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Exposição bienal apresenta 130 obras no museu de arte da USP

A capital paulista recebe, a partir deste sábado (5), o 38º Panorama da Arte Brasileira: Mil graus, exposição bienal realizada pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM).

Esta edição terá mais de 130 obras, sendo 79 inéditas, de 34 artistas e coletivos de 16 estados brasileiros. Por conta da reforma na marquise do Parque Ibirapuera, neste ano a mostra será exibida no Museu de Arte Contemporânea da USP, com entrada gratuita.

A mostra aborda questões ecológicas, históricas, sociopolíticas, tecnológicas e espirituais, e utilizam tanto tecnologia avançada quanto materiais orgânicos, como o barro. Segundo a curadoria, o título Mil graus evoca a ideia de um calor-limite, em que tudo derrete, desmancha e se transforma, fazendo referência às condições climáticas e metafísicas de processos de transmutação.

A pesquisa curatorial partiu de cinco eixos temáticos: ecologia geral, territórios originários, chumbo tropical, corpo-aparelhagem e transes e travessias.

Em ecologia geral são destacadas noções ecológicas e práticas ambientais ampliadas. Já em territórios originários, estão narrativas e vivências de povos originários, quilombolas e outros modos de vida fora da matriz uniformizante do capital, que refletem visões alternativas sobre a atual conjuntura do país.

Chumbo tropical traz leituras críticas que subvertem imaginários e representações do Brasil e coloca em xeque aspectos centrais da identidade nacional. De acordo com a curadoria, corpo-aparelhagem é a linha que busca evidenciar intervenções experimentais e reflexões sobre a contínua transmutação corpórea dos seres e das coisas, enquanto transes e travessias aborda conhecimentos transcendentais, práticas espirituais e experiências que canalizam os mistérios vitais.

Um dos curadores desta edição, Germano Dushá, contou à Agência Brasil que o título Mil graus e a ideia de um calor limite, de um quente absoluto, é uma ficção usada como uma chave conceitual.

“Para que a gente possa abordar situações limites, condições extremas, processos dinâmicos ligados à transformação radical, à transmutação como um destino imediato e incontornável, como aquela coisa que tem que acontecer, tem que mudar. Quando a gente fala de uma temperatura máxima, a gente está falando do calor, do fogo, e isso aparece na exposição, mas não é só sobre isso”, disse. Além dele, o evento contou com a curadoria de Thiago de Paula Souza e Ariana Nuala.

Para Dushá, essa transmutação pode aparecer de diferentes modos. “Pode estar na matéria, pode estar no social, no político e também no intangível, no espiritual, no campo da alma. A gente está muito mais preocupado com a energia, é uma energia que a gente aqui está chamando de mil graus, essa energia transformadora e de transmutação”, disse Dushá.

O curador ressalta que mil graus é uma expressão muito popular em contextos urbanos do Brasil. “Tanto pode ser algo ótimo, algo incrível, algo muito bom, você fala assim: nossa, isso é mil graus, isso é muito bom. Como também uma situação tensa, uma situação intensa: cara, vamos nessa porque tá mil graus. Essa ambiguidade interessa muito a gente.”

Dushá afirma que a exposição traz uma série de pontos críticos e linhas de pensamento, nesses cinco eixos. “O primeiro está relacionado com questões ecológicas, o segundo com questões de identidade política, discussões políticas e momentos de tensão e densidade política no Brasil. O terceiro está relacionado com territórios originários, com o que a gente pode entender desse lugar, antes de a gente dar um nome para ele, que se convencionou chamar Brasil. Tem ainda um sobre questões corpóreas, sobre questões de transformação do corpo, na época que a gente está vivendo, e isso também vai abarcar hibridismo, questões interespécies, pós humanas, trans humanas e por fim questões espirituais”, disse.

Artistas e obras

São Paulo-04/10/2024 Vistas da exposição 38º Panorama da Arte Brasileira: Mil graus, do Museu de Arte Moderna de São Paulo, no MAC USP. Fotos: Estúdio em Obra – BRUNO LEAO

Entre os artistas desta edição, estão Maria Lira Marques – que leva uma série com mais de dez desenhos sobre pedras – e Marlene Almeida, que apresenta duas obras: Derrame (2024), uma instalação inédita feita com recortes de algodão cru tingidos com pigmentos originados do basalto e rocha vulcânica, e Tempo voraz II (2012), uma reflexão sobre questões existenciais diante da fugacidade da vida.

O povo Akroá Gamella, em colaboração com Gê Viana e Thiago Martins de Melo, participa como coletivo Rop Cateh – Alma pintada em Terra de Encantaria dos Akroá Gamella, exibindo um grande painel multimídia que expressa a identidade e espiritualidade articuladas pela comunidade.

O artista Paulo Nimer Pjota apresenta uma obra inédita, em cinco telas, em que cria um mar de chamas atravessado por raios de sol difusos, onde animais e seres fantásticos se misturam a lendas e elementos da natureza-morta de diferentes culturas.

Também inédito, um registro documental do centro espiritual e das obras de Dona Romana, líder espiritual da Serra de Natividade, uma das cidades mais antigas do Tocantins, será exibido em larga escala no campo expositivo.

Gabriel Massan apresenta um novo desdobramento de sua obra Baile do terror (2022-2024), na qual traça um paralelo entre a escalada de tensões e violências em âmbito global e os traumas da chamada guerra às drogas no eixo Rio-São Paulo.

Esses são alguns dos artistas e das obras que o público encontrará nesta edição do Panorama da Arte Brasileira, que ficará em cartaz até 26 janeiro de 2025.

A 38º Panorama da Arte Brasileira: Mil graus ficará em cartaz no térreo e no terceiro andar do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. O endereço é Avenida Pedro Álvares Cabral, 1301, e o horário de funcionamento é de terça a domingo, das 10h às 21h.

Bienal Black encerra evento no Instituto Memória Pretos Novos no Rio

A 3ª Bienal Black, exposição itinerante gratuita que nasceu no sul do país, encerra seu quinto e último eixo expositivo (RE)imaginando o Cubo Preto, no Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN), na cidade do Rio de Janeiro. A exposição será inaugurada na próxima sexta-feira (10), às 17h, estendendo-se até o dia 16 de junho. “Cada espaço ganhou um nome diferente. No caso do IPN, o tema é o mesmo do eixo (RE)imaginando o Cubo Preto, disse à Agência Brasil a idealizadora da Bienal Black e uma das curadoras, Patricia Brito.

Ela comentou que o próprio espaço do Instituto é simbólico do ponto de vista da questão social e cultural que o espaço carrega e que o território também carrega. “Então, a gente achou interessante levar essa temática, porque o espaço não é galeria e tampouco é museu. Ele é um espaço de memória. É a partir desse espaço que a gente começa a pensar outros locais expositivos também, que não são convencionais, como a gente conhece. Por isso, a gente reimagina esse cubo preto, ao invés do cubo branco das paredes dos museus e galerias. A gente imagina um local de resistência, de resgate, com essa questão do cubo preto”.

A curadora observou, contudo, que todo o trabalho tem um recorte racial e de gênero. “Mas o título específico ali, não, embora a exposição, com esse título, pode provocar debate. Na verdade, essa é a ideia. Suscitar e provocar debates, mesmo que sejam de cunho racial. Ao falar da troca do cubo branco para o cubo preto, tem conotação racial, sim”, admitiu Patricia Brito.

O objetivo da Bienal Black Arte é expor trabalhos de artistas emergentes, especialmente mulheres. Nesse último eixo, entretanto, dos cerca de 30 trabalhos que serão exibidos, a maioria é de artistas de sexo masculino. “A gente fez uma parceria colaborativa com o Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN) e sua agenda bem efervescente, por conta desse espaço do Muhcab (Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira), que ainda está em reforma e não foi possível permanecer com a agenda do museu”.

Atividade ampla

O último eixo da 3ª Bienal Black não se resume só à exposição. Terá uma atividade bem ampla, englobando palestras, oficinas, que vão ser dadas presencialmente no IPN e também em escolas da rede pública de ensino. Haverá ainda sessão de autógrafos, sarau e roda de samba. “Não pode terminar sem o samba”, destacou Patricia. A programação pode ser conferida no site.

No dia 10 de maio, às 17h, a sala de conferência do IPN sedia a oficina Ressignificando os Sentidos: Experiência de Escrita Criativa ministrada pelo coletivo paulista NósDuas. A partir das 19h, o historiador carioca Jorge Amilcar de Castro Santana ministrará a palestra Jogo de Memória: Navegando pelos Fluxos da Cultura, História e Futebol. Em seguida, acontece um Sarau Afro-Poético conduzido pela artista carioca Sol de Paula e convidados. No dia 14 de junho, às 14h, será dada a oficina Ponto de Fuga, ministrada por Robson Ferreira, de Minas Gerais, voltada para alunos de escolas públicas. A visitação à exposição pode ser feita de terça a sexta-feira, das 10h às 16h, e aos sábados, das 10h às 13h.

A exposição completa da Bienal Black reúne mais de 270 trabalhos de 225 artistas de todo o país e do exterior, que foram divididos em seis espaços da cidade do Rio de Janeiro e em Niterói, região metropolitana, além de programação virtual. O circuito na capital fluminense foi iniciado em 27 de março em variados locais que incluem o Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, Centro de Artes Calouste Gulbenkian, Centro Cultural dos Correios, Teatro Municipal Gonzaguinha, Cidade das Artes, Espaço Cultural Correios, Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro, Museu do Samba, Museu da Maré e, agora, o Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos.

A 3ª Bienal Black tem organização e produção do Instituto Black Brazil Art e financiamento por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet). O patrocínio é do Grupo Carrefour Brasil, com apoio da prefeitura carioca e da Secretaria Municipal da Cultura.

Evento itinerante Bienal Black Brazil Art ocupa espaços no Rio

O Rio de Janeiro recebe, no próximo dia 27, a 3ª Bienal Black Brazil Art, exposição itinerante gratuita que nasceu no sul do país e agora chega à capital fluminense, reunindo artistas emergentes. “É uma bienal para homens e mulheres, negros e brancos. Não é só de mulheres negras, embora o nosso acervo maior seja de mulheres”, afirmou à Agência Brasil a idealizadora da bienal e uma das curadoras dessa edição, Patricia Brito.

A abertura da Bienal Black será no dia 27, às 19h, no Teatro Gonzaguinha, região central da cidade. O evento compreende um circuito de exposições. “A gente mapeou espaços e equipamentos culturais municipais na cidade do Rio e, por fim, fomos convidados também para um equipamento público em Niterói, região metropolitana do Rio. A Bienal chega no Rio de Janeiro para fazer uma ocupação em alguns espaços públicos”

Rainha Quilomba, a Espada de Ogum, e o Pedido de Justiça (2023), desenho – artista Elson Junior (BA) – Arte: Elson Junior

As atividades se dividem entre o Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, Centro de Artes Calouste Gulbenkian, Centro Cultural dos Correios, Cidade das Artes, Espaço Cultural Correios e Museu da História e da Cultura Afro-brasileira (Muhcab). Tem atrações programadas para ocorrer também no Museu do Samba e Museu da Maré. Durante a abertura, haverá divulgação dos artistas premiados e apresentação de trabalhos artísticos de pré-estreia.

As exposições reúnem mais de 270 trabalhos de 225 artistas de todo o país e do exterior, divididos nos espaços da cidade e com programação virtual. O evento se estenderá até 16 de junho e inclui programação extensa, que pode ser conferida no site bienalblack.com.br. Cada espaço cultural tem datas de abertura para visitação e encerramento diferentes.

Eixos temáticos

Cada espaço expositivo tem um eixo temático, que é norteador do diálogo, expôs Patricia. “Cada pessoa que entrar nesse local expositivo vai tomar conhecimento, através de um texto explicativo, de qual é a temática. No Centro Hélio Oiticica, por exemplo, o eixo expositivo é linhas insurgentes. Todos os trabalhos selecionados para o local têm a ver com a narrativa da insurgência, da resistência. Então, cada espaço tem o seu eixo artístico”. Haverá também atividades diurnas, com performances, apresentações musicais. Uma delas será no dia 27, na sala de projeções do Centro Cultural Correios, quando haverá a primeira conversa com artistas às 15h, também com entrada franca.

Patricia Brito reiterou que a ideia da Bienal Black é ocupar os espaços públicos e provocar a discussão entre que tipo de obra e de artista esses espaços selecionam para mostrar à população. “Como eu trago no recorte curatorial e de trabalho a questão do gênero e da raça, a discussão que eu trago para dialogar com os artistas negros e não negros é a ocupação por gênero e por raça. A grosso modo, se a gente vai a um museu ou galeria, a gente está vendo um perfil exclusivo do artista colonial dominando essa cena artística. O papel da Bienal é mostrar outra realidade, uma produção que tem no Brasil, que não é feita só pelos colonizadores, mas pelos colonizados também. Essa é uma das razões da itinerância do evento”.

Pelo fato de ser itinerante, a Bienal Black começou no Rio Grande do Sul, percorreu todas as capitais do Sul do país, foi para o universo digital durante a pandemia da covid-19 e, este ano, os organizadores resolveram assumir o protagonismo na cidade do Rio de Janeiro. A escolha se baseou, principalmente, pela temática trazida de fluxo e contrafluxo de pessoas, que é muito forte na capital fluminense, através da imigração de nortistas e nordestinos, e trazendo também a discussão sobre os problemas representativos, identitários e raciais. Ter o Rio de Janeiro como sede desta edição reforça ainda a importância da cidade como um polo de difusão cultural e artística. A atração deste ano foi construída a partir de cinco eixos expositivos: Linhas Insurgentes, Redes de Transmissão, Práticas Geradoras, (RE)imaginando o Cubo Preto e Memórias (trans)locadas, gerando respostas artísticas que variam desde relatos pessoais até meditações poéticas.

Curadores

A terceira edição da Bienal Black Brazil Art contou com a colaboração de quatro curadores convidados: Claudia Mandel Katz (Costa Rica), Edwin Velasquez (Porto Rico), Julio Pereyra (Uruguay) e Vinicius (Alemanha). Segundo explicou Patricia Brito, o pensamento foi estabelecer um ambiente propício para exploração e reflexão sobre migração, desigualdades sistêmicas de gênero, narrativas transculturais e identidades em fluxos.

“Todos desenvolvem trabalhos em seus países identificados com as premissas do Instituto Black Brazil Art, “que é a valorização da cultura afro, no sentido afrodiaspórica, afrocaribenha, afrolatino-americana. Mesmo o Uruguai, que tem um recorte racial muito pequeno, a gente traz porque existe toda uma cultura negra no país”, esclareceu Patricia. Há também intenção de discutir produção artística do Sul Global e criar referências próprias da região e não referências europeias.

A 3ª Bienal Black tem organização e produção do Instituto Black Brazil Art e financiamento por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet). O patrocínio é do Grupo Carrefour Brasil, com apoio da prefeitura do Rio de Janeiro, por meio da Secretaria Municipal da Cultura.