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Brasil e Dinamarca buscam intensificar parcerias em sustentabilidade

Biodiversidade, sustentabilidade e mudanças climáticas estão na agenda diplomática do Brasil e da Dinamarca. Como parte dessa parceria, a rainha da Dinamarca, Mary Donaldson, visitou nesta sexta-feira (4) a sede da Embrapa Cerrados e conheceu as tecnologias aplicadas no país para alinhar integração lavoura-pecuária e sustentabilidade. A Embrapa Cerrados é uma empresa pública e uma das unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

A embaixadora da Dinamarca no Brasil, Eva Bisgaard Pedersn, considera o trabalho da Embrapa “revolucionário” e adiantou que o país pretende aprofundar as parcerias com o Brasil. “O trabalho aqui é muito inspirador. Precisamos aprender com a Embrapa, levar os resultados, comparar e avançar nessa cooperação”, disse Pedersen.

Para a presidente da Embrapa, Silvia Massuruhá, a visita da comitiva dinamarquesa representa uma oportunidade para estreitar laços com a Dinamarca e apresentar as tecnologias de integração entre agropecuária e meio ambiente. Massuruhá lembrou que um dos desafios da Embrapa é garantir a segurança alimentar no Brasil com base em práticas sustentáveis. “Buscamos aumentar a produtividade conservando os recursos naturais”, ressaltou a presidente.

Na última quinta-feira, a comitiva dinamarquesa também visitou o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), em Manaus (AM). O Inpa é referência nos estudos da biodiversidade amazônica e no entendimento do funcionamento da maior floresta tropical contínua do mundo.

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião com a Rainha da Dinamarca Mary Elizabeth Donaldson, no Palácio do Planalto. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Manto Tupinambá

Ainda nesta sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu a rainha da Dinamarca, Mary Donaldson, no Palácio do Planalto. Participaram da reunião o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, e o assessor especial da Presidência, Celso Amorim. A rainha estava acompanhada pelo ministro do Clima e Energia, Lars Aagaard, e pela embaixadora da Dinamarca, Eva Bisgaard Pedersen.

Lula convidou a Dinamarca a participar da Aliança Contra a Fome, que o Brasil lançará no encontro do G20, em novembro, no Rio de Janeiro. O presidente também agradeceu à Dinamarca pela devolução do Manto Tupinambá ao Museu Nacional, no Rio de Janeiro. O item é considerado um ente vivo, de caráter espiritual, que traz identidade, memória e pertencimento para os povos indígenas do Brasil, especialmente para as populações tupi.

A rainha manifestou solidariedade em relação às enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, bem como às secas e incêndios em outras regiões do país. Ela também relatou que Brasil e Dinamarca compartilham muitos valores e ideias comuns. Entre os temas da visita estavam o acesso à saúde por telemedicina, igualdade de gênero e preservação ambiental.

Casada com o príncipe Frederico X, Mary é uma patronesse do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), da Organização das Nações Unidas (ONU).

Olimpíada Internacional de Astronomia tem sustentabilidade como foco

Poderia ser só mais uma competição de estudantes do Ensino Médio com questões práticas e teóricas sobre astronomia e astrofísica, valendo medalhas de ouro, prata, prêmios e menções honrosas. No entanto, vai além. Jovens de 53 países estão reunidos no Brasil para uma imersão nas ciências espaciais, mas especialmente para a urgência de valorização do planeta Terra diante das mudanças climáticas.  É a 17ª Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica (IOAA), que entra na reta final e segue até o próximo dia 27 nas cidades de Vassouras e Barra do Piraí, no estado do Rio. Como tema central do encontro, que pela segunda vez é sediado no Brasil, figura a sustentabilidade. 

Mais de 300 estudantes e 130 professores de quase todos os continentes, com exceção da África, participam da competição organizada pelo Observatório Nacional, vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. 

Mas, por que não aproveitar um momento como este só para os avanços astronômicos e da astrofísica e observar o céu do Vale do Café, em Vassouras (RJ), por exemplo? A resposta vem no embalo: alinhada com movimentos globais que saem em defesa do planeta, a competição quer engajar a pauta ambiental entre os jovens e futuros cientistas. 

Para Ricardo Ogando, vice-coordenador do evento e astrônomo do Observatório Nacional, a imersão é uma oportunidade para tratar do negacionismo climático e da importância da união pela Terra.

“A astronomia tem papel fundamental em situar as mudanças climáticas, um dos maiores desafios atuais da humanidade, em um contexto cósmico. Entender, por exemplo, que não há planeta B – ou plano B – e que o planeta Terra é um oásis de vida no universo. Precisamos cuidar dele”, alerta. 

Defesa do planeta

Josina Nascimento, coordenadora do comitê brasileiro da IOAA 2024 e astrônoma do Observatório Nacional, diz que a ideia é mostrar aos estudantes que ações em defesa do planeta precisam ser colocadas em prática. Para exemplificar, ela destaca que, além de iniciativas como uso de materiais recicláveis e o não uso de descartáveis, a olimpíada conquistou o Evento Selo Neutro, uma demonstração de preocupação e empenho em neutralizar as emissões de carbono durante o encontro, iniciado no último dia 17.

Assim como na IOAA 2024, a sustentabilidade também é a pauta do movimento internacional Astronomers for Planet Earth (Astrônomos pelo Planeta Terra, em tradução livre), que reúne cerca de dois mil voluntários de 76 países, entre astrônomos, astrônomos amadores, educadores e estudantes. Todos unidos para tentar reduzir os avanços exponenciais da degradação do planeta e reafirmar que a Terra é a única chance para a humanidade.

“Junto com o negacionismo climático vemos ideias como a de conquistar outros planetas, mas é muito mais fácil, barato e, acima de tudo, viável, preservar o planeta Terra”, assegura o astrônomo Ricardo Ogando que integra a rede internacional, também conhecida como A4E. 

A organização – criada em 2019 – destaca a validade de todas as descobertas astronômicas, impulsionadas por telescópios e missões espaciais que já ocorreram e que ainda estão previstas para viabilizar a conexão interplanetária. Mas, acentua que a Terra é a única opção viável para a raça humana. Isso porque os exoplanetas descobertos em zonas habitáveis, especialmente pela possibilidade de água em estado líquido e a distância segura das estrelas que orbitam, ficam a milhares de anos daqui, com as tecnologias existentes hoje.

Os “Astrônomos pela Terra” ainda alertam para os riscos à saúde humana em colonizações, mesmo em planetas vizinhos como Marte. Assim, destaca que é mais fácil, justo e economicamente viável cuidar do planeta Terra. 

Esta é a preocupação também da Organização das Nações Unidas (ONU), que tem chamado a atenção para os esforços em equalizar os prejuízos causados por eventos climáticos extremos, como os temporais ocorridos recentemente no Rio Grande do Sul e que afetaram 298 dos 497 municípios gaúchos.

Populações mais vulneráveis

Para a ONU, é chegada a hora de as nações mais ricas se comprometerem a financiar políticas de proteção aos países em desenvolvimento e às populações mais vulneráveis do globo. 

O Escritório das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Exterior (UNOOSA) tem na agenda do segundo semestre encontros internacionais para debater a viabilidade da Terra na perspectiva astronômica.

De 3 a 5 de dezembro será promovido o Fórum Espacial Mundial das Nações Unidas, “Espaço Sustentável para a Sustentabilidade na Terra”, que será realizado pela ONU em Bonn, na Alemanha, em parceria com os Emirados Árabes e com o Peru. 

O objetivo é entender como as tecnologias espaciais e todo o desenvolvimento impulsionado na última década podem ser revertidos em favor das questões ambientais e sociais do planeta. A iniciativa reunirá especialistas, organizações privadas e entidades não governamentais para reafirmar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, agenda da ONU com objetivos e metas a serem atingidos até 2030. 

Além da IOAA, Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica, que finaliza as competições até a próxima terça-feira (27), o Brasil está na agenda central do tema pelos próximos 18 meses, pelo menos.

O país se prepara para receber a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, em novembro de 2025. A COP30 reunirá, além de especialistas, governos  em defesa do clima e do meio ambiente e dos desafios imperativos como justiça climática, economia sustentável e o uso de tecnologias e da inteligência artificial a serviço do planeta.

Financiamento da sustentabilidade na Amazônia contará com novo fundo

Três bancos públicos brasileiros – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco do Brasil (BB) e Caixa Econômica Federal – e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) anunciaram nesta quinta-feira (25) as bases de uma nova proposta voltada o financiamento da sustentabilidade na Amazônia. A ideia é criar um Exchange Traded Fund (ETF), um fundo negociado em bolsa de valores. A expectativa é lançá-lo e distribuir suas cotas antes da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), prevista para ser realizada na cidade de Belém em novembro de 2025.

Os ETFs são um tipo de investimento que surgiu nos Estados Unidos na virada entre as décadas 1980 e 1990 e hoje são comuns em mercados de capitais de diferentes países. A proposta apresentada prevê que a negociação se dê na Bolsa de Valores de São Paulo, também conhecida como B3.

A carteira de investimentos da ETF será composta por títulos de renda fixa emitidos pelo BNDES, pelo BB e pela Caixa. O retorno oferecido aos investidores estará baseado em um índice de referência a ser criado. Esse índice precisa ser aceito pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Todos os recursos que as três instituições levantarem serão alocados em empréstimos para ações sustentáveis na Amazônia.

O anúncio foi realizado por dirigentes das instituições financeiras envolvidas durante a 3ª reunião de Ministros de Finanças e Presidentes de Bancos Centrais do G20, que acontece no Rio de Janeiro. É mais uma atividade de uma intensa programação que ocorre ao longo dessa semana na capital fluminense, sob coordenação do Brasil, que atualmente preside o G20.

Na ocasião, também foi assinada uma carta de intenções entre as instituições envolvidas. Estudos para desenvolver a proposta serão conduzidos de forma colaborativa pelo BNDES, BB e Caixa, com o apoio técnico e financeiro do BID. “O ETF Amazônia para Todos buscará democratizar o acesso a investimentos sustentáveis, combinando o uso de recursos com incentivos baseados em resultados e promovendo a diversificação e o aumento da base de investidores nos mercados doméstico e internacional”, registra nota divulgada pelas instituições econômicas.

Foram listadas diferentes razões pelas quais o ETF foi considerado um instrumentos adequado para financiar ações na Amazônia. Uma delas é a transparência, tendo em vista que a composição da carteira é divulgada diariamente pelo provedor do índice, permitindo que o investidor saiba exatamente em quais ativos está investindo. Além disso, a ampla utilização de ETFs no mercado internacional tende a facilitar a distribuição através de plataformas globais de investimentos.

Outro ponto citado é o viés democrático. “O instrumento foi escolhido como veículo para captar recursos por permitir acesso igualitário ao pequeno e ao grande investidor, e por sua liquidez, já que as cotas são listadas em bolsas de valores. Estima-se que estarão acessíveis para compra e venda por qualquer pessoa física ou jurídica, com valores ao redor de R$ 100”, acrescenta o texto divulgado pelas instituições.

Brasil apresenta prioridades do GT sobre Sustentabilidade Ambiental

Os ministérios do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e das Relações Exteriores (MRE), coordenadores do Grupo de Trabalho (GT) sobre Sustentabilidade Ambiental e Climática do G20, apresentaram a representantes de organizações da sociedade civil, nesta sexta-feira (26), como serão os trabalhos em 2024, sob a presidência rotativa do Brasil. O G20 é o fórum que reúne as principais economias do mundo, além da União Africana e da União Europeia.

Na abertura da sessão virtual, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, explicou que o GT terá quatro temas prioritários para identificar soluções para os desafios ambientais e climáticos em âmbito mundial: adaptação preventiva e emergencial frente a eventos climáticos extremos; pagamentos por serviços ecossistêmicos (remuneração e incentivos a quem preserva recursos da natureza, como solo, água e biodiversidade); oceanos; e por fim, resíduos e economia circular (desenvolvimento econômico associado a um melhor uso de recursos naturais).

A ministra declarou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer deixar um legado com a presidência do G20, sob o lema Construir um mundo justo e um planeta sustentável. “Como país em desenvolvimento, queremos mudar a percepção de que o G20 é um espaço fechado e restrito aos países do norte global. A presidência brasileira direcionará os trabalhos com esse olhar solidário e construtivo, buscando criar pontes entre países em desenvolvimento e desenvolvidos”, afirmou.

A ministra Marina Silva também enfatizou a importância da presidência brasileira do G20, após as gestões de dois outros países em desenvolvimento, a  Índia e a Indonésia, e que será sucedido pela África do Sul. “Quatro países em desenvolvimento terão a oportunidade de assumir a presidência dos 20 países mais ricos do mundo, que são responsáveis por 80% das emissões e 80% das finanças globais. Se esses países resolverem fazer o dever de casa no combate à pobreza, na redução de emissão [de gases de efeito estufa], a gente faz a diferença para mudar os problemas sociais e a grave crise climática que o mundo está enfrentando”, disse Marina Silva.

Participação social

O primeiro diálogo virtual nesta sexta-feira contou com cerca de 800 participantes da sociedade civil, que fizeram perguntas aos representantes do MMA e do MRE.

Nas reuniões que ocorrerão até novembro, o GT pretende estimular e fortalecer as discussões e formulações de políticas públicas relacionadas aos temas propostos pelo grupo e que possam influenciar as decisões do G20. “A decisão do presidente Lula é de que não seja apenas uma ação do governo brasileiro ao arrepio dos anseios da sociedade brasileira. Queremos ser influenciados, dialogar com a sociedade brasileira para a grande contribuição do sul global”, disse a ministra.

O posicionamento foi compartilhado pelo secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, embaixador André Corrêa do Lago. “Este governo está buscando assegurar uma participação ativa da sociedade civil na elaboração de uma agenda que se tornou central, no G20”.

A presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, considera que os assuntos debatidos serão de extrema importância aos povos indígenas. “Os povos indígenas têm interesse em mostrar, além da preservação ambiental, suas estratégias para a proteção das terras indígenas e a necessidade de participarem de discussões que vão beneficiar todo o planeta”.

Combustíveis fósseis

Durante o encontro online, a organização não governamental Observatório do Clima perguntou sobre o motivo desse grupo de trabalho não ter incluído como tema prioritário a transição para o fim da dependência de combustíveis fósseis. 

O embaixador André Corrêa do Lago esclareceu que o assunto pode ser melhor debatido durante as Convenções Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima Convenções do Clima (COP), do que na cúpula do G20, por ter a representatividade de 195 países-membros da Organização das Nações Unida (ONU).

“O que o G20 pode fazer é discutir ideias novas que possam vir a ser levadas à Convenção do Clima. O Brasil pretende ocupar esse espaço e contribuir para que, eventualmente, alguns desses elementos novos [no debate], que poderiam vir a levantar o interesse de todos os países, possam ser incorporados [à COP]”, disse.

A ministra Marina Silva explicou que o documento final da COP 28, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, em dezembro passado, excluiu a previsão de eliminar o uso dos combustíveis fósseis no planeta, mas que o tema pode, sim, ser abordado no GT do G20.

“O G20 é um espaço de aterrissagem e, ao mesmo tempo, de alavancagem de questões. Nós podemos, aqui, concretamente, aterrissar alguns dos temas que forem deliberados. Vamos aperfeiçoando para fazer com que essa nossa experiência tenha uma contribuição efetiva nessa aterrissagem ou alavancagem de temas”, esclareceu Marina Silva.

Agenda

O tema da sustentabilidade ambiental e climática é tratado no G20 desde 2017. Esse é um dos 15 grupos de trabalho que compõem a chamada Trilha de Sherpas do G20, que supervisiona as negociações e discutem os pontos que formam a agenda da próxima cúpula dos chefes de Estado do G20, em 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro. O G20 ainda conta com a atuação da Trilha de Finanças, que trata de assuntos macroeconômicos estratégicos.

Durante o mandato do Brasil, até novembro, estão previstas 120 reuniões de todos grupos nos formatos virtual e presencial, para alinhar os entendimentos sobre os temas.  

Especificamente no cronograma de reuniões do Grupo de Trabalho sobre Sustentabilidade Ambiental e Climática do G20, está previsto um encontro presencial de 19 a 26 de junho, em Manaus.