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Nascido há 100 anos, César Lattes fez descoberta que marcou a física 

No alto do Monte Chacaltaya, a 5,5 mil metros acima do mar, em La Paz, o jovem físico brasileiro César Lattes, de apenas 23 anos, estava, naquele ano de 1947, diante do cenário da sua mais incrível descoberta. Ele puxava o ar para respirar na altitude boliviana porque sabia que iria valer a pena.  Preparou um experimento com emulsões químicas em chapas fotográficas e conseguiu identificar partículas méson Pí, uma hipótese que estava antes apenas no campo da teoria para explicar o funcionamento do átomo.

A ação garantiu o Nobel para o chefe do laboratório em Bristol (Inglaterra), Cecil Powell, para o qual o brasileiro trabalhava. Mesmo não recebendo o prêmio individualmente, César Lattes foi aclamado e ficou famoso. Agradeceu os convites de trabalho do mundo inteiro, mas resolveu trabalhar no Brasil. Lattes nasceu em 1924, há exatos 100 anos em Curitiba (PR), e morreu em 2005.

No cenário acadêmico brasileiro, Lattes é homenageado pelo nome de uma plataforma que reúne os dados de pesquisadores e professores brasileiros, na base do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). Isso porque o físico teve uma trajetória que foi além do seu campo de pesquisa e defendeu, durante toda a vida, a ciência no Brasil. 

Nota 10

César Lattes foi um jovem que, com 19 anos, formou-se em física na Universidade de São Paulo (USP). Ele ingressou no início de 1941 e terminou no final de 1943. “Nas disciplinas do último ano, que tinham temas mais avançados, relacionados ao que a gente chama de física moderna do século 20, associada à relatividade e aos conhecimentos quânticos, ele tirou 10 em todas as matérias”, afirma o professor Ivã Gurgel, da USP. Era raro alguém ter um desempenho desse tipo naquele curso que estava, segundo o docente, atualizado com os principais conhecimentos do que se fazia no mundo. 

Quando se formou, Lattes ficou entusiasmado ao ficar sabendo do que era feito na Inglaterra na detecção de partículas de raios cósmicos, tema que já trabalhava com seus professores Gleb Wataghin e Giuseppe Occhialini, no Departamento de Física. Em 1946, a convite de Occhialini, Lattes foi para a Universidade de Bristol, Reino Unido, com bolsa da British Council, trabalhar no laboratório de Cecil Powell na calibração das novas emulsões nucleares, um detector de partículas que era um aperfeiçoamento das chapas fotográficas comuns.

Por que não explode?

O que eles buscavam entender é como prótons (partículas com carga positiva) ficam juntos no núcleo do átomo sem se repelir. Professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Antonio Augusto Videira, da área de filosofia e história da ciência, considera que esse é um problema muito importante da física nuclear na década de 30: entender como o núcleo do átomo fica coeso e o que está fazendo o papel de “cola” entre os prótons.

“As partículas mesons estavam sendo procuradas há uma década por físicos não apenas na Inglaterra, mas também nos Estados Unidos”, afirma Videira. O professor da UERJ, que também é colaborador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), explica que  Lattes começou rapidamente a imaginar outros processos para conhecer melhor as emulsões a fim de que os experimentos fossem mais confiáveis.

Brasília – Decaimento do méson pi em méson mi mostra principal resultado obtido pelo grupo de Bristol, do físico César Lattes. Foto Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas/Divulgação

 “Antes, eles não conseguiam extrair dados quantitativos. Conseguiam registrar, mas não sabiam a massa e energia do evento. O meson é como se fosse uma partícula intermediária entre o próton e o neutron”. Primeiro, ele buscou realizar o experimento no Pic du Midi, a 2.880 metros acima do nível do mar, na França, com emulsões tratadas com Boro. Mas ainda não foi o suficiente. “O Lattes tem a ideia de ir a uma montanha ainda mais alta, na Bolívia. Ele deixou as chapas e um mês depois voltou ao monte, recolheu as chapas e conseguiu encontrar os registros”.

Revelação

Para chegar ao monte, havia uma estrutura porque lá estava um clube de esqui e era uma região que abrigava refugiados europeus que foram para Bolívia para fugir do fascismo e do nazismo durante a 2ª Guerra Mundial. “O governo boliviano, interessado em conhecer o clima da região, tinha instalado uma estação meteorológica. Então, havia como chegar lá”. Lattes, então, faz a primeira revelação na antiga Faculdade Nacional de Filosofia, que era ligada ao Museu do Brasil. 

“Ele ficou muito animado. Chegou a dar um seminário aqui sobre isso. anunciando que as chapas que havia exposto na Bolívia tinham resultados positivos”. Depois, voltou para a Inglaterra, e a equipe percebeu muitos eventos. “Eles acabam publicando trabalhos que vão ser conhecidos e que vão confirmar a existência do meson”. Esses resultados vão beneficiar Cecil Powell, em 1949, que era o chefe laboratório em Bristol.

Antonio Augusto Videira explica que pesquisadores brasileiros buscam entender por que o prêmio não foi para Lattes. “Ele acabou não ganhando o Prêmio Nobel por uma série de razões. Ele foi indicado sete vezes para o Prêmio Nobel e acabou não ganhando”. 

Nos anos seguintes, as pesquisas de Lattes passam a ficar conhecidas e a ter destaque na imprensa. “Ele fica muito conhecido, e essa popularidade vai ser fundamental para que haja uma transformação na física e na ciência brasileiras”, afirma o professor da Uerj.  

Luta pela ciência

Segundo o professor Ivã Gurgel, da USP, César Lattes foi convidado para trabalhar em institutos e universidades de várias partes do mundo. “Mas resolveu voltar para o Brasil”. E ele passa a não somente defender os temas da física, mas se juntar a outros pesquisadores para exaltar a necessidade de investimento na ciência. “Eles queriam, por exemplo, obter o chamado tempo integral para os professores, que hoje em dia a gente chama de dedicação exclusiva”. Lattes fez carreira também na USP e Unicamp depois de voltar ao Brasil.

O contexto daquele final dos anos 1950 ajudava no convencimento. “Todos os eventos que aconteceram durante a 2ª Guerra foram por avanços científicos e tecnológicos. Mostraram a importância que a ciência tinha para a segurança de um país, não apenas para a segurança, mas para o desenvolvimento econômico, social e cultural”, diz Videira. Nesse contexto, deu-se a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por exemplo. 

“Eles não pensavam apenas na física. Para que a física pudesse se desenvolver de forma positiva, ela precisava de químicos, de engenheiros de diversas áreas, ela já precisava de matemáticos”, afirma o pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, entidade também criada em 1949.

Para o pesquisador, isso aconteceu de forma muito rápida e intensa, levando em conta que as comunicações ocorriam por cartas e telefonemas,com dificuldades.  Segundo os professores entrevistados, a história de César Lattes deve inspirar os mais jovens. O professor da USP Ivã Gurgel testemunha que, mesmo com os alunos na graduação, há quem não conheça quem foi o pesquisador. “A gente precisa fazer um trabalho de preservação de memória e de divulgação”, considera.

A trajetória do homem que resolveu defender a ciência poderia, de acordo com Antonio Videira, ser exemplo, porque Lattes demonstrava ideais nacionalistas.  “Seria muito interessante se as escolas pudessem multiplicar histórias como a dele. Tem que ter textos e vídeos sobre ele para serem divulgados nas redes sociais, por exemplo”.

Hoje é Dia: dia da ciência, do rock e 100 anos de Lattes são destaques

A semana entre os dias 7 e 13 de julho de 2024 começa com homenagens ao trabalho científico e termina em ritmo de rock and roll. Nesta segunda (8), comemora-se o Dia Nacional da Ciência e o Dia Nacional do Pesquisador. A data foi criada para lembrar a fundação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que remete aos idos de 1948.

Ainda no campo da ciência, a semana é marcada, em 11 de julho, pelos 100 anos do nascimento do físico paranaense César Lattes. Ele é um dos descobridores do méson pi (partícula responsável por mediar a interação entre prótons e nêutrons dentro do átomo, permitindo que permaneçam unidas), que rendeu o Prêmio Nobel ao líder de sua equipe de pesquisa, Cecil Frank Powell, em 1950. Lattes, que dá o nome à plataforma de currículos do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), teve parte de sua história contada no Ciência é Tudo, em 2020:

Se a semana começa em ciência, podemos dizer que ela termina no ritmo das guitarras distorcidas. No dia 13 de julho, celebra-se o Dia Mundial do Rock. A data surgiu em 1985, em torno do Live Aid, evento beneficente que reuniu artistas consagrados, como lembrou a reportagem da Radioagência Nacional em 2023. Na ocasião, a origem do ritmo foi contada e nomes foram homenageados.

Para os amantes do rock, a semana também tem uma lembrança. No dia 11, a morte de Tommy Ramone completa 10 anos. Baterista dos Ramones (banda icônica do punk rock), ele foi o último integrante do grupo a falecer. Joey (que morreu em 2001), Dee Dee (que morreu em 2002) e Johnny (morto em 2004) foram os outros integrantes do Ramones.

Entre ciência e rock, os outros fatos da semana

A semana tem datas marcantes para interesses e paladares variados. No dia 10 de julho, são celebrados o Dia Mundial da Saúde Ocular e o Dia Nacional da Pizza. A data da iguaria é comemorada no Brasil desde 1985. Em 2018, o História Hoje falou sobre a efeméride.

11 de julho celebra o Dia Mundial da População, criado em 1987. Neste dia, a Terra chegou a 5 bilhões de pessoas. A data nos propõe refletir sobre a maneira como cuidamos do planeta, a qualidade de vida que queremos e o papel dos métodos contraceptivos, como nos mostra reportagem da Agência Brasil de 2017.

Duas figuras da arte também são destaques na semana. No dia 12 de julho, celebramos os 120 anos de nascimento do poeta chileno Pablo Neruda, um dos mais importantes escritores da literatura mundial. Ele foi homenageado pelo Rádio Memória (quadro do Rádio Sociedade, da Rádio MEC) no ano passado.

O dia 13 de julho relembra também os 70 anos de morte da artista e ativista mexicana Frida Kahlo. Ela foi homenageada no História Hoje em 2017, que lembrou o seu legado e sua trajetória. No mesmo ano, Frida também foi tema desta reportagem do Repórter Maranhão:

Confira os principais marcos* do Hoje é Dia no período de 7 a 13 de julho de 2024:

Julho de 2024

7

Morte do treinador e ex-jogador de futebol argentino-espanhol Alfredo Di Stéfano (10 anos)

Dia Estadual das Paneleiras de Goiabeiras (Espírito Santo), em homenagem às panelas de barro capixabas, primeiro bem imaterial registrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 21 de novembro de 2002. A partir de então, o ofício das Paneleiras de Goiabeiras foi inscrito no livro de Registro dos Saberes e declarado Patrimônio Cultural do Brasil

Morte do pajador e poeta gaúcho Jaime Caetano Braun (25 anos), considerado o patrono do Movimento Pajadoril no Brasil. A pajada, ou payada em castelhano, consiste em uma forma de se fazer versos, geralmente no improviso

Primeira transmissão do programa Som Infinito, na MEC FM (39 anos)

Estreia da faixa infantil TV Brasil Animada (7 anos)

8

Morte do advogado, intelectual e político paulista Plínio de Arruda Sampaio (10 anos)

Dia Nacional da Ciência e Dia Nacional do Pesquisador

9

Nascimento do matemático alagoano Elon Lages Lima (95 anos)

Nascimento da cantora, compositora e atriz estadunidense Courtney Love (60 anos)

Revolução Constitucionalista de 1932 – Feriado estadual em SP.

Fundação de Boa Vista-RR (134 anos)

10

Nascimento da professora e política paulista Eunice Michiles (95 anos), a primeira mulher a ocupar uma vaga de senadora no Brasil após a Princesa Isabel

Morte do jornalista e escritor fluminense Paulo Henrique Amorim (5 anos)

Dia Mundial da Saúde Ocular

Dia Nacional da Pizza

Dia Estadual do Frescobol

O poema “Hino dos Bandeirantes” é instituído como letra oficial do hino do estado de São Paulo (50 anos)

11

Morte da intelectual, política, professora e antropóloga mineira Lélia Gonzalez (30 anos) – referência nos estudos e debates de gênero, raça e classe no Brasil, na América Latina e no mundo, e considerada uma das principais autoras do feminismo negro no país

Nascimento do produtor de cinema estadunidense Walter Wanger (130 anos), responsável por clássicos do cinema mundial e ex-presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pela criação das categorias de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Documentário no Oscar

Nascimento do treinador e ex-jogador de futebol paulista Emerson Leão (75 anos)

Morte do ex-baterista punk húngaro Tommy Ramone (10 anos), o último integrante da formação original da banda Ramones a falecer

Morte do advogado, jornalista, crítico de cinema, poeta, ensaísta e tradutor paulista Guilherme de Almeida (55 anos), primeiro modernista da Academia Brasileira de Letras

Morte da professora e pintora baiana Lucília Fraga (45 anos)

Morte do ator, produtor e diretor cinematográfico britânico Laurence Olivier (35 anos), vencedor de quatro Oscars, três Globos de Ouro, três Baftas, três prêmios NBR e cinco Emmys e considerado um dos maiores atores de todos os tempos, no cinema e no teatro

Nascimento do físico paranaense César Lattes (100 anos), codescobridor do méson pi, homenageado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) com a Plataforma Lattes

Nascimento do estilista italiano Giorgio Armani (90 anos)

Dia Mundial da População, data sugerida pelo Conselho de Governadores do UNDP (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) da ONU após o Dia dos 5 Bilhões, de 11 de julho de 1987, quando o planeta teria alcançado a marca de 5 bilhões de habitantes

O prefeito Pedro Ernesto assina o decreto de criação do Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro (90 anos)

12

Nascimento do poeta chileno Pablo Neruda (120 anos)

Nascimento do comediante estadunidense Joe DeRita (115 anos), membro do grupo humorístico Os Três Patetas

Nascimento do cantor e compositor paulista Chauki Maddi, o Tito Madi (95 anos)

Nascimento do artista plástico e escultor italiano Amadeo Modigliani (140 anos)

Morte do jornalista paulista Júlio de Mesquita Filho (55 anos), homenageado em 1976 como patrono da Unesp, a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

Dia de Malala, em homenagem à ativista paquistanesa Malala Yousurfzai

13

Nascimento do jornalista, escritor, folclorista, empresário e ativista cultural paulista Cornélio Pires (140 anos)

Morte da pintora e ativista mexicana Frida Kahlo (70 anos)

Nascimento do escritor nigeriano Wole Soyinka (90 anos), ganhador do prêmio Nobel de Literatura de 1986

Sanção da Lei n° 9.807, criando o Programa Federal de Proteção a Testemunhas e Vítimas Ameaçadas (25 anos)

Final da Copa do Mundo FIFA no Brasil (10 anos)

Dia Mundial do Rock

*As datas são selecionadas pela equipe de pesquisadores do Projeto Efemérides, da Gerência de Acervo da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que traz temas relacionados à cultura, história, ciência e personalidades, sempre ressaltando marcos nacionais e regionais. A Gerência de Acervo também atende aos pedidos de pesquisa do público externo. Basta enviar um e-mail para centraldepesquisas@ebc.com.br.