Paço Imperial apresenta exposição Jaula, do artista carioca Daniel Lannes
☉ Jul 19, 2022

Com curadoria e texto crítico de Lilia Schwarcz, evento acontece de 20 de julho a 23 de outubro de 2022
Daniel Lannes nasceu em Niterói em 1981, e vive e trabalha em São Paulo. O artista é mestre em Linguagens Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2012) e Bacharel em Comunicação Social pela PUC-Rio (2006).
‘Jaula’
Lilia Moritz Schwarcz
Jaula, a nova exposição do consagrado artista carioca, Daniel Lannes, é um convite a um passeio devidamente desviado pelas tintas que interferem e alteram o documento oficial. Nas pinturas aqui apresentadas, a história serve de pretexto para novas traduções políticas e sociais, realizadas com um traço poderoso e apurado senso plásticos e estéticos. Trata-se, assim, de uma “contrahistória visual” desse país que recriou seu passado sob o signo da concórdia e da harmonia. Uma monarquia tropical e depois uma república que escondiam seus alicerces: a permanência do escravismo e depois da desigualdade. Por isso, os pincéis de Lannes, borram, esfumaçam e confundem.
Jaula também desestabiliza o retângulo mágico da pintura; as limitações que a tela branca impõe, seus constrangimentos espaciais e possibilidades imaginativas. Muitas vezes imensas, as pinturas de Daniel Lannes se recusam a se confinarem aos espaços a elas originalmente destinados. Vazam sempre e dessa maneira desconcertam.
Jaula homenageia, ainda, no mesmo movimento que traduz e atualiza, a janela renascentista, com a retomada dos modelos clássicos, da visão subjetiva e ao mesmo tempo racional, feitas das linhas da geometria e da proporção racional presentes nas obras. A figuração aqui engana a jaula, pois deturpa, decompõe, desalinha.
Jaula é igualmente uma metáfora para pensar no lugar do Museu, essa instituição das artes que inova, mas também regula; abre-se para o novo ao mesmo tempo que canoniza e torna rotina.
Jaula é por fim uma referência ao “cubo branco”, uma crítica sensível ao lado opressivo e ao caráter racista da história e da crítica de arte brasileiras, bem como ao perfil de monumentalização que ganham as exposições produzidas no país e que acabam por construir uma história da arte ainda muito colonial, europeia e masculina.
Nesse sentido, Jaula é a Casa Grande, o trono dos monarcas e seu dossel, a postura dos dominantes, as próprias amarras e utopias que conformam esse país. Jaula é nossa limitação cultural, nossa tentativa de racializar o outro e de entender a branquitude como universal. É essa democracia brasileira incompleta, que diz incluir quando exclui, secularmente.
O trabalho de Daniel Lannes, como seus pinceis irreverentes – esteticamente sedutores – entra em todas essas estruturas para delas sair: desmonta, desorganiza, inverte. O artista relê por dentro essa história potencial, que se inscreve pela contraposição, por ironia fina, através de uma arte que domina o traço e as técnicas acadêmicas, mas que dá a eles um outro destino. Invade a Jaula.
Serviço
Jaula – Daniel Lannes
Quarta-feira, 20 de julho
12 às 18 horas
Paço Imperial – Rio de Janeiro
Praça XV de Novembro, 48
Entrada gratuita
Visitação
20 de julho a 23 de outubro de 2022
Terça a sexta, 12 às 18 horas
Finais de semana e feriados, 12 às 17 horas
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