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Fundação Casa de Jorge Amado: personagens do autor ganham vida em peça

Pedro Arcanjo, Tieta, Quincas Berro d’Água, Gabriela ou pai Jubiabá – alguns dos personagens mais conhecidos do universo de Jorge Amado vão ganhar vida em peça que vai celebrar a reinauguração da Fundação Casa de Jorge Amado, que passou recentemente por reforma. Chamada de A Casa de Jorge Amado, a peça é concebida por Edvard Passos e será apresentada a partir de janeiro na instituição.

E esta não será uma peça comum. O próprio Jorge Amado deverá ser um guia do público, já que ela será apresentada em diversos cenários, percorrendo os novos espaços recém-reformados da fundação. “Tenho já uma experiência de dez anos com a obra de Jorge Amado sendo encenada. O primeiro trabalho foi uma adaptação de O Compadre de Ogum, que é daquele livro Os Pastores da Noite. Ela fez muito sucesso e rendeu um musical de rua itinerante pelas ruas do Pelourinho, chamado A Cidade da Bahia é Nossa, que passeia por dez obras de Jorge Amado. Disso surgiu esse convite para desenvolver um espetáculo – que a gente chama em teatro de site-specific – que é desenhado para explorar os espaços da casa”, explicou Passos, em entrevista à Agência Brasil.

Salvador (BA), 10/12/2024 – Reabertura da Fundação Casa de Jorge Amado. – Guilherme Weber de Lima/Fundação Casa de Jorge Amado

A peça será encenada à noite para manter, segundo o diretor, “uma ambiência de mistério”. A ideia será explorar cada um dos espaços da casa, com o próprio Jorge Amado e também o personagem Pedro Arcanjo, um dos preferidos do autor, servindo como guias do lugar.

“A gente vai ter uma dimensão épica, narrativa, dos personagens entregando, em síntese, suas trajetórias. Mas vamos ter também uma espécie de crossover [quando personagens, cenários ou universos de ficção distintos são colocados no contexto de uma única história]. Então, a questão do território será fundamental para poder amalgamar obras idênticas”, disse.

Os personagens populares e tão conhecidos de Amado vão então ganhar vida e percorrer os novos espaços da instituição, criada para preservar a obra do autor e também para ser um ponto de encontro cultural. “Jorge Amado tem um papel muito importante de trazer um perfil populacional para o centro, para o protagonismo da cena. Ele foi uma das primeiras pessoas a realizar isso, causando, inclusive, no começo, muita reatividade. Você tem obras como Capitães da Areia em que a reatividade foi tão grande que as pessoas queimavam o livro em praça pública. Hoje você tem uma outra realidade em que esse movimento de você preencher o protagonismo do palco com personagens populares é mais do que bem-vindo”, ressaltou o diretor.

A peça é mais um dos projetos que a Fundação Casa de Jorge Amado tem pensado para o futuro, após uma reforma de nove meses que a modernizou e a deixou mais segura. A Fundação foi reaberta ao público na última quinta-feira (12) e, como parte dessa celebração, será gratuita até sábado (14). Depois, a gratuidade ocorrerá sempre às quartas-feiras. Nos demais dias, haverá cobrança de ingressos.

Novidades

Além da peça, a Fundação Casa de Jorge Amado tem trabalhado em outros dois projetos. Um deles prevê a criação de um aplicativo que deve aproveitar uma pesquisa já pronta, feita pela instituição, sobre espaços da capital baiana que foram citados nas obras de Jorge Amado. A intenção é produzir um aplicativo em que a pessoa, estando nestes espaços, consiga captar trechos das obras do escritor em que eles são citados.

“Já temos o aplicativo Casa de Jorge Amado. Com ele, a pessoa pode mirar para uma foto da exposição e, o que estiver escrito ali pode vir em áudio em português, inglês, francês ou espanhol. Além dos textos da exposição, você pode utilizar este aplicativo no Mirante da Fundação Casa de Jorge Amado, onde você pode mirar o celular para alguns espaços do Pelourinho, como a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Aí tem um áudio do Jorge Amado falando sobre a igreja”, explicou Angela Fraga, diretora executiva da Fundação Casa de Jorge Amado.

Salvador (BA), 10/08/2024 – Diretora executiva da Fundação Casa de Jorge Amado, Angela Fraga- Rovena Rosa/Agência Brasil

Além desse novo aplicativo que funcionaria para além do espaço da instituição, a Fundação também está desenvolvendo um transporte para fazer uma ligação entre a sede e a Casa do Rio Vermelho, onde o escritor viveu com Zélia Gattai e onde repousam as cinzas do casal. Chamado de Vou Daqui, Venha de Lá, o projeto está em fase de captação de recursos.

“Nas quartas-feiras a gente tem uma van que sai da estação do Campo da Pólvora, que é uma estação de metrô aqui pertinho, e traz as pessoas para o Pelourinho, gratuitamente. Diante disso, a gente teve a ideia de tentar ampliar esse trajeto, de forma com que a van possa ir também até a Casa do Rio Vermelho, fazendo um link entre a vida e a obra de Jorge Amado. Isso está em fase de captação”, disse.

Salvador (BA), 09/08/2024 – Fachada da Casa do Rio Vermelho onde viveram os escritores Jorge Amado e Zélia Gattai- Rovena Rosa/Agência Brasil

O novo aplicativo que está sendo desenvolvido, espera a diretora, poderia ser também utilizado durante esse percurso, com a van tendo como destino a Casa do Rio Vermelho, mas parando antes em diversos outros espaços que foram citados em obras de Jorge Amado. “A gente espera, com a entrega do equipamento já reformado, que tenhamos fôlego para trabalhar em tudo isso”, afirmou Angela. 

Reforma

A instituição cultural passou pela maior restauração desde a inauguração em 7 de março de 1987. A sede, que era composta pelas casas de números 49 e 51 – as conhecidas Casas Azul e Amarela do Largo do Pelourinho – foi agora conectada a mais um prédio, o de número 47, a chamada Casa Branca. Com a reforma, novos espaços expositivos foram criados. Além disso, o local ficou mais acessível, mais moderno e mais seguro, com a instalação de um novo e moderno sistema anti-incêndio e de monitoramento.

Após essa reforma, as escritoras Zélia Gattai (que foi companheira de Jorge Amado) e Myriam Fraga (que ajudou a criar e foi a primeira diretora da fundação) receberam exposições exclusivas e permanentes no espaço. Há também uma exposição que apresenta ilustrações presentes nos livros de Jorge Amado e uma sala dedicada a Exu, o orixá que foi escolhido pelo próprio Jorge Amado como guardião da casa.

Salvador (BA), 10/12/2024 – Reabertura da Fundação Casa de Jorge Amado – Guilherme Weber de Lima/Fundaç

Visitas 

No primeiro dia de sua reabertura, ocorrido ontem (12), a Fundação recebeu grupos escolares e muitos turistas. Entre eles, a professora Ana Elisa Dinunci de Sá Costa, 23 anos, de Niterói (RJ). Pela primeira vez em Salvador, ela aproveitou a visita para conhecer a Fundação Casa de Jorge Amado, no Largo do Pelourinho. “Estou adorando a exposição. Jorge Amado fala muito bem da cultura da Bahia. Quando temos acesso aos livros dele, às artes dele e a todas as suas obras temos mais acesso à intimidade da Bahia. Conseguimos ver um pouco do cotidiano baiano. Também acho muito linda a forma como ele retrata os orixás e como isso se insere de forma tão natural no cotidiano baiano”, disse à Agência Brasil.

Um dos espaços que a professora mais gostou na Fundação foi o primeiro andar, que apresenta uma linha do tempo do escritor. “Esse espaço fala da vida do Jorge Amado e da história de como ele começou a escrever. Achei isso muito interessante”, disse, que já leu Tieta do Agreste, Gabriela Cravo e Canela e seu favorito do autor, Tenda dos Milagres.

Quem também esteve na Fundação na tarde de quinta-feira pela primeira vez foi o consultor público José Siqueira, 32 anos. Acompanhado de parentes, ele gostou da junção que a instituição faz entre o moderno e o antigo. “Achei esse espaço bem diferente, bem acolhedor, bem moderno e, ao mesmo tempo, rústico”, disse.

Até sábado (14), a Fundação Casa de Jorge Amado estará aberta gratuitamente ao público, das 10h às 18h. A partir do dia 16 dezembro, ela estará aberta de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h e, aos sábados, das 10h às 16h, com entrada gratuita às quartas-feiras.

* A repórter viajou a convite da Fundação Casa de Jorge Amado

Museu das Favelas reabre com mostras sobre magia e vida em comunidades

Antes localizado no bairro de Campos Elíseos, o Museu das Favelas reabriu nesta semana, em novo endereço, todas as exposições. O museu agora fica na região do Pateo do Collegio, no centro histórico de São Paulo.

Museu das Favelas é reinaugurado em novo endereço no centro histórico de São Paulo – Paulo Pinto/Agência Brasil

Nessa retomada, quatro exposições ocupam os imensos salões de um casarão antigo. A principal mostra é Sobre Vivências, que busca resgatar as conexões históricas das favelas e apresentar aos visitantes as inúmeras expressões das pessoas que constroem suas vidas nessas comunidades.

Fazem parte ainda da programação as exposições Marvel – O Poder é Nosso, que compartilha com o público a releitura sobre heróis, agora membros de grupos minoritários, e a itinerante Favela em Fluxo, que é composta por obras de 22 artistas dessas comunidades e desembarca em São Paulo após percorrer Recife, Salvador e Rio de Janeiro. 

Oswaldo Faustino, curador da Favela em Fluxo, uma das quatro mostras instaladas no museu – Paulo Pinto/Agência Brasil

Para Oswaldo Faustino, integrante do grupo curatorial da Favela em Fluxo, entre as qualidades que se acentuam na seleção das obras para a exposição, a mais esparramada de todas foi igualar as contribuições da curadoria às de funcionários do setor educativo.

O setor de pesquisa também participou das decisões. Faustino explica que foi fundamental validar as percepções de quem está simbolicamente nos bastidores, mas, na verdade, é a linha de frente, pois atende os visitantes e os guia pela exposição. 

Quando se transita pelas salas onde estão expostas as obras, nota-se uma multiplicidade de linguagens. Há pinturas a óleo, colagens, arte têxtil e vídeos que utilizam inteligência generativa. Os textos que antecipam algumas das intenções de que estão impregnadas as obras resumem, por vezes, em poucas palavras, como encará-las. 

Deusa da Espreita é como artista Lua Barral chama a pintura que fez este ano no Recife. Em uma cabine escura, é exibido um vídeo de travestis que miram no fundo das lentes da câmera reafirmando quem são. Afinal, travesti é um termo usado para realçar a cápsula que se torna o corpo de quem é sempre oprimido, como é o caso da travesti. Aer favelizada significa ser duplamente forte. E é assim que uma das travestis comemora, segurando um bolo com uma vela de número 2, o aniversário de seu processo de transição de gênero. 

A favela não é uma, são várias, declaram os artistas e servidores do museu. Negros, indígenas e ribeirinhos; palafitas, casas verticalizadas e, ainda assim, precárias, isso tudo pertence ao seu universo.

A exposição Racionais MC’s: O Quinto Elemento celebra os 35 anos da banda de rap – Paulo Pinto/Agência Brasil

Outra obra que chama a atenção tem praticamente uma segunda moldura para a colagem no centro, feita com lâminas de barbear perfiladas. O sentido político continua quando o visitante para para prestar atenção à música que deixa, então, de ser somente um fundo indefinido. É o gargantear dos funkeiros Pétala Lopes, MC Mano Feu e Luiza Fazio, no clipe de Linguadinha na XXT, que pode ser constrangedor para os mais recatados ou conservadores.

Uma das salas abriga um beco com fotografias. Faustino conta que a primeira coisa que lhe ocorreu, quando soube que a exposição teria esse elemento, foi a referência de um lugar sufocante. “Aí, uma mulher trans do nosso grupo virou e disse: ‘Mas também pode ser libertador’. Eu falei: ‘Como libertador?’ Ela respondeu: ‘Quando eu era pequena, estava na favela tal, com a minha tia, eu pulava da janela do quarto e caía no beco. Saía do beco e, de repente, encontrava espaço livre. Então, o beco, para mim, era o caminho da liberdade'”, relata. 

“Eu disse: ‘Olha, a gente está olhando a favela do lado de fora. E você está me dando o olhar de dentro’. Achei maravilhoso”, emenda. 

A palavra “favela” tem relação com o Morro da Favela, hoje chamado de Morro da Providência, no Rio de Janeiro, e que fez parte do contexto da Guerra de Canudos. A etimologia, ou seja, origem do termo, é também lembrada na exposição Sobre Vivências, na forma da planta denominada faveleira, agora estruturada com madeira e um material inusitado em sua copa.

A ideia foi de um coletivo de artistas. “O coletivo olha e me diz: ‘Vamos fazer a copa dessa árvore em crochê. Aí, vira uma árvore estilizada. No tronco, foram feitos em pirografia nomes relacionados às nossas ancestralidades. Ou seja, não tem espinhos. E por que não tem espinhos? Porque nossos ancestrais já apararam. Então, hoje, favela, que nasceu como carência, passa a ser potência'”.

A entrada é gratuita e as exposições no Museu das Favelas poderão ser visitadas até fevereiro do ano que vem.

Minha Casa, Minha Vida tem recursos garantidos, diz Jader Filho

O ministro das Cidades, Jader Filho, disse nesta quarta-feira (4) que o programa Minha Casa, Minha Vida não será afetado pelo pacote de corte de gastos, e que os recursos estão garantidos. 

“A gente tem que ter responsabilidade com a questão dos gastos federais. Nisso a gente vai avançar, sem trazer nenhum tipo de insegurança ou incerteza para o programa Minha Casa, Minha Vida, que está, obviamente, com recursos garantidos”, destacou, ao participar de entrevista a emissoras de rádio durante o programa Bom Dia, Ministro, produzido pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

Quanto ao pacote, o ministro disse que acha importantíssimo “o governo federal dar essa sinalização de que tem responsabilidade fiscal, de que está bem atento à questão das contas públicas. Esse é um dos temas que o presidente Lula mais tem debatido”. 

Segundo Jader, a pasta contabiliza atualmente 1,175 milhão de unidades habitacionais contratadas pelo Minha Casa, Minha Vida. A meta estabelecida pelo governo federal e pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva é  chegar à marca de 2 milhões. “O programa está muito fortalecido, tem avançado bastante em todas as frentes”, afirmou.

Expectativa de vida ao nascer no Brasil sobe para 76,4 anos em 2023

A esperança de vida ao nascer no Brasil ficou em 76,4 anos em 2023, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e publicados nesta sexta-feira (29) no Diário Oficial da União. Houve um aumento de 0,9 ano em relação a 2022, quando a expectativa de vida era de 75,5 anos.

Os dados completos da pesquisa Tábuas da Mortalidade serão divulgados pelo IBGE a partir das 10h desta sexta-feira.

De acordo com o IBGE, a pesquisa fornece estimativas da expectativa de vida às idades exatas até os 80 anos, com data de referência em 1º de julho, o que permite o conhecimento sobre os níveis e padrões de mortalidade da população brasileira.

A expectativa de vida é usada para o cálculo do chamado fator previdenciário para o cálculo dos valores relativos às aposentadorias dos trabalhadores que estão sob o Regime Geral de Previdência Social.

Minha Casa Minha Vida beneficia cidades com até 50 mil pessoas

O governo divulgou hoje (22) as propostas selecionadas para a construção de moradias em áreas urbanas pelo Minha Casa Minha Vida (MCMV), em cidades de até 50 mil habitantes. A lista com as propostas selecionadas foi publicada pelo Ministério das Cidades, no Diário Oficial da União.

Trata-se da primeira seleção do MCMV com recursos do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social com este perfil (FNHIS sub-50). Serão 37.295 unidades habitacionais, em 1.164 cidades, de 26 estados.

A expectativa é que cerca de 150 mil pessoas sejam beneficiadas com “moradia digna para famílias de baixa renda, residentes nos pequenos municípios brasileiros”, informou o ministério. O investimento, segundo a pasta, será de R$ 4,85 bilhões.

“O foco são municípios com população inferior ou igual a 50 mil habitantes. As moradias atendem famílias com renda bruta mensal na Faixa Urbano 1 do MCMV, correspondente a até R$ 2.850, admitindo-se o atendimento de renda enquadrada na Faixa Urbano 2 (até R$ 4.700)”, detalhou o ministério.

Entre os critérios adotados para a seleção dos projetos está o de priorizar propostas que melhor atendam à demanda habitacional e observem “requisitos técnicos de desenvolvimento urbano, econômico, social e cultural, sustentabilidade, redução de vulnerabilidades e prevenção de riscos de desastres e à elevação dos padrões de habitabilidade, de segurança socioambiental e de qualidade de vida da população que será beneficiada”.

Com a divulgação das propostas selecionadas, estados e municípios terão de incluir, até 10 de dezembro, a proposta selecionada na plataforma Transferegov, programa nº 5600020240048, de forma a viabilizar a contratação pela Caixa Econômica Federal até o final do ano.

Histórias de vida em formato de cordel são tema de exposição em SP

O verso da canção Chico Preto, dos compositores João Nogueira e Paulo Cesar Pinheiro, já dizia: “a tua história um dia vai virar cordel”. E a partir deste sábado (2), qualquer pessoa que passar pelo Museu da Língua Portuguesa, na região da Luz, na capital paulista, poderá se deparar com uma exposição que conta a história de 21 pessoas por meio da literatura de cordel.

Chamada de Vidas em Cordel, a exposição celebra a tradição oral, a poesia popular e a ancestralidade e é uma realização do Museu da Língua Portuguesa com o Museu da Pessoa, espaço virtual e colaborativo que se dedica, há 30 anos, a registrar, preservar e disseminar histórias de vida. A curadoria é do poeta e cordelista Jonas Samaúma, do cordelista e pesquisador do folclore brasileiro Marco Haurélio, e da xilogravadora Lucélia Borges.

Entre as personalidades que tiveram suas histórias cordelizadas e que estão retratadas na mostra estão o jornalista Gilberto Dimenstein e o líder indígena e imortal da Academia Brasileira de Letras, Ailton Krenak. Mas há também nomes menos conhecidos, de pessoas comuns, que também tiveram trabalhos relevantes ao país.

A mostra chega a São Paulo depois de passar por Pernambuco, Bahia e Minas Gerais. Em São Paulo, ela ganhou três histórias inéditas, de personalidades que desenvolveram trabalhos de impacto na região da Luz, onde o Museu da Língua Portuguesa está inserido.

Histórias

São Paulo 02/11/2024 História de Idibal Matto Pivetta é uma das presentes na exposição. – Foto Guilherme Sai.

Uma dessas três personalidades é César Vieira, pseudônimo de Idibal Matto Pivetta (1931-2023), que, como advogado, teve uma atuação importante na defesa de presos políticos durante a ditadura militar no Brasil. Ele também foi um dos fundadores do grupo Teatro Popular União e Olho Vivo, pioneiro na utilização de processos de criação coletiva. Perseguido pela censura do regime militar, passou a assinar suas peças como César Vieira.

“Para mim, ele sempre vai ser um ser humano incrível: uma pessoa de um coração muito grande. Por uma necessidade do país, ele viu que era necessário se juntar a outras pessoas para trocar experiências, aprender e poder também construir um país mais justo. Ele se formou em direito e jornalismo e também era dramaturgo. Ele foi fundador do Teatro Popular União e Olho Vivo, que é um grupo que há 75 anos faz essa troca de experiência nos bairros populares da capital”, explicou seu filho, Lucas Cesar Pizzetta.

Cesinha, como ele é mais conhecido por herdar o pseudônimo do pai, contou que foi convidado pelo Museu da Pessoa e do Museu da Língua Portuguesa para contar essa história. “Acho que é fundamental esse tipo de iniciativa que contribui para contar a história da cultura popular brasileira. Principalmente hoje, quando vivemos em um momento de dominação tão grande da cultura estrangeira. Precisamos contar essas histórias de uma forma agregada, relacionando esses temas para entender o contexto do país”, disse ele, em entrevista à Agência Brasil.

A história do pai de Cesinha foi cordelizada pela poeta Maria Celma. O cordel, que pode ser retirado gratuitamente na exposição ou ser visualizado por meio do site, inicia essa história pelos seguintes versos: “Falar de Idibal Pivetta. Requer bom senso e coragem. Homem de muitas facetas. E de uma imensa bagagem. Marcou a história das gentes. Como autor e personagem”.

À reportagem, Maria Celma contou que, para iniciar o cordel sobre Idibal, ela começou a consultar sua biografia, assistindo entrevistas e lendo muitos trabalhos publicados sobre ele. “E aí eu me apaixonei pelos feitos, pela pessoa, pelo humano, pelo social dele. Além de prazeroso, foi uma experiência enriquecedora escrever sobre ele. Isso me enriqueceu como pessoa, como cidadã, como brasileira”, disse ela.

Além da história de Pivetta, as outras histórias inéditas cordelizadas para a mostra foram a de Cleone Santos, uma mineira de Juiz de Fora que criou o Coletivo Mulheres da Luz, que oferece apoio e dá visibilidade às mulheres em situação de prostituição; e do rapper MC Kawex, que viveu por 20 anos na chamada Cracolândia, sendo uma voz ativa na região.

“Trazer a exposição para São Paulo abriu uma porta grande para que a gente pudesse também trazer a história de pessoas que estão aqui, digamos, na nossa vizinhança, no nosso território”, falou Camila Aderaldo, coordenadora do Centro de Referência do Museu da Língua Portuguesa. “Conseguimos reunir três nomes para compor essa mostra. Organizar e colocar a história dessas pessoas em literatura é quase uma maneira de fazê-las ainda presentes. E isso é muito poderoso”, acrescentou.

Para Karen Worcman, fundadora e curadora do Museu da Pessoa, a exposição é uma grande celebração da língua portuguesa. Além disso, ela expande o nosso conceito de construção de memória do país. “A ideia básica do Museu da Pessoa é fazer com que a história de cada pessoa se torne um objeto de museu. O museu tem como objetivo promover uma mudança, uma democratização da memória social, ampliar o jeito que a gente conta a nossa história na sociedade”.

Todas as histórias que estão sendo apresentadas nesta exposição em São Paulo foram incluídas no acervo do Museu da Pessoa. Inclusive as que serão contadas pelo próprio público.

Cabine

Essa exposição não é feita só de histórias apresentadas em painéis e em cordéis que podem ser retirados de forma gratuita no museu. Há também uma cabine interativa, onde os visitantes poderão gravar seus próprios depoimentos.

“O Museu da Pessoa, que é sempre colaborativo, traz sempre uma cabine de histórias de vida. Toda vida dá um cordel. Toda vida é parte de um museu. Então a pessoa que vem tem a possibilidade de gravar a sua história e integrar o acervo do museu – e de forma gratuita”, contou Karen Worcman.

Todos esses depoimentos do público vão depois integrar o acervo digital do Museu da Pessoa .

São Paulo 02/11/2024 Exposição de cordel no Museu da Língua Portuguesa. – Foto Guilherme Sai.

 

Cordel

O cordel surgiu em um tempo onde não havia rádio, internet ou TV e poucos sabiam ler. Para saber as histórias, as pessoas saíam às ruas para ouvir os artistas populares que narravam, em forma de versos, os acontecimentos da região. Até que surgiram as técnicas baratas de impressão e essas histórias começaram a ser reproduzidas em pequenos livros que se propagaram pela Europa. 

Quando chegou ao Brasil, isso ganhou uma linguagem própria, com humor, críticas e capas ilustradas com xilogravuras, técnica que consiste em entalhar em pedaços de madeira imagens de alto e baixo relevo que depois receberão camadas de tinta e serão reproduzidas em papel, como uma espécie de carimbo.

“A literatura de cordel, enquanto gênero, enquanto cultura, enquanto história, tem uma força enorme para todos os brasileiros. Esse projeto de exposição, além de bonito, é importantíssimo do ponto de vista sócio-cultural. Esse projeto é realmente uma ação de salvaguarda da literatura de cordel”, disse a cordelista Maria Celma.

Desde 2018, a literatura de cordel e seus bens associados, como a xilogravura, são reconhecidos como patrimônio cultural e imaterial brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Mostra

A exposição está sendo apresentada no Saguão B do museu e tem entrada gratuita. Ela ficará em cartaz até fevereiro do próximo ano. 

As histórias que estão em exposição poderão ser acessadas também de forma virtual, por meio do site Nesse conteúdo online também está disponível o livreto Vidas em Cordel para Educadores, um material educativo e gratuito voltado para professores e que pode ser utilizado em atividades educativas.

Arcabouço fiscal deve ter vida longa, defende Haddad

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse, nesta quarta-feira (16), que o governo quer garantir que o arcabouço fiscal tenha “vida longa”. Após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dirigentes da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), no Palácio do Planalto, Haddad comentou sobre o conjunto de medidas de corte de gastos que deve ser apresentado pela equipe econômica para alcançar as metas de resultado primário.

“Quando [a economia] cresce você tem espaço para que a despesa cresça um pouco menos, mas também acompanhe o desenvolvimento do país, mas num padrão e ritmo coerente com a nossa realidade atual. É essa equação que nós queremos fechar até o final do ano”, explicou, lembrando que há preocupação com a dinâmica futura do arcabouço fiscal, que é o conjunto de regras que determina a gestão das contas públicas do país, da dinâmica entre receitas e despesas.

“O arcabouço tem que ter vida longa, ele não pode ser algo como aconteceu com o teto de gastos. Todo mundo que olhava para o teto de gastos sabia que ele teria vida curta”, disse. 

O ministro informou que o governo vai dialogar com os líderes parlamentares na retomada do Congresso após as eleições municipais. “O arcabouço fiscal foi desenhado a muitas mãos, com grande participação no Congresso, então temos condição de olhar para frente e fazer as partes caberem no todo dinamicamente, fazer a evolução da despesa respeitar os constrangimentos pelos quais a economia brasileira passa hoje, em função da herança recebida, do nível de endividamento e tudo mais”.

Segundo Haddad, a Febraban apontou vários caminhos para a sustentabilidade fiscal, desde o equilíbrio da Previdência e “os efeitos de ter ou não perícia sobre a concessão de benefícios”. 

No encontro, a entidade bancária fez um balanço da reforma trabalhista e do diálogo que mantêm com os sindicatos para “aperfeiçoar o padrão de relacionamento com os trabalhadores, evitando a judicialização desnecessária que implica em custos que vão acabar batendo no custo de crédito”.

Juros altos

A reunião com o presidente Lula ocorreu a pedido da Febraban para que a instituição pudesse apresentar sua visão sobre a conjuntura econômica e outros temas. Além de Haddad, estavam presentes o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha; o presidente-executivo da Febraban, Isaac Sidney, e os presidentes dos maiores bancos privados do país – Itaú, Bradesco, Santander e BTG.

Durante o encontro, Lula deu aval para o debate sobre as causas que fazem com que os juros bancários sejam tão elevados no país. A pedido da Febraban, ainda em outubro, deve ser instalado um grupo de trabalho no Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), o Conselhão, que reúne representantes de diversos segmentos da sociedade.

“Percebemos que é um firme compromisso do governo em avançar na busca efetiva do equilíbrio fiscal, para que as despesas possam, não só caber dentro do orçamento, mas para que possa se equilibrar, para que nós possamos ter uma trajetória de equilíbrio das despesas. Essa é uma agenda importante. Nós dissemos ao presidente que é fundamental dissipar os ruídos, as incertezas”, disse o presidente-executivo da Febraban, Isaac Sidney.

“O Brasil atravessa um momento de conjuntura econômica bastante positiva, bastante favorável, com a atividade econômica crescendo no patamar elevado, com surpresas de crescimento, com a inflação sobre controle. Mas nós acreditamos que esse é o momento de aproveitar essa janela que o Brasil está crescendo, com a inflação controlada, para que a gente possa, do ponto de vista estrutural, atacar alguns problemas importantes”, acrescentou o executivo.

Segundo ele, o desejo do setor bancário é ter juros da economia baixos para democratizar o acesso ao crédito no país. “Aos bancos não interessam termos taxas de juros elevadas. Quanto mais altos forem os juros bancários, maior o risco de crédito, maior a inadimplência. O que nós queremos é um ambiente de crédito sadio que possa permitir condições mais favoráveis de concessão de crédito para as famílias, para as empresas’, disse, defendendo que o Banco Central possa reiniciar, “assim que possível”, o ciclo de queda da taxa de juros no país.

Selic

Para controlar a inflação, o Banco Central usa como principal instrumento a taxa básica de juros, a Selic, definida em 10,75% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom). A alta recente do dólar e as incertezas em torno da inflação fizeram o colegiado elevar os juros. pela primeira vez em mais de dois anos, na última reunião, em setembro.

A última alta dos juros havia ocorrido em agosto de 2022, quando a taxa subiu de 13,25% para 13,75% ao ano. Após passar um ano nesse nível, a taxa teve seis cortes de 0,5 ponto e um corte de 0,25 ponto, entre agosto do ano passado e maio deste ano. Nas reuniões de junho e julho, o Copom decidiu manter a taxa em 10,5% ao ano.

A próxima reunião do Copom está marcada para 5 e 6 de novembro, quando os analistas esperam um novo aumento da taxa básica. Para o mercado financeiro, a Selic deve encerrar 2024 em 11,75% ao ano.

JUBs: atleta da Unifor se divide entre o esporte e a vida acadêmica

Nenhuma partida termina antes do apito final do árbitro ou do último ponto, isto porque o esporte requer dedicação até o fim. Não é diferente na vida acadêmica, que exige esforço até a conclusão da graduação. Bruna Gonzaga passa pelas duas situações. Ela cursa o oitavo período de Psicologia na Universidade de Fortaleza (Unifor), disputa sua quinta edição de Jogos Universitários Brasileiros (JUBs) e se prepara para retornar ao vôlei profissional.

Aos 23 anos, Bruna já atuou por Bradesco (SP), Brasília Vôlei (DF) e Castelo de Maia, do Porto, em Portugal, mas decidiu adiar um pouco a carreira profissional no vôlei. “No vôlei profissional você depende muito do seu rendimento na temporada, ela é que dirá como será a próxima. Então preferi voltar ao esporte universitário, ter meu diploma e depois voltar ao profissional. A Psicologia é uma das poucas profissões que, quanto mais velha você for, melhor. Você terá mais experiência de vida para lidar com as situações. Então, pretendo retornar ao profissional enquanto meu corpo responde”, brincou.

Bruna atuou nove meses em Portugal. Precisou trancar a matrícula na faculdade para morar na Europa. A volta ao Brasil também marcou o retorno à Graduação e ao vôlei universitário, mas com outra cabeça. “Passei a valorizar ainda mais o esporte universitário. Estudar aumenta o nosso repertório de vida, passamos a conseguir ver as coisas de uma maneira muito melhor. É ter outras vivências, não ficar apenas quadra, quadra, cama, quadra. Por outro lado, o vôlei profissional tem um nível mais forte, e aí também dá pra perceber o quanto o atleta universitário é cascudo, porque temos que estudar e jogar bem”, afirma a jovem.

Foi jogando pela Unifor que Bruna Gonzaga fez sua primeira viagem internacional, convocada para os Jogos Mundiais Universitários de Chengdu (China), disputado em 2023. Uma experiência inesquecível. “Foi a melhor experiência da minha vida. Quem viveu aquele Mundial sabe o quanto foi único. Nos sentíamos como se estivéssemos em uma Olimpíada, com cerimônia de abertura, convivendo com pessoas de outros idiomas, culturas, representando o nosso país. É um sentimento muito forte, do qual me recordo todos os dias”, diz.

A Alemanha será a sede da próxima edição dos Jogos Mundiais Universitários, em 2025. Para garantir a presença no evento esportivo, Bruna sabe que os atletas precisam se superar: “Apenas nós sabemos o quanto é difícil você ter que manter um alto rendimento jogando na quadra sem todas as regalias que um atleta profissional tem, como o descanso, que é tão importante quanto o treino em si. Mas acredito que o que consegue anular um pouco o burnout é a motivação. Fazer aquilo que você quer, tem que ter alguma coisa dentro de você, algo intrínseco, que fará sentido. Se você for atrás, entender, mantiver o objetivo, organizar, planejar, buscar saber se vale a pena. Se sim, corre atrás porque vale muito a pena estar aqui no JUBs ou no Mundial Universitário”.

A equipe da Unifor é uma das favoritas no JUBs Brasília 2024. Nas duas primeiras partidas, duas vitórias: 3 a 0 sobre a Uniniltonlims (AM) e 3 a 1 sobre a Unama (PA).

Lula promete mais qualidade no Minha Casa, Minha Vida

As residências do programa Minha Casa, Minha Vida terão cada vez mais qualidade e serão construídas em uma quantidade ainda maior do que a meta do governo, de 2 milhões de unidades. A garantia foi dada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Fortaleza, durante a cerimônia de entrega das cerca de 1,3 mil unidades habitacionais do programa, na Cidade Jardim.

De acordo com o Planalto, as unidades entregues nesta sexta-feira (11) estão distribuídas em 81 blocos de quatro andares, com quatro unidades por pavimento. Foram investidos R$ 115,7 milhões no empreendimento, sendo R$ 100,5 milhões do Fundo de Arrendamento Residencial. A contrapartida do governo do Ceará ficou em R$ 15,2 milhões.

Durante discurso, Lula destacou que o empreendimento contará com área de lazer e biblioteca, e que o governo já planeja, para as futuras unidades residenciais do programa, a construção de piscinas.

Segundo o presidente, os custos para tudo isso não é tão caro, ainda mais levando em conta os benefícios que trarão para seus moradores. “O que eu vi hoje, aqui nesta Zona Livre e nesta biblioteca, é o mínimo de respeito que os governantes têm de ter para com as pessoas mais necessitadas desse país. Tudo aquilo que vocês viram, com todos aqueles brinquedos para as crianças, biblioteca, área de computação, custou apenas R$ 500 mil”, disse Lula.

“Portanto é plenamente possível que todo o conjunto habitacional tenha não apenas as quatro paredes para as pessoas morarem, mas tenha também área de lazer e conforto fora de casa para vocês poderem morar e ser tratado com respeito”, acrescentou referindo-se aos ambientes coletivos dos conjuntos habitacionais, em especial as bibliotecas, que ajudarão as crianças a “aprender a viajar pelo mundo dos livros, que aumentam o nosso conhecimento e a nossa cultura”.

“Assumimos o compromisso de construir mais 2 milhões de casas, e só faltam 2 anos e 3 meses para eu terminar o meu mandato. Nós queremos fazer mais do que os 2 milhões que prometemos. E está chegando o dia em que a gente vai fazer também uma piscininha para o filho de pobre ter o prazer de nadar”, afirmou o presidente Lula.

Vida selvagem diminui 73% em 50 anos, diz relatório da WWF

Relatório da organização não governamental (ONG) World Wide Fund for Nature (WWF), divulgado nesta quinta-feira (10), alerta para o “declínio catastrófico” de 73%, nos últimos 50 anos, do tamanho médio das populações de vida selvagem. Só a América Latina e Caribe viram cair 95% dessas populações. A organização de preservação da natureza adverte que os próximos cinco anos vão determinar o futuro da vida na Terra.

Desde elefantes em florestas tropicais a tartarugas-de-pente na Grande Barreira de Corais, as populações estão diminuindo de forma “catastrófica”, afirma a ONG, que desde 1961 trabalha na área de preservação da natureza e redução do impacto humano no meio ambiente.

Os maiores declínios nas populações de vida selvagem foram registrados na América Latina e no Caribe, de 95%. A África tem menos 76% e a Ásia-Pacífico, menos 60%. 

O relatório Planeta Vivo, da WWF, deixa claro que, à medida que a Terra se aproxima de pontos perigosos de inflexão de ameaça à humanidade, maior esforço coletivo será necessário para enfrentar as crises climáticas e naturais. Porém, a margem é curta para inverter a tendência. A análise afirma que o futuro da vida na Terra depende do que acontecer nos próximos cinco anos.

O Índice Planeta Vivo (LPI), fornecido pela Sociedade Zoológica de Londres, inclui quase 35 mil tendências populacionais de 5.495 espécies – aves, mamíferos, anfíbios, répteis e peixes – registradas entre 1970 e 2020. O declínio maior ocorre nos ecossistemas de água doce que apresentam redução de 85%, seguido pelos terrestres, que decresceram 69%. A vida marinha caiu 56%.

A perda e a degradação de habitats têm sido impulsionadas principalmente pelo sistema alimentar humano e é a ameaça à vida selvagem mais relatada, indica o relatório. A exploração desenfreada de recursos naturais, as espécies invasoras, a poluição e as doenças estão também identificadas como causa do declínio.

Mike Barrett, principal autor e consultor científico do WWF, disse que, devido à ação humana, “particularmente a maneira como produzimos e consumimos nossos alimentos, estamos cada vez mais perdendo o habitat natural”. 

“O declínio nas populações de vida selvagem pode atuar como indicador de alerta precoce do aumento do risco de extinção e da perda potencial de ecossistemas saudáveis”, explica o documento.

Para Kirsten Schuijt, diretora-geral da WWF Internacional, “a natureza emite um pedido de socorro. As crises interligadas de perda da natureza e mudanças climáticas estão a empurrar a vida selvagem e os ecossistemas para além dos seus limites”.

Quando os ecossistemas são prejudicados, deixam de fornecer à comunidade humana os benefícios dos quais todos dependem – ar limpo, água e solos saudáveis para alimentação. E por estarem danificados, esses ecossistemas se tornarão mais vulneráveis a momentos de mudança.

Essas alterações podem ser considerados pontos de inflexão e ocorrem quando um ecossistema é empurrado além de um limite crítico, resultando em mudanças substanciais e potencialmente irreversíveis.

A perda de espaços selvagens está “pondo muitos ecossistemas à beira do abismo”, reitera a diretora da WWF no Reino Unido, Tanya Steele, destacando que muitos habitats, da Amazónia aos recifes de corais, estão “à beira de pontos de inflexão muito perigosos”.

O potencial “colapso” da floresta amazónica, está em curso porque deixará de ter capacidade de reter o carbono que aquece o planeta e mitigar os impactos das alterações climáticas.

Em um dos exemplos do relatório, é apontado decréscimo de 60% dos botos cor-de-rosa ou golfinhos de rios da Amazônia devido à poluição e a outras ameaças, como a mineração.

Por sua vez, na Austrália, as tartarugas-de-pente estão em declínio, devido ao fato de as fêmeas nidificantes, no nordeste de Queensland, terem diminuído 57% em 28 anos.

O balanço da WWF é apresentado quando os incêndios na Amazônia atingiram, em setembro, o nível mais alto em 14 anos. Além disso, pela quarta vez, um evento global de branqueamento em massa de corais foi confirmado no início deste ano.

Caça ilegal na África

O relatório aponta fortes evidências de que a caça ilegal para alimentar o comércio de marfim, no Gabão e em Camarões, coloca em perigo crítico a população de elefantes da floresta do Parque nacional em Minkébé. O declínio drástico já atingiu as famílias de elefantes da floresta, aniquilando metade da espécie.

Na Antártida, “o declínio nas colônias de pinguins-barbicha pode estar ligado ao degelo das calotas polares e à escassez de krill (pequenos crustáceos), razões que, por sua vez, resultam das alterações climáticas e do aumento da pesca desse mesmo krill”, diz o documento.

As condições mais quentes, associadas a níveis mais baixos de cobertura de gelo marinho, resultam em menos krill, sendo esses crustáceos (semelhantes aos camarões) a principal fonte de alimento dos pinguins. Essas comunidades acabam por gastar mais tempo à procura de comida, “o que pode aumentar o risco de falha reprodutiva”.

Mike Barrett lembra que não se deve ficar triste apenas pela perda da natureza. E avisa: “Estejam cientes de que esta é agora uma ameaça fundamental à humanidade e realmente precisamos fazer alguma coisa e tem de ser já”.

“Não é exagero dizer que o que acontecer nos próximos cinco anos vai determinar o futuro da vida na Terra”, alerta a WWF.