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Moraes defende importância do uso das tecnologias para o bem coletivo

O Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes defendeu, durante homenagem no Ministério Público de São Paulo, a importância da sociedade direcionar as tecnologias, inclusive as redes sociais, para o benefício coletivo. Sem mencionar diretamente a polêmica com a plataforma X e com o empresário Elon Musk, o jurista falou nesta sexta-feira (30) sobre a necessidade da categoria atuar com sensibilidade às necessidades coletivas, ousadia e coragem.

“As redes sociais, a inteligência artificial, nós temos que adaptar essas ferramentas pra otimizar o que nós podemos fazer pela sociedade, e não o inverso. Nós não temos que nos escravizar, nós não temos que ser manipulados, nós temos que utilizar esses instrumentos pro bem.”, disse o Ministro, em discurso de agradecimento.

Moraes recebeu, na tarde de hoje, o Colar do Mérito Institucional do Ministério Público do Estado de São Paulo, em sessão solene do Órgão Especial do Colégio de Procuradores de Justiça da instituição. A homenagem, aprovada por unanimidade em 2022, foi motivada pela trajetória do magistrado. O papel dele nas eleições de 2022, na tentativa de golpe em 8 de janeiro e na responsabilização e desarticulação posterior de movimentos antidemocráticos foi citado pelos presentes, alguns dos quais atribuíram a ele a manutenção da democracia durante e após o pleito.

Entre as autoridades que estiveram na cerimônia destacaram-se o ex-presidente da República Michel Temer, o vice-presidente, Geraldo Alckimin, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e o senador David Alcolumbre, além dos ministros do STF Dias Toffolli e Cristiano Zanin, do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski e do presidente do Superior Tribunal de Justiça, Antônio Herman Benjamin. Também estiveram presentes membros do Tribunal de Justiça de São Paulo e do próprio MP. O colar lhe foi posto pela filha, Gabriela, e pelo procurador Geral do MP, Paulo Sérgio Oliveira e Costa. Moraes agradeceu especialmente sua família, citando as ameaças que sofreram nos últimos anos e atribuindo-as ao clima de conflito e extremismo que tomaram o centro do debate político recente.

Dia dos Pais: tecnologias podem aproximar ou afastar os filhos

“Quando eu chegar da faculdade, eu ligo”. Nenhuma mensagem que chega ao telefone é trivial para o pipoqueiro Gil Lopes, de 58 anos, pai de seis filhos. “Tudo o que vem deles é importante”. O potiguar, radicado em Brasília, mantém no ouvido o fone em que ouve as mensagens de áudio e as novidades simples do dia a dia, uma forma de lidar com as saudades, desde que os rapazes e as moças começaram a sair de casa para mudar de cidade e casar. Ele recebe mais mensagens do que ligações, mas não se incomoda. “A vida deles é corrida”, lamenta.

Brasília, (DF) , 08/08/2024 – Enquanto vende pipoca, Gil Lopes usa os fones para ouvir mensagens dos filhos – Valter Campanato/Agência Brasil

Diante do carrinho da pipoca, ele diz que a tecnologia do celular é o que garante a tranquilidade para trabalhar. Ele só tira o fone de ouvido para atender os clientes. O pipoqueiro, que mora na região administrativa de São Sebastião (DF), recorda que já foi mais preocupado com o que a tecnologia poderia causar. De fato, a tecnologia mexe também com a paternidade ativa.

De acordo com pesquisadores ouvidos pela Agência Brasil, as evoluções tecnológicas do celular e internet alteraram, de variadas formas, as relações familiares, incluindo de pai e filhos. Um desses caminhos é positivo, já que a tecnologia ajudou a propiciar proximidades, conforme avalia o neurologista pediátrico Eduardo Jorge Custódio da Silva, membro do Grupo de Trabalho Saúde Digital da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). 

“O pai pode estar viajando e é possível vê-lo por um vídeo. A tecnologia pode ser fundamental. A gente tem um site chamado Esse Mundo Digital, que é para conscientizar sobre o uso da internet de forma ética, saudável, segura e educativa”, afirma.

Tempo de presença

Segundo a pesquisadora Sandra Rúbia da Silva, professora da pós-graduação em comunicação na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), os pais precisam encontrar tempo para participar das atividades com os filhos, seja online ou fora das telas.

“Na minha pesquisa, a gente conseguiu observar que os pais veem que o uso do celular está atrelado à preocupação com a segurança dos filhos”. Mas, os filhos veem, segundo a pesquisadora, a utilização da tecnologia como uma oportunidade de utilização das redes sociais, que colocaram as relações familiares em “um novo patamar, de diversas formas, tanto troca de saberes, quanto especialmente essas trocas de afeto”, afirma a professora. Ela  investiga, com uma abordagem antropológica, as práticas relacionadas ao consumo de telefones celulares em periferias urbanas.

“Veja quantas mensagens de Dia dos Pais vão estar nas redes sociais agora neste domingo”. Inclusive, que acarretam o fenômeno de que pais que não são homenageados com postagens podem sair magoados. “Imaginemos, por exemplo, um pai e um filho que se afastaram. A tecnologia pode facilitar, por exemplo, uma aproximação. Pode, enfim, resgatar ou afastar.

“A tecnologia, em si, não faz nada. Afastar ou se aproximar tem a ver com os comportamentos humanos”. 

Excesso de telas

Para a professora Sandra Rúbia da Silva, da UFSM, é necessário que os pais estejam atentos para que, quando presentes fisicamente, não estejam “ausentes” e apenas ligados às redes sociais. Da mesma forma, os filhos devem ser chamados ao mundo longe das telas, segundo explica o neurologista pediátrico Eduardo Jorge Custódio da Silva, da SBP. 

Ele exemplifica que se tornou comum a cena de pais e crianças (e até bebês) com dispositivos móveis na mesma mesa. E nenhuma palavra entre eles.

“Essa é uma imagem assustadora. A internet e as telas podem ser capazes de aproximar os distantes. E, em compensação, afastar quem está próximo”.

O neurologista faz parte do grupo que elaborou um documento científico da entidade intitulado “Menos Telas e Mais Saúde”, no período da pandemia, e que deve ter uma nova versão no ano que vem.

“É muito importante que a criança, no seu desenvolvimento, utilize o toque: veja, ouça, sinta o gosto, prove o cheiro, abrace, caia no chão e viva como criança”. 

Contato e riscos

O médico explica que o contato físico e o diálogo são fundamentais. “Historicamente, os pais sempre foram um pouco mais afastados na relação com os filhos. Mas isso mudou. Estar com a criança é muito importante. E a tela não pode ser a única forma de mediação de nenhum contato”. 

Essa ausência pode gerar riscos emocionais na construção da personalidade.

“É importante sair com as crianças e deixar o celular para trás. Colocar o telefone dentro de uma caixa por pelo menos por uma hora. É preciso criar momentos de ‘detox’”.

Isso inclui, segundo o neurologista da SBP, por exemplo, contar para o filho como foi o dia e abraçar sempre que possível. 

O neurologista alerta para a necessidade das famílias estarem atentas à possibilidade de dependência digital dos filhos. “Isso já é uma doença. A autoridade paterna e materna é importante desde o início do processo. A gente tem que ter autoridade e as crianças e os adolescentes querem autoridade”, aponta. E essa autoridade deve ser exercida, segundo os especialistas ouvidos, com o diálogo. “A dependência digital caracteriza-se por prejuízos na vida social, escolar ou emocional. É preciso  um apoio psicológico, mas também familiar”.

Aproximação

A psicóloga e professora Leila Cury Tardivo, da Universidade de São Paulo (USP), também reitera que os pais devem utilizar a tecnologia para se aproximar. Como coordenadora de  um projeto de atendimento social em São Paulo, o Apoiar, a pesquisadora, desde a pandemia, constatou a necessidade das crianças e adolescentes se sentirem mais acolhidos. “Os pais não são obrigados a resolver tudo. Mas a aproximação e o diálogo ajudam muito”. Na paternidade ativa, por exemplo, ela defende que sejam respeitadas as dores, dúvidas e inseguranças próprias das faixas etárias. 

A professora destaca que a sociedade vive um contexto de diferentes constituições familiares, e a participação da paternidade ativa é o esperado para encarar os desafios.

“O pai pode ser muito importante na vida do filho. Não tem mais um lugar definido, mas precisa compartilhar responsabilidades”.  

É isso o que diz acreditar também o agricultor e servidor público aposentado Américo Oliveira, de 63 anos, também pai de seis filhos. Morador de área rural na região administrativa do Gama (DF), esperava o ônibus para ir para casa e ficava atento ao celular para esperar qualquer “oi” dos filhos. 

Brasília, (DF) , 08/08/2024 – Americo Oliveira tenta fazer com que filho brinque com pés na terra – Valter Campanato/Agência Brasil

Os mais velhos partiram para áreas urbanas e hoje tem em casa a esposa e o caçula de 11 anos. Ele tenta fazer com que o menino brinque de pés no chão na terra e de bola. “Lógico que ele pede o celular para joguinhos. Mas fico feliz que ele usa também para me mandar mensagens. É uma luta diária, mas gosto de sentar ao lado dele para conversar sobre o que ele viu na tela”, sorri o pai.  

Cientistas podem usar CadÚnico para criação de tecnologias sociais

O Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) está à disposição da comunidade científica para criação de tecnologias que melhorem a subsistência das pessoas mais pobres e que antecipem soluções para dificuldades dos estratos sociais mais vulneráveis do país.

A oferta foi feita por Ieda Maria Nobre de Castro, diretora do Departamento de Gestão do Cadastro Único, ligado ao Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), na 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI) que ocorre em Brasília.

O Cadastro Único é um instrumento de vigilância socioassistencial e dispõe de informações georreferenciadas de 93 milhões de brasileiros assistidos por 40 programas federais, inclusive os mais desamparados e isolados como comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pessoas com deficiência, idosos, crianças e mulheres que são chefes de famílias.

“O cadastro hoje diz quem são as pessoas que mais precisam do Estado, quem são as pessoas que sofrem com as desigualdades sociais, onde elas estão, qual é a região, quantos membros tem naquela família, o tipo de moradia e a atividade econômica que desenvolvem”, explicou a diretora do MDS, que é doutora em Política Social, durante seminário na CNCTI

Retroalimentação

“Temos várias ferramentas no Cadastro Único que gostaríamos muito que fossem utilizadas pelas universidades, pelas pesquisas, para irmos retroalimentando essa base de dados com os conhecimentos que foram sendo produzidos.”

Para Ieda Castro, é preciso usar a ciência para evitar problemas, contornar dificuldades e também resolvê-las. “Usamos muito pouco a ciência para prevenção. Exemplo disso foram as enchentes no Rio Grande do Sul. Temos muito conhecimento científico de áreas que podem estar expostas a crise climática, e não nos antecipamos às questões. Esperamos o evento acontecer para mitigarmos”.

“Falta suporte técnico”, avalia a diretora. “A gente precisa pensar em produtos e processos produtivos para a população de baixa renda.” Segundo ela, o CadÚnico é mais que um cadastro administrativo do Programa Bolsa Família e, com base de dados regionalizada e territorializada, “pode e deve ser utilizado pela ciência, não só para produzir conhecimento, mas para produzir alternativas e programas que possam prevenir riscos sociais e que diminuam a desigualdade social, pelo menos.”

Cultura da ciência  

Ieda Maria apontou algumas áreas para atuação social dos cientistas, como o apoio à integração em tempo real e cruzamento de dados do CadÚnico com sistemas de informação da saúde, educação e assistência social; a criação de recursos para cuidado de pessoas que precisam de atendimento especial, como os idosos, e de tecnologias de assistência para quem, por exemplo, vive em lugares remotos.

“A gente tem muita dificuldade ainda em alguns territórios da Amazônia. As pessoas têm que andar de canoa para chegar até uma cidade para atualizar o cadastro único”. lembrou

De acordo com Ieda Castro, ciência e tecnologia “promovem bem-estar para a sociedade” e podem ajudar a mudar a elaboração e implantação de políticas sociais. “Precisamos muito capacitar as gestões municipais, criar a cultura da ciência na gestão pública, principalmente da assistência social, que ainda é muito apropriada pelo assistencialismo, pelo clientelismo e pela reprodução de práticas políticas conservadoras. Essa política é uma política ainda muito visada para ser curral eleitoral.”

Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Social é um dos eixos em discussão na CNCTI que vai até quinta-feira (1º). Todos os seminários podem ser assistidos no canal do MCTI no YouTube.

Tecnologias para mapear florestas tropicais favorecem transição verde

Cientistas empenhados em melhorar a tecnologia existente para criar um inventário de biodiversidade desenvolvem equipamentos inéditos durante a participação no concurso global XPrize Florestas Tropicais. Os novos equipamentos são capazes de monitorar, identificar e classificar árvores, além de atrair e capturar insetos, tudo de forma autônoma e em favor da ciência.

As soluções foram projetadas pelas equipes que chegaram à final da competição e disputam o prêmio de US$5 milhões (mais de R$25 milhões), que será pago ao primeiro colocado. Os últimos avanços tecnológicos foram apresentados durante o mês de julho no teste de validação ocorrido na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro, próxima a Manaus, no estado Amazonas.

Preocupados com o impacto que uma tecnologia de uso ambiental poderia causar, a equipe norte-americana Welcome to the Jungle optou por desenvolver soluções de material biodegradável para posicionar suas plataformas capazes de coletar o material necessário para identificar espécies. Semelhante a uma teia de aranha, a estrutura se adequa a diferentes ambientes como copas de árvores, e é posicionada por meio de um drone.

Alta resolução

O grupo desenvolveu duas plataformas, uma equipada ao mesmo tempo por um sensor remoto do tipo Lider (Light Detection and Ranging), capaz de escanear em 3D e com alta definição; e por uma câmera multiespectral e de imagens térmicas mais adequada para áreas altas.

A ferramenta é capaz de classificar as espécies de árvore pela mancha da copa da árvore na imagem formada. “Não é um conceito novo, mas é um novo modelo que se baseia basicamente na morfologia e no tipo de mancha principal. Assim, podemos morfologizar a mancha para saber que tipo de distribuição ela é”, explica a especialista em DNA ambiental, Chai-Shian Kua.

A outra plataforma terrestre foi estruturada com armadilhas fotográficas, sensores bioacústicos e coleta de DNA ambiental para áreas secas e alagadas. “Nossos dados de DNA ambiental podem ser coletados de várias formas. Temos a capacidade de coletar a água, mas também de filtrar e coletar de forma isolada, por exemplo”, explica Matthew Spenko, especialista em robótica e coordenador da equipe.

Todas essas soluções foram equipadas com um aplicativo, também desenvolvido exclusivamente pela equipe, capaz de processar diferentes dados de forma automática e sequencial e reportar em pouco tempo os dados em painéis de fácil compreensão.

Monitoramento

Assim como a equipe norte-americana, o grupo hispano brasileiro Providence+ também apostou no desenvolvimento de uma tecnologia exclusiva chamada Drop (sigla de Plataforma Operacional de Floresta Tropical Profunda em inglês).

A ferramenta, similar a um disco atravessado por um eixo central, é capaz de coletar dados muito similares aos dos concorrentes, com a diferença que reúne todas as capacidades de captura em um mesmo equipamento, que pode se posicionado tanto dentro da água, quanto na copa de uma árvore.

Além de sensores de movimento, câmeras, microfones e compartimento para amostra de DNA ambiental de água ou solo, a solução também possui em sua estrutura bateria, GPS e sistema de comunicação sem fio que acessam uma inteligência artificial para identificação de espécies automatizada.

“Isso passa por identificar o que chamamos de classes de fontes acústicas, tipos de fontes que podem pertencer a uma espécie ou a rio, vento, chuva, porque o reconhecimento automático também inclui fontes não biológicas tipo física, como tormenta, chuva, ruído de motores, disparo de rifle. Há toda essa parte também que podemos falar que serve para a proteção desse terreno”, explica Michel André, que coordena a equipe.

A inteligência artificial recebeu como base de dados os estudos acústicos desenvolvidos desde 2017 pela equipe, que reúne estudiosos da Universidade da Catalunha e Pompeu Fabra de Barcelona, além da equipe de pesquisadores do Instituto Mamirauá, de Manaus.

Com esses dados, o equipamento já se tornou capaz de identificar 160 espécies por sons. “A gente criou um sistema que pode hoje muito bem assumir o papel de ser um sistema de monitoramento automatizado da biodiversidade brasileira. A gente já tem isso e já está pronto, foi implementado na unidade de conservação, no Instituto Mamirauá, e a gente está implementando em outras 20 unidades de conservação, no Brasil e fora do Brasil”, explica Emiliano Ramalho.

Insetos

Competidores do Xprize Rainforest testam equipamentos de monitoramento na floresta amazônica na comunidade de Tumbira, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro – Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Já a equipe Limelight Rainforest focou na biodiversidade de insetos. O grupo inovou nos modelos de armadilhas que foram acopladas em uma tecnologia também exclusiva desenvolvida pelo grupo norte-americano. Luzes noturnas trazem as inúmeras espécies até o ponto de captura das câmeras para que as imagens sejam finalmente analisadas por uma inteligência artificial.

“Percebemos que os insetos estão realmente ausentes nos dados e são um dos organismos mais biodiversos do planeta. São um alimento importante, são importantes em todos os aspectos do ecossistema. Portanto, uma das grandes partes que estamos tentando avançar é realmente construir esses bancos de dados e começar a entender quais insetos estão aqui”, explica Julie Allen, especialista em bioinformática.

O equipamento é uma plataforma de amostragem guiada por drone e que permite a coleta de informações e também de espécies para análise e sequenciamento de DNA nos laboratórios compactos.

“Estamos medindo várias formas diferentes de coletar dados, então temos dados acústicos, coletaremos sons de pássaros, sons de morcegos, outros sons, coletaremos eDNA, DNA ambiental da água, do ar e de superfícies, e também coletaremos os próprios insetos”, conta o coordenador do grupo Guillaume Charone.

Aplicabilidade

De acordo com o secretário de Economia Verde do Ministério Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Rodrigo Rollemberg, o desenvolvimento desse tipo de inovação pode favorecer a liderança brasileira na transição para uma economia verde. Por essa razão, o governo federal tem incentivado iniciativas como a realização da final do XPrize Florestas Tropicais na Amazônia.

Para o secretário, tecnologias como as que estão sendo desenvolvidas pelas equipes competidoras poderão favorecer as cadeias produtivas da biodiversidade amazônica, além de consolidar os conhecimentos tradicionais por meio da ciência e viabilizar soluções para problemas enfrentados pelas comunidades tradicionais e os povos originários da região.

“A monilíase é uma doença do cacaueiro e do cupuaçuzeiro e o corte da árvore é necessário para enfrentar a praga. Mas, muitas vezes, as pessoas escondem a existência da planta doente com medo de perdê-la. Drones ligados à inteligência artificial com algorítmo que identifique a monilíase, permitiam, por exemplo a atuação da defesa sanitária”, diz.

Para reunir as inovações ao conhecimento, o MDIC pretende aproximar as pesquisas desenvolvidas pelo Centro de Bionegócios da Amazônia (CBA), em Manaus, às soluções tecnológicas que resultarem do concurso.

“Esse é o primeiro passo de uma parceria para que essas tecnologias possam se aproveitadas, possam ser disponibilizadas, possam ser reforçadas pelas instituições e pelas comunidades locais”, reforçou Rollemberg.

Caminhos da Reportagem discute tecnologias inovadoras para uso do lixo

Edição inédita do programa Caminhos da Reportagem destaca, neste domingo (26), iniciativas de negócios que usam o lixo como matéria-prima e fonte de renda. às 22h, na TV Brasil. O Valor do Lixo é o tema da produção jornalística. O conteúdo pode ser visto no App TV Brasil Play.

A matéria especial apresentada pelo canal público revela diversas tecnologias inovadoras. Uma delas, desenvolvida pela Universidade de Brasília (UnB), permite a reciclagem de bitucas de cigarro, transformando-as em celulose e, consequentemente, em papel. Outra técnica mostrada pelo programa converte isopor em uma massa modelável para consertos em metais e em madeiras.

O Caminhos da Reportagem ainda trata de assuntos relevantes como compostagem, resíduos orgânicos e reaproveitamento. Também discute o conceito de economia circular e explica a destinação correta do lixo eletroeletrônico por meio da reciclagem.

A produção ainda sinaliza que o país recicla apenas 4% de todos os resíduos sólidos que gera anualmente. Em 2022, o Brasil produziu cerca de 82 milhões de toneladas de lixo, o que corresponde a 224 mil toneladas por dia. Isso significa que cada cidadão produziu, em média, pouco mais de 1 quilo de resíduos por dia. Os dados são do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2022, publicação da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).

Projetos inovadores

O programa jornalístico mostra histórias de empreendedores que investiram em projetos inovadores. A empresa baiana Reparô, criada por Luciana Luz e seu filho Lucas, desenvolve uma tecnologia que transforma isopor em massa modelável. A proposta é criar um produto empregado para fazer reparos variados em materiais de diversas naturezas como metais e madeiras.

Para Juliana Borges, analista de competitividade do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a Reparô é um exemplo de pequena empresa que encontrou uma solução inovadora para um desafio complexo. “A Reparô, hoje, está crescendo, tem buscado investidores, e eu acho que é uma das empresas que a gente vai se orgulhar muito de ser uma iniciativa brasileira na solução de problemas complexos, como a questão do isopor”, afirma.

Já Marcos Poiato, dono da empresa Poiato Recicla, conta que se interessou pela tecnologia há mais de dez anos e implementou uma usina de reciclagem de bitucas em Votorantim, no estado de São Paulo. Atualmente, a usina atende a mais de 700 clientes ao recolher as pontas de cigarro, reciclar e fornecer a massa celulósica para aplicações variadas, como a produção de velas e papel reciclado.

Fernanda Romero, gerente de Políticas para Químicos do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, ressalta a importância financeira da reciclagem de resíduos sólidos. “Uma vez adotadas as práticas de reúso, recuperação, reparo, remanufatura, a gente pode gerar lucro líquido anual de US$ 100 bilhões”, explica.

Compostagem e reaproveitamento

A compostagem é abordada no programa da TV Brasil. O Caminhos da Reportagem indica o método de coleta e a separação de resíduos orgânicos. O que é lixo para alguns serve matéria-prima para outros. O empresário Micael Cobelo, por exemplo, fez da compostagem de lixo orgânico o seu ganha-pão com a coleta em residências.

“A gente disponibiliza um kit para fazer a separação dos resíduos, que é um baldinho de 16 litros, mais uma sacola compostável, além de serragem para evitar o mau cheiro. E fazemos a coleta uma vez por semana. Depois da coleta, a gente leva para o nosso pátio de compostagem, onde usa o método termofílico (que utiliza temperaturas elevadas para decomposição dos materiais). Então, a gente consegue compostar tanto cozidos, carnes e cítricos, que são matérias orgânicas não compostadas nos minhocários domésticos”, explica Micael.

A chefe da Unidade de Medição e Monitoramento do Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal (SLU), Andréa Almeida, diz que, de todo o quantitativo de resíduos sólidos gerados, aproximadamente 65% são resíduos orgânicos, 25%, recicláveis (plástico, papel, vidro e alumínio) e 10%, rejeitos (papel higiênico, absorventes, fraldas e máscaras de proteção, entre outros).

A especialista ressalta a importância do reaproveitamento dos resíduos para o meio ambiente e a vida útil dos aterros sanitários. Para ela, quanto menos lixo for enviado para os aterros, mais tempo eles duram, reduzindo a necessidade de criação de novos aterros.   

“Nós recebemos cerca de 500 toneladas por dia chegando no aterro sanitário. E esse material, se fosse segregado na fonte, na casa das pessoas, não chegaria ao aterro sanitário. Interessante dizer também que, por mais que se faça a separação, se for feita de modo incorreto, misturar o orgânico com o seletivo, perde-se esse material. Ele vai chegar lá nos nossos catadores, no nosso centro de triagem, vai simplesmente passar pela esteira e vai como rejeito para o aterro sanitário. Ou seja, ele só passeou”, ressalta Andréa.

Economia circular e eletroeletrônicos

A produção da TV Brasil também destaca a importância da reciclagem de eletroeletrônicos. Para mostrar os benefícios para o meio ambiente, o programa acompanha um dos negócios da Programando o Futuro, no Distrito Federal.

Coordenador financeiro da organização da sociedade civil criada há 23 anos, inicialmente como um projeto de inclusão digital para jovens, Fábio Oliveira Paiva fala sobre a iniciativa no Caminhos da Reportagem. O negócio, que era uma ideia para capacitar as pessoas, tornou-se um projeto dedicado à destinação correta do eletroeletrônico.

“No desenvolvimento do processo, começamos a receber doações de empresas, de órgãos públicos, e boa parte das coisas não tinha condições de funcionamento. Então, em vez de resolver um problema, ajudar as pessoas, começamos a criar um problema para nós mesmos. O que fazer com esse tanto de equipamento que não tem serventia? Não pode jogar no lixo, não pode jogar na rua, o lixeiro não vai levar. E começou a acumular… Foi quando verificamos que parte desses equipamentos, que não têm condições de uso, têm um valor mensurado dentro deles, que pode ser revertido para as atividades da entidade”, enfatiza Fábio.

Hoje, a empresa desmonta os equipamentos que não têm condições de uso, separa as partes de acordo com o material, e dá a destinação correta. Os plásticos, por exemplo, são triturados e vendidos para empresas que fazem a reciclagem desse tipo de material – serviço fundamental para estender a vida útil do plástico, evitando a retirada de mais petróleo da natureza.

A atração da TV Brasil, que vai ao ar às 22h deste domingo, destaca como a economia circular une o desenvolvimento econômico à sustentabilidade. A dinâmica ocorre por meio de novos modelos de negócios e da otimização nos processos de fabricação com menor dependência de matéria-prima virgem, priorizando insumos mais duráveis, recicláveis e renováveis.