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Dia de reafirmar nossa existência, diz Anielle sobre 20 de novembro

Ao celebrar o primeiro 20 de novembro como feriado nacional, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, disse nesta terça-feira (20) que a data é importante para reafirmar a existência, o orgulho, a cultura e a herança africana na construção do Brasil.

“O racismo, no Brasil, se manifesta por delegação. O que isso quer dizer? São séculos e séculos de práticas racistas que foram veladas com políticas deliberadas de embranquecimento e miscigenação forçada.”

“Junto com todo o sequestro e escravização do nosso povo na diáspora, foi se dando ali um apagamento da nossa cultura, invisibilizando e subalternizando a figura da pessoa negra”, completou Anielle.

Em vídeo postado nas redes sociais, a ministra lembrou que, na década de 70, o 20 de novembro, data em que o líder quilombola Zumbi dos Palmares foi morto, ficou estabelecido como um dia de celebração da história, da memória, da cultura e da existência do povo negro.

“Somos um povo cheio de potencialidade, que foi e é central na formação do nosso país. Um povo que é 56% da população do Brasil, mas que ainda é quem mais sofre com as mazelas da desigualdade, da fome, da pobreza e da violência.”

“Essas são marcas de uma escravização que não teve sua reparação até hoje. Por isso, no ano passado, primeiro ano do Ministério da Igualdade Racial, a gente estabeleceu o 20 de novembro como feriado nacional”, explicou.

Segundo Anielle, a proposta é que todas as pessoas, em todos os cantos do país, se recordem da importância da luta do movimento negro e de caminhar rumo à igualdade racial. “Ainda há muito a fazer, muito a caminhar. E a gente sabe disso. Mas acho que o nosso maior legado é retomar o direito de sonhar, o direito de uma construção coletiva”.

“Tenho falado e repetido que o nosso trabalho não é só construir uma ponte, como algumas pessoas fazem. ‘Construí uma ponte, lancei um ônibus’. Não. O nosso trabalho é um letrar, é contínuo. Precisa pensar as emergências do nosso povo, precisa estar onde o povo sabe que tem demanda.”

“Quanto mais a gente puder fazer para criar, na saúde, no turismo, em relação à empregabilidade, à letalidade, para que os nossos jovens negros fiquem vivos e não se tornem estatística, a gente vai fazer.”

“Sigamos para que nenhuma outra mulher ou homem sejam tombados apenas pela cor da sua pele. Sigamos firmes, sem normalizar nenhuma morte, nenhuma queda, nenhuma invisibilidade, nenhum silenciamento, nenhuma violência. Sigamos até que entendam que o povo negro desse país é humano e precisa seguir vivo”, concluiu.

Serra da Barriga

Mais cedo, a secretária-executiva do ministério, Roberta Eugênio, participou de celebração no Parque Memorial Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga (AL), local considerado símbolo da resistência negra brasileira e que, por quase 100 anos, abrigou o maior quilombo do país, o Quilombo dos Palmares.

“Nosso passado é de resistência, produção de tecnologia, alentos, produção de sonhos. E os quilombos foram territórios não apenas de lutas, mas onde efetivamente exercíamos nosso direito de sermos, da forma mais profunda e plena possível”, disse.

“O Brasil pode ser melhor quando a gente produz condições para que as nossas diferenças não representem mais desigualdade”, acrescentou Roberta. O evento que contou com um cortejo de religiosos de matriz africana e de apresentações culturais celebrando a diversidade e a ancestralidade afro-brasileira.

Manto reforçou existência e identidade tupinambá, diz cacica

Enfim, o tão esperado reencontro. Foram séculos de uma separação imposta por forças colonizadoras, que conquistaram, mataram e roubaram parte fundamental da existência tupinambá. Nos últimos três dias, representantes dos indígenas puderam celebrar e se reconectar, de forma reservada no Museu Nacional, com um dos principais símbolos dessa ancestralidade.

Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, a líder dos Tupinambá de Olivença, no litoral da Bahia, cacica Jamopoty, trouxe detalhes do reencontro com o manto sagrado.

“Primeiro, fui eu com minhas irmãs. Por ser também a primeira cacica do povo tupinambá, tive esse momento com o manto. Foi muito emocionante. Mostrou uma força, que eu imagino ter vindo por meio das memórias de outros parentes e ancestrais. Algo extraordinário, que trouxe união, força e pertencimento de um povo que era silenciado e considerado extinto. Para muitos livros, nós sequer existíamos”, disse Jamopoty.

Desde a chegada do manto ao Brasil, no início de julho desse ano, houve críticas dos indígenas à forma como o artefato foi recebido. Eles desejavam participar ativamente da recepção nos primeiros dias. Mas, segundo a cacica, essas questões ficaram no passado.

“Num primeiro momento, foi muito difícil, mas hoje tudo isso foi superado. O manto está nos reencontrando e reencontrando as autoridades que podem tomar conta dele para nós, preservar mais e cuidar com muito carinho, porque ele é um ente vivo. É um ancião, que tem uma força e veio buscar o seu povo para levar até ele. E nós abrimos as portas não só para os Tupinambá, mas para outros povos também. E nós todos saímos maravilhados daqui, pelo lugar que ele está hoje”, disse a cacica.

Mesmo agradecidos pela forma como o Museu Nacional está cuidando e protegendo o manto sagrado, os tupinambás dizem estar em diálogo com as autoridades para que tenham acesso frequente ao artefato e para que, no futuro, ele possa estar ainda mais perto do povo indígena.

“A gente esta conversando com o Ministério dos Povos Indígenas e o próprio museu para criarmos protocolos. Porque hoje estamos aqui, mas não sabemos sobre o amanhã. Queremos que as futuras gerações entendam o que o manto representa para o povo tupinambá”, disse Jamopoty.