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STF reconhece que Estado deve indenizar vítimas de bala perdida

O Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou nesta quinta-feira (11) que o Estado pode ser condenado a indenizar vítimas de disparo de balas perdidas durante operações policiais.

A Corte encerrou na sessão desta tarde o julgamento que reconheceu, no ano passado, a responsabilidade dos governos municipais, estaduais e federal pelas mortes em confrontos entre a Polícia Militar ou militares das Forças Armadas com criminosos em centros urbanos.

Os ministros julgaram o caso da vítima Vanderlei Conceição de Albuquerque, alvo de uma bala pedida durante operação policial no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, em junho de 2015.

Com a decisão, os pais da vítima deverão ser indenizados em R$ 200 mil. O irmão de Vanderlei vai receber R$ 100 mil. Além das indenizações, os familiares vão receber pensão vitalícia e serão ressarcidos pelas despesas com o funeral.

No caso específico, o governo federal foi responsabilizado pela atuação do Exército. De acordo com o processo, não há informações sobre a finalização do inquérito, aberto em 2016, para apurar o caso.

Durante a sessão, o ministro Flávio Dino, afirmou que a atuação policial violenta não é mais eficaz para combater a criminalidade.

“A polícia, quando matou menos, houve menos criminalidade. Tiros a esmo não é um método justo de realização de operações policiais. Não é justo, não é eficiente. As balas perdidas, na verdade, não são perdidas. São balas que acham sempre os mesmos”, comentou.

(Em atualização)

Mulher de 31 anos morre por bala perdida em Santos

Uma mulher de 31 anos foi atingida na cabeça durante troca de tiros em ação policial em Santos, no litoral paulista. Segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública de São Paulo (SSP), na última quarta-feira (27), próximo Praça José Lamacchia, dois homens em uma moto desobedeceram à ordem de parada e dispararam contra policiais militares, que revidaram.

A vítima foi levada pela população à unidade de pronto atendimento e mais tarde foi transferida para a Santa Casa da cidade. Edneia Fernandes Silva não resistiu aos ferimentos e morreu na noite de quinta-feira (28).

“Todas as circunstâncias relativas aos fatos são rigorosamente investigadas pelo 5º DP [Distrito Policial] de Santos e pela Polícia Militar, que instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM). Exames periciais foram solicitados e, tão logo os laudos sejam concluídos, serão remetidos à autoridade policial para análise e esclarecimento do caso”, afirmou a SSP por nota. O órgão informa ainda que a ocorrência não está ligada à Operação Verão.

Lançada na Baixada Santista no final de janeiro, após o assassinato de policiais na região, a Operação Verão contabiliza 55 mortes, de acordo com a secretaria, e mais de mil pessoas foram presas, sendo que 429 eram procuradas pela Justiça.

Denúncia de execução

Moradores de Guarujá divulgaram nas redes sociais vídeos em que denunciam que dois homens mortos pela Polícia Militar na Comunidade da Barreira teriam sido executados na segunda-feira (25). De acordo com o relato, os dois homens, um de 22 anos e o outro de 35 estavam lavando um telhado quando foram abordados pelos policiais. Eles teriam sido levados a uma casa abandonada e assassinados.

A SSP afirma que “caso mencionado é rigorosamente investigado pelas polícias Civil e Militar, com acompanhamento das respectivas corregedorias, Ministério Público e Poder Judiciário”. De acordo com a pasta, os policiais militares foram recebidos a tiros pela dupla que estava escondida em uma residência. “Houve intervenção e eles foram atingidos, morrendo no local. Na ação, a polícia apreendeu duas pistolas 9 milímetros que estavam com os suspeitos, além de maconha e balanças de precisão”, acrescenta a nota da secretaria.

70 mortes

De janeiro até o último dia 25 de março, policiais militares em serviço já mataram 70 pessoas nos municípios da Baixada Santista, segundo levantamento do Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial do Ministério Público de São Paulo. Dessas, 62 mortes aconteceram depois do início da Operação Verão, chamada inicialmente de Operação Escudo.

A SSP afirma que a operação tem “o objetivo de asfixiar o crime organizado na Baixada Santista”. Ainda de acordo com a secretaria, “todos os casos são rigorosamente investigados pela Polícia Civil e Militar, com acompanhamento das respectivas corregedorias, Ministério Público e Poder Judiciário”.

STF julga indenização a vítimas de bala perdida sem origem conhecida

O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) retomou nesta sexta-feira (1o) o julgamento sobre a responsabilidade do Estado de indenizar as famílias no caso de vítimas fatais de balas perdidas, ainda que as investigações não consigam determinar a origem do disparo. 

A análise do assunto já havia se iniciado em setembro do ano passado, quando o relator, ministro Edson Fachin, votou no sentido de que os governos estadual e federal têm responsabilidade e devem indenizar as vítimas de balas de origem desconhecida. 

O julgamento, entretanto, foi suspenso por um pedido de vista (mais tempo de análise) do ministro André Mendonça, e só agora retorna à votação no plenário virtual, modalidade em que os votos são registrados no sistema eletrônico do Supremo dentro de um prazo. 

Nesse caso, a sessão de julgamentos está marcada para durar até a próxima sexta (8), salvo se houver novo pedido de vista ou de destaque (remessa ao plenário físico). Até o momento, apenas a ministra Rosa Weber, hoje aposentada, seguiu o entendimento de Fachin. O demais ainda não votaram. 

Os ministros julgam um recurso com repercussão geral, ou seja, cujo desfecho deve servir de parâmetro para casos similares, em qualquer instância judicial. O caso concreto envolve a morte de Vanderlei Conceição de Albuquerque, ocorrida em 2015, durante tiroteio entre traficantes e a força de pacificação do Exército no conjunto de favelas da Maré, no Rio de Janeiro. 

Pelo voto do relator, a família da vítima deve receber R$ 300 mil em indenização, além de ressarcimento dos gastos com funeral e pensão vitalícia. Fachin destacou que o sistema de Segurança Pública fluminense falhou nas investigações sobre a morte, motivo pelo qual é responsável pela reparação. 

“Nesse sentir, a irregular ou ausente investigação dos casos de mortes em conflitos envolvendo agentes de segurança pública revela uma grave falha do Estado no cumprimento de suas atribuições. Ademais, a recorrência dessas falhas mina a confiança da população nas instituições de segurança pública e perpetua um ciclo de impunidade”, escreveu o ministro. 

Fachin propôs a seguinte tese de repercussão geral para os casos de bala perdida: “Sem perícia conclusiva que afaste o nexo, há responsabilidade do Estado pelas causalidades em operações de segurança pública”.