasões de seu território: “a essa série ela dá o nome de Malencontro, pós contato dos indígenas com os brancos, a invasão do garimpo, a tragédia que se arrasta até hoje. Então, ela volta para as imagens de arquivo dela e, de novo, vai refotografar para criar uma atmosfera, uma tensão de como esse ‘malencontro’ estava sendo péssimo para os indígenas.”

As imagens correspondem a fotografias registradas na década de 1970 e submetidas a técnicas de processamento para uma exposição feita no Museu de Arte de São Paulo (Masp), em 1989, intitulada Genocídio do yanomami: morte do Brasil.

“Já era um manifesto contundente. Ela pega as imagens, ilumina com luz de vela e abajur e fotografa. Para ter esse tom dourado, que é o tom do ouro, da busca do ouro pelo homem branco que está garimpando e jogando mercúrio na água, levando muitos indígenas à morte.”

Novo trabalho

Exposição termina no final de junho – Claudia Andujar/divulgação

Aos 92 anos, Claudia Andujar faz uma releitura de uma série sua, em parceria com Eder Chiodetto, especialmente para esta exposição. Durante a viagem que fez a bordo do seu fusca preto, junto ao missionário Carlo Zacquini, ao encontro dos yanomami, ela fez um diário de viagem por meio de fotografias, sem sair do carro. “Ela fotografa e sempre tem a janelinha do fusca, a janela de trás, as laterais, da frente, como se fosse um outro visor. É uma série em preto e branco.”

Em alguns trabalhos, no passado, Andujar fez sobreposição de acrílicos coloridos nas fotografias. E foi isso que fizeram, desta vez, na série de imagens de sua viagem. “Levei a série fotográfica ampliada [até ela]. Para simular o acrílico, levei um monte de celofane colorido das cores que ela costumava usar e lá ela falava ‘vamos tentar aqui’, eu cortava ali com a tesoura na hora, enfim rolou. Ela fez dez peças novas”, contou o curador.

O nome da série é O voo de Watupari, o que remete à chegada dela ao território indígena. “Quando ela chega com o fusca na aldeia, os indígenas cercam ela, porque, primeiro, eles quase nunca viam um carro, era uma coisa muito rara. E eles começam a rir um monte e falam ‘mas, Claudia, você veio aqui a bordo de um urubu, de um watupari?’”, relatou. Watupari é como os yanomami chamam o urubu.

Principal trabalho

Sonhos Yanomami, a série mais importante da artista, segundo Chiodetto, materializa em imagens o universo da espiritualidade daqueles indígenas a partir das experimentações da artista. Em um de seus rituais, os indígenas entram em transe, têm miragens e depois relatam as visões que tiveram. “Claudia ficava encantada com as imagens que eles descreviam verbalmente e ficava incrédula que ela não podia traduzir isso em imagem. Era uma frustração dela.”

Décadas depois, em 2002, novamente revisitando seu acervo, ela sobrepõe sem querer imagens registradas em cromo. “E então ela começa a fazer isso propositalmente, e aí tem um êxtase, uma catarse, que vai gerar essa série aqui que se chama Sonhos Yanomami. Antes de mostrar para qualquer pessoa, ela manda para a aldeia e pergunta se isso tem alguma relação com essas imagens que eles descrevem quando voltam do transe. E eles ficaram enlouquecidos em como ela conseguiu isso”, contou Chiodetto.

“É a série mais importante dela: quando ela conseguiu materializar isso, fundindo o corpo dos indígenas, com a paisagem, com o céu, com o rio, com as árvores, com as rochas. Porque é muito da crença yanomami, de que rocha e fêmur e outras substâncias são feitas do mesmo átomo e tudo isso é uma energia cósmica e ela consegue sintetizar essa série Sonhos”, contou.

A mostra fica em cartaz até 30 de junho, no Itaú Cultural, localizado na Avenida Paulista, 149. Visitação ocorre de terça-feira a sábado, das 11h às 20h; domingos e feriados, das 11h às 19h, com entrada gratuita.