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Fórum debate finanças climáticas, antes de reunião de ministros do G20

Com o objetivo de consolidar a ponte entre prosperidade econômica e uma transição justa e inclusiva, diversas organizações da sociedade civil brasileira realizarão nesta segunda-feira (26) e terça-feira (27), em São Paulo, o 1º Fórum Brasileiro de Finanças Climáticas.

O evento antecede o encontro do G20 que reunirá, também na capital paulista, ministros de finanças e presidentes dos bancos centrais das maiores economias do mundo. O Grupo dos 20 reúne países que, juntos, representam 85% do PIB global e são responsáveis por mais de 80% das emissões relacionadas ao setor energético. 

Lançado durante a COP28, em Dubai, junto ao Ministério da Fazenda, o 1º Fórum Brasileiro de Finanças Climáticas reunirá integrantes do setor privado nacional e internacional, coalizões empresariais que impulsionam a transformação ecológica, academia, sociedade civil, filantropia, e organismos multilaterais econômicos e de financiamento.

O evento, com programação presencial e online, quer colocar no centro do debate o financiamento climático internacional em temas como reindustrialização verde, transição energética e fomento à bioeconomia.

Ao longo de dois dias, cerca de 600 convidados vão abordar modelos financeiros para a transformação ecológica do Brasil, mecanismos e desafios para alavancar investimentos verdes na Amazônia, oportunidades para ampliar o financiamento de soluções baseadas na natureza e a promoção da bioeconomia como estratégia de enfrentamento da crise climática.

Também estão na pauta, o impacto dos pacotes econômicos sustentáveis globais, como o IRA americano (Inflation Reduction Act) e o Green Deal europeu, além de soluções para acelerar a descarbonização industrial no mundo. Além disso, está previsto um workshop de capacitação em financiamento climático. 

Ao fim do evento, os organizadores vão elaborar recomendações a serem apresentadas aos líderes do G20.

O fórum, um evento oficial do G20 Social, está sendo organizado conjuntamente pelo Instituto Arapyaú, Instituto AYA, Instituto Clima e Sociedade (iCS), Instituto Igarapé, Instituto Itaúsa, Open Society Foundations e Uma Concertação pela Amazônia.

Entre os painelistas estão Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia e professor na Universidade de Columbia; o embaixador Antônio Ricarte, do Ministério das Relações Exteriores; José Pugas, JGP; Mauro O´de Almeida, Secretário de Meio Ambiente do Pará; Natalia Renteria, do Biomas; Txai Suruí, liderança indigena; Tatiana Schor, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente; Sérgio Suchodolski, do Centro Brasileiro de Relações Internacionais; Denis Minev, da Bemol e Fundação Amazonas Sustentável; Nabil Kadri, do BNDES; e Daniel Teixeira, do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT). 

Mudanças climáticas podem ampliar infestação de mosquito Aedes no Rio

As mudanças climáticas vão aumentar a frequência de dias mais quentes no Rio de Janeiro, nos próximos anos, e isso tem o potencial de ampliação da da população de mosquito Aedes aegypti e a transmissão da dengue no estado. A conclusão é de estudo realizado pelos pesquisadores Antonio Carlos Oscar Júnior, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), e Francisco de Assis Mendonça, da Universidade Federal do Paraná (UFPR)

A pesquisa, publicada em 2021 utiliza modelos de previsão climática para as próximas décadas e uma avaliação sobre o potencial impacto à eclosão de ovos do mosquito Aedes, transmissor da dengue, e ao ciclo de vida do inseto, para estimar a ocorrência da doença até 2070.

Segundo a pesquisa, um dos principais fatores para o aumento da proliferação do mosquito é a temperatura. No Rio de Janeiro, a previsão é de aumentos das temperaturas média e mínima nos próximos anos, o que favoreceria o ciclo de reprodução do Aedes.

Com isso, o período de inverno, quando historicamente há menos infecção pelo vírus da dengue, deverá passar a ter dias mais quentes, o que ampliará a janela de temperatura ótima para a infestação pelo mosquito Aedes e, consequentemente, o potencial para novos casos da doença nessa estação.

O aumento da temperatura no estado também poderá expandir a ocorrência do mosquito em locais do território fluminense onde hoje é limitada por causa do frio, como a região serrana, o sul fluminense e o noroeste do estado.

“Provavelmente, até 2070, vai ser ampliada a população do estado exposta à dengue. Eu não posso falar que vai ter um aumento no número de infecções ou um aumento no número de mortes. O que posso dizer é que são desenvolvidas condições ambientais adequadas para um aumento da população do mosquito. Como aumenta o vetor, tem uma maior difusão do vírus e uma maior exposição da população ao vírus”, afirmou.

A publicação do estudo, em 2021, não encerrou a pesquisa, que continua coletando dados climáticos e sua relação com a ocorrência do Aedes aegypti. O professor Oscar Júnior coordena uma rede de estações que fazem monitoramento meteorológico e possuem ovitrampas (armadilhas para mosquitos).

A rede de monitoramento hoje funciona em cerca de dez estações no Grande Rio e nas regiões sul, serrana e dos Lagos. A meta é expandi-la para outras regiões do estado. Além de contribuir para o entendimento entre a relação do mosquito com o clima, o sistema poderá ser usado para alertar autoridades sanitárias sobre riscos de infestação de Aedes aegypti, através de relatórios periódicos.

“Através dessa rede de monitoramento, a gente quer criar um sistema de alerta para que a gente possa diuturnamente, semanalmente avaliar o risco de desenvolvimento do Aedes aegypti e, portanto, de infecção”, explica Oscar Júnior. “A gente acredita que esse sistema de alerta vai ser um produto útil e prático pra fornecer informações semanalmente para que sejam tomadas decisões e possam atuar em relação ao risco de um aumento do número de casos de dengue”.

A ideia é começar a emitir relatórios semanais, a partir dos dados coletados na rede de monitoramento, já no próximo semestre.

Segundo Oscar Júnior, independentemente da imunização da população contra a dengue, que deve começar neste mês em algumas cidades brasileiras, o monitoramento do mosquito continua sendo importante, não só por causa da dengue, mas também devido a outras arboviroses transmitidas pelo Aedes, como a zika, a chikungunya e a febre amarela.

Mudanças climáticas e sociais são tema de bloco em Copacabana

O bloco carnavalesco Virtual, integrante da Associação Independente dos Blocos de Carnaval de Rua da Zona Sul, Santa Teresa e Centro da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro (Sebastiana), concentra às 8h dessa segunda-feira (12) na Avenida Atlântica número 1, no Leme, e segue até a Praça Almirante Júlio Noronha.

O tema deste ano é Insanidade Virtual, baseado na música Virtual Insanity, da banda britânica de funk e acid jazz Jamiroquai, formada em 1992 e liderada pelo cantor Jay Kay. A música fala sobre o mundo na era digital e as mudanças da natureza, as mudanças climáticas. “As transformações na forma de se relacionar, os efeitos das novas condições climáticas e sociais são o tema deste ano”, disse à Agência Brasil o atual diretor do bloco, Lula Jardim. Destacou que “o calor dos últimos tempos tem tornado até mesmo brincar carnaval um ato de insanidade.”

O bloco é constituído por 80 integrantes. Foi criado pelo pai de Lula Jardim, Jorge Wanderley, e um coletivo de amigos em 2000 que, naquela época, queriam fazer um bloco via internet. “Naquele momento, o máximo que havia eram e-mails. O bloco não conseguiu se realizar do ponto de vista virtual, mas foi se consolidando ao longo do tempo, enquanto o grupo de amigos que produzia anualmente o bloco ia tentando criar temas ligados às transformações sociais e da contemporaneidade”, explicou Lula Jardim. Ele assumiu a direção do bloco em 2011, com amigos.

Foliões

 

Bloco Virtual desfila no Leme a história da criação do mundo – Fernando Frazão/Agência Brasil

O Virtual atrai grande número de foliões. “Chegamos a atrair 20 mil pessoas em alguns anos. Mas isso é variado. Hoje, deve estar girando em torno de 7 mil a 8 mil pessoas”. Esse não é um bloco de samba enredo. Sua tradição é tocar ritmos de carnaval brasileiros. “A gente toca frevo, maracatu, olodum, Música Popular Brasileira (MPB), samba, marchinhas. É uma diversidade. A gente tenta passar por todos os carnavais possíveis do Brasil”.

A banda tem sopros e percussão “e tem também uma bela Comissão de Frente, integrada por meninas e meninos”, além de dançarinos e pernas de pau, destacou Lula Jardim. Como se trata de um espaço de inovação, a agremiação incorpora canções autorais de seus colaboradores, ao mesmo tempo que adapta ritmos excêntricos ao clima carnavalesco, como música clássica, ‘reggae’ e forró. No repertório irreverente figuram compositores como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Luiz Gonzaga, Capiba, Moacir Santos, Timbalada, Brahms, entre outros nomes.

O bloco já desfilou por diferentes partes da cidade do Rio de Janeiro, como praia de Ipanema, Lagoa e, agora, está no Leme. O Virtual continua aberto a sugestões e contribuições vindas da internet, como defendia a ideia original.

Arte

Bloco Virtual desfila no Leme a história da criação do mundo – Fernando Frazão/Agência Brasil

A arte usada na camiseta 2024 do bloco Virtual foi feita por inteligência artificial (IA), com ajuda do designer Zeh Fernandes (@_zehfernandes). A orientação foi criar uma ilustração para a camiseta do bloco que mesclasse o espírito da música Virtual Insanity do Jamiroquai com um toque do estilo de arte abstrata de Wassily Kandinsky, artista plástico russo, introdutor da abstração no campo das artes visuais. A imagem transmite um mundo futurista, onde a tecnologia domina sobre os elementos naturais, utilizando cores vivas e brilhantes. O fundo dinâmico simboliza a mistura contínua, porém caótica, de realidade e virtualidade.

Diretora-geral da OMM: “As alterações climáticas podem ser mais extremas este ano”

7 de janeiro de 2024

 

As mudanças climáticas podem ser ainda mais extremas este ano, disse a diretora-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Celeste Saulo.

Saulo, que tomou posse no dia 1º, disse em comunicado de imprensa: “A humanidade viveu o ano mais quente já registrado no ano passado” e “uma vez que o impacto do El Niño na temperatura e fenômenos climáticos forem totalmente revelados, neste ano podem ocorrer eventos climáticos muito mais quentes e extremos”, alertou.

As alterações climáticas são “a maior ameaça global do nosso tempo”, disse a secretária-geral Saulo.

No cargo, ela disse que promoveria o fortalecimento da diversidade geográfica dentro do Secretariado da OMM e manteria relações estreitas com o setor privado para estabelecer um sistema de alerta precoce em preparação para as alterações climáticas.

Anteriormente, a OMM afirmou num relatório que 2023 foi considerado como o ano mais quente da história, registando uma temperatura cerca de 1,4°C superior à temperatura média pré-industrial, quebrando por uma larga margem o recorde anterior de 1,2°C estabelecido em 2016.

 

Mudanças climáticas prejudicam crescimento do Brasil, avalia OCDE

Os eventos extremos provocados pela mudança climática estão prejudicando a infraestrutura brasileira e comprometendo o crescimento do país, informou nesta segunda-feira (18) a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No relatório Estudos Econômicos da OCDE: Brasil, documento bianual com perspectivas para o país, a organização sugere planejamento nas obras públicas, novas políticas urbanas e o cumprimento mais amplo do Código Florestal.

“A infraestrutura pública [do Brasil] é particularmente vulnerável a choques climáticos em meio a uma rápida, não planejada e descontrolada urbanização”, destacou a OCDE, organização formada por países que se comprometem com metas econômicas, sociais, ambientais e institucionais e à qual o Brasil está em processo de adesão. Segundo a organização, tanto as secas como as enchentes trazem prejuízos à infraestrutura brasileira.

“Secas frequentes e aumento das temperaturas vão criar desafios para fornecimento de energia, particularmente de fontes hidrelétricas”, destacou o relatório. Em relação às chuvas, a OCDE ressalta que os deslizamentos e as enchentes trazem prejuízos às cidades e ao transporte. “As enchentes compõem 65% dos riscos naturais [no Brasil], e os danos associados a enxurradas e deslizamentos foram responsáveis por 74% das mortes relacionadas a desastres naturais entre 1991 e 2010”, informa o documento.

A OCDE cita um estudo do Banco Mundial de 2021 segundo o qual a mudança climática custa 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos) a cada ano para as empresas do país. Segundo o relatório, 55% dos prejuízos afetam as infraestruturas de transporte, 44%, o fornecimento de energia e 2%, o abastecimento de água. O relatório destaca que a queda no nível dos reservatórios das hidrelétricas entre 2013 e 2021 ameaçou o fornecimento de energia num país onde dois terços da matriz energética está associado às hidrelétricas.

Recomendações

O relatório forneceu uma série de recomendações ao Brasil para enfrentar as mudanças climáticas. A primeira diz respeito à melhoria do planejamento, do financiamento e da entrega de empreendimento de infraestrutura para considerarem a resiliência climática. Segundo a OCDE, os projetos precisarão ter apoio legislativo, orçamentário e claras responsabilizações que considerem eventos climáticos extremos.

“Um portfólio otimizado de ativos de infraestrutura levaria em conta a análise do custo-benefício, com alguns ativos [empreendimentos] sendo resilientes ao clima, mas não necessariamente todos”, aconselhou o relatório.

A OCDE também pediu revisões das políticas urbanas para evitar novas construções em áreas de risco e reduzir o impacto das mudanças climáticas. “Elaborar diretrizes para apoiar as prefeituras em levantar os riscos climáticos e integrá-los ao planejamento fundiário e fornecer mapas de riscos e acesso a informações climáticas às prefeituras para que executem o levantamento de perigos melhoraria o planejamento urbano”, destacou o documento. O relatório também pediu mais investimentos em transporte coletivo para reduzir a vulnerabilidade da infraestrutura deste setor,

De maneira mais ampla, a OCDE pediu o desenvolvimento do mercado de carbono, com a melhoria dos mecanismos de precificação das emissões de gás carbônico, para reduzir a emissão. Por meio desse mercado, investidores de países desenvolvidos financiam projetos de recuperação florestal ou de desenvolvimento socioambiental em troca de emitirem carbono nos países de origem.

A organização também pediu o reforço do cumprimento da legislação contra o desmatamento. “Um cumprimento mais rigoroso do Código Florestal, somado a recursos mais adequados para as agências reguladoras, deve ajudar a reduzir o desmatamento”, destacou.

Novamente citando estimativas do Banco Mundial, a OCDE estima que os investimentos para adaptar a infraestrutura às mudanças climáticas custam, em média, 0,8% do PIB por ano entre 2022 e 2030, variando conforme o tipo de infraestrutura. O custo alto, ressaltou o relatório, seria compensado pela diminuição dos prejuízos e pelo retorno econômico. “No setor de infraestrutura rodoviária, um investimento de 1,2% do PIB melhoraria significativamente a resiliência climática de 23% dos novos investimentos necessários para a próxima década. Além disso, evitaria perdas estimadas em 2,5% do PIB”, afirmou o relatório.

Mudanças climáticas podem agravar quadro de doenças como dengue e zika

Os riscos apresentados pelas mudanças climáticas no Brasil podem levar à proliferação de vetores, como o mosquito Aedes aegypti e, em consequência, ao agravamento de arboviroses, como dengue, zika e chikungunya. O alerta é de levantamento na área da saúde feito pela plataforma AdaptaBrasil, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). As projeções indicam também expansão da malária, leishmaniose tegumentar americana e leishmaniose visceral.

O trabalho levou em conta as temperaturas máxima e mínima, a umidade relativa do ar e a precipitação acumulada para associar a ocorrência do vetor, que são os mosquitos transmissores das diferentes doenças em análise. A AdaptaBrasil avalia também a vulnerabilidade e a exposição da população a esses vetores.

“Uma temperatura maior, com uma precipitação maior, pode levar a uma maior proliferação de diferentes mosquitos, insetos que são transmissores dessas doenças, conhecidas como arboviroses”, explicou à Agência Brasil o coordenador científico da plataforma, Jean Ometto. “Normalmente, a gente tem ocorrência maior de dengue e chikungunya no verão”, observou.

Outro elemento analisado na plataforma é o quanto a população está exposta e o quão vulnerável ela é à ocorrência dessas doenças. “A gente percebe que, em determinadas regiões, pode haver um aumento da ocorrência dessas enfermidades e populações mais vulneráveis e expostas ficam mais suscetíveis a adoecerem por essas diferentes doenças”,disse Ometto, acrescentando que a identificação de que regiões poderão ser mais atingidas depende do tipo da doença.

Problema social

O coordenador científico da AdaptaBrasil esclareceu que, normalmente, essas doenças acontecem quando há uma pessoa ou outro organismo animal que possa estar infectado. Em geral, populações mais vulneráveis, que apresentem condições de saúde e habitação mais precárias, tendem a ficar mais suscetíveis a uma ocorrência maior da doença.

“Hoje já é assim. Mas a tendência é que isso se agrave. A gente vê hoje que muitas dessas doenças não são exclusivas de populações menos favorecidas. Mas a ocorrência maior é nessas populações. E isso tende a se agravar”, explicou.

Ometto alertou que se trata de um problema social “super dramático”, que precisa ser resolvido.

De acordo com Ometto, condições melhores de vida, saúde e infraestrutura ajudam e contribuem bastante para que a população fique menos exposta a essas doenças, de modo a que possam ser atacadas de forma sistêmica, a partir do planejamento territorial, de atendimento e de emergência em saúde.

O Brasil, segundo Ometto, tem uma estrutura de apoio à saúde muito importante, que é o Sistema Único de Saúde (SUS), bastante singular no mundo. “Só que a gente não está preparado para situações emergenciais. Quando ocorre um pico de doença, o país não tem estrutura física que possa atender a todos que estão doentes. Os postos de atendimento ficam sobrecarregados. Isso tende a se agravar”.

Atuação ampliada

O coordenador da AdaptaBrasil defende que essa estrutura precisa ser pensada dentro de um contexto de amplitude de atuação e de acesso, e melhorada em termos de infraestrutura, capacidade de atendimento, qualificação das pessoas que estão atendendo nesses locais, além de planos para que situações emergenciais possam ser atendidas.

“É preciso olhar para o sistema de saúde de forma sistêmica, desde a população em si até os sistemas de atendimento”.

Outra coisa importante para Ometto, é olhar de maneira preventiva todo o processo, de modo a identificar quais são os elementos em que pode atuar, seja no controle de proliferação dos insetos, seja na infraestrutura e qualidade das habitações, até a situação de atendimento às ocorrências.

“Esse olhar sistêmico para a saúde é superimportante. E o que vai acabar acontecendo com as mudanças climáticas é o agravamento. A gente está caminhando para um outro nível de impacto associado às mudanças do clima”, alertou.

O coordenador da Adapta Brasil lembra da falta de estrutura observada recentemente durante a pandemia da covid-19. “Era algo que as pessoas diziam que podia acontecer mas, quando aconteceu, não tinha infraestrutura, nem capacitação dos profissionais, dos equipamentos. Essa analogia é muito importante e muito válida”, ponderou Ometto.

Ele chama a atenção que, durante a covid-19, as populações mais impactadas e que mais sofreram foram as menos favorecidas de alguma forma, as mais carentes. “Estratos da sociedade que são mais vulneráveis realmente pelas condições sociais e econômicas”.

O pesquisador informou que a plataforma está trabalhando, no momento, dados referentes à dengue e à zika. Os resultados deverão ser divulgados no início de 2024. Já os dados da chikungunya estão previstos para lançamento ao longo do próximo ano.

Impacto

Ometto explicou que a plataforma apresenta um risco de impacto. “Ela não apresenta uma situação emergencial nem de ocorrência efetiva. Aponta as condições de infraestrutura, sociais, econômicas e ambientais em determinado município em que, em um evento associado às mudanças climáticas, a ocorrência de determinada arbovirose possa ser maior ou não”.

A AdaptaBrasil pretende ser uma ferramenta para o planejamento territorial de ações setoriais, como saúde, considerando a mudança climática como algo que já está afetando a sociedade brasileira. A plataforma permite ver o risco de que isso possa acontecer. Dentro dos elementos que compõem, na realidade, o risco de impacto, como vulnerabilidade e exposição, o gestor municipal pode identificar os indicadores que levam a um potencial agravamento da situação de ocorrência de determinada enfermidade. Também a sociedade civil pode se basear nos dados da plataforma para tomar decisões sobre ações, ou seja, tomar atitudes para reduzir o nível de risco.

A AdaptaBrasil trabalha junto com o MCTI e o Ministério do Meio Ambiente (MMA) para que a plataforma seja uma das ferramentas de apoio ao Plano Nacional de Adaptação, de planejamento de ações de adaptação, em decorrência das mudanças climáticas no país.

Expansão

Jean Ometto esclareceu que, no momento, nesse trabalho feito em parceria com a Fiocruz, o foco são as arboviroses. A ideia, porém, é ampliar a pesquisa para ondas de calor, que afetam sistemas cardiovascular e respiratório. “Estamos entrando esta semana em mais uma onda de calor e devemos passar 70 dias com temperatura acima da média para o período e que pode afetar, sem dúvida, a saúde das pessoas”.

O tema será trabalhado ao longo de 2024, anunciou Ometto.

O objetivo é trazer informação científica mais atualizada sobre a temática. A plataforma se baseia em informações científicas para que possa ter um lastro importante a fim de que as decisões sejam tomadas com base na melhor ciência existente no país.

Jean Ometto é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), onde atua na Divisão de Impactos, Adaptações e Vulnerabilidades, que estuda a questão das mudanças climáticas em diversos setores, e um dos maiores especialistas em impacto e vulnerabilidade de adaptação atualmente no Brasil. Ele também é membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) nessa temática.

Festival debate papel dos povos indígenas nas questões climáticas

O Festival Brasil é Terra Indígena, Iniciado nesta quarta-feira (13) em Brasília, sediou uma série de debates e celebrou a importância dos povos originários para o Brasil e para o mundo. Entre os temas levantados, esteve em destaque a preservação das florestas.

Mesa de debate”Questões climáticas, o que é isso? Participantes, da esquerda para direita: mediadora, Jozileia Kaingang, Suliete Baré, Conceição Amorim e Beka Munduruku- Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Na mesa Questões Climáticas, o que é isso?, nesta quinta-feira (14), a mediadora, secretária substituta de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas do Ministério dos Povos indígenas, Joziléia Kaingang, apresentou dados divulgados pelas Nações Unidas que mostram o tamanho da importância dos povos originários. “As populações indígenas representam 5% da população do planeta e é responsável pela manutenção de 80% da biodiversidade”, pontuou a secretária. “Nós, povos indígenas, somos responsáveis por frear o aquecimento global”, acrescentou.

o deputado distrital Max Maciel (PSOL-DF) defendeu que as forças de quem preserva e de quem prejudica são desproporcionais. “Enquanto o agronegócio tem muitas isenções e apoios financeiros bilionários, vemos extrema dificuldade até para pagarmos a passagem para alguém participar de um debate como este”, resumiu. A mediação do debate ficou a cargo da secretária substituta de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas do Ministério dos Povos indígenas, Joziléia Kaingang, que iniciou a mesa apresentando dados

Deputado Max Maciel fala da dificuldade que os indígenas têm para defender os interesses ambientais  – Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Impacto

Comunicadora da Mídia Indígena e integrante do Coletivo Daje Kapap Eypi, Beka Munduruku disse que, mesmo com todo o esforço por preservar suas terras, o povo munduruku do Tapajós tem visto cada vez mais seu território ser afetado por alagamentos e destruição.

“Falamos muito em proteger a Amazônia e a floresta, mas pouco em proteger os indígenas e o território de nossa futura geração. Tanto nossas aldeias como nossos territórios sagrados. Isso afeta o meu futuro e o dos demais jovens”, disse a munduruku.

A coordenadora Geral de Enfrentamento à Crise Climática do Ministério dos Povos Indígenas, Suliete Baré, acrescentou que praticamente todos os territórios indígenas já estão com problemas por conta das mudanças climáticas. “Somos os que mais protegem nossos territórios. Mas somos também os mais afetados. Seja pelas secas, seja pelas enchentes fora de época”, alertou.

Suliete Baré destaca que praticamente todos os territórios indígenas já foram impactados pelas mudanças climáticas- Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

A coordenadora do Centro de Defesa dos Direitos Humanos Padre Josimo, Conceição Amorim,  enfatiza que só quem mora perto das comunidades indígenas sabe o que se passa por nelas, “para enfrentar os desmatadores”.

Mobilizações

Conceição Amorim, que também é assistente social e professora no Maranhão, explica que são muitas as frentes de desmatamento e de empreendimentos prejudiciais à floresta e ao meio ambiente. “Era para ter milhões de pessoas contra decisões como a de explorar petróleo na Amazônia”, ressaltou, referindo-se ao leilão feito esta semana pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para 38 blocos exploratórios de 11 bacias sedimentares, inclusive na região amazônica.

Assistente social e professora, Conceição Amorim, participa da mesa de debate Questões climáticas, o que é isso? – Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

“Se não houver grandes mobilizações de impacto e de enfrentamento político – e, por meio delas, darmos o nome a quem destrói o planeta –, nós não vamos avançar. Precisamos desmascarar o agronegócio e os empreendimentos que fazem isso. É uma luta desproporcional, pelo tamanho que esses grandes empreendimentos têm. Há, no Brasil, mais bois do que gente”, acrescentou.

Ao final do debate, Max Maciel disse perceber, nas pessoas “cansaço por tantas lutas, tantos lutos, tantas plenárias e falas”. 

Filme

O festival apresentará hoje o filme Desintrusão na TI Alto Rio Guamá, produzido pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC). A trama retrata todo o processo de negociação para a saída dos ocupantes ilegais deste território indígena, com base em relatos de agentes do Estado, indígenas e não indígenas – entre eles, pequenos agricultores e grandes desmatadores.

Após o lançamento no festival, o filme, de 36 minutos, ficará disponível nos canais do YouTube da Secretaria de Comunicação (SECOM) da Presidência da República e da EBC.

Crises climáticas aumentam drasticamente a fome infantil, diz ONG

28 de novembro de 2023

 

As crianças representavam quase metade das pessoas levadas à fome e à desnutrição devido a fenômenos climáticos extremos em países fortemente afetados pela crise em 2022, de acordo com uma instituição de caridade sediada no Reino Unido.

A Save the Children do Reino Unido disse na terça-feira que as crianças representavam 27 milhões dos 57 milhões de “pessoas empurradas para níveis de crise de insegurança alimentar aguda ou pior em 12 países por causa de condições extremas”.

“À medida que os eventos climáticos se tornam mais frequentes e graves, veremos consequências mais drásticas na vida das crianças”, disse Gwen Hines, CEO da organização. “Em 2022, 135% mais crianças foram empurradas para a fome devido a fenômenos meteorológicos extremos do que no ano anterior.”

Metade dos 27 milhões de crianças afetadas vieram dos países mais afetados, a Etiópia e a Somália.

A Save the Children destacou a Somália como particularmente vulnerável às crises climáticas, apontando para as cinco estações chuvosas consecutivas fracassadas no país e para o recente impacto das inundações que deslocaram 650 mil pessoas, cerca de metade das quais são crianças.

A Save the Children também identificou o Paquistão, que no ano passado viu inundações afetarem cerca de 33 milhões de pessoas, sendo metade delas crianças. Um ano após as cheias, “2 milhões de crianças afetadas pelas cheias estão gravemente desnutridas, com quase 600 mil crianças sofrendo da forma mais mortal de desnutrição”, disse a instituição de caridade.

A Save the Children também apelou aos líderes mundiais dos países de elevado rendimento para enfrentarem a crise climática “fornecendo financiamento para perdas/danos e adaptação climática”.

A Save the Children também apelou à ação dos líderes para resolver a “aguda insegurança alimentar e nutricional, como conflitos, desigualdade e falta de sistemas resilientes de saúde, nutrição e proteção social”.