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Assassinato de líder do Hamas em batalha deve transformá-lo em símbolo

A forma como o líder do grupo Hamas e comandante do 7 de outubro, Yahya Al-Sinwar, foi assassinado na Faixa de Gaza reforça a influência do grupo islâmico e o torna um símbolo da resistência contra a ocupação de Israel e da causa Palestina.  É o que defendem especialistas entrevistados pela Agência Brasil.

Para esses pesquisadores, o assassinato de Sinwar em meio a uma batalha entre o Hamas e militares israelenses travada na cidade de Khan Yunes, ao sul da Faixa de Gaza, nessa quinta-feira (17), acaba com a versão de Israel de que a liderança vivia escondida em túneis ou no luxo em algum exílio.

24/10/2023, Rashmi Singh diz que a forma com que o líder foi encontrado mostra que ele estava na linha de frente – Frame/TV Assembleia MG

“A forma como foi encontrado e morto mostrou que ele estava a lutar na linha da frente e no campo de batalha, o que não só o transformou num mártir, mas também numa força de mobilização para o Hamas e outro grupos. Basta ver como a imagem dele de uniforme e keffiyeh [manto árabe tradicional] com o braço machucado se tornou viral na internet – está sendo transformado em um símbolo”, destacou Rashmi Singh, professora de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais.  

As imagens divulgadas por Israel de Al-Sinwar – ainda vivo – coberto de poeira dentro de um prédio semidestruído viralizou pelo mundo.

O pós-doutor em ciências sociais e especialista em relações internacionais Marcelo Buzetto avaliou que o impacto, entre os palestinos deve ser o de reforçar o papel de grupos armados como o Hamas.

Marcelo Buzetto é autor do livro A questão Palestina; guerra, política e relações internacionais – Marcelo Buzetto/Arquivo Pessoal

“Será um exemplo porque esses combatentes fizeram uma opção política de não ir para o exílio e de ficar no território lutando. Essa história vai ser contada e vai se multiplicar o número de combatentes anticolonialistas por todo o mundo árabe, por todo o mundo islâmico. Tem uma simbologia muito grande”, comentou o autor do livro A questão Palestina; guerra, política e relações internacionais.

Segundo a Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), a família de Yahya Al-Sinwar não era de Gaza, apesar de ele ter nascido em um campo de refugiados em Khan Younis, em 1962. Seus pais teriam sido expulsos do vilarejo Majdal Asqalan, que virou Ashkelon após a criação de Israel.

“Sinwar será lembrado como mártir e herói do povo palestino, ao lado de figuras como Yasser Arafat e Sheikh Izz El-Din Qassam, e de todos que rejeitam viver sob o jugo colonial”, disse a entidade, em nota. 

Sinwar chegou a ficar 23 anos presos em Israel, tendo sido libertado em acordo de troca de prisioneiros. Ele era chefe do escritório político do Hamas, em Gaza, e foi o comandante do ataque contra Israel em 7 de outubro.

A liderança palestina teve um pedido de prisão feito pela procuradoria do Tribunal Penal Internacional (TPI) acusado de crimes de guerra pelo 7 de outubro, quando 1,2 mil pessoas morreram. A procuradoria do TPI também pediu a prisão do primeiro-ministro de Israel, Benajmin Netanyahu, por acusações de crimes de guerra em Gaza.

Consequências

Tanto o presidente dos Estados Unidos (EUA), Joe Biden, quanto a vice-presidente Kamala Harris, candidata à sucessão de Biden na eleição do próximo dia 5 de novembro, avaliaram que a morte de Sinwar seria uma oportunidade para encerrar a guerra.

Netanyahu, por outro lado, afirmou que a guerra continua, mas que esse seria “o começo do fim” do conflito e que o país seguirá tentando trazer de volta os 101 reféns ainda em poder do grupo palestino. O chefe do Estado israelense diz que a guerra só deve acabar quando o Hamas entregar as armas. 

Ao confirmar a morte de Sinwar nesta sexta-feira (18), o Hamas informou, por meio de nota, que seguirá lutando. “Esses prisioneiros [sequestrados no dia 7 de outubro] não retornarão, exceto parando a agressão em Gaza, retirando-se dela e libertando nossos heroicos prisioneiros das prisões da ocupação”, informou o grupo.

A professora Rashmi Singh, autora do livro O Hamas e o terrorismo suicida: abordagens multicausais e multiníveis, a morte de Sinwar é uma perda importante para organização, mas não pode ser visto como um enfraquecimento do grupo.

“O Hamas perdeu muitos dos seus principais membros ao longo dos últimos 30 anos e, em todas as ocasiões, não só sobreviveu à perda como substituiu rapidamente o líder por um dos seus membros. A estrutura do Hamas permite-lhe funcionar em unidades e células, o que o torna capaz de resistir à pressão de assassinatos”, afirmou.  

Para a especialistas, foi a ocupação de Israel que possibilitou o surgimento do Hamas. “Até que isso mude, o Hamas e outros grupos de resistência que utilizam táticas violentas, incluindo o terrorismo, não desaparecerão”, acrescentou.

Batalha da Sé ou “Revoada dos Galinhas Verdes” completa 90 anos

A chamada “Batalha da Sé”, ou “Revoada dos Galinhas Verdes”, que ocorreu na capital paulista em 7 de outubro de 1934, completa 90 anos nesta segunda-feira (7), Nessa data, um amplo contingente de integralistas, a versão local do fascismo, foi expulso do centro da capital. Apesar de pouco conhecido, o episódio foi marcante na história do país, definidor dos rumos da política, então sob a presidência de Getúlio Vargas.

Um dos livros mais importantes do historiador marxista Eric Hobsbawn, intitulado A era dos extremos, trata dos movimentos políticos do século passado – época de experimentos políticos extremos, por todos seus lados. entre os principais, o nazifascismo de Hitler e Mussolini, respectivamente na Alemanha e Itália, e o socialismo de Stálin, na antiga União Soviética.

As tensões entre as linhas ideológicas tão distintas não se resumiram aos limites europeus, mas se reproduziram em outros continentes. No Brasil não foi diferente. A Batalha da Sé uniu grupos de socialistas, anarcossindicalistas, comunistas e democratas em geral, de várias correntes contra cerca de 8 mil pessoas da Ação Integralista Brasileira (AIB), de Plínio Salgado.

A batalha terminou com um morto, o jovem líder comunista Décio de Oliveira, além de vários feridos, inclusive entre as forças policiais alinhadas aos integralistas, que eram chamadas de galinhas verdes por causa da cor do uniforme que usavam em suas marchas e comícios. Postos a correr, os integralistas fugiram pelas ruas de São Paulo, deixando um rastro de camisas espalhadas pelas ruas.

Ao relatar o acontecimento, o Jornal do Povo, do humorista Barão de Itararé (ou Apparício Torelli), publicou em sua capa uma manchete que ficaria famosa: “Um integralista não corre: voa”.

Para explicar e contextualizar o movimento da Praça da Sé, a Agência Brasil entrevistou o professor livre-docente da Universidade de Campinas e pesquisador da Universidade Paris-Cité, o sociólogo Fabio Mascaro Querido.

Agência Brasil: em sua opinião, qual a importância do episódio para a política nacional daquele período pré-ditadura de Vargas?

Fabio Mascaro Querido: a chamada Revoada dos Galinhas Verdes foi, sem dúvida, um dos acontecimentos mais emblemáticos do antifascismo brasileiro. Em 7 de outubro de 1934, diversos grupos e correntes políticas diferentes, como o PCB, o PSB, os anarquistas e, com notável destaque, os trotskistas da Liga Comunista Internacionalista, se uniram no combate a um inimigo comum. E o fizeram por meio da ação direta, colocando literalmente para correr, em plena Praça da Sé, os militantes da AIB – os “galinhas verdes” – que ali realizavam um ato.

Na época, a contramanifestação foi importante para a política nacional porque, entre outras coisas, contribuiu para o enfraquecimento da AIB. Ao mostrar a força antifascista dos trabalhadores organizados, o episódio ajudou a desmotivar a tentativa de Vargas de se servir da AIB para acelerar o processo de instauração de um regime autoritário, o que de fato aconteceria a partir de 1937, com o Estado Novo, mas sem a participação dos integralistas.

Agência Brasil: o integralismo era uma força política considerável na época, seguindo os rumos do nazismo na Alemanha e do fascismo italiano. O que o senhor considera ser a principal diferença no modelo extremista de direita no Brasil e de seus equivalentes europeus (se é que existe tal diferença)?

Fabio Mascaro: o integralismo era uma versão “nacionalizada” do fascismo europeu. De certa forma, ele teve o mérito de transformar o fascismo numa ideologia efetivamente brasileira. Os integralistas, em especial Plínio Salgado, construíram uma narrativa mais ou menos coerente do que era (e do que deveria ser) o Brasil. Pode-se dizer que o integralismo era o fascismo na periferia do capitalismo. Ao seu modo, ele se inseria no discurso modernizante que, na época, era compartilhado por quase todo mundo, inclusive pela esquerda. O fascismo europeu, por sua vez, é, antes, uma expressão dos paradoxos da modernidade, do progresso que se transformou em barbárie, não no sentido de uma simples regressão, mas sim no de uma barbárie moderna, que industrializou a própria morte. Em comum, todas essas versões do fascismo, no Brasil ou na Europa, se apresentam como último recurso de um sistema para o qual a democracia liberal se tornou incapaz de garantir sem sobressaltos a sua reprodução.  

Agência Brasil: é possível estabelecer algum paralelo entre a ascensão do extremismo de direita da primeira metade do século passado e do verificado hoje, nestas primeiras décadas do século 21?

Fabio Mascaro: há alguns paralelos, mas também importantes diferenças. O fascismo histórico, vamos dizer assim, na Itália ou na Alemanha, tinha um projeto de subversão radical do status quo, a fim de impor novo poder instituidor. Daí a mobilização (e a violência) permanente, assim como a identificação de inimigos internos: os judeus, os comunistas, os ciganos etc.

Muito disso está presente na extrema-direita contemporânea, mas com alguns matizes. Em geral, a extrema-direita de hoje (ao menos aquela com pretensão hegemônica) joga nos limites das regras democráticas, forçando ao máximo as suas margens, mas sem, por enquanto, considerar a possibilidade de construção de um novo sistema social. Vale lembrar, em todo caso, que mesmo o nazismo, nos seus primeiros anos, apresentou uma fachada institucional antes de assumir a sua inclinação golpista e totalitária. Fica como um aviso – ou um alarme de incêndio, para dizer como Walter Benjamin – para a luta contra a extrema-direita atual: nós sabemos como começa, mas não como termina.

Agência Brasil: qual seria o grau de preocupação que os defensores dos regimes democráticos devem ter com a nova onda reacionária atual? Ou trata-se de algo passageiro?

Fabio Mascaro: a preocupação deve ser total, mas sem recair no catastrofismo. A ameaça é real e já se faz sentir em vários países, inclusive no Brasil. Infelizmente, o problema está longe de ser passageiro. A extrema-direita se alimenta de uma crise social que é real e cujas causas são estruturais. Mas a saída que apresenta não apenas não resolve os problemas identificados, como os radicaliza, situação em face da qual a violência política e social se mostra necessária. Proclamando-se contra o “sistema”, a extrema-direita representa, na verdade, a garantia de que o sistema (o capitalismo) vai continuar funcionando, custe o que custar.

Isso não significa, porém, que a ascensão da extrema-direita seja inevitável. Trata-se de um fenômeno político que, como tal, pode ser derrotado, o que depende da capacidade das forças que se dizem democratas de apresentar uma outra saída – estrutural – para a crise civilizatória que vivemos.

Agência Brasil: por que a esquerda não consegue mais seduzir boa parcela da população, principalmente os jovens, diferentemente das recentes décadas passadas?

Fabio Mascaro: aqui está boa parte da explicação da ascensão da extrema-direita: o declínio da capacidade das esquerdas, social e política em geral, de dialogar com setores da sociedade que outrora compunham suas bases sociais. Há vários aspectos que explicam esse processo: ascensão do neoliberalismo, mudanças no mundo do trabalho, encurtamento do horizonte de expectativas etc. Nesse cenário, as esquerdas – submetidas a pressões de diversas ordens – tenderam a se acomodar numa posição defensiva, muitas vezes focando em questões societais ou identitárias. Questões fundamentais, sem dúvida, mas cujo protagonismo diante das lutas sociais e econômicas mais amplas deixou as esquerdas órfãs de um projeto alternativo de sociedade. É por isso que hoje, paradoxalmente, é a extrema-direita que se apresenta, para muita gente, como a verdadeira alternativa a “tudo o que está aí”.

Agência Brasil: o ressurgimento do extremismo reacionário revela um esgotamento do atual modelo político-partidário? Do modo de fazer política?

Fabio Mascaro: sem dúvida. No Brasil e em vários outros países do mundo, as últimas décadas demonstraram um alheamento do sistema político em relação àqueles que, em tese, ele deveria representar. Na Europa e nos Estados Unidos, o fato de que, nas últimas duas ou três décadas, os principais partidos (da esquerda e da direita tradicionais) tenham levado a cabo a mesma política econômica (neoliberal) fortaleceu a sensação, em parcelas expressivas da sociedade, inclusive no âmbito das classes populares, de que os políticos são todos iguais, de que a política é um engodo, e assim por diante. No Brasil a situação é relativamente singular, sobretudo em função dos primeiros governos Lula que, mesmo sem romper com o neoliberalismo, fortaleceu a atenção aos mais pobres. É isso o que explica por que, ao contrário da europeia, por exemplo, a extrema-direita brasileira reivindica, sem complexos, um neoliberalismo puro e duro.

Agência Brasil: como no passado, os meios de comunicação tiveram papel importante, senão fundamental, na ascensão e crescimento do fascismo. É possível responsabilizar as novas formas de comunicação, principalmente as redes sociais digitais, pelo ressurgimento do extremismo de direita no mundo?

Fabio Mascaro: a principal responsabilidade dos meios de comunicação está no modo como eles “normalizam” questões levantadas pela extrema-direita. Esse mecanismo é amplificado nas chamadas redes sociais contemporâneas, em cuja cacofonia a extrema-direita nada de braçada. Mas, tão importante quanto analisar a responsabilidade dos meios de comunicação é entender o que faz com que as pessoas se disponham a encampar as ideias apresentadas. Há uma postura ativa aí, que é diferente da mera ignorância. Para combater essas ideias, é preciso, portanto, compreender a insatisfação que a potencializa, a fim de apresentar uma alternativa credível contra o “salve-se quem puder”, com o qual a extrema-direita joga com o problema, sem resolvê-lo.

Tailândia observa de perto batalha pela cidade fronteiriça de Mianmar

Myawaddy

28 de abril de 2024

 

A Tailândia permanece alerta enquanto o conflito em Mianmar continua, de acordo com funcionários do governo tailandês que visitaram a fronteira da Tailândia com Mianmar esta semana.

Os comentários surgem no momento em que continuam os novos combates entre grupos étnicos anti-junta e os militares pelo controlo de Myawaddy, um centro comercial crucial do outro lado da fronteira de Mae Sot.

Mianmar está em crise desde o golpe militar em Fevereiro de 2021. O país evoluiu para um conflito armado com grupos civis, políticos e étnicos que se opõem ao governo da junta.

O conflito mudou no ano passado. Os militares de Mianmar, ou Tatmadaw, sofreram uma série de derrotas para grupos de oposição. Um dos grupos étnicos armados mais antigos de Myanmar, a União Nacional Karen, ou KNU, anunciou em Abril que tinha forçado a rendição dos soldados militares que controlavam Myawaddy.

A Tailândia partilha uma fronteira de 2.414 quilómetros (1.500 milhas) com Mianmar e pode correr o risco de uma repercussão na fronteira caso o conflito se agrave.

Na terça-feira, o ministro das Relações Exteriores da Tailândia, Parnpree Bahiddha-Nukara, visitou Mae Sot.

Parnpree primeiro examinou uma passagem de imigração tailandesa antes de dar uma entrevista coletiva com o ministro do Interior, Anutin Charnvirakul, e o ministro da Defesa, Sutin Klungsang, no Aeroporto Internacional Mae Sot.

“Temos visitado pessoas na área para lhes dar a confiança de que as coisas estão sendo bem tratadas e para ouvir quais problemas podem ter. Estamos prontos para proteger a soberania tailandesa”, disse Parnpree aos repórteres.

As autoridades tailandesas parecem calmas relativamente à situação, mas Mae Sot está literalmente a apenas alguns quilómetros da fronteira com a guerra de Myanmar. Veículos militares blindados podem ser vistos perto da Ponte da Amizade Tailândia-Mianmar, com soldados em patrulha. Na semana passada, houve relatos de balas do conflito entrando em território tailandês, e a força aérea da Tailândia tem monitorado as aeronaves de Mianmar em busca de possíveis incursões.

“No passado, houve incidentes incluindo balas e algum tipo de invasão. Esse é o passado em um contexto diferente. Hoje, estamos acompanhando cada questão de perto”, disse Parnpree.

O controlo reduzido de Myawaddy pelos militares de Mianmar é visto como um golpe humilhante para a junta porque milhares de milhões de dólares em comércio transfronteiriço passam pela cidade todos os anos.

Imagens encontradas online, supostamente postadas por soldados da junta, mostram um batalhão de infantaria de Mianmar hasteando sua bandeira em uma base recapturada na manhã de quarta-feira. A KNU afirma que as suas forças recuaram depois que a Força de Guarda de Fronteira Karen de Mianmar – que está alinhada com a junta – permitiu que soldados militares reocupassem a base.

Desde então, os combates continuaram com fortes baques e explosões de tiros de armas, ouvidos a vários quilômetros de distância, em Mae Sot.

Embora o conflito pós-golpe de Mianmar tenha durado mais de três anos, a abordagem da Tailândia em relação a Mianmar só mudou depois da posse da primeira-ministra Srettha Thavisin no ano passado, de acordo com um analista político.

“Acho que eles querem ser o corretor; eles querem promover o diálogo e o governo Srettha quer desempenhar um papel de liderança no futuro”, disse Thitinan Pongsudhirak, especialista político na Tailândia, à VOA.

“Acho que eles têm um objetivo de política externa mais amplo de reequilibrar e reposicionar a Tailândia como líder da ASEAN em Mianmar”, disse ele, referindo-se à Associação das Nações do Sudeste Asiático. “Acho que eles estão dispostos a fazer o que for preciso para ocupar um papel de liderança e estão abertos a opções. Mianmar é uma prioridade máxima para a Tailândia.”

A Tailândia assumiu um papel humanitário maior em relação a Mianmar nos últimos meses e concordou em construir abrigos para receber refugiados que escapassem de Mianmar.

Fonte
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Julian Assange enfrenta última batalha legal para impedir extradição

O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, começa nesta terça-feira (19) o que pode ser a última chance de impedir sua extradição do Reino Unido para os Estados Unidos, após mais de 13 anos lutando contra as autoridades nos tribunais ingleses.

Os promotores norte-americanos tentam levar Assange, de 52 anos, a julgamento por 18 acusações relacionadas à divulgação pelo WikiLeaks de grandes quantidades de documentos militares e telegramas diplomáticos confidenciais dos EUA.

Eles argumentam que os vazamentos colocaram em risco a vida de seus agentes e que não há desculpa para esse crime. Os apoiadores de Assange o aclamam como um herói anti-establishment e um jornalista que está sendo perseguido por expor as irregularidades dos EUA.

Do lado de fora da Alta Corte de Londres, uma multidão grande e barulhenta se reunia, cantando “Apenas uma decisão: nenhuma extradição”.

“Temos dois grandes dias pela frente. Não sabemos o que esperar, mas vocês estão aqui porque o mundo está assistindo”, disse Stella, esposa de Assange, à multidão. “Eles precisam saber que não podem se safar dessa. Julian precisa de sua liberdade e todos nós precisamos da verdade.”

Histórico

As batalhas legais de Assange começaram em 2010 e, posteriormente, ele passou sete anos na embaixada do Equador em Londres antes de ser arrastado para fora e preso em 2019 por violar as condições de fiança.

Desde então, ele tem sido mantido em uma prisão de segurança máxima no sudeste de Londres e até mesmo se casou lá.

O Reino Unido finalmente aprovou sua extradição para os EUA em 2022, depois que uma juíza inicialmente a bloqueou por preocupações com sua saúde mental e o risco de suicídio se fosse deportado.

Seus advogados tentarão anular essa aprovação em uma audiência de dois dias diante de dois juízes, no que pode ser sua última chance de impedir a extradição nos tribunais ingleses.

Eles argumentarão que o indiciamento de Assange é politicamente motivado e marca um ataque à liberdade de expressão.

Entre os apoiadores de Assange estão a Anistia Internacional, grupos de mídia que trabalharam com o WikiLeaks e políticos da Austrália, seu país de origem, incluindo o primeiro-ministro Anthony Albanese, que na semana passada votou a favor de uma moção pedindo seu retorno à Austrália.

Se Assange vencer esse caso, será realizada uma audiência de apelação completa para considerar novamente sua contestação. Se ele perder, sua única opção restante seria a Corte Europeia de Direitos Humanos (ECHR), onde ele tem um recurso apresentado enquanto aguarda a decisão de Londres.

O WikiLeaks ganhou destaque pela primeira vez em 2010, quando publicou um vídeo militar dos EUA mostrando um ataque de helicópteros Apache em Bagdá, em 2007, que matou uma dúzia de pessoas, incluindo duas equipes de reportagem da Reuters.

Em seguida, o site divulgou milhares de arquivos secretos e telegramas diplomáticos que revelaram avaliações altamente críticas dos EUA sobre líderes mundiais, desde o presidente russo Vladimir Putin até membros da família real saudita.

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