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Lideranças indígenas e ativistas debatem em Manaus futuro da Amazônia

A cidade de Manaus recebe, a partir de hoje (29), um evento com lideranças indígenas, ativistas e pesquisadores que têm a Amazônia como fonte natural e intelectual de vida. É a 3ª edição do TEDxAmazônia, que vai até domingo (1º) e visa a conectar elementos da floresta com a sabedoria dos habitantes e defensores dela. As outras edições ocorreram em 2010 e 2023.

A abertura será no Teatro Amazonas, com a participação da cantora Fafá de Belém, da curandeira A-yá Kukamíria, da cantora amazonense Marcia Siqueira e de uma orquestra de câmara.

O tema central do evento este ano é “ancestralidade coletiva e a necessidade do seu equilíbrio com os elementos naturais que sustentam a vida – terra, fogo, água”. São esperadas propostas e soluções para o enfrentamento da crise climática no país e na região amazônica.

Mais de 300 pessoas se inscreveram para acompanhar a programação nesses três dias. Estão previstas rodas de conversa e experiências imersivas. O evento também poderá ser acompanhado ao vivo pelo canal oficial no YouTube.

“A Amazônia é o epicentro de discussões sobre o futuro do planeta. O TEDxAmazônia é uma plataforma para amplificar as vozes que estão moldando o presente e o futuro dessa região única. Nossa missão é inspirar ações transformadoras por meio do poder das ideias”, disse Rodrigo Cunha, curador do evento.

Cerca de 30 pessoas vão apresentar as palestras no TEDxAmazônia. Alguns destaques são a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara; a líder indígena Marciele Albuquerque Munduruku; Thiago Silva, pesquisador da National Geographic; o arqueólogo Eduardo Neves, a linguista Altaci Kokama, a cientista ambiental Luciana Gatti e a líder indígena Iskukua Yawanawá.

O principal patrocinador do TEDxAmazônia é o Grupo CCR, que vai ter um espaço específico para debates. Estão previstas as participações dos líderes indígenas Francisco Pyako e Txai Suruí. Outras instituições que apoiam o evento são Mercado Livre, Suzano, Latam e o Ministério da Cultura.

“O TEDxAmazônia é um espaço para geração de ideias, conhecimento, inspiração e soluções com enorme potencial para fortalecer o protagonismo de nosso país visando à COP30, em Belém. O Brasil, detentor da maior floresta tropical do mundo, da maior biodiversidade, das maiores reservas de água doce e da matriz energética mais limpa do planeta, tem posição central na agenda climática global. Precisamos ocupar nosso lugar de destaque também na proposição de soluções”, disse a presidente do Instituto CCR, Renata Ruggiero.

TEDx

O TED é uma organização sem fins lucrativos e ficou conhecida por apresentar reflexões e experiências na forma de palestras curtas por pensadores e líderes. Os eventos ocorrem em diferentes partes do mundo.

O TEDx é um programa de eventos locais e auto-organizados. A Conferência TED fornece orientação geral para o programa TEDx, mas os eventos TEDx individuais são independentes.

Serviço

TEDxAmazônia – Manaus, Amazonas

29/11 – Abertura no Teatro Amazonas – 18h

30/11 – Palestras no Palácio Rio Negro – 10h até 19h20

01/12 – Palestras no Palácio Rio Negro – 9h até 14h

Transmissão ao vivo pelo canal oficial no YouTube.

O repórter viajou a convite do Grupo CCR.

Festa Literária das Periferias: líderes negras debatem legado de lutas

A 14ª edição da Festa Literária das Periferias (Flup) começou nesta segunda-feira (11), no Rio de Janeiro, com mais de 90% da programação composta por mulheres negras. Na abertura, o destaque foi o debate sobre as questões das periferias globais e brasileiras, como pautas raciais e étnicas, de gênero e climáticas.

A Flup será realizada entre 11 e 17 de novembro, e terá a participação de escritores nacionais e internacionais, personalidades ligadas à arte e à academia, oficinas formativas, apresentações musicais, saraus, lançamentos de editoras e performances.

O tema deste ano é “Roda a saia, gira a vida”. Segundo os organizadores, há um alinhamento com o conhecido pensamento da filósofa e escritora estadunidense Angela Davis: “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”.

O evento de abertura da Flup foi a mesa de debates “O que Queremos Para Ontem?”, que tratou das principais demandas e necessidades das pessoas de periferia.

Tanto as do passado, que seguem incompletas, quanto as mais atuais trazidas pelas novas dinâmicas sociais.

Participaram dela a ativista de direitos humanos e direitos LGBTQIAPN+, Neon Cunha, a deputada federal, Benedita da Silva (PT-RJ), e a diretora executiva da Anistia Internacional no Brasil, Jurema Werneck.

Rio de Janeiro (RJ) 11/11/2024 – A deputada federal Benedita da Silva participa da Flup. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Dentro do tema, elas destacaram a homenageada dessa edição da Flup: a historiadora, poeta e cineasta Maria Beatriz Nascimento (1942-1995), que teve atuação marcante na defesa dos direitos humanos de negros e mulheres no Brasil, e é considerada uma inspiração para a nova geração de escritoras negras.

“A Maria Beatriz foi uma das mulheres fortes que eu tive a sorte de conhecer, que deram as mãos para que pudéssemos vencer as batalhas em nossos quilombos. Porque as nossas favelas nada mais são do que os nossos quilombos. E lá sabemos que temos que extrair força, energia, conhecimento, organização para poder enfrentar o que vier”, disse a deputada federal, Benedita da Silva.

Rio de Janeiro (RJ) 11/11/2024 – A diretora da Anisita Internacional, Jurema Werneck, na Flup. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

“Maria Beatriz criou conceitos que traduziram a nossa experiência como humanos e foi atrás de alternativas. Falou que nós também somos capazes de encontrar respostas em meio à tragédia humana. Seja no quilombo como território de guerra, quilombo para perseguir a paz, quilombo como estratégia de viver bem. Disse que, por vezes, o quilombo também precisa recuar e buscar proteção”, disse a diretora executiva da Anistia Internacional no Brasil, Jurema Werneck.

 

Festa Literária das Periferias (Flup)

Dias: de 11 a 17 de novembro

Local: Circo Voador

Endereço: Rua dos Arcos, s/n, Lapa – RJ

Entrada gratuita

https://www.flup.net.br/

Ministros do G20 debatem soluções integradas para desafios da saúde

Discussões em torno da abordagem “Uma Só Saúde” ganharam destaque no segundo dia da Reunião de Ministros de Saúde do G20. O encontro ocorre no Rio de Janeiro até esta quinta-feira (31), quando deverá ser apresentada uma declaração final.

A reunião ministerial integra a programação da presidência brasileira do G20, que reúne as 19 maiores economias do mundo, bem como a União Europeia e mais recentemente a União Africana. O grupo se consolidou como foro global de diálogo e coordenação sobre temas econômicos, sociais, de desenvolvimento e de cooperação internacional. Em dezembro do ano passado, o Brasil sucedeu a Índia na presidência. É a primeira vez que o país assumiu essa posição no atual formato do G20, estabelecido em 2008. No fim do ano, a presidência será transferida para a África do Sul.

Uma das diretrizes de atuação do Ministério de Saúde brasileiro na condução das discussões setoriais no G20 é reforçar a abordagem “Uma Só Saúde”. Ela busca estimular a colaboração de diferentes setores para desenvolver soluções integradas para desafios globais como pandemias, resistência antimicrobiana, mudanças climáticas e perda de biodiversidade.

A abordagem reconhece a interconexão entre a saúde humana, animal, vegetal e ambiental. Sua implementação envolve desde medidas de prevenção de doenças zoonóticas até a promoção de segurança alimentar e proteção do meio ambiente.

“A abordagem Uma Só Saúde oferece oportunidades para o desenvolvimento e implementação de programas, políticas públicas, legislações e pesquisas, nos quais diversos setores e disciplinas colaboram para alcançar melhores resultados nas estratégias de saúde humana, saúde animal, saúde vegetal e saúde ambiental”, afirmou a ministra da Saúde, Nísia Trindade, em seu pronunciamento de abertura dos trabalhos do segundo dia da reunião ministerial.

“Reforço aqui a importância da saúde ambiental numa perspectiva ampla. A implementação dessa abordagem promove a cooperação em todos os níveis do local ao global para enfrentar desafios emergentes e reemergentes como pandemias, resistência aos antimicrobianos, mudanças climáticas e seus impactos na saúde e outros desafios à qualidade de vida de nossas populações”, acrescentou.

Como base nessa abordagem, a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização Mundial da Saúde Animal (OMSA), a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) formaram uma aliança quadripartite e desenvolveram o Plano de Ação Conjunto para Uma Só Saúde (2022–2026). O objetivo é trabalhar de forma coordenada.

“Essa abordagem visa melhorar o acesso a vacinas, medicamentos e diagnósticos com foco nas doenças que afetam populações em situação de vulnerabilidade. Ao mesmo tempo buscar fortalecer capacidades nacionais e regionais”, exemplificou Nísia.

Ela destacou também a importância de se criar um ambiente que favoreça a inovação, a pesquisa e a resiliência.

Renovar sem apagar o passado: historiadores debatem reforma do A Noite

O Edifício A Noite, no centro do Rio de Janeiro, teve o projeto de reforma oficialmente lançado na noite desta sexta-feira (13). A palavra “reforma”, no caso, representa bem o principal desafio do projeto. No dicionário, a palavra tem dois significados totalmente opostos: pode ser tanto o retorno a uma “forma” anterior, como uma transformação que crie uma “forma” nova e melhor. No caso do edifício, trata-se, portanto, de modernizar a estrutura e preservar uma história quase centenária ao mesmo tempo.

Reprodução do estúdio da Rádio Nacional no lançamento da reforma do edifício A Noite, antiga sede da rádio, na Praça Mauá. Foto – Fernando Frazão/Agência Brasil

Vendido em julho de 2023 pela prefeitura do Rio, o prédio de 22 andares abrigou a Rádio Nacional e o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Por ser uma estrutura tombada pelo Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 2013, determinadas estruturadas precisam ser mantidas, como é o caso da própria fachada.

O comprador, um investidor privado, o transformará em um residencial com 447 unidades. Estão previstas área de restaurantes no térreo e, no terraço, um espaço aberto à visitação com mirante. Também foi anunciado que haverá um memorial da Rádio Nacional e uma espécie de calçada da fama para homenagear artistas que passaram pela rádio.

Para os historiadores ouvidos pela reportagem da Agência Brasil, é preciso que a preservação dessa memória seja levada a sério, pela importância que ela tem para a história arquitetônica e cultural do país.

“O Edifício A Noite foi construído na década de 1920, quando o Rio de Janeiro está começando a passar por um processo de verticalização. É uma mudança radical na forma do morar do carioca. As pessoas estão começando a viver em apartamentos”, diz o historiador Douglas Liborio. “Preservar essa memória da transformação das formas de morar impacta numa lógica pedagógica fundamental para construção da cidadania e do reconhecimento do direito à cidade. Um patrimônio só tem sentido se pensado a partir da ocupação dos indivíduos”.

Para artistas que participaram da era de ouro do rádio e construíram parte da história da comunicação no país, é importante que este legado não seja perdido.

“O edifício é testemunha da força vital do rádio no mundo. Eu cantei aqui no programa César de Alencar. E foi incrível, maravilhoso. Passei a desfrutar dos corredores da Rádio Nacional, com Roberto Carlos, Caubi Peixoto, Angela Maria, Emilinha, todo mundo que se confraterniza. Estou muito feliz com a promessa de que essa memória vai ser preservada, de alguma forma”, disse Eliana Pittman, cantora e atriz brasileira.

Marco arquitetônico e social

A história do edifício está diretamente associada ao jornal A Noite, criado em 18 de julho de 1911, que se tornou um dos mais populares da cidade. Uma mudança de comando na década de 1920 levou a um projeto de expansão do periódico, que incluía a construção de uma sede própria, no estilo arranha-céu. O lote para a construção pertencia ao antigo Liceu Literário Português, na Praça Mauá. O projeto foi desenvolvido pelo arquiteto Joseph Gire. O francês já era responsável por prédios como o Palácio Laranjeiras, Hotel Glória e Copacabana Palace.

“A inserção do A Noite ali na entrada da antiga Avenida Central, atual Avenida Rio Branco, está muito associada à lógica de construção da modernidade no país. Ainda que tenha toda a influência do concreto armado, já se aproxima dos princípios construtivos da escola de Chicago nos Estados Unidos”, disse Douglas Liborio. “Ele se associa à estética carioca, mas se afasta de uma arquitetura chamada historicista, inspirada em modelos franceses, que dominava a paisagem. Era muito pautado pelo art déco, com uma feição regular, ornamentação discreta, com ênfase na volumetria. Na época, foi chamado de prodígio arquitetônico”.

A Noite

O Edifício Joseph Gire, que ficou conhecido popularmente como A Noite, foi inaugurado em 1927. Em de maio de 1933, o grupo A Noite resolveu expandir os negócios e instituiu Sociedade Civil Brasileira Rádio Nacional. Ela estreou oficialmente em setembro de 1936, no último andar do prédio. Em 1940, o governo Getúlio Vargas encampou todos os bens da Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande. O que incluía ter o controle do grupo A Noite e da Rádio Nacional.

A cantora Eliana Pittman posa na reprodução do estúdio da Rádio Nacional, durante o lançamento do empreendimento de reforma do edifício A Noite, antiga sede da rádio, na Praça Mauá. Foto –  Fernando Frazão/Agência Brasil

“As ondas da Nacional tomaram o Brasil. Principalmente a partir do Estado Novo de Vargas. Porque ela se transformou quando foi encampada por Vargas em um instrumento de divulgação das grandes questões e projetos nacionais. Além disso, foi inovadora em todos os aspectos no rádio brasileiro. Desde os programas de auditório, que enchiam o 21 andar. Quase quinhentos lugares cheios. Auditório alvoroçado por ver todos os que participavam dos programas. E inovava nas radionovelas, que fazia as pessoas ficarem com os ouvidos colados no rádio, vivendo todas as emoções possíveis”, explica o historiador Antonio Edmilson.

Entre as primeiras e mais importantes mudanças na Rádio Nacional estão a estreia, em 1941, do Repórter Esso e o Radioteatro Colgate, com a primeira radionovela “Em busca da Felicidade”. O espaço físico foi remodelado e um auditório para 486 pessoas foi construído no 21º andar. A Rádio passou a ocupar os últimos quatro pavimentos.

Iniciativas de memória

E já que uma das iniciativas anunciadas para preservar essa memória da rádio envolve uma “calçada da fama”, que nomes teriam de estar obrigatoriamente ali?

“Aracy de Almeida não pode ficar de fora. Nem a Marília Batista, nem o Radamés Gnattali, nem o corpo de dramaturgia da Rádio Nacional. E aí, são muitos, artistas como Carlos Galhardo, Heron Domingues, Lamartine Babo, Chico Anysio. São muitas pessoas que são importantes e merecem ser lembrados”, disse o historiador Antonio Edmilson. “Eles vão precisar de muita calçada e não sei se isso vai dar conta de tudo aquilo que representa a importância do prédio e da Rádio Nacional”.

Entre as primeiras mudanças na Rádio Nacional estão a estreia, em 1941, do Repórter Esso e o Radioteatro Colgate, com a primeira radionovela “Em busca da Felicidade”.  Foto – Fernando Frazão/Agência Brasil

Outros nomes famosos poderiam ainda ser citados, como Emilinha Borba, Marlene, Dalva de Oliveira, Luiz Gonzaga, Cauby Peixoto, Elizeth Cardoso, César de Alencar e Paulo Gracindo. O historiador, porém, entende que seria importante ir além da calçada e da reprodução do estúdio da rádio.

“Eu acho que de alguma maneira era necessário fazer um livro de ouro do prédio, que pudesse ser manuseado pelas pessoas, um documentário sobre todo esse processo da obra, para deixar uma memória que fosse ancorada nas tecnologias visuais que você tem hoje para além daqueles padrões tradicionais”, defende Antonio Edmilson.

Como parte dessa história também envolve características arquitetônicas, o historiador Douglas Liborio lista o que seria fundamental preservar das características estruturais do edifício.

“Vale muito a pena recuperar o que era o hall de entrada, porque era um dos grandes marcos do art déco, que é inspiração do interior dos transatlânticos. É muito claro nos pilares dos halls e no ambiente muito espaçoso dos halls de entrada. Um marco do art decó também que é importante ver é a abertura de janelas, muito característico do estilo. Abertura regular e padronizada”, disse o historiador. “Manutenção do terraço com a vista para a baia de guanabara. Para se recuperar como espaço de fruição e vista pública. Ele marca a paisagem carioca. E isso é particular de construção do Rio de Janeiro. Estamos falando da entrada da cidade, do novo porto no início da República.”

Pesquisadores debatem limites da independência

No dia 7 de setembro de 1822, o Brasil nasceu oficialmente como nação independente. Mas quem de fato pode dizer-se livre e autônomo de lá para cá? A ruptura política não veio acompanhada de transformações sociais mais profundas. É por isso que pesquisadores falam até hoje em heranças excludentes para alguns grupos, como é o caso da população negra. O tema foi debatido no evento Independência Inconclusa, promovido pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), na mesa O Genocídio da população negra do Brasil.

Um dos debatedores, Luiz Eduardo Soares, antropólogo e ex-secretário nacional de Segurança Pública, destacou o papel que o Estado desempenha historicamente na perpetuação da violência contra pessoas negras.

“Por que nós falamos em genocídio? Porque falamos de um segmento da população ao qual se endereça esse processo de violência. Ele se concentra e produz vítimas entre os mais pobres e na população negra. E por isso, as taxas de investigação são muito baixas. Isso quando são conhecidas! A precariedade, a urgência com que tudo isso é enfrentado, deveria atormentar qualquer consciência democrática e liberal”, ressaltou o antropólogo.

O presidente global da Central Única das Favelas (CUFA), Preto Zezé, reforçou a questão estrutural do racismo e da opressão contra os negros, “e que, justamente, pela dimensão temporal do problema, é preciso organizar uma luta coletiva de longa duração.

“Falamos de um país que teve sua fundação e sua existência marcada por quase 400 anos de escravidão. Essas sequelas estão muito presentes no nosso dia a dia. E a gente precisa fazer alguns movimentos estratégicos para que esse processo seja superado. É um processo muito longo, que se manifesta no dia a dia, e a gente tem que atuar conjuntamente. Primeira coisa, é ter a ideia de que essa agenda é de toda a sociedade e não apenas dos movimentos negros, porque, às vezes, parece que o problema é só nosso e a gente tem que enfrentar tudo sozinho. Desse jeito, as coisas não acontecem”, defendeu Preto Zezé.

Para o presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, o Brasil tem dificuldade em lidar com a memória. Por isso, segundo ele, é importante estimular constantemente a reflexão sobre temas importantes do passado, principalmente sobre os que se mantêm fortes e influentes sobre o presente.

“Existe a ilusão de que o passado não nos determina e que não precisamos fazer um ajuste de contas com o passado colonial e escravista. Não são pesos leves e tolos. São muito fortes e nos observam. Temos uma sociedade que precisa resolver essas questões. Daí a importância das políticas de memória. E se torna necessária uma série de medidas concretas no nosso horizonte que aponte para a igualdade de direitos”, disse o presidente da SBPC.

G20: ministros de Finanças debatem revisão de fundo verde

A 3ª reunião de Ministros de Finanças e Presidentes de Bancos Centrais do G20 termina nesta sexta-feira (26) com debate sobre questões relacionadas ao financiamento sustentável. Um dos temas que será colocado na pauta é a proposta brasileira de revisão dos fundos multilaterais climáticos, os chamados fundos verdes. Outro assunto será acerca das infraestruturas resilientes, adaptadas para lidar com os impactos ambientais.

“É um tema importante que quisemos trazer para o centro dessa sessão. Nós tivemos no Brasil tragédias recentes, como no caso das enchentes no Rio Grande do Sul, a seca na Amazônia, os fogos no Pantanal”, destaca a embaixadora Tatiana Rosito, secretaria de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda e coordenadora da Trilha de Finanças do G20, em entrevista nessa quinta-feira (25).

Antes do encerramento, os presentes ainda deverão debater a arquitetura financeira internacional e a reforma dos bancos multilaterais de desenvolvimento. Este é um tema considerado prioritário para o Brasil.

Além do comunicado final da reunião, deverá ser divulgada uma declaração do Ministério da Fazenda e outra da presidência brasileira do G20. Essa última será focada em questões geopolíticas.

Ao fim do primeiro dia da reunião nessa quinta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, adiantou que constará um reconhecimento, no texto final do encontro, de que é necessário aprofundar discussões sobre a taxação dos super-ricos. Segundo ele, o tema agora está incluído na agenda internacional.

A reunião compõe a intensa programação de atividades do G20, realizado no Rio de Janeiro. As delegações participantes debateram as perspectivas para o crescimento econômico, o processo de desinflação, geração de emprego, regulação do sistema financeiro e tributação internacional.

A relação entre as políticas macroeconômicas e as desigualdades também foi abordada. “Esse tema foi colocado pela presidência brasileira e contou com grande aceitação”, afirmou Tatiana Rosito.

De acordo com a embaixadora, entre os membros do G20, países convidados e organizações internacionais, há 77 delegações participantes. Esse número leva em conta que o Ministério de Finanças e o Banco Central de um mesmo país possuem delegações diferentes. Considerando todos os inscritos, são ao todo mais de 470 delegados.

As 19 maiores economias do mundo, bem como a União Europeia e mais recentemente a União Africana, têm assento no G20. O grupo se consolidou como foro global de diálogo e coordenação sobre temas econômicos, sociais, de desenvolvimento e de cooperação internacional.

Em dezembro do ano passado, o Brasil sucedeu a Índia na presidência. É a primeira vez que o país assume essa posição no atual formato do G20, estabelecido em 2008. No fim do ano, o Rio de Janeiro sediará a Cúpula do G20, e a presidência do grupo será transferida para a África do Sul.

Especialistas debatem riscos de ataques cibernéticos no país

O futuro da segurança cibernética e do compartilhamento de informações entre centros de pesquisa foram alguns dos destaques do Workshop RNP, evento sobre internet e conectividade que começou nessa segunda-feira (20) em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro. O encontro é organizado pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), órgão ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Pesquisadores, governo, empresas e startups participam de uma série de debates no campus da Universidade Federal Fluminense (UFF).

O diretor de Cibersegurança da RNP, Emílio Nakamura, reforçou a importância de investir no setor para lidar com os novos desafios trazidos pelas tecnologias em rede. Apesar de defender que o país está se movimentando em termos legislativos e estruturais no setor, alerta que as ameaças digitais têm evoluído de maneira mais rápida do que os sistemas de proteção.

“Hoje, os setores financeiro, de água, de energia, de transportes e de saúde, por exemplo, dependem cada vez mais de elementos digitais. É possível criar um caos ou uma catástrofe realizando ataques cibernéticos que afetam o funcionamento desses setores. No Brasil, ainda vemos poucos incidentes dessa natureza. Mas eles podem acontecer e temos toda uma discussão sobre como os ataques podem afetar a economia e a infraestrutura do país”, diz Nakamura.

Para ele, além dos investimentos em segurança, é preciso avançar no plano nacional de educação cibernética, que contemple todas as pessoas e seja parte importante do currículo em escolas e faculdades.

“Hoje, é mais do que necessário que as pessoas tenham uma educação cibernética. As crianças, os jovens, todo mundo. Sobre como agir no mundo digital para que não seja alvo de tentativas de fraudes e outros ataques”, reforça o diretor do RNP. “Alguns países já lidam com essa educação cibernética com crianças, e o Brasil não tem isso oficializado como parte do currículo. Na graduação, seria importante que esse tema entrasse como parte de todos os cursos, porque é algo que atravessa todas as profissões”.

Conectividade científica

Uma das mesas de debate do dia tratou da Rede de e-Ciência, voltada para a conectividade entre centros de pesquisa, supercomputação, laboratórios multiusuários e infraestruturas científicas. Os conferencistas falaram sobre desafios e detalhes da implantação. O diretor adjunto de Serviços para Experimentação e e-Ciência da RNP, Leandro Ciuffo, explicou o funcionamento e os benefícios da rede.

“A Rede de e-Ciência vai usar a estrutura das infovias. De maneira geral, as infovias vão interiorizar conexão de qualidade em várias regiões do país. Vão ajudar na fixação de professores e pesquisadores em campos do interior e, consequentemente, melhorar a qualidade da educação nessas localidades”, disse Ciuffo. “A ideia é que haja uma redução no tempo dos processos científicos. Compartilhamentos de informações que poderiam levar horas ou dias poderiam ser feitos em minutos. Com isso, também é acelerado o resultado para os cidadãos”.

Um edital está em andamento para selecionar os primeiros centros de pesquisa que vão fazer parte da rede. O diretor cita alguns exemplos de instituições e projetos que poderão ser atendidos.

“Instituições de pesquisa que têm processos para gerar previsão do tempo, para prever desastres ambientais, para fazer vacinas, pesquisar curas de doenças, são alguns que poderão usufruir da rede, porque precisam manipular quantidade muito grande de informações e esses dados, às vezes, são bancos de dados do exterior”, disse Ciuffo.

Dirigentes de blocos de carnaval debatem incentivo após reconhecimento

Blocos e bandas de carnaval foram reconhecidos oficialmente nesta semana como manifestações da cultura nacional. A Lei 14.845/2024 também atribuiu ao Estado a garantia da livre atividade e realização de seus desfiles e manifestações.

A iniciativa, que teve início em uma proposta debatida e votada pelo Congresso Nacional e foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi recebida de forma positiva pelo setor.

Em Brasília, onde o carnaval predominantemente acontece nos blocos de rua, a drag queen Ruth Venceremos, do Bloco das Montadas, destacou o caráter de preservação de uma tradição que possibilita a máxima expressão da diversidade da população brasileira. “Os blocos e as bandas são parte fundamental da identidade do nosso povo e estamos falando do contexto histórico, dos territórios, do contexto social, de uma série de outras questões que envolve quem somos.”

Criado em 2018, o Bloco das Montadas foi o primeiro formado por drag queens no Distrito Federal. Desde então, todos os anos desfila a arte que envolve essa forma de expressão, associada a debates sobre políticas voltadas à população LGBTQIA+.

Para Ruth, a livre atividade dos blocos é peça fundamental da nova lei. “É um passo importante, principalmente para alguns momentos da nossa história em que temos retrocesso em relação a algumas pautas”, afirma.

Com a nova lei,  blocos e bandas carnavalescas entram para a lista de manifestações da cultura nacional ao lado de escolas de samba, festas juninas e rodeios, reconhecidos anteriormente. Músicas como as marchinhas de carnaval, as tradições, desfiles e outras práticas associadas a elementos da festa do carnaval também foram considerados elementos a serem valorizados e preservados.

O presidente do maior bloco do país, o Galo da Madrugada, de Recife, Rômulo Meneses, reconhece que a nova lei traz respaldo legal para a atividade dos blocos, mas não garante nenhum incentivo. “Você reconhece esse fato, esse direito, mas reconhecer sem dar meios de você sobreviver e crescer não ajuda tanto”, afirma.

Para Ruth, a nova lei já abre o caminho para debate do fomento do carnaval. “No Distrito Federal, temos a experiência de buscar esse fomento, mas quando rodamos o país, vamos que isso não é uma realidade”.

Com a nova lei e a regulamentação do que já havia em relação à proteção da cultura na Constituição Federal, o espaço para o carnaval é garantido e nele é necessário aproveitar a oportunidade para potencializar um ativo cultural que reúne tantas possibilidades, garante Ruth.

“O carnaval é alegria, é diversão, mas também é geração de emprego, de renda. É momento, de maneira massiva, fazer campanhas de conscientização sobre temas como o assédio, a exploração sexual, o preconceito e também lutar para que tudo isso seja fomentado”, conclui.

Programas de entrevistas da TV Brasil debatem 60 anos do golpe militar

Para marcar os 60 anos do golpe militar de 1964, a TV Brasil exibe nesta terça-feira (2) duas atrações inéditas com personalidades que são referências no tema. As conversas com o historiador Jair Krischke, no DR com Demori, e com a jornalista e escritora Denise Assis, no Trilha de Letras, vão ao ar às 21h30 e às 22h30, respectivamente.

Durante a edição especial temática do DR com Demori, o jornalista e apresentador bate um papo com Jair Krischke, especialista em direitos humanos conhecido como “o caçador de torturadores”. Ele criou uma rede de pesquisadores e informantes que colaborou para esclarecer mortes, desaparecimentos e sequestros ocorridos entre 1960 e 1980. Estima-se que o historiador tenha ajudado a salvar 2 mil pessoas dos diversos regimes militares em toda a América Latina.

Gaúcho de Porto Alegre, Jair Krischke é presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MDJH) e um reconhecido militante, com importante atuação durante a ditadura militar no Brasil – período em que, inclusive, fundou o MJDH. Além disso, desde os anos 1960, atua no Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.

 Jornalista e escritora Denise Assis é a convidada do Trilha de Letras desta terça-feira (2) – Frame/TV Brasil

Em seguida, no Trilha de Letras, a apresentadora Eliana Alves Cruz conduz a entrevista com Denise Assis. A convidada fala de suas experiências nas comissões Nacional da Verdade e Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, nas quais atuou como pesquisadora e conseguiu testemunhos que ajudaram a desvendar casos sem solução desde a redemocratização.

Denise conta ainda como sua obra literária segue intrinsecamente ligada às pesquisas sobre o tema, com destaque para Imaculada, ficção histórica livremente baseada na trajetória da freira Maurina Borges da Silveira, a única religiosa presa e torturada pelo regime militar. No romance, a prisão, tortura e posterior exílio funcionam como elementos de um mistério: por que a Igreja se empenhou em colocar o mais rápido possível a irmã Imaculada em uma lista de prisioneiros políticos a serem trocados por um embaixador sequestrado e, assim, garantir sua saída para o México?

Mestre em comunicação pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Denise trabalhou em grandes veículos de imprensa como O Globo, Jornal do Brasil, Veja, Isto É e O Dia. Além de Imaculada, é autora de Propaganda e Cinema a Serviço do Golpe – 1962/1964 e Claudio Guerra: Matar e Queimar.

Sobre o DR com Demori

O programa Dando a Real com Leandro Demori, ou simplesmente DR com Demori, traz personalidades para um papo mais íntimo e direto, na tela da TV Brasil. Já passaram pela mesa nomes como o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, a deputada federal Erika Hilton, o psicólogo Alexandre Coimbra e o fundador da banda Pink Floyd, Roger Waters.

A atração vai ao ar às terças-feiras, às 21h30. DR com Demori tem janela alternativa aos sábados, às 19h30, e aos domingos, às 22h30. Disponível no app TV Brasil Play, a produção ainda é veiculada pela Rádio Nacional e pela Rádio MEC na terça, às 23h.

Sobre o Trilha de Letras

O Trilha de Letras busca debater os temas mais atuais discutidos pela sociedade por meio da literatura. A cada edição, o programa recebe um convidado diferente. A atração foi idealizada, em 2016, pela jornalista Emília Ferraz, atual diretora do programa que entrou no ar em abril de 2017. Nesta temporada, os episódios foram gravados na BiblioMaison, biblioteca do consulado da França no Rio de Janeiro.

A TV Brasil já produziu três temporadas do programa e recebeu mais de 200 convidados nacionais e estrangeiros. A jornalista, escritora e roteirista Eliana Alves Cruz está à frente da quarta temporada, que também ganha uma versão na Rádio MEC e está disponível em formato podcast.

A produção exibida pelo canal público, às terças, às 22h30, tem horário alternativo aos sábados, às 18h30. O Trilha de Letras ainda vai ao ar nas madrugadas de terça para quarta, na telinha. Já na programação da Rádio MEC, o conteúdo é apresentado às quartas, às 23h.

Governo e montadoras debatem produção de carros bioelétricos no Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu um grupo de empresários do setor automotivo e do segmento de produção de etanol e gás para conversar sobre investimentos no Brasil.

O encontro, no Palácio do Planalto, foi na tarde desta quinta-feira (14), em Brasília, e contou com as presenças do Vice-Presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, e do ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa.

Nas redes sociais, Lula destacou o potencial brasileiro, que inclui a produção de veículos híbridos flex, como o carro bioelétrico. Trata-se de uma tecnologia exclusiva do Brasil e combina a possibilidade do uso de etanol em carros elétricos, reduzindo a utilização de combustíveis fósseis.  

“Já são mais de R$ 117 bilhões anunciados pelas montadoras até 2028 gerando empregos e crescimento econômico. Acreditamos no Brasil e no seu potencial na transição energética. O país abandonou o discurso do passado e está investindo no futuro”, escreveu Lula.

Presenças

Além de Lula, Alckmin e Rui Costa, a reunião contou com as presenças dos seguintes empresários e especialistas: Luciano Coutinho (economista e professor da Unicamp); Emanuele Capellano (presidente da Stellantis para a América do Sul); Ciro Possobom (CEO da Volkswagen do Brasil); Evandro Maggio (presidente da Toyota do Brasil); Christopher Podgorski (CEO e presidente da Scania para a América Latina); Stella Li (vice-presidente global da BYD); Tyler Li (CEO da BYD Brasil); Alexandre Baldy (presidente do Conselho da BYD Brasil); Aroaldo Oliveira (presidente da Industriall-Brasil e diretor-executivo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista); Evandro Gussi (diretor-presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia – Unica); Mário Campos (presidente da Bioenergia Brasil); Carlos Ubiratan Garms (conselheiro da Associação Brasileira do Biogás (ABiogás) e diretor da Cocal); Bruno Moretti (secretário especial da Casa Civil/PR); Roberto Matarazzo Braun (Toyota) e Gustavo Bonini (Scania).