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Com indicadas a prêmio da Fifa, Brasil revê Austrália em amistoso

Três dias após derrotar a Austrália por 3 a 1 na casa das adversárias, em Brisbane, a seleção feminina de futebol volta a campo para um segundo amistoso contra as anfitriãs. O confronto deste domingo (1º), às 5h45 (horário de Brasília), será no CBUS Stadium, em Gold Coast.

O estádio tem capacidade para 28 mil torcedores, e a expectativa é de casa cheia, já que os ingressos colocados à venda se esgotaram. Desde a última sexta-feira (29) em Gold Coast, as brasileiras conheceram o gramado do CBUS Stadium neste sábado (30), debaixo de chuva.

Entre as jogadoras com as quais o técnico Arthur Elias pode contar no domingo, estão três das seis brasileiras indicadas à seleção feminina da temporada no The Best, prêmio concedido pela Federação Internacional de Futebol (Fifa): a goleira Lorena (Grêmio) e as atacantes Adriana (Orlando Pride, dos Estados Unidos) e Gabi Portilho (Corinthians). Elas integraram a equipe medalhista de prata na Olimpíada de Paris, na França, assim como as zagueiras Tarciane (Houston Dash, dos EUA) e Rafaelle (Orlando Pride) e a atacante Kerolin (North Carolina Courage, dos EUA), também candidatas.

A votação para a seleção da temporada ocorre pelo site da Fifa, após cadastro gratuito. O internauta, primeiro, seleciona a goleira e depois escolhe até quatro defensoras, quatro meio-campistas e três atacantes.

No jogo anterior diante das australianas, no Suncorp Stadium, somente Portilho – que foi a 18ª colocada da Bola de Ouro, premiação da revista France Football – iniciou como titular. Lorena e Adriana entraram no decorrer da partida, nos lugares de Natascha e Amanda Gutierres, respectivamente.

Natascha, aliás, foi uma das quatro jogadoras que saíram do confronto de quinta-feira (28) contundidas e que preocupam para o segundo jogo. Também precisaram serem substituídas as laterais Fê Palermo e Yasmin e a atacante Marília. A zagueira Vitória Calhau, por sua vez, foi expulsa no fim do segundo tempo.

Amanda Gutierres, duas vezes, e Gio Queiróz balançaram as redes para o Brasil em Brisbane. Caitlin Foord descontou para a equipe da casa. Outro destaque da vitória canarinho foi a também atacante Aline Gomes. Uma das principais revelações da nova geração, a jogadora de 19 anos, vendida ao North Carolina Courage pela Ferroviária em julho por pouco mais de R$ 1 milhão, iniciou pela primeira vez um jogo como titular da seleção principal e deu duas assistências.

“Eu estava falando com a Portilho antes, no comecinho, quando a gente já estava no campo para entrar, que estava me sentindo um pouco estranha, um pouco nervosa. Ela falou para que eu jogasse meu futebol, fosse leve, que, se errasse, todas correriam por mim, juntas. Isso me confortou muito. Então pensei: ‘vou jogar futebol’. E deu tudo certo”, disse Aline, em depoimento à CBF TV.

Uma possível escalação brasileira para o amistoso deste domingo: Lorena; Bruninha, Kaká (Isa Haas), Lauren e Fê Palermo (Yasmin); Laís Estevam e Duda Sampaio; Gabi Portilho, Aline Gomes, Amanda Gutierres e Adriana.

Black Friday: Procon-SP recomenda muita atenção a fim de evitar golpes

O Procon-SP recebeu, entre 30 de outubro e a tarde dessa sexta-feira (29), 2.016 reclamações de consumidores que aproveitaram as promoções da Black Friday para comprar algum produto ou contratar um serviço.

A maioria (639) das queixas registradas pelo órgão paulista de defesa do consumidor tem a ver com atrasos nas entregas das mercadorias. Na sequência, de acordo com o balanço preliminar, vêm as reclamações relacionadas a produtos ou serviços diferentes do adquirido (217); cancelamento de compras após a efetivação das mesmas (195); maquiagem de desconto (183) e indisponibilidade do item promocional anunciado (175).

Para os especialistas do Procon-SP, além de servir de alerta aos consumidores, as informações detalhadas no site do órgão deveriam servir de referência para as empresas identificar eventuais gargalos, melhorar a gestão e o relacionamento com os consumidores.

“Se bem utilizados, estes dados oferecem uma oportunidade de mudança estratégica para a melhoria de todo o negócio”, avalia o diretor-executivo do Procon-SP, Luiz Orsatti Filho, em nota divulgada pelo órgão, que disponibilizou, em seu site um atalho para os consumidores que quiserem registrar uma queixa ou consultar as empresas reclamadas.

Recomendações

Em nota, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, recomendou que as pessoas redobrem os cuidados a fim de evitar cair em armadilhas. Segundo a secretaria, antes de fechar um negócio, o comprador deve analisar muito bem os valores dos produtos e ler com atenção as políticas de devolução e garantia de cada estabelecimento.

Conforme o Código de Defesa do Consumidor, toda publicidade deve ser clara e precisa e o interessado tem direito a informações verdadeiras sobre os produtos, incluindo preço, características e condições de pagamento. Práticas como o aumento de preços antes do evento para simular um desconto maior, a chamada promoção “o dobro da metade”, são ilegais.

Além disso, destaca a Senacon, em compras feitas fora do estabelecimento físico, o código garante aos consumidores o direito de arrependimento, ou seja, o cliente pode desistir da compra em até sete dias, com direito à devolução integral do valor.

“A Black Friday é uma grande oportunidade para consumidores e empresas, mas é também um momento em que precisamos redobrar a atenção com práticas abusivas e ofertas enganosas. A Senacon está monitorando o mercado para coibir essas ações e garantir que o consumidor brasileiro tenha um consumo seguro e vantajoso. Recomendamos que todos se informem e exijam seus direitos para fazer uma Black Friday realmente consciente,” ressaltou o secretário Wadih Damous, na nota.

Estado de São Paulo vence as Paralimpíadas Escolares pela 12ª vez

A edição de 2024 das Paralimpíadas Escolares chegou ao fim na última sexta-feira (29), no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo. O estado anfitrião foi o campeão geral do evento esportivo, que teve início na última quarta-feira (27) e é considerado o maior do mundo para crianças e adolescentes com deficiência em idade escolar.

Os paulistas somaram 646 pontos com base na colocação de seus atletas nas provas das 13 modalidades, com Santa Catarina (315 pontos) em segundo lugar e Minas Gerais (293 pontos) em terceiro. É a 12ª vez que São Paulo leva a melhor, sendo a oitava consecutiva. O estado foi, ainda, o que mais participantes teve em competição (305), seguido, justamente, por mineiros (176) e catarinenses (159).

“A minha maior satisfação é que a cada ano as Paralimpíadas Escolares se apresentam de uma forma única, com mais modalidades e mais participantes. Essa criança que sai daqui surpreendida com o movimento paralímpico não vai querer parar de fazer esporte”, disse Ramon Pereira, diretor de Desenvolvimento Esportivo do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), em depoimento ao site da entidade.

Em 2024, as Paralimpíadas Escolares receberam um recorde de 2.013 atletas dos 26 estados e do Distrito Federal. Pouco mais de 22% deles – portanto, praticamente um a cada cinco participantes – eram estreantes no evento. Já entre os competidores mais experientes, destaque ao nadador mineiro Arthur Xavier, de 17 anos, da classe S14 (deficientes intelectuais), bronze nos Jogos de Paris.

Outros atletas medalhistas também passaram pelo evento escolar. Casos do paraibano Petrúcio Ferreira, velocista tricampeão dos 100 metros rasos da classe T47 (amputação de membro superior); do brasiliense Leomon Moreno, dono de quatro medalhas paralímpicas (uma dourada) no goalball, modalidade exclusiva para atletas com deficiência visual; e da catarinense Bruna Alexandre, mesatenista que fez história em 2024 ao se tornar a primeira brasileira a disputar Olimpíada e Paralimpíada.

Discriminação ainda é desafio para empreendedores LGBTQIA+

No Brasil, segundo uma pesquisa do Datafolha divulgada em 2022, 15,5 milhões de pessoas se identificam com uma das letras da comunidade LGBTQIA+. Mas, apesar de corresponder a 9,3% da população, esse contingente de lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queer, intersexuais, assexuais e demais dissidências de orientação sexual ou de identidade de gênero enfrenta dificuldades de se inserir no mercado de trabalho.

Como alternativa, muitos destinam seus esforços a construir o próprio negócio e recorrem ao empreendedorismo, como indica a analista de Diversidade e Inclusão do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) Louise Nogueira. “Temos dados e informações que mostram que as pessoas da comunidade LGBTQIA+, mais ainda quando se declaram publicamente parte da comunidade, têm muitas dificuldades de serem inseridas no mercado de trabalho, então o empreendedorismo acaba sendo uma saída para elas”.

Na quinta-feira (28), o Sebrae concluiu a primeira edição do projeto Transcender – Empreendedorismo LGBT+, voltado para negócios liderados por pessoas LGBTQIA+. Durante o Seminário Transcender, realizado na sede da instituição, na zona central do Rio de Janeiro, os 51 selecionados para o projeto participaram das palestras Boletim de Inteligência LGBT+ e Liderança para Negócios Liderados por pessoas LGBT+, além da entrega de certificados.

Discriminação

Responsável pelo projeto, a analista do Sebrae destaca que vulnerabilidades especificas de populações dentro do grupo aumentam ainda mais a necessidade de buscar alternativas para a sobrevivência. “No caso das pessoas transgêneras, a dificuldade é ainda maior porque não conseguem concluir os estudos, acabam saindo de casa muito cedo pela não aceitação dos pais e não conseguindo entrar no mercado de trabalho, até porque não têm qualificação É uma vida muito difícil, então para todos esses grupos enxergamos que o empreendedorismo é uma saída para que essas pessoas possam ter autonomia financeira, crescimento pessoal, gerar renda e gerar emprego”, avalia Louise Nogueira.

Para ela, a falta de informação sobre o mercado e os consumidores são dois dos principais desafios enfrentados pelos empreendedores LGBTQIA+. Existem, também, a discriminação ligada às diferentes orientações sexuais e identidades de gênero, como e traz o professor do Departamento de Turismo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Lucas Gamonal.

“Muitas vezes, as pessoas têm preconceitos associados à aparência, a trejeitos e até mesmo com relação a pessoas que convivem com HIV. Por mais que pareça distante, isso ainda existe, então vão ter pessoas com receio de consumir produtos e serviços em virtude dessas questões”. Gamonal acrescenta ainda que, em contrapartida, aqueles que integram a comunidade LGBTQIA+ podem se sentir mais seguros e pertencentes, consumindo e oferecendo serviços a pessoas do mesmo grupo, promovendo também a valorização da comunidade.

Única pessoa transexual participando do Transcender, Carol Romeiro é dona do salão de beleza Carol Romeiro Hair Studio, no bairro de Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste da capital fluminense. Como a maior parte dos empreendimentos selecionados para a primeira edição do projeto, o negócio surgiu após a pandemia, em 2022, como forma de encontrar um espaço de trabalho livre de agressões por conta da sua identidade de gênero.

“Trabalho há dez anos com salão de beleza, entre idas e vindas dentro do mercado, porque na falta de emprego sempre recorremos àquilo que é o mais comum para as mulheres trans e que sempre acontece no momento de transição, principalmente no início, quando não nos enquadramos em padrão A ou B. Mesmo com preparação, mesmo com bons certificados, tem sempre esse momento em que acabamos tendo que recorrer à prostituição”, disse.

Em entrevista à Agência Brasil, ela compartilha que a vontade de abrir o próprio negócio surgiu quando o salão em que trabalhava fechou e ela se viu na condição de ter que voltar à prostituição para se manter. “Ia ter que voltar de novo para essa corrida. Mas eu tinha a clientela. Então comecei a atender em casa e, assim, veio a necessidade de ter o meu próprio negócio para não ficar refém de uma patroa ou de um patrão que pudesse me cortar a qualquer momento. Entendi que se eu tivesse meu espaço para trabalhar e ali fizesse meu dinheiro, não ia depender de ir para lugares que não queria estar nunca”.

Mesmo sendo dona do próprio negócio, Carol conta que ainda hoje precisa enfrentar situações de discriminação e de violência com clientes. “As pessoas querem se impor, elas não querem chegar e pedir por um serviço. Já chegou pastor no salão querendo evangelizar, falando que Deus tinha uma revelação para mim se saísse daquela vida, como se eu fosse uma coisa doente ou pecaminosa. São várias situações que ainda passo diariamente.”  

Oportunidades

Segundo o professor da UERJ, faltam investimentos em educação e em capacitação para fomentar não só o empreendedorismo, mas a inserção de pessoas LGBTQIA+ no mercado de trabalho. Como ele reforça, muitas pessoas que integram a comunidade têm suas realidades interrompidas em razão de conflitos familiares e acabam em situações socioeconômicas precárias.

“Muitas das iniciativas empreendedoras ou mesmo de empreendimentos formais surgem dessas inseguranças e inquietações de não se sentir representado, acolhido, benquisto ou valorizado nesses ambientes. Além disso, existem necessidades e desejos próprios da comunidade, que então se tornam oportunidades de criações de negócios”.

Para o artista plástico Matheus Pretovich, também deve ser considerada a possibilidade de perda de investimentos por se identificar explicitamente como um empreendimento liderado por uma pessoa LGBTQIA+, que se identifica com as causas da comunidade. “É o medo de perder pauta por isso, perder vendas ou perder seguidores que hoje em dia, infelizmente, é uma coisa muito significativa, principalmente para artistas independentes.”

Apesar de identificar esse como um receio de vários empreendedores, o artista ressalta que existe uma comunidade forte que se tornou uma comunidade consumidora. “Trazer essas pautas, defender isso, produzir conteúdo sobre isso e antecipar esses diálogos também nos conecta com essa comunidade, que é um mercado consumidor significativo e crescente. Vemos grandes empresas se posicionando dessa forma, por que não a gente também fazer isso?”, questiona.

Natural do Rio Grande do Norte, Matheus sonha em, a partir do Transcender, conseguir abrir um café que seja um espaço acolhedor e diverso, “sem medo de perder público ou negócios por ser quem eu sou, abraçar quem eu abraço ou defender quem eu defendo”.

Projeto Transcender

Projeto Transcender orienta empreendedores LGBTQIA+, por André Telles/Sebrae

Com início em maio deste ano, o Transcender é o primeiro projeto do Sebrae voltado especificamente para o público LGBTQIA+. Além da trilha de capacitação, os selecionados participaram de palestras, oficinas, cursos e consultoria sobre planejamento, finanças, marketing e inovação.

A maior parte dos empreendimentos são ligados aos setores de moda (vestuário e acessórios), artesanato, beleza e alimentação. Das pessoas que se inscreveram, homens gays eram predominantes, seguido de mulheres lésbicas.

“Apresentamos o empreendedorismo ou capacitamos a essas pessoas, porque algumas já são empreendedoras. Para aquelas que querem aprender, apresentamos o empreendedorismo como uma solução”, explica Louise Nogueira, analista do Sebrae.

Em setembro deste ano, um levantamento realizado pela instituição, a partir de dados da Receita Federal, trouxe que o Brasil registrou a abertura de 349,5 mil novos pequenos negócios, representando 96% de todos os Cadastros Nacionais de Pessoas Jurídicas (CNPJ) criados no período. O setor que liderou a abertura de novos CNPJs em setembro foi o de Serviços (61%), seguido por Comércio (22%) e Indústria (8%).

Além da formação, a analista destaca a importância de financiamento, com oferta de microcréditos, já que muitas das pessoas que integram a comunidade não têm renda para iniciar um negócio. “O conhecimento já é muita coisa, mas talvez não seja o bastante para esse grupo, então, ajudas do poder público, ligadas ao fomento ao crédito, e mais oportunidades para essas pessoas é algo que o Sebrae pode oferecer, mas ainda precisaria de mais apoio. Acredito que tanto o acesso a crédito como o acesso ao mercado são dois obstáculos que o empreendedorismo LGBTQIA+ ainda enfrenta”.

“O Sebrae está abrindo portas”, concorda Carol Romeiro, “mas ainda estamos caminhando nesse espaço para conseguir formar pessoas, e não só nós precisamos de formação, mas também precisamos formar equipes para saber receber e saber não agredir verbal e fisicamente. Vejo que tem portas se abrindo, mas ainda estamos engatinhando”, avaliou.

*Estagiária sob supervisão de Vinícius Lisboa

Governo anuncia conjunto de ações destinadas à população negra

O governo federal anunciou, nesta sexta-feira (29), um conjunto de ações com o objetivo de valorizar a história e a cultura afro-brasileira, gerar emprego e renda para a população negra em geral e promover o respeito à liberdade religiosa no país.

Entre as medidas anunciadas nesta sexta-feira (29), está a desapropriação de terras na Bahia, no Maranhão, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, na Paraíba, no Piauí, Paraná e em São Paulo. Segundo o Palácio do Planalto, os decretos de Declaração de Interesse Social para Quilombos, assinados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, beneficiarão 1.123 famílias e cerca de 4 mil quilombolas de 15 territórios.

A titulação desses territórios quilombolas é o primeiro passo para garantir autonomia e proteção das comunidades, promovendo a preservação de suas tradições culturais. De acordo com o governo federal, o conjunto de áreas desapropriadas para titulação dos territórios quilombolas é o maior desde 2008, quando Lula, em seu segundo mandato, entregou 30 áreas.

Realizada no último dia útil do mês em que se celebra o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra (20 de novembro), a cerimônia de assinatura dos decretos contou com a presença das ministras da Igualdade Racial, Anielle Franco, e da Saúde, Nísia Trindade, e do ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira.

“Uma alegria iniciar o sábado renovada com os 15 decretos de declaração de interesse social para quilombos assinados ontem pelo presidente Lula. Entre eles, o Quilombo Pitanga de Palmares, em Simões Filho (BA) e Candeias (BA), onde a líder quilombola Mãe Bernadete foi assassinada no ano passado”, comentou Anielle, hoje (30), em suas redes sociais.

Líder quilombola, yalorixá e ex-secretária de Promoção da Igualdade Racial de Simões Filho, Maria Bernadete Pacífico, a Mãe Bernadete, foi morta a tiros por criminosos que invadiram a comunidade e fizeram ela e parentes dela reféns, em agosto de 2023. Seis anos antes, o filho de Mãe Bernadete, Binho do Quilombo, já tinha sido morto a tiros, no município. Em agosto do ano passado, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) reconheceu a delimitação do território quilombola.

 

Presidente Lula assina decretos que desapropriam áreas para quilombos – Ricardo Stuckert/PR

Além de Pitanga de Palmares, foram beneficiados pelos decretos presidenciais os seguintes quilombos: Vicentes, em Xique-Xique (BA), onde residem 29 famílias quilombolas; Iúna, em Lençóis (BA) (39 famílias); Jetimana e Boa Vista, em Camamu (BA) (61 famílias); Depósito, em Brejo (MA) (13 famílias); Marobá dos Teixeira, em Almenara (MG) (79 famílias); Lagoa Grande, em Jenipapo de Minas, Novo Cruzeiro e Araçuaí (MG) (29 famílias); Pitombeira, em Várzea (PB) (91 famílias); Macacos, em São Miguel do Tapuio (PI) (50 famílias); João Surá, em Adrianópolis (PR) (34 famílias); Sacopã, em Rio de Janeiro (RJ) (nove famílias); São Benedito, em São Fidélis (RJ) (60 famílias); São Pedro, em Eldorado e Iporanga (SP) (40 famílias); Galvão, em Eldorado e Iporanga (SP) (29 famílias) e Porto Velho, em Itaóca e Iporanga (SP) (24 famílias).

Afroturismo

Na ocasião, o presidente também assinou um decreto instituindo o Programa Rotas Negras. Segundo o governo federal, a iniciativa prevê o investimento de cerca de R$ 63 milhões, até 2026, para promover o turismo voltado à cultura afro-brasileira e contribuir para a promoção da igualdade racial.

A proposta do programa é incentivar a preservação e a valorização da memória e do patrimônio cultural e histórico negro, contribuindo para o enfrentamento do racismo no país; fomentar as rotas de turismo a partir da memória, da ancestralidade, do patrimônio e da cultura negra e incentivar a adesão dos entes federativos ao Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir) e ao Mapa do Turismo Brasileiro.

Também busca fomentar a economia criativa e circular para a geração de emprego e renda para a população negra inserida na cadeia produtiva do turismo; desenvolver novos modelos de produtos e serviços turísticos relacionados à cultura afro-brasileira e incentivar experiências ou serviços turísticos relacionados à cultura afro-brasileira nacional e internacionalmente.

Segundo o Ministério do Turismo, o chamado afroturismo é “uma jornada de reconexão, valorização e aprendizado” em um país “onde as heranças africanas estão profundamente enraizadas na identidade e diversidade cultural” e vem ganhando cada vez mais relevância na agenda governamental. Para melhor apoiar e dar mais visibilidade as ações do segmento, a pasta está mapeando as iniciativas, políticas públicas e atrativos estaduais e municipais.

Liberdade religiosa

Os representantes dos ministérios da Igualdade Racial; dos Direitos Humanos e da Cidadania; da Cultura; da Justiça e Segurança Pública e do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar assinaram também a Política Nacional de Povos de Matriz Africana e Terreiro.

Com investimentos que superam R$ 115 milhões e envolvem 11 órgãos federais, a iniciativa busca valorizar a ancestralidade africana no Brasil, valorizando os saberes e as práticas dos povos tradicionais e do enfrentamento do racismo religioso. Em seu perfil no X (antigo Twitter), Lula comentou que a política nacional busca “promover o respeito e a liberdade religiosa”.

Ainda no âmbito das políticas públicas anunciadas por ocasião do Novembro Negro, o governo federal anunciou um novo protocolo para assistência farmacêutica a pessoas com doença falciforme, enfermidade genética e hereditária caracterizada por uma mutação no gene que produz a hemoglobina (HbA) e que, proporcionalmente, atinge mais as pessoas negras.

Em uma publicação nas redes sociais, o Ministério da Igualdade Racial informou que a medida “amplia o cuidado com a saúde da população negra, com assistência farmacêutica que melhora o prognóstico dos pacientes e promove mais qualidade de vida, especialmente para crianças”.

O Ministério da Igualdade Racial e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também assinaram um convênio que prevê a destinação de R$ 33 milhões para apoiar projetos para a elaboração e implementação de Planos de Gestão Territorial e Ambiental Quilombola (Pgtaq) na Amazônia Legal – território composto por nove estados brasileiros: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão.

Batizada de Naturezas Quilombolas, a iniciativa receberá recursos do Fundo Amazônia, geridos pelo BNDES, sob a coordenação do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Os planos de gestão territorial e ambiental são o principal meio de implementação da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental Quilombola (Pngtaq), instituída em 2023.

“Estamos fazendo o maior investimento desta gestão nessa política tão necessária”, comentou a Anielle Franco. “Estamos falando de uma política que reconhece que, assim como nos territórios indígenas, os quilombolas são os que melhor preservam o meio ambiente, com seus modos de vida e sistemas sustentáveis”, concluiu a ministra.

Congonhas normaliza operações após dia de cancelamos

Depois de uma sexta-feira (29) bastante tumultuada, com mais de 100 voos cancelados e muito atraso nos embarques, o Aeroporto de Congonhas teve suas atividades normalizadas neste sábado (30). Conforme a concessionária Aena Brasl, que administra o aeroporto, os pousos e as decolagens estão sendo feitas dentro das escalas – apenas três chegadas foram canceladas em função de questões operacionais de outros aeroportos.

Embora as áreas de check in estejam próximas da normalidade. Ainda se registram algumas aglomerações nas salas de embarque. Mas nada comparável aos dois dias de transtornos causados pelas fortes chuvas de quinta-feira (28), quando 115 voos foram cancelados, houve reclamações de passageiros por falta de informações das companhias aéreas, além de muita demora da embarques.

Só na quinta-feira foram 35 chegadas e 37 partidas foram canceladas. Na sexta-feira foram 15 partidas e 28 chegadas que não puderam ser operadas. Muitos passageiros passaram a noite no aeroporto, inclusive idosos e crianças. Alguns foram transferidos para o aeroporto de Viracopos, a 85 quilômetros da capital São Paulo. Aliás, não houve registros de problemas tanto em Viracopos quanto no aeroporto internacional de Cumbica, em Guarulhos.

 

 

Busto vandalizado de líder quilombola é reparado em cidade do Rio

O busto da líder quilombola Maria Conga, vandalizado no último dia 19, véspera do feriado da Consciência Negra, foi reparado neste sábado (30) pela prefeitura de Magé, cidade da Baixada Fluminense, região metropolitana do Rio de Janeiro.

A placa com a minibiografia da líder negra foi reposta, após ter sido arrancada. Instalado no Píer da Piedade em novembro de 2021, este foi o segundo episódio de vandalismo contra a homenagem à personalidade histórica. Em 2023, a representação de Maria Conga foi grafitada com símbolos nazistas.

A prefeitura de Magé chama o reparo deste sábado de um ato contra a intolerância. “Essa mulher que foi extremamente necessária na luta do povo negro, da nossa cidade, do nosso país, na resistência e no acolhimento aos escravizados”, afirmou o secretário de Cultura, Turismo e Eventos, Bruno Lourenço. “Vamos permanecer na resistência por entender a necessidade de continuar contando a nossa história e as nossas origens”, completou.

Quem foi Maria Conga

O busto criado pela artista Cristina Febrone fica no Píer da Piedade, banhado pela Baía de Guanabara. O local tem simbolismo histórico, pois foi ponto de chegada de africanos aprisionados durante a escravidão.

Maria Conga nasceu no Congo, oeste da África, em 1972. Era filha de um rei, mas foi retirada da sua terra em um navio negreiro que a levou escravizada para a Bahia, por volta de 1804. Aos 18 anos, Maria teria sido vendida a um senhor de engenho de Magé e, aos 24 anos, novamente comercializada para um conde.

Ela conquistou a alforria aos 35 anos e fundou na cidade o quilombo Maria Conga, para dar abrigo a outros negros que fugiam da escravidão. Até hoje há uma comunidade quilombola no município.

Nos anos 2020 e 2024, Maria Conga foi homenageada por enredos das escolas de samba Acadêmicos da Rocinha e Estácio de Sá, respectivamente, ambas no grupo de acesso do carnaval carioca.

Artistas defendem que hip hop se torne patrimônio imaterial

“Quero ter tempo de honrar sempre de onde eu venho (…) Tem tempo de plantar, tem tempo de colher/Mas todo tempo é tempo quando a meta é crescer”.

Os versos da música O tempo, de Nenzin MC (nome artístico do rapper Jonathan Williano), de 29 anos, de Ceilândia (DF), ajudam a descrever os caminhos do músico, que começou a criar aos 15 anos de idade e que ouviu, até mesmo dentro de casa, receio se a arte poderia garantir os caminhos profissionais. Nos versos, temas da periferia tiveram o som da transformação.

Brasília (DF), 17/10/2024 – MC Nenzin realiza batalhas de rap que geram empregos em Ceilândia. Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Além de compor, o artista é responsável por “batalhas de rap” que garantem pelo menos 50 empregos diretos e 150 indiretos na própria Ceilândia, a maior cidade do Distrito Federal.  

“Depois do rap, tudo mudou. A minha família entendeu que a música ia ser o que ia pagar as contas da nossa casa. Além disso, a gente gera uma economia para dentro da nossa cidade com cultura, diversão e arte”.

No caso de Nenzin MC, ele virou músico de verdade depois que ingressou, aos 18 anos, em uma ONG chamada Jovem de Expressão, que oferece vagas para pessoas da periferia em cursos para empoderamento da juventude periférica, com a lógica de ser impulsionada pela cultura hip hop (que o rap faz parte). 

Seminário

Graças a projetos como esse que artistas e ativistas integrantes do movimento iniciaram uma campanha para que o hip hop se torne patrimônio imaterial do Brasil. Inclusive, Brasília sedia até, este sábado (30), o 1º Seminário Internacional Construção Nacional Hip-Hop. O evento teve a presença da ministra da Cultura, Margareth Menezes, que defende a avaliação da iniciativa pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Brasília (DF), 17/10/2024 – Cláudia Maciel participa do Seminário Internacional Construção Nacional do Hip Hop. Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

A artista Claudia Maciel, que integra o comitê gestor de juventude negra e facilitadora da construção nacional do hip hop da ONG na Ceilândia, explica que há um inventário com mais de duas mil páginas para que o movimento cultural se torne patrimônio.

“A nossa cultura é vilipendiada. A gente busca o direito de exercer a nossa cultura nas ruas”.

Ela lamenta que artistas ainda são vítimas da violência por racismo. 

Por isso, o reconhecimento oficial, na opinião da educadora, pode colaborar para que os artistas recebam mais recursos. “Esse seminário é fruto de um pacote robusto de entregas do Ministério da Cultura para nós”, afirmou Claudia Maciel. Ela acrescentou que uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a ser divulgada neste sábado, deve mostrar que a maioria dos artistas do hip hop no Brasil são homens negros.

Vetor de transformação

O diretor da Jovens de Expressão, Antônio de Pádua Oliveira, de 45 anos, avalia que o hip hop é um dos movimentos que têm mais entrada nas periferias.

“A cultura se transforma em um vetor de transformação social. A gente entende que pode gerar renda para o jovem de periferia, o que inclui não só música, mas também moda, literatura, dança, produção audiovisual…”, exemplifica. 

Outra das vidas transformadas pelo hip hop é a do produtor de audiovisual Ricardo Soares Azevedo, de 31 anos, conhecido pelo apelido de Palito, na comunidade. Ele chegou na ONG em Ceilândia para dar aula de basquete de rua.

Ricardo Soares Azevedo, conhecido como Palito, conta como hip hop mudou sua vida. Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

“Logo em seguida eu entrei na oficina de audiovisual. É uma área muito cara e muito inacessível para mim na época. O curso foi de graça”. Depois que aprendeu a filmar, passou a registrar a comunidade e entrar no mercado de trabalho.

“Eu trabalho muito com cobertura de eventos. Já gravei videoclipes de artistas da cidade também”. Hoje ele vive das filmagens.

Um filme do produtor, com o título Faz seu Corre, de 23 minutos, foi selecionado para a Mostra do Festival de Cinema de Brasília. “Conta justamente a realidade dos jovens de periferia que passam por dificuldade. Jovens que, às vezes, não têm muita oportunidade e acabam encontrando na arte uma oportunidade de ganhar a vida”, diz o profissional com uma vida de imagens que ele nunca imaginou.

Ilum seleciona novos alunos para bacharelado em ciência e tecnologia

Epidemias, catástrofes climáticas ou inteligência artificial não são mais enredo de ficção científica. Muitas transformações globais já saíram do terreno do “se” para se tornar uma questão de “como” e “quando”.

Mas esse rol aumenta continuamente. Por exemplo, em outubro de 2019, apenas especialistas estavam familiarizados com o coronavírus. Em novembro, os primeiros casos foram confirmados na China e, em março do ano seguinte, a infecção se tornou a pandemia que parou o mundo, ceifou milhões de vidas e modificou profundamente nosso modo de viver.

Como preparar pesquisadores e profissionais que consigam antecipar e encontrar soluções para problemas assim, que nós não sabemos quando ocorrerão, nem de que maneira exata?

Esse é o desafio que norteia o trabalho da Ilum, a escola de ensino superior do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), uma organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Informação, que hoje é uma das principais instituições de pesquisa e inovação do país. O projeto da Ilum foi concebido em 2020 e a primeira turma começou a estudar em 2022.

“A ideia era formar cientistas jovens que fossem interdisciplinares, independentes, ousados… Que tivessem muita prática experimental, e muito conhecimento em ciência de dados, Inteligência Artificial e machine learning”, conta o físico Adalberto Fazzio, que foi reitor da Universidade Federal do ABC e diretor do Laboratório de Nanotecnologia do CNPEM, e hoje é diretor da escola.

A Ilum oferece apenas um curso, o Bacharelado em Ciência e Tecnologia, com duração de 3 anos e totalmente gratuito. E somente 40 alunos são admitidos por ano. Há outros diferenciais: os estudantes têm a moradia, o transporte e a alimentação custeados pela escola e também recebem um computador pessoal para usar durante o curso. As aulas são em tempo integral e desde o primeiro período, eles já fazem trabalhos nos laboratórios de última geração do CNPEM.

Segundo o diretor Adalberto Fazzio, alunos já começam, a ser cientistas ao entrar no curso. Foto: – ILUM/Divulgação

“A estratégia pedagógica também é diferente. Os alunos trabalham muito em projetos que eles mesmos propõem ou que são colocados pelos professores, que também são jovens, que já tem pós-doutorado no exterior, são pesquisadores, mas estão focados no ensino. E eles já têm acesso a laboratórios sofisticados, com equipamentos como microscópio de força atômica, tunelamento, toda a parte de espectroscopia.

Segundo o professor, os alunos já começam a ser cientistas e são muito estimulados a escrever e apresentarem seus trabalhos. “A gente treina os alunos pra trabalhar em grupo, porque hoje não existe mais aquele cientista isolado”, destaca Fazzio.

Por ser subordinada a uma organização social, a Ilum tem maior flexibilidade para mudar o currículo do curso ou as ementas das disciplinas, a fim de se adaptar aos novos conhecimentos que surgem,

“Toda semana os professores têm reuniões para discutir o conteúdo e a gente tem um conselho interno que também faz essa avaliação”, diz o diretor.

Como resultado da combinação dessa estratégia com o auxílio estudantil, dos 40 alunos que começaram o curso em 2022, 36 receberão seus diplomas no final deste ano. Ou seja: a evasão foi de apenas 10%, muito abaixo do índice de cerca de 60% da educação superior federal.

Alunos

Um dos formandos é Gabriel Xavier, que saiu de Montes Claros, em Minas Gerais, para estudar na Ilum. Ele integra a equipe que foi medalhista de ouro em uma competição do prestigiado MIT – O Instituto de Tecnologia de Massachusetts, pela concepção de um filtro ecológico capaz de detectar e retirar microplásticos e nanoplásticos de líquidos.

Gabriel Xavier: “Encantamento só foi aumentando”. Foto – ILUM/Divulgação

Gabriel foi apresentado à escola por um professor de matemática, que fez parte da comissão selecionada pelo Ministério da Educação para avaliar a Ilum, antes da sua abertura.

“Ele estava encantado com tudo que tinha visto e ele sabia que eu gostava de matemática, física, química e viu que poderia ser uma boa oportunidade pra mim. Depois eu comecei a acompanhar o CNPEM, e o encantamento só foi aumentando”, conta Gabriel.

“A gente sempre escuta falar sobre nanotecnologia, biociências, biorrenováveis e eu tinha muita curiosidade de entender o que é isso e o que se faz de pesquisa no Brasil. Com o passar do tempo essa curiosidade foi se tornando um interesse de fazer parte.”

Mas ele reconhece que todos os auxílios que a Ilum oferece também pesaram bastante na decisão de participar do processo seletivo: “Ao longo do curso, a gente percebe que a carga horária é extensa e conciliar isso com um trabalho é muito difícil. De fato, essa ajuda de custo é fundamental pra que o estudante consiga se dedicar de maneira integral e definitiva aos estudos”.

Os auxílios são especialmente importantes para os alunos que vivem em estados mais distantes e deixam a casa da família para estudar na Ilum. Na turma de Gabriel, 82,5% dos alunos moravam na Região Sudeste, mas a distribuição regional foi aumentando nos processos posteriores. Em 2023, essa concentração caiu para 40%, com 25% dos estudantes vindos do Nordeste, 15% do Sul, 12,5% do Centro-Oeste e 7,5% do Norte. Além disso, metade dos alunos fizeram o ensino médio em escolas públicas.

Júlia Amâncio, que está no segundo ano da graduação, preenche esses dois requisitos. Ela estudou no Instituto Federal de Sergipe, em Aracaju, e foi incentivada a tentar uma vaga na Ilum por um amigo, que participou de uma das edições do Cápsula da Ciência, evento itinerante que o CNPEM promoveu para apresentar seu trabalhos a estudantes de diversas regiões do Brasil.  

“Na época, eu estava muito indecisa sobre qual curso eu queria seguir, porque gostava de muita coisa ao mesmo tempo. Eu pesquisei muito sobre a estrutura da Ilum, a grade curricular, onde ela se localizava. A descoberta de que existia essa faculdade, mas que era em outro canto, gerou um impacto não só pra mim, mas também pra minha família.” 

“Esse auxílio foi um fator muito decisivo. Embora seja uma escolha difícil sair de onde eu moro, ele foi essencial para eu conseguir me estabelecer e focar nos estudos”, ressaltou.

A aluna Júlia Amâncio compõe o grupo de mulheres nas chamadas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. Foto: Ilum/Divulgação – ILUM/Divulgação

Julia também compõe o crescente grupo de mulheres nas chamadas áreas STEM – sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, campos do conhecimento que já foram dominados por homens. Na Ilum, as estudantes do gênero feminino são cerca de 40% do total. E todos aprendem que o conhecimento dos laboratórios não pode ser descolado da sociedade.

“Até mesmo no trabalho de conclusão de curso, nosso projeto tem que ter uma relevância social. Desde o início, tivemos matérias de humanidades e trabalhamos o papel do cientista. Porque estamos vivendo em uma bolha, tendo contato com diversas áreas do conhecimento, e muitas pessoas não têm esse acesso. Isso faz com que tenhamos o dever de traduzir o que aprende. Outro ponto importante é aprender a valorizar a ciência brasileira”, afirma Júlia.

Gabriel acrescenta que a faculdade também incentiva que os alunos estejam antenados com as grandes questões da sociedade.

“Temas como os impactos das mudanças climáticas, por exemplo, passam não só pela ciência, mas também por ações sociais. Temos que entender como contribuir em relação à ciência, mas também entender que todo e qualquer tipo de mudança social tem que ser ancorada em um processo integrado com a sociedade”.

De acordo com o diretor da Ilum, Adalberto Fazzio, a maioria dos alunos pretende seguir carreira acadêmica e a Ilum tem alguns atalhos. Interessados em neurociência, ou engenharia, por exemplo, podem migrar para a UFABC e já entrar no quarto ano da graduação. Parcerias semelhantes com outras instituições já estão sendo negociadas. Há alunos também que já conseguem sair do bacharelado direto para um mestrado ou até doutorado.

Faculdade inovadora de Ciência e Tecnologia seleciona novos alunos. Foto: ILUM/Divulgação

Processo seletivo

Jovens interessados na proposta da Ilum podem participar do processo seletivo para a turma de 2025. As inscrições estão abertas até o dia 16 de dezembro no site da faculdade. A nota do Enem é utilizada para o primeiro corte.

Depois disso, os 250 melhores posicionados são convocados para entrevistas individuais com a equipe da Ilum, que também avalia um texto de manifestação de interesse, incluído na ficha de inscrição, onde o candidato conta suas experiências pessoais e escolares e porque deseja fazer o curso. No ano passado, foram quase 4 mil inscritos. Os números deste ano ainda não estão fechados, mas jovens do gênero feminino são a maioria.

A Ilum já adota a reserva de pelo menos metade das vagas para estudantes de escola pública e de acordo com o direto Adalberto Fazzio, está estudando formas de aplicar cotas raciais no ano que vem. Até porque a multiplicidade dos estudantes também é vista como um ativo importante. “Temos alunos de 24 estados brasileiros, então é uma conversa muito rica entre eles.”

Encontro celebra protagonismo feminino nas rodas de samba

A busca pelo protagonismo feminino, com uma rede de apoio e de afeto para as mulheres no samba, foi o motivo para a cantora, compositora e apresentadora Dorina criar o Encontro Nacional e Internacional de Mulheres na Roda de Samba, em 2017, considerado o maior evento de samba feminino do mundo. O encontro terá transmissão online simultânea em várias cidades brasileiras e em alguns países pelo perfil do Instagram @coletivotemmulhernarodadesamba.

Aos 65 anos, Dorina, cria de roda de samba, vê que este ritmo sempre foi de conquistas e de resistência. “Não é só um tipo de música; É também uma filosofia de vida que abastece as energias de quem está na roda. Achei que seria uma ótima cama para fazer esse projeto”, revelou em entrevista à Agência Brasil.

Com programação prevista para durar seis horas, a Roda de Samba vai contar com 30 mulheres, entre cantoras e instrumentistas. Além da Dorina, estarão presentes Ana Costa, Nina Rosa, Dayse do Banjo, Renata Jambeiro, Nina Wirtti, Lazir Sinval, Tia Surica, os grupos Herdeiras do Samba e Mulheres da Pequena África, sob a direção musical de Ana Paula Cruz e Roberta Nistra.

“O mais importante disso é que elas não abraçaram só o samba, mas a filosofia que o samba dá, que é essa coisa de se trabalhar junto, estar junto. Prevalece a história contra o racismo, contra a misoginia, contra a xenofobia. A gente trata disso tudo para poder fazer uma corrente que seja um mundo melhor, não um mundo da gente chegar ao poder, de ser mais que o homem no samba. Não é isso. A gente quer participar e passar essa coisa de afeto mesmo com segurança”, apontou.

O Renascença Clube, no Andaraí, zona norte do Rio, receberá a sétima edição do Encontro Nacional e Internacional de Mulheres na Roda de Samba neste sábado (30), bem perto do Dia Nacional do Samba, comemorado em 2 de dezembro. “A gente não pode ir muito para dentro de dezembro por causa das outras cidades, principalmente as fora do Brasil, quando é mais frio. A gente procura acertar uma data que seja boa para todas, porque o horário tem que ser o mesmo. Todo mundo no mesmo tom, com as mesmas músicas. A gente trabalha isso o ano inteiro para passar as músicas para elas ensaiarem”, relatou.

O Encontro vai se espalhar por 32 cidades, incluindo algumas fora do Brasil, no mesmo dia, horário e com as mesmas músicas. “O projeto foi abraçado por todas as mulheres, tanto que a gente começou com 11 cidades, já chegamos a 43 e este ano estamos com 32. Possibilitou muitas mulheres a se conectarem com elas mesmas, se conectarem com a nossa história, que a gente não é só isso que falam, mas muito mais”.

Dorina conta que o projeto segue a linha de outros que já desenvolveu para ampliar o conhecimento do samba. “As minhas ideias surgem sempre para movimentar, para que as coisas melhorem. Foi assim com Suburbanistas que comecei a cantar o subúrbio carioca junto com Luiz Carlos da Vila e Mauro Diniz, foi com Mulheres de Zeca, já existia o Mulheres de Chico, e fizemos Mulheres de Zeca [Bloco carnavalesco e espetáculo musical em homenagem ao cantor e compositor Zeca Pagodinho] no subúrbio e assim foi também o Encontro de Mulheres. Esse avançou e conquistou várias cidades que a gente nem esperava conquistar. Tem em Goiânia, tem Belém, três cidades do interior da Bahia e tem no Acre”.

Fora do Brasil, mulheres de várias cidades como Toronto, Canadá, Portugal, Uruguai e Argentina vão participar. “Hoje em dia, com a internet e o Whatsapp, a gente vai costurando, fazendo workshop através de YouTube para elas, que participam também de reuniões por meating. Durante o ano, continuam fazendo atividades. A gente está sempre em contato e também para a gente trocar experiências, por exemplo, o governo uruguaio estabeleceu o Dia das Mulheres no Samba, que é o dia do nosso encontro. Elas conseguiram através do nosso movimento. Aqui no Brasil a gente não conseguiu”, comparou, lembrando que mesmo durante a pandemia foi possível realizar o projeto virtualmente.

Homenagens

Como sempre, o projeto homenageia uma cantora e foi assim com Beth Carvalho, Elza Soares, Alcione, Teresa Cristina, Leci Brandão e Tia Surica. Este ano, no entanto, serão duas as homenageadas. Clementina de Jesus, in memoriam, e Áurea Martins, que estará presente e vai cantar.

Rio de Janeiro (RJ) 27/11/2024 – Retrato de Áurea Martins, homenageada no encontro – Fernando Frazão/Agência Brasil

“Quando surgiu essa ideia [de fazer as homenagens no Encontro] queria dar flores em vida para as que estavam aí”, comentou, em alusão ao samba Quando eu me chamar saudade, em que o compositor Nélson Cavaquinho, escreveu os versos Me dê as flores em vida/O carinho, a mão amiga/Para aliviar meus ais, reforçando a importância de receber homenagens enquanto vivo.

Mas para Clementina, que será representada pela neta Vera de Jesus, será a primeira vez que o Encontro faz homenagem a quem já fez a passagem.

Ancestralidade

“Eu estou muito grata, primeiro que o projeto da Dorina é uma coisa linda e ela homenageia várias mulheres. Agora é a vez da vovó e da Áurea Martins, em vida. Eu estou muito feliz e me sinto muito grata. Dorina me convidou agora para representar a vovó e só tenho que dizer obrigada por essa homenagem belíssima. A vovó tem tudo a ver com esse movimento, porque quando ela surgiu teve um protagonismo feminino, trouxe isso com ela em uma época que era dominada pelos homens. Ela chegou, chegando mesmo e desde lá já tinha essa visão de estar desbravando o lugar da mulher no samba. Por ser aquariana, é uma mulher que enxerga lá na frente, dizem isso, né?”, disse Vera à reportagem, animada com a homenagem.

A neta destacou ainda a felicidade pelo papel que Clementina tem no samba e na música, especialmente na época em que a Bossa Nova estava no auge. “Era um movimento muito forte e ela chega com aquela voz dela, singular”, observou.

Rio de Janeiro (RJ) 27/11/2024 – Retrato das cantoras Dorina, idealizadora do Encontro Nacional e Internacional de Mulheres na Roda de Samba, e Vera de Jesus, neta de Clementina de Jesus, homenageada in memoriam no Encontro – Fernando Frazão/Agência Brasil

“Comparo à ligação entre Mãe África e Brasil. Uma voz que veio e deveria ter mostrado mais na época, mas chegou um tempo que para a indústria [fonográfica] não era mais interessante Clementina de Jesus, mas até hoje o nome dela está firmado, está aí respeitado. Ela está sempre sendo homenageada”.

Vera considera importantíssimo ser neta de Clementina de Jesus e poder participar desse evento representando a avó. “É um orgulho. Eu estou muito, muito, muito feliz. Eu nem sabia que ia ter e um dia a Dorina me ligou para dizer que gostaria que eu estivesse presente. Disse para ela ‘é para já, é pra ontem’. Eu abracei. Ela tem tudo a ver com esse movimento de Dorina. É uma mulher visionária. Isso já vem lá de trás. Com muita vitalidade. Ela veio com muita força”, descreveu a avó.

Com tanta admiração foi natural ter se tornado cantora por influência de Clementina. Desde pequena, se encantava quando a avó, ainda empregada doméstica e cozinheira contratada para festas, ficava cantando enquanto trabalhava. “Sempre ouvia ela cantando e achava aquilo muito bonito”.

A cantora já disse algumas vezes que o compositor, poeta e produtor musical Hermínio Bello de Carvalho, responsável por levar Clementina para a música, descobriu uma joia rara.

“Herminio fala que não descobriu ela, diz que foi um achado. Ele estava vindo da praia e ouviu uma voz saindo da Taberna da Glória e perguntou que voz diferente era. Depois de um tempo se reencontraram e tudo começou com Rosas de Ouro, no Teatro Jovem em Botafogo. Depois ela começou a ir para as noitadas do Teatro Opinião, em Copacabana. Algumas vezes eu ia lá acompanhando e a via cantando. Aí que me apaixonei de verdade mesmo. Aquilo entrou no meu sangue e não saiu mais. Uma boa influência. Ela me influenciou demais. Ela é minha musa inspiradora”, concluiu.

A presença da avó que a levava a São Paulo para algumas apresentações despertou na neta, apesar da timidez, a vontade de fazer o mesmo. “Uma das vezes que eu fui, ela me chamou para cantar. Eu era muito tímida, mas vi que era o que eu queria fazer”, disse, lamentando que nunca conseguiu gravar um disco com Clementina.

Hoje, além de cantora, Vera é compositora da Portela e integra há três anos o grupo Matriarcas do Samba, na companhia de Nilcemar Nogueira, neta de Cartola e Selma Candeia, filha do mestre Candeia. Um grupo que representa uma ancestralidade no samba. “Costumo falar isso. Estamos nessa empreitada para continuar levando o legado dos nossos às gerações futuras. Esse projeto nosso é para isso. Para mostrar o trabalho de Clementina, de Cartola e de Candeia”, comentou.

Ainda na estrada de transmitir o legado do samba, Vera integrou o projeto Samba Miudinho, que levou apresentações, no segundo semestre deste ano, a alunos das escolas da rede pública municipal do Rio.

“As Matriarcas levaram a história do samba e de Clementina, Cartola e Candeia”, disse, destacando que o grupo também faz muito trabalho no Museu do Samba, criado para guardar a memória deste tipo de música que encanta muita gente. O Museu fica aos pés do Morro da Mangueira, perto da quadra da escola, na zona norte do Rio, e tem entre os fundadores Nilcemar Nogueira, quando ainda era Centro Cultural Cartola, fundado em 2001.

Homenagem em vida

Para Áurea Martins, as homenagens são sempre muito especiais para quem recebe e mostram um sinal de que alguma coisa na trajetória chamou atenção de forma positiva.

Áurea Martins diz que quer somar aos homens, para juntos defenderem os samba – Fernando Frazão/Agência Brasil

“Uma homenagem dessa, com mulheres especiais que estão aí nas rodas, tocando, compondo e valorizando o legado deixado desde Tia Ciata, passar por Elza Soares, Clara Nunes, Beth Carvalho, Dona Ivone, Jovelina, e a minha madrinha Elizeth Cardoso, que mostrou com o icônico álbum ‘Elizeth sobe o Morro’, o valor da voz feminina no mundo do samba, estou muito feliz com essa conexão”, comentou à Agência Brasil.

“Tenho certeza que]outras homenageadas] se sentiram como eu me sinto agora, presenteadas por mulheres que nunca vimos pessoalmente, de repente você descobre que sua voz teve eco no Brasil e em outros países. Aí se forma uma grande roda atravessando fronteiras, isso é energia pura pairando no ar. Acredito muito nisso. Ninguém quer duelar com as rodas dos homens, só queremos somar, pra juntos defendermos esse patrimônio que é o samba. Simples assim”, completou.

Áurea revelou que recebeu com surpresa e muita alegria, a notícia da homenagem pela Dorina, que considera uma grande guerreira do mundo do samba.

“Nunca pensei ter tanto carinho das mulheres sambistas, pois como cantora da noite, naveguei por vários estilos, sempre fui uma ‘crooner’, mas atenta a tudo. Aliás, trabalhando pra elite na zona sul, na década de 70, levei o partido-alto de Xangô, Aniceto e outros partideiros, a ponto da Phillips [gravadora de discos] se interessar e registrar essas noites em um LP chamado ‘Uma Noite no 706’, uma boate no Leblon onde o samba prevalecia até o amanhecer, junto a boleros, standards americanos, bossa-nova e samba canção. Era o samba que chamava mais atenção”, recorda.

“Você pode conferir nesse LP aí ao vivo e muito atual e referência pra qualquer cantor ou cantora de samba”, recomenda.