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DF: alunos de periferia abrem caminhos na mais antiga escola de música

Se a vida do estudante Mateus Guimarães, de 22 anos, pudesse ser transcrita em uma partitura, maestros visualizariam uma música em ritmo acelerado, mas em harmonia com um desejo que não lhe sai da boca. Nem do coração. As notas musicais misturam-se com os barulhos do trabalho, que é o de limpador de estofados, na região de Samambaia (DF), a 30 quilômetros (km) de Brasília.

Está incluso na rotina o som dos passos para panfletar e convencer novos clientes. É o que lhe garante um salário mínimo, com direito a uma folga por semana. Na história da melodia dessa caminhada, o que mexe com ele de verdade é o som da viola de arco. Enquanto espera o barulho do ônibus para casa, lembra-se das obras de Johann Sebastian Bach.

Mateus é aluno, desde o ano passado, da Escola de Música de Brasília, a maior unidade de ensino pública do gênero no Brasil que, na última semana, completou 60 anos de história, com direito a evento em homenagem a alunos e antigos professores. A cada semestre, a escola recebe aproximadamente 300 alunos e forma, ao menos, outros 300, nos mais variados instrumentos.

No caso de Mateus, que também estuda sistemas de internet, ele se interessou por instrumentos musicais na igreja em que frequenta na periferia. “Lá aprendi com meu professor a flauta doce. Depois que entrei na escola de música, convenci outros amigos a também tentarem ingressar. O que eu aprendo eu divido com meus amigos. A música nunca deixa a gente sozinho.”

Não deixa mesmo. Junto com ele, na entrada do evento comemorativo dos 60 anos da escola, no Teatro Maestro Levino de Alcântara, estavam dois amigos de Samambaia e da instituição. O estudante Marcos Vinícius Xavier, de 18 anos, toca violão. Junto ao repertório que ele trouxe da vida de rock e MPB, passou a admirar as peças de Heitor Villa-Lobos. Com eles, a amiga Iandra Santos, de 19, que toca flauta, atualmente faz o curso técnico em farmácia. Os amigos lamentam que demoram mais de uma hora para chegar de ônibus à escola, que fica em um prédio na Asa Sul, no Plano Piloto de Brasília.  “Mas me faz muito bem estar aqui”, diz a estudante.

Mateus Guimarães, Marcos Vinícius Xavier e Iandra Santos, são amigos e alunos da  Escola de Música de Brasília – Valter Campanato/Agência Brasil

Periféricos

O caso dos três amigos da Samambaia não é raro na Escola de Música de Brasília. Segundo o diretor da escola, Davson de Souza, 80% dos alunos moram fora das áreas nobres e são de regiões administrativas do Distrito Federal, e até de outras cidades do Entorno, em Goiás. “Pelo menos 78% dos nossos alunos são também de escolas públicas. A maioria é de pessoas que não têm uma facilidade econômica. Eles valorizam a oportunidade que é estar fazendo música”, afirma.

O diretor da Escola de Música de Brasília, Davson de Souza, no evento em comemoração aos 60 anos da instituição – Daysi Amarilio/Divulgação

O diretor Davson de Souza, de 54 anos,  que é negro, explica que seguiu os passos do pai, o também flautista  Nivaldo de Souza. Foi aluno da escola desde os 12 anos de idade. “Uma das formas mais democráticas acabou sendo a música mesmo, desde sempre. E aí se estende não só aos negros, mas em todas as classes sociais. Isso foi uma preocupação desde o início da criação da escola, de quem criou a escola, que foi o maestro Livino de Alcântara”.  Ele diz que, no local, os filhos da periferia convivem com os filhos da classe média alta.

“A gente costuma emprestar o instrumento para aqueles alunos que não têm condição nenhuma de comprar”, afirma o professor. Na faixa etária de 8 a 14 anos, a seleção de alunos é por sorteio. Há categorias de adultos em que é necessário algum conhecimento prévio em música.

Racismo

No entanto, o professor afirma que, embora exista um espaço democrático, o campo da música não está livre do racismo. Davson de Souza lembra que, ainda como aluno da escola de música, aos 17 anos, conheceu um grupo de flautistas do Rio de Janeiro que estava em turnê para Brasília e precisava de mais um flautista.

O então adolescente conseguiu a vaga, mas foi surpreendido. “Cheguei no horário que tinham marcado para mim. Entrei, sentei e fiquei esperando o restante do grupo chegar. Entrou uma pessoa que era o gerente do teatro. Passou por mim umas três vezes e perguntou se eu tinha ido arrumar o palco”. Mesmo assim, o diretor da escola de música entende que se trata de um campo em que as pessoas estão menos sujeitas a esse tipo de violência.

A deputada distrital Dayse Amarílio propôs o concerto comemorativo para garantir visibilidade às atividades na escola. “Vi o quanto a gente precisa dar mais atenção à questão física do espaço, que tem inclusive problemas de acessibilidade.” Há uma estimativa de que a reforma do prédio custaria R$ 13 milhões, que devem ser alocados pelo governo local.

Evento em comemoração aos 60 anos da Escola de Música de Brasília – Valter Campanato/Agência Brasil

Ela entende que é necessário mais atenção do poder público a esse equipamento da cultura, que pode ser, na opinião dela, utilizado pelos serviços de saúde, por exemplo. Para a parlamentar, o trabalho da escola de música consegue fazer essa inclusão social e também terapêutica. “Ajuda crianças e adolescentes que poderiam estar em outros locais ou até nas drogas”. A deputada quer propor que as atividades da escola de música sejam apresentadas nas periferias do DF para atrair novos alunos.

O professor Davson de Souza diz que a finalidade principal da escola é ser uma unidade de ensino profissionalizante, mas há, entre os efeitos, a recompensa de agir em prol da saúde mental.

A música ajudou a clarinetista Bianca Di Macena a enfrentar a depressão – Valter Campanato/Agência Brasil

Que o diga a clarinetista Bianca di Macena, de 25 anos, que foi diagnosticada com depressão. Ela começou na música em um projeto social de banda musical em uma escola pública do Guará (região a 15 km do centro de Brasília) e desenvolveu-se na música na escola. No caminho, foi a música que a ajudou contra a doença.

O mundo cinza se transformava em algo diferente quando abria o estojo e montava o instrumento. Já formada, tocou ne última semana na escola de música. “É difícil explicar. Mas eu consigo agora sentir o cheiro dos sons.” As músicas de Pixinguinha tornaram tudo colorido e com cheiro de MPB, bossa nova e recomeço.

Dia da Mulher Sambista: música como lugar de luta e resistência

“Mulher no samba tem o seu valor / como qualquer pagodeiro, sambista de nascimento / que chega com seu instrumento e com respeito pra tocar, / cantar, compor e inspirar toda uma geração”.

Uma música que poderia muito bem ser um manifesto. Mulheres no Samba, composto e cantado por Roberta Gomes, sambista paulistana com quase 30 anos de carreira, é direto no recado. A mulher pode ocupar o lugar que ela quiser no samba e não ser apenas ser “passista e inspiração”.

“Quando a gente chega numa roda de samba, a maioria é de homens. E eles têm essa coisa de achar que a gente nunca está indo lá para cantar, compor, tocar. Por mais que saibam que eu sou sambista, por exemplo, se eu chego numa roda de samba e falo que eu tenho músicas minhas, tem sempre uma reticência. Pensam que a música deve ser parceria com algum outro homem. Por isso, faço questão de gravar as minhas músicas nos meus discos. Mesmo que eu tenha tido parcerias maravilhosas com homens, nunca coloco essas músicas nos discos”, diz Roberta Gomes.

Nascida em berço de samba, com família e amigos ligados ao estilo musical, Roberta primeiro tentou seguir por outros caminhos, cantando pop, MPB, jazz e black soul. Mas um dia entendeu que não tinha como fugir do samba. Já lançou dois discos: em 2013, O Meu Lugar e, em 2021, No Caminho do Samba, só com músicas próprias. Como compositora, escreveu músicas para Diogo Nogueira, Flávio Renegado e Clube do Balanço.

“Eu fui tolhida por muitos anos pela minha mãe e pela minha família, que tinha receio de que eu construísse uma carreira como sambista. Minha mãe tinha medo de que eu não conseguisse pagar minhas contas. Hoje em dia, ela entende. E é com muita força e esforço que a mulher tem que se colocar como profissional em todas as áreas, porque senão a gente nunca sai do mesmo lugar”, diz Roberta.

Dia da Mulher Sambista

Para lembrar histórias de resistência e luta dentro do universo do samba, o governo federal sancionou, na semana passada, lei que instituiu o Dia da Mulher Sambista, sempre celebrado em 13 abril. Data que homenageia também o nascimento de Dona Ivone Lara, cantora, compositora e instrumentista. Falecida em 2018, deixou legado como um dos maiores nomes do samba no país. Foi um exemplo de resistência e de luta para romper restrições machistas, como ter sido a primeira mulher a escrever um samba-enredo, em 1965, para a escola Império Serrano: Os Cinco Bailes da História do Rio.

“Dona Ivone começa a compor ali por volta dos 10 anos de idade. E lá pelos 30 anos, ela precisava levar os seus sambas para as rodas a partir do primo, como se fossem sambas dele. Porque não se aceitava que uma mulher escrevesse um samba. Dona Ivone não era submissa ou aceitava o sistema. Ela foi usando diferentes estratégias para romper com as restrições. Primeiro, as músicas precisavam fazer sucesso, para depois ela ser reconhecida como compositora delas”, diz o pesquisador e jornalista, Leonardo Bruno, autor do livro O Canto de Rainhas, sobre a história das mulheres no samba.

O dia de hoje (13) é de festas e homenagens. O grupo Flor do Samba, composto apenas por mulheres, vai comandar uma roda de samba em Santa Tereza, às 17h deste sábado, tocando apenas canções da Dona Ivone Lara. Uma das integrantes, a instrumentista, arranjadora e cantora Manoela Marinho, diz que a data ajuda a reforçar que mulheres precisam ter mais protagonismo no samba. Ela lista alguns exemplos machistas, como o fato de que poucos homens costumam frequentar as rodas de mulheres.

“São violências muito sutis. Quando é uma mulher tocando, primeiro que precisa chegar lá arrasando. Uma das coisas mais cruéis e difíceis para uma mulher instrumentista no samba é ter a possibilidade de errar, de construir o conhecimento, o aprendizado como os homens têm. Eles vão para as rodas, testam, acertam, erram”, diz Manoela Marinho. “Outra coisa comum é reduzir a mulher à aparência dela. Ela tem que ser bonita e gostosa para as portas se abrirem mais. Essa é uma exigência muito forte para a mulher”, diz Manoela Marinho.

Além de Manoela, também integram o grupo Eliza Pragana e Luciana Jablonski. O Flor do Samba surgiu em 2017 a partir de outro movimento sambista, chamado de Primavera das Mulheres, que reunia artista de diferentes expressões artísticas e com posicionamentos feministas, antirracistas e em defesa dos diretos da população LGBTQIA+. E manteve esses princípios até hoje.

“É por meio dessa atuação no samba que a gente consegue criar algum movimento ativista. Mas isso precisa acontecer de maneira mais ampla na sociedade. E acho que, aos poucos, essas pautas estão sendo mais faladas, vistas e transformadas”, diz Manoela.

História das sambistas

Não dá para falar da história do samba, sem falar do papel desempenhado pelas mulheres. Um dos grupos que estão na origem do samba é o das tias baianas, que vieram de comunidades de terreiros, a partir das confrarias religiosas, e ajudaram a construir a cultura popular urbana. Mas muitos desses nomes ainda são pouco conhecidos.

“Existem muitas mulheres no mundo do samba e a gente perdeu o nome delas por conta do machismo. Muito se fala de Tia Ciata, mas a gente ainda tem buscado mais informações sobre ela. Eu fico pensando, e Tia Perciliana, Tia Carmem do Ximbuca, Tia Sadata, que foram essenciais para o samba nessa virada do século 19? Essas histórias se perderam e a gente precisa resgatá-las”, defende Maíra de Deus Brito, professora e doutora em Direitos Humanos, que tem pesquisas sobre o samba.

Esse silenciamento de histórias femininas tem reflexos ainda nos dias atuais. No livro Canto de Rainhas, o jornalista Leonardo Bruno aborda histórias de ícones como Alcione, Beth Carvalho, Clara Nunes, Elza Soares, Clementina de Jesus, Leci Brandão, Elizeth Cardoso, Teresa Cristina, Mart’nália, Mariene de Castro, entre outras. Ele conta que todas as que conseguiu entrevistar demonstravam algum tipo de receio de se apresentar como sambistas, por essa identidade ter sido sempre muito atrelada aos homens.

“Se você olhar para o lugar das tias baianas, elas estão encarceradas nesses lugares que a mulher tem permissão de ocupar. Podem ter funções maternas, de alimentação, de ser musa inspiradora e objeto sexual, e de acolhimento”, diz Leonardo. “Mas essas tias baianas também eram sambistas. Há registros de que elas praticavam algumas das artes do samba. Ou tocavam, ou cantavam, ou dançavam. Tia Ciata, por exemplo, entrou para a história como a mulher que abria o quintal para receber sambistas. E ela era muito mais que isso, tocava violão e versava também”.

E quando o problema é ainda mais grave? Exemplo das letras de samba que defendem explicitamente a violência contra a mulher. O samba Amor de Malandro, de 1929, traz o verso “Se ele te bate, é porque gosta de ti. Bater em quem não se gosta, eu nunca vi”. A Portela tem samba-enredo de 1932, Vai como Pode, com a frase: “Lá vem ela chorando. O que é que ela quer? Pancada não é, já dei!”. Em 1952, Moreira da Silva, cantou: “Isso não é direito, bater numa mulher que não é sua”. Em 1997, Zeca Pagodinho lançou Faixa Amarela, com versos como “Mas se ela vacilar vou dar um castigo nela. Vou lhe dar uma banda de frente. Quebrar cinco dentes e quatro costelas”.

“Muita gente vai utilizar o argumento de que Fulano era um homem do seu tempo, para justificar alguns sambas que tem letras machistas. A gente está vendo que tem muito trabalho a ser feito. E não é porque um samba foi cantado e fez muito sucesso que a gente precisa ficar reproduzindo essas letras que citam violência. O samba é muito generoso. A gente pode pegar outras letras de samba que exaltam amor, justiça, igualdade, em vez de ficar pegando letras que que reproduzem violências”, diz Maíra.

Movimento musical e político

Quando uma sambista entra em cena, nunca é apenas sobre música e festa. Cada letra, acorde ou melodia têm dimensões políticas. Por isso, o Movimento das Mulheres Sambistas atua desde 2018 na valorização das artistas brasileiras. Naquele ano, foi organizada uma apresentação com mais de 100 mulheres na Cinelândia, com o objetivo de criar essa pressão pelo dia da mulher sambista.

O evento foi um sucesso e o grupo resolveu organizar outros projetos, como rodas de samba, assistência social, cursos de música e de produção fonográfica, auxílio para musicistas entrarem no mercado de trabalho profissional, e até seminário, como o previsto para junho, que vai falar da atuação da mulher sambista na cadeia produtiva musical.

“Se eu puder pontuar qual é a função do nosso movimento para a sociedade nesse momento é: formação musical, pautar políticas públicas e fazer essa articulação com as esferas pública e privada. Tudo isso para que a gente consiga postos de trabalho e valorização da mulher no mercado. A força artística existe, mas é uma das coisas, não é o foco principal”, explica Patricia.

Nesse objetivo, um dos caminhos é valorizar e iluminar trajetórias artísticas femininas, e os diferentes talentos.

“A gente precisa continuar nessa luta, para que a mulher possa virar efetivamente protagonista do saber, do conhecimento, do poder criativo artístico. A gente tem mulheres fantásticas fazendo coisas fantásticas. Discos lindos saindo e você pouco escuta falar. Tem sempre as mais famosas, mas para por aí. Os principais lugares do mainstream estão ocupados por homens. Mas tem muita mulher boa. A gente só precisa ouvir”, diz Patricia.

 

Nova música intitulada ‘Mom has a Secret’ apresenta mães da Rússia que são ativistas anti-guerra

Monetochka em 2019

12 de fevereiro de 2024

 

A cantora russa Monetochka (Liza Gyrdymova), que vive no exílio após a invasão russa em grande escala da Ucrânia iniciada em fevereiro de 2022, lançou uma música em homenagem ao Dia Internacional da Mulher intitulada “Mamãe tem um segredo”.

Todas as mulheres apresentadas no vídeo da música, assim como a própria Monetochka, são mães, mas também ativistas de alto perfil que se opõem à guerra e ao atual regime russo.

O vídeo divulgado apresenta as jornalistas Katerina Gordeeva, que tem seu próprio canal popular de vídeos de oposição no YouTube e atualmente vive no exílio, Anna Mongait, jornalista da TV Russa Rain, banida na Rússia, a apresentadora de TV Tatiana Lazareva que também teve, como outras mulheres do lista, expressou sua firme posição anti-guerra e vive no exílio, e Nadya Tolokonnikova, membro do Pussy Riot, que passou vários anos na prisão e é fortemente contra a guerra e o regime de Putin. Mostra as atrizes muito populares Chulpan Khamatova, que aparece em vários vídeos e peças anti-guerra, atualmente no exílio, Varvara Shmykova, que também tem uma postura anti-guerra e teve que deixar sua carreira e seu país por causa disso, e Maria Shalaeva, que foi detida no comício da oposição juntamente com o seu filho e teve de deixar a Rússia. O vídeo inclui a política Yekaterina Duntsova, que tentou concorrer contra Putin nas próximas eleições e tem uma postura anti-guerra (ela ainda está na Rússia), a advogada Mari Davtyan, que luta contra a violência doméstica na Rússia, e Yulia Vanalnaya, a viúva do político da oposição Alexei Navalny.

O vídeo tem atualmente mais de 800.000 visualizações no canal oficial de Monetochka no YouTube.

Tal como noticiou a Rádio Liberdade, Monetochka manifestou-se contra a invasão da Ucrânia pela Rússia e deixou a Rússia no outono de 2022. Em janeiro de 2023, o Ministério da Justiça russo adicionou Monetochka à lista dos chamados agentes estrangeiros. O departamento mencionou que ela estava arrecadando dinheiro para a Ucrânia. A cantora comentou sua inclusão na lista do Telegram com os dizeres “ah, sim!!!”

Monetochka também entrou na lista do governo de músicos proibidos. Em fevereiro de 2024, foi relatado que funcionários da Administração do Presidente da Rússia forneceram aos promotores e produtores uma lista atualizada de músicos banidos. Agora inclui 77 artistas e bandas russas.

 

Hoje é Dia: semana celebra vida selvagem, música clássica e mulheres

Começamos por este primeiro domingo de março (3), Dia Mundial da Vida Selvagem, data instituída pela ONU para mostrar a importância de como o trabalho conjunto com governos, sociedade civil e setor privado pode ajudar proteger a diversidade de vida do planeta. Segundo a ONU, 1 milhão de espécies estão à beira da extinção devido à destruição do habitat, à poluição por combustíveis fósseis e ao agravamento da crise climática. A Agência Brasil noticiou a divulgação do relatório de importância global.

No último dia 27 de fevereiro, araras azuis e micos leões dourados foram repatriados ao Brasil. Os animais são espécies consideradas em perigo de extinção. Os bichos tinham sido contrabandeados para o Togo. E foram encontrados em más condições de saúde. Assista a reportagem da TV Brasil.

Já o 4 de março marca lançamento do Programa “Época de Ouro”, um clássico da Rádio Nacional, dedicado ao chorinho. Temos também o aniversário de nascimento do rapper, compositor e escritor Gabriel Contino, o Gabriel O Pensador. Em setembro passado, o músico participou do É Tudo Brasil, para falar sobre lançamento do seu novo disco.

A data também celebra a inauguração da Ponte Rio–Niterói, que completa 50 anos. Com 12,9 quilômetros de extensão e vão central de 300 m, ela é uma das maiores do mundo e liga a cidade do Rio de Janeiro a Niterói.

O Dia Nacional da Música Clássica é celebrado no 5º dia de março. Esse estilo musical inspira diversos programas da Rádio MEC, como o Sala de Concerto, Partituras, Áurea Musica, entre outros. Também é o dia de nascimento do poeta popular, compositor, cantor e improvisador cearense Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré.

Em 7 de março, é lembrada a morte do filólogo, crítico literário, tradutor, diplomata, enciclopedista fluminense Antônio Houaiss. Ele foi Ministro da Cultura do Brasil e presidente da Academia Brasileira de Letras. A data também marca o lançamento do observatório espacial estadunidense Kepler, projetado pela Nasa para descobrir planetas semelhantes à Terra orbitando em outras estrelas.

Uma das datas mais importantes do mês é justamente o 8 de março, quando é celebrado o Dia Internacional da Mulher. Aliás, temas relativos aos direitos da mulher são recorrentes em nossas coberturas jornalísticas. Falando nisso, o programa Sem Censura, que reestreou sob o comando da apresentadora Cissa Guimarães, vai ter um programa especial para o Dia da Mulher.  Há seis anos o Repórter Brasil falou sobre a data.

Para finalizar a semana, o dia 9 de março tem como destaques o nascimento do astronauta russo Iuri Gagarin, primeiro ser humano a viajar pelo espaço; além do lançamento da famosa boneca Barbie.

Confira a lista semanal do Hoje é Dia com datas, fatos históricos e feriados:

 

Semana de 3 a 9 de março de 2024

3

Dia Internacional do Cuidado Auditivo

Dia Mundial da Vida Selvagem – data instituída pela ONU

Nascimento do ator fluminense Carlos Vereza (85 anos)

4

Nascimento do rapper, compositor, escritor e empresário fluminense Gabriel Contino, o Gabriel O Pensador (50 anos)

Morte do regente, compositor e instrumentista paulista Nicolino Copia, o Copinha (40 anos) – no início dos anos 1960, trabalhou na Rádio Nacional do Rio de Janeiro

Morte do cantor, compositor e instrumentista paulista Orlando Guilherme, o Pirigoso (40 anos)

Morte do economista maranhense Ignácio Rangel (30 anos) – analista do desenvolvimento econômico brasileiro

Inaugurada a Ponte Rio–Niterói, com 12,9 quilômetros de extensão e vão central de 300 m, ligando as cidades do Rio de Janeiro e Niterói (50 anos)

Lançamento do Programa “Época de Ouro”, na Rádio Nacional (19 anos) – dedicado ao chorinho

5

Nascimento do poeta popular, compositor, cantor e improvisador cearense Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré (115 anos)

Nascimento do filósofo, escritor e professor paranaense Mário Sergio Cortella (70 anos)

Dia Nacional da Música Clássica

6

Morte do político, magistrado e jornalista maranhense Benedito Leite (115 anos) – em sua homenagem foram batizadas: a cidade de Benedito Pereira Leite; a Maternidade Benedito Leite e a Escola Modelo Benedito Leite, em São Luís; a Praça Benedito Leite e a Biblioteca Benedito Leite, no centro de São Luís; dentre outros locais

Nascimento do ator e diretor fluminense Perry Salles (85 anos)

Feriado estadual da Revolução Pernambucana – o feriado começou a vigorar no ano de 2018, em homenagem à revolução que ocorreu em 1817

7

Morte do cineasta, roteirista, produtor de cinema e fotógrafo estadunidense Stanley Kubrick (25 anos)

Morte do compositor e instrumentista pernambucano José Gonçalves Júnior, o Zumba (50 anos)

Morte do frade católico, teólogo e filósofo italiano Tomás de Aquino (750 anos)

Morte do lexicógrafo, filólogo, crítico literário, tradutor, diplomata, enciclopedista fluminense Antônio Houaiss (25 anos) – foi Ministro da Cultura do Brasil e presidente da Academia Brasileira de Letras

Morte da pianista paulista Guiomar Novaes (45 anos) – participou da Semana de Arte Moderna de 1922 e foi grande divulgadora da obra de Villa-Lobos nos EUA

Lançamento do observatório espacial estadunidense Kepler (15 anos) – projetado pela NASA para descobrir planetas semelhantes à Terra orbitando em outras estrelas

Dia do Paleontólogo – fundação da Sociedade Brasileira de Paleontologia

8

Nascimento da apresentadora de televisão, cantora e atriz paulista Hebe Camargo (95 anos)

Morte do compositor francês Hector Berlioz (155 anos) – importante figura do Romantismo na música do século XIX

Fundação da Casa da Moeda do Brasil (330 anos)

Lançamento do álbum “Chega de Saudade”, de João Gilberto (65 anos) – considerado um dos marcos iniciais da Bossa Nova

Dia Internacional da Mulher

Primeira irradiação do programa humorístico “A Casa da Sogra”, na Rádio Nacional (77 anos)

9

Morte do poeta, contista e romancista alemão Charles Bukowski (30 anos)

Nascimento do astronauta russo Iuri Gagarin (90 anos) – primeiro ser humano a viajar pelo espaço

Nascimento do cantor e compositor fluminense Délcio Carvalho (85 anos) – notório por sua parceria de longa data com Dona Ivone Lara

Lançamento da boneca Barbie (65 anos)

Inauguração do Museu da Companhia Paulista, anteriormente denominado Museu Ferroviário Barão de Mauá, na cidade de Jundiaí (45 anos)

Peça, documentário e música homenageiam mortos da Vila Socó

“Não devemos esquecer os nossos irmãos da Vila Socó, transformados em cinzas, lixo em pó. A tragédia da Vila Socó mostra como o trabalhador é explorado, esmagado sem nenhum dó”.

Foi assim que, em 1984, o compositor Gilberto Mendes (1922-2016) descreveu a peça que compôs para coro chamada Vila Socó Meu Amor. A peça foi sua forma de homenagear as vítimas do incêndio ocorrido na madrugada dos dias 24 e 25 de fevereiro de 1984, em Cubatão, e que devastou a população que vivia no bairro.

Em depoimento ao pianista, professor e amigo José Eduardo Martins, publicado na edição de dezembro de 1991 da revista Estudos Avançados, da Universidade de São Paulo (USP), Gilberto Mendes destacou ter escrito a música não só como uma homenagem, mas também como denúncia. “O descaso não tem fim”, escreveu o compositor na época.

“Com minha música, pretendi ter feito alguma coisa in memoriam dos mortos por aquela verdadeira bomba de Hiroshima que foi a explosão da Vila Socó. Por isso a lembrança, no título, do [diretor francês] Alain Resnais, da imensa piedade pelo destino dos homens, que seu extraordinário filme [Hiroshima meu amor] comunica. Meu colega Celso Delneri dirigia um coral feminino no Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da USP e me havia pedido uma música. O horror diante da terrível notícia deu-me o impulso”, comentou Mendes.

Vila Socó Meu Amor não é a única expressão cultural que procura manter viva a memória daquele incêndio que, oficialmente, vitimou 93 pessoas, mas pode ter realmente matado 508. Outras manifestações culturais como o teatro e o cinema também têm buscado resgatar essa memória.

Teatro

Esse é o caso, por exemplo, da peça Vila Socó, do coletivo 302, que estreará ainda neste ano. A peça é parte de uma trilogia industrial sobre a cidade de Cubatão, que teve início com uma peça sobre a Vila Parisi, passou pela Vila Fabril e que se encerra com a Vila Socó. “Essa história representa a gente contar um pouco sobre nossos antepassados, sobre nossa cidade e entender como chegamos nesse ponto em que estamos hoje na cidade de Cubatão. Para nós, artistas, é uma maneira de se fazer Justiça nessa cidade e sermos contemporâneos de teatro”, explicou Matheus Lípari, 29 anos, performer e iluminador da peça.

Essa memória vem sendo reavivada há mais de um ano pelo coletivo por meio de pesquisas e depoimentos de pessoas que viveram o incêndio. E contará até mesmo com uma experiência pessoal. Um dos atores e diretores do coletivo, Douglas Lima, 34 anos, por exemplo, nasceu pouco tempo depois do incêndio e passou sua infância na Vila Socó. “Minha mãe e meu pai moravam na Vila São José (antiga Vila Socó) na época do incêndio. São sobreviventes”, contou ele à Agência Brasil.

Cinema

Antes da peça, o curta documental Uma Tragédia Anunciada, dirigido pelo produtor audiovisual Diego Moura e que pode ser assistido gratuitamente no YouTube, já buscava reavivar as lembranças e consequências daquele incêndio. Exibido pela primeira vez em 2014, quando a tragédia completou 30 anos, Uma Tragédia Anunciada entrevista diversas pessoas que presenciaram o incêndio.

“Eu cresci no bairro de Vila São José, a poucos metros de onde a tragédia aconteceu. Então, eu cresci ouvindo histórias, vendo vídeos registrados nas antigas fitas VHS e, em 2010, ingressei na faculdade de cinema. Com o tempo, percebi que a memória dessa lembrança estava se perdendo, os jovens não conheciam a história. O curta fez parte inicialmente de um mero trabalho para faculdade, mas acabou se tornando o impulsor para que a memória das vítimas da tragédia e da cidade fossem relembrados e, mais do que isso, para que fosse aberta uma nova discussão sobre os efeitos da industrialização desenfreada que aconteceu na cidade de Cubatão, nas décadas de 60 e 70, e que culminou nessa tragédia na década de 80”, disse Moura, à Agência Brasil.

Durante a produção do documentário, Moura se surpreendeu com os depoimentos das vítimas do incêndio. “Durante as gravações, conheci muitas histórias impactantes e, se há algo que me revolta até hoje, foi como esse processo foi conduzido na época da tragédia. Houve omissão total das autoridades: nos dados oficiais dizem que morreram ‘apenas 93 vítimas’, porém os relatos das pessoas do local dizem que foi muito mais que isso”, aponta.

Conhecer o passado

A intenção da música, da peça e do documentário para cinema sobre a Vila Socó é impedir o apagamento de um incêndio que pode ter sofrido uma tentativa de abafamento durante a ditadura militar. “Reduzir o impacto da tragédia tinha três objetivos básicos: evitar a repercussão nacional e internacional para a empresa [Petrobras], reduzir o custo das indenizações e garantir a impunidade. E isso tudo foi feito”, avaliou o advogado e jornalista Dojival Vieira, durante depoimento à Comissão Estadual da Verdade de São Paulo, em 2014.

Brasília (DF) 22/02/2024 – Vila Socó (hoje Vila São José), em Cubatão. O incêndio foi causado por vazamento de combustíveis de oleodutos que ligavam a Refinaria Presidente Bernardes de Cubatão (RPBC) ao terminal portuário da Alemoa. Foto: Biblioteca Municipal de Cubatão/Divulgação – Biblioteca Municipal de Cubatão/Divulgação

Mas levar a Vila Socó para os palcos e para a tela grande é também uma forma de buscar entender o passado e evitar sua repetição no futuro. “O papel da arte em contar uma história é, para mim, sempre trazer à tona as histórias em si para que elas não sejam esquecidas, para que o apagamento não aconteça. O papel da arte é fazer com que essa história não seja esquecida e para que as futuras gerações possam lembrar disso e saber sobre o que aconteceu, de fato, nesse dia. Com essa história, vamos tentar resgatar memórias, resgatar a ancestralidade e fazer com que isso não seja esquecido e para que não aconteça nunca mais”, disse Sandy Andrade, 30 anos, atriz e produtora da peça teatral.

“Cada vez mais, a arte e o cinema são usados para trazer para a atualidade temas que foram deixados de lado. Cada vez mais são produzidos conteúdos sobre nosso passado. E especialmente nesse caso da Vila Socó, o cinema foi a ferramenta que tínhamos para trazer essa memória tão desagradável. Eu acho que as vítimas mereciam isso, como uma forma de homenagem. Essas mesmas vítimas que foram esquecidas e negligenciadas pelas autoridades. Acredito que um dos papéis da arte é esse: mostrar e lembrar os nossos erros para que não sejam cometidos novamente”, acrescentou Moura.