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Orquestra Santoro completa 45 anos de histórias e saudades

Neste ano, a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro (OSTNCS), de Brasília, comemora 45 anos. Para celebrar a data, o Caminhos da Reportagem entrevistou músicos que fizeram e fazem parte dessa história.

A OSTNCS fez  concerto inaugural no dia 6 de março de 1979, sob as batutas do maestro Claudio Santoro, um dos maiores compositores eruditos do Brasil e com grande reconhecimento internacional. Em 1978, Santoro havia sido convidado para fundar o Departamento de Música da Universidade de Brasília e a orquestra do Teatro Nacional. Para assumir a missão em Brasília, Santoro deixou o exílio na Alemanha, para onde foi durante a ditadura.

Gisele Santoro, viúva do maestro, conta que foi o idealismo de Santoro que os trouxe de volta para o Brasil. Ele tinha o sonho de trazer para cá iniciativas de excelência, como tinha conhecido no exterior. “Morávamos muito bem, ele ganhava muito bem, era super respeitado. Tinha uma carreira internacional pela Europa e eu também uma carreira de dança, escola de dança, fazia espetáculos.. Ele deixou tudo isso para trás, porque viu a possibilidade de uma universidade nova em Brasília, de realmente ser implantada uma coisa de alto nível”, relembra Gisele.

Primeiros Anos

Beth Ernest Dias, flautista aposentada da orquestra, conta que, nos primeiros anos, existia uma vontade dos músicos de corresponder àquelas exigências musicais que o maestro Santoro tinha. “Ele nos fez tocar todas as sinfonias de Tchaikovsky, todas as sinfonias de Mozart, todas de Beethoven. É o repertório de base que faz com que uma orquestra construa a sua própria sonoridade. E a sonoridade de uma orquestra é algo intocável, porém muito valioso”, conta.

Clinaura Macêdo, violinista aposentada da OSTNCS, ressalta o prestígio que Santoro tinha e como ele foi capaz de trazer grandes nomes para tocar com a orquestra, em Brasília. “Nesse período, ainda em 1979, a orquestra nascendo, Jacques Klein veio tocar conosco. Foi um dos pianistas mais importantes do Brasil, reconhecido internacionalmente. Em 1980, veio Nelson Freire, um dos cinco pianistas mais importantes do mundo. Veio ainda Jean-Pierre Rampal, o maior flautista do mundo, francês. Além de três compositores do primeiro patamar do Brasil: Camargo Guarnieri, Guerra Peixe e Francisco Mignone”.

Santoro permaneceu na orquestra do Teatro Nacional, com um breve período de interrupção, até 1989, quando faleceu no palco, diante dos músicos, durante um ensaio. Com a morte do maestro, o teatro foi rebatizado, recebendo o nome de Teatro Nacional Claudio Santoro. Então, quem assumiu as batutas foi Silvio Barbato, um jovem maestro de 29 anos que era braço-direito de Santoro.

Barbato teve duas passagens como maestro da OSTNCS, de 1989 a 1992 e de 1999 a 2006. Tragicamente, em 2009, Barbato desapareceu, aos 50 anos, no voo 447 da Air France que sobrevoava o Oceano Atlântico.

Memória

Mirian Gomes, que trabalhou como coordenadora administrativa da orquestra no final dos anos 1980 e início dos 90, se emociona ao lembrar da convivência com os dois maestros. “A convivência com o maestro Santoro foi maravilhosa. Eu tive essa experiência de trabalhar com uma pessoa do nível dele, como se eu estivesse trabalhando com algum outro compositor, Beethoven… sei lá. E o Silvio Barbato, quer dizer, ele tinha idade para ser meu filho, era uma pessoa doce. Essa é a lembrança que eu tenho desses anos de convivência, que foram os melhores anos da minha vida”.

O marido de Mirian, Ronaldo Gomes, tinha uma filmadora à época e começou a gravar os concertos da orquestra. Ao longo de 7 anos, ele registrou cerca de 120 apresentações. “É um registro histórico. Porque se eu não tivesse feito… Se essas gravações não tivessem acontecido, o que teríamos hoje? E agora surgiu a ideia de a gente fazer a doação dessas fitas para a orquestra como um arquivo para eles. É uma memória”, afirma Ronaldo.

Cláudio Cohen, maestro da orquestra desde 2011, conta que recentemente foi feita uma revitalização do arquivo musical da OSTNCS.  “Fizemos uma imensa mobilização e contratamos uma equipe especializada, que fez toda a catalogação do nosso material. Transportamos o nosso arquivo musical para dentro da Biblioteca Nacional, para termos um espaço mais preservado, um espaço nobre da cidade, onde as pessoas poderão ter acesso à história e poderão ter contato com esse material”, explica Cohen.

Teatro Fechado

Entre saudades e boas memórias, um assunto é unanimidade: o inconformismo com o Teatro Nacional Claudio Santoro estar fechado há mais de dez anos. O secretário de Cultura do DF, Cláudio Abrantes, explica que o local foi interditado pelo Ministério Público e pelo Corpo de Bombeiros, em 2013. “Naquela época, a gente teve um triste fato no país que foi a boate Kiss, que impactou diretamente em todos os equipamentos públicos do país, no cuidado, sobretudo, quanto aos materiais. Entendeu-se que o teatro, diante do que tinha acontecido e por uma precaução, oferecia riscos aos usuários”.

O maestro Cohen afirma que luta não só pela revitalização do Teatro Nacional mas também pela construção de outros teatros na capital. “O Teatro Nacional Claudio Santoro está em reforma e a gente espera voltar para lá em breve, pois está previsto para ser entregue nos próximos meses. Eu estive recentemente em uma turnê na China, foram 10 cidades e 12 teatros maravilhosos, cada um mais lindo que o outro, o que mostra realmente a pujança econômica que esse país vem usufruindo e ela se reflete no investimento na área cultural para a sua própria população. Então Brasília não pode ficar para trás e o fechamento do Teatro Nacional esses anos foi uma perda”.

Orquestra em Brasília revive Pixinguinha pouco reconhecido

Garantem os etimólogos que a palavra orquestra vem do grego orkhéstra e na língua portuguesa foi usada pela primeira vez no século 18. Muito antes, na Grécia antiga, o vocábulo nomeava o espaço em frente ao palco, onde havia instrumentistas e coristas e bailarinos dançavam. Desde o berço da civilização ocidental, portanto, as orquestras corporificam a música na dança.

Esse enlace helênico renasce toda vez que os 13 músicos da Orquestra Pizindim, de Brasília, sobem aos palcos para reviver os arranjos musicais elaborados por Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha (1897-1973). Os músicos tocam, os ouvidos escutam, o coração sente e o corpo quer dançar as 25 canções do repertório formado por composições autorais e arranjos originais de Pixinguinha para sambas, choros e maxixes.

A orquestra faz releitura de clássicos, composições menos conhecidas e até de canções nunca gravadas, com a participação de cantores da cidade. “A proposta é renovar e atualizar os arranjos geniais de Pixinguinha e a formação quase extinta de orquestra de choro dos anos [19]50 a partir da introdução de composições autorais e também da execução deste repertório por músicos da nova geração”, diz o saxofonista Bruno Patrício, diretor musical da Orquestra Pizindim, no portifólio da banda.

Bruno Patrício conheceu os arranjos de Pixinguinha no site do Instituto Moreira Salles, que detém o acervo do músico, inclusive partituras originais em edições digitalizadas de músicas gravadas para os discos Carnaval Da Velha Guarda (1955) e Assim É que É (1957), com arranjos de Pixinguinha, e que fazem parte das apresentações de Orquestra Pizindim – iniciadas em 23 de abril do ano passado, Dia Nacional do Choro e aniversário de Pixinguinha.

Trabalho de Pixinguinha como arranjador é pouco conhecido – ARQUIVO NACIONAL/DOMÍNIO PÚBLI

A veia de arranjador de Pixinguinha é tão fundamental para a música brasileira quanto as suas canções Carinhoso, Rosa, Lamentos e Um a Zero, assegura Bruno Patrício. “O Pixinguinha é muito conhecido como flautista, saxofonista e compositor, mas esse lado de arranjador, tão genial quanto todas as outras coisas que ele fez, é pouco conhecido”, complementa o diretor musical em entrevista à Agência Brasil.

“Essa história é pouco falada e pouco absorvida pelos músicos”, concorda Fernando César, renomado violonista da cena brasiliense e docente da Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello. “O trabalho de arranjador de Pixinguinha foi muito importante para a música popular brasileira.”

Segundo o músico e professor, Pixinguinha em seus arranjos levou para as partituras “a música de rua, a música do carnaval, a música da sala de concerto e a música orquestrada.”

Experiência diferente

Assistir e ouvir a Orquestra Pizindim possibilita conhecer a orquestração de choro, geralmente executado por regionais – grupos musicais menores e com menos instrumentos como violão, bandolim, cavaquinho, pandeiro e flauta.

A experiência reaviva a memória de André Lindolpho, um dos músicos mais tarimbados da Orquestra Pizindim. Ele era adolescente e estudante de música e, no fim dos anos 1960, costumava passar na Rua da Assembleia, no centro do Rio de Janeiro, para ver Pixinguinha e outros artistas que se reuniam semanalmente em um restaurante no local.

“Músicos veteranos, pessoas já renomadas, tanto de televisão como da rádio, ficavam por ali. Eu ouvia conselhos como: ‘sempre vá pela cabeça dos mais antigos. Pergunte a eles quando tiver dúvidas’. Tudo isso serviu de aprendizagem”, lembra.

Nessas ocasiões, André Lindolpho via de perto Pixinguinha, mas nunca o abordou. Ele garante que Pixinguinha “era humilde, simpático, mas na dele” e “geralmente conversava com os músicos com quem tocava. Àquela altura, Pixinguinha tocava saxofone e André Lindolpho já tocava tuba. Tímido quando menino, ele nunca encontrou assunto para abordar o músico consagrado.

 

Músico André Lindolpho, que toca sousafone – Joédson Alves/Agência Brasil

Na orquestra Pizindim, André Lindolpho toca um instrumento da família das tubas: o sousafone, patenteado na segunda metade do século 19 nos Estados Unidos pelo compositor de John Philip Sousa, de família de origem portuguesa.

A peça feita em acrílico branco pesa cerca de dez quilos, cinco a menos do que a tuba tradicional de metal. Conforme André Lindolpho, o sousafone faz o papel do contrabaixo na orquestra. “Se fosse um time de futebol, seria o goleiro. Não pode vacilar, pois compromete o grupo.” Na mesma analogia, o papel do arranjador exercido por Pixinguinha é como de técnico de futebol que faz um esquema tático para “distribuir as vozes dos instrumentos.”

O diretor musical Bruno Patrício toca sax tenor na Orquestra Pizindim. A função pode ser comparada com a do volante, o meio campista que defende mas leva a bola ao ataque, “costurando a harmonia, dando os caminhos harmônicos.”

Para explicar o papel do arranjador de Pixinguinha para o repórter leigo, Bruno Patrício prefere falar em “paleta de cores”, que os pintores utilizam para combinar tintas enquanto pintam. “Ele vai colorindo aquilo ali aos poucos. Cada naipe de instrumentos tem o seu momento dentro da música. Uma hora ele está acompanhando alguém, mas daqui a pouco ele vira o protagonista. Aí ele desce de cena e vem outro. É tudo muito bem construído, muito lindo.”

Paradigma musical

O pesquisador musical Jairo Severiano (1927-1922), em seu livro Uma História da Música Popular Brasileira, afirma que Pixinguinha, junto com Radamés Gnattali, definiu “os padrões básicos de arranjo para a música popular brasileira, servindo seus trabalhos de paradigmas para os músicos nacionais que pontificaram nas décadas de 1930 e 1940. Pixinguinha mais chegado aos metais; Radamés, às cordas.”

“Ele [Pixinguinha] aplicou à arte do arranjo a experiência que ganhou na escola do choro, resultando seu trabalho em orquestrações impregnadas de sabor brasileiro, que os arranjadores da época – vários deles estrangeiros aqui radicados – não podiam oferecer”, opina o pesquisador no livro.

O jornalista Sérgio Cabral, autor de Pixinguinha: Vida e Obra, assinala que “Pixinguinha abrasileirou as orquestras de forma tão nítida e radical que se pode dizer, sem qualquer medo de errar, que foi ele o grande pioneiro da orquestração para a música popular brasileira. A canção carnavalesca deve a ele uma boa parcela do seu êxito, ao escrever arranjos com destacada participação da orquestra criando introduções que ficaram famosas (…) e encontrando soluções inventivas para as músicas mais simples, ao utilizar muito bem a percussão e ao variar a base de modulações.”

Em seus livros, Severiano e Cabral tratam da trajetória de Pixinguinha em diferentes orquestras. Os autores destacam a passagem do músico pela Orquestra Victor Brasileira entre julho de 1929 a dezembro de 1940. A orquestra pertencia à gravadora Victor Talkin Machine Company, subsidiária da Radio Corporation of America (RCA), que mais tarde se chamaria de RCA Victor.

Naquele período de 11 anos na RCA Victor, Pixinguinha organizou três orquestras. Além da Orquestra Victor Brasileira, que gravou cerca de 200 discos (geralmente de duas faixas em 38 rpm) com canções mais lentas (samba-canção); havia o Grupo Guarda Velha que participou de 50 discos com choros, marchas e sambas de carnaval; e a orquestra Diabos do Céu que tocou músicas carnavalescas em 240 discos.

O contrato com a RCA Victor, assinado quando Pixinguinha tinha 32 anos, permitia uma certa onipresença do músico. A gravadora tinha exclusividade das orquestras, “mas Pixinguinha tinha liberdade para atuar como instrumentista e arranjador em outros lugares como as emissoras de rádio Transmissora, Mayrink Veiga, Nacional e Tupi; em dancings da cidade do Rio de Janeiro, na Guarda Municipal, e até em outras orquestras e conjuntos como grupos musicais das gravadoras Columbia e Odeon.

Neste sábado (23), a Orquestra Pinzindim se reúne pela nona vez para tocar músicas com arranjos de Pixinguinha. O espetáculo, com a participação da cantora Ana Reis e do cantor Breno Alves será na Mundo Vivo Galeria (413 Norte), a partir das 20h. [FAZER LINK: https://www.instagram.com/orquestrapizindim/}

 

Orquestra da Petrobras e Monobloco se unem para baile sinfônico no Rio

Pela terceira vez, a Orquestra Petrobras Sinfônica se junta ao Monobloco para a realização do Baile Sinfônico, na Fundição Progresso, levando clássicos do carnaval a este sábado (17) das campeãs que encerra o carnaval 2024 no Rio de Janeiro. Sob a regência do maestro Felipe Prazeres, o showcerto, mistura de show e concerto, vai animar o público a partir das 20h30. Os ingressos podem ser adquiridos na internet e no sita do local da apresentação, a Fundição.

O maestro Felipe Prazeres destaca que a Orquestra Petrobras Sinfônica não podia ficar de fora da animação que ocorre na cidade do Rio no carnaval e que é fonte de investimentos para o estado e o país. “Agora, a gente está retomando essa parceria e a participação da orquestra, que tem de fazer parte do que acontece no nosso país, na nossa cidade, na cultura, nos costumes. E a gente não podia ficar de fora do carnaval”, ressaltou, em entrevista à Agência Brasil.

Felipe Prazeres destacou que a junção com o Monobloco, um dos grandes blocos de rua do Rio, se deu muito pelo fato de a Fundição Progresso ser a sede de ensaios da Orquestra Petrobras Sinfônica e receber o Monobloco há muitos anos. “Eles ministram alguns cursos de percussão lá. Por isso, essa junção foi muito orgânica“. Segundo o maestro, como os instrumentos da orquestra ficam na Fundição, a atuação conjunta com o Monobloco facilita a logística.

Vanguarda

“A gente toca todos os repertórios”, destacou Prazeres, explicando que a orquestra pode estar aberta para qualquer manifestação musical. “Então, a gente já foi no rock, no pop, no reggae, no sertanejo, toca muito samba também. Já faz parte do DNA da Petrobras Sinfônica se misturar e fazer com que uma orquestra sinfônica seja uma coisa normal para as pessoas que veem e não algo pomposo, como se colocou em algum momento do século passado, como se estivesse em um lugar inatingível, quando é justamente o contrário. A gente quer que a sociedade perceba que uma orquestra sinfônica faz parte do nosso cotidiano, das nossas vidas”.

O showcerto vai combinar samba, bossa nova, marchinhas de carnaval, forró e música clássica em um único espetáculo. Canções como Carinhoso, Cidade Maravilhosa, Banho de Cheiro, Jura, Chega de Saudade, Yes nós temos banana, Taj Mahal, Homem com H, Minha jangada, Bloco na rua, Batuque, Pequena Serenata Noturna vão animar os foliões. “Ou seja, a gente faz um mix do repertório do próprio Monobloco também, agora com versões orquestradas”, disse Prazeres. E completou: “Em algum momento, o Monobloco entra junto e a gente faz essa brincadeira com a música de concerto, o samba, o carnaval, com a percussão”. A noite terá ainda a participação da DJ Nicole Nandes e do Bloco 442.

Orquestra

Com 49 anos de existência, a Orquestra Petrobras Sinfônica  foi criada pelo maestro Armando Prazeres e se firmou como ente cultural que expressa a pluralidade da música brasileira e transita fluentemente por distintos estilos e linguagens. Tem como diretor artístico e maestro titular Isaac Karabtchevsky, o mais respeitado regente brasileiro e nome consagrado no panorama internacional.