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Pioneiros em Paris, medalhistas confiam em evolução de modalidades

Terem nascido em Curitiba e se tornado atletas paralímpicos não são as únicas semelhanças entre Ronan Cordeiro, do triatlo, e Vitor Tavares, do badminton. Eles entraram para a história ao serem os primeiros brasileiros a subirem ao pódio das respectivas modalidades em uma Paralimpíada.

Ambos deram a volta por cima após ficarem perto da medalha três anos antes, nos Jogos de Tóquio. Ronan, que terminou a prova da classe PTS5 (atletas com deficiências físico-motoras leves) em quinto, galgou três posições e conquistou a prata na França. Já Vitor, semifinalista e quarto colocado em 2021, desta vez levou a melhor na disputa pelo bronze da classe SH6 (baixa estatura).

“Acho que [ainda] não [caiu a ficha do feito]. Meu esporte é um pouco elitizado, os europeus têm certa predominância e é incrível um sul-americano conquistar um pódio em Jogos Paralímpicos. Tenho certeza de que, conforme passarem os dias, vou digerir tudo isso e que sou apenas o primeiro. O esporte sul-americano tem garra e força. É somente o início”, afirmou Ronan, que tem má formação congênita na mão esquerda, em entrevista à Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

“Passa [na cabeça] tudo o que a gente trabalhou para esse momento. Foi árduo, todo dia em quadra, preparação física e mental, para mudar a história de Tóquio. Ficar em quarto lugar na nossa primeira Paralimpíada foi uma experiência incrível, mas agora foi muito melhor. Não somente pela medalha, mas por termos público, a torcida fez um barulho ensurdecedor, às vezes não conseguia nem ouvir meu treinador. Ver que o badminton está evoluindo a esse nível é incrível”, destacou Vitor, que nasceu com nanismo.

Trajetória

Ronan migrou para o triatlo em 2018, após seis anos dedicados à natação. Ele não demorou a se firmar, conquistando medalhas em etapas da Copa do Mundo e subindo ao pódio do Mundial de Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos), em 2021, com o terceiro lugar. No ano passado, o paranaense também fez parte da equipe medalhista de bronze na prova de revezamento do Mundial de Pontevedra (Espanha) junto de Jéssica Messali, Jorge Luís Fonseca e Letícia Freitas.

“Queria muito chegar aqui [na Paralimpíada]. Sou um pouco baixo, não tenho característica biomecânica favorável [para a natação], mas me encontrei no triatlo. Sou apaixonado e não troco a modalidade por nada. Meio que nasci perfeito para ela. Tenho certeza de que ainda posso evoluir muito”, avaliou o triatleta, que negou ter problemas em nadar no Rio Sena, alvo de polêmica nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos devido à poluição da água.

“Para mim, foi incrível poder nadar no Sena e pedalar na Champs Elysées [famosa avenida parisiense]. Claro, estava totalmente focado, mas não estou passando mal, nada disso [risos]. Fiz a melhor natação da minha vida, a prova da vida, por isso deu resultado”, completou Ronan.

Vitor, por sua vez, tem no currículo cinco medalhas em Mundiais de badminton, Foram três de bronze na Suíça, em 2019, e uma de bronze (individual) e uma de prata (duplas) três anos depois em Tóquio, mesmo lugar onde deixou escapar o pódio paralímpico em 2021.

“[Da última Paralimpíada para cá] mudei por inteiro. Mentalmente, fisicamente, taticamente e tecnicamente. Criamos uma base mais sólida, evoluímos as vertentes. Não é somente força, técnica e tática que definem o badminton. O nosso corpo é incrível. Fizemos essa mudança, tive uma maturação maior em todos os aspectos e fui com foco em ter a medalha”, explicou Vitor, que justifica o plural nas menções aos resultados para enaltecer as pessoas com as quais trabalha diariamente.

“Cheguei aqui com uma equipe multidisciplinar incrível. Eu não estaria aqui sem essas pessoas olharem para mim e acreditarem. Muitas vezes, os atletas estão com dores, cansados, e esse pessoal planifica tudo para você, para chegar no melhor nível. Tenho certeza de que ainda não estamos no ápice, que podemos evoluir cada vez mais e mudar a cor da medalha”, finalizou o atleta, já pensando nos Jogos Paralímpicos de 2028, em Los Angeles (Estados Unidos).

Com Ronan, do triatlo, não é diferente. Daqui a quatro anos, ele quer buscar medalha em outra prova da modalidade. “É só início. Quero estar não somente no individual, mas no revezamento”, concluiu.

Brumadinho: famílias confiam que 3 vítimas restantes serão encontradas

Cinco anos após o rompimento da barragem da mineradora Vale em Brumadinho (MG), o Corpo de Bombeiros ainda busca encontrar os corpos de três mortos. São elas: Maria de Lurdes Bueno, Nathalia de Oliveira Porto e Tiago Tadeu da Silva.

Ao todo, 270 morreram soterradas pela lama de rejeitos liberada no episódio. A Associação dos Familiares das Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem em Brumadinho (Avabrum) contabiliza 272 vidas perdidas, considerando os bebês de duas mulheres que estavam grávidas. Para marcar os cinco anos da tragédia, a entidade coordenou uma série de eventos ao longo dessa semana.

A Avabrum chama cada vítima de joia. Trata-se de uma resposta ao ex-presidente da Vale, Fábio Schvartsman, que, na época da tragédia, avaliou que a Vale era “joia brasileira” que não poderia ser condenada. “Reparação para nós é a responsabilização criminal, a identificação de todas as joias e a mudança do atual sistema predatório de mineração. Isso para nós seria a reparação”, destaca Andresa Rodrigues, presidente da entidade.

Ato em memória das vítimas de Brumadinho – Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O Corpo de Bombeiros já afirmou em diferentes momentos que irá manter os trabalhos até encontrar todas as vítimas. Os familiares confiam que isso irá acontecer. Nayara Cristina, que também integra a diretoria da Avabrum e ficou viúva de Everton Ferreira, agradece ao empenho dos bombeiros.

“A gente só tem que agradecer por não largarem as nossas mãos e manter a promessa de permanecerem conosco. Hoje a gente não fala mais em não encontrados e sim em não identificados. Porque nós sabemos onde eles estão. Eles continuam lá na lama. O que falta acontecer é encontrar os restos mortais para que sejam identificados”, disse.

Segundo o major Guilherme, comandante de Incidente, as buscas já envolveram diferentes estratégias ao longo do tempo. Atualmente, o trabalho mobiliza 13 bombeiros em atuação. É a oitava estratégia.

“Hoje, o nosso objetivo é encontrar as três joias restantes. Então nossa estratégia atualmente se concentra nas estações de busca. São bombeiros fazendo vistoria em um equipamento totalmente adaptado e o único no mundo para a operação Brumadinho”, explica.

Todo o rejeito é vistoriado utilizando esse equipamento, para só então ser liberado e ser destinado a uma cava. Segundo o major Guilherme, aproximadamente 11 milhões de metros cúbicos foram liberados e rompimento e cerca 75% desse volume já foi vistoriado.

Cada uma das três vítimas que ainda não foram identificadas estava em um local distinto no momento da tragédia. Maria de Lurdes Bueno encontrava-se em uma pousada que foi soterrada. Nathalia de Oliveira Porto trabalhava na mina e estava no refeitório, local onde se reunia a maior parte das pessoas que perderam suas vidas. Já Tiago Tadeu da Silva, que também era funcionário, estava na oficina.

“Estabelecemos áreas prioritárias considerando o possível local que a joia pode estar. Levamos em consideração também as pessoas que estavam próximas dela e que já foram localizadas. São diversos elementos que nos possibilita eleger áreas prioritárias para as buscas”, destaca o major Guilherme.