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Paes entrega a Lula documento com 36 demandas de prefeitos do U20

Prefeitos do U20, grupo das maiores cidades do G20, entregaram neste domingo (17) ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um documento com 36 pedidos para repensar as cidades, reduzir as desigualdades no espaço urbano e enfrentar as mudanças climáticas. Lula recebeu o documento do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, na cerimônia de encerramento das atividades do U20.

Assinado por prefeitos e representantes de 26 cidades do U20, mais sete cidades observadoras e 25 cidades convidadas, o documento está dividido nos mesmos três eixos da presidência brasileira no G20: combate à fome e a pobreza; desenvolvimento sustentável, mudanças climáticas e transição energética justa; e reforma das instituições de governança global. 

Realizada no Armazém Utopia, na zona portuária do Rio de Janeiro, a cerimônia de encerramento começou com 20 minutos de atraso e durou cerca de 50 minutos.

Mesa do fórum de prefeitos Urban 20) – Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

O evento teve a presença do presidente do Chile, Gabriel Boric, que entregou o documento junto com Eduardo Paes. Além deles, as prefeitas de Freetown (Serra Leoa), Aki Sawyerr, e de Phoenix (Arizona, Estados Unidos), Kate Gallego, participaram da entrega do documento.

Voltado à gestão das cidades, o U20 foi realizado paralelamente ao G20 Social, iniciativa do G20 que reuniu as reivindicações da sociedade civil. Grupo das 19 maiores economias do planeta, mais União Europeia e União Africana, o G20 inicia a reunião de chefes de Estado e de Governo nesta segunda-feira (18).

Planejamento urbano

Fórum de prefeitos Urban 20, na zona portuária da capital fluminense – Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Em seu discurso, o presidente Lula afirmou que as cidades precisam de ajuda para financiar o custo da transição ecológica. Ressaltou que o planejamento urbano tem um papel crucial na transição ecológica e no enfrentamento à mudança do clima.

“As cidades não podem custear sozinhas a transformação urbana. Elas não podem ser negligenciadas nos novos mecanismos de financiamento da transição climática. Infelizmente, os governos esbarram em uma enorme lacuna de financiamento no Sul Global. Apenas uma parcela dos recursos necessários chega aos países em desenvolvimento e uma parte ainda menor alcança nossas metrópoles”, disse o presidente.

Lula também destacou que mais da metade da população mundial vive nas cidades, que respondem por 80% do Produto Interno Bruto (PIB) global. Lembrou que as cidades concentram 70% das emissões de gases de efeito de estufa e 75% do consumo global de energia.

“Esses mesmos centros urbanos estão desproporcionalmente expostos às consequências das mudanças climáticas, à subida do nível dos oceanos, às ondas de calor, à insegurança hídrica e a enchentes avassaladoras, como as que vimos recentemente no Sul do Brasil, na Colômbia e na Espanha”, afirmou o presidente.

Desafios

Mesa do fórum de prefeitos Urban 20 – Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Segundo o documento, o mundo enfrenta “desafios complexos” que exigem a articulação de múltiplos atores globais e locais capazes de promover integridade e justiça para além de suas fronteiras. O texto menciona que 56% da população global vive em cidades, com a expectativa de o número subir para 70% nos próximos 25 anos.

Em relação ao financiamento, a carta dos prefeitos pede investimentos de US$ 800 bilhões por ano em ações climáticas. O dinheiro cobriria apenas cerca de 20% da necessidade de financiamento climático nas cidades, mas ajudaria a induzir e estimular investimentos do setor privado. Entre os investimentos necessários, estão a transição para fontes de energia renováveis, reformas estruturais nos espaços urbanos e a construção de habitações mais sustentáveis.

Os prefeitos também pediram que os bancos multilaterais e os governos destinem 40% de financiamentos a juros baixos para projetos municipais que deem prioridade a comunidades de baixa renda, bairros vulneráveis, trabalhadores e pessoas em situações de risco. Parte do financiamento público seria custeada pela taxação progressiva (sobre os mais ricos) em escala global.

Mesa do fórum de prefeitos Urban 20) – Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Prioridade

Em seu discurso, o prefeito Eduardo Paes afirmou que as cidades têm papel central na melhoria das condições de vida e que precisam receber atenção prioritária dos países do G20. Segundo ele, os US$ 800 bilhões anuais permitirão que os municípios promovam uma transição ecológica justa, que proteja as populações vulneráveis e crie empregos que fortaleçam uma economia mais verde.

“À medida que as cidades enfrentam problemas globais em escala local para melhorar as condições de vida dos que mais precisam e proteger o planeta, ecoamos a priorização da presidência do G20 de reformar a governança global e pedimos um sistema multilateral renovado que reconheça o papel das cidades como atores políticos cruciais e o nível de governo mais próximo das comunidades que atendem”, declarou Paes.

Combate ao aquecimento global está na pauta da reunião do U20

O papel de governos locais como líderes econômicos e políticos mundiais será discutido no encontro de dois dias, que começa nesta segunda-feira (17), no Instituto Tomie Ohtake, na capital paulista. Será o primeiroUrban20 (U20), grupo que concentra cidades do G20 formado pelas principais economias do mundo e co-presidido pelos municípios do Rio de Janeiro e de São Paulo. Estarão presentes autoridades de 38 municípios e uma das principais pautas será o combate ao aquecimento global.

“O encontro busca promover a diplomacia urbana, discutir as prioridades estabelecidas pela presidência do G20 sob a perspectiva urbana. Planejar ações e favorecer novos negócios e a cooperação internacional entre os municípios do U20”, informou a prefeitura do Rio em nota.

Para o prefeito do Rio, Eduardo Paes, as ações de enfrentamento às mudanças climáticas estão nas cidades, que são os motores do crescimento econômico e representam mais de 80% do PIB mundial. Paes acrescentou que é preciso garantir financiamentos aos municípios.

“São necessários mecanismos, dentro da governança global, que garantam acesso ao financiamento internacional às cidades. Os municípios dos países em desenvolvimento têm potencial para atrair cerca de US$ 30 bilhões em investimentos relacionados ao clima até 2030. O G20 é uma oportunidade única para mostrarmos às maiores lideranças mundiais a importância da reforma financeira global”, disse o prefeito, em nota divulgada pela prefeitura.

Na visão do chefe do executivo da cidade de São Paulo, Ricardo Nunes, a cúpula é o principal evento do U20. “Uma grande oportunidade para debater ideias e elaborar políticas públicas comprometidas com o desenvolvimento urbano sustentável”, indicou também na nota.
Nunes ainda deu boas-vindas aos participantes: “A cidade de São Paulo tem a honra de sediar tão importante encontro e, na nossa tradição em receber bem, deseja uma excelente participação e experiência a todos”.

 O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Segundo o coordenador de Relações Internacionais da capital fluminense, Antônio Mariano, a co-presidência com São Paulo é fundamental e demonstra a prioridade do a capital fluminense em reforçar o desenvolvimento urbano sustentável e a resiliência nas cidades no Brasil e no mundo.

“São duas das maiores cidades do Sul Global levando a cabo um debate de alto nível com outros prefeitos do G20, prontos para reverter o atual quadro de desigualdade global e mitigar os impactos ambientais e sociais das mudanças climáticas. Esse esforço conjunto visa produzir um entendimento internacional comum sobre a importância das políticas públicas urbanas, de encontrar soluções inovadoras sustentáveis e meios de implementação delas, construindo um futuro mais justo e equitativo para todos”, apontou.

A segunda reunião do U20, está prevista para novembro, no Rio, e, pela primeira vez, ocorrerá na véspera do encontro de chefes de Estado e de governo do G20. “Como a estrutura local lida mais diretamente com as crises, desde a desigualdade econômica até as catástrofes climáticas, a realização do encontro de prefeitos às vésperas da cúpula do G20 pode promover relevante influência nas discussões de chefes de Estados quanto à governança global e entre os diversos níveis da administração pública”, informa a prefeitura do Rio.