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Rio: quilombolas cobram ação do poder público para instalar energia

Certificado desde 2016 pela Fundação Cultural Palmares e reconhecido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em 2021, o Quilombo Santa Justina e Santa Izabel, em Mangaratiba, no litoral sul do Rio de Janeiro, espera vencer em 2025 um obstáculo crítico para sua sobrevivência: o acesso à energia elétrica. Ainda sem a posse da terra, a comunidade localizada em duas fazendas privadas vive às escuras.

“Nós já perdemos muita gente por causa da falta de luz”, disse o presidente da Associação de Moradores, Amigos e Amigas da Fazenda Santa Justina e Santa Izabel, Sílvio dos Santos Soares, representante legal da comunidade quilombola.

Silvio relata que, por falta da energia, não há como manter remédios refrigerados ou ligar um nebulizador, por exemplo. “Os idosos e as crianças sofrem mais”, destacou. A comunidade, conta, funciona com lampião e velas —  o que com frequência causa acidentes com queimaduras, especialmente, nos menores —  e enfrenta também dificuldade no beneficiamento de alimentos da agricultura familiar, fonte de renda local. 

A solução pode vir de uma reunião na próxima terça-feira (7) com órgãos públicos federais, municipais e a concessionária de energia Enel para cobrar a instalação da rede de energia elétrica. A comunidade protestou, no último dia 30, contra o atraso na eletrificação, fechando o tráfego em um trecho da BR-101. 

Devem participar da reunião o Incra, a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) e da Ordem dos Advogados Brasil, o Ministério Público Federal no Rio de Janeiro, a Enel e a própria prefeitura, para acertar detalhes da nova licença ambiental autorizando a obra. A reunião é uma tentativa de superar a falta de anuência dos atuais donos das fazendas onde está a comunidade, a empresa privada Ecoinvest – Desenvolvimento Empresarial, que, segundo Enel, não autoriza a entrada da concessionária de energia para a instalação da rede. 

A Agência Brasil tentou contato com a sede da Ecoinvest, no Rio, por telefone, sem sucesso. A reportagem será atualizada em caso de manifestação.

O representante do Movimento de Pequenos Agricultores, Beto Palmeira, que presta apoio à comunidade, explica também que a luz é um fator decisivo para a manutenção de Santa Justina e Santa Izabel, uma vez que os jovens quilombolas acabam deixando o local em busca de melhores condições de vida. “Essa é uma estratégia da especulação imobiliária para minar as gerações futuras e aniquilar o quilombo”, denunciou.

A anuência dos proprietários da Fazenda Santa Justina para instalação da luz era uma exigência da prefeitura de Mangaratiba à Enel para licenciar a obra. A nova gestão, que assumiu em 1º de janeiro, no entanto, prometeu cancelar a obrigação, liberando a Enel para entrar nas fazendas, informou o poder municipal à Agência Brasil.

“O prefeito Luiz Claudio Ribeiro reconhece que o direito à energia elétrica é constitucional e irá agilizar todo o processo”, informou a prefeitura, por meio da assessoria de imprensa.

Os quilombolas argumentam que o direito à luz elétrica já havia sido resguardado em determinação anterior da Justiça Federal e, por isso, eles esperam uma solução conjunta.

Uma Ação Civil Pública movida pelo Incra e pela Fundação Palmares, em 2019, em defesa do quilombo, obrigou a dona das fazendas a “abster-se de obstaculizar a entrada da concessionária de energia elétrica”, assim como impedir manifestações culturais, o acesso dos próprios quilombolas, visitantes ou  qualquer outro serviço público à comunidade, como a entrada de ambulâncias.

Ao julgar o processo, a Justiça alertou que o controle do acesso à comunidade, com cerceamento do direito de ir e vir, causava “danos irreversíveis”. No despacho, a desembargadora Maria Izabel Gomes Sant’anna resguardou os direitos dos quilombolas à área até o final do processo de titulação no Incra, que enfrenta contestações legais.

Para justificar a decisão, Sant’anna citou a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e ressaltou que o governo brasileiro pode ser implicado por descumprir o direito internacional, se não garantir os direitos da comunidade.

“Verifica-se, no presente caso, a necessidade de acomodar de forma razoável o direito de propriedade da ré com o direito da comunidade permanecer no local e exercer seus direitos (…) sem interferência da proprietária, enquanto o procedimento administrativo não for concluído”, disse, no despacho, atendendo pedido do Incra e da Fundação Palmares.

Em comunicado à comunidade, no último dia 30, a Enel informou que tentou várias vezes autorização para instalação da rede e que permanece aberta ao diálogo. A eletrificação prevê a instalação de 194 postes e transformadores e deve levar 12 meses. 

“A Enel Rio tem buscado de forma reiterada a obtenção do referido acesso, mas ainda não teve o retorno formal da empresa dona do terreno”, reforçou a concessionária. 

Hoje é Dia: Dia de Reis, Charlie Hebdo e Elvis Presley são destaques

Chegamos ao primeiro domingo de 2025 às vésperas do Dia de Reis (que ocorre amanhã, 6 de janeiro). A data encerra o ciclo natalino em várias culturas e, tradicionalmente, é a data em que se desmonta a decoração natalina. Em alguns locais, também é celebrada a Folia de Reis. A festa foi tema da Agência Brasil em 2024, e a origem da data foi explicada na Radioagência Nacional em 2023.

A semana também é marcada por acontecimentos impactantes na nossa história recente. O maior destaque são os 10 anos (em 7 de janeiro) dos ataques terroristas que ocorreram na sede do semanário francês Charlie Hebdo e resultaram em 12 mortes. O acontecimento e toda a comoção (simbolizada pela frase “Je suis Charlie”, que se tornou símbolo de solidariedade) foram abordados pela Agência Brasil e pelo o Observatório da Imprensa:

No dia 8 de janeiro, completam-se dois anos de um evento que ressignificou este dia: em 2023, a Praça dos Três Poderes, em Brasília, foi depredada durante um ato que pedia um golpe de Estado no Brasil. O uso do ato para uma tentativa de golpe ainda é investigada por autoridades policiais e já há condenações na Justiça contra participantes do ato. Toda a cronologia do 8 de janeiro foi lembrada pela Agência Brasil em 2024. O minuto-a-minuto foi descrito nesta matéria e o repórter Alex Rodrigues deu um depoimento sobre a cobertura ao videocast Grades de Janeiro, da Radioagência Nacional:

No dia 10, completam-se 5 anos do caso Backer. Em janeiro de 2019, um laudo da Polícia Civil de Minas Gerais identificou dietilenoglicol, uma substância tóxica, em lotes da cerveja Belorizontina, da Backer. O episódio resultou em 26 casos de intoxicação e quatro mortes. A Agência Brasil e a TV Brasil fizeram uma ampla cobertura na época:

Música

No dia 8 de janeiro, comemora-se o nascimento do chamado “Rei do Rock”. Foi nesta data, em 1935, que nasceu Elvis Presley. A trajetória e alguns episódios de sua vida (como o lançamento do primeiro disco, That’s All Right, em 1954) foram contados por veículos da EBC como a Radioagência Nacional (História Hoje) e a TV Brasil (Repórter Brasil).

No dia 11, dois acontecimentos também chamam atenção no mundo da música: o aniversário de 80 anos de Geraldo Azevedo (autor de sucessos como “Dia Branco” e “Táxi Lunar”) e os 40 anos da primeira edição do Rock in Rio. Geraldo já foi destaque na TV Brasil em participações no Todas as Bossas e no Samba da Gamboa, enquanto o festival foi lembrado em um especial do site das Rádios EBC. 

Outras Datas

No dia 7, é comemorado no Brasil o Dia da Liberdade de Culto. A data, que reforça o direito de praticar ou não qualquer religião, foi tema de uma matéria do Repórter Brasil em 2019. 

No dia 8, é celebrado o Dia Nacional do Fotógrafo. A data, que remete à chegada da fotografia ao Brasil em 1840, também foi destaque na TV Brasil. Em 2020, o Fique Ligado falou da celebração: 

Para fechar a semana, temos mais duas datas no dia 11: o Dia do Controle da Poluição por Agrotóxicos e o Dia Internacional do Obrigado. No ano passado, o Viva Maria fez uma edição dedicada à primeira destas datas. Em 2022, a Radioagência Nacional falou da segunda data. 

Confira a relação completa de datas do Hoje é Dia da semana entre 5 e 11 de janeiro de 2025

5 a 11 de janeiro de 2025

05

      

Nascimento do advogado, deputado federal e compositor cearense Humberto Teixeira (110 anos) – nacionalmente conhecido como parceiro de Luiz Gonzaga

      

Morte do compositor, arranjador e instrumentista cearense Lauro Maia (75 anos)

      

Morte do físico e matemático polonês Max Born (55 anos) – fundamental para o desenvolvimento da mecânica quântica

06

      

Nascimento do cantor e compositor paulista Walter Franco (80 anos)

      

Morte do advogado e político piauiense Petrônio Portella (45 anos) – atuação destacada como fiador da distensão política empreendida pelos presidentes Ernesto Geisel e João Figueiredo. Era tido como a “estrela civil da ditadura”

      

Dia de Reis

      

Dia do Astrólogo

      

Início da Cabanagem, revolta popular e social ocorrida durante o Império do Brasil (190 anos) – revolta popular e social que ocorreu na então Província do Grão-Pará, que abrangia os atuais estados do Pará, Amazonas, Amapá, Roraima e Rondônia

      

Lançamento do programa “Um milhão de melodias”, na Rádio Nacional (82 anos)

07

      

Morte do ator, escritor e apresentador paulista João Silvestre (25 anos) – foi Presidente da Radiobrás, nomeado pelo então Presidente da República, João Batista de Oliveira Figueiredo

      

Criação do Corpo de Voluntários da Pátria, na Guerra do Paraguai (160 anos)

      

Uma série de atentados terroristas deixa mortos e feridos em Paris, incluindo uma parte da equipe do jornal Charlie Hebdo (10 anos)

      

Dia do Leitor

      

Dia da Liberdade de Culto

08

      

Nascimento do compositor, teatrólogo, pianista, maestro e crítico de arte paulista Francisco de Assis Pacheco (160 anos)

      

Nascimento do compositor, radialista e jornalista paulista Armando de Lima Reis, o Cristóvão de Alencar (115 anos)

      

Morte da cantora fluminense Zilda de Carvalho Espíndola, a Aracy Cortes (40 anos)

      

Nascimento do cantor, músico e ator estadunidense Elvis Presley (90 anos)

      

Dia Nacional do Fotógrafo

      

Lançamento da radionovela “Direito de Nascer”, na Rádio Nacional (74 anos)

09

      

Morte do saxofonista, trompetista e compositor pernambucano Levino Ferreira (55 anos)

      

Nascimento do poeta e diplomata pernambucano João Cabral de Melo Neto (105 anos)

      

Dia do Astronauta – comemoração em homenagem à Missão Centenário. Realizada pela Agência Espacial Brasileira (AEB) no ano de 2006, a missão foi responsável pela viagem de Marcos Pontes, o primeiro brasileiro no espaço, para a Estação Espacial Internacional (EEI)

10

      

Nascimento do cantor e compositor britânico Roderick David Stewart, o Rod Stewart (80 anos)

      

Entra em vigor o Tratado de Versalhes para solucionar os problemas surgidos na guerra 1914-1918 (105 anos)

      

Um laudo da Polícia Civil de Minas Gerais comprovou a presença de uma substância tóxica em garrafas de cerveja da marca Belorizontina, da Backer (05 anos) – de acordo a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, são 26 casos suspeitos de intoxicação por dietilenoglicol. Quatro pessoas morreram. A cervejaria foi interditada.

      

Início das festividades do Glorioso São Sebastião do Marajó

11

      

Nascimento do escritor, ensaísta e dramaturgo paulista Oswald de Andrade (135 anos)

      

Nascimento do compositor, cantor e violonista pernambucano Geraldo Azevedo (80 anos)

      

Início da primeira edição do Rock in Rio (40 anos)

      

Dia do Controle da Poluição por Agrotóxicos

      

Dia Internacional do Obrigado

Em cartão postal do Rio, ONG pede volta de memorial de crianças mortas

A Lagoa Rodrigo de Freitas, um dos cartões postais do Rio de Janeiro, presenciou neste sábado (4) o encontro de dezenas de parentes de crianças que foram mortas por balas perdidas no estado ao longo dos últimos anos. O protesto foi convocado pela organização sem fins lucrativos Rio de Paz.

Todos seguravam cartazes com retratos de 49 vítimas. Além de ser um grito contra a violência, a manifestação serviu para cobrar da prefeitura o direito de manter um memorial numa área turística, que fica na zona sul, região mais nobre da cidade.

 No último fim de semana, a Rio de Paz foi surpreendida ao saber que a prefeitura retirou as fotos que ficavam presas em um gradil e formavam o memorial no trecho da Lagoa chamado de Curva do Calombo. Cartazes com nomes de policiais assassinados, afixados pela organização na mesma grade, não foram retirados pela administração municipal.

A dona de casa Thamires Assis segurava a foto da filha, Ester Assis, morta ao ser atingida por uma bala perdida na cabeça, enquanto voltava da escola no dia 5 de abril de 2023, em Madureira, zona norte da cidade. A menina tinha apenas nove anos. Na ocasião, havia um confronto entre traficantes.

Thamires Assis, mãe de Ester, vítima de bala perdida, protestou na Lagoa Rodrigo de Freitas – Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Para a mãe de Ester, manter a homenagem na Lagoa é uma forma de “pedir ajuda e justiça pelas crianças”.

“É a única forma de nós, pais, gritarmos por ajuda. Isso aqui é para mostrar para o prefeito, governador, para quem [quer que seja], que nossas crianças merecem ser respeitadas, em qualquer lugar em que elas morem”, disse Thamires à Agência Brasil.

Blusa de escola

Ser atingido por um tiro no trecho entre a escola e a casa foi também o destino de Marcus Vinicius da Silva, que tinha 14 anos, quando morreu em 2018., que tinha 14 anos.

Bruna da Silva levou para o ato a blusa de escola que o filho usava quando foi baleado. A mãe conta que o garoto foi ferido durante uma operação da Polícia Civil no conjunto de favelas da Maré, na zona norte. A família acusa a polícia pela morte de Marcus Vinicius.

Ela reforça o pedido para que o prefeito do Rio permita a existência do memorial. “Com tanta coisa para ele fazer, mudar e melhorar nesse Rio de Janeiro, que ele não venha se preocupar com o rosto dessas crianças. Por que essas crianças estão incomodando?”, desabafou.

Ação policial

A ação da polícia também é apontada como causa da morte do jovem Thiago Menezes Flausino, de 13 anos, em agosto de 2023, na Cidade de Deus, comunidade na zona oeste do Rio. Quatro policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar (PM) chegaram a ser indiciados pelo assassinato durante uma troca de tiros.

A tia do rapaz, Ana Cláudia Araújo, defende que a exposição dos rostos na Lagoa é uma forma de chamar a atenção da sociedade carioca para a violência. “A gente está aqui para dar visibilidade aos nossos parentes porque a gente acha importante que esse tipo de ato aconteça. As pessoas da Zona Sul não têm noção da nossa realidade dentro das comunidades”, declarou.

Visibilidade

O fundador da Rio de Paz, Antonio Carlos Costa, classificou como “falta de sensibilidade” a decisão do prefeito Eduardo Paes de remover o memorial sem qualquer comunicação prévia com a organização ou com os pais das crianças.

Costa explicou que a exposição existia na Curva do Calombo havia nove anos, mas sem retratos, apenas cartazes contendo os nomes das vítimas. Só no sábado passado (28) os nomes foram trocados pelas fotos.

Ele chamou de “quebra de simetria” a decisão de retirar apenas as fotos das crianças e manter os nomes dos policiais mortos. “Temos que chorar pela morte dos nossos policiais, mas não podemos nos esquecer de chorar também por essas crianças”, avaliou.

Para Costa, o prefeito ordenou a remoção das fotos em menos de 24 horas após sofrer algum tipo de pressão. “As imagens chegaram a pessoas que não têm interesse na vida dessas crianças, que demonstraram uma estranha preocupação com a ordem pública”, disse.

“É pior para a imagem do Rio de Janeiro [a série] de mortes de crianças por balas perdidas na nossa cidade do que as fotos das crianças mortas por bala perdida no cartão postal do Rio de Janeiro”, declarou.

O fundador da Rio de Paz explicou que a escolha de um cartão postal para fazer o memorial é uma forma de a mensagem chegar a formadores de opinião e representantes do poder público. “Estamos deliberadamente criando um baita de um constrangimento para as autoridades públicas do nosso estado. Elas precisam ser confrontadas”, opina.

Pais participaram da manifestação na Lagoa Rodrigo de Freitas, onde a prefeitura retirou faixas. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Além das fotos das 49 crianças mortas entre 2020 e 2024, a Rio de Paz expôs na Lagoa uma faixa com a frase “Morte de crianças: a face mais hedionda da guerra”. Ao fim do ato, todo o material foi recolhido pelos organizadores.

“Vamos respeitar a decisão que o prefeito tomou. Só vamos retornar as fotos para esse local se ele assim o permitir. Mas fica aqui a expressão da nossa mais profunda indignação”, afirmou Costa.

“Não há a mínima chance de essas mortes continuarem contando com o nosso silêncio”, adiantou ele, que responsabiliza o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, por mortes relacionadas a operações letais em comunidades.

Prefeitura

A Agência Brasil solicitou comentários à prefeitura do Rio sobre o ato deste sábado, mas não recebeu retorno até a conclusão da reportagem. No fim de semana passado, quando houve a remoção do material, a prefeitura informou, por meio de nota, que reconhecia a importância e a necessidade da homenagem às crianças vítimas da violência, mas que retirou o material por não ter sido consultada pelos organizadores para autorizar a montagem da exposição em um local público.

A prefeitura acrescentou que avaliava a pertinência de manter no mesmo local a homenagem aos policiais militares assassinados, “que também é justa e necessária”.

“O município tem total interesse em combater a violência, prestar justas homenagens às suas vítimas e está aberto para debater qualquer tipo de iniciativa, desde que seja previamente consultado”, finalizou o comunicado.

Além das manifestações na Lagoa Rodrigo de Freitas relacionadas às mortes de policiais e crianças, a Rio de Paz é notória por realizar atos de protestos silenciosos nas areias da praia de Copacabana, geralmente com placas, cartazes e cruzes.

 De acordo com a organização, os atos provisórios na orla são feitos sem solicitação prévia de autorização. Apenas uma manifestação teve resistência da prefeitura, quando guardas municipais removeram réplicas que simbolizavam barracos, em 2016. O protesto questionava o legado da Olimpíada, realizada na cidade naquele ano.

 A Agência Brasil procurou o governo do estado sobre a ocorrência de confrontos e balas perdidas, mas não recebeu resposta. A segurança pública é uma das atribuições dos governos estaduais.

Em cartão postal do Rio, ONG pede volta de memorial de crianças mortas

A Lagoa Rodrigo de Freitas, um dos cartões postais do Rio de Janeiro, presenciou neste sábado (4) o encontro de dezenas de parentes de crianças que foram mortas por balas perdidas no estado ao longo dos últimos anos. O protesto foi convocado pela organização sem fins lucrativos Rio de Paz.

Todos seguravam cartazes com retratos de 49 vítimas. Além de ser um grito contra a violência, a manifestação serviu para cobrar da prefeitura o direito de manter um memorial numa área turística, que fica na zona sul, região mais nobre da cidade.

 No último fim de semana, a Rio de Paz foi surpreendida ao saber que a prefeitura retirou as fotos que ficavam presas em um gradil e formavam o memorial no trecho da Lagoa chamado de Curva do Calombo. Cartazes com nomes de policiais assassinados, afixados pela organização na mesma grade, não foram retirados pela administração municipal.

A dona de casa Thamires Assis segurava a foto da filha, Ester Assis, morta ao ser atingida por uma bala perdida na cabeça, enquanto voltava da escola no dia 5 de abril de 2023, em Madureira, zona norte da cidade. A menina tinha apenas nove anos. Na ocasião, havia um confronto entre traficantes.

Thamires Assis, mãe de Ester, vítima de bala perdida, protestou na Lagoa Rodrigo de Freitas – Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Para a mãe de Ester, manter a homenagem na Lagoa é uma forma de “pedir ajuda e justiça pelas crianças”.

“É a única forma de nós, pais, gritarmos por ajuda. Isso aqui é para mostrar para o prefeito, governador, para quem [quer que seja], que nossas crianças merecem ser respeitadas, em qualquer lugar em que elas morem”, disse Thamires à Agência Brasil.

Blusa de escola

Ser atingido por um tiro no trecho entre a escola e a casa foi também o destino de Marcus Vinicius da Silva, que tinha 14 anos, quando morreu em 2018., que tinha 14 anos.

Bruna da Silva levou para o ato a blusa de escola que o filho usava quando foi baleado. A mãe conta que o garoto foi ferido durante uma operação da Polícia Civil no conjunto de favelas da Maré, na zona norte. A família acusa a polícia pela morte de Marcus Vinicius.

Ela reforça o pedido para que o prefeito do Rio permita a existência do memorial. “Com tanta coisa para ele fazer, mudar e melhorar nesse Rio de Janeiro, que ele não venha se preocupar com o rosto dessas crianças. Por que essas crianças estão incomodando?”, desabafou.

Ação policial

A ação da polícia também é apontada como causa da morte do jovem Thiago Menezes Flausino, de 13 anos, em agosto de 2023, na Cidade de Deus, comunidade na zona oeste do Rio. Quatro policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar (PM) chegaram a ser indiciados pelo assassinato durante uma troca de tiros.

A tia do rapaz, Ana Cláudia Araújo, defende que a exposição dos rostos na Lagoa é uma forma de chamar a atenção da sociedade carioca para a violência. “A gente está aqui para dar visibilidade aos nossos parentes porque a gente acha importante que esse tipo de ato aconteça. As pessoas da Zona Sul não têm noção da nossa realidade dentro das comunidades”, declarou.

Visibilidade

O fundador da Rio de Paz, Antonio Carlos Costa, classificou como “falta de sensibilidade” a decisão do prefeito Eduardo Paes de remover o memorial sem qualquer comunicação prévia com a organização ou com os pais das crianças.

Costa explicou que a exposição existia na Curva do Calombo havia nove anos, mas sem retratos, apenas cartazes contendo os nomes das vítimas. Só no sábado passado (28) os nomes foram trocados pelas fotos.

Ele chamou de “quebra de simetria” a decisão de retirar apenas as fotos das crianças e manter os nomes dos policiais mortos. “Temos que chorar pela morte dos nossos policiais, mas não podemos nos esquecer de chorar também por essas crianças”, avaliou.

Para Costa, o prefeito ordenou a remoção das fotos em menos de 24 horas após sofrer algum tipo de pressão. “As imagens chegaram a pessoas que não têm interesse na vida dessas crianças, que demonstraram uma estranha preocupação com a ordem pública”, disse.

“É pior para a imagem do Rio de Janeiro [a série] de mortes de crianças por balas perdidas na nossa cidade do que as fotos das crianças mortas por bala perdida no cartão postal do Rio de Janeiro”, declarou.

O fundador da Rio de Paz explicou que a escolha de um cartão postal para fazer o memorial é uma forma de a mensagem chegar a formadores de opinião e representantes do poder público. “Estamos deliberadamente criando um baita de um constrangimento para as autoridades públicas do nosso estado. Elas precisam ser confrontadas”, opina.

Pais participaram da manifestação na Lagoa Rodrigo de Freitas, onde a prefeitura retirou faixas. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Além das fotos das 49 crianças mortas entre 2020 e 2024, a Rio de Paz expôs na Lagoa uma faixa com a frase “Morte de crianças: a face mais hedionda da guerra”. Ao fim do ato, todo o material foi recolhido pelos organizadores.

“Vamos respeitar a decisão que o prefeito tomou. Só vamos retornar as fotos para esse local se ele assim o permitir. Mas fica aqui a expressão da nossa mais profunda indignação”, afirmou Costa.

“Não há a mínima chance de essas mortes continuarem contando com o nosso silêncio”, adiantou ele, que responsabiliza o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, por mortes relacionadas a operações letais em comunidades.

Prefeitura

A Agência Brasil solicitou comentários à prefeitura do Rio sobre o ato deste sábado, mas não recebeu retorno até a conclusão da reportagem. No fim de semana passado, quando houve a remoção do material, a prefeitura informou, por meio de nota, que reconhecia a importância e a necessidade da homenagem às crianças vítimas da violência, mas que retirou o material por não ter sido consultada pelos organizadores para autorizar a montagem da exposição em um local público.

A prefeitura acrescentou que avaliava a pertinência de manter no mesmo local a homenagem aos policiais militares assassinados, “que também é justa e necessária”.

“O município tem total interesse em combater a violência, prestar justas homenagens às suas vítimas e está aberto para debater qualquer tipo de iniciativa, desde que seja previamente consultado”, finalizou o comunicado.

Além das manifestações na Lagoa Rodrigo de Freitas relacionadas às mortes de policiais e crianças, a Rio de Paz é notória por realizar atos de protestos silenciosos nas areias da praia de Copacabana, geralmente com placas, cartazes e cruzes.

 De acordo com a organização, os atos provisórios na orla são feitos sem solicitação prévia de autorização. Apenas uma manifestação teve resistência da prefeitura, quando guardas municipais removeram réplicas que simbolizavam barracos, em 2016. O protesto questionava o legado da Olimpíada, realizada na cidade naquele ano.

 A Agência Brasil procurou o governo do estado sobre a ocorrência de confrontos e balas perdidas, mas não recebeu resposta. A segurança pública é uma das atribuições dos governos estaduais.

Governo brasileiro condena bombardeios em zona humanitária segura

O Ministério das Relações Exteriores publicou na noite de sexta-feira (3) uma nota condenando os bombardeios israelenses realizados nos dias 2 e 3 na Faixa de Gaza. Ao menos 110 pessoas morreram, inclusive mulheres e crianças.

Os ataques aéreos tiveram grande impacto sobre civis, por terem atingido regiões consideradas zona humanitária segura. “Entre as vítimas fatais, ao menos 12 se encontravam em acampamento para deslocados na localidade de Al-Mawasi”, destacou a nota.

A diplomacia brasileira reforçou a obrigação de Israel de proteger a população dos territórios ocupados, de acordo com o Direito Internacional Humanitário. E fez um apelo por um acordo de paz. “O governo brasileiro reitera seu apelo por um cessar-fogo permanente e abrangente, que inclua a libertação de todos os reféns e a entrada desimpedida de ajuda humanitária em Gaza.”

A nota defende ainda o compromisso do Brasil com uma solução que viabilize a existência dos dois Estados, “um Estado palestino independente e viável, convivendo lado a lado com Israel, em paz e segurança, dentro das fronteiras de 1967, o que inclui a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, com Jerusalém Oriental como sua capital”, afirma o comunicado.

A intensificação dos bombardeios das Forças de Defesa de Israel em toda a Faixa de Gaza desde a madrugada de quinta-feira (2) levou o comissário da Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos (Unrwa) Philippe Lazzarini, a afirmar nas redes sociais que “nenhuma zona humanitária é segura”. O Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha), no norte de Gaza, alertou que as bases de sobrevivência dos palestinos estão sendo dizimadas.

De acordo com a agência das Nações Unidas, há mais de 14 mil pacientes na lista de espera necessitando de evacuação médica para o exterior que estão impedidos pela proibição de acesso das autoridades israelenses.

Gabigol é apresentado pelo Cruzeiro em um Mineirão lotado

O atacante Gabriel Barbosa, o principal nome do pacote de reforços do Cruzeiro para a próxima temporada, foi apresentado neste sábado (4) no estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, em festa que reuniu mais de 40 mil torcedores.

É o Cabuloso! 💪

📸 @ggaleixo #ApresentaçãoCabulosa pic.twitter.com/6CgO7anQlX

— Cruzeiro 🦊 (@Cruzeiro) January 4, 2025

“Boa tarde. Primeiro quero agradecer a Deus por esse momento, agradecer ao nosso Pedrinho [o empresário Pedro Lourenço, que é o dono da SAF do Cruzeiro], porque sem ele isso não teria acontecido. Muito feliz, muito animado, e é o Cabuloso”, declarou o atacante, que nas últimas temporadas brilhou defendendo o Flamengo.

No decorrer da apresentação, Gabriel Barbosa deixou claro que chega à Raposa com muita disposição: “Quando eu tomei a decisão de assinar esse contrato, estava de coração e alma aqui dentro. O que posso prometer não são títulos, não é gol, e sim dedicação”.

Rodriguinho, Fagner, Eduardo e Christian já vestiram o manto celeste! 👕💙

📸 @ggaleixo #ApresentaçãoCabulosa pic.twitter.com/q1q7RqTauN

— Cruzeiro 🦊 (@Cruzeiro) January 4, 2025

Além do atacante, o Cruzeiro apresentou na festa realizada no Mineirão os meias-atacantes Dudu e Rodriguinho, o volante Christian, o meio-campista Eduardo e o lateral Fagner.

João Fonseca conquista o Challenger 125 de Camberra

João Fonseca voltou a dar provas de que 2025 será um ano especial. Dias após encerrar 2024 com a conquista do Next Gen ATP Finals, o tenista brasileiro derrotou o norte-americano Ethan Quinn por 2 sets a 0 (duplo 6/4), na madrugada deste sábado (4), para garantir o título do Challenger 125 de Camberra (Austrália).

A competição disputada em Camberra é um dos torneios preparatórios para o Australian Open, Grand Slam do qual João Fonseca participará do qualifying a partir da próxima segunda-feira (6).

Dec. 22 👉 Next Gen ATP Finals
Jan. 4 👉 Canberra Challenger

With 10 straight wins and two titles, what an incredible three weeks it’s been for Joao Fonseca! 🔥#OnTheRise | @nextgenfinals pic.twitter.com/eMGkUfXYvZ

— ATP Challenger Tour (@ATPChallenger) January 4, 2025

No dia 22 de dezembro de 2024, o tenista brasileiro de 18 anos de idade conquistou, em Jedá (Arábia Saudita), o título do Next Gen ATP Finals, competição que desde 2017 reúne os oito melhores tenistas de até 20 anos do circuito mundial. O atleta do Brasil alcançou o feito ao derrotar o norte-americano Learnen Tien por 3 sets a 1 (parciais de 2/4, 4/3, 4/0 e 4/2).

Novo ataque no Paraná deixa mais quatro indígenas feridos

O povo avá-guarani da Terra Indígena (TI) Tekoha Guasu Guavirá, localizada entre Guaíra e Terra Roxa, no oeste do Paraná, voltou a sofrer ataques durante a noite dessa sexta-feira (3). Quatro indígenas ficaram feridos e precisaram ser encaminhados ao hospital Bom Jesus de Toledo, a cerca de 100 quilômetros de distância do local.

A Polícia Federal confirmou a ocorrência de crime por meio de nota e afirmou que forças de segurança pública federais, estaduais e municipais estiveram no local para evitar a ocorrência de novos episódios de violência. “Por volta das 21 horas, foram realizados disparos em direção à comunidade indígena instalada próximo ao bairro Eletrosul”, informou.

De acordo com o comunicado, as investigações para apurar autoria e responsabilidade criminal dos envolvidos tiveram início ainda na sexta-feira e, na manhã deste sábado (4), peritos criminais federais colheram provas no local.

Durante os ataques a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) publicou um pedido de ajuda urgente em que solicitava às autoridades medidas cabíveis e punição dos criminosos. A nota também relatava as mensagens enviadas pelas lideranças avá-guarani à organização: “estamos cercados nesse momento” “está havendo tiros por todos os lados”, descreveu.

O Ministério dos Povos Indígenas (MPI) condenou os atos de violência que têm ocorrido de forma reiterada na região, desde o fim de dezembro de 2024.

“O MPI acompanha a situação junto aos indígenas por meio do seu Departamento de Mediação e Conciliação de Conflitos Fundiários Indígenas e está em diálogo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública para a investigação imediata dos grupos armados que atuam na região”, informou.

Segundo denúncias do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), desde o dia 29 de dezembro de 2024, o local tem sido alvo de ações violentas que resultaram em um indígena baleado no braço, no dia 31, e outra indígena queimada no pescoço, no dia 30.

Reforço

De acordo com o MPI foi solicitado o aumento de efetivo da Força Nacional na região dos conflitos, com base na portaria 812/2024 que já havia autorizado a presença dos agentes na região. Segundo a Apib, os ataques demonstram que o efetivo presente não é suficiente. “Mesmo com a presença da Força Nacional da Região os ataques continuam!”, reforça o pedido de ajuda.

A reportagem da Agência Brasil questionou o Ministério da Justiça e Segurança Pública sobre o reforço da Força Nacional no local e aguarda posicionamento

Rodrigo Garro se envolve em acidente de carro com vítima fatal

O meio-campista argentino Rodrigo Garro, do Corinthians, se envolveu em um acidente de carro que terminou com um motociclista vindo a óbito, na madrugada deste sábado (4) na localidade de General Pico, na província de La Pampa (Argentina).

Segundo nota emitida pela equipe do Parque São Jorge, após o acidente, “Garro prestou os primeiros depoimentos [à Polícia local], foi liberado e já está em sua casa”. Além disso, o Corinthians informou que “acompanha as investigações e aguardará a conclusão delas para voltar a falar sobre o caso”.

A imprensa local afirma que o carro dirigido pelo meio-campista de 27 anos de idade colidiu de frente com uma moto, cujo condutor morreu no local. Matéria publicada pelo diário esportivo “Olé” informa que, no momento do acidente, Garro estava acompanhado no carro pelo jogador Facundo Castelli, que defende o Emelec (Equador). Tanto Garro como Castelli nada sofreram.

O meio-campista argentino foi um destaques do Corinthians no ano de 2024, disputando o total de 63 jogos, nos quais marcou 13 gols e deu 14 assistências.

Convergências estão acima de divergências, diz embaixador sobre Brics

A diversidade de interesses com a nova composição do Brics, que tem a participação de mais nove países a partir deste ano, não ameaça os interesses em comum do bloco. Pelo contrário, segundo o embaixador Eduardo Saboia, sherpa do Brasil no Brics, responsável pelas articulações entre os países. “As convergências estão acima das divergências”, disse o diplomata em entrevista à Agência Brasil.

Agora, em 2025, o Brasil assumiu pela quarta vez a presidência rotativa do Brics em meio a expansão do bloco. Neste ano, vai contar com ao menos nove novos membros (Cuba, Bolívia, Indonésia, Bielorrússia, Cazaquistão, Malásia, Tailândia, Uganda e Uzbequistão). 

Criado em 2009, o Brics originalmente reunia, além do Brasil, China, Índia e Rússia. A África do Sul foi o quinto país a ingressar, em 2011, e, no ano passado, Irã, Emirados Árabes Unidos, Egito, Etiópia e Arábia Saudita (não oficialmente) já haviam ingressado. Na nova presidência brasileira, um objetivo é promover o desenvolvimento sustentável. 

Na agenda de prioridades, o embaixador cita a  promoção da governança inclusiva e responsável pela inteligência artificial. Outra atenção é sobre a necessidade de combate conjunto às mudanças climáticas e a necessidade de recursos. “A questão do financiamento é um consenso de que, se você quer promover a mitigação, você precisa pagar”, apontou o embaixador.

Eduardo Saboia ainda chama atenção para as ações em relação à saúde e desigualdades em um bloco com países de realidades distintas, mas que podem cooperar. Confira abaixo a entrevista

Agência Brasil – Em primeiro lugar, o senhor poderia avaliar de que forma o Brics estendido impacta o perfil do grupo?

Embaixador Eduardo Saboia – É um Brics com mais membros do que a gente estava acostumado. Essa ampliação ocorreu em 2024. Nós já tivemos um ano com cinco países membros, além dos países originais. Enfim, são países todos muito representativos do sul global. Trabalhamos muito bem durante a presidência russa e continuaremos a trabalhar muito bem com a presidência brasileira. 

O que nós teremos na presidência brasileira é que, além desses novos membros que entraram em 2024, teremos países parceiros, uma modalidade que foi aprovada recentemente. Nós vamos discutir, inclusive, de que maneira esses países serão engajados nas atividades do Brics.

Agência Brasil – Entre as prioridades da presidência brasileira está a preocupação com os avanços tecnológicos. Eu queria saber do senhor qual o papel do Brics por um regramento tanto da inteligência artificial quanto das redes sociais nesse grupo de países tão diverso?

Embaixador Eduardo Saboia – Eu acho que todos os países estão lidando com esse desafio dessa tecnologia disruptiva. É preciso que haja uma reflexão coletiva. Ela ocorre no Brasil. Temos essa discussão, inclusive, no Congresso, mas ela ocorre também no âmbito das Nações Unidas e é natural que países do tamanho dos Brics discutam a perspectiva do Sul Global, qual é a melhor governança que atende às nossas preocupações. 

As preocupações do mundo em desenvolvimento são preocupações relacionadas com a participação no avanço tecnológico, questões ligadas à desigualdade. A gente pode ter nos Brics diferenças, diferentes sistemas políticos, mas há uma grande convergência de visões, sobretudo em matéria de desenvolvimento.

Agência Brasil – Ainda em relação a uma agenda de prioridades, esse grupo tão diverso de países, como o senhor vê o desafio em relação ao combate às mudanças climáticas. Há interesses diversos também. Como o senhor pensa essa questão?

Embaixador Eduardo Saboia – Eu acho que são países em desenvolvimento que trabalham juntos já há alguns anos. As convergências estão acima das divergências. 

Qualquer solução sobre combate à mudança do clima deve envolver os países do Brics. Então, é bom que eles conversem. Haverá pontos em que eles não estarão de acordo, mas há muitos elementos de convergência. 

A questão do financiamento é um consenso (em relação ao combate às mudanças climáticas) de que, se você quer promover a mitigação, você precisa pagar. 

Os países em desenvolvimento precisam de ajuda. Há responsabilidades diferenciadas. 

Agência Brasil – Há discussões sobre uma cesta de moedas para o grupo, por exemplo a possibilidade de substituir o dólar nas transações?

Embaixador Eduardo Saboia – Ninguém está falando em cesta de moedas ou moeda do Brics. 

O que existe é um trabalho muito sério, fundamentado em estudos, acompanhado de perto pelos Ministérios das Finanças e bancos centrais de discussão sobre meios de pagamento e utilização de moedas locais. Tudo tem o objetivo de aumentar o comércio, aumentar os fluxos de investimento entre os países, gerar prosperidade, renda, emprego e desenvolvimento.

Agência Brasil – Em relação ao combate às desigualdades sociais, esse tema une esses países todos?

Embaixador Eduardo Saboia – Sim, eu acho que você tem perfis diferentes. Há países que conseguiram uma transformação incrível. 

De tirar milhões de pessoas da pobreza, inclusive o Brasil. Mas há muito a se fazer nessa área

Uma área que eu acho interessante é a saúde. Você tem determinadas doenças, tuberculose é um exemplo, que atingem com muita intensidade os países. 

São áreas em que naturalmente existe uma vocação de colaboração, pesquisas em redes de especialistas e agências de vigilância sanitária.

Agência Brasil – Sobre o tema da saúde que o senhor citou, há esforços concentrados, por exemplo, para  produção e pesquisas sobre vacina?

Embaixador Eduardo Saboia – Eu acho que esses entendimentos já acontecem entre os vários ministérios. Hoje você já tem uma agenda tão vasta do Brics que eu diria que já tem, no Ministério da Saúde, uma interlocução com as contrapartes dos Brics, que já estão trabalhando nessas áreas, na área de vacina, por exemplo.

É uma área que é muito promissora. Nós trabalharemos na nossa presidência com afinco mas ela vai continuar. É um esforço que envolve vários setores da administração pública e isso me deixa muito animado com o trabalho que a gente faz.