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Bibliotecas ibero-americanas querem ampliar a preservação dos acervos

A preservação e conservação de acervos de bibliotecas de países ibero-americanos é um dos temas do encontro dessas instituições que vai ocorrer no período de 3 a 6 de dezembro no Auditório Machado de Assis, na sede da Fundação Biblioteca Nacional, no centro do Rio de Janeiro. A última vez em que a instituição vinculada ao Ministério da Cultura (MinC) recebeu o evento internacional, foi em 2000.

Argentina, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Chile, Equador, Espanha, Guatemala, México, Panamá, Paraguai e Portugal já confirmaram a presença na 35ª Assembleia Geral da Associação de Estados Ibero-Americanos para o Desenvolvimento das Bibliotecas Nacional do Países Ibero-Americanos (Abinia), que vai ocorrer na sede da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), no centro da capital fluminense. Bolívia, El Salvador, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela, participarão de forma virtual.

A intenção do encontro é promover a integração desses países incluindo as raízes ibéricas de Espanha e Portugal. “O fato de a gente reunir todos esses países após 24 anos quer dizer o momento importante que o Brasil está vivendo e ao mesmo tempo um diálogo que passa pela integração da América Latina que é sempre uma demanda forte, intensa, buscada praticamente a cada geração e que temos que ampliar isso tudo”, disse o presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), Marco Lucchesi, em entrevista à Agência Brasil.

Presidente da Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil – Fernando Frazão/Agência Brasil

Depois de alguns anos de ausência, Portugal estará no encontro, uma vez que volta a integrar a Assembleia. “Portugal, após um longo período não participando diretamente da Abinia está voltando agora. É um fato também muito importante para nós. É uma grande comunidade que está programando as práticas, reestudando as suas funções e missões institucionais. É um momento muito bonito”, observou.

Lucchesi chamou atenção para a quantidade de itens que essas bibliotecas preservam. “Se fizer um cálculo de quanto aproximadamente cada uma dessas bibliotecas, que se encontrarão no Rio de Janeiro, possuem é como se uma parte do planeta Terra tivesse unida no Rio de Janeiro, porque gente está tratando de milhões de peças que essas bibliotecas as guardam em seus repertórios e seus acervos, não só os da América Latina, mas também de Espanha e Portugal. Então, é um volume imenso. O valor simbólico do encontro já é uma conquista de espaço e de volume”, comentou.

Para o presidente, o fato de sediar o encontro reflete o destaque que a biblioteca brasileira tem no cenário nacional e internacional. “Dá de fato à Biblioteca Nacional do Brasil o lugar da sua importância, o papel extremamente de relevo que ela realiza para as políticas da memória, para o tratamento e a difusão da informação, justamente em um tempo tão complexo com que diz respeito à informação. A Biblioteca Nacional tem um compromisso tão forte com a informação que inclusive assinamos um termo importante com o Supremo Tribunal Federal no ano passado para as boas práticas da informação que são naturais da Biblioteca Nacional”, afirmou.

O encontro é restrito a convidados e representantes dos países membros, mas poderá ser acompanhado em transmissão ao vivo nos dias 4, 5 e 6, pelo canal do YouTube da FBN.

“Esse encontro é sempre um grande fórum que vai consolidando políticas da América Latina, Espanha e Portugal para ampliação das nossas alianças. O que fica claro é uma diplomacia do livro. São várias repúblicas latino-americanas com as duas ibéricas, todas reunidas para ampliar essa relação, que é uma relação de micro diplomacia, que todas as instituições culturais acabam fazendo de certa forma, mas é claro que quando a Biblioteca Nacional do Brasil entra, ela traz um patrimônio de enorme valor e importância que há várias gerações vem sendo preparado, cuidado e difundido”, observou.

Programação

A presidente da Abinia e diretora da Biblioteca Nacional do México, María Andrea Giovine Yáñez, e o presidente da FBN, Marco Lucchesi farão a abertura do encontro na terça-feira (3), às 10h. No dia seguinte, também com transmissão ao vivo, os trabalhos serão iniciados às 10h, com Lucchesi e a diretora da Biblioteca Nacional da Guatemala e vice-presidente da ABINIA, Ilonka Matute.

Um dos temas que serão discutidos é o Depósito Legal, legislação que prevê o envio de um exemplar de cada publicação editada em um país para sua respectiva biblioteca nacional. A palestra Depósito Legal Eletrónico: chave para garantir o acesso e preservação de conteúdos digitais, da diretora de Processos e Serviços Digitais da Biblioteca Nacional da Espanha, Gloria Expósito, na quinta-feira (5), das 11h às 12h, será transmitida ao vivo pelo YouTube.

Na sexta-feira (6), entre 10h40 e 12h30, serão transmitidas duas conferências sobre bibliotecas sustentáveis. Na primeira, o gerente de planejamento estratégico do International Centre for the Study of the Preservation and Restoration of Cultural Property (ICCROM),José Luiz Pederzoli Jr., apresentará a palestra “Sustentáveis para o Desenvolvimento Sustentável”. Na sequência, o assessor em arquitetura para biblioteca e docente, Santi Romero, falará sobre “Edifícios de bibliotecas sustentáveis: desafios e oportunidades”.

“Nós temos na programação as demandas que são muito parecidas em todas as bibliotecas. Não importa qual seja o país e a língua, as bibliotecas são sempre um organismo em expansão, um organismo que não para de crescer e agora no final do século 20 para o 21, ela cresce em duas direções. Uma é a física e a outra é a virtual. É o pensamento sobre a forma pela qual vamos lidando com novas tecnologias, por exemplo, a Biblioteca Nacional tem refletido bastante sobre o uso da inteligência artificial como elemento importante na pesquisa e na abrangência.

Ações

Entre as atividades fora do país, a Biblioteca Nacional esteve presente, neste mês de novembro, em uma reunião, no Vaticano, quando se concentraram as mais importantes bibliotecas do mundo tratando do futuro no campo virtual, da difusão e do acesso das pessoas à informação. O papa recebeu um livro produzido pela instituição na edição Biblioteca Nacional no imaginário do Rio de Janeiro e do Brasil, além de uma carta de Lucchesi em que destacou o trabalho das bibliotecas nas políticas de memória.

Também neste ano, a Biblioteca Nacional entrou para a CPLP. “Foi um momento glorioso e muito importante. Ela é observadora e conselheira entre os membros da comunidade dos povos de língua portuguesa”, comemorou.

O presidente destacou ainda que a Biblioteca Nacional realizou na África, o primeiro seminário dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, chamados de PALOPs, que brevemente vai ser publicado na Revista do Livro editada pela instituição. Além disso, ofereceu para a África um curso de preservação e conservação especialmente dirigido para o território. “Isso também é uma micro diplomacia que a gente está colocando o rosto do Brasil”, completou.

Abinia

Fundada em 1988, em Madri, na Espanha, a Associação de Estados Ibero-Americanos para o Desenvolvimento das Bibliotecas Nacionais dos Países Ibero-Americanos, é uma organização internacional sem fins lucrativos que, segundo a FBN, busca “promover as ações dessas instituições por meio de mecanismos participativos, projetos e ajudas de cooperação internacional”.

Composta pelos diretores das bibliotecas nacionais como representantes dos estados membros, a Assembleia Geral é o órgão máximo da Abinia. Atualmente, é composta por 18 bibliotecas nacionais da Ibero-América.

Quem quiser mais detalhes sobre o encontro pode acessar aqui.

Arquivo Nacional está no RS para ajudar com acervos afetados por chuva

Uma equipe técnica do Arquivo Nacional viajou esta segunda-feira (1º) para o Rio Grande do Sul, onde visitará acervos afetados pelas enchentes em diferentes cidades do estado. A instituição já vinha prestando auxílio por meios remotos desde 30 de abril. O apoio presencial é para acompanhar a situação atual dos documentos e das demandas de cada lugar.

Ainda nesta segunda-feira, estão previstas reuniões com a equipe do Arquivo Público do Rio Grande do Sul (Apers) e com outros representantes de instituições de guarda de acervos.

Até a próxima quarta-feira (4), vão ocorrer mais reuniões e visitas a órgãos que tiveram acervos comprometidos na capital gaúcha, como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Segundo o Arquivo Nacional, 19 órgãos do estado entraram em contato e receberam orientações sobre preservação e recuperação de documentos. A instituição disponibiliza um serviço de helpdesk permanente por e-mail e aplicativos de mensagens.

As chuvas que atingiram o estado durante o mês de maio provocaram danos ao patrimônio público e privado. Em casos extremos, alguns documentos não têm mais recuperação e precisam ser eliminados. O processo deve seguir uma nota técnica emitida pela instituição, que recomenda a eliminação apenas quando as informações dos suportes estão totalmente inacessíveis. Quando os órgãos estão ligados à administração pública federal, é obrigatória a autorização expressa do Arquivo Nacional.

Os técnicos da Coordenação de Preservação do Acervo do AN realizaram testes e simularam a situação dos arquivos após as enchentes, para pensar em soluções mais eficientes no resgate de acervos. Os experimentos foram monitorados na fábrica de papel mantida pela instituição no Rio de Janeiro.

Uma das orientações dadas aos órgãos com acervos afetados pelas enchentes é o de tomada de decisões. Por exemplo, quando é preciso escolher quais documentos vão ser priorizados no resgate. Aqueles identificados como de guarda permanente, que envolvem garantias de direitos e deveres dos cidadãos, podem ser priorizados. Exemplos são pastas com históricos e funcionários. Também entram na lista aqueles documentos que não têm cópias digitalizadas.

Outro exemplo de recomendação é a de congelamento do acervo quando a quantidade de documentos afetados pela água é maior do que a capacidade de monitoramento e tratamento. Por meio desse processo, o acervo é preservado e o tratamento é feito gradualmente de acordo com as possibilidades de cada órgão. O congelamento impede o crescimento de colônias de microrganismos que podem afetar ainda mais os documentos.

Biblioteca Nacional cria página para ajudar acervos literários no RS

Por meio da página SOS Bibliotecas Rio Grande do Sul, lançada em seu site, a Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, criou um canal de orientação sobre a recuperação de acervos danificados pelas enchentes no estado gaúcho. O presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi, em entrevista nesta sexta-feira (31) à Agência Brasil, disse que a ideia é que “as bibliotecas, que já possam e desejem, se mobilizem buscando apoio e informação para restaurar e preservar o que for possível. Nós estamos tentando ouvir, através do site, as necessidades, para pensar em cima dessas necessidades”.

Ao mesmo tempo, em função das distâncias e dificuldades, a Biblioteca Nacional está lançando nas redes sociais pequenas inserções, mostrando aos gaúchos como recuperar documentos pessoais e livros. “Vamos, de uma forma mais próxima do cidadão, de um modo popular, difundir esses cuidados, que vão desde os documentos a outros bens perdidos, sempre do campo de documentação e acervo”, destacou Lucchesi.

 O presidente da Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi. Foto:  Fernando Frazão/Agência Brasil

Reconstituição

Na avaliação do presidente da Fundação, o passo mais fundamental será compreender e reorientar a reconstituição dos grandes acervos que tenham sido atingidos. Ele disse ser parte da missão da BN pensar os acervos do ponto de vista técnico e ajudá-los em situações como dessas enchentes “que, para todos, é uma tarefa em larga escala, com uma série de delicadezas e urgências exigidas de fato por esse momento tão grave”.

Por outro lado, a Fundação BN está fazendo um levantamento do que poderia ser estabelecido como doação, no caso de livros. Já há registro de um número importante de obras para serem doadas às diversas instituições do RS. Lucchesi não quis revelar, contudo, qual é esse montante, porque existe uma estratégia de transporte e envio para aquele estado, que ainda não foi considerada. “É preciso que as águas atinjam patamares possíveis para que os livros cheguem e para que haja possibilidade de ordenar de forma mais segura”.

Funcionários da limpeza urbana fazem a retirada de lixo acumulado nas ruas de Porto Alegre. Foto:sil – Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Será feito um diálogo entre as diversas instituições que tenham acervos no RS e se interessem a doar livros, ressaltou Lucchesi. Para ele, isso é muito importante para que esses acervos se restabeleçam em larga escala “e para que a BN corresponda um pouco a essa tremenda falta que não será fácil substituir mas, pelo menos, estaremos lá com os livros”.

Visita

Se houver condição, o presidente da BN afirmou que talvez o passo mais fundamental seja uma visita a cada uma das instituições, “dentro das possibilidades da BN”, para que um olhar mais atento, acurado e pontual dos técnicos da biblioteca possa reconfigurar algum tipo de acervo em termos de localização e logística. Lucchesi salientou que isso vai depender, entretanto, dos recursos disponíveis, “para que a BN possa exercer, dentro dos seus limites, esse papel importante, pelo fato de ser uma referência no mundo em termos de conservação e preservação”.

Prêmio Literário

Por outro lado, a Biblioteca Nacional está com inscrições gratuitas abertas até o dia 11 de julho próximo para o 30º Prêmio Literário Biblioteca Nacional 2024. Os autores interessados devem acessar o site www.gov.br/bn para se inscreverem. Concedida anualmente desde 1994 e considerada uma dos mais conceituadas do país, a premiação objetiva reconhecer a qualidade intelectual das obras publicadas no Brasil. O prêmio tem o mesmo valor de premiação nas doze categorias (R$ 30 mil), incluindo duas novas nesta edição: Ilustração (Prêmio Carybé) e Histórias em Quadrinhos (Prêmio Adolfo Aizen).

As outras dez categorias são Conto (Prêmio Clarice Lispector); Ensaio Literário (Prêmio Mario de Andrade); Ensaio Social (Prêmio Sérgio Buarque de Holanda); Histórias de tradição oral (Prêmio Akuli); Literatura Infantil (Prêmio Sylvia Orthof); Literatura Juvenil (Prêmio Glória Pondé); Poesia (Prêmio Alphonsus de Guimaraens); Projeto Gráfico (Prêmio Aloísio Magalhães); Romance (Prêmio Machado de Assis); Tradução (Prêmio Paulo Rónai).

O presidente da BN, Marco Lucchesi, apontou que a consolidação dos 30 anos do prêmio literário da instituição representa o somatório da rica produção cultural brasileira e do vasto acervo da BN. “Esse entrelaçamento de virtudes exprime o lugar e a missão da Biblioteca Nacional, com sua visão transversal, cidadã e solidária. É um encontro de excelências, cuja duração implica um ecossistema de alto alcance, através do qual se destacam os elementos-chave da intimidade profunda entre livro, leitura e cidadania”.

Obras inéditas

Podem concorrer ao Prêmio Literário Biblioteca Nacional brasileiros (pessoas físicas) com obras inéditas (1ª edição), redigidas em língua portuguesa e publicadas por editoras nacionais, entre 1º de maio de 2023 e 30 de abril de 2024. O concurso é aberto também a autores independentes, desde que a obra esteja em Depósito Legal e traga impresso o número do ISBN (‘International Standard Book Number’).

Qualidade literária, originalidade, contribuição à cultura nacional e criatividade no uso dos recursos gráficos são critérios que serão analisados pelas doze comissões julgadoras, formadas por três especialistas de cada área. O resultado final será divulgado no Diário Oficial da União e no portal da FBN até 22 de novembro.