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Quatro praias são eleitas para se tornarem santuário do surfe nacional

A comunidade brasileira de surfe elegeu quatro praias para se tornarem Reservas Nacionais de Surfe. Isso significa que as localidades escolhidas vão ser tratadas e conservadas a ponto de virarem santuários da prática esportiva.

As praias eleitas são a do Francês, em Marechal Deodoro (AL), Itamambuca, em Ubatuba (SP), Regência, em Linhares (ES), e Moçambique, em Florianópolis (SC). O processo de escolha foi feito em parceria pelas organizações civis ambientais Instituto Aprender Ecologia e Conservação Internacional (CI-Brasil).

A ideia inicial era escolher uma praia das cinco que se candidataram. Mas a disputa foi tão acirrada e completa que terminou com quatro eleitas. Ficou de fora a praia de Sumidouro (SC).

Praia da Regência foi eleita para ser santuário do surfe nacional – Foto: Karen Bof/Divulgação

As quatro localidades escolhidas vão formar a Rede Brasileira de Reservas de Surfe. De acordo com os organizadores, as reservas buscam reconhecer, valorizar e proteger ecossistemas de surfe icônicos, que abrigam atributos ambientais, culturais e econômicos.

Critérios

As praias candidatas foram avaliadas em quatro quesitos: qualidade, consistência e relevância das ondas; características socioecológicas do ecossistema de surfe; cultura, história e desenvolvimento do surfe no local; e engajamento comunitário, capacidade de governança e sustentabilidade.

A partir do anúncio das praias vencedores, na sexta-feira (30), cada praia deverá criar um comitê de gestão que seguirá passos traçados pelo Programa Brasileiro de Reservas de Surfe, coordenado pelo Instituto Aprender. Cada localidade organizará também um evento de celebração para oficializar a titulação como reserva nacional, que valerá inicialmente por um período de 2 anos.

Será preciso criar também um plano de gestão para definir ações e metas a serem realizadas nas comunidades.

Praia da Moçambique foi eleita para ser santuário do surfe nacional – Foto: Cadu Fagundes/Divulgação

Crise climática

O vice-presidente da CI-Brasil, Mauricio Bianco, explica que o incentivo para criação de santuários de surfe – que inclui conservação marinha e costeira – é fundamental para evitar o agravamento da crise climática.

“Milhares de picos de surfe [local considerado privilegiado para a prática] em todo o mundo são cercados por ecossistemas que armazenam grandes quantidades de carbono, e apenas cinco países detêm quase metade desse carbono armazenado, entre eles o Brasil”, disse.

Bianco ressalta também a ligação entre santuários do surfe e desenvolvimento econômico e social. “Esses ecossistemas de surfe em nosso litoral são importantes não apenas para o clima e biodiversidade, mas também geram benefícios socioeconômicos por meio da geração de empregos e renda”.

A escolha de praias para serem tratadas como santuários do esporte é inspirada nos programas Australiano e Mundial de Reservas de Surfe. Esse último tem como única representante brasileira a Guarda do Embaú (SC). A ideia da comunidade brasileira é que mais praias possam receber a titulação nacional.

“Vimos que esse modelo inovador de gestão participativa baseada em ecossistemas de surfe tem um papel potente como ferramenta para conservação de espaços marinhos e costeiros e geração de renda por meio do turismo regenerativo”, avalia a diretora executiva do Instituto Aprender, Fernanda Muller.

Medalhas e títulos

O surfe tem levado o Brasil a conquistar, cada vez mais, relevância no cenário esportivo mundial. No rol de esportes olímpicos desde os Jogos de Tóquio, em 2021, o surfe já rendeu três medalhas ao país.

Em 2021, Italo Ferreira levou o ouro, e em Paris 2024, Gabriel Medina conquistou o bronze, e Tatiana Weston-Webb levou a prata nas provas disputadas no Taiti, território ultramarino francês.

Na Liga Mundial de Surfe (WSL, na sigla em inglês), o Brasil levou sete campeonatos nos últimos dez anos com Gabriel Medina (3), Adriano de Souza (1), Italo Ferreira (1) e Filipe Toledo (2).

Praia de Itamambuca foi eleita para ser santuário do surfe nacional – Foto: Gustavo Jacob/Divulgação

Praias

Praia do Francês – localizada na costa sul de Alagoas, além das águas cristalinas e ondas tubulares, se destaca pela riqueza do ecossistema de surfe único e cênico, que inclui a vila dos pescadores, coqueirais, barreira de corais, restinga e um brejo natural.

Praia de Itamambuca – as condições de ondas são muito especiais, principalmente devido à preservação de elementos naturais como o Rio Itamambuca, bancos de areia e dunas frontais. A comunidade local é composta por caiçaras, quilombolas e indígenas.

Praia de Regência – recebe um dos mais importantes cursos d’água da costa brasileira, o Rio Doce, que deságua no norte do Espírito Santo.

Praia de Moçambique – a praia é contígua ao Parque Estadual do Rio Vermelho, unidade de conservação de proteção integral e recebe as águas da Lagoa da Conceição.

Carol Santiago vence e se torna brasileira com mais ouros nos Jogos

As nadadoras brasileiras roubaram a cena na tarde desta segunda-feira (2), na piscina da Arena La Defense, em Paris. A pernambucana Carol Santiago, faturou o segundo ouro em Paris, desta vez na prova dos 50 metros livre S13 (deficiência visual). Aos 39 anos, Carol tem agora cinco ouros em Paralimpíadas, se se tornou a atleta mulher com mais medalhas douradas na história do país, posição antes ocupada por Adria Santos, do atletismo (quatro ouros). Também nesta tarde, teve dobradinha de prata e bronze, respectivamente, com as irmãs gêmeas Débora e Beatriz Carneiro, nos 100m peito da classe SB14 (deficiência intelectual).

“ sso [recorde] significa muito para mim, significa que a gente, com toda a dedicação que a gente teve, a gente conseguiu chegar nesse nível, né? E isso é grandioso demais, eu acho que isso vai ficar, vai ficar toda essa força, toda essa dedicação que a gente tem, esse sonho realizado, para que os novos atletas que estão chegando, para que as crianças possam ver nisso um caminho, que é simples. Eu estou todo dia ali, treinando no Comitê Paralímpico Brasileiro [CPB], todo dia ali”, comemorou Carol, logo após a conquista, em depoimento ao CPB.

Na disputa dos 50m livre S13 nesta segunda (2), Carol chegou em primeiro lugar com o tempo de 26s75, deixando para trás a norte-americana Gia Pergolini (27s51), com a prata, e a italiana Carlotta Gilli (27s60) com o bronze.

Recordista mundial (26s61) e paralímpica (26,71) Carol soma ao todo sete medalhas em Paralimpíadas – além dos cinco ouros, tem ainda uma prata e um bronze.

O primeiro ouro da pernambucana em Paris foi obtido no úlitmo sábado (31), 100m costas S12. E a coleção dourada de Carol pode ficar ainda maior. Ela volta a competir nesta terça-feira (3) nos 200m medley S13. Na quarta (4) cai na piscina para disputar os 100m livre S12, e também compete com equipe no no revezamento misto 4x100m. A nadadora fecha sua participação em Paris na quinta (5), na prova dos 100m peito SB12.

Dobradinha brasileira no pódio

As primeiras brasileiras a festejarem na Arena La Defense na tarde desta segunda (2) foram as gêmeas Débora e Bia Carneiro. Elas competiram antes de Carol Santiago e conquistaram prata (com o tempo de 1min16s47) e bronze (1min16s02), respectivamente, nos 100m peito da classe B14. Débora liderou a disputa até poucos metros antes da final, quando foi ultrapassada pela britânica Louise Fiddes (1min15s47) que venceu e levou o ouro.

Apoiado por campeão, Joeferson Marinho quer ouro na Paralimpíada 2028

Antes de ser entrevistado pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC) na Casa Brasil Paralímpico, em Saint-Ouen, cidade vizinha a Paris, Joeferson Marinho recebeu um forte abraço do vice-presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Yohansson Nascimento. Campeão dos 200 metros da classe T46 (amputados de membro superior) nos Jogos de 2012, em Londres (Inglaterra), o ex-velocista apontou para a medalha de bronze conquistada por Joeferson nos 100m classe T12 (baixa visão) no último sábado (31) e decretou:

“Em Los Angeles [Estados Unidos, sede dos Jogos de 2028], você vai mudar a cor dela. Pode ter certeza. Você vai ganhar daqueles caras”.

O sorriso tomou o rosto de Joeferson. Não bastasse a “benção” de Yohansson, ele é treinado por Pedro Almeida, o Pedrinho, mesmo técnico de Petrúcio Ferreira, tricampeão paralímpico e recordista mundial dos 100m na classe T47 (amputados de membro superior).

“Ele [Yohansson] já foi atleta, teve essa sensação de receber uma medalha, de ser um campeão. Para mim, é uma honra. Dá mais motivação para continuar, focar. A partir do momento que o escutei, isso me trouxe uma alegria para trabalhar bastante, chegar em Los Angeles e trazer uma medalha que represente tudo isso que ele falou para mim”, disse Joeferson, que nasceu com albinismo.

“Ele [Pedrinho] olhou para mim e falou que tinha talento, então, por aí, você tira que o cara é bom mesmo. Se um cara desse tem a visão de dizer que você é bom, só de olhar para você, imagina no estudo, no dia a dia, ele passando ali a confiança de você confiar no trabalho dele. Hoje, confio cada dia mais. Então, se ele falar uma coisa, eu vou lá”, completou o velocista, que trabalha com o treinador desde 2016.

O sonho de Joeferson era ser jogador de futebol, apesar da baixa visão. Aos dez anos, um professor de Educação Física o convidou a correr. O garoto aceitou, mas seguiu jogando bola e adaptou a rotina aos dois esportes, até decidir pelo atletismo por conta do potencial, confirmado em 2017, no Mundial de Jovens de Notwill, na Suíça, e dois anos depois, já no Mundial Adulto, em Dubai, nos Emirados Árabes. Em ambos, o paraibano foi prata.

A estreia paralímpica ocorreu nos Jogos de Tóquio, em 2021. Na ocasião, ficou em quarto lugar. A frustração pelo quase há três anos deu lugar à alegria na capital francesa.

“Sensação muito boa de vir aqui representar o Brasil e conquistar medalha. Minha prova era muito difícil, vim com isso na cabeça, mas sem o pensamento de que iria conseguir. Na minha cabeça, tinha na cabeça que iria em busca da medalha, não sabia a cor. Hoje eu sou o terceiro melhor atleta do mundo da minha classe e estou bastante feliz por isso”, finalizou.

Atletismo: Claudiney Batista é tricampeão e Beth Gomes prata em Paris

O Brasil emplacou mais dois ouros no atletismo nesta segunda-feira (2) em Paris com Claudiney Batista, que se tornou tricampeão no lançamento de dardo, e Beth Gomes no lançamento de peso, ampliando para 13 o total de medalhas na modalidade. quase metada dos 30 pódios do país nesta edição dos Jogos Paralímpicos. Além das conquistas, seis outros brasileiros se classificaram às finais e vão brigar pelo pódio a partir das 5h (horário de Brasília) de terça-feira (3).

Na tarde desta segunda (2), Beth Gomes, atual campeã paralímpica no lançamento de dardo, volta a entrar em cena para defender o título no dardo, sua especialidade,  a partir das 14h04, e três compatriotas (Lorena Spoladore, Jerusa Geber e Jhulia Karol ) disputam as semifinais da provas dos 100m classe T11 (deficiência visual) às 14h20.  Desde o último sábado (31 de agosto), as competições em Paris têm transmissão ao vivo online (on streaming) no canal dos Jogos Paralímpicos no YouTube.

O primeiro comemorar o pódio e o tricampeonato, com direito a recorde paralímpico, foi o mineiro de Claudiney Batista, de 45 anos. O lançador da classe F56 (atletas que competem sentados) conseguiu cravar a marca de 46,86 metros. A prata ficou com o indiano Yogesh Katuniya (42,22m) e o bronze com o grego Konstantinos Tzounis (41,32m).

“É um mix de emoções. Feliz com esse tricampeonato, é muito treino, muito foco, muita determinação, treinei bastante nessa aclimatação. Nesse momento vale tudo, alimentação, descanso, a ótima estrutura que o comitê nos deu em Troyes [na França]. Estava com um desconforto na coluna, fiquei apreensivo, mas na hora ali a adrenalina subiu, não senti dor e deu tudo certo”, comemorou Claudiney, em depoimento ao Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).

Porta-bandeira na abertura dos Jogos em Paris, a paulista Beth Gomes, atleta da classe F53 (para competidores em cadeiras de rodas, com sequels de poliomelite, lesões medulares e amputações) estava exultante após a conquista da prata no arremesso de peso das classes F53/54. A brasileira competiu com adversárias de uma classe acima da sua, a F54, que reúne atletas com menor comprometimento físico-motor. A mexicana Gloria Zarza Guadarrama, da classe F54, foi ouro com a marca de 8,06m e o bronze ficou com a uzbeque Nurkhon Kurbanova (7,75m), atleta da classe F54.

Essa medalha está saindo para mim com gostinho de dever cumprido, porque eu competi numa classe acima da minha, e eu acreditei que tinha chance. E eu fui buscar no último arremesso a medalha de prata, com gostinho da de ouro, com recorde mundial Parabéns a todas atletas que participaram, gratidão é minha única palavra”, disse Beth Gomes que caiu em lágrimas após o término da prova. A atleta desabafou o motivo do choro: “Vem [à cabeça] o retrocesso de tudo que passei, de reclassificações, de ficar fora do Rio 2016, em que era a minha chance de medalha no arremesso de peso. E quis Deus que eu viesse nesta Paralimpíada, numa prova secundária, e viesse buscar a tão sonhada medalha lá de 2026. É muita emoção, muita gratidão”.

Atual campeã no lançamento de disco, Beth Gomes vai defender o título nesta prova logo mais, às 14h04 , (horário de Brasileiro). A brasileira já arrematou o ouro este ano na modalidade no Mundial de Kobe (Japão).

Semifinais a partir das 14h20 desta segunda (2)

Três brasileiras avançaram às semifinais dos 100m classe T11 (deficiência visual), com início ás 14h20 desta segunda (2), Lorena Spladore liderou sua bateria nesta manhã e cravou seu melhor tempo na temporada: 12s11. Quem também avançou à semi com o primeiro lugar em sua bateria foi a acreana Jerusa Geber (12s57). A última brasileira a competir foi a paranaense Jhulia Karol (12s56), também garantida na semi.

Brasileiros garantidos em finais na terça (3)

Seis representantes do país foram bem nas provas classificatórias nesta manhã e asseguraram presença na decisão por medalhas a partir das 5h de terça-feira (2). O sul-matogrossensse Yeltsin Jacques e o paulista Júlio César Agripino – ambos já subiram ao pódio em Paris – vão lutar pelo pódio na final dos 1.500m T11 (deficiência visual). O melhor tempo na classificatória foi obtido por Yeltsin: 4min03s22, sua melhor marca na temporada. O compatriota Agripino avançou com o quarto melhor tempo (4min10s10).

A final feminina dos dos 1.500m classe T54 (cadeirantes), a partir das 7h25, contará com a panaense Aline Rocha. Aline ficou em quinto lugar na sua bateria, última posição que garantia a classificação à final. A paulista Vanessa Cristina ficou em oitavo lugar (3min30s86) em outra bateria e está fora da final.

Ronan Codeiro fatura prata, 1ª medalha do país no triatlo paralímpico

O paranaense Ronan Cordeiro conquistou a prata no triatlo em Paris, a primeira medalha do Brasil na história dos Jogos Paralímpicos. O atleta de 27 anos, que compete na classe S5 (comprometimento físico motor), concluiu a prova (natação, ciclismo e atletismo) em 59min01. O norte-americano Chris Hammer (58min44) ficou com o ouro e o alemão Martin Schulz (59min19) completou o pódio com o bronze.

“Não é fácil, triatlo é um esporte injusto. Eu queria agradecer a toda a minha equipe, porque este ano eu fiquei de oito a 10 meses quase seguidos fora do Brasil. Eu tinha uma missão de quebrar esse paradigma. O cara da minha classe, que tem a bike mais barata é [custa] R$ 120 mil. Eu quero saber quem no Brasil tem capacidade de ter isso. Quero agradecer a todo o apoio. Eu tenho patrocínio que investiu mais de R$ 800 mil em mim, o CPB quase R$ 1 milhão, você sabe o que é isso? E tem gente que não se classificou ainda. Os concorrentes todos estavam em altitude. O CPB [Comitê Paralímpico Brasileiro] fez meu primeiro treinamento em altitude. Obrigada CPB. E olha o resultado que a gente fez. Eu queria muto ganhar isso aqui. Queria dedicar a toda a minha equipe. Foi um resultado injusto, a gente queria ganhar. Tenho muitos sentimentos. Eu arrisquei tudo, eu dei de tudo na natação, dei tudo no ciclismo e paguei caro na corrida. Mas é um resultado histórico e vai mudar para o triatlo”, analisou Ronan, em depoimento ao CPB.

Nascido em Curitiba, Renan compete no triatlo há seis anos. Em junho, ele foi ouro no World Series de triatlo, em Swansea (País de Gales). O atleta, qe têm má formação congênita na mão esquerda, competia na natação (de 2012 a 2018) antes de migrar para o triatlo.

Futuro pai, Cícero Nobre sonha ter esposa junto na Paralimpíada 2028

O ano de 2024 seria especial para Cícero Nobre mesmo se não tivesse uma Paralimpíada pela frente. Ele e Nathália Almeida aguardam o nascimento do primeiro filho do casal. E o pequeno Levi, ainda está na barriga da mãe, já tem um presente reservado: a medalha de bronze que o pai conquistou nos Jogos de Paris, na prova do lançamento do dardo da classe F53 (atletas que competem sentados).

“Agora não existem mais o Cícero ou a Nathalia, mas sim o pai e a mãe do Levi [risos]”, brincou o paraibano, em entrevista à EBC na Casa Brasil Paralímpico, em Saint-Ouen, na região metropolitana da capital francesa.

 Cícero Nobre exibe o bronze, conquistado na prova do lançamento do dardo da classe F53 (atletas que competem sentados) – Silvio Avila/CPB/Direitos Reservados

Mesmo sem ainda ter nascido, Levi teve participação importante na conquista de Cícero, alcançada na noite do último sábado (31). Antes e durante a prova, realizada no Stade de France, em Saint-Denis, cidade vizinha a Paris.

“No Dia dos Pais, recebi da minha esposa aquele chaveirinho [com a foto do ultrassom do filho]. No dia da prova, quando acordei, dei um beijo na foto. E quando minha esposa acordou de manhã no Brasil, disse que, de madrugada, ele não parava [de se mexer], que nunca tinha acontecido aquilo. E na hora da prova, um companheiro de Cabo Verde falou, no quarto lançamento [o do bronze], que aquele seria para meu filho. Fico até arrepiado”, contou Cícero.

“De dois anos para cá e com a vinda do Levi, mudei bastante a forma de pensar e agir. Talvez, se fosse há três, quatro anos, eu não teria a cabeça que tive na minha prova. Creio que ele já está vindo para ensinar isso, a saber dosar as coisas”, completou o atleta, que tem má-formação congênita bilateral nos pés.

Cícero, agora, prepara-se para se adaptar à rotina de atleta e pai rumo à Paralimpíada de Los Angeles, nos Estados Unidos, em 2028. E não quer estar sozinho lá. Nathalia, sua esposa, também é atleta paralímpica e compete no arremesso do peso e no lançamento de dardo. Em 2014, ela teve uma das pernas imprensadas em um acidente automobilístico e teve que amputar a perna esquerda.

“A gente está se programando para, quando ele [Levi] estiver com seis meses, ela [Nathalia] já viajar para São Paulo e a gente competir. Ela tem o sonho de chegar à seleção de atletismo, pegar uma competição importante, como os Jogos Parapan-Americanos, o Mundial, uma Paralimpíada. E a gente vai trabalhar para isso. O Levi estará presente e não vai atrapalhar nada. Creio que ele só vem somar”, afirmou.

 

 

No lançamento do dardo paralímpico, os atletas que competem sentados utilizam uma cadeira individual e não podem se erguer dela, sob pena de terem o lance invalidada. Cícero teve apenas duas de suas seis tentativas consideradas válidas na prova de sábado. A primeira garantiu o bronze. A segunda o deixou próximo da prata.

“O que eu fiquei um pouco indignado é que participei do Mundial aqui na França [2023, em Paris], participei do Mundial de Kobe [Japão], onde eu fui campeão, lançando da mesma forma e me prendendo da mesma forma na cadeira e nunca tive problema com queima. Mas o resultado foi esse, então a gente ficar com a sensação de que foi prejudicado não vai mudar em nada. É a gente virar a chave, que agora tem mais um ciclo de quatro anos, virar a chave e treinar pesado, como a gente sempre treina, para chegar igual eu cheguei aqui ou até mais preparado para qualquer adversidade dentro da prova”, descreveu o paraibano.

“Já tenho a conquista mundial, tenho a conquista no Parapan, só me falta uma medalha de ouro paralímpica. Já tenho duas de bronze [a anterior foi em 2021, em Tóquio, no Japão], mas quero ouro, então você pode ter certeza que, em 2028, estando na Paralimpíada, vou brigar por essa medalha como nunca briguei”, concluiu.

Bronze de André Rocha no lançamento de disco é medalha 400 do Brasil

No apagar das luzes do terceiro dia de competições do atletismo nos Jogos Paralímpicos de Paris, a modalidade proporcionou ao Brasil um momento marcante: a medalha de número 400 do país na história da competição. O paulista André Rocha, de 47 anos, foi bronze no lançamento de disco da classe F52, para atletas que competem sentados (André é tetraplégico).

A primeira medalha paralímpica da carreira do bicampeão do mundo nesta prova (títulos conquistados em 2017 e em 2024) arredondou as contas do esporte paralímpico do Brasil, que agora tem 117 ouros, 136 pratas e 147 bronzes desde que começou a competir nos Jogos, na edição de 1972, em Heidelberg, na então Alemanha Ocidental.

A medalha de número 400 veio com alguma dose de drama. No lançamento de disco, cada atleta faz seis tentativas de uma vez e então aguarda pelos desempenhos dos outros para saber em que posição finaliza. André Rocha, que era o detentor do recorde mundial da prova antes de começarem os Jogos, com 23,80 metros, conseguiu 19,48 metros como melhor marca, tendo o segundo lugar como teto. Antes dele, o italiano Rigivan Ganeshamoorthy superara o recorde anterior de André quatro vezes, fechando com 27,06 metros como melhor marca, estabelecendo o novo recorde.

Após André Rocha, ainda restavam mais cinco competidores, e o letão Aigars Apinis logo o superou, registrando 20,62 metros. O paulista de Taubaté então aguardou pelos lançamentos dos outros quatro adversários até finalmente comemorar o bronze.

A medalha de André foi a única do atletismo brasileiro neste domingo. Nas outras finais do dia, Matheus Lima terminou em oitavo nos 100 metros T44, mesma posição de Ariosvaldo Silva na final dos 400 metros T53. Na parte da manhã, Samira Brito e Verônica Hipólito terminaram em sexto e sétimo, respectivamente, na final dos 200 metros T36.

Ao final do quarto dia de competições em Paris, o Brasil – que não conquistou ouros neste domingo – acabou ultrapassado pelos Estados Unidos no quadro de medalhas, caindo para o quarto lugar, com oito ouros, quatro pratas e 15 bronzes, totalizando 27 pódios.

Natação traz mais dois pódios e deixa Brasil perto da 400ª medalha

Neste domingo (1º), a natação brasileira teve seu dia menos produtivo até agora nos Jogos Paralímpicos de Paris. No entanto, não faltaram conquistas. Foram dois bronzes, um com Lídia Cruz nos 150 metros medley SM4 e um com o revezamento 4×100 livre S14. Com estes dois pódios, o Brasil chega a 399 medalhas na história dos Jogos.

A medalha de Lídia foi conquistada com muito esforço. Na classe SM4, para atletas com deficiências físico-motoras, a nadadora de Duque de Caxias, prestes a completar 26 anos na próxima quarta-feira (4), fez uma prova de recuperação, arrancando para o pódio nos últimos 50 metros, em que nadou no estilo livre. Ela terminou com o tempo de 2min57s16, novo recorde das Américas. O ouro ficou com a alemã Tanja Scholz e a prata com Nataliia Butkova, que compete sob bandeira neutra. O bronze em Paris foi a primeira medalha da carreira de Lídia em Paralimpíadas.

Mais tarde, no revezamento 4×100 livre classe S14, para atletas com deficiência intelectual, o Brasil viveu novamente fortes emoções. O revezamento começou com Arthur Xavier Ribeiro. Na sequência, Gabriel Bandeira imprimiu um forte ritmo e chegou a ocupar a liderança. Na parte final da prova, quando Beatriz Borges Carneiro e Ana Karolina Soares caíram na água, a Grã-Bretanha abriu vantagem na ponta e a Austrália, que colocou um homem para fechar o revezamento, tirou a diferença e passou o Brasil, terminando em segundo. A equipe brasileira fechou com o tempo de 3min47s49, novo recorde das Américas.

Nas outras finais do domingo, Phelipe Rodrigues terminou em quarto nos 100 metros livre S10, Patrícia Pereira foi a oitava na mesma prova de Lídia Cruz, Roberto Alcalde Rodriguez foi o sexto nos 100 metros peito SB5, mesmo resultado de Laila Suzigan na versão feminina da prova.

Quem também disputou final foi Gabriel Araújo, o Gabrielzinho. Ele terminou em quarto lugar nos 150 medley S3. Gabriel foi o único atleta da classe S2 (que tem um grau de limitação físico-motora maior que os atletas da S3) a participar da final, mesmo assim terminando à frente de outros quatro atletas da classe imediatamente acima da sua. O tempo de Gabrielzinho (3min14s02) é o novo recorde mundial para atletas da S2 nesta prova, superando a marca anterior, estabelecida pelo próprio Gabriel na manhã deste domingo, durante as eliminatórias.

Em busca do hexa, Brasil estreia com vitória no futebol de cegos

A seleção brasileira de futebol de cegos estreou em grande estilo nos Jogos Paralímpicos de Paris. Jogando na charmosa arena aos pés da Torre Eiffel, a equipe fez 3 a 0 contra a Turquia neste domingo (1º) e largou bem na busca pelo sexto ouro consecutivo na modalidade. Nonato (convertendo dois pênaltis) e Jefinho marcaram os gols do triunfo brasileiro.

O Brasil teve tranquilidade para construir o placar, porque saiu na frente com seis minutos de jogo. O goleiro turco segurou a bola fora da área permitida, cometendo pênalti. Nonato cobrou com força e colocou a seleção brasileira na frente.

Na segunda etapa, foram dois gols em sequência. Aos cinco, Jefinho fez bela jogada pela esquerda e finalizou cruzado para ampliar. Logo depois, Ricardinho foi derrubado. Outro pênalti para o Brasil, convertido novamente por Nonato.

O segundo compromisso da seleção em Paris será nesta segunda-feira (2). Os comandados de Fábio Vasconcelos enfrentam a França, às 15h30 no horário de Brasília. O último adversário do Brasil na primeira fase do grupo A é a China, na terça-feira (3). São oito seleções divididas em duas chaves com quatro cada, em que os dois primeiros colocados avançam às semifinais.

Em Paris, a seleção brasileira segue tentando manter o status de invencível em Jogos Paralímpicos. Desde que a modalidade estreou no programa, em Atenas, em 2004, o Brasil nunca foi derrotado, somando agora 22 triunfos e seis empates em 28 jogos. Além disso, todas as cinco edições do futebol de cegos em Jogos Paralímpicos terminaram com a seleção brasileira campeã.

Casa Brasil mescla cultura e esporte durante a Paralimpíada de Paris

Durante os Jogos Paralímpicos de Paris, a pequena cidade de Saint-Ouen, de 52 mil habitantes e conhecida como “Brookyln parisiense”, será um pedacinho do Brasil na França. Um complexo gastronômico local, situado em uma espécie de boulevard, foi escolhido para receber a Casa Brasil Paralímpico, ponto de encontro de torcedores, fãs da cultura brasileira, autoridades e atletas medalhistas.

O espaço fica a cerca de 40 minutos de carro de Paris e está aberto ao público desde a última quinta-feira (29). Segundo o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), a expectativa é que até quatro mil visitantes diários passem pelo ambiente até o próximo dia 8 de setembro, quando a Paralimpíada chega ao fim.

Um telão instalado no palco próximo à praça de alimentação permite aos torcedores acompanharem as provas dos atletas. No mesmo espaço, o músico cego Luan Richard canta clássicos da música brasileira – em uma das apresentações, fez um dueto com o ex-goleiro Jackson Follmann, sobrevivente do acidente com o voo da Chapecoense, em 2016, e que tem a perna direita amputada. Na entrada, simuladores dão aos visitantes a oportunidade de “praticar” algumas modalidades, como a canoagem.

Cultura e inclusão

O espaço também recebe apresentações que mesclam cultura e inclusão. O batuque do Samba Inclusivo da Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo (Liga-SP), que reúne passistas e ritmistas com deficiência, colocou todo mundo para dançar – principalmente os não brasileiros – com músicas famosas do nosso carnaval.

Entre os sambistas, Wagner Esteves, conhecido como Gavião, é um dos mais animados. Ele toca repinique e utiliza uma prótese na perna direita, devido a um acidente de carro. Além disso, é atleta de futebol de amputados, modalidade que, hoje, não faz parte da Paralimpíada. Vivenciar os Jogos de Paris, no entanto, mexe com o sonho de ver o esporte que pratica, um dia, também integrar o megaevento.

“A gente espera que ele [futebol de amputados] seja reconhecido e está insistindo para isso se concretizar no futuro. Assim como o esporte é renovador, é superação, é força, a música também é e transforma vidas. É se reinventar. A perna já foi, então, é tentar viver de uma forma melhor”, disse Gavião.

Paris-França 1°/09/2024 Casa Brasil é ponto de encontro de brasileiros em Saint-Ouen. Foto: Carol Rizzotto/Agência EA.

À frente de Wagner e os demais ritmistas, está Melina Reis, uma pioneira. Vítima de um acidente de moto, ela teve a perna esquerda amputada por conta das sequelas após muitas cirurgias. Bailarina clássica, parecia distante de voltar a fazer o que mais amava. Uma prótese inédita e personalizada, que a permite ficar outra vez na ponta dos pés, devolveu-a ao mundo da dança.

“Os atletas são a base de tudo. É de onde tiramos força, a partir do momento que você se desafia. A dança também é muito parecida. E poder prestigiar tantos amigos que estão competindo [em Paris], que estou na torcida, e fazer parte do projeto do samba inclusivo, é especial. É levar esperança para quem está desmotivado”, contou a bailarina.

Ela não está sozinha. Desde a última sexta-feira (30), as bailarinas da Associação Fernanda Bianchini também se apresentam na Casa Brasil. Trata-se do único grupo profissional de balé do mundo formado por dançarinas cegas. E não é a primeira vez que a companhia, criada em 1995 e que reúne mais de 400 alunos com deficiência, envolve-se com o movimento paralímpico. Em 2012, as meninas participaram da cerimônia de encerramento dos Jogos de Londres, na Grã-Bretanha.

A bailarina Gisele Nahkur foi uma das que se apresentaram no Estádio Olímpico da capital britânica. Antes de perder a visão, ela sonhava em ser jogadora de basquete. Quis o destino que, após a cegueira, tenha surgido a oportunidade de estar em um megaevento esportivo.

“[Em Londres] Dançamos para 82 mil pessoas. O mundo inteiro pôde acompanhar pela TV. Eu não sei se é mera coincidência. Será que eu, jogando e enxergando, chegaria em uma Olimpíada? Depois de cega, enquanto bailarina clássica, o que nunca imaginei na vida, devolveram minha vontade de sorrir e viver e me trouxeram a uma segunda Paralimpíada”, recordou.

A “xará” Gisele Camillo, que nasceu com deficiência visual, perdeu toda a visão por causa de um glaucoma. Apaixonada por dança, chegava a “fingir” que enxergava, quando ainda tinha baixa visão, para não ser excluída. O balé inclusivo mudou a história dela, que se aventurou no atletismo entre 2018 e 2020, em provas de pista.

“Hoje, sou formada em balé clássico, sou professora. Também sou profissional de educação física. Sou aquela pessoa que prepara os atletas para estarem competindo. Estar aqui [em Paris, na Paralimpíada], uma pessoa com deficiência, representando nossa escola e estar perto dos atletas paralímpicos, é indescritível. Assim como nós estamos realizando sonhos aqui, eles [atletas] também estão”, concluiu.