Skip to content

Ópera leva moradores de Congonhas a visitarem a própria história

Os banquinhos de plástico transformaram-se em poltronas para assistir à novidade. Não era um teatro, e o vento soprava na praça em que Maria Conceição Fabri, de 73 anos, trabalha todos os dias vendendo água de coco.

Diante do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, na histórica Congonhas (MG), a 80 quilômetros de Belo Horizonte, Conceição ficou encantada ao assistir a um espetáculo de ópera pela primeira vez na vida.

O espetáculo Devoção encenava, ao ar livre, na noite do último sábado (13), a saga do português Feliciano Mendes que, em pagamento a uma promessa, construiu a igreja com a venda de ouro e doações que conseguiu na cidade.

Maria Conceição e Maria Cristina aproveitaram a praça cheia para conferir a Ópera Devoção e vender quitutes na praça – Luiz Claudio Ferreira/Agência B

Em cena, nessa pré-estreia, os artistas contracenavam com os 12 profetas esculpidos em pedra sabão por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, no lugar que é patrimônio cultural da humanidade. Emocionada com o espetáculo, Conceição não descuidava do seu ouro de todo dia: “oi família! Bora comprar água de coco?”.  

“A gente sabe a história daqui da igreja, e do Feliciano Mendes, mas desse jeito fica até mais bonito”, diz a comerciante, que já foi doméstica, cozinheira e se aposentou.

Ao lado dela, a aposentada Maria Cristina Assis, de 77, também ficou emocionada porque se lembrou da própria história, ao pagar promessas para ter saúde. Ouviu do tenor: “foi uma longa jornada…” e reagiu: “foi mesmo. A minha jornada, também”. “Que vozeirão o dele. Essas luzes ficam tão bem! Como ele lembra dessa música tão longa? É a nossa história”.

Coro

Maria Cristina sonhou em ser professora, mas precisou parar o curso de magistério. Precisava cuidar da família. “Tive 21 filhos, mas perdi oito. Já paguei promessa para melhorar de saúde. Casei nova, mas nunca fui feliz no casamento. Nunca tive tempo de sonhar nada”.

Ela não teve “qualquer ouro” para pagar a promessa, vive da aposentadoria por invalidez e reza todos os dias no santuário que era o cenário da ópera. “Vivo com uma filha que é mãe solteira e penso como ajudar 12 netos e seis bisnetos. Tenho vários problemas de saúde e sempre recorro ao Bom Jesus”.

Ela lembra que a mãe dela também orava por saúde. “O que nós temos para doar é a fé. A única coisa que a gente tinha era minhas roupas”.

A aposentada Maria Cristina recorre ao Bom Jesus como um dia pediu socorro o português Feliciano Mendes, nascido em 1726, tema da ópera que os congonhenses assistiram no último sábado.

Segundo a biografia publicada pelo escritor e pesquisador mineiro Domingos da Costa, o homem tinha formação de pedreiro e era filho de família humilde no povoado de Santa Maria de Gêmeos, no norte português.

Ao ter conhecimento do ouro que havia do outro lado do Atlântico, o rapaz conseguiu chegar ao Rio de Janeiro e depois em Minas Gerais. “A atividade no garimpo deixou ele gravemente enfermo. Foi quando resolveu fazer a promessa ao Bom Jesus de Matosinhos de construir a igreja”, disse o escritor à Agência Brasil.

Ópera Devoção, no Santuário de Bom Jesus de Matosinhos – Márcia Charnizon/Divulgação

Primeiro ato

A obra de Domingos da Costa, Congonhas: da fé de Feliciano à genialidade de Aleijadinho, inspirou os autores da ópera, como o músico André Cardoso, que assina o libreto (texto explicativo do espetáculo). Para ele, a ópera deve ser popularizada e encenada a todos os públicos.

“Não deve haver estigmas em relação à ópera. Sempre que aberta ao povo, há encenações lotadas. Oferecer ópera à população é uma escolha que se faz. É uma honra contar a história deles para a cidade, uma história de sacrifícios em prol da devoção”.

Cardoso explica que, junto a personagens reais, a encenação também criou personagens fictícios para facilitar a dramaturgia e preencher as lacunas.

O compositor do espetáculo, João Guilherme Ripper, salienta que a ideia não era fazer um documentário sobre Feliciano, mas encenar uma ficção histórica. “Não é a devoção apenas cristã, mas a devoção mineira no seu sentido mais amplo e sincrético”. 

Inclusive, há uma variação de ritmos ao final do espetáculo com o uso de tambores. Ripper explica que seu método de composição inclui imaginar as cenas na hora em que são escritas. Assim, pensou que seria um espetáculo que seria montado ao ar livre e também no teatro.

Para o diretor musical Ronaldo Zero a música é capaz de comover em todos os lugares. “É uma história muito abrangente, que fala dessa devoção desse homem sonhador, que enfrentou dificuldades. A música é acessível e tem que estar em todos os lugares”, afirmou.

Ópera Devoção encenada ao ar livre em Congonhas – Márcia Charnizon/Divulgação

O espetáculo vai ser encenado, nesta semana, em ambiente fechado no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, de 19 a 23 de julho. Mas a entrada, nesse cenário, não será gratuita. Os ingressos custam a partir de R$ 30. No espetáculo, estão envolvidos aproximadamente 200 artistas e 400 técnicos, além de movimentar 230 figurinos e 500 adereços.

Além da ópera, para quem quer saber mais sobre a história de Feliciano Mendes e não tiver acesso ao espetáculo, pode visitar o Museu de Congonhas, que foi inaugurado há nove anos. O diretor do lugar, Sérgio Reis, entende que o maior desafio com o espaço cultural é garantir a multiplicação das informações sobre a cidade.

“Das mais velhas às mais novas, as pessoas passam a ter orgulho do lugar em que vivem e ficam interessadas em preservar e se manter na cidade”.  

Segundo Ato

O santuário tem levado as crianças da região a conhecer mais sobre a história do lugar e também sobre Aleijadinho que, no começo do  século 19, esculpiu em pedra sabão os 12 profetas que estão na frente da igreja. Feliciano Mendes havia morrido quatro décadas antes.

A história de Feliciano Mendes era pouco conhecida, inclusive entre a população de Congonhas – cerca de 52 mil habitantes. “Ele adoeceu, fez a promessa e obteve a cura. Ele fixou a cruz no alto do Morro do Maranhão, no ano de 1757”, afirma o biógrafo Domingos da Costa. 

Ele explica que a igreja demorou um século para ficar na forma como está hoje. Nem Feliciano nem Aleijadinho viram o santuário pronto. “Quando Feliciano faleceu, em 1765, faltava construir as duas torres”.

Toda essa história impressionou a maestrina do espetáculo, Ligia Amadio. “É muito diferente fazer [encenar] em ambiente fechado. Mas achei muito emocionante encenar no local em que os fatos ocorreram”.

O secretário de Cultura de Minas Gerais, Leônidas Oliveira, conta que a montagem custou R$ 3 milhões e que pretende levar o espetáculo inclusive para Portugal. Por reunir música, teatro e dança, a ópera é uma das manifestações mais completas.  “A próxima que queremos fazer será sobre o sertão mineiro”.

Vozes

A dupla de protagonistas, o tenor mineiro Matheus Pompeu, que interpreta Feliciano Mendes, e a soprano portuguesa Carla Caramujo, que faz Mercês, uma esposa criada para a ficção, estavam emocionados. “Muito bom voltar para contar a nossa história”, disse o artista. “Eu fiquei tocada porque fala sobre um compatriota e seus sonhos”, disse a cantora.  

Lúcia dos Santos se emocionou com a encenação – Luiz Claudio Ferreira/Agência B

O vozeirão de ambos tocou fundo a plateia, inclusive a comerciante Lúcia dos Santos, de 66 anos, que vendia broa de milho e o cubu, uma iguaria típica da região feita com fubá. Enquanto atraía os clientes, batia palmas a cada cena completa. “Eles não vão me ouvir daqui, mas fiquei feliz”.

Os pais dela também foram para Congonhas para trabalhar nas empresas de minério. “Foi um pouco como a história do Feliciano Mendes”. Ela, que já trabalhou como cuidadora, hoje está devotada à culinárias, ou às quitandas, como prefere dizer. “Quando as pessoas conhecem nosso lugar ficam mais interessadas em cuidar e nos visitar, né? Não vou me esquecer o dia que vi uma ópera”.

Serviço

Ópera Devoção, em Belo Horizonte
Data: 19 a 23 de julho, às 20h
Local: Grande Teatro Cemig Palácio das Artes
Ingressos: R$ 60 e R$ 30 (meia) Informações aqui

*Repórter viajou a convite da Fundação Clóvis Salgado

Defesa Civil Nacional apoia prefeituras no cadastro de moradores do RS

O Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) criou uma força-tarefa da Defesa Civil Nacional para dar apoio às prefeituras do Rio Grande do Sul no cadastro de famílias desabrigadas ou desalojadas pelas chuvas que atingiram o estado em abril e maio, para receber o Auxílio Reconstrução. O prazo prorrogado para cadastro de novas famílias terminará na próxima sexta-feira (12).

Nesta semana, a Força-Tarefa da Defesa Civil Nacional concentrou os trabalhos em 28 prefeituras gaúchas. Na semana passada, outros 30 municípios receberam os técnicos do governo federal.

Ao todo, 444 cidades estão com os reconhecimentos federais de situação de emergência ou de estado de calamidade pública vigentes e podem solicitar o benefício. Na última segunda-feira (1º), o MIDR calculou que 162 prefeituras ainda não tinham cadastrado  as famílias residentes.  

Manchas de inundação

As visitas dos técnicos da defesa civil nacional às prefeituras também têm como objetivo complementar os dados sobre as áreas efetivamente atingidas, e, assim, liberar o pagamento dos R$ 5.100 do programa federal a famílias que, atualmente, estão com os cadastros em análise.

Para auxiliar a identificar se as famílias foram atingidas pelo desastre, imagens de satélites e modelos digitais traçaram um polígono de referência das áreas inundadas e sob risco de inundação, as chamadas manchas de inundação.

Os responsáveis por esta identificação de áreas vulneráveis às enchentes e inundações são técnicos de instituições científicas do governo federal e do estado. Nas situações em que os satélites não foram capazes de capturar com precisão as imagens, a Força Tarefa da Defesa Civil foi a campo identificar e esclarecer inconsistências de endereços informados.

Problemas no cadastro

O Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, responsável pela gestão do Auxílio Reconstrução, explica que mais de 253,4 mil cadastros de moradores enviados pelas prefeituras estão em análise, seja por algum problema no Cadastro de Pessoa Física (CPF), no endereço informados ou porque demandam uma verificação em campo, que é o que a Defesa Civil está fazendo.

Entre as situações mais recorrentes, há a de CPFs informados que estão em situação irregular na Receita Federal; ou CPF informado pertence a uma pessoa menor de 16 anos. Há também pedidos de mais de um Auxílio Reconstrução em um mesmo endereço, ou pedidos de dois ou mais benefícios de membros de uma mesma família, conforme verificado no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) ou do Imposto de Renda.

Por isso, a Defesa Civil Nacional também tem solicitado aos municípios o envio de seus cadastros com a documentação para confirmar os endereços das famílias cadastradas para comprovar que os domicílios danificados estavam em região atingida pelos temporais. Entre os documentos aceitos estão o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), dados da conta de água, cadastro na rede de saúde municipal ou matrículas escolares, por exemplo.

O Ministério relata que as prefeituras ainda enfrentam problemas para cadastrar os moradores afetados por não terem computadores ou porque faltam documentos de identidades dos cidadãos que perderam tudo nas cheias.

Auxílio Reconstrução

O governo federal reservou R$ 1,9 bilhão para pagamento do Auxílio Reconstrução a 375 mil famílias. O socorro federal pode ser usado da maneira que as vítimas do desastre climático quiserem. Não há critério definido para uso do dinheiro.

Até o momento, 274,7 mil famílias foram habilitadas no programa Auxílio Reconstrução. Elas são moradoras de 117 municípios gaúchos em situação de calamidade pública, reconhecida pelo governo federal devido às fortes chuvas, em maio.

Deste total de famílias habilitadas (274,7 mil), cerca de 255,8 mil famílias já receberam o benefício em parcela única, o que equivale ao depósito total de R$ 1,3 bilhão em contas bancárias dos beneficiários na Caixa. 

Moradores do RS podem se inscrever de graça no Enem 2024 até hoje

O prazo para inscrições de moradores do Rio Grande do Sul no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024 termina nesta sexta-feira (21), às 23h59. O prazo extra exclusivo ocorre pela situação de calamidade pública que atingiu o estado em maio deste ano.

O prazo para inscrições foi reaberto pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), no domingo (16), conforme edital específico.

As inscrições devem ser feitas online na Página do Participante, com o login único no portal de serviços digitais do governo federal do Gov.br. O participante que esquecer a senha cadastrada terá a opção de recuperá-la no mesmo site.

Os participantes também podem solicitar tratamento pelo nome social (se for o caso) e atendimento especializado, com recursos de acessibilidade às pessoas com deficiência (PcD). O ineressado deverá inserir novo documento que comprove a necessidade do atendimento especializado. E o resultado do recurso desta solicitação poderá ser consultado também na Página do Participante, a partir do dia 5 de julho de 2024.

No período regular de inscrição, que terminou na sexta-feira (14), o Inep registrou mais de 259,9 mil inscrições de candidatos do Rio Grande do Sul, entre os mais de 5 milhões de inscritos no período regular, encerrado em 14 de junho.

Isenção

Todos os moradores do Rio Grande do Sul inscritos no Enem 2024 têm direito a fazer a prova gratuitamente, porque o governo federal isentou este público do pagamento da taxa de inscrição de R$ 85, devido às enchentes.

Porém, o Ministério da Educação (MEC) e o Inep alertam que a isenção da taxa não garante a participação no Enem 2024. Os moradores do Rio Grande do Sul interessados devem fazer a inscrição online para confirmar a presença nos dois dias de provas do exame.

Datas

Em 2024, as provas objetivas e a redação serão aplicadas em todos os estados e no Distrito Federal nos dois primeiros domingos de novembro, dias 3 e 10.

O edital do Enem 2024 determinou que, no primeiro dia de provas, serão aplicadas as de linguagens, ciências humanas e suas tecnologias, além da redação. E o participante responderá a questões da prova de língua estrangeira (inglês ou espanhol) escolhida na inscrição. A aplicação terá 5 horas e 30 minutos de duração.

No segundo e último dia do Enem, serão aplicadas as provas de ciências da natureza e suas tecnologias e matemática. A aplicação terá 5 horas de duração.

Enem

Criado em 1998, o Enem avalia o nível de conhecimento dos estudantes no fim do terceiro ano do ensino médio, que corresponde ao fim da educação básica no Brasil.

O Enem é considerado a principal forma de conseguir uma vaga em uma instituição de ensino superior, como universidades (públicas e privadas), faculdades e institutos federais, por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), de bolsa de estudo pelo Programa Universidade para Todos (Prouni); ou de financiamento da graduação pelo Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies).

Os resultados individuais do Enem de estudantes brasileiros também podem ser aproveitados nos processos seletivos de instituições de ensino superior de Portugal, que possuem convênio com o Inep para aceitar as notas do exame.

Para mais informações, Inep criou  a página com as perguntas mais comuns sobre o Enem, no portal do Inep. 

Chuvas e alagamentos voltam a preocupar moradores de Porto Alegre

As chuvas que atingem, desde a madrugada desta quarta-feira (19), a região metropolitana de Porto Alegre voltaram a preocupar os moradores de áreas de risco. Em bairros da zona norte da cidade, a água voltou a entrar em algumas residências.

Poucos dias após regressarem para casa depois das enchentes do mês de maio, famílias das chamadas ilhas de Porto Alegre e de bairros como Humaitá e Navegantes voltaram a presenciar o aumento dos níveis dos rios.

Casas destruídas na Ilha de Pintada após chuvas e novos alagamentos – Bruno Peres/Agência Brasil

 

No município de Eldorado do Sul, na região metropolitana, um dos mais afetados pelas chuvas, 5,4 mil pessoas precisaram abandonar novamente suas casas devido a riscos de inundação. Dessas, 115 pessoas foram alojadas em abrigos públicos.

De meia-noite até as 14h de hoje, choveu entre 64 e 79 milímetros (mm) em Porto Alegre, segundo a Defesa Civil da capital. O nível do Lago Guaíba, que banha a cidade, chegou a 3,12 metros (m) pela manhã, próximo da cota de alerta, que é de 3,15 m, e da de inundação, que é de 3,6 m.

Cleci Terezinha Elesbao em sua casa alagada no bairro Humaitá depois de voltar a chover – Bruno Peres/Agência Brasil

 

A cuidadora de crianças Cleci Terezinha Elesbao, de 49 anos, voltou para sua residência, no bairro de Humaitá, há uma semana, depois da inundação de maio. Ela havia começado a recompor os móveis a partir de doações que recebeu.

“É triste né. Tinha tudo dentro da minha casa. Levo a vida toda para construir. Me dá vontade de chorar, mas não adianta, não vai adiantar nada. Aqui não quero morar mais. Se eu tivesse uma oportunidade para sair daqui, eu ia”, comentou a moradora de uma das regiões mais atingidas pela enchente na capital gaúcha.

Situação semelhante enfrenta a aposentada Dileta Frazon, de 65 anos. Ela vive há 23 anos no bairro de Navegantes, que também alagou nesta quarta-feira. Faz apenas 11 dias que a aposentada regressou para sua residência após as fortes chuvas de maio.

“A gente fica com medo. Não vai parar mais. Não fizeram nada ainda. Cada chuva vai ser pior, vamos ficar sem dormir. Vamos procurar um lugar mais confortável e mais alto, né, mas não pode ser no morro para não desmoronar”, afirmou Dileta, acrescentando que assim que tiver a oportunidade vai deixar Porto Alegre. Ela quer ajuda dos governos para conseguir outra residência.

Na Ilha de Pintada, onde o nível do Rio Jacuí subiu hoje, os moradores também voltaram a ficar apreensivos. A região margeia o rio, e o cenário ainda é de destruição, com montanhas de entulhos por todos os lados, casas destruídas e carros de cabeça para baixo.

Daiane Azevedo Cabral em frente ao que sobrou da sua casa destruída na Ilha de Pintada – Bruno Peres/Agência Brasil

 

A moradora Daiane Azevedo Cabral, de 41 anos, perdeu a casa na enchente de maio. Ela vive no local desde que nasceu e disse que nunca havia entrado água na sua casa. Sobre a possibilidade de o rio voltar a subir, ela diz que o cenário é “desesperador”.

“Porque eu estou com meus bichos tudo ali. Imagina eu sair de bote, carregar tudo de novo. Eu nasci e me criei aqui. Por isso que dói. Por isso que é ruim. Eu amo demais esse lugar aqui”, comentou. Apesar do apego pelo local, Daiane diz que não quer mais morar próximo ao Rio Jacuí.

“Eu gostaria de ter uma casa em outro lugar e fazer pelo menos um espaço rústico, alguma coisa que eu pudesse vir aqui e não perder isso, entendeu? Porque o medo é muito grande”, afirmou. Daiane tinha uma empresa de iluminação de festa, mas que acabou com a enchente, que levou todos os seus equipamentos. Ela voltou ao bairro há uma semana e está dormindo na casa do patrão do cunhado.

O marido de Daiane, Ricardo Sauer, de 53 anos, que é motorista de aplicativo, conta que não sabe como conseguir ajuda do governo para procurar outra residência. “Não temos informação”, lamentou.

Juarez César Coelho diz que não pensa em deixar a  Ilha de Pintada para morar em outro lugar – Bruno Peres/Agência Brasil

 

Seu vizinho, Juarez Cesar Coelho, de 69 anos, se emocionou ao falar do futuro. Disse que não pensa em sair da Ilha de Pintada. Em maio, ele precisou ser resgatado de helicóptero do telhado da sua residência. “A vida é essa ai, não adianta. Tem que viver para sofrer. Eu perdi tudo, casa, carro”, contou.

Meteorologia 

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta de tempestade para maior parte do Rio Grande do Sul que deve durar até a noite de hoje.

No município de São Leopoldo, a Defesa Civil emitiu um alerta hoje com o aumento do nível do Rio dos Sinos. Desde o último final de semana, fortes chuvas voltaram a atingir o Rio Grande do Sul. Foram registrados alagamentos em municípios como Montenegro e Igrejinha.

RS: moradores da capital sofrem efeitos das enchentes na saúde mental

A população de Porto Alegre com renda familiar inferior a R$ 1,5 mil sofre mais com ansiedade, depressão e síndrome de burnout do que as pessoas com renda familiar maior que R$ 10 mil, após as chuvas e inundações que atingiram a capital gaúcha a partir do final de abril.

As consequências das enchentes na saúde mental dos porto-alegrenses estão sendo investigadas por psiquiatras do Hospital de Clínicas da cidade, vinculado à Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com apoio da Rede Nacional de Saúde Mental (Renasam).

Os resultados preliminares do levantamento, iniciado em meados de maio, mostram que a ansiedade aflige a 100% das pessoas com renda familiar abaixo de R$ 1,5 mil e a 86,7 de quem tem renda familiar acima dos R$ 10 mil. A depressão atinge a 71% das pessoas do estrato com menor renda e a metade (35,9%) daqueles com maior renda.

A síndrome de burnout, distúrbio emocional com sintomas de estresse, exaustão extrema e esgotamento físico, afeta mais a quem tem renda familiar mais baixa (69%) do que a quem tem renda mais alta (47%).

Os dados foram obtidos por meio de questionário online autopreenchido por pessoas contactadas pela Renasam, por meio do WhatsApp, ou por pessoas que acessaram o QR code fixado em locais públicos, como o Hospital de Clínicas e abrigos. A intenção dos pesquisadores é fazer o levantamento durante um ano, inclusive com acompanhamento periódico da saúde mental de alguns atingidos pela calamidade.

A expectativa dos organizadores é ter informações para cuidar da saúde mental da população impactada e fornecer subsídios para a política de saúde pública, informou à Agência Brasil a psiquiatra Simone Hauck, coordenadora do estudo.

Segundo ela, “o stress pós-traumático crônico torna-se mais difícil de tratar com o passar do tempo”, por isso os organizadores começaram a divulgar os primeiros resultados para que mais pessoas tomem conhecimento da pesquisa e preencham o questionário.

O levantamento foi autorizado pelos comitês de ética científica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e da prefeitura do município. O trabalho está sendo feita gratuitamente por médicos e pesquisadores.

Enchentes afetam saúde mental de moradores da capital gaúcha

A população de Porto Alegre com renda familiar inferior a R$ 1,5 mil sofre mais com ansiedade, depressão e síndrome de burnout do que as pessoas com renda familiar maior que R$ 10 mil, após as chuvas e inundações que atingiram a capital gaúcha a partir do final de abril.

As consequências das enchentes na saúde mental dos porto-alegrenses estão sendo investigadas por psiquiatras do Hospital de Clínicas da cidade, vinculado à Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com apoio da Rede Nacional de Saúde Mental (Renasam).

Os resultados preliminares do levantamento, iniciado em meados de maio, mostram que a ansiedade aflige a 100% das pessoas com renda familiar abaixo de R$ 1,5 mil e a 86,7 de quem tem renda familiar acima dos R$ 10 mil. A depressão atinge a 71% das pessoas do estrato com menor renda e a metade (35,9%) daqueles com maior renda.

A síndrome de burnout, distúrbio emocional com sintomas de estresse, exaustão extrema e esgotamento físico, afeta mais a quem tem renda familiar mais baixa (69%) do que a quem tem renda mais alta (47%).

Os dados foram obtidos por meio de questionário online autopreenchido por pessoas contactadas pela Renasam, por meio do WhatsApp, ou por pessoas que acessaram o QR code fixado em locais públicos, como o Hospital de Clínicas e abrigos. A intenção dos pesquisadores é fazer o levantamento durante um ano, inclusive com acompanhamento periódico da saúde mental de alguns atingidos pela calamidade.

A expectativa dos organizadores é ter informações para cuidar da saúde mental da população impactada e fornecer subsídios para a política de saúde pública, informou à Agência Brasil a psiquiatra Simone Hauck, coordenadora do estudo.

Segundo ela, “o stress pós-traumático crônico torna-se mais difícil de tratar com o passar do tempo”, por isso os organizadores começaram a divulgar os primeiros resultados para que mais pessoas tomem conhecimento da pesquisa e preencham o questionário.

O levantamento foi autorizado pelos comitês de ética científica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e da prefeitura do município. O trabalho está sendo feita gratuitamente por médicos e pesquisadores.

Nível do Guaíba mantém queda, mas preocupação dos moradores continua

O nível do Rio Guaíba continua baixando. Às 9h deste domingo (9), a profundidade do curso d´água junto à Usina do Gasômetro, em Porto Alegre, atingiu 2,91 metros. Esta é a menor marca registrada desde 3 de maio, quando os temporais que atingiram o Rio Grande do Sul, no fim de abril, se intensificaram, causando a maior tragédia climática da história do estado. Em 6 de maio, no mesmo local, as águas chegaram a 5,33 metros.

A boa notícia, contudo, não atenua a preocupação dos moradores do extremo sul do estado. Isso porque o grande volume de água que escoa do Guaíba passa pela Lagoa dos Patos antes de desaguar no Oceano Atlântico. E a velocidade com que isso ocorre é afetada por uma conjunção de fatores que podem retardar a vazão, incluindo a direção do vento e a velocidade da correnteza marítima.

Embora o nível da Lagoa dos Patos venha baixando lentamente nos últimos dias, no geral, ele segue acima das cotas de inundações. E a chegada de uma nova frente fria ao estado e o possível retorno das chuvas podem comprometer a situação. De acordo com a Defesa Civil estadual, a partir do próximo dia 15, pode voltar a chover forte (entre 150 milímetros e 200 milímetros ao longo de dois dias) nas regiões dos Vales, Serra, Litoral Norte e da Grande Porto Alegre.

Alerta

A previsão motivou o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden) a emitir um alerta sobre o “alto risco hidrológico”, ou seja, de ocorrerem novas enchentes e inundações nas proximidades da foz da Lagoa dos Patos. “Em função da previsão meteorológica, que indica vento de quadrante norte/noroeste, a previsão hidrológica é de que a Lagoa dos Patos, permaneça em recessão; mas com alterações na drenagem em função da maré e dos ventos dominantes”, informou o centro vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.

“O alerta do Cemaden deve-se ao fato do nível da Lagoa dos Patos já estar acima da cota de inundação. E, devido à ação dos ventos e ao escoamento mais lento, deve permanecer assim pelos próximos dias. Ou seja, creio que isso não é um indicativo de novas inundações, mas sim da continuidade da atual situação”, afirmou à Agência Brasil o hidrólogo Pedro Camargo, da Sala de Situação estabelecida pelo governo gaúcho.

Para Camargo, a eventual chegada de uma nova frente fria poderá, conforme anunciado pelo Cemaden, provocar chuvas volumosas, afetando o comportamento dos rios que cortam o estado, incluindo os que formam a Bacia Hidrográfica do Guaíba. “Mas pode também não ser nada muito significativo. Há sim uma perspectiva de que o nível de alguns rios volte a subir, podendo, em alguns casos, atingir limiares de alerta, mas dificilmente superarão isso”, afirmou.

Coordenador da Defesa Civil da cidade de São José do Norte, na desembocadura da Lagoa dos Patos, o secretário municipal de Transporte e Trânsito, Jonas Costa, também considera que, embora seja necessário ficar atento, não há motivo para atemorizar a população, já traumatizada com os fatos recentes.

“Vamos torcer para esta frente fria não trazer mais chuvas fortes, pois isso seria um grande problema, mas estamos monitorando a situação e, se necessário, tomaremos novas providências”, assegurou Costa ao informar que o município banhado pela lagoa ainda não se reestabeleceu das últimas chuvas.

“Embora o nível da lagoa já tenha baixado bastante em comparação há algumas semanas, continua acima da cota de inundação. Algumas pessoas ainda não puderam voltar para suas residências. Há comércios e até uma agência bancária com dificuldades para reabrir. Em ao menos um ponto, o trânsito segue interrompido e o transporte de lanchas e barcos teve que ser alterado”, disse Costa.

RS: Correios vão instalar armários para moradores receberem encomendas

Os Correios irão instalar, a partir da próxima semana, dez armários inteligentes, chamados de lockers, para que os moradores de áreas alagadas ou inacessíveis do Rio Grande do Sul possam receber suas encomendas, sem custo.

As áreas que irão receber os primeiros lockers no estado ainda estão sendo definidas e serão divulgadas no site dos Correios.

Pessoas físicas e jurídicas com ou sem contrato com os Correios poderão usar o serviço. A solução permite a retirada dos pacotes em horário ampliado de atendimento, todos os dias da semana (inclusive nos feriados) e em local de fácil acesso, que pode ser escolhido pelo destinatário, entre os lockers disponíveis. Para saber onde eles estão instalados, basta acessar o site, assim que o serviço estiver funcionando no estado.

Os terminais de autoatendimento serão instalados em um momento em que várias áreas ainda estão com restrições de entrega, devido à situação de calamidade pública no Rio Grande do Sul. Por isso, a previsão dos Correios é que os novos armários inteligentes sejam instalados em pontos considerados estratégicos e com grande fluxo de pessoas.

“Vamos instalar nossos lockers em locais estratégicos, como farmácias e shoppings, para que as pessoas tenham uma forma rápida, segura e acessível de receber suas encomendas”, destacou o presidente da empresa, Fabiano Silva dos Santos.

O primeiro locker dos Correios no Brasil foi inaugurado em outubro de 2020, durante a pandemia de covid-19. Os armários inteligentes estão disponíveis para o recebimento de encomendas nacionais e internacionais.

Como usar

O destinatário deve fazer o cadastro no aplicativo Meu Correios pelo app ou pelo site dos Correios.

Na loja virtual ou no ato da postagem destinada a um locker, é preciso informar no endereço de entrega o CEP de onde está instalado o armário inteligente.

Também é obrigatório incluir o número do Cadastro de Pessoa Física (CPF) ou Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) ou passaporte do destinatário no campo de complemento do endereço; além do telefone móvel do destinatário. 

O destinatário pode acompanhar toda a movimentação da encomenda por meio do aplicativo dos Correios.

Quando a encomenda chegar ao locker, o destinatário receberá uma notificação com o código de acesso por SMS, por e-mail ou pelo aplicativo.

Para retirar a entrega no locker, basta apresentar ao terminal de autoatendimento o código recebido na notificação, que o armário liberará o acesso ao compartimento onde está a encomenda.

RS: Defesa Civil retira moradores de bairro com risco de deslizamento

Com a intensificação dos ventos litorâneos e a previsão de grandes volumes de chuva para esta sexta-feira (24), a Defesa Civil do Rio Grande do Sul iniciou, na noite dessa quinta-feira (23), a evacuação do bairro Morro Toca dos Corvos, na cidade de Cruzeiro do Sul. A região está sob risco de deslizamento.

O local passou por vistoria, que resultou em relatório técnico do Grupo de Avaliação de Movimento de Massa do Rio Grande do Sul (Gamma) com indicação de risco de movimento de massa.

A ação de evacuação teve início às 23h e ainda está em andamento, com o apoio de agentes da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Infraestrutura, Brigada Militar, do Corpo de Bombeiros Militar e do Exército Brasileiro.

No estado, toda a região da Costa Doce, centro, vales, litoral norte, nordeste, noroeste, norte e região metropolitana de Porto Alegre estão em alerta para chuvas e ventos fortes com descarga elétrica. A orientação da Defesa Civil é de que a população nessas regiões busque áreas seguras e retire eletroeletrônicos da tomada durante os temporais, além de fechar bem portas e janelas.

Prefeitura anuncia novas medidas de apoio a moradores de Porto Alegre

A prefeitura de Porto Alegre anunciou, hoje (21), novas medidas de auxílio às pessoas diretamente atingidas pelas consequências das chuvas do último mês, que destruíram grande parte do Rio Grande do Sul, incluindo a capital gaúcha.

Três das principais propostas detalhadas pelo prefeito Sebastião Melo dependem do aval da Câmara Municipal. Uma delas prevê aumentar o valor mensal do benefício Estadia Solidária de R$ 700 para R$ 1 mil e ampliar de seis para 12 o máximo de parcelas mensais pagas a cada família beneficiária.

Outra proposta que será encaminhada à Câmara de Vereadores por meio de Projeto de Lei busca ampliar dos atuais R$ 4 mil para até R$ 8 mil a faixa de renda familiar dos beneficiários do programa Compra Compartilhada, de subsídio financeiro municipal para a compra de imóveis de até R$ 235 mil.

A terceira proposta flexibiliza as normas de acesso ao programa municipal Bônus-Moradia, por meio do qual a prefeitura concede um bônus de R$ 127 mil às famílias vítimas de catástrofes climáticas para que adquiram um novo imóvel.

“Simplificamos o procedimento para ter mais agilidade e, assim, entregarmos de maneira mais rápida o imóvel que a pessoa escolher”, comentou a secretária municipal de Habitação e Regularização Fundiária, Simone Somensi, a respeito do Bônus-Moradia, durante entrevista coletiva que Sebastião Melo e membros da equipe de governo concederam esta tarde.

Parcelas do IPTU e ISS

A prefeitura também anunciou o cancelamento da cobrança das parcelas do Imposto Predial e Territorial Urbano [IPTU] de maio e junho para quem paga o tributo mensalmente, além de prorrogar, por dois meses, as datas de vencimentos do Imposto Sobre Serviços (ISS).

Segundo o secretário municipal da Fazenda, Rodrigo Fantinel, a finalidade das medidas relativas à cobrança dos tributos é “aliviar um pouco da situação dos nossos empreendedores e da população em geral”.

“Não é para toda a cidade. E só para [os moradores e comerciantes de] áreas efetivamente alagadas”, acrescentou Fantinel, elencando os bairros da capital cujos moradores foram impactados pelas chuvas e que têm direito a pleitear os benefícios tributários: Sarandi, Anchieta, Humaitá, Farrapos, São Geraldo, Navegantes, São João, Floresta, Centro Histórico, Praia de Belas, Menino Deus, Cidade Baixa, Vila Assunção, Cristal, Lami, Serraria, Arquipélago e Ponta Grossa.

“E vamos acompanhar a evolução do ISS. Se, posteriormente, acharmos que há mais espaço para mais prorrogações, as faremos. Mas, mais uma vez, é importante ressaltar que quem tem condições de seguir pagando [os impostos], os pague, porque isso nos ajuda demais”, pediu o secretário da Fazenda.

Outra medida municipal é a nova rodada do programa de recuperação fiscal RecuperaPoA. Criado em 2021, o programa autoriza a prefeitura de Porto Alegre a conceder descontos de até 95% sobre o valor dos juros cobrados de dívidas e impostos municipais atrasados, nos casos em que o contribuinte quitar o débito à vista até o próximo 31 de julho.

“A ideia é captarmos recursos para usar no enfrentamento às demandas que estão chegando”, explicou Fantinel ao destacar que a prefeitura prevê “um cenário complicado do ponto de vista financeiro”. “Vamos ter uma pressão muito forte por serviços, pois precisamos reconstruir a cidade. E, ao mesmo tempo, há grandes chances de termos perdas expressivas de arrecadação já que muitas empresas foram atingidas e não conseguirão, de uma hora para a outra, voltar a recolher [os tributos] que recolhiam”, comentou o secretário, revelando que a prefeitura já vem recebendo inúmeros pedidos de cancelamento da cobrança de impostos de áreas atingidas pelas chuvas.