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Zoológico de São Paulo abre novo espaço dedicado às ararinhas-azuis

As ararinhas-azuis, aves ameaçadas de extinção de acordo com a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), têm desde o início desta semana um novo espaço na área de visitação no Zoo de São Paulo. O novo habitat possui cerca de 200 metros quadrados e foi inspirado na Caatinga Baiana, região onde o último ninho natural foi avistado em uma Caraibeira, espécie de ipê, no riacho da Melancia, em Curaçá.

A Ararinha-azul é uma espécie de pequeno porte e plumagem azul, endêmica da caatinga brasileira. Atualmente, há 334 ararinhas-azuis no mundo sob cuidados e 85 estão no Brasil.

O espaço foi inaugurado após o zoológico voltar a trabalhar com a espécie a pedido do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave), órgão especializado do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), do governo federal.

Neste ano, o Zoo de São Paulo recebeu 27 animais desta espécie e criou um centro de conservação exclusivo para eles. A meta é reproduzir as aves e, futuramente, enviá-las de volta à natureza. Essas aves podem ser vistas pelo público e também farão parte das ações de educação ambiental, que atendem gratuitamente estudantes de escolas públicas.

Privilégio

Para Neiva Guedes, presidente do Instituto Arara Azul, coordenadora do Projeto Arara Azul e Projeto Aves Urbanas-Araras na Cidade, ter um espaço de visitação com a ararinha-azul é um privilégio para o país e para os visitantes do Zoo que poderão ter contato com um animal especial.

“O Brasil é megadiverso e perder a sua biodiversidade é muito triste, porque eles todos em uma relação muito importante na natureza. Então, o Zoológico não entra só com a visitação. Ele entra com um programa de conservação para ajudar que esse bicho se mantenha na natureza e que inclusive aumente na natureza”, observou.

A bióloga explicou que as ararinhas-azuis foram descobertas tardiamente na década de 1970, quando foi criado projeto do governo brasileiro que acompanhou esses animais na natureza entre 1990 a 2000, que desapareceram depois disso.

O período sem essa espécie na natureza perdurou por 20 anos e só recentemente é que a ave foi devolvida para a natureza. “Já tem alguns casais se reproduzindo e o Zoológico entra com papel muito importante, porque precisamos aumentar para que elas se mantenham na natureza. Precisa ter muitos [desses animais] porque eles são aves sociais e precisam estar em bando, se protegendo, conversando e isso vai reforçar essas solturas futuras na natureza”, disse Neiva.

A cerimônia de inauguração do novo espaço teve a presença do cineasta brasileiro Carlos Saldanha, conhecido mundialmente por seu trabalho em filmes de animação, como os títulos Rio e Rio 2, nos quais foi diretor e que celebram a cultura brasileira e provocam reflexões sobre temas ambientais, além de tornar a ararinha-azul conhecida no mundo.

“É muita emoção poder estar aqui no Zoológico de São Paulo e presenciar a inauguração deste recinto para a ararinha-azul. Não só para ararinha-azul, mas para as outras araras-azuis que há aqui. É muito legal ver esse trabalho com os animais em extinção, porque às vezes, no cinema, nós tentamos criar, imitar um pouco a realidade, contar as coisas e às vezes o cinema é que vira realidade”, disse Saldanha.

Ele acredita que é muito importante que todos se envolvam na preservação do meio ambiente, já que a mudança climática e os seus efeitos são visíveis ao mundo, com os seres humanos e animais sofrendo. “Nós somos os grandes vilões dessa história e os animais não têm voz para lidar com tudo isso, então nós temos que ter a consciência e a responsabilidade de preservar. No meu caso, eu não sou biólogo, eu não consigo tomar conta deles, mas eu sou cineasta e o cinema tem um potencial muito grande de divulgação, difusão de contar histórias e inspirar pessoas”, afirmou.

Paredões rochosos

Outras duas espécies de araras-azuis podem ser observadas por visitantes no Zoo de São Paulo: arara-azul-de-lear e a arara-azul-grande. Endêmica da Caatinga, a Arara-azul-de-lear também faz ninhos e forma dormitórios coletivos em paredões rochosos no sertão da Bahia. Com plumagem azul índigo e detalhes amarelados ao redor dos olhos, essa arara é conhecida por sua dieta baseada em licuri, uma palmeira nativa da região.

A arara-azul-de-lear já esteve à beira da extinção devido ao tráfico e perda de seu habitat natural, mas, graças a programas de conservação e reflorestamento, sua população atual é estimada em cerca de 2.200 aves. O Zoológico de São Paulo foi o primeiro da América Latina a reproduzir a espécie sob cuidados humanos e já encaminhou cinco aves para programas de soltura.

A arara-azul-grande, também conhecida como arara-azul do Pantanal, é a maior das espécies de araras e destaca-se pela plumagem azul vibrante, com detalhes em amarelo ao redor dos olhos e na base do bico. Encontrada principalmente no Pantanal brasileiro, mas também na Amazônia e em áreas de cerrado, essa ave pode atingir até um metro de comprimento, com uma envergadura de asas que chega a 1,2 metro. Alimenta-se principalmente de frutos de palmeiras, como o acuri e o bocaiuva, fundamentais para sua sobrevivência.

O Zoo de São Paulo é o único da América Latina onde é possível conhecer, durante a visitação, as três espécies de araras azuis existentes.

Além da inauguração do novo espaço, foi assinado um termo de cooperação técnica em benefício da arara-azul-grande que habita a região do Pantanal, atingida por grandes queimadas florestais este ano. O acordo – firmado com o Instituto Arara Azul – prevê o intercâmbio técnico na execução conjunta de atividades relacionadas às ações de suporte à fauna vitimada por incêndios.

SP: Zoológico comemora sucesso em reprodução de saguis-da-serra-escuro

Prestes a completar um mês de nascimento, dois filhotes de sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita) são motivo de comemoração no Zoológico de São Paulo, já que a espécie está ameaçada de extinção. Filhos do casal Rolo e Scarlet, que chegaram à instituição no ano passado, os filhotes são os primeiros a nascer no local e representam avanço significativo na conservação da fauna brasileira.

O casal passou a integrar a área de visitação do Zoo neste ano e a rotina da família é acompanhada de perto pela equipe técnica. Os cuidados seguem as recomendações do programa de conservação, vinculado ao Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Primatas da Mata Atlântica e da preguiça-de-coleira, coordenado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

“Não interferimos nos cuidados, a menos que seja necessário, e a Scarlet está se saindo uma ótima mãe. É o pai quem carrega os filhotes, enquanto a mãe cuida dos bebês no momento da amamentação. Estamos muito felizes com o crescimento da família. É a primeira vez que mantemos essa espécie, e o nascimento desses filhotes representa a consolidação do nosso trabalho pela conservação. É importante manter uma população de segurança que, no futuro, poderá contribuir com ações na natureza, se necessário”, afirmou o biólogo chefe do setor de mamíferos, Luan Moraes.

Moraes explicou que esses primatas, popularmente conhecidos como sagui-caveirinha, são nativos de pequenas áreas da Mata Atlântica nos estados de São Paulo, Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Eles desempenham papéis ecológicos cruciais, como a dispersão de sementes e o controle de insetos, sendo fundamentais para o equilíbrio do ecossistema e a manutenção da biodiversidade. No entanto, sua sobrevivência está ameaçada por diversos fatores, como expansão urbana, incêndios florestais, desmatamento e competição com espécies invasoras. Atualmente, a espécie é classificada como “Em Perigo” na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Os saguis-da-serra-escuro Rolo e Scarlet não foram os primeiros primatas a se reproduzirem no Zoo de São Paulo. Antes deles, a área de Moraes já teve sucesso na reprodução de micos-leões, o que concretiza o sucesso do manejo dos técnicos e o sinal de que eles estão no caminho certo. Segundo ele, o cuidado correto com as espécies em extinção é extremamente importante porque permite que se crie uma população de backup, que é nada mais nada menos do que uma reserva de indivíduos que podem ser soltos na natureza, caso haja necessidade.

“Não só com os saguis, mas em toda espécie ameaçada é importante cuidar do que a gente chama ex-situ, que significa, conservação fora do lugar de origem, do ambiente natural, seja ele em zoológico ou por criadores, porque podemos promover uma população que chamamos de backup. Caso ocorra alguma extinção na natureza, temos esses indivíduos que podemos reintroduzir. Aqui no zoológico temos essas populações e já houve solturas”, ressaltou.

O biólogo se refere à Arara-azul-de-lear, que já esteve em alto grau de ameaça de extinção e foi recuperada. Com essa espécie, o Zoo já trabalha há muitos anos fazendo manejo de conservação integrada com o Grupo de Pesquisa e Conservação da Arara-de-lear, que trabalha em campo, unindo as ações ex-situ e as ações in-situ. No Zoo é feito todo o processo de incubação de ovos, maximizando o número de filhotes das espécies ameaçadas.

“Nossa função aqui com essas espécies ameaçadas é ter uma população de segurança. Nós nunca sabemos como e quando uma espécie estará no seu grau de ameaça. Hoje, posso ter uma espécie que não está ameaçada mas por conta de um desastre natural ou problemas como, por exemplo, a queimada do Pantanal, não sabemos se isso pode acarretar ameaça de algumas espécies que lá habitam. Caso a área precise de revigoramento, conseguimos fornecer esses animais para soltura”, explicou a bióloga chefe do setor de aves, Fernanda Vaz Guida.

Apesar de as espécies ameaçadas serem o foco desse trabalho, também há no Zoológico populações de segurança de espécies domésticas, como o Cisne Negro e espécies nativas brasileiras. Já há sucesso na reprodução da Jacutinga, uma espécie ameaçada de Mata Atlântica, com duas aves destinadas a um programa de soltura.

Esse manejo é feito também com os anfíbios, explica a bióloga chefe do setor de herpetofauna, Cybele Sabino Lisboa. Ela cita o exemplo dos anfíbios, que são os animais vertebrados mais ameaçados do mundo, com 40% de todo o grupo classificada nesse ponto. Por isso, uma das recomendações é justamente aumentar a população de segurança. No Zoológico é feito o manejo das pererecas de Alcatraz, endêmica da ilha de mesmo nome e ameaçada no período em que foi iniciado o manejo. Apesar de recente, com os primeiros animais chegando à instituição em 2011, já há uma população de 100 indivíduos.

“Essa espécie foi o início dessa estratégia no Brasil. Na época em que começamos, a perereca de Alcatraz era criticamente ameaçada e, por causa de todos os esforços conjuntos, hoje em dia ela melhorou a categoria de ameaça, passando a ser considerada vulnerável, e isso foi um grande ganho de um trabalho em conjunto e esforços principalmente para proteger a área que ela ocorre. E sabendo que existe uma população de segurança, isso também dá força para que a espécie melhores o status de ameaça”, destacou Cybele.

O Zoológico de São Paulo está localizado em área de mais de 450 mil metros quadrados de Mata Atlântica, abriga mais de 2.200 animais de 300 espécies, incluindo diversas nativas da região. A visitação está aberta das 9h às 17h e a bilheteria até as 16h. O zoo fica na Avenida Miguel Estefno, 4.241, Água Funda. É possível comprar os ingressos no site da instituição.