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Jornalista diz que Silvio Santos foi inovador na televisão

O apresentador de televisão e empresário Silvio Santos, que morreu na madrugada deste sábado (17), em São Paulo, foi responsável por inovações no jornalismo brasileiro. Filiado ao Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro desde os anos 50, ele ajudou a criar o primeiro telejornal no país com a presença de um âncora – jornalista que, além de apresentar o jornal, comenta e analisa as notícias.     

“Ele nos ajudou a criar o primeiro jornal ancorado. Ele nos ajudou a fazer o primeiro jornal apresentado por um âncora no Brasil, que foi o Telejornal Brasil, o TJ Brasil, com Boris Casoy”, conta o jornalista da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Albino Castro, que trabalhou com Silvio Santos no SBT por 12 anos.

Albino lembra que o apresentador e empresário ainda participou da criação do primeiro telejornal com uma mulher como âncora, a jornalista Lillian Witte Fibe, no Jornal do SBT, e do programa policial Aqui Agora.

“O Aqui Agora era um produto jornalístico idealizado por ele e que nós tocamos com a ajuda dele e com a orientação dele. O Silvio Santos era jornalista, sindicalizado no Rio desde 1954, e tinha uma visão jornalística muito interessante, porque era uma visão misturada com linha de show. Ele concebia o jornalismo também como alguma coisa espetacular, extraordinária”, destaca Albino.

Inovação

Ele recorda ainda que o apresentador mudou inclusive a forma como o telejornal era montado, baseado nos jornais impressos, dividido em seções ou editorias.

“Ele dizia que fazíamos um roteiro muito igual ao jornal impresso. [Ele dizia que] você pode misturar todas as notícias, como a capa do jornal, não precisa fazer a seção de esporte, a seção internacional, a seção de economia. E aí você vê que é uma coisa que foi implantada por nós no SBT e que depois ganhou espaço em todas as emissoras. E hoje, o Jornal Nacional e todos os demais jornais são feitos assim”, enfatiza. 

O apresentador e empresário morreu às 4h50 deste sábado, na capital paulista, em decorrência de uma broncopneumonia após uma infecção por Influenza (H1N1). Ele estava internado no Hospital Israelita Albert Einstein. Silvio Santos deixa a esposa Íris, duas filhas do primeiro casamento e quatro filhas do segundo casamento, além de netos e bisnetos.

A pedido de Silvio Santos, família não fará velório

A família de Silvio Santos, que morreu na madrugada deste sábado (17) na capital paulista, não irá realizar  velório, um pedido feito em vida pelo apresentador de TV e empresário.

Em comunicado, familiares disseram que o corpo de Silvio Santos será levado diretamente para o cemitério, onde será feita uma cerimônia judaica.  Senor Abravanel – seu nome de batismo – era filho de imigrantes judeus. 

Celebrado em vida

“Ele pediu para que, assim que ele partisse, que o levássemos direto para o cemitério e fizéssemos uma cerimônia judaica. Ele pediu para que não explorássemos a sua passagem. Ele gostava de ser celebrado em vida e gostaria de ser lembrado com a alegria que viveu. Ele nos pediu para que respeitássemos o desejo dele.  E assim vamos fazer”, disseram familiares. 

O apresentador e empresário morreu às 4h50 deste sábado em decorrência de uma broncopneumonia após uma infecção por Influenza (H1N1). Ele estava internado no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Silvio Santos deixa a esposa Íris, duas filhas do primeiro casamento e quatro filhas do segundo casamento, além de netos e bisnetos.

Políticos e personalidades lamentam a morte de Silvio Santos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a morte do empresário e apresentador Silvio Santos, neste sábado (17), aos 93 anos, em São Paulo. Em publicação nas redes sociais, Lula afirmou que Silvio foi “a maior personalidade da história da televisão brasileira e um dos grandes comunicadores do país”.

Silvio Santos foi a maior personalidade da história da televisão brasileira, e um dos grandes comunicadores do país.

Carioca, filho de imigrantes, Senor Abravanel, seu nome de batismo, foi um empreendedor que iniciou sua vida como vendedor ambulante e construiu uma grande rede… pic.twitter.com/mkqiOQGDcG

— Lula (@LulaOficial) August 17, 2024

Nascido no Rio de Janeiro em 1930, Senor Abravanel, seu nome de batismo, passou de um jovem vendedor ambulante a empresário de sucesso em vários setores e fundador de uma das maiores empresas de mídia do país, o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). “Mas será sempre lembrado como Silvio Santos, o rosto e a voz dos domingos de milhões de brasileiros e brasileiras, querido pelas suas ‘colegas de trabalho’, como carinhosamente chamava as telespectadoras”, escreveu Lula, em referência ao programa apresentado por Silvio.

“Com seu talento e carisma lançou e deu apoio a muitos talentos da televisão, do humor e do jornalismo. Era uma das pessoas mais conhecidas e queridas do nosso país. Ao longo dos anos, nos encontramos em programas de TV, reuniões e conversas, sempre com respeito e carinho. A sua partida deixa um vazio na televisão dos brasileiros e marca o fim de uma era na comunicação do país”, acrescentou o presidente, manifestando suas condolências à família, amigos, funcionários e fãs.

O vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou que o Brasil “não perdeu apenas um de seus maiores comunicadores, mas ‘alguém de casa’”. “Quando ligávamos a televisão ele estava sempre lá, como se fosse parte de nossas famílias”, escreveu nas redes sociais. “Com uma voz inconfundível, uma simplicidade cativante e um microfone na lapela, Silvio Santos trouxe alegria para milhões de lares brasileiros. Ao longo das décadas, pudemos testemunhar o fascínio da plateia com sua presença”, lembrou.

O presidente do Congresso Nacional e do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, também manifestou pesar pelo falecimento do “nome maior da televisão brasileira”. “A magnitude alcançada pelo carisma, pela versatilidade e pelo talento de Silvio Santos o tornou imprescindível como um dos maiores comunicadores do entretenimento do nosso país”, escreveu, em nota.

Já o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, afirmou que Silvio tem uma história de sucesso empresarial que sempre será exemplo. “Deixa marca eterna na comunicação por sua conexão única com o público e que atravessou gerações”, escreveu nas redes sociais.

Silvio Santos estava internado na capital paulista desde o início de agosto. Em nota, o Hospital Israelita Albert Einstein confirmou a morte em decorrência de broncopneumonia após infecção por influenza (H1N1).

O governo de São Paulo decretou luto oficial de sete dias e, em manifestação de pesar, lembrou que o carioca Senor Abravanel escolheu São Paulo para viver desde os anos 1950. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, lamentou a partida “do maior comunicador da história do nosso país”.

“Ser humano querido e profissional tão admirado, Senor Abravanel foi exemplo de vitória e superação e Silvio Santos referencial de carisma e humildade e sinônimo de alegria para os brasileiros que acompanharam seu sorriso na tela do SBT por tantos anos. À família Abravanel, o meu carinho e abraço. O legado de Silvio Santos vai perdurar e sua voz e brilho serão eternos em nossas memórias”, escreveu nas redes sociais.

Artes

A escritora Glória Perez lembrou que “teve o privilégio” de ter Silvio Santos atuando em uma de suas novelas – Carmem, de 1987 – quando uma personagem da trama foi arranjar namorado em outro programa famoso do apresentador, o Namoro na TV. “Silvio Santos é único – no carisma, na alegria, na maestria de comandar um auditório e lidar com crianças”, destacou Glória.

“Nossos domingos nunca mais serão os mesmos. Descanse em paz, Silvio Santos”, escreveu o cantor Gilberto Gil.

A apresentadora Angélica também homenageou o comunicador, lembrando do início da sua carreira no SBT. “Silvio Santos acreditou em mim e me incentivou a ser mais do que apenas uma apresentadora de TV, mas uma verdadeira comunicadora. Ele abriu portas, me deu oportunidades e, por isso, serei eternamente grata. Seu legado viverá para sempre, não só na televisão, mas no coração de todos que tiveram o privilégio de aprender com ele. Obrigada por tudo, Silvio”, escreveu nas redes sociais.

Para a atriz e apresentadora Maisa Silva, “nem nos seus melhores sonhos”, poderia imaginar que “um dos maiores comunicadores da história da nação”, seria seu patrão. “O Silvio deu asas pro meu sonho, que era apresentar um programa de TV. ‘Mas uma criança de 5 anos? Apresentar programa ao vivo? Fazer merchan lendo TP?’ Pra ele, nada disso era impossível. Até poderia ser incomum, mas o Silvio gostava disso. Ele enxergava coisas que as outras pessoas não viam. E sendo nosso patrão, muitas vezes não tinha medo de colocar esses planos em execução”, publicou, manifestando gratidão pelas lições que recebeu.

Apresentador do programa Domingo Legal, do SBT, Celso Portiolli, afirmou que Silvio é uma lenda que deixa um legado eterno. “Fui abençoado em ter tido a oportunidade de aprender e crescer ao lado desse gênio da comunicação, que não só me deu uma chance, mas também me ensinou a sonhar grande. Minha gratidão será eterna, assim como seu impacto em cada lar brasileiro. Aos familiares, amigos e milhões de fãs que, assim como eu, se sentem órfãos neste momento, deixo meus mais profundos sentimentos. Descanse em paz, Silvio Santos. Você é e sempre será o maior”, escreveu.

O grupo Globo, principal concorrente do SBT, também prestou homenagens a Silvio em sua programação e nas redes sociais. Antes de fundar o SBT, o apresentador trabalhou por dez anos na emissora de Roberto Marinho.

Uma homenagem da TV Globo a Silvio Santos, um dos maiores comunicadores do Brasil, que faleceu hoje aos 93 anos. @SBTonline

Fotos: SBT / Acervo Globo pic.twitter.com/kMqZ4tmraM

— TV Globo 📺 (@tvglobo) August 17, 2024

“O Brasil se despede hoje com tristeza de um apaixonado pela comunicação e um dos seus maiores expoentes. Agradecemos ao Silvio tudo que fez pela televisão brasileira e enviamos nosso carinho à família, aos amigos, aos colaboradores e aos fãs”, diz a manifestação da empresa nas redes sociais. “Não dá pra falar da história da televisão brasileira sem lembrar do Silvio Santos. Obrigado por tanto, Silvio! Os domingos serão sempre seus”, destacou o perfil da plataforma Globoplay.

O presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Jean Lima, afirmou que a história e o legado de Silvio serão sempre lembrados. “Sílvio Santos escreveu um dos mais importantes capítulos da história da televisão brasileira. Que todo o seu trabalho sirva de exemplo para muitas gerações”, destacou, em nota.

Clubes

Ao longo de sua carreira, o comunicador também cantou marchinhas de Carnaval, umas delas em homenagem ao time de futebol Corinthians, com o nome “Coração Corinthiano”. Diversos clubes, de vários estados do país, manifestaram seu pesar pela morte de Silvio.

“Um dos maiores apresentadores da história do Brasil, Silvio Santos comandou os domingos do SBT por muitas décadas. Sempre irreverente, Silvio nunca escondeu sua paixão pelo Timão. Doutor, eu não me engano, meu coração é corinthiano”, diz publicação do Corinthians nas redes sociais.

“Tricolor de coração, Silvio Santos era fã e exaltava a equipe multicampeã do Fluminense do fim dos anos 1930 ao início dos anos 1940. Tinha como ídolos de infância no futebol Tim, Hércules, Romeu, Russo, Rongo e outros, que formavam o seu time de botão”, escreveu o Fluminense.

“Mãe Bernadete, presente”: comunidade defende legado um ano após crime

As marcas de tiros ainda estão na parede que foi pintada de verde claro. Antes, era rosa. Os vestígios do assassinato de Maria Bernadete Pacífico, de 72 anos, líder do Quilombo Pitanga de Palmares, na cidade de Simões Filho, na Bahia, significam mais do que lembranças da dor. “É para que ninguém esqueça. São cicatrizes de uma cena de terror”, diz o neto, Wellington Santos, de 23 anos, que estava em casa quando, por volta das 20h40 do dia 17 de agosto de 2023, dois homens dispararam pelo menos 25 tiros contra a idosa.

O neto, uma irmã e um primo adolescentes foram trancados nos dois quartos. Um ano depois, a família e a comunidade enlutadas buscam honrar o legado de “Mãe Bernadete”, uma mulher que passava seus dias tentando melhorar as condições das pessoas e do lugar em que morava.

A morte da avó, praticamente diante dele, não foi o primeiro trauma na vida de Wellington. Em 2017, o pai dele, Flávio Pacífico, 36 anos, também líder quilombola e defensor de direitos humanos, foi assassinado em uma rua próxima de casa. “Quando a minha avó foi assassinada, eu vi o ciclo se repetir. Eu saí do emprego para poder dar atenção às questões comunitárias”. Ele, hoje, passou a lutar por políticas públicas para a comunidade. “Como minha avó e meu pai fizeram, eu quero continuar a lutar”, diz o rapaz, que tem produzido documentos em nome da comunidade em causas como o pedido para concessão de crédito rural. A comunidade de Pitanga dos Palmares conta com 2.638 pessoas e 598 famílias.

Legado e ameaças

A ideia de que o “legado continua” não sai do coração e das palavras também do filho de Bernadete, Jurandir Pacífico. “Todos nós sabemos que ser de comunidade quilombola é resistir todos os dias”, afirmou, na sexta-feira (16), em evento na comunidade em homenagem à memória de Bernadete. 

“A gente tem essa responsabilidade de continuar com esse legado tão lindo e corajoso”. Ele traz na memória o ideal da mãe de que o legado precisava continuar.  Ele enfatiza que adeptos de religião de matriz africana são perseguidos e que existe temor na comunidade. “Há 40 dias, eu fui ameaçado. Ouvi que eu seria o próximo (a ser vítima)”. Jurandir enfatizou que já denunciou ameaças para as autoridades.

Mesmo enlutados e com temor, família e comunidade resolveram realizar nesse período – que poderia ser apenas de dor – mais um ato de resistência com o 7º Festival de Cultura e Arte Quilombola. São promovidas, até domingo (18), rodas de conversas e debates, oficinas e  apresentações culturais e dos produtos que as pessoas da comunidade aprenderam a fazer. 

Cuidado

Entre as oficinas lembradas e que receberam importante atenção de Mãe Bernadete, houve apresentação do Projeto “Resistência Quilombola”, que tem como motivações a proteção e o autocuidado nos territórios.

O projeto é da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq) e trabalha com protocolos de segurança. “Passou a ser uma das bandeiras de luta também da Mãe Bernadete. O projeto trata de temas sensíveis à realidade. A gente mexe um pouco com a memória afetiva de cada um. Nós participamos do festival, mas nós iremos retornar novamente para trabalharmos”, diz o coordenador, Maximino Silva. O projeto tem atuação em sete estados.

Além dos diálogos, o festival mostrou como as ações e incentivos de Bernadete são a chave da história da comunidade. A hoje artesã Edna Batista, 56 anos, diz que foi a amiga de longa jornada que a incentivou a criar uma nova possibilidade de renda quando ensinou a fazer bonecas e outros artigos com pano e areia. Ela recorda que a amiga sempre cobrava participação de todos. “Antes dela, não tinha luz nem água aqui”, conta Edna.

O artesão Francisco Celestino, 53 anos, afirma que faz parte da primeira família que se instalou no lugar. E que, desde que Bernadete chegou, há 15 anos, houve uma transformação. Foi a idosa que estimulou ele e a esposa, Claudicéa, a aprender a fazer artes com a piaçava, extraída pelos agricultores da própria comunidade.  

O casal faz de brincos a telas, de vasos e adornos. Os dois vendem os produtos nas feiras na cidade e até pela internet. Francisco é o presidente da associação dos artesãos (33 pessoas, só ele de homem) e tenta manter a comunidade empolgada. “Ela nos ajudou muito. Precisamos reconhecer que mudou a vida de todos por aqui”. Trata-se de uma ligação já antiga. Francisco recorda que era professor da creche do distrito e que Bernadete chegava a dormir no local para organizar o atendimento às crianças no dia seguinte.

Perto de onde o casal de artesãos mostrava as artes em piaçava, um grupo de agricultores lembrava que foi Bernadete também que conseguiu equipamentos para uma fábrica de farinha de mandioca. Pedro Almeida, de 60 anos, disse que foi com “imensa felicidade” o dia que recebeu da amiga, há dois anos, a notícia que poderiam trocar a atividade em manufatura por máquinas que tornaram possível fabricar 30 sacos de 50 kg por dia. “Vendemos nas feiras e mais agricultores entenderam o que poderíamos fazer”, afirma.  

Titulação

Sejam os avanços comunitários ou os riscos por quais passam comunidades quilombolas, quem atua na defesa dos territórios enfatiza a necessidade da titulação das terras que pode deixar as populações mais amparadas. “O governo federal vem ajudando a comunidade e acelerou o processo de titulação”, diz Jurandir Pacífico. Em abril, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) declarou as áreas situadas no município de Simões Filho, na Bahia, como territórios pertencentes à Comunidade Remanescente de Quilombo de Pitanga de Palmares. 

A luta pela titulação, no entender do filho, foi o fator principal para a morte dela. “Entendo que esse crime ocorreu a mando de algum interesse. Alguém pode ter usado o tráfico de drogas para executar a mãe Bernadette, ou seja, pagou o traficante”.  As investigações da Polícia Civil atribuíram o crime ao tráfico. O inquérito policial indiciou seis pessoas pelo envolvimento na morte de Bernardete. 

Crime

De acordo com as investigações, foram dois executores, dois mandantes e mais dois participantes (que facilitaram com informações) identificados como responsáveis pela morte. A mais recente prisão, em julho, foi de Ydney dos Santos. A polícia apontou, em abril, que estavam foragidos Marílio dos Santos e Josevan Dionísio. Três homens já haviam sido presos no ano passado. Para defender a investigação, a Secretaria de Segurança Pública apontou que houve 80 oitivas, 20 medidas cautelares e 14 laudos periciais.

Para a superintendente estadual de Direitos Humanos, Trícia Calmon, a violência contra lideranças, defensoras de direitos humanos em suas comunidades, precisa ser combatida de forma urgente. Segundo ela, existem dois momentos em que os riscos das lideranças são aumentados. 

“O primeiro é quando ninguém está olhando. Ninguém está olhando as dificuldades e as lutas que são postas ali naqueles territórios. O segundo, que foi o caso de Dona Bernadete, é quando todo mundo está olhando para aquele contexto, para aquela situação. E aí as forças interessadas naquele território compreendem que estão diante de um risco iminente de perder espaço”, diz Trícia. 

Ela avalia que o crime organizado emite um recado violento para amedrontar comunidades que, geralmente, são afastadas do meio urbano e que precisam de mais serviços públicos. Por isso, Trícia  defende ações de diferentes instituições. “Foi criada uma força-tarefa para a realização fundiária visando tentar um modelo mais célere para a regularização. Nesse sentido a gente verificou um avanço em relação aos procedimentos de regulação fundiária”. 

Ela afirma que a dificuldade da posse do direito à terra, que é uma questão histórica no país, é um problema porque são comunidades invisibilizadas. Na Bahia, há 1.046 comunidades quilombolas. A respeito da responsabilidade do crime, Trícia concorda com a ideia defendida pela família da vítima, segundo a qual a problemática da disputa da terra é o contexto principal do homicídio. 

Sem arredar o pé

Enfática a esse respeito também é a dirigente da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) e assistente social Selma dos Santos Dealdina. “Nós vamos reafirmar hoje e sempre que Dona Bernadete morreu por lutar pela terra, por denunciar vendas de lotes e desmatamento do território. Ela morreu porque cobrava justiça pelo assassinato do filho. A gente não trabalha com essa hipótese levantada pela polícia”.

Selma considera que a situação dos quilombolas não avançou depois do assassinato. “Nós tivemos cinco lideranças executadas nessa luta pela terra. A gente continua com dificuldade porque a lentidão para titular os territórios ainda é muito grande. Não mudou o cenário, pelo contrário”, afirma. 

Ela entende que a ameaça é permanente e contextualiza que há no Incra mais de 1.850 processos para regularização fundiária.

“Estamos aguardando e costuma haver alguma visibilidade para a pauta negra apenas no dia 20 de novembro (dia da Consciência Negra no Brasil). Não dá só para serem entregues portarias e decretos e titulações só no 20 de novembro”. A dirigente diz que as comunidades estão amedrontadas. “Não estamos seguras, mas também a gente não arredou o pé”, confessa.

Bernadete é homenageada na Bahia. Foto:  Alberto Lima/Divulgação

“Agenda nacional”

O secretário nacional de Políticas para Quilombolas, Povos e Comunidades, Ronaldo dos Santos, também reconhece que é preciso intensificar os programas de segurança porque essas lideranças ficam realmente muito expostas e vulneráveis. “E também intensificar a política de regularização fundiária. A gente sabe que a regularização encerra ou protege muito as comunidades dessas ações violentas no campo”.

Ele explica que há hoje cerca de 350 títulos de propriedade definitiva quilombola expedidos no Brasil, que correspondem a cerca de 400 comunidades quilombolas. “Nós temos nos debruçado sobre um plano de ação da Agenda Nacional de Titulação. Temos feito a discussão e buscado saída para pensar como fortalecer os programas de proteção, como fortalecer esses territórios quilombolas com a chegada de políticas públicas e fortalecimento das organizações de base quilombola”, acentua.

Presentes

Enquanto esperam a titulação definitiva, familiares de Bernadete se emocionam, mas apresentam um sorriso no rosto quando falam de tudo o que a matriarca ensinou. “Hoje, eu almejo fazer coisas de direito, de pensar direito, conhecer esse mundo jurídico e ter mais opções para defender os interesses da minha comunidade”, observa o neto Wellington que não deseja ir embora do Brasil. 

“Não conseguiria me olhar no espelho. Espero que um dia eu possa ter segurança de viver em minha comunidade novamente”, diz.

Enquanto percorre a casa em que ocorreu o crime, Jurandir, tio de Wellington e filho da liderança quilombola, não esmorece. “A nossa vida mudou depois dessas covardias que fizeram com minha mãe e meu irmão. Mas eles estão presentes em nós”, finaliza.

*O repórter viajou a convite da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) 

Filme sobre guaranis vence premiação de cinema gaúcho de Gramado

O longa-metragem que conta a história da pequena comunidade indígena dos Mbyá-Guarani, que vivem entre a fronteira do Brasil com a Argentina, foi escolhido como melhor filme gaúcho do 52º Festival de Cinema de Gramado. Além de melhor longa, “A Transformação de Canuto”, de Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho, recebeu as premiações de melhor ator, melhor fotografia e melhor direção. O longa também recebeu o prêmio TV Brasil de Exibição, no valor de R$ 50 mil em licenciamento.

A premiação revelada na noite dessa sexta-feira (16) foi exclusivamente para o cinema gaúcho. Já a premiação nacional será divulgada na noite deste sábado (17).

“A premiação entregou R$ 55 mil aos vencedores nas 11 categorias, além de menção honrosa ao diretor e ator Rafael Corrêa, de “Memórias de um Esclerosado”, por compartilhar uma visão de mundo tão generosa, colorida, divertida, sem medo dos sentimentos bons e ruins que eclodem da exposição em forma de filme biográfico”, informou a organização.

Já o diretor e roteirista Jorge Furtado recebeu o Troféu Eduardo Abelin em reconhecimento pela sua trajetória profissional no cinema gaúcho. Outros cineastas gaúchos homenageados pelo festival foram o ator e diretor porto-alegrense Nelson Diniz que, com seus mais de 60 trabalhos na telona, recebeu o troféu Leonardo Machado.

Já o chamado Prêmios Lecine foram divididos para três cineastas: José Maia, diretor, produtor e animador com mais de três décadas de trabalho no audiovisual; Aleteia Selonk, sócia-diretora e produtora executiva da Okna Produções; e Alexandre Mattos, membro-fundador da Moviola Filmes e membro do Macumba Lab – Coletivo de Profissionais Negres do audiovisual do Rio Grande do Sul (RS).

Conheça os vencedores por categoria

Melhor Filme: A Transformação de Canuto, de Ariel Kuaray Ortega e Ernseto de Carvalho

Melhor Direção: Ariel Kuaray Ortega e Ernseto de Carvalho, por A Transformação de Canuto

Melhor Ator: Fabrício Benitez, por A Transformação de Canuto

Melhor Atriz: Cibele Tedesco, por Até que a Música Pare

Melhor Roteiro: Thais Fernandes, Rafael Corrêa e Ma Villa Real, por Memórias de um Esclerosado

Melhor Fotografia: Camila Freitas, por A Transformação de Canuto

Melhor Direção de Arte: Adriana do Nascimento Borba, por Até que a Música Pare

Melhor Montagem: Jonatas Rubert e Thais Fernandes, por Memórias de um Esclerosado 

Melhor Desenho de Som: Kiko Ferraz, por Memórias de um Esclerosado

Melhor Trilha Musical: André Paz, por Memórias de um Esclerosado

Juri Popular: Infinimundo

CNU: São Paulo tem o maior número de inscritos, com 225 mil candidatos

Em todo o Brasil, 2,114 milhões de pessoas residentes em 5.555 municípios, farão o Concurso Público Nacional Unificado (CPNU) neste domingo (18). O número de cidades corresponde a 99,7% do total do Brasil (5.570 municípios).

São Paulo é o estado com maior número de inscrições confirmadas para o chamado Enem dos Concursos. O estado registra o contingente de 225.037 inscritos que farão as provas em 27 cidades paulistas. Os dados são do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI).

O estado de São Paulo é seguido pelo Rio de Janeiro, com 220.078 inscritos; Distrito Federal (195.688); Minas Gerais (169.952); e Bahia (160.824). Juntos, eles respondem por aproximadamente 45,9% dos candidatos. Na ponta oposta, entre os estados com menor número de inscritos, figuram Acre (17.574), Roraima (17.730) e Tocantins (23.937).

Municípios

Segundo o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), se Brasília for considerada como uma cidade, a capital do país lidera a lista das 20 cidades com mais inscritos com 195.688 candidatos.

A lista das cidades com mais de 50 mil candidatos confirmados é completada pelo Rio de Janeiro, com 125.521 inscritos; São Paulo (86.896); Salvador (BA) (67.102); Belo Horizonte (MG), 61.555; Belém (PA), 56.624; e Recife (PE), 52.445.

Santana do Araguaia, no Pará, foi o município com menor número de inscritos em todo o país: 544 candidatos.

Cidades das provas

Ao todo, os candidatos farão provas, neste domingo (18), em 72.041 salas de 3647 locais de aplicação, como escolas, faculdades e universidades de 228 cidades de todas as 27 unidades da federação.

Para a escolha das 228 cidades onde serão realizadas as provas do certame, a comissão organizadora do CPNU no Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos considerou a densidade populacional, o raio de influência microrregional e a facilidade de acesso foram os itens utilizados para a escolha das cidades.

Os municípios selecionados têm mais de 100 mil habitantes, conforme dados do Censo Demográfico de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A distribuição por região é a seguinte: 40 cidades na região Norte; 61 no Nordeste; 30 na região Centro-oeste; 70 no Sudeste e 27 na região Sul.

O ministério afirma que a opção de realizar o certame em 228 cidades espalhadas pelo país tem o objetivo de democratizar o acesso da população às vagas do serviço público.

“Fica mais fácil e mais barato para as pessoas fazer a prova perto de suas casas. Além disso, com o pagamento de apenas uma inscrição, os candidatos concorrem a vagas em vários órgãos públicos. A ideia é aumentar a representatividade da força de trabalho, trazendo critérios socioeconômicos, demográficos e territoriais já na aplicação do certame, para que isso se reflita na administração pública federal”, diz nota do MGI.

Macrorregiões

Na região Norte, as provas serão aplicadas em 40 municípios, sendo dois no Acre, nove no Amazonas, três no Amapá, 17 no Pará, quatro em Rondônia, dois em Roraima e três no Tocantins. No Nordeste, os candidatos poderão fazer o concurso em 61 municípios: dois em Alagoas, 18 na Bahia, oito no Ceará, nove no Maranhão, quatro na Paraíba, sete em Pernambuco, sete no Piauí, quatro no Rio Grande do Norte e dois no estado de Sergipe.

Na região Centro-Oeste, os 30 municípios estão distribuídos entre Goiás, com 17 locais de aplicação da prova; Mato Grosso do Sul (4); outros oito em Mato Grosso; e, no Distrito Federal, Brasília conta como uma única cidade.

O Sudeste terá quatro municípios de aplicação de provas no Espírito Santo; 26 em Minas Gerais;  11 no estado do Rio de Janeiro; e 27 em São Paulo.

Por fim, a região Sul terá 27 cidades onde será aplicado o certame: nove no Paraná, dez no Rio Grande do Sul e oito em Santa Catarina.

Os interessados em visualizar a lista das 228 cidades onde serão aplicadas as provas podem acessar o link.

Concurso Unificado: saiba o que pode ou não levar para a prova

O Concurso Público Nacional Unificado (CPNU) será realizado neste domingo (18), em dois turnos, em 228 municípios de todos os estados brasileiros. Os mais de 2,1 milhões de inscritos disputam 6.640 vagas em 21 órgãos da administração pública federal, no maior concurso público já realizado no país.

Para evitar transtornos para os candidatos no momento das provas, confira as orientações do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) sobre o que pode levar e o que é proibido no dia da aplicação das provas.

Cartão de Confirmação: apesar de não ser obrigatório, o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) recomenda levar o cartão de confirmação de inscrição, porque é nele que consta o local de prova. O documento está disponível na área do candidato, com  login com o CPF e senha cadastrados na conta no portal Único do governo federal, o Gov.br. O cartão traz, entre outras informações, o número de inscrição, data, hora, número de sala  de prova, além de registrar se a pessoa inscrita terá direito a atendimento especializado, como para pessoas com deficiência, gestantes e lactantes ou tratamento pelo nome social, se for o caso. O candidato não poderá fazer anotações no cartão ou mantê-lo sobre a mesa durante a prova.

Documentos: É obrigatória a identificação com o documento de identidade original com foto, sejam físicos ou digitais. Estes últimos (CNH digital, RG Digital e E-Título) precisarão estar nos respectivos aplicativos de documentos digitais download dos aplicativos. Por isso, é importante que já tenha o aplicativo baixado e com o funcionamento devidamente testado, para acessá-lo mesmo sem internet no momento da identificação na entrada da sala onde fará a prova do certame.

Entre documentos físicos aceitos, estão carteiras de identidade emitas pelas Secretarias de Segurança Pública dos estados, Carteira Nacional de Habilitação (CNH) com foto, carteira de trabalho, passaporte brasileiro e outros previstos nos editais do certame.

As cópias de documentos, mesmo autenticadas por cartórios não serão permitidas, nem fotos do documento, mesmo que estejam na galeria de fotos do celular. Não serão aceitos também: registro civil de nascimento, título de eleitor (impresso ou sem foto), Cadastro de Pessoa Física (CPF), carteira de estudante, Registro Administrativo de Nascimento Indígena (Rani), protocolo do documento de identidade, além de documentos ilegíveis, não identificáveis e/ou danificados.

Caneta preta: O candidato deve levar caneta preta de material transparente para usar no dia das provas. Não serão fornecidas canetas, e não será permitido se comunicar para pedir material durante as provas. Por isso, é recomendado levar mais de uma caneta reserva. Caneta azul, lápis, borracha e outros materiais não podem permanecer na mesa do candidato durante a prova.

Alimentação: os inscritos podem levar  alimentos e água no dia da prova. As comidas devem estar em embalagens intactas e lacradas e as garrafas de água precisam ser transparentes.

Eletrônicos: conforme o edital do certame, o candidato será eliminado se for constatado, durante as provas, o porte e/ou o uso de aparelhos sonoros, fonográficos, de comunicação ou de registro, eletrônicos ou não, como: agendas eletrônicas e similares, gravadores, pendrive, MP3 player ou similar, fones de ouvido, chaves com alarme ou com qualquer outro componente eletrônico. E ainda, relógios de qualquer natureza, telefones celulares, microcomputadores portáteis e/ou similares.

Comunicação: os candidatos também serão eliminados do concurso se forem surpreendidos, durante as provas, em qualquer tipo de comunicação com outro candidato ou usando calculadoras ou similares, livros, códigos, manuais, apostilas, impressos ou anotações.

Roupas e acessórios: A dica do Manual do Candidato é que o participante use roupas e sapatos confortáveis no dia da prova, pois serão dois turnos de aplicação em que o candidato ficará sentado por longo período de tempo e os candidatos permanecerão sentados por um longo período. Não será permitido o uso de relógio. É proibido também o uso de óculos escuros, chapéu, boné, gorro e protetores auriculares.

Envelope para pertences: depois de se identificar para o fiscal de prova, na entrada da sala, é obrigatório desligar o celular e outros  aparelhos eletrônicos e guardá-los no envelope que será entregue. A empresa aplicadora do concurso, Fundação Cesgranrio, fornecerá  envelopes, que devem ser identificados e lacrados, antes de o candidato se dirigir à carteira onde fará a prova. O envelope  deverá ser guardados embaixo da cadeira. Os candidatos só poderão abrir os envelopes com seus pertences e ligar o aparelho celular quando tiverem saído dos locais de prova.

Horários: Os portões dos 3.563 locais de prova irão abrir e fechar, respectivamente, às 7h30 e 8h30, no horário de Brasília. O início da aplicação está marcado para 9h. E a prova terá duração de duas horas e 30 minutos.

No turno vespertino, os candidatos poderão entrar nos locais de prova entre 13h e 14h e deverão retomar o concurso em 14h30. A prova terá duração de três horas e 30 minutos.

Os participantes que prestarão as provas em locais com fuso horário diferente do de Brasília, deverão seguir o horário oficial.

Não será permitida a entrada de candidatos antes do horário de abertura, nem após o horário de fechamento dos portões. O MGI recomenda ao candidato chegar ao local das provas com, pelo menos, duas horas de antecedência para o início de cada turno de provas.

Tempo de permanência: O tempo mínimo de permanência nos locais de provas, em ambos os turnos, é de duas horas. Caso termine antes do tempo, aproveite para revisar as questões. Caso o candidato saia antes, será eliminado do concurso.

Provas: Os candidatos prestarão as provas objetivas, a dissertativa e a redação, para candidatos de nível médio, no mesmo dia, 18 de agosto.

Para cargos de nível médio (bloco 8) são 60 questões nas provas objetivas (múltipla escolha), cada uma com cinco alternativas (A; B; C; D; E) e uma única resposta correta. As questões estarão distribuídas assim: 15 questões de língua portuguesa; 15 de noções de direito; 15 de matemática e outras 15 de realidade brasileira. A prova discursiva para nível médio será uma redação que vale 100 pontos. A redação é eliminatória e classificatória e valerá 100 pontos. Os candidatos não podem tirar zero na redação.

Já os cargos de nível superior, dos blocos 1 a 7, as provas objetivas terão de 70 questões de múltipla escolha, divididas entre 20 questões de conhecimentos gerais, de caráter eliminatório e classificatório, e mais 50 questões de conhecimentos específicos. Já a prova discursiva será específica por bloco temático e abordará o conteúdo relacionado à área de concorrência. Esta prova discursiva do concurso unificado também valerá 100 pontos.

Caderno de provas: Para reforçar a segurança do chamado Enem dos Concursos, os candidatos não poderão levar o caderno de provas em nenhum dos turnos.  Quem aguardar até os últimos 30 minutos de prova, na parte da manhã e da tarde, receberá dos fiscais de sala uma folha para anotar suas respostas, em cada turno, e poderá levá-la consigo no fim da aplicação da prova, no turno vespertino.

Para mais informações, acesse a página oficial do Concurso Nacional

Silvio Santos morre em São Paulo aos 93 anos

Morreu neste sábado (17) o empresário e apresentador Silvio Santos. Ele tinha 93 anos. Estava internado na capital paulista desde o início de agosto. A informação foi confirmada pelo Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), emissora da qual ele era proprietário.

A família do apresentador lamentou a morte em uma publicação nas redes sociais. “Hoje o céu está alegre com a chegada do nosso amado Silvio Santos. Ele viveu 93 anos para levar felicidade e amor a todos os brasileiros. A família é muito grata ao Brasil pelos mais de 65 anos de convivência com muita alegria”,  afirmou.

Nascido no Rio de Janeiro em 1930, Silvio Santos deixa seis filhas e esposa. Ainda não foram divulgadas informações sobre o velório.

 

 

Plano sobre ocupação de Brasília traz preocupações sobre tombamento

Este sábado (17) é Dia Nacional do Patrimônio Histórico. Em Brasília, a data encerra a semana em que o Governo do Distrito Federal (GDF) sancionou o Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB), com novas normas para a ocupação do solo da região.

A área concentra as sedes dos Três Poderes, parte expressiva das atividades econômicas do Distrito Federal, milhares de residências e o conjunto urbanístico-arquitetônico de 112,25 km² reconhecido como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Com 782 páginas digitais em edição extra do Diário Oficial do DF, o PPCUB reúne toda a legislação urbanística do Plano Piloto, Cruzeiro, Candangolândia, Sudoeste/Octogonal e Setor de Indústrias Gráficas (SIG), incluindo o Parque Nacional de Brasília e o espelho d’água do Lago Paranoá.

O plano levou 15 anos para virar lei. Na reta final, foi discutido em 28 reuniões em câmaras técnicas do Conselho de Planejamento Urbano e Territorial (Conplan), em oito audiências promovidas pelo GDF e em mais cinco audiências na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Recebeu 174 emendas antes de ser aprovada em dois turnos por três quartos dos deputados distritais de Brasília. Submetida ao Palácio Buriti, teve 63 vetos do governador Ibaneis Rocha (MDB) antes de ser publicada como Lei Complementar nº 1.041/24.

Rocha retirou do PPCUB os pontos considerados mais polêmicos, que poderiam infligir o projeto original da capital federal tombado nacionalmente e acolhido pela Unesco. “Foi feita uma análise muito criteriosa, tanto jurídica quanto técnica, para a gente reavaliar tudo aquilo que tinha sido proposto”, explica o secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação do DF, Marcelo Vaz. 

Ele admite que a avaliação também foi política. “É muito importante para também passar tranquilidade para a população. O objetivo do governo é trazer segurança jurídica. É atualizar as normas, mas sem de maneira alguma ferir a preservação e alterar a cidade da forma como ela foi planejada lá inicialmente”, garantiu em entrevista à Agência Brasil.

Apesar do gesto do governador e das preocupações do secretário, há quem aponte riscos de Brasília perder o título de patrimônio cultural com as mudanças que poderão ocorrer depois do PPCUB. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) instituiu um grupo de trabalho interdisciplinar para avaliar os impactos para a cidade, acompanhar a análise de vetos pela Câmara Legislativa do Distrito Federal e, eventualmente, arguir a constitucionalidade da lei que estabeleceu o plano.

Brasília (DF) 16/08/2024 – Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília – o PPCUB. Arte Secretaria de Arte Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação/Divulgação

 

Judicialização 

Na opinião de Leiliane Rebouças, criadora do movimento social Guardiões de Brasília Patrimônio Humanidade, haverá demandas à Justiça contra a lei do PPCUB. “Vai ter que ser judicializado porque é dever do Estado preservar o patrimônio histórico artístico cultural nacional. É óbvio que se essa lei local se choca com a lei federal, coloca em risco o tombamento. Não podem fazer uma lei local que vai contra a lei federal do tombamento”, diz se referindo à Portaria nº 314/1992 do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

“O tombamento nacional e o título de Patrimônio Cultural foram feitos para proteger Brasília da especulação imobiliária que existe desde que a cidade surgiu”, lembra. Ela acredita que o PPCUB é ameaça ao título de Patrimônio Histórico e Cultural de Brasília. “Esse título agrega valor à cidade, mostra que Brasília é uma cidade única no mundo. Um bom governo utiliza esse título para desenvolver o turismo”, recomenda.

Leiliane Rebouças ainda acrescenta que o PPCUB tem falhas de diagnóstico. “Nem estudo de impacto ambiental e de trânsito foram feitos”. O professor Frederico Flósculo, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de Brasília (UnB), toca no mesmo ponto. “Não existe planejamento urbano sem diagnóstico, não existe planejamento urbano sem estudos de impacto de toda ordem, impacto ambiental, impacto populacional, social, de segurança e de trânsito”, avalia. 

Ele chama o PPCUB de “plano provinciano”, que desconsidera a vocação da cidade. “A primazia é de abrigar os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário federal. Não há o menor estudo sobre as necessidades futuras de ocupação de espaço, de reorganização de nenhum dos Poderes da República”. 

Participação social 

Apesar da gestação de 15 anos do PPCUB e das dezenas de audiências públicas realizadas sobre o plano, o professor da UnB e a ativista do Guardiões de Brasília reclamam da falta de efetiva participação social na elaboração da proposta. Esse ponto também é tido como principal por Ludmila Correia, coordenadora da Comissão de Política Urbana e Ambiental do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal (CAU/DF) e professora de política urbana e planejamento urbano do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP).

“Existe a necessidade de se pensar o desenvolvimento urbano, mas que ele seja compatível com a questão da preservação do patrimônio. Isso precisa ser feito não só com muito cuidado técnico, mas especialmente com participação social, para que essas diferentes visões que existem na cidade sejam reconhecidas”, defende a coordenadora.

Visão próxima tem o arquiteto Juliano Carvalho, coordenador do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), um órgão não governamental internacional, que assessora a Unesco para as questões relativas ao patrimônio da humanidade. “O PPCUB prevê vários planos e projetos. É importante que a sociedade participe de cada um desses planos e projetos que ainda não estão elaborados para garantir a nossa qualidade de vida enquanto moradores.”

A ausência da população na implementação do plano preocupa o geógrafo Telmo Amand Ribeiro, diretor do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal (IHGDF). “Fazem um chamamento formal à sociedade, uma coisa pouco divulgada, e as pessoas não participam.”

O secretário Marcelo Vaz rebate as queixas quanto à falta de participação e defende que houve “participação popular maciça e suficiente”na elaboração do PPCUB. “Pessoas que representam a sociedade civil participaram de toda a construção do processo. A gente ouviu uma série de atores, desde o mercado imobiliário até associações de moradores. Mas há quem queira que a gente ouça toda a população. Não conseguimos fazer isso, temos que fazer as oitivas por amostragem.”

Degradação e desigualdade 

Para o geógrafo Telmo Amand, é possível Brasília se modernizar e tornar-se mais importante sem mudar suas principais características urbanísticas. “Mas essa cidade pode se efetivar como capital nacional, como cidade global, trazer grandes eventos, grandes eventos internacionais, mantendo a estrutura fundamental do Conjunto Urbanístico.”

Juliano Carvalho avalia que o PPCUB é um documento híbrido, com pontos negativos e positivos. Mas não é possível falar em perda do título da Unesco de Patrimônio Histórico e Cultural por causa do plano. O arquiteto, no entanto, alerta que a cidade de Brasília “tem processos crônicos de degradação ações anteriores”, e a perda do título “pode acontecer ao longo das décadas se a cidade continuasse degradando.”

O professor emérito da UnB Frederico Holanda, pesquisador associado da FAU, acrescenta outras preocupações como a desigualdade e a exclusão social de Brasília, “talvez a mais excludente de todas as cidades brasileiras”, agravadas no PPCUB quando possibilita a “privatização da orla do Lago Paranoá”, critica com a destinação de terrenos para a construção de hotéis como ocorre no Trecho 4 do Setor de Clubes Esportivos Sul.

Indagado a respeito, o secretário Marcelo Vaz explicou que os lotes já existiam, não foram criados pelo PPCUB. “O que a gente fez foi dar um tratamento equânime a todos os oito lotes. Isso porque a Portaria nº 166/2016 do Iphan, que define critério de preservação, permite que naquele trecho, e unicamente naquele trecho do setor de clubes, sejam instalados hotéis e aparte hotéis.”

Regulamentação 

O decreto para regulamentar o PPCUB já foi encaminhado pelo GDF para avaliação do Iphan. A autarquia acompanha desde 2009 a elaboração do plano e emitiu pareceres técnicos com análises, interpretações e recomendações e também participou de audiências públicas sobre a proposta antes de virar lei.

Após a regulamentação do PPCUB, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação deve concluir a elaboração do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT) com diretrizes gerais de expansão urbana e zoneamento. Delimitando o que é área urbana, o que é área rural, o que é passível de regularização, onde que é a área para oferta habitacional.

Em 21 abril do próximo ano, Brasília completará 65 anos de inauguração. Em breve, ultrapassará o tempo que o Rio de Janeiro teve como capital da República (70 anos). A palavra “república”, que designa a forma de governo com participação direta e eleição de representantes, deriva do latim res publica traduzido como “coisa pública”, como é o Conjunto Urbanístico da capital federal.

Estado do Rio sediará Olimpíada Internacional de Física e Astrofísica

O Rio de Janeiro será sede, a partir deste sábado (17), da 17ª Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica (IOAA), com a participação de 300 estudantes e 130 professores de vários países.

Organizada pelo Observatório Nacional, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, é um encontro de destaque no calendário científico global, a ser realizado até o dia 27 deste mês, nas cidades de Vassouras e Barra do Piraí, na região centro-sul do estado do Rio, conhecida como Vale do Café, pois ainda preserva casario antigo, igrejas, estradas e fazendas que pertenceram aos famosos barões do café, um importante capítulo da história do Brasil Imperial.

Contando com estudantes de 53 países, será uma celebração pela ciência, com foco especial em astronomia e astrofísica. É a segunda vez que o Brasil sedia a Olimpíada. A primeira foi em 2012, quando o país sediou a 6ª IOAA.

De acordo com a astrônoma e coordenadora do Comitê Brasileiro de Astronomia e Astrofísica, Josina Nascimento, o evento é “muito mais do que uma competição, este é um momento de união em torno da nossa paixão comum que é a Astronomia e o nosso planeta Terra. Por isso, nesta edição, o Observatório Nacional fez questão de ter como tema central a sustentabilidade, demonstrando o nosso compromisso com o desenvolvimento sustentável”, explicou.

Josina disse ainda que a realização da IOAA no Brasil é uma chance ímpar de inspirar a juventude e reforçar o compromisso do país com a educação e a inovação. “A Olimpíada não apenas coloca em evidência a excelência dos estudantes brasileiros no cenário global, mas também promove um valioso intercâmbio de conhecimento e experiências entre culturas diversas”, justificou.

A coordenadora do Comitê Brasileiro esclareceu que, “além dos estudantes que representarão o Brasil, há uma legião de voluntários apaixonados, professores dedicados, membros do júri, comitê acadêmico e guias, todos unidos por um propósito maior. O apoio do Observatório Nacional está garantindo que a IOAA no Brasil não seja apenas um evento de sucesso, mas um marco que deixará um legado eterno para o nosso país. Os laços forjados aqui são indissolúveis e transcenderão o tempo”, afirmou Josina.

Sustentabilidade

O encontro deste ano terá a sustentabilidade como tema central, destacando a importância de alinhar a ciência com práticas sustentáveis. O Observatório Nacional escolheu esse foco em resposta à crescente preocupação mundial com o desenvolvimento sustentável e o papel essencial da ciência na busca por soluções inovadoras.

“Incorporamos a sustentabilidade em várias atividades do evento. Adotamos práticas sustentáveis na organização logística, como o uso de materiais recicláveis e o não uso de descartáveis. Além disso, conquistamos o Selo Evento Neutro, demonstrando nosso compromisso em neutralizar as emissões de carbono geradas durante o evento”, explicou a coordenadora.

Inclusão

A diversidade cultural não só promove a amizade e a cooperação internacional, mas também amplia a visão dos participantes sobre a astronomia e a ciência de uma forma geral. Cada país traz suas próprias perspectivas e tradições para o evento, criando um ambiente único de aprendizado e crescimento.
A promoção também inclui o Encontro Cultural, onde os participantes poderão conhecer a cultura brasileira e compartilhar a sua própria, através de música, dança e outras expressões culturais.

A olimpíada contará com um concurso de pôsteres onde cada equipe apresentará as ações de seu país em relação ao tema da sustentabilidade. A logo da IOAA 2024 foi desenhada para refletir essa preocupação, incorporando as 17 cores dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030. 

Igualdade de gênero

Um dos pontos de destaque da olimpíada é a promoção da igualdade de gênero. A presença de meninas é obrigatória nas equipes brasileiras, uma política  adotada há oito anos pela Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA).

“Embora os estatutos da IOAA ainda não exijam equipes mistas, esperamos que, a partir de 2025, essa obrigatoriedade seja estendida a todas as equipes internacionais. Isso é fundamental para promover a participação feminina em áreas tradicionalmente dominadas por homens”, opina Josina.

Expectativa

O evento não só promoverá o conhecimento científico entre os jovens, mas também incentivará a reflexão sobre o papel da ciência na construção de um futuro mais sustentável e inclusivo. Também existe a expectativa de medalhas para a equipe brasileira. Na última edição da IOAA, realizada na Polônia, a equipe brasileira conquistou duas medalhas de ouro, duas de prata, uma menção honrosa e prêmio pela melhor prova de grupo.

A prova da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) é o começo de tudo para quem deseja participar de olimpíadas internacionais como a IOAA.

São convidados a participar do processo seletivo da OBA milhares de estudantes do ensino médio que receberam na prova nota sete ou acima de sete, bem como alunos do 9º ano do ensino fundamental com notas nove ou acima de nove. Essa fase possui três provas online, aplicadas nos três últimos meses do ano, na própria escola ou em casa, sem custos para os alunos.

Após as provas online, a OBA seleciona entre 150 e 200 melhores estudantes para realizar uma prova presencial, que costuma ser aplicada no Hotel Fazenda Ribeirão, em Barra do Piraí (RJ). Neste caso, os estudantes precisam arcar com os custos. Nesta etapa, os alunos fazem provas teóricas, de planetário, de manuseio de telescópio e estudos da carta celeste. Dessa fase, saem 40 estudantes, que recebem treinamentos em uma segunda fase. Por fim, são selecionados os 10 estudantes que representarão o Brasil na IOAA e na OLAA (Olimpíada Latino-Americana de Astronomia e Astronáutica) e mais cinco suplentes.

Os alunos que vão representar o Brasil na IOAA 2024 são Francisco Carluccio de Andrade, 16 anos; Gustavo Mesquita França, 18; Heitor Borim Szabo, 17; Lucas Cavalcante Menezes, 17; e Natália Rosa Vinhae, 17. Com bom desempenho nas últimas olimpíadas de astronomia, há grande expectativa de medalhas para o Brasil na 17ª IOAA.

Sobre a IOAA

Estabelecida na Tailândia em 2006, a Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica (IOAA) é um evento anual para alunos do ensino médio de alto desempenho em todo o mundo. O objetivo da competição é disseminar a astronomia e a astrofísica entre estudantes do ensino médio para fomentar a amizade entre jovens astrônomos em nível internacional, a fim de construir cooperação nesses campos.