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Hermeto Pascoal é um dos homenageados da Womex 2024

A Fundação Nacional de Artes (Funarte) participará, pela primeira vez, da Worldwide Music Expo (Womex) 2024, uma das mais importantes feiras do mercado musical global. A ação faz parte do Funarte Brasil Conexões Internacionais, iniciativa estratégica para a promoção da música brasileira no circuito internacional.

A participação brasileira será celebrada com a homenagem a Hermeto Pascoal, que receberá o prestigiado Womex Awards.

Presidente da Funarte, Maria Marighella, Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

“Esta é a primeira vez que um músico brasileiro é homenageado pelo prêmio Artist Award’neste importante espaço da música mundial que é a Womex. Hermeto Pascoal e sua obra estão entre essas riquezas que precisam ser celebradas em nossa música brasileira, que é expressão de singularidade e dispositivo de encontro, diálogo e conexão cultural e que, portanto, precisa de políticas que fortaleçam este elo fundamental com o mundo”, informou a presidente da Funarte, Maria Marighella.

Aos 88 anos, Hermeto será o primeiro brasileiro a receber a premiação em 25 anos de história do prêmio. Integrando a programação oficial de shows, o pianista Jonathan Ferr apresentará seu Urban Jazz inspirado no Afrofuturismo.

A delegação brasileira, formada por 28 agentes do setor musical de todas as regiões do país irá para Manchester, na Inglaterra, A Womex será realizada na cidade de Manchester, na Inglaterra, a partir desta quarta-feira (23) até domingo (27).

Os brasileiros participarão dos painéis sobre o Circuito Amazônico de Festivais, música e videogame, mercado da música ao vivo no Brasil. A presença da Funarte representa um marco para as políticas de internacionalização das artes brasileiras, um dos eixos da Política Nacional das Artes.

“A internacionalização das artes é central na nossa missão primeira: entregar ao povo brasileiro uma política nacional que reflita a especificidade e complexidade das nossas expressões. Artistas e agentes das artes têm rompido fronteiras e construído uma ofensiva sensível que é ativo de democracia, direitos, liberdades e riqueza não só econômica, mas de soberania e afirmação de narrativas diversas”, afirmou a presidente da Fundação.

Festivais

Os oito festivais do circuito colocam a música no centro do debate climático global, pautando temas como biodiversidade e representação de comunidades indígenas, negras, quilombolas, de mulheres, caboclos e ribeirinhos.

O músico carioca Vic Hime participará de um painel sobre música e videogames e, em outra sessão, André Bourgeois, de São Paulo, discutirá o mercado da música ao vivo no Brasil para artistas estrangeiros.

A feira, que atrai mais de 2.600 profissionais de 90 países, é um ambiente de destaque para o fortalecimento das redes criativas e comerciais da música e cria uma experiência para curadores, gerentes de editoras, entre outros, para descobrir novos músicos, projetos e refletir sobre oportunidades alternativas de programação.

Hermeto Pascoal apresenta em SP obra que une música e artes visuais

O compositor e multi-instrumentista Hermeto Pascoal é famoso por ser capaz de produzir sons que formam música a partir de praticamente qualquer objeto, incluindo os longos fios brancos de sua barba. Uma faceta menos conhecida do músico, que tem 88 anos e carreira desde a década de 1950, pode ser vista na exposição que abre nesta quarta-feira (29) ao público. Chaleiras, chapéus, restos de embalagens e inúmeros outros itens mostram que também transforma qualquer coisa em páginas de um livro infinito de partituras musicais.

Sob o título de Ars Sonora, a exposição no Sesc Bom Retiro, na região central paulistana, reúne uma extensa obra que mescla música com artes visuais. Em alguns casos, o curador Adolfo Montejo Navas define os trabalhos como “partituras tridimensionais” ou “poemas-objeto”. Porém os desdobramentos múltiplos vão dificultando as classificações. Como no que ele chama de “ataque dadaísta” – tampas plásticas de privada cobertas de notas musicais – em referência ao artista Marcel Duchamp, que enviou um mictório a um concurso artístico em 1917.

O impulso de transformar qualquer objeto em plataforma para partituras e em trabalhos artísticos não vem de uma ideia, explica Hermeto, mas de um modo de vida. “Criação é a minha respiração”, diz o músico que busca uma originalidade radical e o improviso total. “Às vezes as pessoas perguntam: como é que vai ser o show hoje? Eu digo: se eu souber, eu não vou mais, porque já não preciso mais tocar”, diz sobre a rejeição que sente a tudo que é premeditado.

“Eu nunca digo é assim. Porque se eu disser é assim, aquilo acabou naquela hora que eu disse. Não tem mais o que eu falei. Já é mentira se eu confirmar depois. Não é mais. Porque a criatividade não é repetitiva. Não existe repetição. Criatividade, entendeu? Esse é o bonito. O nome é bonito: criatividade. Expande o que você imagina, o que você pensa”, explica sobre a filosofia de vida que se desdobra em método de trabalho.

Uma atividade ininterrupta, com se pode ver nas revistas distribuídas em voos comerciais que o artista fez intervenções. As partituras escritas nas páginas não se sobrepõe simplesmente ao conteúdo impresso, mas dialogam os blocos de texto e com as imagens, formando o que o curador define como colagens. Há ainda desenhos em telas de pintura, ainda que acompanhados de notas musicais, em trabalhos feitos com canetas coloridas e giz de cera pastel.

Estudo da natureza

Nenhuma dessas linguagens foi estudada por Hermeto, que é autodidata e tem aversão as padronizações dos sistemas de ensino. “Se tem 50 alunos na escola, o professor fala: vocês façam isso assim. Olha, 50 pessoas para fazer a mesma coisa. Você imagina o atraso que eu sempre achei as escolas. Por isso que eu não fui”, diz com humor e ironia.

O aprendizado, Hermeto procurava sentindo o mundo ao redor. Albino e com dificuldades de visão, ele conta que desde criança buscava experiências ao se aprofundar na escuta da vida. Deitado na chão do interior rural de Alagoas, ele fazia descobertas que os adultos não compreendiam. “O que era o mato para mim? Era justamente escutar os caçadores, escutar as coisas, até os mais velhos falando, dizendo: esse menino não enxerga nada”, lembra sobre a infância.

Essa forma de sentir e entender o mundo abriram as portas de Hermeto para uma carreira de sucesso internacional e para uma obra que parece se estender de maneira infinita. Por isso, Montejo Navas diz que o trabalho de curadoria das peças que integram a mostra foi milagroso, ao gosto de Deus ou do acaso. “São muitas coisas que estão umas se escondendo dentro de outras”, conta sobre as visitas ao ateliê de Hermeto. “Um dia me mostram coisas e, no outro dia, me mostram mais coisas, mas e as outras [vistas anteriormente] quase desapareceram. Tem um certo Triângulo das Bermudas [região do Caribe conhecida pelo desaparecimento de aviões e barcos]”, diz.

A visitação da exposição vai até o dia 3 de novembro de 2024. Mais informações estão na página do Sesc Bom Retiro.