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Brasileirão Feminino começa com desafio à hegemonia do Corinthians

Duas partidas abrem nesta sexta-feira (15), às 19h (horário de Brasília), a 12ª edição da Série A1 (primeira divisão) do Campeonato Brasileiro Feminino de futebol. Na Vila Belmiro, em Santos (SP), as Sereias da Vila, donas da casa, medem forças com o Real Brasília, enquanto Ferroviária e Botafogo se enfrentam na Arena da Fonte Luminosa, em Araraquara (SP). Mais tarde, às 21h30, o Palmeiras recebe o Flamengo no Estádio Jayme Cintra, em Jundiaí (SP).

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— Brasileirão Feminino Neoenergia (@BRFeminino) March 15, 2024

A competição reúne 16 equipes, que duelam entre si em turno único. As oito mais bem colocadas avançam às quartas de final, enquanto as quatro últimas são rebaixadas à Série A2 (segunda divisão). O torneio será interrompido em 27 de junho, após a primeira fase, devido à Olimpíada de Paris, na França. O mata-mata está previsto para começar no dia 16 de agosto.

Segundo a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), os 16 clubes receberão uma cota de R$ 300 mil pela participação. Os oito classificados às quartas levam mais R$ 100 mil. Os semifinalistas embolsarão outros R$ 100 mil. O campeão terá direito a R$ 1,5 milhão, enquanto o vice ficará com R$ 750 mil. Conforme a entidade, houve um reajuste de 25% na premiação.

Alvinegras favoritas

O Corinthians larga como principal favorito ao título. O Timão é o maior vencedor do Brasileirão, com cinco títulos, sendo os últimos quatro consecutivos. A novidade em relação a outros anos é que as Brabas, pela primeira vez, não terão Arthur Elias no comando. O treinador multicampeão assumiu a seleção brasileira feminina, dando lugar a Lucas Piccinato, ex-Internacional. Já com o novo técnico, as Alvinegras ergueram outro troféu: o do tri da Supercopa do Brasil, em fevereiro.

As Brabas detêm a hegemonia do Brasileirão Feminino, com cinco títulos, sendo os últimos quatro consecutivos – Fernanda Luz/ Staff Images Woman/ CBF/Direitos Reservados

Nesta década, o Corinthians conquistou dez dos 12 títulos que disputou. As exceções foram a Libertadores e o Campeonato Paulista de 2022, vencidos pelo Palmeiras. Para tentar interromper a hegemonia alvinegra mais uma vez, o Verdão se reforçou em massa. Entre as 13 caras novas do elenco, algumas vieram do próprio Timão, casos da zagueira Giovanna Campiolo e da volante Diany. Chegaram, ainda, jogadoras de outros rivais, como a lateral Fê Palermo (São Paulo), a volante Brena e a atacante Tainá Maranhão (ambas Santos).

As Palestrinas bateram na trave no Brasileirão de 2021, superadas pelo próprio Corinthians na final. No ano passado, a vítima alvinegra foi a Ferroviária, que trouxe 11 novas jogadoras para escrever um novo roteiro em 2024. Entre elas, a lateral Kati, a zagueira Andressa (ambas campeãs pelo Timão) e a meia Duda Santos (ex-Palmeiras).

A equipe do interior paulista é uma das duas únicas a terem desbancado o Corinthians em uma decisão nacional. Em 2019, as Guerreiras Grenás levaram a melhor contra as Brabas, garantindo o segundo título brasileiro de sua história (o primeiro foi em 2014). Dois anos antes, o Santos levantou a taça diante do rival da capital, liderado pela centroavante argentina Sole Jaimes.

Estrangeiras em alta

A edição deste ano, aliás, terá um número recorde de estrangeiras: Serão 48, distribuídas por 12 clubes. As Sereias da Vila têm, justamente, o elenco com mais jogadoras de fora: oito, incluindo a meia Suzane Pires, que é paulista, mas defende Portugal. O grupo alvinegro também reúne três norte-americanas, que se naturalizaram para jogar por Filipinas (a goleira Olivia McDaniel e a zagueira Reina Bonta) e Nicarágua (a meia Hannah Lee).

O Real Brasília aparece na sequência, com sete atletas do exterior. Entre elas, as meias Lady Andrade e Lorena Bedoya, que participaram da histórica campanha da Colômbia na Copa do Mundo do ano passado (quartas de final). O Avaí Kindermann, vice em 2020, tem seis jogadoras de fora, com destaque às meias Lourdes González e Ramona Martínez, que defenderam o Paraguai na Copa América de 2022.

O elenco do Red Bull Bragantino também conta com seis estrangeiras, empatado com as Leoas Avaianas. Cinco chegaram nesta temporada, enquanto a argentina Paulina Gramaglia, de apenas 20 anos e que esteve no Mundial de 2023, é uma das remanescentes do título da Série A2 do ano passado. A atacante foi a artilheira da competição nacional, com dez gols.

Assista a Red Bull Bragantino e Corinthians, pelo Campeonato Brasileiro Feminino Sub-20, na Massa Bruta TV! 📺

🎥: https://t.co/ACPz2iapAG#RedBullBragantino pic.twitter.com/HZsEKkpB5u

— Red Bull Bragantino (@RedBullBraga) March 14, 2024

Domínio paulista

O acesso do Massa Bruta elevou para seis o número de representantes paulistas no Brasileirão. Na história da competição, iniciada em 2013, sempre houve pelo menos uma equipe de São Paulo na final. Em 11 edições do campeonato, o título ficou no estado dez vezes.

Entre os clubes paulistas que disputarão o torneio em 2024, apenas Bragantino e São Paulo nunca foram à decisão. As Soberanas chegaram quatro vezes às semifinais – inclusive na do ano passado. No elenco de 2024, o destaque é a presença significativa de jogadoras da base. Entre as 30 atletas do time profissional, 12 foram reveladas pelo Tricolor. Caso da atacante Dudinha, de 18 anos, que representou o Brasil nos Mundiais sub-17 e sub-20 de 2022.

O único time a destronar o futebol paulista no Brasileirão foi o Flamengo, campeão em 2016 contra o Rio Preto. Para repetir o feito, o Rubro-Negro manteve a base de 2023 e contratou nove reforços. A maioria deles experientes, como a zagueira Day Silva (Ferroviária), a meia Djeni (Internacional), a lateral Fabi Simões e, principalmente, a atacante Cristiane (ambas Santos).

A chegada da centroavante de 38 anos movimentou a Gávea e foi celebrada, também, pelo elenco masculino. A veterana já foi à campo sete vezes em 2024, sendo uma pela Supercopa do Brasil e seis pela Copa Rio, torneio quadrangular que reuniu os quatro principais clubes do estado, em jogos de ida e volta. Cristiane encerrou a competição como artilheira, com cinco gols.

Rivalidades estaduais

Apesar disso, o título ficou com o Botafogo, comandado pelo técnico Jorge Barcellos, que levou a seleção feminina aos vices da Copa do Mundo de 2007 e da Olimpíada de Pequim, na China, no ano seguinte. Em 2023, as Gloriosas conquistaram o retorno à primeira divisão, ao chegarem às semifinais da Série A2.

Na ocasião, as alvinegras foram superadas pelo Fluminense, que obteve o inédito acesso à elite do Brasileirão. As Tricolores modificaram bastante o elenco em relação à temporada passada, com 15 caras novas. Destaque à atacante Mileninha, artilheira da Copinha Feminina pelo Internacional.

Lute como uma Spartana! ⚔️💪🏿👩🏿

As novas armaduras das Spartanas ficaram lindas demais, Nação Americana! 😍

As nossas jogadoras já vão estrear neste sábado, na primeira partida da nossa história da Série A-1, contra o Internacional, na Arena Gregorão, às 15h!

🎟️ Adquira seu… pic.twitter.com/gxbh4cR6RV

— América FC (@AmericaFC1912) March 15, 2024

Outra novidade entre os participantes desta edição é a volta do América-MG, que estava há oito anos fora da elite. Além das Spartanas, Minas Gerais estará representado por Atlético-MG e Cruzeiro. As Cabulosas foram finalistas da Supercopa do Brasil, superadas pelo Corinthians, além de campeãs estaduais em cima das rivais Vingadoras, que renovaram todo o elenco e contrataram 22 jogadoras. Nenhum time se reforçou tanto quanto as atleticanas.

Rivalidade em alta, também, no sul do país. Vice em 2022, o Internacional tem como destaques a experiente zagueira Bruna Benites, que defendeu o Brasil em três Olimpíadas, e a jovem atacante uruguaia Belén Aquino, que fez o gol do título da Ladies Cup, torneio que encerrou a última temporada. O Grêmio também conta com uma veterana de Seleção (a atacante Raquelzinha), manteve no elenco a meia Rafa Levis (titular no Mundial sub-20 de 2022) e se reforçou com a zagueira Tayla, outro nome com experiência vestindo a amarelinha.

Jogos da 1ª rodada do Brasileirão

Sexta-feira (15)

19h – Santos x Real Brasília (Vila Belmiro)

19h – Ferroviária x Botafogo (Arena da Fonte Luminosa)

21h30 – Palmeiras x Flamengo (Jayme Cintra)

Sábado (16)

15h – Fluminense x Atlético-MG (Luso-Brasileiro)

15h – Avaí Kindermann x Red Bull Bragantino (Salézio Kindermann)

16h – Cruzeiro x São Paulo (Castor Cifuentes)

16h – América-MG x Internacional (Arena Gregorão)

Segunda-feira (18)

20h – Grêmio x Corinthians (Aírton Ferreira da Silva)

Quase 10 milhões de jovens sem ensino básico estão fora da escola

No Brasil, 9,8 milhões de jovens, de 15 a 29 anos – ou 19,9% da população dessa faixa etária – não concluíram a educação básica (formada pela educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio) e não frequentam escolas, segundo dados da pesquisa Juventudes Fora da Escola, do Itaú Educação e Trabalho e da Fundação Roberto Marinho, baseada em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022. 

De acordo com o levantamento, divulgado nesta segunda-feira (11), a maioria desses jovens (78%) provém de famílias com renda per capita de até um salário-mínimo (R$ 1.412,00), e sete em cada dez (70%) são negros. A maioria (43%) não terminou o Ensino Fundamental; 22% completaram o Ensino Fundamental mas não iniciaram o Médio; e 35% têm o Ensino Médio incompleto.

Oito a cada dez desses jovens estão fora da escola há mais de dois anos – a média, segundo a pesquisa, é de seis anos fora da escola. A maioria deles (84%) fazem parte da força de trabalho – 69% estão ocupados e, desses, 67% estão ocupados na informalidade.

“Os dados revelam a questão do mundo do trabalho como central na decisão desses jovens que estão fora da escola, seja na tomada de decisão para interromper os estudos, seja para retomá-los. Temos o compromisso constitucional de, na escola, formarmos profissionalmente os jovens, para que eles tenham condições de garantir inserção produtiva digna e dar sequência na carreira que desejarem optar”, destaca a superintendente do Itaú Educação e Trabalho, Ana Inoue.

A pesquisa mostra que 73% dos jovens disseram que pretendem concluir a educação básica. Entre as principais razões para terminar o ensino, os jovens apontam a perspectiva de melhora da condição profissional, seja para ter um emprego melhor (37%) ou arrumar um emprego (15%), seguido pelo desejo de cursar uma faculdade (28%).

Já os 27% que responderam não pretender concluir o ensino indicaram como principais razões para isso a necessidade de trabalhar (32%), seguida por precisar cuidar da família (17%). Do total de jovens ouvidos, 92% concordam que concluir a educação básica ajudaria a ter melhores oportunidades de trabalho. 

“Fortalecer a educação profissional e tecnológica é fundamental nesse sentido, para que os jovens tenham formação adequada e alinhada às tendências do mundo do trabalho, assim como é urgente criarmos condições para que essa parcela da população estude e tenha oportunidades profissionais”, ressalta Inoue.

Em nota, o Ministério da Educação disse que o governo federal instituiu em 2024 o programa Pé-de-Meia, destinado a promover a permanência e a conclusão escolar de pessoas matriculadas no ensino médio público. “Seu objetivo é democratizar o acesso e reduzir a desigualdade social entre os jovens do ensino médio, além de promover mais inclusão social pela educação, estimulando a mobilidade social”. 

No Rio, Clube do CCBB debate literatura feminina negra

O Clube de Leitura do Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro (CCBB RJ) inicia suas atividades anuais, no próximo dia 13, no Salão de Leitura da Biblioteca, a partir das 17h30, tendo como tema de estreia, em alusão ao mês da mulher, a literatura negra feminina no Brasil.

“Na verdade, nos reunimos em torno de uma pergunta: Literatura tem gênero e cor?”, disse à Agência Brasil a curadora do clube, Suzana Vargas, poeta, ensaísta, escritora, professora e mestre em teoria literária pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

As rodas de conversa ficarão gravadas e serão disponibilizadas no canal do Banco do Brasil no YouTube, na semana seguinte ao evento.

Para o encontro de abertura, foram convidadas duas escritoras negras: Marilene Felinto, autora da obra As Mulheres de Tijucopapo, escrita na década de 1980 e que foi definida como uma bandeira do feminismo, e a escritora contemporânea Eliana Alves Cruz, com o livro O Crime do Cais do Valongo, que aborda a questão da negritude, tendo como pano de fundo a história do Brasil escravocrata.

O debate conta com participação especial da poeta e filósofa Viviane Mosé. Nele serão levantadas, entre outras questões, se uma mulher pode escrever como homem ou um homem pode escrever como mulher; e quais são as marcas de que uma literatura é feminina ou negra, informou Suzana Vargas.

Os dois livros que serão discutidos foram escolhidos por votação popular entre os participantes do Clube no X (antigo Twitter), logo depois do carnaval. Foram sugeridos ao público dois livros de cada autora convidada.

Autoras

Marilene Felinto é pernambucana, jornalista e escritora, graduada em letras. É também tradutora, romancista e cronista. Seu primeiro livro, As mulheres de Tijucopapo, ganhou o Prêmio da União Brasileira dos Escritores (1981) e o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, em 1982.

“É sempre surpreendente que o romance As Mulheres de Tijucopapo, publicado 42 anos atrás, escrito quando eu tinha 22 anos, desperte a atenção de gerações mais jovens, como acontece hoje”, destacou Marilene. Eliana Alves Cruz é escritora, roteirista, jornalista e apresentadora. Ganhou o Prêmio Jabuti de contos, em 2022.

A obra As Mulheres de Tijucopapo narra a viagem de retorno da narradora Rísia a Tijucopapo, local fictício de nascimento de sua mãe, evocando a história real do local, em Pernambuco.

No século 17, a cidade foi palco de uma batalha entre mulheres da região e holandeses interessados em saquear o estado. Nas entrelinhas, As Mulheres de Tijucopapo revelam as contradições inerentes à sociedade e à cultura multirracial brasileira.

Já O crime do Cais do Valongo é um romance histórico policial que começa em Moçambique e se estende até o Cais do Valongo, que foi porta de entrada de cerca de um milhão de escravizados entre 1811 e 1831 no Rio de Janeiro e reconhecido como patrimônio da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 2017.

Tema contemporâneo

Na avaliação de Suzana Vargas, a literatura feminina negra é um tema muito contemporâneo, que precisa de reflexão. “Tanto para quem faz literatura, como para quem é leitor. Porque o Brasil está vivendo um momento em que as questões da negritude, as questões da mulher, a diversidade, estão muito presentes hoje na produção literária contemporânea. Assim como a literatura indígena”.

Por isso, a curadora acredita que o Clube de Leitura vem trazendo um modo de formar e informar os seus leitores sobre as questões principais da literatura produzida no Brasil atual. “Acho que, de fato, é uma discussão urgente e importante nesse dia, com as duas autoras e personagens que a gente vai poder brindar o público, e com a literatura que elas produzem”. Este será o quarto ano do Clube de Leitura do CCBB RJ.

Calendário

O Clube de Leitura do CCBB RJ terá dez encontros este ano, cada um com duração de uma hora e meia. Até o próximo mês de julho, já estão definidos os temas e convidados que participarão das atividades. A retirada dos ingressos é feita a partir das 9h do dia do evento na bilheteria física ou no site.

Em abril, o clube terá como tema caminhos e descaminhos indígenas. Participarão a autora Eliane Potiguara e a jornalista, escritora e documentarista Eliane Brum. O convidado especial será Anapuaka Tupinambá, comunicador e entusiasta da cultura digital indígena. É fundador e presidente-executivo (CEO) da Rádio Yandê, primeira rádio indígena do Brasil.

Em maio, o clube vai tratar do escritor clássico brasileiro Lima Barreto. Quem falará sobre ele é Lilia Schwarcz, historiadora e antropóloga brasileira, e Beatriz Resende, pesquisadora e professora titular de letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Suzana Vargas será a mediadora.

Em junho, o tema de debate será a escritora Clarice Lispector e seu livro A Paixão Segundo G.H. O cineasta Luiz Fernando Carvalho, que está lançando um filme sobre essa obra, conversará com o público, além da biógrafa da escritora, Nádia Gotlib, e a roteirista Melina Dalboni. Haverá participação especial da atriz Maria Fernanda Cândido, por vídeo conferência, que fez o papel de Clarice Lispector no filme.

Para o encontro de julho, o tema escolhido é As 7 Cores da Palavra, Literatura e Diversidade. Já estão confirmadas as presenças de Guilherme Terreri Lima Pereira, mais conhecido pelo nome artístico Rita von Hunty, que é professor, ator, youtber, comediante, palestrante e drag queen brasileiro, e Tom Grito, artista trans que defende a tradição da poesia falada. A programação do segundo semestre ainda está sendo elaborada.

No ano passado, 1.243 pessoas participaram presencialmente do Clube, que recebeu os escritores Paula Tavares; Milton Hatoum; Gonçalo Tavares; Gregório Duvivier; Cida Pedrosa; Eliakin Rufino; José Eduardo Agualusa; Luiz Fernando Carvalho e Ítalo Moriconi; Conceição Evaristo; Mia Couto; e Antonio Torres. 

Vasco e Nova Iguaçu empatam no 1º jogo das semifinais do Carioca

Vasco e Nova Iguaçu empatara  em 1 a 1 na partida de ida da semifinal do Campeonato Carioca, noite deste domingo (10), no Maracanã, O Cruzmaltino foi dominado pelo rival na maior parte do tempo e saiu atrás.

UM EMPATE EMOCIONANTE! Em um jogo eletrizante, @oficialnifc abre o placar, cria diversas chances, mas o @VascodaGama reage e busca o empate na segunda etapa! ⚽️

Ficou tudo pro segundo jogo!

📸 Úrsula Nery/FERJ #CariocaBetNacional pic.twitter.com/tNJPTkH4yG

— Cariocão (@Cariocao) March 10, 2024

O primeiro gol do jogo foi marcado pelo meia Xandinho aos sete minutos do segundo tempo, que finalizou de calcanhar para marcar um belo gol..Houve revisão do lance pelo VAR, que confirmou a posição do atacante Carlinhos no começo da jogada, antes de rolar a bola para Xandinho abrir o placar.  O Vasco, mesmo sem jogar bem, empatou aos 33 minutos. Payet cobrou falta, Sforza cabeceou para o meio da área e Piton definiu também de cabeça para igualar o marcador.

A partida de volta será no próximo domingo (17). O mando de campo será do Nova Iguaçu, que ainda não divulgou o local do jogo. Em caso de novo empate, o classificado à final será o Nova Iguaçu. Para se classificar à decisão do título carioca, o Vasco precisará vencer o próximo jogo.

Grêmio supera Brasil de Pelotas e avança às semifinais do Gauchão

O Grêmio está classificado à semifinal do Campeonato Gaúcho. Precisando apenas do empate e jogando em casa, o Tricolor fez 2 a 0 no Brasil de Pelotas na noite deste domingo (10), em Porto Alegre. Agora, o time comandado pelo técnico Renato Portaluppi vai enfrentar o Caxias em busca de uma vaga na decisão do título estadual. O primeiro duelo da semi será na Serra Gaúcha e o outro na capital gaúcha. 

Fim de jogo: #Grêmio 2×0 Brasil de Pelotas
CLASSIFICADOS! Com uma bucha do Cristaldo e um gol de centroavante do Diego Costa, vencemos o Brasil de Pelotas aqui na Arena e seguimos em busca da sétima taça seguida!
🇪🇪 #GRExGEB #Gauchão2024 pic.twitter.com/HTwojpVPqj

— Grêmio FBPA (@Gremio) March 10, 2024

Os gols neste domingo (10) foram marcados pelo meia argentino Franco Cristaldo, em belo chute de fora da área aos 45 minutos da primeira etapa, e pelo centroavante Diego Costa, que aproveitou a bola rebatida na área para definir o placar aos 23 minutos da etapa final. 

Na outra semi do Gauchão, o Internacional medirá forças com o Juventude. As datas dos jogos dos dois duelos ainda não foram definidas pela Federação Gaúcha de Futebol.

* Texto atualizado às 21h41 para correção do local da partida do Grêmio contra o Brasil de Pelotas: o jogo for realizado na Arena Grêmio, em Porto Alegre.

Internacional faz 3 a 0 no São Luiz e avança às semifinais do Gauchão

O Internacional avançou às semifinais do Campeonato Gaúcho na tarde deste sábado (9), ao ganhar em casa do São Luiz por 3 a 0, chegando a nona vitória seguida. O atacante equatoriano Enner Valencia e o zagueiro Igor Gomes marcaram no primeiro tempo no Estádio Beira Rio, em Porto Alegre, e o meia Maurício fechou a goleada na etapa final. 

CLASSIFICADOS! 🥰🥰🥰🥰🥰🥰

Valencia, Igor Gomes e Mauricio marcam, Inter goleia o São Luiz por 3 a 0 e avança para as semifinais do Gauchão 2024. VAMOS, COLORADO! ❤️🇦🇹❤️🇦🇹❤️🇦🇹❤️🇦🇹 pic.twitter.com/LAv5LFofhj

— Sport Club Internacional (@SCInternacional) March 9, 2024

A vitória começou a ser construída logo aos quatro minutos de jogo. O lateral Bustos foi até a linha de fundo e cruzou na cabeça do atacante equatoriano. Valencia só completou para as redes. Aos 16 minutos, o meia Alan Patrick cruzou na área, na medida para o zagueiro Igor Gomes ampliar de cabeça.

Com a vitória e a vaga na próxima fase já encaminhadas, o Inter baixou o ritmo na segunda etapa. Mas, depois de perder várias chances, ainda teve tempo para marcar o terceiro gol. Lucca fez boa jogada, mas perdeu a bola na entrada da área. Houve bate-rebate, e a bola sobrou para o meia Maurício, que limpou a jogada e só rolou para as redes.

Na semifinal, o Inter vai enfrentar o vencedor de outro duelo das quarta de final: o Guarany de Bagé, que tem a vantagem do empate, enfrenta o Juventude, a partir das 19h30 (horário de Brasília) deste sábado (9).

Fluminense e Flamengo abrem semifinais do Campeonato Carioca

O Fluminense recebe o Flamengo no estádio do Maracanã, a partir das 21h (horário de Brasília) deste sábado (9), na partida que abre a disputa das semifinais do Campeonato Carioca. A Rádio Nacional transmite ao vivo o clássico.

O Tricolor das Laranjeiras entra no confronto com a intenção de conseguir abrir alguma vantagem sobre a equipe da Gávea, que pode garantir a passagem para a final mesmo com a igualdade na soma dos placares dos confrontos das semifinais. Assim, como tem o mando de jogo nesta primeira partida, o ideal é que o Fluminense alcance a vitória.

Tudo ficando pronto pra decisão de sábado!

📸: Marcelo Gonçalves/FFC pic.twitter.com/AS6FLBv6hg

— Fluminense F.C. (@FluminenseFC) March 7, 2024

Porém, para seguir vivo na competição a equipe comandada pelo técnico Fernando Diniz terá que quebrar uma incômoda sequência, de 11 partidas sem vitórias em clássicos. Em entrevista coletiva, o meia-atacante colombiano Jhon Arias afirmou que o jogo contra o Flamengo é a oportunidade perfeita para mudar esta história: “Infelizmente, por lances do jogo, erros individuais, erros coletivos, perdemos os clássicos. Temos consciência. O Fluminense não é time para ficar esse tempo todo sem vencer clássicos. Agora, temos a oportunidade perfeita para voltarmos a vencer e garantir a classificação para a final”.

Apesar do otimismo do colombiano o Fluminense tem desfalques importantes para a partida: o volante André, suspenso após levar um cartão vermelho no clássico com o Botafogo, e os lesionados Samuel Xavier, Douglas Costa e Marlon. Desta forma o técnico Fernando Diniz deve mandar a campo a seguinte equipe: Fábio; Guga, Felipe Melo, Thiago Santos e Marcelo; Martinelli, Renato Augusto (Lima) e Ganso; Keno, Arias e Cano.

O adversário do Tricolor será um Flamengo que vive um grande momento, após fazer a melhor campanha na Taça Guanabara. Até aqui no Carioca o Rubro-Negro disputou 11 partidas (com 8 vitórias e 3 empates) nos quais marcou 23 gols e sofreu apenas 1.

Uma novidade do Rubro-Negro para a partida, que deve estar no banco de reservas, é o zagueiro Léo Ortiz, que acaba de ser contratado junto ao Bragantino. E o defensor expressou, em entrevista, confiança para o clássico decisivo com o Fluminense: “Muito bom chegar em um momento como esse, já com um clássico. Uma semifinal, um momento importante para o clube, próximo de conquistar mais um título. Espero que façamos dois bons jogos contra o Fluminense, para que consigamos chegar à final e possa já chegar pé-quente, chegar campeão”.

Preparados para a primeira partida da semi do @Cariocao! 🔴⚫️ #VamosFlamengo

📸: Marcelo Cortes /CRF pic.twitter.com/Jsi6sAMlAU

— Flamengo (@Flamengo) March 8, 2024

Para o confronto o técnico Tite tem três problemas para escalar sua equipe: o atacante Gabriel Barbosa e o lateral Wesley, que se recuperam de lesões musculares, e o volante Gerson, que realizou uma cirurgia no rim.

Assim, a provável escalação do Flamengo deve ser: Rossi; Varela, Fabrício Bruno, Léo Pereira e Ayrton Lucas; Pulgar, De la Cruz e Arrascaeta; Luiz Araújo, Everton Cebolinha e Pedro.

Transmissão da Rádio Nacional

A Rádio Nacional transmite Fluminense e Flamengo com a narração de André Marques, comentários de Rodrigo Campos e reportagem de Bruno Mendes. Você acompanha o Show de Bola Nacional aqui:

“Clientes nos confundem com garçons”, reclama entregador de aplicativo

Sofrer episódios de agressão, ofensa e humilhação são rotina no cotidiano de entregadores de aplicativo. A percepção foi relatada à Agência Brasil por trabalhadores das duas maiores cidades do país, Rio de Janeiro e São Paulo. O caso mais recente de repercussão foi o do entregador da plataforma iFood Nilton Ramon de Oliveira, de 24 anos, baleado por um cliente policial militar (PM) na segunda-feira (4), em Vila Valqueire, zona oeste do Rio de Janeiro.

O motivo do desentendimento entre Nilton e o cabo Roy Martins Cavalcanti foi a exigência do cliente para que o pedido fosse entregue na porta da casa do PM. Nilton foi baleado na perna e está internado no Hospital Municipal Salgado Filho. O quadro dele é grave. O cabo da PM se apresentou a uma delegacia, prestou depoimento e foi liberado. A Polícia Civil investiga o caso, e a Corregedoria da PM abriu um procedimento interno.

O iFood reforça que os entregadores não têm obrigação de levar os pedidos até a porta dos apartamentos. “A entrega tem que ser realizada no primeiro ponto de contato, ou seja, no portão da residência ou na portaria do condomínio. O que aconteceu com o Nilton é inaceitável e condenável”, diz a gerente de Impacto Social do iFood, Tatiane Alves.

Segundo ela, a empresa entrou em contato com a família do entregador e se colocou à disposição para todo tipo de apoio. “Espero que o caso não fique impune e que o Nilton se recupere muito em breve. Vamos acompanhar de perto esse caso”, afirma.

Passado escravocrata

O entregador Bruno França trabalha no centro do Rio de Janeiro. Ele contou que todos os dias acontecem casos de ofensas e desentendimentos entre clientes e entregadores. Para ele, a raiz do problema tem relação com o passado escravocrata do país.

“Eu acho que a história de como foi construído o Brasil permeia até hoje. As reverberações do que aconteceu no passado influenciam a nossa vida. Não tenho dúvida de que isso tem ligação com o racismo. Muitos clientes, dentro de uma visão histórica escravocrata brasileira, acreditam que a gente tem que subir até o apartamento, colocar um babador e colocar comida na boca deles”, diz o entregador.

Bruno França conta que os desentendimentos com clientes são frequentes – Vinícius Ribeiro/Divulgação

Outra queixa de Bruno é que a plataforma, na avaliação dele, não deixa claro para o cliente que os entregadores não são obrigados a fazer a entrega na porta do apartamento.

“Todo dia acontece isso [desentendimento] porque muitos clientes entendem que a gente é obrigado a subir”. Ele cita ainda que, eventualmente, há um descumprimento da lei em vigor na cidade do Rio que proíbe a distinção no uso de elevadores entre social e de serviço.

O entregador também aponta a falta de direitos trabalhistas como um dos motivos para a categoria ser alvo de agressões e ofensas.

“Marginalização em relação ao mundo do trabalho. Não temos direito algum. A gente vive em uma sociedade violenta. Dentro dessa perspectiva desses agressores, eles nos veem como alguém sem direitos e que pode ser agredido, pode ser violado.”

Garçons

Rafael Simões faz entregas na cidade de Niterói, região metropolitana do Rio. Ao conversar com a reportagem da Agência Brasil, pouco antes do meio-dia, ele avisou: “Vamos rapidinho porque está chegando o horário de pico, sabe como é, né?”

Ele compartilha da opinião de que o passado do país tem a ver com a forma atual como entregadores são tratados por alguns clientes.

“O cliente acha que é obrigação [entregar no andar]”, reclama Rafael Simões, que trabalha em Niterói – Rafael Simões/Arquivo Pessoal

“A gente vive nessa sociedade assim. O pessoal está realmente pensando que a gente é escravo”, diz.

“O cliente acha que é obrigação [entregar no andar]. O cliente está confundindo entregador com garçom. Nós não somos garçons”, reclama Rafael.

Rafael Simões conta que muitas vezes o entregador opta por deixar o pedido na porta do cliente para evitar problemas e também não perder tempo esperando a pessoa descer – muitas vezes com pressa nenhuma. “Às vezes, para evitar o problema, a gente sobe. Mas não é obrigação.”

Agressões

A comparação de Bruno e Rafael com o tempo de escravidão ganha mais significância ao se lembrar o caso de Max Ângelo dos Santos. Em abril de 2023, o entregador negro foi “chicoteado” com uma coleira de cachorro por uma mulher branca que se sentiu incomodada com a presença de entregadores em uma calçada, em São Conrado, bairro nobre na zona sul do Rio de Janeiro.

Em outro caso de repercussão, também em São Conrado, um entregador compartilhou nas redes sociais a abordagem de uma mulher que desceu até a portaria do prédio com um cutelo, depois de ele ter se recusado a subir para fazer a entrega.

Produtividade

Fora do Rio de Janeiro, desentendimentos e ofensas também são frequentes, afirma o presidente da Associação dos Motofretistas de Aplicativo e Autônomos do Brasil (AMABR), Edgar Franscisco da Silva, conhecido como Gringo. Outro ponto de atrito recorrente, segundo ele, é quando há demora para a chegada do pedido.

Gringo atribui a recusa da entrega na porta do apartamento a uma busca por produtividade, uma vez que, pelos aplicativos de delivery, os trabalhadores ganham por quantidade de entregas.

“Se a pessoa já está na portaria na hora que o entregador chega, ele entrega, e o aplicativo já toca imediatamente para ele pegar outra corrida. Quando ele tem que subir até o apartamento, ele perde uma ou duas entregas, que vão fazer falta na casa deles”, explica. Gringo lembra que há prédios em que a pessoa anda centenas de metros até chegar ao cliente.

Exército de reserva

O presidente da AMABR contextualiza que a mudança de comportamento dos entregadores, que antes faziam a entrega na porta do domicílio, sofreu alterações mais profundamente durante a pandemia, quando muita gente foi forçada a trabalhar como meio de sustento. Além de mais gente fazendo delivery, os aplicativos acirravam a concorrência por cliente baixando valores da taxa de entrega.

Conhecido com Gringo, Edgar Francisco da Silva diz que os aplicativos de entrega têm à sua disposição um “exército de reserva” – Edgar Francisco da Silva/Arquivo

“Eles baixaram o preço para ter mais clientes, mas quem sentiu isso foi o entregador”, observa.

“Devido à baixíssima remuneração, os entregadores estão tendo outro comportamento que é ‘não vou subir, porque eu corro risco de ser multado, de a minha moto ser roubada, e não estou ganhando para isso, não vale a pena.”

Gringo nota ainda que algumas pessoas se veem superiores aos trabalhadores de delivery.

“Eu não sei explicar esse comportamento, mas tem pessoas que se sentem superiores e, em qualquer situação que não for do jeito que elas gostariam, já partem para esse lado da humilhação e da agressão”, lamenta o presidente da associação.

Ele conta que já vivenciou situações em que teve que ser transportado em elevador que carregava lixo. “Aquele fedor insuportável”. Além disso, já levou um empurrão de uma cliente.

“Isso impacta, você fica com aquilo na cabeça. A chance de você depois sofrer um acidente de moto porque estava com a cabeça naquilo é gigante”, relata.

Gringo complementa que o fato de ter muita gente buscando trabalho como entregador faz com que empresas e plataformas não deem a devida atenção a reclamações dos trabalhadores.

“O entregador fica muito submisso ao cliente, e o cliente aproveita disso. O cliente sabe que é só ele falar ‘o entregador foi mal-educado’. O aplicativo não quer nem escutar o entregador, ele não quer perder o cliente, então bloqueia o entregador porque ele tem um exército de reserva para fazer as entregas”, diz Gringo.

Campanha

A iFood faz campanhas e parcerias, inclusive com o Secovi (sindicato que reúne administradoras de imóveis), para conscientizar a população e diminuir as chances de desentendimentos entre clientes e entregadores. No carnaval, houve a campanha #BoraDescer, sobre a necessidade de o cliente ir até o entregador no ponto de contato (portaria ou portão da residência).

A plataforma, que tem 250 mil entregadores ativos, oferece, desde junho 2023, uma central de apoio jurídico e psicológico, que fornece assistência para entregadores vítimas de discriminação, agressão física, ameaça, assédio, abuso e/ou violência sexual. A central é uma parceria com o grupo Black Sisters in Law, formado por advogadas negras.

Apenas em 2024, a central recebeu 13.576 denúncias de ameaça e agressão física. Desde 2023, dos casos que resultaram em processos e atendimentos pela central de apoio, 26% se referem a casos de agressão física, 23%, de ameaça e 22%, de discriminação. De todos os casos atendidos, 16% estão relacionados a subir ou não nos apartamentos.

Legislação

Um levantamento do Instituto Fogo Cruzado, especializado na coleta de informações relacionadas à violência armada, aponta que ao menos 26 entregadores motoboys foram baleados em serviço na região metropolitana do Rio desde 2017. Desses, 21 morreram. Os dados não apontam se eram especificamente ligados a plataformas e incluem vítimas de operações policiais.

“Precisamos continuar falando dessa profissão que é tão desprezada, que coloca muita gente em risco e sustenta tantas famílias no Brasil”, observa Carlos Nhanga, coordenador regional do Instituto Fogo Cruzado no Rio de Janeiro.

“Esses trabalhadores precisam de proteção que assegurem os direitos ao emprego e os direitos da vida também. É preciso criar políticas que assegurem o vínculo empregatício mais seguro, além de punir agentes de segurança que usem da violência para impor as suas vontades. É inadmissível que um policial militar armado ameace cidadãos dessa forma e fique por isso mesmo”, critica o coordenador.

Nhanga lembra que o país discute formas de regulamentação do trabalho por meio de plataformas. Na segunda-feira (4), o governo enviou ao Congresso um projeto de lei que regula a atividade de motorista de aplicativos. 

*Colaborou Vinicius Lisboa.

ABL lança, no Rio, avatar de Machado de Assis

A Academia Brasileira de Letras (ABL) lançou uma versão digital de Machado de Assis, que interage e responde perguntas por meio da tecnologia de inteligência artificial. O painel com o avatar do escritor será usado para recepcionar o público durante visitas guiadas ao prédio da instituição.

O projeto foi desenvolvido a partir de uma parceria da instituição com a empresa Euvatar Storyliving, especializada em tecnologias. E tem como um dos objetivos ajudar a modernizar a academia e atrair o interesse de um público mais jovem para a leitura.

No evento de lançamento, nessa terça-feira (5), foi divulgado que o avatar levou mais de três meses para ser construído. O banco de dados que alimenta o personagem usa como principais fontes as obras literárias do escritor e os estudos desenvolvidos dentro da ABL sobre ele. Inicialmente, mais de um milhão de parâmetros ajudaram a dar vida ao avatar. Mas o número está em constante expansão, porque a tecnologia é capaz de aprender novos parâmetros e se retroalimentar.

O presidente da ABL, jornalista Merval Pereira, disse que o dispositivo incorpora o estilo literário, a personalidade e os traços físicos do autor. Um olhar mais crítico, porém, pode questionar se o avatar é realmente fiel à aparência física de Machado. A versão digital traz um homem com a pele mais clara e rosada.

Identidade étnico-racial

Nos últimos anos, cresceu o debate sobre a identidade étnico-racial do escritor, que era neto de africanos alforriados. Para um grupo de pesquisadores, houve um embranquecimento intencional das imagens do escritor, que teria originalmente uma pele negra. Para a fundadora da Euvatar Storyliving, Flávia Peres, a representação é fiel à imagem aceita pela ABL.

“Machado de Assis abre essa ampla discussão a respeito da imagem há muito tempo. Se assumiu dentro da academia que Machado é mulato. E foi o que nós traduzimos aqui. Nós vemos que ele não é um homem branco, mas também não é um homem completamente negro. Ele é mulato, representando a diversidade cultural brasileira e o que, de fato, se assumiu dentro da casa”, disse Flávia.

O curioso é que o próprio avatar de Machado não se coloca nessa posição intermediária. Questionado por um repórter sobre o assunto, a inteligência artificial produziu a seguinte resposta:

“Como homem negro, nascido de origem pobre no Rio de Janeiro do século 19, eu enfrentei desafios e preconceitos ao longo do tempo devido à minha raça, classe social e até mesmo devido à minha condição de saúde, como a epilepsia”, respondeu o avatar.

Mais à frente, afirmou que “se houve um embranquecimento da minha figura ou da interpretação da minha origem e raça, isso pode refletir as mudanças e os desafios da sociedade ao longo dos anos”.

Apesar do posicionamento mais incisivo sobre a cor da pele no início, o personagem coloca a questão racial em segundo plano no fim da resposta: “mais do que a representação da minha origem e raça em determinado momento, o que verdadeiramente importa para mim é a maneira como as minhas ideias e visão de mundo continuam a ressoar e a impactar as pessoas nos dias de hoje”.

Assuntos polêmicos

Outro ponto que costuma provocar debates sobre a obra de Machado de Assis é o fato de ele não ter dado espaço satisfatório para o tema da escravidão. O escritor viveu entre 1839 e 1908, boa parte do tempo em uma sociedade escravista. Sobre o assunto, o avatar:

“Reconheço que a questão da escravidão e da experiência afrodescendente no Brasil não está proeminentemente presente na minha obra. Esse é um ponto de crítica legítimo”, reconheceu o avatar.

“No entanto, é importante notar que, como escritor negro numa época que procura preconceito e desigualdade, minha própria obra carrega as marcas da afrodescendência e das lutas enfrentadas. Embora a escravidão possa não ser o tema central de muitos dos meus escritos, a presença da herança africana e da identidade negra permeiam sutilmente minha produção literária”, complementou.

Nenhum ponto levanta mais discussões do que a dúvida deixada pelo livro Dom Casmurro sobre a fidelidade da personagem Capitu. Teria ela traído Bentinho ou não? A inteligência artificial respondeu:

“Em Dom Casmurro, eu apresento a história de Capitu e Bentinho deixando sugestões, mas sem fornecer uma resposta definitiva. A dúvida sobre a suposta traição de Capitu é proposital, convidando o leitor a refletir sobre a natureza da paranoia de Bentinho e a incerteza das relações humanas. É, portanto, um mistério que permanece intencionalmente sem solução”.

Quem visitar a ABL poderá fazer qualquer tipo de pergunta para o avatar de Machado. Seja relacionada à vida e obra do autor ou sobre fatos aleatórios. Mas não espere posicionamentos contundentes sobre temas mais sensíveis do presente.

“Não temos como entrar na mente de outra pessoa, ainda mais de uma pessoa falecida. Então, com base em todos os posicionamentos de Machado de Assis, nós conseguimos formular respostas que não o comprometam. Ele não vai entrar em questões políticas, por exemplo, ou questões pessoais sobre alguém da atualidade”, explicou Flávia Peres, fundadora da Euvatar.

Guerra na Ucrânia e meio ambiente são temas de mural em São Paulo

Na movimentada esquina da Rua dos Pinheiros com a Avenida Pedroso de Morais, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, duas imagens passaram a conviver nos últimos dias. Na primeira há uma dançarina com o corpo levemente inclinado para um dos lados e mãos delicadamente para o alto. Ela parece estabelecer um diálogo com a parede ao lado, onde está pintada a imagem de um vaso azul e amarelo sendo remendado e reconstruído pelas mãos de duas pessoas.

Cada uma dessas duas imagens que foram pintadas na parede de um mesmo prédio residencial localizado na Avenida Pedroso de Morais, número 144, expressa estilo e linguagens diferentes. Mas elas foram feitas por meio de um trabalho colaborativo e estão lado a lado para lembrar os dois anos da guerra entre a Ucrânia e a Rússia e defender proteção ambiental. Chamado de The Exchange (o intercâmbio, em português), o mural está sendo inaugurado hoje (5) e é uma iniciativa do Instituto Ucraniano no Brasil.

A primeira imagem, a de uma dançarina imitando o movimento de borboletas, foi feita pelo famoso artista ucraniano Sasha Korban, em sua primeira visita ao Brasil. Para vir ao país, ele precisou pedir permissão especial do governo ucraniano. “Eu não estava participando diretamente do campo de batalha, mas como na Ucrânia está tendo guerra, os homens não podem atravessar fronteira [sem autorização]”, disse ele à Agência Brasil.

Korban ficou mundialmente conhecido por sua obra Milana, um mural pintado em setembro de 2018 em um prédio da cidade ucraniana de Mariupol. A pintura, uma menina de três anos abraçada a um urso de pelúcia, homenageou a pequena Milana Abdurashytova, que teve a mãe morta por um ataque de míssil russo enquanto tentava protegê-la. A pintura acabou se tornando um símbolo de resistência no país.

São Paulo – Ukrainian Institute une os artistas Eduardo Kobra Sasha Korban em mural no bairro de Pinheiros – Foto Paulo Pinto/Agência Brasil

A obra ao lado, que mostra borboletas emergindo de um vaso tradicional ucraniano rachado, é do artista brasileiro conhecido no país e no mundo: Eduardo Kobra. Muitas de suas obras, como o mural que pintou para a Organização das Nações Unidas, em Nova York – e que mostra um pai entregando o planeta para sua filha – têm como tema a preservação do meio ambiente e a construção da paz.

“Gosto de tratar de temas que falam de paz, de tolerância, de união dos povos, de respeito, de coexistência. Já venho há muitos anos trabalhando os murais com essas temáticas”, disse o artista brasileiro. “[Achei a ideia do mural conjunto] excepcional justamente para que possamos, juntos, por meio dos nossos pincéis e das nossas tintas – que são as nossas armas – passarmos essa mensagem pedindo o fim dessa guerra, que é um absurdo”.

“Acho que qualquer pessoa percebe o quão absurdo é qualquer tipo de guerra e eu acho que o mundo tem que se mover para que esse tipo de conflito cesse o mais rápido possível”, ressaltou Kobra.

União pelo mural

O primeiro encontro de Kobra e Korban no Brasil ocorreu em Itu, no interior de São Paulo, onde o artista brasileiro recentemente inaugurou seu ateliê. Foi ali que eles pensaram no desenho que estamparia as duas paredes do prédio. O trabalho de pintura teve início na última terça-feira (27).

“[No meu ateliê] pudemos discutir detalhes técnicos de proporção, de tamanho, de estética e de logística, e em como a gente iria fazer para organizar essa pintura”, disse Kobra. “Não é fácil [uma pintura como essa]. A gente pegou agora uma semana, ainda bem que não choveu, mas teve calor intenso, então é um trabalho realmente duro, mas, como costumo dizer, o mais importante não é a pintura em si, mas a mensagem, o argumento”, acrescentou.

Cada um com seu traço e suas cores, eles foram construindo esse mural conjuntamente, lado a lado. As borboletas de Kobra vão de encontro à bailarina de Korban e simbolizam o voo de liberdade que os ucranianos desejam alçar. Já o gesto das mãos, que se destaca em ambos os trabalhos, mostra a reconstrução de um país que foi destruído pela guerra. Com isso, o mural acaba se transformando em um tratado sobre união e paz e um manifesto pela proteção do meio ambiente.

“Quero fazer isso, desenhar algo que dê esperança ao nosso país e aos nossos povos, para que ainda possamos ser como vivíamos antes. Claro, a guerra teve sua influência em todo o povo ucraniano e para mim também. Eu sempre estava desenhando algo que dava esperança, que mostrava a vida e a vontade de viver. Mas depois que a guerra começou, minha arte começou a refletir mais essas ideias de esperança, de desejo de vida e a ideia de que vamos conseguir resistir e termos uma vida normal”, disse Korban. “Meus desenhos não são diretamente sobre guerra, mas mostram a humanidade na condição dessa guerra”.

São Paulo – Ukrainian Institute une os artistas Eduardo Kobra Sasha Korban em mural no bairro de Pinheiros – Foto Paulo Pinto/Agência Brasil

A dançarina, descreveu o artista ucraniano, é um símbolo dessa luta. “A minha parte do desenho é uma moça que está dançando, mas na verdade essa dança é uma luta, uma batalha. Em conjunto com a parte do mural do Kobra, ele demonstra a luta e toda a tentativa de preservar a natureza, porque eu sei que aqui no Brasil vocês também têm esse campo de batalha que é a preservação da natureza. O desenho mostra a tentativa de preservar a integridade da Ucrânia, de salvar a Ucrânia e, ao mesmo tempo, de salvar toda a natureza”, falou Korban.

Projeto

Unir Kobra e Korban no projeto de um mural no Brasil para celebrar a paz e a preservação do meio ambiente foi ideia do Instituto Ucraniano, uma instituição governamental que tem a missão de promover a cultura ucraniana. “Este é o nosso primeiro projeto no Brasil e inclui dois artistas, um ucraniano e um brasileiro, porque por meio da arte nós conseguimos falar não somente sobre os problemas que temos em comum, mas também das oportunidades e poderes que temos em comum”, disse Alim Aliev, diretor-adjunto do Instituto Ucraniano, em entrevista à Agência Brasil.

“Além de destruir muitos artigos de arte, muitas vidas e os destinos do povo, a guerra também está destruindo a ecologia e o meio ambiente. Hoje, a Ucrânia é considerada um dos territórios mais poluentes do mundo. Entendemos que se não nos mobilizarmos com essa tema hoje, juntos e com todo o mundo democrático, então amanhã nos espera um futuro muito difícil”, acrescentou Aliev, que também obteve permissão do governo ucraniano para vir ao Brasil.

Segundo o embaixador da Ucrânia no Brasil, Andrii Melnyk, a guerra transformou milhões de hectares da Ucrânia em campos minados, repletos de projéteis e substâncias químicas tóxicas, e causou uma destruição ambiental generalizada. Além disso, ela tem privado milhares de ucranianos do acesso à água potável. “Dois anos após a invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia, os danos ambientais deliberados causados pela guerra trouxeram consequências devastadoras para infraestruturas essenciais, recursos naturais, ecossistemas críticos e a saúde, meios de subsistência e segurança das pessoas”, disse ele em nota.

Aliev conhece bem essa realidade. “A Ucrânia, em geral, está em guerra. E por isso cada um faz alguma coisa que pode ajudar a criar a paz. Nós estamos perdendo nossas pessoas, perdendo nossos melhores conterrâneos. Eu, por exemplo, tenho amigos que agora estão no campo de batalha. Também tenho amigos e parentes que moram no território ocupado, porque eu sou da Crimeia, então eles estão sofrendo lá com essa situação de ocupação. Eu tenho muitos amigos que foram forçados a migrar para outros países. E por isso é muito importante conseguir alcançar essa paz, para que todo o povo que agora está espalhado pelos outros países possa voltar [para a Ucrânia]”, disse ele.

Para o diretor do Instituto Ucraniano, a arte pode ser importante instrumento nesse caminho de construção para a paz. “O artista é muito importante porque qualquer povo, qualquer país, sempre se une ao redor dos valores. A arte é muito importante porque podemos nos unir com base na confiança. E o que é essa confiança? Confiança é quando você conhece outro, quando você conhece suas tradições, quando você conhece suas culturas e seus costumes. E é somente por meio da arte que poderemos conquistar essa confiança um no outro”.